A confiança é algo que ganhamos com o tempo. Veja o exemplo de Ian D'ávila, que aproveitou o excesso de confiança do seu chefe e tentou lhe aplicar um golpe. Por causa disso, ele estava em busca de redenção e topou ajudar os colegas de trabalho.
Ian acordou na casa de André, após ficar de babá de Arnoldo. Ao chegar, André se surpreendeu com o crush que estava preparando o café da manhã. Pela primeira vez, Ian não estava usando roupas de trabalho, mas vestia as roupas de André.
— Tá bom. — disse André em tom de deboche. — Cadê o Ian, o que fizeram com ele?
— Seu babaca. — desdenhou Ian, que fazia ovos fritos. — E que história é essa de invadir o escritório do avô do venezuelano?
— Bem, a gente precisa do endereço do Noslen. O avô dele guarda no escritório. — explicou André sentando à mesa e deixando a mochila de lado.
— O Enzo vai atrás do venezuelano? Que loucura. — comentou Ian. — Enfim, estou em dívida com ele. — colocando um prato com ovos fritos na mesa.
— Tá mesmo. — retrucou André, que sentiu o seu coração ficar mais quente.
— Cala a boca e come. Ah, o teu irmão foi para a escola. Dei dinheiro para ele pegar um táxi. — contou Ian.
— Ele estuda aqui do lado...
— Garoto esperto. Garoto esperto. — repetiu Ian dando uma risada que iluminou o coração de André.
Ilhado em Roraima, Noslen passou quatro horas tentando conseguir uma carona. Ele desistiu quando a fome bateu. Ainda chateado por não haver ônibus para a Venezuela, Noslen seguiu para um restaurante ao lado da rodoviária.
Com fome e frustração, o jovem comeu quase um quilo de comida. Ele quase passou mal, mas não desistiu do prato. No auge de sua raiva, o venezuelano escutou uma conversa em uma mesa paralela. Um dos caminhoneiros seguia viagem para a Venezuela e estava reclamando com seus colegas.
Faltava pouco para o grupo chegar em Boa Vista, em Roraima. Celine assumia a direção e como regra colocou Enzo do seu lado como copiloto. Enquanto isso, Erick aproveitava para descansar, quer dizer, com a namorado e o irmão cantando "Evidências" se tornou algo impossível.
"E nessa loucura de dizer que não te quero
Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar meu coração
Eu sei que te amo"
A música estremeceu o sistema de som do automóvel. E o lipsync dos dois fazia os ouvidos de Erick arder. Porém, ele nunca se sentiu mais feliz na vida. Afinal, os seus dois grandes amores estavam se dando bem e não precisavam de nada para manter uma conversa.
— Fiz a escolha certa. — pensou Erick, antes de pegar no sono.
Em Manaus, um grupo de pessoas chegou ao prédio do escritório de advocacia Yilmaz. Era a trupe de Enzo: Ian, André e Kleber. Os três precisam bolar um plano para 'invadir' o escritório do avô de Noslen e, assim, conseguir o bendito endereço da casa do venezuelano.
O trio ficou sentado na sala de espera, pois Yilmaz estava em uma importante reunião com empresários argentinos. A secretaria ofereceu água e eles aceitaram.
— André, você tem certeza que o endereço está no escritório desse velho? — quis saber Ian, quase cochichando.
— Sim.
— O Noslen contou para o Enzo, que o avô possui vários documentos e fotos da casa. Só precisamos encontrá-los. — explicou Kleber, que usava um bigode falso e uma boina.
— Claro. Uma informação nada vaga. — reclamou Ian, cruzando as pernas e tomando a água.
— Uê, você não é o rei do crime? — questionou Kleber fazendo Ian jogar um pouco da água para fora. — Use toda a sua expertise.
— Kleber. — interveio André.
— Eu só disse a verdade.
— Garoto de programa. — Ian soltou.
— Trambiqueiro. — Kleber disse de volta.
— Ei, — André gritou, mas logo baixou o tom de voz. — vocês dois. Estamos aqui para ajudar o Enzo. Parem de brigar. Meu Deus. Parecem duas crianças.
— Ele que começou. — se defendeu Ian, antes de terminar de tomar a sua água.
— Ele que começou. — Kleber imitou Ian e cruzou os braços.
— Eu tô perdido. — lamentou André, quase desistindo do plano.
A viagem até Roraima chegou ao fim. A primeira parada foi na rodoviária. Depois de se informar, Enzo descobriu que as viagens para a Venezuela estavam suspensas. Então, eles fizeram uma busca por Noslen nas áreas próximas.
Policial experiente, Erick avistou o cunhado entrando em um caminhão. Ele correu o máximo que pode, mas não chegou a tempo. Desesperado, Erick voltou para o carro e encontrou o grupo. Depois de informar tudo o que viu, o trio entrou no carro e seguiu para a estrada.
Enquanto isso, Noslen olhava para a paisagem de Roraima. Altas montanhas e árvores de todas as espécies mostram a imponência do lugar. Horas antes, ele conheceu o Seu Élder, um caminhoneiro, que inicialmente parecia boa praça, mas não demorou para colocar as garras para fora.
Primeiro, foram os olhares. Em seguida, o homem passou a alisar a perna de Noslen, que tentou se desvencilhar, mas não conseguiu devido ao cinco de segurança. O venezuelano tentava disfarçar o desconforto buscando algum tipo de conversa.
— Se você quiser posso ajudar com a gasolina...
— Deixa disso, mocinho. Você tem uma boca bonita, sabia? — o homem perguntou para Noslen, que ficou desesperado.
— Olha, cara. Eu tenho alguém e...
— Eu não tenho ciúmes. — alisando a perna esquerda de Noslen. — Você não precisa pagar nada. Uma mamadinha e estamos conversando. A boleia é confortável. Podemos dormir abraçadinhos.
— Isso definitivamente não vai acontecer. — afirmou Noslen. — Eu, eu quero descer.
— Não, docinho. Você é meu. — parando o caminhão no acostamento e partindo para cima de Noslen. — Esses turrões são os melhores.
— Me solta, porra. — esbravejou Noslen, que conseguiu tirar o cinto de segurança, agarrou sua mochila e abriu a porta. — Por favor, me ajuda. — Noslen não queria chorar, mas nunca se imaginou vivendo essa situação.
— Qual é, seu venezuelano de merda. Sabe quantos iguais a você eu fodi? Não vai fazer cú doce não. — segurando Noslen. O namorado de Enzo usa o pé esquerdo para chutar o caminhoneiro.
Ao atacar o homem, Noslen desequilibrou e caiu para o lado de fora. Ele levantou, ainda desnorteado, e começou a correr na direção contrária, porém, não havia lugar para se esconder. O caminhoneiro deu partida no carro e seguiu o seu caminho. Deixando para trás, um Noslen ofegante e traumatizado.
O silêncio no carro era quase palpável. A cada caminhão que passava na estrada, Enzo pirava e queria pará-lo. Graças aos céus, que Erick e Celine deram um pouco de juízo ao jovem empresário, afinal, descer de um carro em movimento não é algo prudente.
O silêncio cortante do carro começou a incomodar. Tirando isso, a perna do Enzo batendo contra o assoalho do carro. Desesperada, Celine ligou o sistema de som, que estava logado na conta de Enzo.
"Como foi que eu te encontrei?
Algo nos une, algo nos une
É disso que se trata no final?
Eu nunca soube, nunca soube"
As primeiras frases da música "Flotando", da Francisca Valenzuela, começaram a tocar. Celina e Erick não sabiam, mas aquela canção representava muito para Noslen e Enzo. No fundo do seu coração, o empresário desejou encontrar o seu namorado. Ele sentia que havia algo errado.
De repente, de longe, Enzo viu uma silhueta na estrada. Ele reconheceu a camiseta vermelha de Noslen. Mais uma vez, o coração palpitou forte e as mãos ficaram geladas. Nos seus olhos, as lágrimas se formaram.
— Para, para esse carro. — pediu Noslen, quase chorando e saindo do carro.
— Espera, seu maluco! — exclamou Erick, forçando bruscamente e olhando para o irmão, incrédulo.
Coração apertado.
Olhos molhados.
Pernas bambas.
— No, Nos, Noslen! — Enzo gritou, enquanto corria em direção ao amado.
— Enzo? — se questionou Noslen virando para trás. — Enzo! — correndo ao encontro do namorado.
Os dois se aproximam de uma maneira visceral. Enzo abraça Noslen e o beija no rosto. Do carro, Erick e Celine apreciam a felicidade deles. A cunhada de Enzo aproveita o momento para aumentar o som e a música explode pela floresta adentro.
"E pelos meus olhos, eu vejo
Embora estejam fechados
E sem nos dizer nada
Você me pega em seus braços
Me faça descansar, me dê um abraço
E então, finalmente, finalmente estarei flutuando
Flutuando, flutuando"
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Noslen, emocionado e tocando o rosto do namorado.
— Você não está sozinho, Noslen Fuerte. Somos, você e eu. Até o fim. — encostando a sua testa na de Noslen.
— Ei,! — gritou Erick da janela do carro. — casal apaixonado. Temos alguns milhares de quilômetros para percorrer!
— Deixa eles. — interveio Celina, puxando o namorado.
— Realmente, não estou só. — olhando para o carro e sorrindo. — Eu te amo. — beijando Enzo.
Sabe quem não estava nada bem? Ian, André e Kleber. Aparentemente, o bigode falso de Kleber levantou suspeita e eles foram convidados a se retirarem do prédio. Na calçada, o trio discutia para saber de quem era a culpa, afinal, pela primeira vez, Ian ficou nervoso e não conseguiu fazer a atuação da sua vida.
Por sorte, André recebeu uma mensagem de Enzo. Havia também, uma foto de Noslen.
— Sério que eu paguei o mico da minha vida por nada? — quis saber Ian, sentado em uma sarjeta.
— Bem, pelo bem ou pelo mal, o Enzo encontrou o namorado. — afirmou Kleber, tirando a barba falsa e soltando um grito abafado. Algo que fez Ian rir.
— Sério, que você acreditou neste plano horrível? Essa barba é mais falsa que a chapinha da Diana. — argumentou Ian, pegando o bigode e jogando longe.
— Quer saber, Ian. Você está subindo no meu conceito. Só que vou ficar de olho em ti. Ainda mais que tú saiu do mesmo covil que o Sérgio. — disse Kleber, levantando e limpando as mãos na calça jeans. — Bem, meus queridos. O meu namorado está me esperando. A gente se encontra amanhã?
— Pode deixar. — André abraçou o amigo, que subiu na moto e seguiu o seu caminho. — E nós?
— O que tem nós?
— Bem. Você topa dormir na minha casa hoje? — André perguntou, já esperando uma negativa do crush.
— Bem, já estou na sarjeta, não é? — levantando e oferecendo a mão para André, que pegou sem pensar duas vezes. — A gente só precisa conversar sobre a decoração do seu quarto...
— Meu quarto? — André se fingiu ofendido. — Cara, você está namorando um nerd. Não tem volta.
— Namorando, é? — Ian ficou vermelho e André apertou a sua mão. — Ok, mas aquela máscara horrível vai sair.
— Ei, é uma Majora Mask, ok. É raríssima.
— Aquele negócio com os olhos esbugalhados? Acordei duas vezes pensando que era você. Não, não. Aquilo vai dormir no quarto do teu irmão. — avisou Ian, andando de mãos dadas com André. Ele adorou aquela sensação, mas nunca admitiria em voz alta.