Meu Preço - Capítulo Onze

Um conto erótico de M.J. Grey
Categoria: Gay
Contém 3971 palavras
Data: 26/11/2022 10:53:49

***CAPÍTULO ONZE***

Ficamos por um tempo conversando até Elza aparecer. Tinha me esquecido dela. Que genro horrível eu sou!

Logo percebo que ela não está com roupas de banho.

— Não vai entrar, mãe? — Gabriel pergunta.

— Hoje não, querido. Vou até a cidade e já volto.

— Quer ajuda com alguma coisa? — pergunto, porque é assim na minha casa, sempre ajudava a minha mãe em tudo.

— Não querido, pode se divertir.

Com isso, ela vira as costas e sai.

— Onde encontrou esse garoto eficiente, Gabriel? Precisa me contar a história. — Isabel pisca para mim.

— No clube. — É a única resposta dele. Isabel revira os olhos.

— Nossa, como você é sem graça! Quero saber os detalhes — diz, fazendo biquinho.

— Não viaja, Isabel.

Ele nada até a Laurinha, pegando-a nos braços.

— Você vai me contar, quero saber tudinho, menos os detalhes íntimos, é nojento. — Ela dispensa os pensamentos com um gesto de mão.

— Eu? Eu não tenho nada para contar. — Ela continua me olhando, esperando eu dizer algo. Merda! — A gente se encontrou no bar, ele pediu pra dançar...

Ela me interrompe.

— Meu irmão? Dançar? — Ah, Deus! — Ele não dança.

Claro que não.

— Aquele dia ele dançou, mal, mas dançou — digo alto para ele escutar. — Então falou algumas coisas no meu ouvido e me ganhou, nós começamos a ficar.

Falei o que me veio à mente.

— Nossa, você é chato que nem meu irmão. Onde estão os detalhes? O que ele te disse? — Ela força, esperando os pormenores da minha mentira.

— Você não vai querer saber — afirmo, como se o que tenho a dizer fosse inapropriado.

— Claro que eu quero.

Senhor!

— Bem, ele me disse que eu estava bonito.

Merda, o que eu digo?

— Que fraquinho, bem clichê, meu irmão é mais quente que isso. O que mais ele disse?

— Foram coisas fofas, por exemplo: me dizer que pareço um anjo... — Uso o apelido. — Apesar de ter sido grosseiro algumas vezes também. Antes de ficar com ele, eu queria matá-lo.

Essa é a verdade.

Gabriel ouve calado, nem brinca mais com a sobrinha. Deve estar gostando do meu sufoco, esse canalha.

— Sim, ele às vezes pode ser bem irritante, mas sei que deve ter usado palavras mais quentes, como: “Gostoso, eu poderia te comer inteiro.”.

— Isabel! — protesto, sentindo o resto queimar.

— Não fique com vergonha, somos uma família e eu conheço meu irmão.

Olho para o Gabriel, buscando socorro de alguma forma, mas o maldito está rindo.

Não abro a boca para falar mais nada. Com a minha desistência, ele volta a brincar com Laurinha.

— Ele a ama, né? — questiono, sem perceber que pensei alto.

— Laurinha nasceu depois que meu pai morreu. Foi o Gabriel quem me acompanhou, foi ele quem a pegou pela primeira vez, que deu o nome a ela. É como um pai, ausente, mas um pai. Ela liga para ele todos os dias e, se ela não ligar, ele liga para saber por que não ligou. Se ela fica doente, ele fica também. Enfim, ele faz tudo o que ela pede, é um babão.

Será que estamos falando da mesma pessoa? Difícil imaginar Gabriel preocupado com alguém, muito menos babão.

Pois o que eu sei é diferente, já que o Gabriel que vi aqui não se parece em nada com o homem sem coração que me arrancou da minha família e que ameaçou matar o meu pai. A palavra “Fachada” aparece na minha mente de novo.

— Talvez ele possa ser um bom pai... — Divago em pensamentos.

Ficamos em silêncio por um tempo, só olhando os dois brincarem, até Laurinha falar:

— Mãe, estou com fome.

— Oh, meu amor, venha, vamos comer alguma coisa.

Isabel sai da água enquanto Gabriel ergue a Laurinha para a beira da piscina. Observo como seus músculos se contraem e ficam maiores quando faz força — semelhante ao que aconteceu com aquela mulher, no momento em que ele a erguia em seus braços fortes em cima da mesa de sinuca.

Ah, tenha dó! Não quero pensar nisso, não agora, não com ele só de sunga, não com aquele peito esculpido...

Distraio-me com os pensamentos e mal percebo quando se aproxima, tipo bem perto de mim.

— Então eu te achei bonito e depois disse que você parecia um anjo? — provoca maliciosamente.

— O que mais eu poderia dizer? — Dou de ombros e me afasto, mas minhas costas batem na lateral da piscina.

— O que não deveria ter dito de jeito nenhum é afirmar que falo coisas fofas ou danço, porque eu não danço nem sou fofo. Gostei da parte do grosseiro, porque não sou um homem de melação, sou decidido e firme em minhas palavras. Se fosse querer você, tenho certeza de que você saberia.

Gabriel chega bem perto e passa os braços pela minha cintura, colando seu corpo forte ao meu.

Por que ele precisa ser tão lindo e forte, e ainda se parecer com um deus grego? Nossa! Ele é a tentação em pessoa. Um gostoso. Tenho que resistir a sua provocação. Mas como?

— O que está fazendo? A sua irmã vai voltar.

Quero que ele me solte antes que meu cérebro vire gelatina.

— Samuel, você está me deixando louco com todas essas provocações. Estou perdendo a cabeça, e não sou como o seu noivinho que esperou pelo casamento para te fazer dele. — Minha respiração falha, meu corpo inteiro pega fogo, pelo menos é assim que parece. — Vou ser bem claro: eu quero você e vou ter.

Pelos deuses!

— O que estou fazendo? Não estou te provocando... — Mal consigo falar. Ele me aperta contra seu corpo quente, e seu cheiro mais uma vez domina os meus sentidos.

— Primeiro a roupa, depois o beijo, na última vez foi dormir de cueca. Não estou reclamando, seu corpo é lindo, porém me faz sentir tesão. Estou tentando ser paciente, mas quando vejo você numa roupa daquela ou dentro de uma sunga assim, me enlouquece. Eu quero te provar, quero sentir o seu cheiro, quero estar dentro de você e não estou aguentando a espera.

Puta que pariu! Preciso de ar, muito ar, estou sufocando.

Ele me tem, estou à sua mercê.

Ele pode sentir como meu corpo está tremendo em seus braços, e como eu aceitaria qualquer coisa que me pedisse. Eu me entregaria sem reclamar se continuasse falando.

Estamos em uma bolha, cheia de tensão a nossa volta. Se saísse uma faísca, entraria em combustão. Nunca senti nada parecido com isso, nunca senti tanta vontade de me entregar a alguém, nem mesmo quando se tratava de Lucas.

O desejo que circula em meu corpo é maior que a minha vontade de ficar longe dele. Coisas pecaminosas rodeavam a minha mente, os meus sonhos eróticos começam a passar como um filme e, pela primeira vez, quero senti-lo me tocando daquele jeito.

— Gabriel — sussurro seu nome, e ele arfa, me apertando mais contra o seu peito.

— Nunca desejei uma pessoa como te desejo. Apenas o fato de ser virgem é o que me impede de te levar agora mesmo para o quarto e me enterrar em você que nem um louco, de sentir o seu gosto em minha língua. Só de pensar nisso já estou duro. — Para deixar isso bem claro, ele me prensa na borda da piscina e se esfrega em mim, me fazendo gemer. Um fogo abrasador me possui, e ele provoca outra vez a minha ereção, me fazendo quase perder a sanidade. — Quero ouvir você gemer o meu nome enquanto entro em você. Me avise quando estiver pronto e eu serei o cara mais feliz do mundo em te proporcionar prazer.

Gabriel beija meu pescoço, então jogo a cabeça para trás, dando mais espaço. Meu corpo está tão mole que, se ele me soltar, não vou parar em pé.

— O que vocês estão fazendo? — Isabel grita, do outro lado da piscina, fazendo o irmão se afastar, mas não totalmente, pois ele ainda me segura e encosta a testa na minha.

— Ela sempre chega nas melhores horas. — Tenta se recompor, puxando o ar e soltando.

Estou trêmula, não consigo pensar direito. Só sei que não queria sentir nada disso, não queria sentir nada por ele. A raiva cresce, não sei se por raiva dele ou por deixá-lo ter esse poder sobre mim.

Empurro seu peito para me soltar, e saio da piscina. Em seguida, me enrolo no roupão e entro na casa.

— O que fez com ele? — Ouço Isabel perguntar, mas ele não responde.

Vou até onde Laurinha está e me sirvo de um copo com água bem gelada para ver se aplaca um pouco a temperatura do meu corpo.

— Oi, tio. O meu tio ensinou você a nadar?

— Sim, querido. E você também aprendeu? — Aliso seus cachinhos molhados.

— Não, ainda sou muito pequenininha. Eu me afogo.

Ela é tão inteligente.

— Verdade, tem que tomar cuidado.

Isabel se encosta do meu lado.

— Me desculpe se atrapalhei alguma coisa lá fora, não queria te aborrecer.

Droga! Ela está se sentindo culpada, achando que fiquei brava. Não, não. Eu tenho que agradecer, foi ela quem me salvou de um arrependimento eterno.

— Não se preocupe com isso. Seu irmão às vezes passa dos limites, pelo menos limites para mim. Eu que peço desculpas pela cena.

— Não precisa me pedir desculpas, vamos voltar para água?

Nem a pau que eu voltaria para a piscina e ter que encarar a cara de convencido do Gabriel.

— Não, estou cansado, queria deitar um pouco. Você sabe onde é o meu quarto? — pergunto. Seria o único lugar que poderia me deixar longe do Gabriel.

— Venha, deve ser o quarto antigo do meu irmão.

Isabel me deixa no quarto e sai. As minhas malas estão no canto, ele tirou só duas do carro.

Abro a mala e, graças a Deus, é a que contém as cuecas. Ao menos não tenho que pedir para ele pegar. Entretanto, continuo envergonhado por saber que esta, em específico, tem as minhas cuecas — com certeza ele deve ter olhado.

Coloquei a roupa que customizei nesta mala, reservei-o com antecedência a fim de usá-lo em um momento de precisão, pois se deixasse junto com os outros, ficaria difícil achar.

Pego uma roupa na outra mala, só que essa é uma bermuda soltinha, bem confortável. Coloco-a em cima da cama para me trocar depois que sair do banho.

Deixo a água levar embora todo o estresse do momento. Aproveito para lavar a sunga.

Saio enrolado na cintura com a toalha, pensando na privacidade que poderia ter agora, pelo menos aqui nesse quarto, mas não, minha felicidade dura bem pouco.

Gabriel entra pela porta.

— Você só pode estar de brincadeira comigo — Ele grunhe, petrificado no lugar.

— Por que está aqui? Saia já! — Aponto para porta.

— Esse é o meu quarto. — Gabriel ergue as sobrancelhas, me encarando.

— Mas as minhas coisas estão aqui, procure outro lugar para dormir. — Aperto firme a toalha contra o corpo.

— Não vou dormir em outro lugar, vou ficar aqui com você. O que acha que a minha mãe vai pensar se dormirmos separados?

— Vai achar que somos pessoas decentes.

— Aqui não funciona assim, você é meu noivo. Precisamos ficar juntos como um casal.

Por que ele está bravo?

— Qual é o seu problema? Acha mesmo que vou dormir com você depois de tudo que me falou?

Não quero nem pensar nas coisas que ele me disse.

— Não vou fazer nada se não quiser que eu faça, apenas falei que, quando você estiver pronto, estarei à sua disposição. Não estou fazendo nada demais, só explicando a minha situação para você saber como estou me sentindo.

Ele não grita dessa vez, mas parece frustrado e com muita raiva.

— Você me agarrou que nem um cachorro no cio, se esfregou em mim sem a minha autorização, e ainda falou coisas obscenas e mal-educadas. — Tento demonstrar que aquilo que fez comigo foi errado. Não quero que faça de novo.

— Mas gostou, e aposto que está louco para eu entrar você — diz, com convicção.

Santa Mãe de Deus! Como ele pode ser tão irritante e provocador? Só com algumas palavras, Gabriel faz meu corpo se acender que nem uma tocha ardente.

— Nojento. Você é um canalha nojento.

Também não grito, longe de mim querer causar escândalo. Mas falo com firmeza, quase cuspindo as palavras.

Ele ri com escárnio, entra no banheiro e fecha a porta atrás de si.

Visto a roupa no momento em que ouço o chuveiro. Enquanto ele estiver embaixo d’água, eu terei alguns minutos de privacidade. Me deito na cama e acabo dormindo.

***

— Samuel, anjo. — A voz do Gabriel me acorda.

— Oi — digo, sonolento.

— É a hora do jantar, vamos?

Me levanto um pouco tonto, vou até o banheiro escovar os dentes. Quando saio, ele já não está mais no quarto. Vou até a cozinha, e vejo todos à mesa.

— Oi, titio. — Laurinha corre para me abraçar.

— Oi, princesa.

— Que bom que você vai jantar com a gente — diz ela, fofinha como sempre. Laurinha fala com tanta meiguice que fico babando, não existe a possibilidade de não amá-la.

— Você gosta de peixe, querido? — A mãe dele pergunta, com um belo sorriso no rosto. Percebo que é parecido com o de Gabriel, quando sorri sem malícia.

— Sim, eu adoro.

Jantamos todos em silêncio, e Gabriel não me tocou como no almoço, apenas ficou ali parado, sério. Percebo que Elza está nos analisando.

— O que vai fazer hoje, querido? — Ela pergunta, desconfiada, ainda olhando de mim para ele.

— Eu... Hoje, nada. Tenho que ir ao clube, mas vou amanhã — responde desconfortável.

A mãe dele sorri, tristonha.

— Ah, podemos ir com você! — Isabel fala, eufórica. — Preciso muito sair! Mãe, pode ficar com a Laurinha? — indaga, fazendo um biquinho para Elza, que ri.

— Claro que sim — argumenta Elza, passando as mãos pelos cabelos loirinhos de sua neta, que cruza os braços e faz um bicão igual a mãe.

Eu vou morder essa garota.

— Ah, mamãe, e eu? — resmunga, chorosa.

— Aonde a mamãe vai você não pode entrar, só quando crescer.

Ela não desfaz o bico, só ficou ainda maior, e seu lábio inferior treme. Seus olhinhos se enchem de lágrimas.

Ohhhh!

— Eu vou trabalhar — garante Gabriel, acabando com a felicidade da Isabel. Porém, não por muito tempo.

— Você trabalha enquanto eu e Samuel nos divertimos. Vai, Gabe, preciso muito sair, aquela empresa está acabando comigo.

Gabe? Ele faz cara feia. Quer dizer então que não gosta do apelido carinhoso da irmã? Seguro o riso.

— Só se nunca mais me chamar assim, muito menos no clube.

Não aguento segurar... Explodo em uma gargalhada histérica, e todos olham pra mim para saber onde está a graça.

— Desculpem! — Tento conter o riso, mas não consigo, e elas me seguem, menos Gabriel que me encara sério. — Cara, com toda a sua pinta de galã... — Não aguento mais; as lágrimas se formam nos cantos dos olhos, e minha barriga doí. Isabel, então, nem se fala.

— Não é engraçado — Gabriel protesta.

— É sim — rebate Isabel, entre risos. — Você odeia esse apelido desde pequeno.

— E você só usa para me atormentar. — Ele ri.

***

O jantar foi divertido, ambos contaram histórias engraçadas sobre a infância deles. Todos nós rimos a cada instante.

Assim que entramos no quarto para dormir, não perco a oportunidade para zombar dele.

— Então seu apelido era Gabe?

— Nem vem, anjo, não vou entrar nessa com você. — Ele se joga na cama.

Engulo em seco.

— Mas é tão fofo — provoco.

— Fofo? Não, por favor, eu nunca fui fofo.

Gosto de vê-lo assim: normal, rindo e brincando.

Por que se tornou um homem frio? Por que esconde a parte boa dele?

— Isso começou quando você era criança? Nunca imaginei um apelido desses em um cara tão fodão. — Dou risada.

Inesperadamente ele me pega pela cintura e me joga na cama.

— Fodão? Bem melhor que fofo. — Começa a fazer cosquinhas em mim até me contorcer com as risadas.

— Para, para, Gabriel! — peço, tentando controlar o riso.

Ele para e me encara, levando todo o humor. Seu corpo cobre o meu, seu olhar foca em minha boca e, sem perceber, começa a se aproximar. Ele possivelmente vai me beijar. Presumo que eu não consiga resistir à outra investida igual à da piscina, até porque dessa vez estamos no lugar certo.

— Não faça isso — peço, pela segunda vez, e ele se afasta de mim.

— Desculpe.

Gabriel fecha a cara, se levanta e vai direto ao banheiro. Ouço o barulho do chuveiro de novo.

Quem é esse? Não é o homem que eu conheço.

Gabriel não ri, não brinca e ainda mata as pessoas por dinheiro. Não posso me iludir com o vislumbre de um homem que raramente aparece. Ele é um só, é o mesmo que me tirou da minha família.

Aproveito para pegar um pijama.

Pego o pijama: é de seda preta, lisa, a parte de maio até no meio da coxa.

Me visto enquanto ele está no banheiro. Aproveito para arrumar a cama e, é claro, fazer uma barricada para não acabarmos nos tocando no meio da noite e perdermos o controle de nossos corpos.

— Oh, meu Deus, Samuel, quer me matar? — Ouço o seu protesto.

Olho pra ele sem entender, mas logo me toco. Estou de quatro na cama, arrumando os travesseiros, com o mini short.

Droga! Juro que nem ouvi a porta se abrir, nem me toquei sobre como ele reagiria perante a minha roupa. Na verdade, queria estar dormindo quando ele saísse.

— Foi o mais decente que consegui. Você não trouxe a mala com o meu pijama.

Me endireito, ficando em pé ao lado da cama.

— Tenho que concordar a respeito dos pedaços de pano que já vi na vida. Realmente o que está usando é o mais decente de todos, mas não muda a situação de que você é o meu maior desejo neste momento.

Devia correr e me trocar agora mesmo, entretanto estou petrificado no lugar. A temperatura do quarto sobe para uns cem graus ou mais, meu corpo me trai novamente, causando coisas que nunca tinha sentido antes do Gabriel. Tipo, poder.

Ele se mantém distante e, mesmo que meu corpo peça a aproximação, me nego a ceder.

— Por favor, pare de falar essas coisas. Eu... Eu não quero ouvir. — Minha voz diminui na última frase, chego a gaguejar. Que ridículo!

Ele abre aquele sorriso que derrete a minha alma. Sua expressão logo muda para confusão e divertimento.

— O que é isso? — Gabriel aponta para o meio da cama.

— Só para marcar o lado de cada um.

Ouço sua risada barulhenta.

— Não precisa disso, é infantil. Eu sei me controlar.

Ah, sim! Acha mesmo que vou acreditar nisso?

— Percebi hoje na piscina — falo sem pensar, como sempre.

— Eu não estava fora de controle, apenas deixei claro a minha posição com você, mas acho que não valeu muito aquilo que te falei, já que ousou colocar isso para dormir comigo na mesma cama. Estou achando que você está querendo me torturar, Samuel.

Um calafrio percorre pela minha espinha e se aglomera no meu ventre. Me recomponho rapidamente, não quero que perceba o que está me causando.

— A barreira vai nos proteger, não terá que se sentir torturado se eu não estiver tocando em você. — Dou de ombros, esperando que ele entenda.

— Como se isso valesse de alguma coisa caso eu realmente queira tocar

em você... Mas, se isso te deixa tranquilo, que seja.

— Obrigado.

Prefiro pensar que ele vai me respeitar, senão nem vou conseguir dormir.

Me sento na cama.

— Posso te fazer uma pergunta? — Ele senta do outro lado, me olhando.

— Acho que não tenho muita escolha. Sinto que vai fazer mesmo se eu disser que não.

Ele me encara por um tempo até eu desviar os olhos e apertar a barra do pijama de nervosismo, buscando outro foco.

— Tem razão, mas, se não quiser responder, vou respeitar a sua decisão.

É a minha vez de encará-lo. Talvez ele não saiba, mas pode ter um coração batendo dentro do peito.

— Então pergunte.

— Por que chorou quando estava falando com a minha sobrinha e depois vi você se segurar para não chorar de novo perto dela? — É uma coisa tão íntima para dizer a ele, não sei se quero entrar nesse assunto. — Como disse, não precisa responder se não quiser.

Quero conhecer mais desse Gabriel, gosto do que vejo. Quero que ele seja sempre assim.

— Não é que eu não queira responder, é apenas uma coisa delicada para mim. — Tento explicar.

— Tudo bem. — Ele abaixa a cabeça. Talvez esteja lutando contra a vontade de me obrigar a falar.

Abro um meio sorriso.

— O meu sonho é poder ser pai um dia, e sua sobrinha é uma fofura de tão linda e inteligente, então me emocionei com o fato de que não vou poder ter filhos — digo de uma vez para não perder a vontade de falar e voltar a chorar.

— E por que não pode ter filhos?

— Não é como se estivéssemos em um casamento por amor, e um filho é mais do que só amor, tem que ter cumplicidade. E isso envolve um casamento de verdade.

É a mais pura verdade, mesmo que dolorosa.

— Hum, entendi. — Ele fica um pouco surpreso e quieto por um bom tempo. Quando estou prestes a me deitar, ouço Gabriel dizer: — Desculpe se sou grosseiro às vezes ou se falo demais, porém é o meu jeito de ser.

Não está mais falando sobre filhos.

— Tudo bem, me acostumei com seu jeito autoritário e direto, só que às vezes é demais para mim ouvir coisas que nunca ouvi e sentir coisas que nunca senti. — Tento ser sincero da mesma forma que ele está sendo comigo.

— O que você sente?

Ele deita do outro lado da barreira, virado para mim.

— Não acho que ajudaria se dissesse, mas algo está mudando e eu estou com medo do novo, medo do que pode acontecer, medo de você. — Me deito de barriga para cima, olhando o teto.

Não quero olhar para ele.

— Medo de mim? — questiona.

— Sim, medo de que uma hora você vai querer algo que provavelmente eu não possa te dar. Você vai me forçar, e não sei o que fazer com isso. Está tudo uma loucura dentro da minha cabeça, estou confuso, com saudade dos meus pais.

Ele não é um cara ruim, está me escutando atentamente, o que raramente acontece, ainda mais porque sempre zomba de mim ou fala coisas obscenas.

— Samuel, eu posso ser um cara grosseiro e autoritário como diz, mas nunca forçaria você a nada e, mesmo que fale o contrário na hora do nervosismo, não faria nada para te machucar.

— Mas quando nos casarmos, eu terei que... E não sei se quero isso.

— Anjo, eu não sou de ferro, sou homem e uma hora vou precisar me aliviar e, se não quiser que eu saia com outros homens, terá que fazer a sua parte. Não quero que as pessoas falem de você, nem quero que seja motivo de chacota de ninguém. — Estou chocado por ele lembrar o que eu disse. — Desde que me falou aquelas coisas no corredor do clube, eu me segurei, não sai com homem nenhuma.

— Nem com o Vinícius? — Por que perguntei isso?

Ele ri.

— Nem com o Vinícius.

Será?

— Só me dê mais um tempo para me preparar e juro que vou me esforçar.

É bom nos entendermos. Quanto mais nos dermos bem, melhor será a nossa vida.

Talvez eu ainda possa ser feliz.

Sei que não deveria estar pensando assim, que deveria odiá-lo, mas essa

é minha vida agora. Quem sabe ele possa me amar e eu possa amá-lo? Bem provável que eu esteja sonhando e vivendo em um conto de fadas, daqueles típicos de histórias de princesas; mas, se a Bela se apaixonou pelo monstro sem coração, talvez um dia, eu também possa amar o meu monstro.

Essa pode ser a minha história.

**************

Bom gente, em relação ao outro conto De Outro Mundo, vi que ele não tava agradando tanto e resolvi não continuar com ele.

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Comentários

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De outro mundo estava sendo meu queridinho do momento 🤦🏾‍♂️💔

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Estou como o Roberto Marins,né pais Nando pelo monstro mas ao mesmo tempo ainda quero entender o que levou ele para esse lado sombrio...

Não há como concordar com o fato de ele ter tirado Samuel de casa a força e muito menos de proibí-lo de ver os pais, mas que esse lado "normal" dele está me ganhando, ah isso está...

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Ainda não consegui saber quem realmente é esse cara, bom ou mau, certo ou errado. Não concordo de ele ter tirado o rapaz da família, tenho que processar isso. Mas como já disse acho que estou me apaixonando pelo "monstro". Quanto ao outro conto, também gostaria que continuasse, pelo menos dê um final.

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Poxa eu gostava da outra história, não para não pow. Logo agora que estava ficando bom

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Perfeito como sempre. Fico ansioso aguardando notificação de capítulo novo.

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Eu adoro os seus contos eu estava adorando o outro conto mais vc tirou coloque de volta ou então ó a 🍌morre🔪

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Poxa, eu gostava da outra história também. Queria ver o amor tórrido e incendiário do Kaio com o Nico.

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