Não passaria aquele Halloween de 2021 em branco, fosse com ou sem pandemia. Era o meu primeiro evento significativo, após ter completado 18 anos, a ocasião merecia uma balada adulta; não que já não tenha ido em várias outras, mas dessa vez não infringiria a lei.
Combinei com duas amigas de irmos numa balada que aconteceria em um galpão no centro da cidade.
Dia 30, noite de sábado, estava na casa das gêmeas terminando de compor o "look" com os trajes apropriados ao tema escolhido por nós (magia). Ajeitei a cartola, dei o último retoque nos lábios e amei a minha imagem no espelho: um quê de sensualidade, contudo, nada extravagante. Joguei um beijo para mim mesma e partimos pra balada.
Saímos para aguardar o Uber na calçada de um barzinho próximo. Durante os quase cinco minutos de espera, tentei não dar atenção a um homem de terno preto que nos escaneou seguidamente de cima a baixo.
Foi em vão a minha tentativa de ignorá-lo, algo nele me atraia mais e mais a cada minuto.
Felizmente nosso transporte chegou.
Aquele cara deixou-me em desvantagem e apreensiva, parecia falar comigo em pensamento, frases como letra de músicas: "Você é a porta pra minha saída / Demorei tanto pra te encontrar / Deixa elas e vem comigo / Faremos uma festinha só à dois".
Acomodei-me no interior do veículo e foi impossível não olhar com mais atenção para o homem todo de preto, inclusive a camisa e gravata, bebendo solitário na mesa da calçada.
Nossos olhares se cruzaram e o Uber partiu, não antes de captar nitidamente seus pensamentos: "Até daqui a pouco, minha deusa! A gente se vê logo mais no centro". Deus do céu! Minha alma gelou, contudo, meu tesão bateu no topo.
Seguimos viagem e não comentei nada com as amigas que estavam tão descontraídas rindo à toa trocando mensagens com os meninos que nos encontrariam na balada. Tentei focar nas gêmeas e na diversão daquela noite.
Descemos do Uber e permanecemos no meio-fio com a intenção de atravessar a via. Esperaríamos passar o veículo que vinha logo atrás. O motorista de aplicativo se foi imediatamente, no entanto, o carro seguinte parou na mesma vaga. Aff! Um arrepio percorreu e estremeceu meu corpo inteiro quando reconheci o motorista pela janela aberta do passageiro, era o homem de preto do bar.
— Que foi, miga, é frio ou tesão? — perguntou uma das meninas zoando comigo. A outra riu gostoso.
Ele saiu do veículo e nos abordou… Quero dizer, me abordou. O olhar do cara foi direto para mim, inclusive suas palavras.
— Posso ser sua companhia nessa balada, Nicole?
— Como você sabe meu nome?
— Ouvi suas amigas lá no nosso pedaço.
Sabia que era mentira, raríssimas vezes nos chamamos pelo nome. Mas só então reconheci o figura, era um ex jogador do Corinthians que morava lá no bairro. Faz anos que ele foi jogar na Rússia ou Ucrânia, não sabia ao certo.
A partir de então, o seu olhar pareceu-me cativante, diria até um tanto tímido, e não me causava medo.
Depois das apresentações e risadas, partimos os quatro para o galpão da festa.
Ele não foi bem recebido pelos meninos. Talvez por ter mais idade e mais grana, supus. Para mim não faria diferença, curti o cara e não larguei dele. Eu nem estava a fim daqueles carinhas cheios de preconceitos.
Foi curta a minha estadia com o jogador naquela festa. Aceitei seu convite para uma balada particular em sua casa. Voltamos para a zona norte.
Chegamos defronte um casarão no bairro dos bacanas, próximo do Campo de Marte. Com exceção da luz externa, o restante estava às escuras. Adentramos o portão lateral e depois a porta da sala. Ele não quis acender a luz. Atravessamos três cômodos iluminados somente pela luz da rua. Durante a travessia ele perguntou se eu gostava de uísque ou vodca. Como fiquei em dúvida, ele pegou uma garrafa de cada e encheu um baldinho de gelo em um freezer.
Estranhei não ter visto ele usar chaves para abrir as portas, porém, deixei na conta dos dois shots que bebi na balada.
Adentramos a área dos fundos: piscina, jacuzzi e ofurô estavam à nossa disposição.
— Tudo isso aqui é seu? — perguntei admirada. Era tudo muito lindo e luxuoso, mesmo no escuro.
— Era, ainda é da família, está à venda.
— Que pena, seria um sonho morar aqui.
— Verdade, Nicole, eu amo esse lugar, por isso vim me despedir dele, e em excelente companhia — disse ele e pegou-me num beijo gostoso repleto de desejos. Nossas roupas caíram pelo chão defronte ao ofurô. Muitos amassos e carícias íntimas e fizemos amor na tina de água morna.
Fui pega por trás com seus braços sobre meus peitos e seu pênis agitando bem fundo, arrancando meus suspiros de deleite. Suas estocadas suaves, cuidadosas e carinhosas, mostraram o lado romântico de um amante preocupado em propiciar prazer para sua parceira.
Ele me fez gozar do modo mais sublime que já havia experimentado. Ronronei feito uma gatinha, gemi baixinho e dei gritinhos com o ápice daquele momento delicioso.
A Noite era só nossa, o gramado e a espreguiçadeira também foram nosso leito de amor e de entregas.
Delirei com cada uma das ejaculadas em meu interior, assim como fui aos céus com cada momento de clímax que agraciada fui. Todavia, só fez aumentar meu temor com o amanhã. Dei mole com meus sentimentos, estava me apaixonando por aquele cara do qual quase nada sabia. O que seria de mim se pra ele eu não passasse de um lance de apenas uma noite?
Pedi um autógrafo na costela lateral, logo abaixo do meu seio esquerdo. Perguntei se poderia fazer uma tatuagem. Ele autorizou de imediato, disse estar lisonjeado.
***
Fui acordada por uma senhora. Era manhã de sol. Tinha um senhor atrás dela, e pela roupa deduzi ser um motorista, não o marido.
Dei-me conta de estar nua diante deles, ainda sobre a espreguiçadeira. Lembro de ter praticado ali a minha última transa com o craque antes de adormecer.
— Quem é você, moça? Como entrou na minha casa?
Ainda confusa, fiquei calada e olhei ao redor: minha fantasia de mágica estava espalhada no gramado, assim como as duas garrafas de bebida quase vazias e os dois copos. Não havia nem vestígios do jogador… Caralho! Nem de preservativos, pensei, dei mole de novo.
A mulher ficou alterada e insinuou que eu era uma drogada e invasora. Pedi, por favor, que se acalmasse, iria explicar tudo desde o início.
Com as mãos sobre os seios e de pernas cruzadas, contei a história toda desde o bar em meu bairro. Acrescentei cenas bem resumidas da noite de erotismo.
Ela confirmou que ele era o dono da casa, sim. Entretanto, ele estava na Ucrânia e não poderia ter viajado.
Fui enfática dizendo que estive com ele durante quase toda a noite. Disse coisas que ele relatou sobre sua infância, e que a mãe o protegia ocultando do pai. Ela confirmou as peripécias do filho e disse que seria impossível outra pessoa, além dela, saber daquilo.
Lembrei do autógrafo, mostrei para ela. Seria mais uma prova de que realmente estive com o homem.
A mulher estava emotiva e se debulhou em lágrimas, eu não sabia o porquê e nem o que fazer. Apenas a abracei.
Instantes depois ela conseguiu falar:
— Eu não sei porque ele a escolheu, mas você foi a última pessoa a estar, de alguma forma, com ele nesta vida.
— Desculpe, senhora, mas não entendi.
— Meu filho sofreu um acidente gravíssimo com seu carro, estava em coma induzido a mais de três meses. Os aparelhos foram desligados esta manhã.
Não consegui absorver toda a mensagem de uma só vez, eu fiz amor e conversei com ele por quase toda à noite, foi tudo bem real. Ainda tinha vestígios dele em mim. Como pode estar morto em um país tão distante?
A senhora disse que passou a noite na casa da filha advogada, ela viajou de manhã para a Ucrânia, cuidaria dos trâmites legais.
Pediu que me vestisse e a acompanhasse. Queria saber mais sobre o que dissera seu filho amado.
Fim
Agradeço a atenção de todos vocês!
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