Muito além de uma simples traição 6.

Um conto erótico de Fernando
Categoria: Heterossexual
Contém 4003 palavras
Data: 20/10/2022 18:03:14
Última revisão: 20/10/2022 18:31:21

Continuando:

- Porque eu estou grávida de novo.

Aquilo sim me pegou de surpresa. Minha risada foi morrendo aos poucos, sumindo lentamente, enquanto minha fisionomia mudava. Clara, achando que eu fosse ficar bravo com ela, começou a se lamentar:

- Como pode tudo estar se repetindo? Parece uma praga de alguém…

Ouvir aquilo me deixou chateado. Aquelas palavras sim, elas tinham o potencial para me deixar bravo. Eu a interrompi bruscamente:

- Não diga isso! Uma criança é sempre uma dádiva. As palavras de uma mãe têm poder. Jamais repita isso.

Eu precisava perguntar, mesmo correndo o risco de parecer um canalha:

- Esse filho também é meu?

Clara aceitou bem:

- Eu entendo que você se sinta em dúvida, mas sim, esse filho também é seu.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela completou:

- Eu não tenho nenhuma intenção de abusar de você ou obrigá-lo a nada. Irei entender se você quiser pedir o exame de DNA. Na verdade, eu até prefiro que seja assim. Eu errei muito na vida, mas não a esse ponto. Somente com você eu transei sem camisinha. Entendo se você não não se sentir preparado para ser pai.

Bastante abatido, sentei no sofá, pensando em como proceder. Eu não tinha nenhum motivo para duvidar de Clara. Nesses quase quatro meses, quando não estava comigo, ela estava em casa, ou com Miguel ou até mesmo com minha mãe, batendo papo na calçada. Sempre respondia as minhas mensagens, me ligava diversas vezes ao dia dizendo estar com saudade. Dormia comigo todos os finais de semana… não havia motivos reais para desconfiança. Vendo a aflição em seu rosto, perguntei:

- Já fez o exame de sangue? Foi ao médico?

Clara pegou a bolsa e retirou dela um envelope, me entregando. O exame, positivo, mostrava o tempo de gestação e até a data aproximada da fecundação: treze semanas, com a data indicando pouco tempo depois daquele nosso primeiro fim de semana. Transamos muito nos dois primeiros meses, quase diariamente. Se ela não podia ir em casa, dávamos uma rapidinha no carro mesmo. Com certeza, era meu.

A preocupação começou a se transformar em alegria. Eu havia perdido a maior parte da vida de Miguel, mesmo sem ter culpa, e isso me fazia sentir mal. Desta vez, eu estaria presente.

- Acho que você deveria se mudar, vir ficar comigo. Sei que ainda é cedo, mas nós estamos indo para o segundo filho.

Um lindo sorriso nascia em seus lábios, mas ele acabou se apagando novamente. Eu fiquei sem entender:

- E agora, o que foi? Não gostou do meu convite? Acha que é precipitado?

Clara, aparentando muito nervosismo, disse:

- Eu preciso ser honesta com você. Tem muita coisa sobre mim que você ainda não sabe. Eu não quero que daqui há algum tempo, ao ouvir certas coisas que eu fiz, você se arrependa dessa decisão.

Eu poderia interrompê-la, dizer que eu já sabia de tudo, mas ouvir dela e comparar com o que me foi contado, seria uma chance de testar se ela seria totalmente honesta comigo. Savana me tornou um homem desconfiado, Clara poderia me fazer acreditar de novo que nem todos são iguais.

Clara voltou a andar de um lado para o outro da sala, preocupada, tentando organizar os pensamentos. Ela disse:

- Eu preciso de um copo d'água. - E foi para a cozinha.

Deixei ela se acalmar, não fui atrás. Dei espaço e tempo para que ela se preparasse. O que ela tinha a contar não era fácil de admitir. Ela ainda levou uns dez minutos para voltar. Puxou uma das cadeiras da mesa de jantar e sentou, me chamando em seguida. Tentei demonstrar confiança e apoio, me sentando de frente para ela e segurando em suas mãos. Olhando em seus olhos, eu disse:

- Saiba que tudo o que você fez antes de estar comigo, não me diz respeito. Eu agradeço que você queira ser honesta e estou aqui para ouvir tudo que você queira me contar. Respire fundo e faça no seu tempo, nos seus termos.

Clara estava muito abalada, com o rosto pálido e as mãos frias. Ela começou:

- Logo que você partiu, caiu a ficha do quanto eu amava você. Por quase um mês, eu fiquei trancada em casa, sem vontade de sair, esperando sua mensagem. O único momento em que me sentia feliz, era quando falava com você. Por três meses, minha vida era estudar e esperar a sua ligação ou mensagem.

Clara parou, respirou fundo, criou coragem e continuou:

- Um dia depois da nossa última ligação, eu acordei muito enjoada, passei a manhã inteira sem conseguir colocar nada no estômago. Só de olhar para mim, minha mãe entendeu o que estava acontecendo. Sua única pergunta foi: "Há quanto tempo sua menstruação está atrasada?" Eu nem precisei responder, pois nesse momento, o chão me faltou, o mundo desabou sobre mim.

Clara bebeu um gole de água, abaixou a cabeça, e sem conseguir me encarar, prosseguiu:

- Daquele momento em diante, minha vida se tornou um inferno. Minha mãe virou uma tirana. Restringiu minha liberdade, começou a me humilhar… meu pai precisou intervir e o casamento deles sofreu bastante com isso. Envergonhada, ela me fez abandonar a escola.

Achei que não deveria interferir, só ouvir e dar apoio, sem interromper. Clara voltou a falar:

- Foram seis meses horríveis. Pelo menos, eu consegui convencê-los a não contar nada para os seus pais. Disse que se eles não respeitassem o meu desejo, eu sumiria no mundo.

Naquele momento, fui obrigado a falar:

- Isso foi um erro. Você deveria ter sido honesta.

Clara voltou a me encarar:

- E estragar o seu futuro? Com certeza, você iria voltar correndo para casa, não ia?

- Claro! Eu ia querer estar ao seu lado.

Pelo menos, ela sorriu:

- Então eu fiz o certo. Agora você está aí, formado e bem-sucedido. Eu não podia mais falar com você. Se falasse, eu certamente contaria a verdade. Mas o que eu quero mesmo contar, foi tudo o que aconteceu depois.

Eu puxei a cadeira mais para a frente, ajeitando a postura e mostrando que eu estava atento, prestando atenção. Ela continuou:

- Logo que Miguel nasceu, minha mãe resolveu assumir a postura de mãe dele. Aquilo foi me deixando aflita, criando uma tristeza profunda dentro de mim. Ele era um mini você. Eu me senti sozinha, e com a dependência financeira, acabei me entregando ao sofrimento. Me sentia indigna do meu filho e encorajei o comportamento da minha mãe.

Ouvir aquilo me deixou revoltado. Como uma mãe poderia fazer aquilo com a própria filha? Deixar que ela se sentisse incapaz, sabendo que a faria sofrer?

Apertei carinhosamente as mãos de Clara, demonstrando o meu apoio. Encorajada, ele voltou a contar:

- O golpe de misericórdia veio quando Miguel começou a falar. Vê-lo chamando outra pessoa de mamãe, foi como sentir um punhal atravessando o meu coração. O segundo, entrou pelas minhas costas, ao ver que minha mãe não o corrigiu. Ali eu desabei, virei um vegetal praticamente. Eu não saía mais do quarto, não queria comer ou tomar banho. Só queria ficar na cama, não tinha forças para nada.

Foi impossível para ela segurar as lágrimas. O choro veio forte. Eu rapidamente a abracei e a apertei contra o meu peito, para que ela se sentisse protegida. Tentando acabar com aquela tortura que ela se impunha, eu pedi:

- Não precisa falar mais. Relembrar essas coisas está sendo doloroso. Chega disso.

Entre soluços, ela disse:

- Isso é só o começo. Eu preciso ser honesta em tudo, você precisa saber o que aconteceu depois. Eu não quero que no futuro, você descubra por outros e isso vire ressentimento. Me deixa terminar.

Clara buscou mais água para ela e eu lhe dei tempo. Poucos minutos depois, ela voltou e continuou:

- Eu passei por um tratamento e fiquei dependente dos remédios de tarja preta, mas aquilo me fazia mal. Durante dois anos, eu me entreguei à depressão. Ao invés de melhorar, eu comecei a fingir uma melhora, ansiando por uma falsa liberdade e acabei piorando a minha situação. Revoltada com todos, rompi com minha mãe, comecei a sair e conheci o mundo das drogas. No começo coisas leves, LSD, maconha, lança-perfume… daí para as mais pesadas, foi um pulo.

Até esse ponto, tudo o que ela confessou batia com a versão de César. Somente os detalhes eu desconhecia. Clara estava chegando na parte mais difícil. Novamente, eu me mantive calmo ao seu lado, deixando que ela contasse da forma que mais lhe fizesse bem.

Ela levantou e disse que precisava ir ao banheiro. Eu entendi, não era fácil prosseguir. Noventa por cento dos homens não aceitariam essa parte da vida que ela precisava confessar. Dizer que eu não tinha problemas com aquilo, seria mentir para mim mesmo. Por outro lado, estando comigo, Clara mostrava o melhor lado dela, o quanto ela era amorosa e confiável, parceira e boa mãe, divertida e feliz. Ela merecia essa chance. Além de minha melhor amiga, ela era, oficialmente agora, a mãe dos meus filhos.

Clara demorou um pouco para voltar. Eu continuei na minha, dando todo o tempo que ela precisava. Ela se sentou novamente e foi direta:

- Esse é o momento que eu preciso encarar. Por favor, deixe eu dizer tudo de uma vez, não interrompa. Eu vou aceitar qualquer decisão que você tomar depois que eu tiver contado tudo.

Eu apenas acenei positivamente para ela. Eu estava preparado, já sabia o que ela tinha a dizer, mas entendia o quanto aquilo seria difícil de contar. Para ela, estava em jogo o relacionamento que ela sempre sonhou. Ela finalmente criou coragem e começou:

- Junto com a dependência em drogas, veio a falta de dinheiro para manter o vício. Meus pais já cuidavam do Miguel e eu me tornei um fardo para eles. Roubei da minha própria casa quando não tinha dinheiro, cheguei a me prostituir por causa das drogas.

Vendo a decepção em meu rosto, tentando amenizar sua confissão, ela disse:

- Mas eu nunca deixei de usar camisinha. Fique tranquilo quanto a isso. Você foi o único.

Mesmo já ciente de tudo aquilo, é difícil ouvir. Ainda mais de forma completa. Eu não consegui manter o contato visual, aquilo doeu demais. Clara continuou:

- Foram dois anos assim. Drogas, festas, sexo… eu não me reconhecia mais. Saber que você tinha desistido de voltar me fez ficar ainda pior. Eu tinha planos de ser honesta com você, lhe entregar Miguel. Minha intenção era causar a minha mãe a mesma dor que eu sentia por tudo o que ela me fez.

Senti muita mágoa nas palavras de Clara, uma dor enorme. Não podia colocar a culpa de tudo na mãe dela, mas com certeza, ela foi o pavio que detonou a bomba. Tentando mudar o foco da conversa, focar no que era positivo, perguntei:

- Como você conseguiu sair daquela vida?

A expressão de Clara mudou. O desânimo deu lugar a uma expressão de triunfo:

- Tenho que agradecer aos meus amigos. Mariano e Glauco foram os primeiros a me socorrer. Em uma festa, eles me viram saindo com três homens, caras com uma reputação muito ruim. Os dois me reconheceram e me livraram daquela situação, mesmo contra a minha vontade no momento. Glauco me enfiou no carro e me levou até a casa de Bárbara. Alice chegou logo depois.

Me senti péssimo, com remorso. Eu achava os dois grandes babacas. Saber que eles deram o primeiro passo para que Clara se recuperasse me fez mudar o pensamento. A ajuda vem de onde menos se espera. Clara continuou:

- Os quatro, depois César e Diana também, começaram a cuidar de mim, tentando me convencer a me internar. Usaram de todos os artifícios possíveis: chantagem emocional, ameaças, Miguel, meus pais… mas no final, foi a sua mãe o fator determinante. Ela usou você. Ela me lembrou da nossa infância e adolescência, me fez lembrar da menina que eu era, do quanto você ficaria triste ao retornar e me encontrar daquela forma. Só o fato de saber que poderia retornar, me fez acordar para a vida. Foi isso! No final, foi você. Sempre foi você, eu só demorei a perceber.

Emocionado, eu a abracei. Senti que eu precisava cuidar dela, de Miguel e do nosso filho que se desenvolvia dentro daquela barriga. Clara até aceitou os meus carinhos, mas logo se separou de mim:

- Não! Eu quero que você pense bem e depois me responda…

Eu não tinha motivos para pensar. Na verdade, eu também me sentia culpado por tudo o que ela passou. A interrompendo, tentei ser direto:

- Nós não estávamos juntos. O que importa é o que faremos daqui para a frente. Eu não preciso pensar em nada.

Clara insistiu:

- Estou falando sério, Fernando! No momento, você está com pena de mim. Tire alguns dias para pensar e só depois me procure. - Clara se levantou e colocou sua bolsa no ombro.

Eu tentei impedi-la:

- Não precisa ser assim. Onde você vai?

- Vou para casa. Só me procure após pensar bem, processar tudo o que eu contei.

Ela saiu, me deixando ali pensativo. Fiquei sentado naquela mesa por quase meia hora, já ciente da minha decisão. Eu queria estar com ela, principalmente depois da confirmação de que Miguel era meu e de saber que ela estava grávida de novo.

Eu precisava de orientação. Precisava conversar com meus pais e me abrir com eles, contar tudo e saber a opinião deles. Mas precisava fazer isso com jeito, contar devagar. Era muita informação. Peguei as chaves do carro e fui até a casa dos meus pais.

No caminho, enquanto dirigia, novamente pensei em Savana. fiquei imaginando onde ela estaria, o que estaria fazendo. Será que ela já estava com outro? Vários meses haviam passado e ela nunca mais deu notícias. Comecei a ter a certeza de que Clara era a pessoa certa para mim. Mesmo com todo o passado ruim, ao meu lado ela era feliz. Savana ter ido embora foi a melhor coisa que me aconteceu.

Entrei no meu antigo bairro e passando em frente a choperia, avistei os três casais de amigos. Por um instante, achei que era Clara parada ao lado deles, mas era uma outra pessoa. Passei sem que eles prestassem atenção em mim e pouco tempo depois estacionei em frente a casa dos meus pais.

Antes de entrar, dei uma boa olhada na casa de Clara e ouvi a voz de Miguel na sala. Ele estava alegre, talvez brincando com alguém. Minha vontade era bater na porta e dizer que eu era o seu pai, abraçar meu filho e levá-lo comigo para casa. Me imaginei um cavaleiro de armadura brilhante, livrando Clara daquela torre sombria, a salvando da bruxa má e fazendo dela a rainha do meu castelo. Dei risada dos meus próprios pensamentos e entrei na casa dos meus pais.

Contei tudo aos dois detalhadamente, guardando a revelação da nova gravidez para o final. Meu pai, como sempre, pareceu aceitar tudo numa boa, mas minha mãe estava realmente brava. Não comigo, com Clara:

- Como ela pôde fazer isso? Nos fazer viver durante sete anos ao lado do nosso próprio neto sem saber? Ela vai ouvir umas poucas e boas, disso vocês podem ter certeza.

Tentei acalmá-la:

- Eu sei que a senhora tem razão em estar brava, mas tente entender o lado dela. Veja tudo que ela passou após engravidar. É hora de deixar o passado para trás e pensar no futuro.

Minha mãe apenas concordou, mas eu sabia que ela não ia deixar passar. Conversamos mais um pouco, informei a eles os meus planos e os dois concordaram que eu era adulto e responsável pelas minhas escolhas. Minha orgulhosa mãe não podia deixar de soltar sua pérola:

- Eu o criei bem o suficiente para não me meter na sua vida. Resolva logo isso, eu quero poder mimar o meu neto. - Eu e meu pai demos boas gargalhadas.

Acabei não contando da nova gravidez. Me despedi dos dois e voltei ao carro. As luzes da frente da casa de Clara já estavam apagadas. Até pensei em resolver de vez a situação, mas achei melhor dar um tempo, deixar que ela pensasse que eu refleti bem e que minha escolha não era por pena ou por nenhum sentimento de obrigação. Dei partida e acelerei. Cheguei em casa em menos de quinze minutos.

Pedi uma pizza e algumas cervejas pelo aplicativo. Tomei banho enquanto esperava a entrega. Ao descer para receber o pedido, cruzei com um colega de trabalho. Um rapaz de outro setor, mas que estava um pouco acima de mim na hierarquia. Ele tinha feito o mesmo pedido que eu. Demos risada ao nos ver na mesma situação, sozinhos em uma sexta-feira. Convidei-o para bater papo em meu apartamento. Pelo menos, tive um fim de noite tranquilo, com uma pessoa diferente e consegui esquecer um pouco dos meus dramas. Ficamos até quase às três da manhã jogando videogame e bebendo. Um pouco bêbado, dormi no sofá.

Acordo no dia seguinte, sábado, com o telefone tocando. Já era a quarta ligação em poucos minutos. Antes de atender, olhei as horas: dez e meia. Identifiquei o contato e pensei: "O que meu pai quer uma hora dessa?" Atendi:

- Bom dia, pai! Que desespero é esse?

Meu pai, um sujeito calmo, bonachão até, estava muito alterado e falando alto:

- Fernando, vem pra cá agora! Sua mãe enlouqueceu e está tirando satisfação com Isaura. Foi lá mais cedo e trouxe Miguel à força para casa. Venha rápido!

Levantei muito bravo, lavei o rosto correndo, escovei os dentes, peguei o chinelo e as chaves do carro e saí rapidamente. Estava impaciente no elevador que parecia estar operando em marcha lenta. Entrei no carro e parti. Eu estava realmente furioso com minha mãe. Devo ter excedido o limite de velocidade em quase todas as ruas, mas cheguei em menos de dez minutos. O circo estava armado na rua. A maioria dos vizinhos, os fofoqueiros de sempre, assistindo de camarote o embate entre minha mãe e dona Isaura. Meu pai e o pai da Clara sem saber o que fazer para acabar com aquilo.

O mais inusitado para mim, foi ver Clara ao lado de minha mãe, dando razão a ela. Que porra estava acontecendo ali?

- Você deveria pedir desculpas para essa menina pelo jeito que sempre a tratou. Mãe protege, encoraja, se sacrifica… você não é mãe, é uma egocêntrica. - Minha mãe só faltava pular no pescoço da dona Isaura.

- Quem é você para falar de mim? Mandou seu filho para longe, nunca contou a ele sobre Miguel. Agora vem com esse papinho de que eu traí você. Olha para esse garoto? É a cara do pai dele. Só não vê quem não quer. - Dona Isaura falou grosso.

Cheguei no exato momento de evitar uma catástrofe. Só tive tempo de segurar a minha mãe e carregá-la à força para dentro de casa, antes que partisse para cima de dona Isaura. Meu pai e Clara vieram atrás. Descontei a minha frustração em todos eles:

- O que vocês estavam pensando? Por que deixaram as coisas chegarem a esse ponto?

Miguel me olhava assustado. Eu aproveitei o momento:

- Nenhum de vocês pensou em Miguel? Olhem como ele está?

Clara tentou me acalmar:

- Não é bem assim, Fernando…

Eu explodi novamente, mas dessa vez, com minha mãe:

- O que a senhora estava fazendo? Eu disse claramente para nenhum de vocês se meterem. Esse é um assunto meu e da Clara. A senhora não tinha o direito.

Vendo a decepção em meu rosto, minha mãe tentou me abraçar:

- Desculpa, filho! Eu ouvi Isaura novamente falando mal de Clara na feira, a chamando de irresponsável, dizendo que ela não tinha jeito. Eu não consegui me segurar.

Ela se virou para Clara:

- Me desculpe, garota! Nós assistimos calados tudo o que você passou e nunca tentamos ajudar. Se soubéssemos sobre Miguel, teríamos tirado você de lá no dia que ele nasceu. Você me perdoa?

As duas se abraçaram e todo o meu sentimento de revolta com a minha mãe desapareceu ao ouvir sua explicação. Era a hora da revelação. Olhei fundo nos olhos de Clara e pedi:

- Conte para eles. Vamos fazer direito dessa vez.

Clara me olhou assustada, mas vendo o quanto minha mãe estava olhando fixamente para ela, resolveu dizer:

- Eu estou grávida de novo.

A reação da minha mãe era sempre a mesma, parecendo que sua alma tinha saído do corpo outra vez. Clara ficou ainda mais assustada, mostrando todo o seu lado carente, machucado:

- Me perdoe, eu juro que eu não planejei nada disso.

Minha mãe, se recuperando do choque, a abraçou forte:

- Eu não acredito! Eu vou ser vovó de novo. - Lembrando de Miguel, ela encarou Clara - Dessa vez, você vai ficar aqui com a gente. Essa gravidez vai ocorrer em paz.

Eu precisei lembrá-la de que ainda estava ali:

- Mãe, você está parecendo a dona Isaura, querendo decidir o que é melhor para Clara.

Me virei para Clara:

- Precisamos conversar. Miguel vai ficar aqui ou na sua casa? Miguel já sabe?

Clara olhou para o filho. Miguel continuava me encarando assustado. Ele criou coragem e se aproximou de mim:

- Você é o meu pai?

Clara rapidamente se abaixou, o abraçou e confirmou:

- Sim, filho! Ele é o seu papai. Você está feliz com isso?

Miguel, honesto como toda criança de sua idade, soltou:

- Caramba! Meu papai tem um carrão, sempre me leva para comer pizza… é claro que eu gostei, mamãe. - Miguel agarrou as minhas pernas.

O peguei no colo e o abracei bem apertado. Pela primeira vez, eu abraçava o meu filho e era correspondido por ele. Que aproveitou:

- Eu quero sorvete, papai! Você me leva para tomar?

Eu sabia o que precisava fazer:

- Clara, vá arrumar as suas coisas e as de Miguel. Vamos para casa.

Ela não estava acreditando:

- Tem certeza? Você quer mesmo isso? Pensou bem em tudo o que eu contei?

Eu confessei:

- Eu só estava enrolando. Não tinha nada para pensar. Eu não quero mais ficar longe de você e do meu filho. Ou melhor, dos nossos filhos.

Ainda um pouco preocupada com a reação de sua mãe, Clara tentou postergar a ida a sua casa:

- Depois a gente pega as nossas coisas, deixa minha mãe esfriar a cabeça.

Ouvimos uma voz forte entrando pela janela:

- Venha, filha! Comigo ao seu lado sua mãe não vai falar nada. Chega de passar pano para Isaura. Você merece ser feliz, eu sei que sempre amou o Fernando. Eu não poderia estar mais satisfeito.

O pai de Clara nos dava a sua benção, mas pediu:

- Ela pode ter os defeitos dela, mas ama o Miguelzinho. Deixe-a se despedir, pelo menos.

Clara concordou e os três saíram. Meia hora depois, ouvi o pai dela me chamar:

- Fernando, traz o carro para a gente colocar as malas.

Lá fui eu, rumo a minha nova vida que começava. Eu me tornava pai, companheiro e estava feliz com o rumo que as coisas tomavam.

Miguel ficou encantado com tudo. O playground do prédio, a quase dezena de novos amigos da sua idade, a piscina, a nova escola particular… nossa amizade e a relação de pai e filho só melhoravam. Clara se mostrava uma parceira carinhosa e dedicada. Foram três meses de calmaria, onde sua barriga crescia um pouquinho a cada dia. Ela estava linda, glamourosa… assinamos a união estável para que ela pudesse utilizar o meu excelente plano de saúde e tudo parecia perfeito. Os três casais de amigos estavam sempre presentes na nossa vida. Assim como os meus pais e o pai de Clara. Dona Isaura, magoada e se sentindo injustiçada, cortou relações com a gente.

Tudo parecia perfeito, até uma nova mensagem chegar:

"Gosto muito dessa loirinha. É a pessoa ideal para você. Não casou ainda por que? Não esqueceu a vagabunda da Savana? Está esperando que ela volte? Ah, esqueci de dizer: o nome verdadeiro dela é Olivia. Olivia Carlson."

Junto com aquela mensagem, uma foto da habilitação verdadeira, do estado da Flórida. A foto de savana recente com o nome verdadeiro.

Sim, era ele! O número misterioso outra vez.

Continua.

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Comentários

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Só surpresas!! Quer matar a gente do coração né dogão! Cara que história fantástica 👍👍👍

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Cada dia mais gostoso de se ler,conto com muitas revelações e mistérios, Fernando teve a atitude que eu esperava como homem,pegou clara e o filho e o levou p sua casa,tudo perfeito até a mensagem,não o deixa esquecer de savana,Po dureza e pelo jeito e pessoa próxima pois sabe que ele está morando com clara,

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Mamãe barraqueira é foda! Sei o que é isso. Savana vem aí, preparem-se

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Inspirado na minha esposa. Pensa numa barraqueira? 🤣🤣🤣

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Cara foi um dos capítulos mais emocionantes que já li aqui nesse site, me emocionei em diversos momentos da história da Clara, pensar q não só na ficção mais q na vida real diversos pais que deveriam proteger e guiar, acabam cm a vida de seus filhos é triste demais. Clara é uma mulher incrível q sofreu muito na vida e merece ser feliz, agora se esse desgraçado fizer qualquer coisa q não seja apagar a porra dessa mensagem e trocar de número eu vou fica muito puto cm esse infeliz, aí vai ter q se fuder mesmo pq não é possível q ele vai troca um futuro cm uma família por uma Cristina fria q provavelmente trai ele.

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Eu concordo com você quando você fala da Clara, mas no caso da mensagem eu discordo, o Fernando deveria procurar a policia, pela mensagem fica claro que tem alguém espionando a vida dele e isso é muito perigoso, ele até mesmo para proteger a Clara e seus filhos deveria contratar um investigar particular, a forma como a Savanna agia já da indícios que ela estaria envolvida com pessoas perigosas, juntando isso a forma que ela sumiu e o retorno desse desgraçado anônimo o Fernando não pode jamais fingir que algo muito estranho não está acontecendo.

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Não tinha pensado nisso, mais realmente ele devia mostra pra Clara e então levar a polícia no mínimo.

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Que bom ouvir isso. Me deixa muito envaidecido. Obrigado!

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Demorei a comentar mas estou amando seu conto nota mil. Quantos mistério cerca Savana? Será que Fernando e Clara ainda vão sofrer se Savana do nada aparecer? Já me prendeu

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A melhor não sei, mas está sendo feita com dedicação. Obrigado!

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Espetacular!

Salvo algumas questões menores de gramática e pontuação, seu texto está perfeito.

Meus parabéns.

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Se quiser indicar os erros por e-mail, agradeço e corrijo.

Sandrobb1979@gmail.com

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Amigo, estou tomando uma cervejinha agora.

Amanhã, no computador, vou tentar fazer isso, mas fique tranquilo, são coisas pequenas que em nada tiram o brilho desse capítulo.

Siga firme que estou curtindo muito!

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Naughty, que história meu amigo, está fantástica, como falei ontem eu fiquei muito ressabiado com aquela bendita frase do "Como tudo na vida é temporário", mas como falei eu torci muito para que o filho fosse do Fernando mesmo, e que mãe ele tem, mesmo sendo uma enxerida, rsrsrs mandou muito bem ao defender a Clara da mãe abusiva dela. O quê preocupa são esses telefonemas pois tem uma indicação de envolvimento de pessoas criminosas e uma situação de risco iminente para a nova Família do Fernando visto que o cara está sendo vigiado de perto. Ele não pode mais ignorar isso e sim acionar a policia e pagar um investigador particular, estamos falando de seus filhos e sua mulher.

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Eu fiquei muito satisfeito quando terminei de escrever esse conto. Essa é a terceira versão e final que eu escrvi. Principalmente depois do feedback positivo do terceiro autor que eu procurei, dos ensinamentos que ele me deu para adequar o texto e de todo o incentivo que ele me deu para começar eu mesmo a postar.

Estou muito feliz com o retorno dessa primeira serie. Já estou escrevendo a segunda. Mas só vou postar depois de terminar essa.

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E depois da Clara contar tudo, ser totalmente honesta e o quanto o Fernando foi um parceiro com ela é impossível acreditar que ela vai ser a traidora, há não ser que ou ele mude muito ou ela seja uma manipuladora das boas.

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Nossa, grandes emoções.

Não dá pra saber quem vai trair quem e será que é uma traição sexual ou é muito pior que isso?

Essa série está ótima.

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Esse é um ponto importante. Traição aconteça de diversas formas, não só sexual.

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Ótimo episódio agora o número mandar mensagem novamente eu daria um foda-se e diria não é mais problema meu a vida dela

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