***CAPÍTULO DOZE***
Adormeci depois de horas ouvindo o respirar agitado de Gabriel.
Ele se mexia bastante e resmungava dormindo. Levei um tempo para me acostumar com ele ao meu lado.
Acordo com a coberta sendo arrancado de mim.
— Bom dia! — Ouço Isabel gritar, antes de pular em cima de nós.
— Oh, meu Deus! — Gemo com o peso dela.
— Maldição, Isabel!
Gabriel parece assustado também.
— Que merda! — Ela sai de cima de nós, rindo. — Vocês estão de roupa?
Como ela queria que estivéssemos? Se assim já é bastante constrangedor, imagina pelados? Eu nunca mais sairia daqui.
— O que quer? — Gabriel pergunta, irritado.
Me sento na cama. Será que aconteceu alguma coisa?
— Nada, só relembrar os velhos tempos.
Velhos tempos? Dou risada.
Ela é maluquinha.
— Vai pro inferno! — Gabriel grita com ela. — Saia já daqui.
— Nossa, que mal-educado, hein? Antes de sair, preciso saber de uma coisa: por que esse monte de travesseiros separando vocês dois?
Não tinha me dado conta disso. Gabriel e eu olhamos para os travesseiros, depois um para o outro.
— Droga, Isabel, vá embora. — Gabriel vira para o lado e coloca um travesseiro no rosto, desfazendo meu muro.
— Isso é coisa minha — digo. Não sei por quê, mas acho justo dar uma explicação. Sinto essa necessidade de ser verdadeira com ela.
— Vai me dizer que vocês nunca transaram? — Ela coloca as mãos na boca, surpresa, quando não respondo. O que eu iria dizer? Está bem óbvio que não. — Estão noivos, e nunca? Nenhuma vez?
— Isso é coisa minha também. Seu irmão é apenas um cavalheiro e sabe me respeitar.
Claro que não. Apesar de nunca ter me forçado a nada, isso não o torna cavalheiro.
— Calem a boca, vocês dois. — Sua voz sai abafada pelo travesseiro.
— O meu irmão pode ser tudo, Samuel, menos um cavalheiro.
— Já conseguiu o que queria, Isabel? Agora suma! — Gabriel joga o travesseiro que estava cobrindo o rosto na irmã. — O dia que eu for transar, chamo você.
Meu rosto esquenta com as palavras dele.
— Eca, não quero ver, mas acabo de descobrir um lado seu, irmãozinho. Sabe muito bem o que isso significa, não sabe? — Ela dança no meio do quarto.
Acabo sorrindo.
— Sei, Isabel, mas você nunca ganha, então melhor nem tentar. — Ele senta. — Que horas são?
— Seis horas.
— Seis horas? — falamos em uníssono.
— Eu acordo cedo, qual é o problema? — questiona, dando de ombro.
— Se você acorda cedo, então o problema é só seu. Suma daqui e deixe a gente dormir. Volte daqui a três horas, ou melhor, não volte hora nenhuma.
— Gabriel continua brigando com ela.
— Nossa, como vocês são grosseiros! — resmunga.
— Mas eu não disse nada. — Me defendo.
— Sim, por isso amo você. Mais tarde vamos conversar sobre essa coleira que colocou no meu irmão. Deve ser uma mandinga bem forte.
— Cai fora! — Outro travesseiro voa pelo quarto, diretamente nela, fazendo Isabel correr para fora e fechar a porta. Ela está rindo que nem uma doida.
Outra parte do meu muro se foi.
Fico olhando para a porta fechada, sem acreditar no que acabou de acontecer.
— O que foi isso? — Olho para ele.
— Essa é a Isabel, sendo ela mesma. — Ele se deita. — Ela sempre faz isso quando durmo aqui, só achei que com você ela teria um pouquinho de pudor.
— Vejo que não.
— Com certeza não. Eu avisei que esse negócio de travesseiro não era necessário, agora você se vire com ela e dê um jeito de explicar por que não transamos e mesmo assim somos noivos — resmunga bravo. — A culpa é toda sua. Nesse instante ela deve estar pensando que sou a porra de um homem frouxo.
Fico acordado por um tempo, depois deito no travesseiro, pensando em dar um jeito nesse problema depois.
Por ora, preciso voltar a dormir.
********
Acordo me sentindo quente — está muito calor. Movimento o corpo e percebo que tem um braço em cima de mim, e ele me aperta, forte.
Arregalo os olhos. Isso não está certo.
— Mas o quê? — pergunto, estando bem desperto. Sinto toda a extensão do corpo do Gabriel nas minhas costas, até sua ereção pulsante.
Ele cheira meu cabelo, me aperta um pouco mais, se esfregando em mim.
Oh, Santa Mãe dos gays em apuros...
E se ele desistiu e agora vai me forçar a transar com ele só para mostrar para irmã que não é frouxo?
Senhor, me salve!
Talvez o que aconteceu tenha ferido o ego dele ou só está simplesmente dormindo. Apego-me a essa possibilidade e, se for a primeira opção, preciso acordá-lo, preciso saber o que está acontecendo.
— Gabriel? — chamo.
Ele para de se mexer.
— Hum — resmunga.
— O que está fazendo?
— Eu... — Ele me solta, se afastando. — Merda! Me desculpe, eu... Eu estava sonhando e... — Me olha nos olhos por alguns segundos. — Só me desculpe por isso.
Esse cara nunca fica feio? Nem na hora que acorda.
— Estava sonhando com o quê?
Não deve ter sido um sonho decente. E, pela cara que faz, não vou gostar da resposta.
— Com carneirinhos que não é.
— Deixe pra lá.
— Olha, é difícil para mim, sei lá, eu nunca dormi com uma pessoa sem transar, exceto minha mãe e minha irmã. E você não é nenhuma delas. Meu corpo sabe disso, e não vou dizer que nunca mais vai acontecer, porque não comando o meu corpo enquanto estou dormindo.
— Por isso a barricada. — Aponto para os travesseiros ainda jogados no chão.
— Aquilo não funciona pelo jeito.
— Funcionaria se não tivesse jogado os travesseiros na sua irmã.
Ele faz uma careta.
— Ela me irrita.
— Percebi.
Um silêncio ensurdecedor entre nós começa a me incomodar, por isso levanto sob seu olhar atento e me direciono ao banheiro — ultimamente estou preferindo banhos gelados.
Quando saio, ele não está no quarto. Minutos depois, volta com os cabelos molhados, vestindo um terno cinza.
— Vai sair?
— Tenho negócios a resolver no clube, não vou demorar — responde seco.
Pelo visto também ergueu as barreiras e voltou a vestir sua fachada de fodão sem coração.
— Hum.
— Precisa de algo? Ainda tenho tempo.
— Não.
Fico um pouco sem graça diante do poder que exala.
Seu olhar é tão intenso que ele parece examinar cada detalhe do meu corpo, as minhas expressões e o meu respirar alterado. Não duvido nada que possa ouvir meu coração retumbando descompassado dentro do peito.
— Vou indo então. Até mais tarde.
Com isso ele vira as costas e sai. Solto o ar pesadamente.
*******************
Ontem foi tão corrido que não consegui escrever uma carta para os meus pais, pensei que escreveria hoje. Bom, o plano era escrever agora, porém, Isabel me chamou para passarmos um tempo juntos.
Neste momento estou à beira da piscina, na companhia dela, tomando sol, de óculos escuros no rosto e um copo de refresco ao lado, curtindo o prazer de sentir uma vida sem ter nenhum problema ou dívidas para pagar.
Queria curtir bem mais do que posso, no entanto, só consigo pensar em Gabriel, que saiu cedo e ainda não voltou.
— Você parece preocupado — afirma Isabel, se virando para pegar sol na parte da frente. Faço o mesmo.
— Gabriel disse que não ia demorar quando saiu.
Não estou preocupado, só quero saber onde ele está, ou até mesmo saber se continua se envolvendo com outro homem. Será que me disse a verdade ontem à noite quando falou que não estava ficando com ninguém?
Como você é idiota e ingênuo, Samuel!
Meu subconsciente sempre estraga o meu dia.
— Quando fica fora por muito tempo é por que precisa resolver um montão de problemas. Ainda mais que não fica no clube daqui. — Ela tenta justificar. Aliás, ele é irmão dela.
— Imagino, pois em Rio Preto geralmente ele fica fora apenas durante a noite, e de dia, fica socado no escritório.
— Vocês estão morando juntos? — Isabel pergunta.
Não sei o que responder exatamente.
— Não, mas passo mais tempo com ele depois que começamos a namorar. — Me sinto mal por mentir.
— E como ainda não transaram? Como conseguiu fazer isso? Nenhum homem aguenta tanto tempo.
Queria dizer que sim, que Lucas me esperou. Lucas! Como ele deve estar?
— Quando conheci seu irmão, eu estava saindo de um relacionamento de dois anos. — Não consigo mentir. Já que não posso dizer a verdade, irei dizer meias verdades. — E ele respeitou a minha decisão de me casar virgem, inclusive estávamos noivos.
— Espere aí, você é virgem? — indaga, com a voz exaltada, surpresa.
— Fale baixo.
— Desculpe, mas é difícil de acreditar que em pleno século 21 ainda existam pessoas virgens na sua idade.
— Não sei se existem muitas, mas acho que não sou o único. Seu irmão me respeita e está esperando eu me sentir seguro.
O que mais diria?
“Não, Isabel, eu fui comprado e estou morrendo de medo de ele tomar a decisão antes da hora, mas ao mesmo tempo ansioso e curioso para saber como é estar nos braços dele?”
Não, eu não poderia dizer isso, nem pensar, na verdade.
— Esse não é meu irmão, ele é viciado em sexo, você nem tem noção. Gabriel não se importa!
Ela faz uma pausa, depois continua:
“Quando ele era mais novo, começou a sair com um amigo meu; ele era louco pelo meu irmão. Mesmo eu alertando para ficar longe, ele se entregou, perdeu a virgindade. Inclusive, achou que por conta disso Gabriel ficaria com ele, mas não, ele o usou e depois, como um bom canalha, trocou por outro. Ele sofreu por dias seguidos e até hoje não fala comigo, como se a culpa fosse minha. E não foi só com ele, Gabriel faz o que quer e depois joga fora. A única coisa que importa é o sexo. Por isso achei estranho você estar noivo dele, estranhíssimo, ele nunca foi de ter compromissos com ninguém. Minha mãe sempre o cobrou, queria que tivesse responsabilidade, que aprendesse a dar valor a uma pessoa, mas isso nunca aconteceu. Ele nunca trouxe alguém com quem realmente se importasse para essa casa, a não ser você, ou seja, você é o primeiro. O pior de tudo isso que estou contando é que não existe sexo entre vocês! Está me entendendo? Fiquei bastante confusa, até acharia que é apenas uma farsa do meu irmão se não tivesse visto como olham um para o outro, como estavam se agarrando na piscina. Existe desejo entre vocês, e posso ver que estão apaixonados”.
De onde ela tirou isso? Não estamos apaixonados e ela está certa em pensar sobre a farsa.
— Ele não quer me forçar a nada, quer que eu esteja pronto.
Pelo menos é o que ele disse.
— Como não está pronto? Você já olhou para ele? Pode ser meu irmão, mas ele é intenso e um pedaço de mau caminho.
Estou sem resposta.
Tudo que ela falou é verdade, eu me sinto atraído por ele, não tem mais como negar, porém não seria louco de iniciar nada, nem sei o que fazer.
Posso entender o que sinto, mas dar um passo grande como esse, com um cara como Gabriel, um cara que me comprou, um cara que deveria odiar, e não me derreter por ele, não. Acho que nunca conseguiria de verdade ficar com ele sem me culpar.
Então por que sinto tudo isso? Por que ele me atrai dessa forma?
— Está difícil resistir às suas investidas, como o que aconteceu ontem na piscina — digo, envergonhado.
Me sinto quente só de lembrar, meu rosto queima de vergonha por estar admitindo isso em voz alta.
Ela ri.
— Acho que seu voto de castidade está matando vocês dois. Fiquei observando quando saiu da piscina ontem, como ele te olhava. Achei que fosse atrás de você que nem um homem das cavernas, e te arrastar para o quarto.
— Tenho medo, não sei como fazer isso. — Divago em pensamentos, não estava pretendendo dizer em voz alta.
— Imagino. Nossa! Virgem? Eu nem sei como foi a minha primeira vez, estava bêbada e no outro dia acordei apenas dolorida. Nove meses depois minha filha nasceu. Já disse que o pai dela é um traste, certo?
— Nossa, isso parece horrível.
— Foi na festa de fim de ano, tinha acabado de me formar. Eu o amava, e fiquei apaixonada por quase três anos sem que ele me desse bola. Quando aceitou sair comigo, faltavam três meses para a formatura do terceiro ano. Ele foi doce e carinhoso, me levava para passear e me beijava no escurinho, deixando tudo muito sexy, me preparando para ele. Era tão intenso como meu irmão: falava coisas doces e me iludia com promessas futuras até eu aceitar realmente dormir com ele. Não digo que foi a pior noite da minha vida, porque trouxe a minha filha ao mundo, mas também não foi a melhor. Não me lembro de nada, nem sei como me senti. Só lembro como foi traumático quando ele me deixou depois de saber da gravidez. Ele era só um garoto, pronto para começar um novo rumo, iniciar uma faculdade, começar a vida, e eu simplesmente cheguei com a notícia de que ele seria pai. Talvez o tivesse assustado no início, não sei, mas depois eu me senti culpada por meses até descobrir que, na verdade, ele me traia com a minha melhor amiga. Ele me deixou por ela, nem ligou que eu estava grávida, sumiu, foi embora e não ouvi falar mais dele.
— Nossa, deve ter sido horrível saber de tudo isso e ainda lidar com uma gravidez na adolescência.
— Sim, e depois a morte do meu pai... — Uma lágrima escorre pelo seu rosto. — Tudo foi muito doloroso, até minha filha nascer e me consumir por completo. Ela é a única coisa boa que eu tenho, é minha alegria.
Um sorriso orgulhoso surge em seus lábios.
— E não pensou em conhecer outros homens?
— Depois disso sai com uns caras, mas nunca me comprometi. Tenho medo pela minha filha, não posso colocar qualquer um na vida dela.
Isabel sofreu muito e, mesmo assim vejo a felicidade em seus olhos.
Vejo o orgulho, amor e consideração que nutre pela filha. Talvez tenha sido isso que a fortaleceu.
— Nisso você tem razão, ela merece o melhor.
— Laura tem o meu irmão, ela o ama tanto. Gabriel é o que ela tem de mais próximo de um pai, e eu não quero tirar isso dela.
— Gabriel é realmente bom com ela.
Mais uma vez ele está na minha cabeça.
Não consigo relacionar o cara durão que conheço, com o cara que vi aqui, de olhos brilhantes, distribuindo amor e carinho a uma pequena criança.
Será que se ela soubesse da verdade acharia o mesmo que estou achando? Será que deixaria sua filha perto dele?
— Essa conversa está me deixando depressiva. O que acha de falarmos sobre hoje à noite? — Isabel se senta e me encara sorridente.
— Hoje à noite?
— Sim, o que vamos vestir para ir ao clube? — Parece eufórica. — Preciso arrasar, quero tirar o atraso.
— Atraso de quê?
Ela ergue a sobrancelha sugestivamente, e sinto meu rosto ruborizar de vergonha. Como ela pode dizer essas coisas assim tão facilmente?
— Você tem que ir para matar também, meu irmão já está subindo as paredes. Acho que provocar será um bom castigo, ele merece, mas precisa repensar sobre esse negócio de esperar pelo casamento. Até entendo agora por que o garoto está desesperado para casar com você, deve estar sofrendo as minguas, calejando as mãos. — Ela faz um gesto de sobe e desce com a mão.
— Meu Deus, Isabel!
Não tem como ficar perto dela sem ficar vermelho que nem um pimentão.
— O quê? Estou falando a verdade. Se não tem sexo, tem masturbação.
Acredito que, para ele que é acostumado com sexo, deve ser bastante sofrido.
O que vou dizer? Mais uma vez me sinto perdido.
— O que posso fazer? — indago a única coisa que me vem à mente, não é como se realmente eu fosse seguir em frente.
— Dá pra ele!
Todo o sangue some do meu corpo. Qual é o problema com a Isabel?
— Calma, menino, respire, assim você vai ter um infarto. É só uma sugestão. — Ela ri.
Não vejo piada nisso, eu não vou... Fazer o que ela falou, mas estou curioso para saber como isso funciona.
— Eu nunca fiz isso, como é? — pergunto, baixinho, para que meu subconsciente não me crucifique por fazer uma pergunta dessa.
Ela me contou coisas absurdas e o que eu poderia fazer para seduzi-lo, fazê-lo me mostrar tudo o que preciso saber.
Meu Deus, lá se foi a minha inocência!
Não pode estar seriamente pensando sobre isso, Samuel. Meu subconsciente me repreende. Claro que não.
Mas você será dele de qualquer forma! Não sei de onde surgiu esse pensamento, mas acho que é aquilo que as pessoas dizem: de um lado fica um anjinho te dizendo as coisas certas, e do outro o demoniozinho te levando por outro caminho.
Estou confuso.
Gabriel exerce um grande poder sexual sobre mim, e eu temo não conseguir resistir por muito tempo, mas isso não quer dizer que entregarei meu coração a ele. Não posso.
Quem eu estou querendo enganar?
Não estou acostumado com o estilo do Gabriel, nem com nada do que ele possa me oferecer, sou novo nisso e facilmente poderia me apaixonar.
Pelo menos vai ser com o seu consentimento. Mais uma vez o meu lado obscuro e perverso fala mais alto.
Quero que seja com amor e calmaria. Sei que se souber como levar Gabriel a fazer isso, ele terá paciência comigo.
Você é um idiota, Samuel. Ele ameaçou seu pai. Isso é fato, mas o que isso pode ajudar? Se eu sou dele para fazer o que quiser, não tenho como fugir.
Estou discutindo com a minha própria cabeça.
Que loucura!
“Perdido” é um adjetivo que não chega nem perto de como estou me sentindo agora.
— Samuel, ainda está aí? Falei demais? Foi muito para você? Olha, desculpe, mas...
— Tudo bem. — Eu a interrompo, qualquer outra palavra faria meu cérebro derreter de tanta informação. — O que acha de irmos ver a roupa, você pode me ajudar?
— Claro que sim.
Subimos para ver as roupas. As malas que Gabriel levou para o quarto não têm roupas para noite, e as outras malas estão no carro dele.
— Meu irmão é uma anta, como não pensou que você precisaria de uma roupa? Venha, Gabriel deve ter alguma coisa.
Lembro que a roupa que costurei está na mala de roupas íntimas.
— Espere, acho que posso dar um jeito nessa roupa.
Tiro a roupa da mala, e Isabel se encanta com o que vê.
— Uau, É maravilhoso! — Seu sorriso logo some. — Mas não acho que serviria para essa noite, é muito formal.
— Espere e verá, será perfeito.
Isabel me observa trabalhando.
— Uau! Garoto, você tem talento, ficou lindo, isso sim é para matar. Coitadinho do meu irmão — Isabel diz com cara de que deseja uma vingança por alguma coisa e eu sou a arma perfeita.
— Acha mesmo que isso é uma boa ideia? — indago, como se fosse para mim mesma, tentando me convencer de que não estou fazendo besteira. — E se eu não conseguir?
— Com um pouco de bebida será capaz de qualquer coisa. Mas não beba muito, duvido que meu irmão fará alguma coisa com alguém inconsciente. Ele pode ser viciado em sexo, mas não é um traste como o pai da minha filha.
Fico pensando nesse assunto e acho melhor não pensar mais.
Gabriel é um homem poderoso, sem coração, sem piedade, pelo menos é isso que mostra perante as pessoas, a não ser para sua família.
Por que ele é assim? Será que quero descobrir quem ele é? O que tem por baixo daquela máscara de todo-poderoso? Vejo vislumbres de um bom homem, mas e se tudo for mentira? E se aquele homem sorridente for uma máscara e o cara cruel for o que tem por baixo de tudo?
Por que é gentil comigo?
Poderia ter me obrigado a dormir com ele, mas preferiu esperar até que eu estivesse à vontade. Ele disse que nunca me forçaria a nada, mas até quando pode aguentar? Posso confiar nele? E ainda tem a parte dele sair com outros homens. Eu disse que não queria isso e ele aceitou, mas pediu que me entregasse em troca.
Será que quero mesmo isso?
Sim, o demoniozinho responde. Ou talvez eu tenha criado um subconsciente perverso, de dois lados.
**********
Depois do jantar, Gabriel aparece, toma banho e sai de novo. Ele falou que nos encontraria lá, pois tinha alguns detalhes para resolver no clube.
Isabel ajudou a me aprontar. Mais uma vez estou deslumbrante, com uma roupa consideravelmente sensual e um tênis. Antes me envergonharia de colocar uma roupa assim, agora me sinto bem. Em meu reflexo não vejo mais aquele garotinho inocente e cheio de desejos para o futuro de um casamento feliz. O que vejo é um homem pronto para seduzir, um homem adulto, certo do que pode fazer.
Me sinto poderoso, me sinto no alto, me sinto no comando.
Que bosta é essa, Samuel? Afasto os pensamentos pecaminosos que estou tendo agora. Um deles é que estou envolvido, nu, nos braços de Gabriel.
— Menino, acho que não é só meu irmão que vai cair aos seus pés, é o clube todo. Você está gostoso!
Rio de sua forma de falar.
— Você também está indo para arrasar os corações, esse vestido ficou... Sem palavras.
Ela colocou um vestido curto, verde-musgo, todo brilhoso, colado ao corpo e um salto bem alto. Prendeu o cabelo todo em um rabo de cavalo.
— Você não acha estranho o meu cabelo ficar solto?
Ainda mais com todo esse cabelo para dançar, presumo que estarei todo suado antes mesmo de chegar ao clube.
— Claro que não, os homens adoram cabelos longos. Eles sempre têm onde pegar em uma posição bem sugerida.
Nunca corei tanto em minha vida. Não sei como as pessoas conseguem fazer isso. Sexo me parece ser uma coisa tão brutal, estranha e íntima demais para ser dita dessa forma.
Sinto um frio na barriga.