Não tive tempo para sentir tédio quando éramos uma família de três. Enquanto meu fascínio pelo proibido diariamente exigia vivenciar minhas fantasias adolescentes para não pirar, naquela mesma residência a minha mãe evitava meu pai mandando ele dormir na sala tornando tudo mais fácil para ele. O sacana sempre adorou fazer sexo fora de hora. Perdi a conta das vezes em que o sino da igreja badalou seis da manhã e o homem ainda estava nu na minha cama, de conchinha comigo e pelo menos uma camisinha cheia de porra sobre meu criado mudo.
Faz quatro anos desde a separação dos meus pais, em pelo menos dois concordei em fazer a terapia recomendada pelo ministério público, ainda assim não controlo o meu desejo de praticar relações sexuais fora dos padrões considerados aceitos por essa sociedade hipócrita. A adrenalina de situações com pessoas proibidas, torna o sexo prazeroso demais, assim como meu entusiasmo por transas em lugares pouco comuns.
Outro complicador é minha propensão de falar sobre assuntos íntimos em momentos inadequados e com qualquer um. Ao final, deixo as pessoas sérias constrangidas, os normais com falsas expectativas, e os devassos em ponto de bala e encorajados a praticarem uma aventura perigosa.
No início do isolamento, o medo da Covid-19 deu uma arrefecida nos desejos sexuais, principalmente os da minha mãe, somente há algumas semanas ela voltou a namorar. Dona Helena zerou as relações amorosas durante essa pandemia, dedicou-se apenas ao trabalho ou aos canais de streaming. Foi somente há algumas semanas, depois de mais de dois anos de abstinência, que ela parou de maratonar séries e disse ter se envolvido com o sexo oposto novamente. Foi no mesmo mês em que comecei a fazer secretamente o trabalho de massagem erótica.
— Acorda, Nicole, vamos votar!
Ainda eram sete e pouco da manhã do domingo quando mamãe me tirou da cama. Ela queria votar cedinho porque seu namorado viria para almoçar conosco.
Estava só o caco da rabiola, trabalhei até tarde da noite fazendo "massagem" em um casal. Ela imaginou que eu estivesse no meu trabalho fictício de hostess (recepcionista de eventos). Saí da cama cambaleando.
Depois da ducha vesti uma calcinha vermelha e um macaquinho da mesma cor. Comprei especialmente para votar pela primeira vez.
Pouco mais tarde, enquanto fazia sala para o homem com idade acima a do meu pai, iniciei um papo somente para descontrair. O cara estava muito retraído.
— Seu Gabriel? Você gosta de tatuagens?
— Dificilmente faria uma, Nicole, ainda assim aprecio em pessoas que fazem desenhos discretos.
— Fiz uma tattoo esta semana, é bem discreta.
— Que tipo é?
— Na verdade, eu não sei explicar, tem a ver com pirâmide, esfinge.
— Posso ver para tentar decifrar o enigma? — disse ele e sorriu respeitosamente.
— Hum? Poder, pode, mas você teria que tirar toda a minha roupa.
Continuava trajando somente o macaquinho e a calcinha, já que não uso sutiã.
Não comentei que minha tattoo era na virilha, mas pela reação do homem sério, ficou evidente que ele entendeu tratar-se de uma zona íntima.
— Menina, para com isso!
O homem educado voltou a ficar calado, talvez preocupado que minha mãe tivesse ouvido nossa conversa. Não tive esse receio. Levantei dizendo que iria ajudar com o almoço e não brinquei mais com ele no decorrer do dia.
Lá pelas dezoito e trinta o tiozão se despediu da minha mãe. Pedi uma carona para ir à casa de uma amiga, porém, duvido que ele teria dado se tivesse como justificar a negativa para a dona Helena. Meu lado moleca irreverente deve ter perturbado o homem tímido e respeitador.
Durante o trajeto a conversa foi sobre o clima, também da minha alegria pelo meu primeiro voto e a provável vitória do Lula no primeiro turno (infelizmente não ocorreu). A seguir entrei em um campo mais escorregadio:
— Seu Gabriel, você já ouviu falar sobre massagem erótica?
— Já, mas suponho ser apenas um disfarce para a prática de prostituição.
— Por quê? Não é só uma massagem feita ao esfregar o corpo lubrificado no corpo do cliente?
— É muito mais, já que há o contato íntimo dos corpos nus e carícias nas partes genitais propiciando o orgasmo.
— Aff, olha! O modo como falou me deixou excitadinha — apontei para meu mamilo entumescido; estava mais que evidente sob a blusa de seda — Isso deve ser muito louco. Você já fez?
— Não, magina! Mas já li a respeito — disse ele todo sem graça, após desviar o olhar do meu peito.
— Deve ser tão gostoso como abraçar alguém ensaboado no banho, né? — falei mirando o homem com a minha melhor carinha de safada.
Ele não respondeu e parou o carro. Havíamos chegado onde eu ficaria.
Agradeci a carona e dei tchau deixando o homem com o pau duro.
A seriedade desse coroa não passa de fachada, na primeira oportunidade ele vai tentar me comer, pode apostar.
Meu agradecimento a todos vocês.
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