Ma Petite Princesse - 3° Temporada - I

Um conto erótico de Ana_Escritora
Categoria: Heterossexual
Contém 17253 palavras
Data: 08/11/2022 10:00:41
Última revisão: 20/08/2024 18:39:33

Sinopse:

Retornando de férias, nossa protagonista não esperava ser surpreendida pelos seus amigos de uma forma tão especial ao chegar em casa.

O último final de semana antes de começar o ano letivo é repleto de alegrias e novidades mas também de preocupação por parte de Eric que acha errado o fato de Nívea não estar focada em seu futuro. Mais uma crise à vista?

***

O início deste ano foi e será o mais inesquecível de toda a minha vida.

Não é todo dia em que somos surpreendidos com uma prova de amor cuja pessoa tem a coragem de atravessar o oceano apenas para impedi-la de ficar longe dela.

Dar de cara com o Eric no quarto de hotel, em uma pequena cidade montanhosa no meio da neve, para que ele pudesse demonstrar de uma vez por todas o quanto me amava foi demais para o meu coração. Senti raiva no início, mas depois de passarmos uma linda noite juntos e ele precisar voltar para o Brasil, eu pensei muito pelos dias que se passaram e percebi que não havia mais motivos para lidar com inseguranças e medos.

Ficou apenas a saudade e a ansiedade onde eu contava os dias para reencontrá-lo quando voltasse de mais uma viagem de férias. Que aconteceu antes do que eu estava prevendo no instante em que eu pus os pés em casa.

- SURPRESAAAAAAA!!!!!!!

Com os olhos arregalados, precisei colocar as duas mãos na boca ou então o meu coração sairia por ela devido ao susto que levei naquele momento. Eram palmas, assobios, a música Parabéns Pra Você sendo cantada, balões de aniversário jogados para o alto... Todas as pessoas que eu considerava tão queridas nos últimos tempos estavam ali. Confetes eram jogados pela minha melhor amiga na minha direção e eu não conseguia fazer mais nada a não ser ficar em choque com o que eu presenciava. Meus olhos passeavam por cada um que estava na sala, repleta de balões, passando pela mesa do bolo até parar na porta da varanda e se cruzando com os dele. Eric sorriu de lado e piscou pra mim daquele jeito que sempre me deixava embaraçada.

''Pernas, parem de tremer por favor!''

Por sorte eu ainda mantinha as minhas mãos na boca, causada pela surpresa, e meu coração podia continuar batendo acelerado pela emoção em estar perto dele, após a loucura que foi aquela noite de inverno no mês que se passou. Além dos convidados, quando olhei na direção da cozinha, os funcionários do buffet também batiam palmas e sorriam para mim.

- Aeeee, Níveaaaaa - Patrick veio correndo e me levantou pro alto como se tivéssemos comemorando uma grande vitória em um jogo de futebol ou algo parecido. Logo depois de ser colocada de volta no chão, meus amigos vieram ao meu redor me abraçando e de novo fui erguida para o alto.

Uma emoção tão grande tomou conta de mim que acabei não conseguindo segurar as lágrimas.

- Amiga, não chora! - Gabriele me pediu - Esse é o seu momento!

- Ah gente... - eu limpava as lágrimas do rosto - É que eu nunca tive uma festa surpresa... - Senti o abraço da minha mãe por trás e um beijo seu no topo da minha cabeça.

- Ownnnn - todos começaram a debochar de forma carinhosa com o que eu havia revelado.

- A ideia foi do nosso amigo aqui! - O irmão gêmeo então apontou para o Frederik.

- Ah foi? - ele me observava do mesmo modo carinhoso de sempre. Carinho que eu sabia ser algo maior mas que infelizmente nunca iria corresponder, por mais que ele merecesse.

- Foi - ele sorriu pra mim - A ideia surgiu bem no meu aniversário.

- Ideia dele mas que todo mundo ajudou a preparar, não é gente? - Melissa rapidamente se apressou em explicar e todos concordaram.

- E eu não desconfiei de nada... Mesmo assim, muito obrigada de verdade.

Agradeci e cumprimentei cada um na festa com um abraço carinhoso, recebendo os desejos de coisas boas. Era o mínimo que eu poderia fazer.

- Vem ver a mesa do seu bolo! - a ruiva me puxou na direção da varanda e vi tudo montado com muito capricho. Era o meu bolo favorito de chocolate com morangos no centro da mesa e vários docinhos em volta.

A surpresa maior era o mural com fotos minhas em diferentes momentos da minha vida. No entanto, meu sorriso morreu quando vi aquele registro que eu desprezava com todas as minhas forças.

- Eu não acredito que vocês desenterraram essa minha foto horrorosa??? - disparei com os braços cruzados.

- Eu não te disse, Melissa, que ela iria odiar? - minha mãe comentou de imediato.

- Mas Ni, essa é a foto de milhões do mural todo!

- Eu sorrindo e com boca toda suja de chocolate?

- Foi a sua primeira Páscoa, minha vida - minha mãe justificou - Você tinha pouco mais de um ano...

- Você sabe o quanto eu detesto ela!

- Pois eu gostei... - ouvi o elogio vindo do dono da voz mais linda do mundo. Respirei fundo com os olhos fechados e me virei na direção dele, com a cara amarrada, que continuava parado na porta da varanda exibindo seu sorriso de puro sarcasmo.

- Viu só? Se o seu professor querido gostou, então ela é a foto mais linda do mural sim!

Eu iria enforcar a Melissa mais tarde.

- Obrigada por ter vindo também, professor - agradeci, sorrindo. A minha vontade era me jogar nos braços do Eric e eu tinha certeza que ele queria fazer o mesmo comigo. Era horrível toda essa encenação.

- Se eu fui nas festas dos seus amigos, não poderia faltar à sua.

Depois do nosso encontro nos Alpes e de ter reatado em definitivo a nossa relação, me lembrei do que ele havia me pedido.

''Você precisa saber e entender que o nosso amor é maior do que qualquer coisa que possa aparecer para te atingir. Qualquer coisa e qualquer pessoa. Eu sei, não vai ser fácil mas você precisa se esforçar pra isso. Me promete que vai fazer esse esforço?''

Eric foi atrás de mim porque me amava, estava com medo de me perder para sempre e eu não podia mais ter dúvida do que ele sentia. Lembrar dos seus beijos, da nossa transa, de uma noite cheia de amor era a prova de que não poderia mais ter nenhum obstáculo entre nós.

O sentimento era verdadeiro da parte dele e também da minha.

- Você veio sozinho? - questionei - A Luciana não quis vir? - e então ele me encarou como se estivesse me decifrando.

- Filha!

- Eles são amigos, mãe. Ela também poderia ter vindo.

- Bom... Eu não a convidei porque... É uma festa para os mais íntimos, então... Não achei adequado fazer isso.

''Não quero que você me veja como uma inimiga.''

Era o pedido dela no dia em que nos encontramos no banheiro da Universidade.

- Pode me emprestar o seu celular?

- Ni...

- Nívea, que feio!

- Tudo bem, Helena - Eric tirou o aparelho do bolso e desbloqueou a tela.

- Eu sei o que eu estou fazendo, mãe.

Um simples pedido mas sendo da minha parte e me conhecendo bem, era um tremendo momento de cara de pau.

Com a tela desbloqueada, fui direto na lista de contatos, digitei as primeiras letras do nome que apareceu e fiz a chamada. Depois de três toques ela atendeu.

- Diga meu amigo favorito, o que você manda?

- Olha, não é o seu amigo favorito e sim a melhor aluna dele! - coloquei a mão na boca pra conter a risada.

- Nívea? - finalmente ela respondeu depois do rápido silêncio do outro lado da linha.

- Ela mesma.

- Oi. Nossa, que surpresa. Tá tudo bem? O Schneider está aí com você?

- Está sim. Na minha festa de aniversário surpresa.

- Sim, eu fiquei sabendo, ele me contou.

- E só falta você aqui.

- Eu?

- Sim, está ocupada?

- Não, na verdade por uma coincidência eu acabei de sair do banho.

- Ótimo, então vem aqui pra casa. A festa está só começando.

- Ah... Ok... Não esperava esse convite.

- Vou ficar te esperando, tá bom? Não demora!

- Estarei aí daqui a pouco.

- Um beijo.

- Outro pra você.

Encerrei a ligação, devolvendo o celular para o Eric e ficamos nos encarando, sorrindo juntos.

Uma página da minha insegurança estava sendo virada.

- Viram só, não foi nada demais! Agora se me dão licença, vou levar as malas para o quarto e me arrumar com uma roupa decente.

- Eu te ajudo! - Melissa se prontificou e fomos até as duas malas que ficaram paradas na porta, arrastando na direção do quarto.

- Volto daqui a pouco, gente! - falei em bom tom para que todos ouvissem corredor adentro.

***

Estava de volta ao lugar favorito da minha casa, limpo e arrumado, com vários arranjos de flores colocados lado a lado perto da porta da varanda e os presentes espalhados pela minha cama. O meu quarto acabou ganhando uma nova decoração.

- Meu Deus, quantos presentes! - fiquei surpresa enquanto observava todos eles pela cama, deixando a mala no meio do chão e colocando a minha mochila na cadeira da mesa de estudos.

- Tô super curiosa pra ver todos eles, Ni! Só não vou te pedir pra abrir porque você precisa se arrumar e também tenho uma fofoca pra te contar! Na verdade, duas!

- Mesmo? - me virei para a Melissa - O que houve?

- Eu tô segurando isso desde o aniversário do Frederik - ela falava em tom baixo para que ninguém pudesse ouvir e foi até a porta trancando com a chave - Você não faz ideia do que aconteceu! - balançava as mãos, sorrindo feito boba e dando pulinhos.

- Fala, Meli! Tá me deixando nervosa!

- Tá bom, lá vai - ela respirou fundo e soltou - A Gabriele e o Evandro não estão mais juntos, AAAAAA - e tampou a boca em seguida para abafar o grito histérico.

- Tá falando sério??? - era realmente uma fofoca e tanto - Você tem certeza disso???

- Absoluta. Ela contou para mim e para outra menina no banheiro do salão de festas e na mesma hora sua mãe entrou, participando do babado!

- Caramba... - fiquei pensativa - Será que rolou briga?

- Pelo que ela contou pra gente, claro sem falar que era ele, foi tranquilo. E eu vendo eles aqui antes de você chegar, parece que está tudo de boas. Como o Frederik veio com os pais dele, o Evandro está de guarda-costas só dela e do Patrick.

- Entendi... Que coisa! - encarava ela com o ar pensativo.

- Aham...

- E qual era a outra fofoca?

- Então, essa é sobre o amor da sua vida que rolou também na festa.

- Que a Carina quase se jogou no colo dele e você e o Patrick interromperam?

- Ué, você já sabia? - ela cruzou os braços com a voz murcha.

- O Eric me contou logo depois, Meli. Esqueceu que nós voltamos?

- Saco - ela bufou com a cara amarrada - Ele te contou mas você, bonitinha, não contou nada sobre a sua primeira comemoração de aniversário, não é?

- Eu vou contar pra ele sim, mas não agora. Só quando estivermos a sós.

- Ainda bem que não vou estar perto. Certeza de que ele vai cuspir fogo.

- Não foi nada demais, só vou precisar esconder do meu pai.

- Entendi. Mas e os presentes? Vai abrir agora?

- Vou tomar um banho e me arrumar - falei enquanto olhava novamente todos eles - Tem uma festa rolando, não dá pra ser agora. - e parei o meu olhar em um presente em específico - E aquela caixa?

Ela estava no alto da cama, separada dos outros. Era uma caixa de presente toda cor de rosa e com o laço de fita na mesma cor em tamanho médio. Era tão bonita que chamou a minha atenção mais do que os outros.

- Presente dele! - Melissa me cutucou na cintura.

- Eric?

- E de quem mais poderia ser?

- Ah, então o dele eu vou abrir agora!

- Isso! - ela começou a bater palminhas.

Com cuidado, afastei os outros presentes e apoiada em um dos joelhos na beira da cama, peguei a caixa. Não estava tão pesada e isso despertou ainda mais a minha curiosidade. Quando abri a tampa, um bocado de papel manteiga cobria o que parecia ser bem frágil. No momento em que eu desembrulhei, demorei para acreditar no que estava vendo.

- Ah meu Deus... - eu sorria feito boba - Sou eu!

- Hã? Como assim, é você? Mostra logo!

Com as duas mãos, eu ergui o presente com o cuidado de uma mãe que pega um bebê no colo. Era uma boneca de porcelana mas não era qualquer boneca. Ela possuía todos os traços do meu rosto: branca, com as bochechas naturalmente rosadas, os lábios em um tom leve de vermelho e os olhos azuis redondos iguais aos meus com os cílios bem marcantes. Os cabelos eram pretos e amarrados em dois laços para baixo e em cada lado era um cacho bem grande como se fosse uma camponesa. O vestido era branco de babados no colo e com fitas pequenas.

- Meu Deus, Ni, que lindeza!!! É você todinha!

- É... - estava quase chorando de novo - Ele não esqueceu nenhum detalhe!

Eu estava encantada com aquele presente tão perfeito. Pra mim já era o mais perfeito de todos sem nem precisar abrir os outros. Olhava fascinada aquela boneca linda, que tinha o meu rosto, por segundos que pareciam eternos.

- Ela vai dormir comigo todas as noites! - a abracei apertado - Agora sim, um presente dele que vai ficar perto de mim!

- Tá bom - Melissa revirou os olhos - Agora vai lá e se arruma. Eu tô voltando pra festa e ver se já começaram a servir o buffet!

- Eu não vou demorar! - falei e ela saiu do quarto.

Olhei uma última vez aquela boneca linda e pus de volta na caixa, colocando onde estava na cama. Peguei uma das malas e deixei do lado da outra. Iria desfazer as duas e arrumar tudo na manhã do dia seguinte.

Corri direto para o banheiro, me despi das minhas roupas de viagem e entrei no chuveiro. Banho morno era tão bom! Mesmo dormindo no vôo e com a água batendo na minha pele, pude sentir o quanto o meu corpo estava cansado de uma viagem de longas horas. Foram os minutos de banho mais preciosos que eu poderia ter. Talvez por finalmente estar em casa, aquele momento tão normal da nossa rotina acabava sendo especial.

Depois que terminei e saí enrolada na toalha, lembrei de um dos vários vestidos que tinha comprado e ainda não havia usado. A caixa de presente ajudou na escolha.

Fui até o guarda-roupa e peguei um na cor rosa com alças finas e o decote em meia lua. Deixei a toalha de lado e o vesti de frente para o espelho. Ele marcava bem a cintura mas a saia era rodada, chegando no meio das coxas. Um scarpin rosa de salto baixo combinaria bem. Eu estava herdando da minha mãe o gosto por este modelo de sapato. Borrifei levemente o meu perfume de frutas vermelhas no pescoço e colo e penteei os cabelos ainda úmidos, montando um pequeno coque no alto, prendendo com dois finos cabos de madeira iguais às gueixas japonesas. O restante dele ficaria solto e eu ainda estava me acostumando aos poucos com a franja enquanto a penteava, ajeitando na minha testa.

Apenas um rímel e máscara de cílios nos olhos e enfim, pronta para estar junto de todos aqueles que me amavam.

***

Enquanto caminhava devagar pelo corredor, eu ouvia várias vozes na direção da sala. No meio do chão, perto do móvel com a TV, havia um tabuleiro de jogo montado mas que não tomou muito a minha atenção pois a dona da voz já conhecida e muito simpática havia acabado de chegar, estando perto da porta.

Eu fui muito estúpida em enxergar nela uma vilã de novela e de filme ou então a bruxa malvada dos contos de fadas. Luciana era naturalmente bonita de todos os jeitos e eu estava me sentindo tranquila diante dela. Das paranoias na minha cabeça não restavam nenhuma.

- Enfim, a aniversariante! - meu pai apontou na minha direção e todos se viraram.

Luciana sorriu mais ainda ao me ver e eu fui direto abraçá-la. Um abraço apertado e longo, que era nada mais do que um pedido de desculpas. Talvez ela tenha sentido o mesmo pois manteve o abraço junto comigo.

- Que bom que você veio.

- Eu que estou sem acreditar até agora com este convite! Espero que goste - e me entregou uma caixa de presentes de uma famosa marca de chocolates - Por sorte tem uma loja na esquina do meu prédio e comprei.

- Obrigada - olhava a caixa com detalhes na cor verde - E acho que não preciso apresentar os meus amigos - me virei para o Frederik e os irmãos.

- Nunca pensei que iria conhecer pessoalmente os filhos do casal mais famoso do jornalismo. Antes de você chegar, eu estava comentando com os seus pais e o Schneider que lembro deles pequenos, quando a Natália foi para a Copa do Mundo na África do Sul fazer a cobertura dos jogos.

- Ah, a gente não se lembra muito daquela época, tínhamos só cinco anos mas víamos a mamãe pela televisão. - Gabriele explicava - A nossa avó veio ajudar o papai a cuidar de nós dois.

- Entendo... E finalmente estou conhecendo também o representante de turma mais querido de todos - se virou para o Frederik - Realmente você é muito mais bonito pessoalmente. Vi apenas uma foto sua no ano passado.

- Ah, que nada - ele ficou levemente sem graça - Exagero.

- O Frederik é querido por todos, Luciana - minha mãe o abraçou e rapidamente eu e o Eric nos encaramos. Não consegui esconder um sorriso fechado e amarelo - É impossível não gostar deste rapaz.

- Eu posso imaginar!

- Vem - puxei ela e o Eric pela mão - A Meli e o Lipe devem estar na varanda.

Tirei os dois daquele momento constrangedor e segui com eles até a varanda. Melissa estava sentada e comendo a famosa torta de frango de sempre e Felipe atento ao seu celular.

- Os seus pais adoram mesmo o seu amigo.

- Não faz ideia o quanto - Eric respondeu de um jeito irônico.

- Eles sabem mas fingem que não, de que o Frederik e eu somos só amigos.

- Ele é muito bonito, de verdade. - ela comentou enquanto se sentava ao lado do Eric, de frente pra Melissa e o Felipe cumprimentando os dois.

- Ele é. Todas as meninas da turma e de lá onde ele mora são apaixonadas por ele.

Me sentei junto deles e a troca de olhares entre nós dois aconteceu imediatamente. Mesmo estando feliz por estar comemorando com todos, eu contava as horas, os minutos, os segundos para finalmente ficar a sós com o Eric. Seria após a festa?

Sem jeito, desviei o olhar para baixo e precisava disfarçar. Apenas não conseguia controlar as batidas do coração, o calor delicioso que surgia por entre as minhas pernas e pude sentir o meu pescoço esquentar.

Uma garçonete do buffet se aproximou e nos trouxe uma bandeja com vários salgadinhos de festa e alguns copos com bebidas. Peguei um copo, bebendo o refrigerante em poucos goles e cruzando as pernas na tentativa de acalmar a ansiedade que crescia no meu estômago.

- Nívea... - olhei para trás quando ouvi o meu nome e vi o Patrick e o Frederik se aproximarem - A gente trouxe um jogo para passar o tempo. Tá afim de jogar?

- Jogo?

- É a versão super do Banco Imobiliário, conhece? - Frederik me perguntou.

- Ah, meu Deus - cobri a boca com uma das mãos, não acreditando que era o meu jogo de tabuleiro favorito desde quase sempre - Estão falando sério?

- É, pô! O jogo tá montado e pronto lá na sala.

- Vocês se importam se eu jogar só uma partida? - me virei para o Eric e a Luciana.

- A festa é sua, minha querida. Fique à vontade e aproveite! Não se incomode comigo.

- Uhuuull - me levantei eufórica.

- Vem também, Melissa - Patrick a convidou.

- Eu vou mas fico só assistindo vocês jogarem - Ela deixou o pequeno prato vazio de lado e se levantou - Não tenho muita paciência para jogos de tabuleiro, não...

- Então vamos! - E seguimos os quatro de volta para o meio da sala de estar, onde a Gabriele já estava sentada no chão com o jogo todo montado.

- Vai jogar com eles, meu anjo? - minha mãe cruzou com a gente, indo em direção à varanda.

- Só uma partida!

- Vai lá e arrasa como sempre - e piscou pra mim.

- Ué, você é tão boa assim? - Frederik ficou sem entender.

- É o jogo que eu mais amo e quase nunca perco.

- Pois vamos ver se vai ganhar de mim - Patrick debochou.

Sentamos em volta do enorme tabuleiro e comecei a observar as peças arrumadas. Era um jogo em que eu lidava como se estivesse diante da prova no colégio: com bastante concentração. Mas naquele instante eu precisava observar e analisar os meus oponentes. Gabriele era esperta mas será que sabia ser uma boa estrategista? Minha intuição dizia que não. Frederik e Patrick talvez seriam oponentes interessantes, por serem muito inteligentes. Jogar com eles três era algo novo uma vez que durante anos eu jogava sempre com os meus primos nas minhas férias.

Tiramos nos dados para ver quem começava. Gabriele começou e logo cai numa das primeiras casas, meio baratas. Logo ela não se interessou em comprá-las. Eu sabia que iria me dar bem contra ela pois o bom nesse jogo é comprar o máximo no início para não permitir que ninguém tenha uma região completa. Negociar depois seria meu trunfo.

O segundo na ordem foi o Frederik que começou bem, tirando uma sorte de receber dinheiro do banco. Até então ninguém comprara nenhum terreno. Assim, seria minha vez e eu teria a chance de comprar terrenos no primeiro quadrante.

Seguiu a vez do Patrick, que ficava se gabando de ter conhecimento de investimentos e gestão financeira, a partir de um curso de férias pago pelos seus pais, para aprender a gerir o futuro capital da família. Mas será que ele sabia que isso não seria suficiente? Ele acabou caindo em um terreno de preço bom e o comprou sem pensar duas vezes.

Finalmente era minha vez. E para minha infeliz sorte, acabei caindo no mesmo terreno que Patrick comprou na jogada passada. Ele riu de mim, mas fiquei séria, confiante no meu jogo. Novamente Gabriele jogou e tirou dessa vez um número alto e caiu em um bom terreno, comprando logo em seguida.

- Frederik tirou um doze, não acredito!

Ele caiu em outro terreno bom e o comprou em sequência. Foi um gasto a mais, mas ele estava tranquilo. Como tirou dois iguais, jogou novamente e acabou parando na prisão.

- Saco! - Ele não estava acreditando, todos nós rimos dele e aquela confiança de antes sumiu.

Finalmente caí em uma casa com terreno, um bom terreno. Comprei logo em seguida sem demora. Gabriele caiu em um terreno bom e acabou comprando-o, indo na onda de todo mundo. Frederik jogou e tirou iguais saindo da prisão. Foi o primeiro a dar a volta, recebendo salário, caiu em um terreno barato, mas resolveu não comprar. Parecia que estavam todos focando em terrenos altos. Eu iria usar isso em minha vantagem.

- Minha vez! Maravilha! Caí numa estação de trem! - vibrei confiante. Isso poderia escalar meus ganhos de uma forma maior. Comprei imediatamente. Gabriele também acabou caindo numa estação também e a comprou.

- Eu e você somos empresárias, Gabi! Que tal se nos tornarmos sócias?

- Por mim, tudo bem! - ela riu.

Perfeito. Tinha feito uma parceria para jogar ao meu favor com uma simples brincadeira.

Frederik com medo de perder dinheiro resolveu não comprar mais terrenos, enquanto que na minha vez acabei caindo em mais uma estação.

- Não se preocupe que os nossos negócios estão indo bem! - tranquilizei a minha sócia.

Nesse ponto do jogo, Patrick estava com mais dinheiro que os outros. Já comecei a comentar e incitar os adversários contra ele, pois estava com mais poder de compra que todos.

- Poder do capitalismo! - ele se gabava.

- Proletariado, uni-vos! - rebati, rindo com os outros dois e já gerando outra sociedade.

Naquele momento do jogo eu percebi que Patrick estava bem à frente, Frederik estava com alguns terrenos, Gabriele havia adquirido uma companhia e também conseguido duas estações. Eu tinha uma estação e alguns terrenos espalhados. Isso não me renderia nada a longo prazo. Eu precisava pensar em algo rápido ou eu seria a primeira a sair. Óbvio que jogar com uma sócia iria me ajudar muito, talvez ajudar Gabriele a conseguir mais estações e pedir ajuda dela, caso eu precisasse, seria muito bom, mas como eu faria pra sobreviver nesse jogo? Que ajuda eu poderia ter em troca? Pensa Nívea, pensa!

O jogo não era só baseado em sorte, tinha dados e casas também. Verdade! Se tem uma casa que todo mundo cai é a prisão! me veio a luz que eu precisava. Então talvez dominar as casas após a prisão seria uma boa! Mas espera, uma casa após a prisão era impossível. Os dados são somados, ou seja, os resultados variam de dois a doze! Por algum motivo comecei a lembrar das aulas de matemática: probabilidade e estatística. Daria pra determinar qual o resultado das somas é a que mais se repete! Por exemplo: se um dado cair em um dos possíveis resultados de soma seriam dois, três, quatro, cinco, seis e sete. Para dois seriam três, quatro, cinco, seis, sete e oito. Era como se os números e resultados estivessem flutuando na minha frente e se reorganizando. E então eu pude perceber um padrão.

Mas é claro, como não pude ver antes? Por probabilidade, a soma que mais aparece é o sete, seguidos de seis e oito. Isso quer dizer que as chances de alguém tirar seis, sete ou oito nos dados era bem maior que tirar outras somas.

O jogo ia se desenrolando e enquanto isso, Patrick administrava bem seus terrenos, mas eu o atrapalhava de construir casas e hotéis pois eu, Gabriele e Frederik tínhamos sempre uma casa em uma das regiões. Realmente quando alguém se destacava demais nesse jogo de início, o restante ficava muito complicado pois ninguém queria ceder nada para quem já estava com uma grande vantagem. Com isso eu ia induzindo as decisões do grupo enquanto pensava numa estratégia.

De repente, ela veio! Na maioria das vezes todo mundo vai acabar parando na prisão e no início, através de cartas ou tirando dados duplos três vezes. Então eu precisava focar bem em duas áreas. Os terrenos de seis a oito casas após a prisão e o início. Eu já havia comprado um em cada e então analisei. Tem um vazio em cada, eu já tenho um terreno em cada, a Gabriele tem um terreno na região depois da prisão e Frederik tem um depois do início.

Em uma das jogadas, Gabriele comprou mais um terreno na região após a prisão, Frederik tirou uma carta de fuga da prisão, Patrick acabou comprando mais um terreno após o início.

- Ah não, que droga! Eu precisava desse terreno! - Bati com a mão na testa.

- Já posso comemorar a vitória ou ainda está cedo? - o irmão gêmeo debochou de mim.

Patrick estava jogando sozinho, ele não iria ceder fácil assim numa troca. Com o passar do jogo, acabei adquirindo mais uma estação e uma companhia e Gabriele adquiriu o último terreno da região após a prisão. Patrick já havia conquistado uma região e começava a colocar casas aos poucos. Tudo corria bem até que Gabriele caiu num dos terrenos caros de Patrick e desembolsou um alto valor de aluguel. Todos se assustaram, pedindo inclusive para saber se o valor estava certo. Para o susto geral, era o valor correto. E agora era minha hora de triunfar.

- Gabi, vou fazer uma troca com você.

- Oi? Como assim?

- Você vai ficar com as minhas estações e a minha companhia. Assim você terá quatro estações de metrô do jogo e mais as duas companhias do mapa - e continuei explicando - Aquelas que se multiplica o valor que se tira no dado pelo aluguel se você cair na casa.

- Calma aí, não entendi nada!

- Pode demorar um pouco mas o retorno vai valer a pena e você não terá problema se cair nos aluguéis absurdos do seu irmão.

- Não é justo vocês duas jogarem em dupla! - Patrick protestou.

- Viva o capitalismo e o livre comércio, não é Patrick? - ri com deboche.

- Droga! - ele resmungou baixinho. Frederik e Gabriele riam com satisfação. Melissa mal prestava atenção nas jogadas, no seu celular deveria ter algo bem mais interessante.

O jogo estava prestes a mudar. Minha cartada final era negociar o último terreno após a prisão, que estava na posse da Gabriele. Patrick acabou caindo em uma das companhias recém adquiridas por Gabriele tirando dez nos dados, pagando assim o dobro do que Gabriele havia pago anteriormente a ele.

- Como assim? Isso está certo mesmo? - ele pediu para ver a carta da companhia.

- Bitch better have my money! - Gabriele disse com referência à música da cantora Rihanna e fazendo um gesto com uma mão, chamando o dinheiro. Patrick pagou.

- Viu Gabi, eu disse que ia render! As sócias mandam na parada! E aproveitando, este terreno que eu estou querendo... Seria bom ter, caso eu caia numa das suas companhias. Quanto você quer pelo terreno? - perguntei de um jeito sorridente.

- Pode pegar de graça! Você me ajudou e eu vou te ajudar também! - ela disse, me surpreendendo!

Ótimo. Estava tudo começando a andar como eu queria, ou melhor, desandar.

Acabei ainda caindo em um dos aluguéis do Frederik. Como não era muito alto então não tive problemas. E mais uma vez, aproveitei a chance para negociar.

- Você tem uma boa região Frederik, poderia render mais se tivesse mais casas. - Falei olhando concentrada para ele.

- Espertinha - ele riu - Eu não posso colocar casas aqui porque você tem o último terreno! - explicou, coçando a cabeça.

- É verdade... - me peguei pensando - Então vamos fazer assim: Você compra meu terreno por dez vezes o preço - Falei ainda com uma expressão bastante amigável.

- O quê? É sério? Tá me achando com cara de palhaço? - ele parecia que ia começar a rir - Eu nunca iria pagar esse valor para você - e deixou escapar um riso sem graça.

- Hum... Já sei! Eu queria muito aquele seu terreno para completar minha região e colocar casas também, o que acha de trocarmos?

- Você vai me dar um terreno que vale bem mais por um terreno que vale menos? - Ele começou a rir - Quer perder mesmo não é? Ok, por mim está ótimo!

Então fizemos as trocas. E agora sim, meu semblante mudou. Eu tinha Gabriele secando o dinheiro de todos, o meu inclusive, porém eu tinha as duas regiões mais rentáveis do jogo, era como jogar uma moeda pra cima, ou 50-50, se você passar pela prisão ou pelo início, seu dinheiro era meu, mesmo com um aluguel não tão exorbitante, mas frequência ganha de quantidade.

Após vários aluguéis, idas para a prisão e sorte ou revés o jogo começava a tomar um padrão. A cada duas rodadas alguém me pagava um bom aluguel, meu dinheiro começou a crescer assustadoramente. Gabriele também tinha um bom ganho, mas como demorava um pouco para cair seu dinheiro variava demais. Já Patrick continuava com o valor mais alto de todos, mas eu podia notar o seu dinheiro diminuindo com o passar das jogadas, nos meus terrenos agora com hotéis e nas casas com valores multiplicados de Gabriele. O pobre Frederik culpava o azar por demorar a alguém cair nos seus terrenos e seu dinheiro estar caindo rápido.

- Logo alguém vai acabar caindo nos terrenos do Frederik. Bom que ele não está colocando muitas casas, porque quando alguém cair, seria um estrago - eu analisei.

A reação dele foi imediata. Ele olhou para os terrenos do Patrick e viu que já tinham até hotéis nos terrenos do seu adversário. E a competitividade tomou conta do Frederik. Ele acabou se antecipando demais e comprando o máximo de casas que podia, mas ainda deixando um pouco de dinheiro caso caísse em um aluguel alto. Patrick continuava estagnado pois as outras regiões estavam divididas entre os jogadores e assim, sem possibilidade de construir casas.

Um dado momento Frederik tira dados duplos, o que o fez jogar duas vezes. Ele estava até com um bom valor em dinheiro, pois Patrick pagou aluguel em um de seus terrenos em uma jogada passada. Mas o pior estava por vir. Ele montou seus hotéis antes de jogar os dados e ver as surpresas. Acabou que ele caiu em um terreno meu, e na segunda jogada, em uma companhia da Gabriele.

- Não acredito!

O Frederik seria o primeiro a cair. Ele errou ao comprar poucos terrenos no início e iria sofrer por isso até perder o jogo. Eu somente dei um empurrãozinho e fiz ele gastar mais do que devia. Para pagar tudo, Frederik teve que dar todo seu dinheiro que era pouco e vender suas casas e hipotecar dois terrenos. O rombo foi grande demais, ele não aguentaria mais que duas rodadas.

Assim que o Frederik faliu e saiu do jogo, todos saímos comprando os terrenos perdidos dele. Gabriele e eu dividimos nossas compras e deixamos uns terrenos comprados para que o Patrick não conseguisse construir mais casas. Com o passar do tempo todos começaram a perceber que caiam muito mais na minha casa do que eu caia na deles. Patrick não entendia nada, pois ele tinha a porção mais rica do jogo, mas ainda assim não estava faturando tanto quanto eu.

Depois de mais algumas rodadas, Gabriele tentou negociar um terreno comigo para que ela pudesse construir casas, pois nesse ritmo os aluguéis do Patrick iriam fazer ela falir. Com quatro jogadores, haviam mais chances de alguém cair nas companhias e estações da Gabriele, mas com um a menos, seu dinheiro começou a cair.

- Sinto muito Gabriele, mas uma hora alguém tem que começar a falir. – e ri.

- Ahhh, sua cretina! Cadê a nossa sociedade agora? Ficou rica e não liga mais para os pobres, não é?

Com o tempo, Gabriele faliu e começou a disputa entre eu e o Patrick, comprando tudo que a irmã havia deixado para trás. Ele conseguiu três estações de metrô e uma companhia, enquanto eu peguei uma estação, alguns terrenos e uma companhia também.

- Você perdeu! Eu tenho os aluguéis mais caros do tabuleiro e também mais casas no jogo do que você... Se rende logo! Você perdeu, gracinha!

- Rola os dados! É sua vez, garoto - Eu não respondi a provocação, somente ri de canto.

O jogo seguiu alucinante. Altos valores de aluguel pra ambos os lados, óbvio que os dele eram maiores, mas somando as jogadas, eu estava fazendo 50% a mais que ele a cada duas rodadas.

- Não, calma aí! – ele reclamou – Como assim toda vez eu caio nos teus terrenos? Já foram bem umas cem vezes e você não cai tanto assim nos meus.

Foi quando eu comecei a rir descontroladamente.

- Tá rindo de que? Eu ainda sou o que tem mais posses!

Mais cinco rodadas se passaram e Patrick caiu em desespero quando tirou um doze e caiu na minha companhia. Eu não estava contando com esse desastre, mas veio em boa hora. Ele bufava de raiva, enquanto ia hipotecando, vendendo casas e vendendo tudo. Realmente ele era o jogador com mais posses de aluguéis caros, mas eu tinha um retorno mais frequente. E assim, ele foi perdendo terrenos e eu fui comprando um por um, até que ele caiu em um hotel meu e não teve mais como pagar. Entrou em falência e, usando matemática básica e probabilidade, eu ganhei!

- Isso não é justo, vou querer uma revanche! - Patrick bufava sem acreditar que tinha perdido o jogo pra mim.

- A hora que você quiser, mas não hoje porque tenho que voltar a curtir a festa. - me levantei e fiz uma dancinha debochada para comemorar a minha vitória.

- Tô impressionada, você é boa mesmo - Gabriele comentava, me observando - Isso explica as suas notas nas matérias de exatas.

- As estratégias que você montou foram incríveis - Frederik acrescentou.

- Já estou acostumada - dei de ombros - Mas Patrick, não precisa ficar chateado. Você jogou muito bem! Nossa revanche está garantida.

- Qual é a desse jogo? - Felipe se aproximou - Posso encarar uma partida?

- Senta aí - Frederik o convidou.

- Isso. O Lipe joga no meu lugar - e saí junto da Melissa, voltando para a varanda onde estavam os meus pais sentados, ao lado do Eric e da Luciana, e voltamos nós duas ficando perto deles.

- E aí ganhou? - minha mãe perguntou sorridente.

- O que você acha? O Patrick está lá bufando até agora.

- Está vendo, professeur? - meu pai começou a contar e me sentei no colo dele - Tenho uma filha a qual os números se rendem à ela! - passei o meu braço por trás dos seus ombros.

- É mesmo? - Eric começou a me olhar curioso - E eu achando que a Literatura era a matéria favorita da senhorita Martin...

- Ah... Eu... - péssima hora para gaguejar - Eu gosto mas... Sempre tive facilidade com os números e eu jogo banco imobiliário desde os meus onze anos por incentivo do meu tio Jérome.

- Que bonito, Nívea - Luciana me elogiava - Então pretende estudar algo na área de exatas?

- Eu ainda não sei, não estou pensando nisso. - Eu explicava e Eric continuava a me olhar atento - Nas férias eu fiz um teste vocacional de cem perguntas que o Henry me passou. Ele foi elaborado pela própria universidade de Lyon. Levei uma hora ou mais respondendo e no final caiu área de Exatas.

- Vocês estão olhando para uma futura Economista!

- Nada a ver, papa!

- Como nada a ver? Você e o seu primo sabem muito bem quais são os planos do seu tio para os dois!

- Ele está preparando o Henry! - enfatizei - E apenas disse que se eu decidir pelo mesmo, serei muito bem recebida.

- Negócios de família - minha mãe esclareceu para que a conversa não ficasse confusa para os dois convidados - E Jacques, você sabe que não pressionamos a Nívea sobre o assunto!

- Pas question ! Não é porque eu e você já sabíamos o que iríamos estudar que a Nívea precisa saber imediatamente. Não se preocupe, mon chère ! Tudo ao seu tempo.

- Je sais, papa ! Et merci !

Pensar no curso que eu iria estudar pelos próximos anos era algo que não me interessava nem um pouco. Sim, eu começaria o meu último ano no Ensino Médio e a maioria dos assuntos entre os alunos da minha idade seria o mesmo. E eu estava agradecendo por ter pais incríveis que não me colocaram contra a parede sobre a minha futura profissão.

Economia? Quem sabe. Universidade não estava entre as minhas preocupações ao menos durante aquele ano.

- Martin! - o pai do Frederik se aproximou - Pode vir aqui um instante? Você não é do Direito mas estamos em um assunto muito interessante com o Juiz Vilela e gostaríamos da sua opinião.

- Oui, me dão licença? - ele se levantou voltando para dentro de casa, com a minha mãe observando os dois se afastando e em seguida se voltou para mim. Acabei ocupando o lugar dele.

- Filha, agora conta para o seu professor e para a Luciana como foi a comemoração do seu aniversário em Lyon! - ela falava baixinho.

- Mãe, foi normal - e me virei para eles - Teve passeio com os meus avós, presentes e reunião com a família de noite com direito a bolo. Você e o papai viram os vídeos, não foi? - um estranho gelo no estômago ganhou força.

- Vimos sim, mas ele não viu os mesmos vídeos que eu. Da sua escapada com a sua madrinha Sophie, o Henry e a Madeleine para uma festa universitária no campus.

Naquele instante senti como se a minha alma estivesse saindo do meu corpo.

- Como é? - A expressão e o olhar sério do Eric vieram na minha direção - Festa universitária? - ele questionou com calma, querendo entender o que tinha acabado de ouvir.

Melissa soltou um riso abafado, continuando a olhar a tela do seu celular.

- Mãe por favor, isso era segredo! Eu te pedi tanto!

- Segredo pro seu pai, meu amor! Ele não vai saber e estamos aqui entre amigos, não é mesmo Luciana?

- Com certeza!

Como eu disse antes, o segredo não era apenas para o meu pai.

- E agora eu fiquei curiosa! Você sendo menor de idade indo para uma festa de estudantes universitários? Aposto que o Schneider também está curioso! - ela passou o seu braço por cima do ombro do Eric, dando um leve tapinha e o olhar sério dele não desviava de mim por nada.

- Vale falar também que eu sendo a melhor amiga recebi os vídeos em primeira mão junto da Dona Helena!

Eu disse que iria enforcar a Melissa mais tarde, não disse?

- E com direito a vídeos?

- Vários vídeos que a Nívea me enviou e tive que ver escondida, não foi meu anjo?

- Foi mãe... - respirei fundo.

- Vai Ni, tu já tá na merda mesmo, então conta!

- Isso filha, seu pai deve demorar lá dentro! Mas tem que contar em voz baixa!

- Pois então... - dei um meio sorriso fechado e o Eric cruzou os braços na direção do peitoral - Foi no sábado passado. A minha tia Sophie que também é a minha madrinha e professora universitária, tem um aluno que trabalha na noite como DJ. Ele é bem conhecido por lá. E então ele a convidou para essa festa onde iria tocar.

E continuei:

- A minha tia disse que só iria se ele conseguisse colocar eu e os meus primos na festa para começar a comemorar o meu aniversário. E ele aceitou!

- Tudo isso de forma clandestina - minha mãe completou - Não sei se vocês sabem, mas nas festas e nas casas noturnas da França somente maiores de vinte e um anos é permitida a entrada.

- Eu sei bem... - Eric respondeu mantendo a postura rígida.

- E vocês conseguiram entrar? - Luciana perguntou.

- Conseguimos! Estavam servindo um vinho barato lá que era horroroso de tão ruim. Só bebi dois copos pequenos.

- Por isso o segredo! O Jacques não pode saber que a Nívea consumiu bebida alcoólica sem ser dentro da casa dos avós e no Natal.

- Ah, agora entendi. Nisso eu concordo.

- Por sorte nós não fomos flagrados. Do contrário, a minha tia poderia ser pega pela polícia ou algo do tipo!

- Mas você se divertiu?

- Muito! Eu me sentia uma criminosa mas foi a noite mais divertida da minha vida. Acho que eu nunca dancei tanto mesmo fazendo um friozinho chato.

- Então é isso o que importa!

- Eu disse o mesmo pra ela, Luciana! Minha filha é linda, jovem e tem mais é que divertir mesmo.

- Estou super de acordo. E o meu amigo aqui também está. Não é, Schneider??? - ela falava com um ar de deboche muito parecido com o da Melissa o que deixava tudo mais engraçado.

- Claro... - respondeu seco.

- Não se preocupe, professor! O meu anjo continuará a ser a sua melhor aluna.

- Dentro de sala de aula eu não tenho dúvidas...

Alfinetada recebida e sentida com sucesso. Mas eu sabia que a cara fechada do Eric após aquela revelação tinha motivo e eu iria conversar com ele quando estivéssemos a sós. Eu não fiz nada de errado, estava com a minha família e ele ia ter que entender.

- Dá pra ver que a sua tia é toda moderna.

- Muito, nem parece que ela tem um filho adolescente. É mais velha que o meu pai mas nem parece.

E minha mãe explicou:

- Quando a Nívea sai para se divertir de noite desse jeito, eu fico surpresa porque esse lado baladeira ela não herdou de mim. Comecei a sair para as matinês de domingo aos treze anos e ela está começando só agora.

- Você não fala que eu sou parecida com o meu pai? Então eu devo ser mesmo!

- No jeitinho quieto de ser, vocês são idênticos. Jacques não suporta boates e por uma ironia do destino foi onde eu e ele nos conhecemos.

- Pelo visto o seu pai é o único sensato.

- Por quê, professor?

- Por detestar esse tipo de lugar.

- Ah, Schneider deixa de ser chato! - Luciana retrucou fazendo a minha mãe rir e eu também não consegui segurar o riso - Não liguem, o meu amigo aqui também odeia casas noturnas.

Eu sabia bem o quanto ele odiava.

***

Tudo corria tranquilamente bem naquele sábado. Apesar de ser ainda início de noite, eu comecei a bocejar enquanto jogava uma partida de Uno no meio da sala com os meus amigos.

- Ainda é cedo, você já está com sono? - Patrick comentou enquanto jogava uma carta vermelha.

- Efeito do fuso horário. Devem ser quase onze da noite na França e essa hora eu já estaria dormindo. - estava com algumas cartas na mão e precisei comprar mais quando foi a minha vez de jogar. Era um jogo de cartas bem tranquilo até o momento em que a carta mais quatro entrava em cena - Vai demorar uns dias até o meu sono voltar ao normal

- Bati! Uhuull - Melissa zerou as cartas na mão, logo depois de lançar a carta verde de número cinco.

- Droga! Hoje não é o meu dia de sorte! - Patrick realmente era um garoto competitivo.

- Eu vou na cozinha - deixei as cartas no tapete e me levantei - Vi no folder do buffet mini esfihas que ainda não experimentei.

- Eu vou com você! - Frederik me acompanhou e quando chegamos, havia um tabuleiro na mesa com esfihas recém saídas do forno.

- Posso pegar algumas para servir, Catarina? - pus uma na boca e estava deliciosa.

- Claro! Aproveita e leva também para o seu professor bonitão! - as meninas do buffet começaram a rir.

- O fandom do Professor Schneider só cresce - Frederik brincou enquanto me ajudava a colocar diferentes salgadinhos de festa na bandeja.

- Frederik...

- O quê?

- Você teve notícias da Nicole? Sabe como ela está?

- Então, depois que eu voltei do Canadá, comecei a enviar mensagens para todo mundo falando da minha festa e convidei ela também, mas aí vi a mensagem dela me retornando, dizendo que estava viajando. Pelo tempo ela já deve ter voltado.

- Ah sim... - suspirei - Me peguei pensando nela agora por isso te perguntei. Senti tanta pena dela...

- É, vai ver essa viagem foi pra isso mesmo, pra ela não pensar tanto na morte da avó.

- Tomara que este ano ela fique bem no colégio.

Pegamos as duas bandejas e segui até onde estavam os pais do Frederik, conversando com nossos amigos e vizinhos de apartamento.

- Eu fico morta de preocupação quando a Melissa vai pra casa de vocês, mesmo a Nívea estando junto - Dona Cecília dizia. - Eu bem sei o que é ter uma filha sem freio.

- Mas não se preocupe - eu deixei a bandeja na pequena mesa entre eles enquanto a Dona Denise comentava - Tanto a Nívea como a Melissa são praticamente de casa. Depois que elas foram pra lá a primeira vez, a Norma ficou encantada - e a mãe do meu amigo me abraçou de lado - "Ah, Denise eu gostei muito delas! São tão simpáticas, a ruivinha então é a mais divertida!"

- Eu fico tranquilo, pois sei que a Nívea toma conta da Melissa - O padrasto da minha amiga comentava enquanto bebia algo que deveria o mesmo que o meu pai.

Mesmo estando participando da conversa, eu vi o meu pai e o do Frederik conversando de forma mais reservada em um canto da sala e pensei que poderia ser algo de trabalho. Do outro lado, perto da cozinha observava o Evandro com os olhos na tela do seu celular e alternava o olhar na direção da varanda onde estava o lado universitário da festa que era o Eric, a Luciana e o Felipe. Os três conversavam e ela estava rindo com alguma coisa que um dos dois havia contado.

- Deve estar se sentindo deslocado não é, Evandro? - me aproximei puxando assunto - Você conhece o meu professor?

- Está tudo bem, senhorita. Mesmo aqui no meu canto, eu observo tudo e todos e sim, me lembro dele na festa do Frederik... Apenas a amiga dele que é a primeira vez que eu vejo.

- O professor Schneider e a Luciana possuem uma relação muito especial - observava os dois.

- Isso é ótimo.

- Vem, vou te apresentar a eles! - cruzei o meu braço com o dele e fomos na direção de onde estava o convidado mais bonito da festa junto dos amigos.

- Não, senhorita, não precisa.

- Claro que precisa, vem! Nada a ver você ficar sozinho.

Nos aproximamos e o olhar do Eric de imediato se voltou para mim.

- Então gente, o Evandro estava na companhia do celular e eu trouxe ele aqui pra se juntar à vocês.

- Senta aí! - Felipe puxou uma das cadeiras brancas e, sem jeito, o guarda-costas se sentou - Estamos aqui tendo uma conversa muito interessante sobre abacaxi.

- Ah, eu prefiro beber o suco do que comer a fruta - comentei e os três olharam para mim sérios. De repente, eles soltaram juntos uma gargalhada que me deixou vermelha de tanta vergonha - O que foi? O que tem de engraçado?

- Não, Nívea... - Felipe tentava recuperar o fôlego - Estamos nos referindo a outra coisa - e continuou a rir - É sobre os casais, no caso o homem, comer abacaxi com frequência e melhor ainda se for todos os dias.

- Ah... - fiquei com cara de imbecil sem ter a menor ideia do que eles estavam falando.

- O Evandro com certeza sabe.

- Sei... - ele riu sem graça.

- Nívea, você não sabe? - Luciana me questionou em meio aquele momento cômico e eu balancei a cabeça negativamente.

- O que o meu anjo não sabe? - minha mãe apareceu na hora como sempre feito mágica - Ouvi as gargalhadas de vocês e fiquei curiosa.

- Mãe, o que significa os casais comerem abacaxi? - perguntei sem rodeios. - É disso que eles estão rindo.

- É O QUÊ? - seus lindos olhos azuis dobraram de tamanho - Vocês contaram isso pra ela?

- De jeito nenhum, Helena - Luciana foi rápida na resposta - A melhor pessoa para contar é você.

- Então, meu amor... - ela me abraçou e beijou o topo da minha cabeça - O dia que você começar a namorar, você vai saber.

Eu já estou namorando, mãe... - disse em pensamentos.

- Mas você não pode me contar o que é?

- Claro que eu posso, apenas não é o momento e nem a hora.

Ficamos abraçadas e virei o meu rosto e o olhar para o Eric um pouco entristecida. Ele me conhecia tão bem e viu que eu estava perdida naquele assunto, pois a expressão no seu rosto mudou como se estivesse com pena de mim.

- Eu vou no quarto pegar o meu celular - me afastei dela - deixei ele lá desde a hora que eu cheguei... Pra gente tirar fotos. - dei um meio sorriso - Com licença...

Tadinha, ela não faz ideia do que se trata... - ouvi a voz de um deles comentando baixo para que eu não escutasse enquanto me afastava. Segui pela sala e o corredor, até o meu quarto, com a cabeça imaginando mil coisas sobre o assunto e nada. Nem uma luz.

Entrei no cômodo e peguei o meu celular dentro da minha mochila de viagem. Havia algumas notificações habituais e fiquei parada observando a tela mas com os meus pensamentos longe dali. Ouvi a porta da suíte ser aberta e vi a Melissa saindo dela.

- Estava apertada e usei o seu banheiro, amiga...

- Tudo bem.

- Que cara é essa? - ela se aproximou de mim e pegou no meu rosto levemente pelo queixo - O que foi?

- Meli, o que significa os casais comerem abacaxi?

Ela ouviu a minha pergunta e segundos depois que ficou em silêncio, a sua gargalhada estridente tomou conta do quarto inteiro, me fazendo revirar os olhos e tive que ir fechar a porta para que ninguém escutasse.

- Não tô acreditando que até você sabe e eu não.

- Calma... - ela segurava a barriga, recuperando o ar e se sentou na beira da cama - De onde você tirou isso?

- Eu levei o Evandro para ficar junto com o Eric, o Lipe e a Luciana e então surgiu o assunto. Aí depois a minha mãe veio, eu perguntei e ela ficou me olhando como se eu fosse de outra galáxia.

- O Eric nunca conversou isso com você?

- Não! - bati o pé no chão, inconformada - E ninguém na hora me falou também. Minha mãe disse que ia conversar comigo depois e me contar sobre o que é.

- Terra chamando Nívea - ela estalou os dedos bem perto do meu rosto, me fazendo recuar com a cabeça - Pra que esperar a sua mãe quando você tem a informação bem aí nas suas mãos? - e apontou para o meu celular - Abre o Google e digita as palavras o abacaxi e o sexo.

- Hã???

- Faz o que eu estou te falando, anda!

Desbloqueei a tela e abri o site de busca, digitando o que ela tinha me falado.

"Abacaxi e outras frutas podem melhorar o sexo oral. Veja como:"

"É verdade que o gosto do sêmen muda com suco de abacaxi?"

"Como comer abacaxi pode ajudar no sexo oral!"

Ao ler o título dos três primeiros links que apareceram na busca, foi a minha vez de reagir igual à minha mãe.

- Então é isso... - reagi boquiaberta com os olhos grudados na tela do aparelho - O abacaxi serve para...

- Exatamente... - Melissa confirmou balançando a cabeça - Entendeu agora?

- Agora faz sentido...

- O quê?

- Todas as noites em que eu dormia com o Eric, acordava no meio da noite a ia até a geladeira dele pra beber água, eu via sempre o pote transparente e barulhento com fatias de abacaxi. Eu nunca achei nada demais, achava só que ele gostava da fruta e comia sempre.

- Viu? Ele sabe. Agora me responde: você cospe ou engole?

- Ai, Meli, para com isso! - a pergunta tão direta me deixou com o rosto pegando fogo.

- É só uma pergunta, sua boba!

- Eu engulo... - abaixei a cabeça envergonhada.

- E o gosto é ruim?

- Não é doce igual o abacaxi mas também não é ruim. Eu nunca tive nojo.

- Eu também não, engulo tudo e ainda termino de chupar o pau do Fê enquanto ele relaxa.

Revirei os olhos.

- Vem, vamos tirar fotos... - peguei ela pela mão - Quero registrar tudo com todo mundo.

Deixamos o quarto e vimos os meus amigos de turma na sala conversando e então comecei a tirar fotos com eles de forma bem espontânea. Nada de fotos certinhas na mesa do bolo. Não apenas com eles, mas com todos os convidados e até mesmo com a equipe do buffet que estava na cozinha.

Mesmo com o momento constrangedor do abacaxi e eu fazendo de tudo para driblar o sono devido ao fuso horário, eu me diverti bastante. Infelizmente bons momentos como esse passam rápido, dando a impressão de que dura pouco.

Já passava das dez da noite quando cantamos o Parabéns e eu recebi o carinho de todos. No meio da despedida, em meio ao bolo e docinhos de festa sendo servidos, Gabriele roubou a cena colocando o seu lado influencer digital em evidência. Estávamos mais uma vez na varanda quando ela começou a falar sem parar.

- Não quero desculpas! Vocês duas vão passar o Carnaval com a gente em Búzios! - ela exigiu gesticulando com as mãos, eufórica - Ano passado vocês furaram e desta vez quem quer muito também é a minha mãe!

- Ué, não vai ser em Angra?

- Então - foi a vez do irmão explicar - Depois do Carnaval do ano passado, nossos pais venderam a casa de Angra e compraram uma em Búzios bem maior com muito mais quartos.

- Poxa, que legal! Você deixa eu ir não é, mãe? Pedi abraçada à ela.

- Claro que sim!

- Que coincidência... - Luciana que estava na roda da conversa comentou - Carnaval eu vou para lá também.

- É sério??? - Gabriele perguntou animada - Você também vai, professor?

- É provável que não, senhorita Fernandes...

- Ah, que pena... Se você fosse, podíamos marcar um dia do Carnaval para almoçarmos todos juntos e aí você conhecia os meus pais.

- Eu os vi de longe na festa do Frederik mas não tive chance em falar com eles... Lamento perder essa oportunidade.

- Crianças, não se preocupem! Eu vou convencer o meu amigo aqui a viajar comigo e então ele encontra com vocês.

- Você sabe muito bem o motivo de eu não poder ir, Luciana! - Eric falou firme e eu quieta prestava atenção em toda aquela conversa - É inviável pra mim uma viagem pra Búzios onde lá não se pode ter pena de gastar dinheiro!

- Algum problema particular, professor? - minha mãe perguntou.

- Mais ou menos. Depois que eu voltei da casa dos meus pais, eu tive um gasto financeiro a mais o qual eu não esperava e isso me apertou financeiramente. Então estou evitando ao máximo fazer gastos desnecessários.

- Eu entendo... Mas espero que você se resolva.

- Acredito que até o meio do ano eu liquide esta dívida. Mas felizmente o que eu precisei resolver usando este dinheiro eu resolvi. - ele respondeu com uma expressão de alívio no rosto.

- Isso é ótimo! - minha mãe sorriu.

A troca de olhares foi a nossa interação durante toda a festa e no máximo palavras trocadas entre uma relação de professor e aluna. Mas naquele momento a troca teve algo a mais. Lembrar da nossa linda noite de amor me fez esboçar um leve sorriso e mais uma vez precisei apertar minhas pernas uma contra a outra para segurar a excitação.

- Tenta ir, professor! - Patrick pediu - Vai ser mais divertido ainda.

- Eu prometo pensar...

- Ele vai sim! - Luciana tomou a frente.

- Eu disse que vou pensar!

- Tá legal, vamos torcer para o professor ir mas tem mais coisas que eu preciso falar se não eu vou esquecer!

- Mais Gabi?

- Eu tenho compromissos marcados até o meio do ano e você e a Melissa estão incluídas nele! Deixa eu ver... - ela mordeu a pontinha da unha - Lembrei! No final de abril, depois das nossas primeiras provas teremos a festa de lançamento da revista Runway Teen a qual eu vou ser a capa! Minha mãe, é claro, só autorizou marcar a festa com os editores depois das nossas provas.

- Festa de revista de moda? - foi a vez da Melissa questionar - E eu vou precisar ir?

- Mas é claro! O seu nome e o da Nívea já estão na minha lista vip de convidados!

- Que saco, vou ter que usar salto alto - ela bufou.

- Ah, que ótimo! Já sabe não é, filha? Uma festa deste porte merece um vestido novo!

- Mãe, eu ainda tenho os vestidos que compramos no ano passado em São Paulo e eu ainda nem usei metade deles!

- Exatamente. Ano passado, ou seja, já estão fora de moda. Você merece algo bonito e novo.

Não me restava outra coisa a não ser respirar fundo com os surtos de moda da minha mãe.

- Algo mais na sua agenda, Gabi?

- Tem. Férias do meio do ano. Eu vou para Paris em julho com a vovó e o Pat e podíamos marcar também de nos encontrarmos lá, que tal?

- Por mim, tudo bem! Mas se quiserem visitar Lyon eu vou adorar receber vocês!

- Eu aceito! - Patrick tomou a palavra - Um final de semana por lá vai ser show. Se a Gabriele quiser ficar na capital que fique.

- Só tem uma coisa...

- O quê?

- Assim que o semestre terminar e eu viajar para casa dos meus avós, vamos fazer mais uma viagem em família. Isso eu esqueci de te contar, mãe - me virei para ela - O meu tio vai dar de presente de formatura pro Henry uma viagem que ele vai escolher o lugar. E adivinha só qual lugar ele escolheu?

- Qual?

- Vamos para Sardenha!!!

- Nossa, que chique!

- Muito! Vai ser minha primeira vez passando o verão na Itália. Além de ser uma viagem em forma de presente vai ser também uma despedida da Madeleine e eu já ia esquecendo de contar também: Em agosto ela se muda para Paris.

- Vai mesmo estudar História da Arte? - minha mãe perguntou - Ela conversou comigo no Natal. Sua prima está super empolgada.

- Vai. E aí você sabe, não é? Vovó Amelie já está com uma tromba de elefante, mau-humorada, como se Paris e Lyon fossem suuuper longe uma da outra.

- Sei perfeitamente.

- Então Nívea, a gente combina assim: Quando você voltar de lá, me passa uma mensagem.

- Combinado! Eu devo ficar uns dez dias viajando.

- No meu caso, vai depender das minhas notas. Mas se eu desenrolar com o meu padrasto eu me encontro com vocês na França.

- Perfeito! Três amigas blogueirando em Paris.

- É triste ter que interromper a conversa animada de vocês mas nós já vamos embora! - Simon ao lado da Denise se aproximaram de nós e de onde estava, eu vi meu pai conversando todo sorridente com o Frederik, o Evandro e o Felipe na sala.

As expectativas que meu pai criava sobre o Frederik e eu eram nítidas enquanto eu os observava conversando. O balde de água fria que ele e a minha mãe receberiam em um futuro próximo eu não conseguia imaginar como eles iriam reagir.

- Foi um prazer ter vocês aqui! - minha mãe se despediu e em seguida eu fiz o mesmo.

- Já adiantei toda a minha agenda, então podemos ir!

- Esperamos vocês lá em casa! - a mãe do meu amigo reforçou o convite.

- Eu vou se a Norma tiver guardado o meu sorvete de flocos.

- Isso com certeza - ela me abraçou de uma forma tão carinhosa que deixou o meu coração apertado.

Descemos todos em duas idas por elevador e nos despedimos na saída do prédio. Frederik sugeriu fazermos alguma coisa no domingo, último dia de férias, mas eu dei uma desculpa de que precisava descansar e iria ficar em casa.

Quando na verdade, o que eu mais queria era ter o meu momento com o Eric e precisaria dar um jeito de ficar com ele antes do primeiro dia de aula. Mas como?

Ao subir e voltar com os meus pais, nos despedimos dos nossos amigos e vizinhos no corredor que também estavam indo para casa. Quando entramos, Eric e Luciana estavam no meio da sala junto da Melissa e do Felipe.

- Bom, nós também já vamos. Eu ainda vou deixar a Luciana em casa...

- Eu te falei que posso ir embora de uber!

- Não vai me custar nada.

- Eu nem dei tanta atenção à vocês... - falei sem jeito.

- Imagina, Nívea. Foi tudo perfeito, a festa foi ótima.

- Você quer levar um pedaço de bolo?

- Ah, eu adoraria!

Fui até a mesa do bolo, cortei uma fatia junto com docinhos e pus dentro de um pote lhe entregando em seguida.

- Então... Helena, o que você acha de esticarmos um pouquinho a noite? - Felipe sugeriu - A Nívea pode ir comigo e com a Mel pra Ipanema, ficamos pela orla da praia e ela dorme lá.

- É Ni, vai ser legal!

- Mas... Agora? - meu coração errou as batidas.

- É amiga, agora! - ela enfatizou a última palavra, pegando na minha mão em um aperto, me fazendo entender o que o Felipe havia falado.

- Vocês não podem adiar isso para amanhã? - meu pai frustrou o que estava sendo planejado - Não que a Nívea não possa sair mas eu e a Helena queremos levá-la amanhã para almoçar. Só nós três. Seria bom ela dormir e descansar.

- Vamos naquele restaurante japonês que você adora, que tal? - minha mãe me abraçou por trás me apertando com muito carinho.

- Eu concordo - Eric sorriu amigavelmente - A senhorita Martin precisa descansar. Foi um dia agitado.

- Amanhã, depois que voltarmos do almoço, vocês três saem, certo?

- Ótimo! - Felipe concordou - Por mim sem problemas.

- Nos vemos segunda-feira na aula - ele continuou a me olhar, se aproximando e deixou um beijo na minha testa em meio à minha nova franja - E descanse.

Mesmo com um gesto tão contido e carinhoso, será que o Eric estava chateado comigo por causa da minha escapada até a festa em Lyon? Seu rosto não parecia estar aborrecido.

- Se vocês me dão licença, eu vou me recolher - meu pai pediu - E foi um prazer receber vocês.

- Foi tudo incrível - Luciana elogiou - E Nívea, espero uma visita sua lá no Campus este ano - me deu dois beijos no rosto.

- Vou tentar ir, sim!

- Vamos descer, eu levo vocês até lá embaixo - Felipe tomou a iniciativa e ele saiu com a Melissa acompanhando os dois convidados os quais um dia eu pensei que eram um casal.

Observei ao lado da minha mãe os quatro pelo corredor em direção do elevador, Eric deu uma última olhada para trás na minha direção e senti o meu coração parar. Achei melhor não acompanhá-los pois as chances de descer e simplesmente não voltar para casa eram grandes.

Tudo estava calmo e silencioso.

Já vestida com um pijama macio e confortável, ajeitei com cuidado todos os presentes pelo quarto e então senti o cansaço dominar o meu corpo. Era ótimo dormir na minha cama novamente após semanas longe de casa. Apaguei as luzes e deixei o meu celular na minha mesa de estudos. Se eu ficasse deitada e de bobeira mexendo nele, perderia o sono.

Deitei e dormi tranquilamente, não pensando em mais nada.

***

Acordei na manhã seguinte, me sentindo ótima. Ao invés de sair direto do quarto para ir tomar café da manhã, optei por abrir e guardar todos os presentes que havia ganhado. Peguei cada arranjo de flores e coloquei na parte de fora do meu quarto que dava para a varanda. Quando terminei, fiz questão de tirar uma foto do presente mais lindo de todos, pousado no alto da cama. Fiquei admirando a boneca por um tempinho e ao ver as notificações, havia uma mensagem do Eric enviada um pouco depois da meia noite.

Eu ainda não acredito que vou passar essa noite longe de você, ma petite...

Me sentei na beira da cama e suspirei enquanto lia a mensagem. O relógio do aparelho marcava oito e meia da manhã.

Foi o presente mais lindo de todos! Amei demais!

Era a resposta embaixo da foto que eu tinha enviado para ele. Vi o status online e segundos depois ele me respondeu de volta.

Bonjour, meu amor! Que bom que gostou! Encomendei essa boneca quase no fim de janeiro e fiz questão de que ela tivesse o seu rosto.

Ela é perfeita e vai dormir comigo todas as noites.

Será que hoje vamos mesmo ficar juntos?

É o que eu mais quero...

Eu vou pro Felipe e fico te esperando por lá, tudo bem?

Tudo sim. Vou contar os minutos.

Eu também. Je t'aime, princesse.

Je t'aime, aussi. ❤

Paramos a troca de mensagens, tirei minha roupa de dormir, tomei um bom banho e fui tomar café.

Ainda havia uma pequena bagunça na sala mas a decoração do bolo na mesa não estava mais lá. Minha mãe estava na cozinha terminando de arrumar tudo e meu pai sentado à mesa, olhando o seu celular e com a outra mão ele se servia com um gole de café.

- Bonjour - lhe dei um beijo no rosto e ele retribuiu o gesto.

- Bonjour, mon ange. - deixou o aparelho do lado do pequeno pires e se virou para mim - Pensei que iria dormir até mais tarde...

- Acordei tem um tempo e arrumei todos os meus presentes - disse puxando a cadeira para me sentar e me servi de um copo de suco de laranja e torradas com requeijão - Cada um deles é lindo.

- Mesmo? E qual foi o presente do Frederik?

Dei um sorriso fechado em forma de sarcasmo.

- Foi um par de brincos e um pequeno cartão no nome dele e dos pais. O que significa que o presente foi da família.

- Mas aposto que foi ele quem escolheu os brincos.

- Je ne sais pas, papa.

- Certeza que foi!

- Uma fornada de pães de queijo que o meu anjo adora - minha mãe veio com uma cesta pequena repleta de pães e deixou no meio da mesa - Dormiu bem, minha vida? - e sentou-se do meu lado.

- Super bem - bebi um pouco do suco e comi uma pequena torrada - Não sinto mais o cansaço da viagem e nem da festa.

- Que bom. Precisa deixar o seu sono em dia a partir de hoje à noite. Amanhã começam as aulas.

- É... - parei e pensei no que eu e o Eric tínhamos conversado - Hoje eu posso ir pra Ipanema?

- Claro, mon chère só não volte muito tarde da noite.

- Não vou voltar.

- Mas por enquanto, vamos ter o nosso momento em família.

- Eu nem me lembro da última vez que comi comida japonesa.

- Fiz as reservas na sexta-feira e você ainda ganhou um desconto no valor por pessoa pois é aniversariante do mês - meu pai contava feliz.

- Legal! - sorri - Mas agora eu quero saber mais detalhes sobre a festa do Frederik. Conversar por vídeo chamada nunca é a mesma coisa e a Meli contando sempre deixa escapar algum detalhe. Vocês se divertiram?

- Demais, minha vida - minha mãe beliscava um pedaço de pão e comia - Realmente só faltou você lá para tudo ser perfeito!

- Eu vi os vídeos que ele compartilhou nos stories do Instagram dele, a decoração em tema italiano ficou muito bonita...

- Acho que podemos conversar com ela, Helena... - meu pai ficou sério - Sobre o que já sabemos.

- E o que é? - olhei para os dois intrigada.

- Você sabe sobre a Carina, não é meu anjo?

- Ah... É isso... Vocês também sabem???

- Sabemos...

- Desde quando?

- Desde o ano passado. Conversamos com a Melissa depois da festa e ela confirmou pra nós dois.

- Eu só sinto pena do Frederik - abaixei a cabeça entristecida - Por mim ele nunca descobriria.

- Também pensamos nele o tempo todo. De repente ele descobrir que o pai não é aquele homem que ele acha que é. - meu pai comentava - É triste demais.

- Era por isso que você ficava preocupada quando eu ia para lá não é, mãe?

- Era sim. Tinha medo de você presenciar algo desagradável. E além disso, o Simon não é o único homem no radar daquela mulher. A Melissa não contou para você?

- Sobre o quê?

- Ela teve a audácia de se insinuar para o seu professor, acredita nisso?

- É mesmo????

Modo sonsiane ativado!

- É claro que o professor Schneider educadamente cortou as investidas e não satisfeita, ela lhe entregou um papel com o número do telefone!

- Uaaaauu. - a minha vontade era rir naquela hora e disfarcei bebendo um pouco de suco.

- Sabe que eu gosto muito daquele rapaz? - meu pai afirmou.

- Que rapaz? - mordi um pão de queijo que mais parecia um pedaço de tijolo descendo pela minha garganta.

- Do seu professor! Eu digo rapaz mas ele já é um homem. Parece ser bastante sensato, responsável e ama o que faz na profissão que escolheu.

- Você acha?

- Acho... Ele tem quantos anos? Trinta e cinco?

- Deve ser... - disfarcei, mesmo sentindo uma geleira no meu estômago e me servi com mais um pouco de suco, bebendo em seguida.

- Se ele não tivesse a idade que tem, vocês dois formariam um bonito casal!

No mesmo segundo que ouvi meu pai falar, eu cuspi tudo o que estava na minha boca, respingando pela mesa e comecei a engasgar e tossir sem parar. Eu não estava ouvindo aquilo. Não estava!

- Jacques, por Deus, isso é coisa que se diga??? - minha mãe deu leves tapinhas nas minhas costas e pegou na minha mão na tentativa de parar a minha tosse - Eric é o professor dela! Calma filha, respira...

- Foi apenas uma brincadeira, Nívea. Fica calma.

Senti o alívio aos poucos, conseguindo voltar a respirar mas a geleira do meu estômago dominou o meu corpo por inteiro.

- O professor Schneider respeita muito todas as alunas, papa - finalmente consegui falar após a crise de tosse - E vocês vivem falando que ele se tornou amigo da nossa família!

- Exatamente, minha vida!

- Je suis désolé, mon enfant. - ele pegou na minha mão - Não quis te deixar envergonhada.

- Tudo bem... Só peço que vocês não pensem nada de errado sobre ele.

- Jamais pensamos.

- Querem vir comigo até o quarto ver todos os presentes? - precisava mudar de assunto - Eu aproveito e escolho uma roupa para sairmos hoje.

Terminamos o café e passamos a manhã no meu quarto, conversando e vendo todos os presentes que trouxe da França e os que recebi na festa surpresa. Eram momentos tão maravilhosos entre nós três que cheguei até esquecer por uns instantes o que tinha acontecido durante o café. Quando mostrei o presente da Marina perguntei o por quê de ela não ter ido e minha mãe explicou que no sábado foi o aniversário de uma de suas irmãs. E claro, quando finalmente ela viu, também ficou encantada com o presente que eu ganhei do Eric.

Saímos para almoçar era pouco depois do meio-dia e foi incrível. Meus pais fizeram de tudo para que eu aproveitasse as minhas últimas horas de férias da melhor maneira. Foram fotos em família, fotos dos pratos japoneses... Mas o meu momento perfeito seria quando eu estivesse sendo amada nos braços dele.

***

Voltamos do divertido almoço e no meu quarto já todo em ordem, observei o meu uniforme devidamente arrumado na minha poltrona para o dia seguinte. Próxima da minha mesa de estudos, havia uma folha com o quadro de horários impresso, talvez deixado pela minha mãe. Com certeza eu deveria ter recebido o e-mail mas foram dias muito agitados que me fizeram não ver a minha caixa de mensagens. Um leve sorriso se formou quando peguei o papel e li o nome do Eric preenchido nos dois últimos horários das aulas de segunda-feira. Talvez eu estivesse mesmo mais madura no nosso namoro porque eu não me sentia mais triste por não me encontrar com ele como era no nosso primeiro ano juntos.

Coloquei a folha dobrada dentro da minha mochila junto com o material de aula e quando olhei na tela do meu celular eram duas e meia da tarde. Nenhuma mensagem da Melissa ou do Eric. "Ainda é cedo pra ir..." pensei.

Usando um vestido leve de pequenas florzinhas com mangas largas nos ombros, transpassado nos seios e até o meio das coxas, tirei os sapatos e me deitei com o celular no modo silencioso nas mãos. Só um cochilo não iria fazer mal. Senti meus olhos e minha respiração pesarem... Era o efeito de um sono que iria aos poucos voltar para o horário normal.

***

- Nívea, acorda!!!

Senti uma mão sacudindo meus ombros.

- O que foi? - com a voz rouca e os meus olhos abrindo aos poucos vi a Melissa de joelhos na minha cama com os braços cruzados - Meli?

- E quem mais seria? Eu não tô acreditando que você tá dormindo!

- Foi só um cochilinho... - bocejei - Que horas são?

- Adivinha! Já são cinco e meia da tarde!!!

- O quê???? Ah, meu Deus!!! Eu dormi isso tudo??? - perguntei, me levantando e sentando na cama.

- Dormiu, Bela Adormecida! Tô te ligando e mandando mensagem há mais de uma hora é só estou aqui porque liguei para sua mãe e ela me contou que você tinha dormido.

Peguei o aparelho que ficou do meu lado e tinham várias mensagens e ligações não apenas da ruiva mas também do Eric.

- Ele também me ligou...

- Aham. Acho, só acho que é porque ele está lá igual um imbecil te esperando. Levanta, eu vim aqui só pra te buscar!

- O Lipe também veio?

- Não. Eu vim de Uber e vamos voltar de Uber. Vou compartilhar a viagem com ele.

- Eu vou com esse vestido mesmo...

- Tá ótimo, é mais fácil também - e sorriu pousando o queixo sobre as duas mãos de uma forma meiga. Fingi que não tinha entendido.

Dei um pulo da cama, calcei de volta os sapatos e fui no banheiro apenas para limpar o lápis borrado nos meus olhos e escovar os dentes. Se a minha mãe me viu dormindo, certeza que ficou de cabelo em pé com a maquiagem leve que estava no meu rosto. Coisas de esteticista.

Me despedi dos meus pais e saímos. A única coisa que eles pediram mais uma vez foi eu não voltar tarde para casa.

***

O caminho até o apartamento do Felipe foi tranquilo para um quase início de noite de domingo. Somente a expressão da Melissa dentro do carro não era a mesma depois que eu tinha contado para ela o que aconteceu no café da manhã.

- Eu ainda estou esperando você me dizer que isso é pegadinha, que o seu pai não falou isso... - ela disse com a mão na boca, espantada - Nívea do céu...

- Como eu queria que fosse... - suspirei olhando na direção do vidro da frente do carro. O motorista estava concentrado na direção, pouco se importando com a nossa conversa - Achei que não apenas o suco, mas que iria também colocar o meu coração para fora...

- Você acha que ele está desconfiado de alguma coisa?

- Quem, meu pai? Claro que não, Meli! Ele e a minha mãe nem imaginam. Na verdade, eles sonham com o dia em que irão me ver de mãos dadas com o Frederik oficialmente namorando.

- Bom, isso não dá pra não dizer que vocês dois juntos ficam lindos. O Frederik é um príncipe!

- Que beleza, até você?!

- Ei, calma - fez o gesto de rendição com as duas mãos - Eu sei que não vai rolar nada entre vocês dois. Só estou comentando.

- É o Eric quem eu amo e isso nunca vai mudar - falei firme.

- Eu sei que é o Eric quem você ama - repetiu com a voz debochada e fazendo uma careta.

Chegamos em frente ao prédio e a cada passo que eu dava, meu coração batia acelerado e minhas mãos ficavam mais geladas. Na portaria, acho que o elevador demorou mais do que o normal para chegar ou talvez era a ansiedade me torturando.

Quando finalmente ele chegou, eram poucos os minutos que nos separavam.

Era a primeira vez que estaríamos juntos depois de vários dias e a semana do meu aniversário estaria terminando em forma de um sonho com a diferença de que eu estava bem acordada.

- Pronta? - Melissa me perguntou do lado de fora, com a mão na maçaneta da porta.

- Nervosa... - falei esfregando as mãos uma na outra - É sempre assim quando estou perto de me encontrar com ele. Ainda mais depois de todo esse tempo longe.

- Então se acalma!

A porta estava aberta e quando ela girou a maçaneta, seu grito de "Chegamos!" aliviou um pouco o bom nervosismo que eu sentia. Felipe estava sentado na mesa de jantar com os olhos atentos no seu notebook e quando olhei na direção da sala, Eric estava sentado no sofá com as pernas esticadas usando uma bermuda preta e regata branca que exibia o seu corpo perfeito. Se ele estava vendo algo na televisão, não deveria ser importante porque sua atenção se voltou imediatamente para mim. Não teria mais pessoas entre nós, palavras e gestos contidos pelas próximas horas. Éramos apenas nós dois tendo o nosso casal de amigos em forma de cúmplices do que sentíamos.

- Vem cá... - sorrindo de um jeito sereno, ele esticou o braço para que eu me aproximasse e, sem pensar, fiz o que ele me pediu e sentei no seu colo. Senti a ponta do seu nariz e chupões no meu pescoço, que fez meu corpo reagir como se ele estivesse derretendo. - Será que finalmente vou poder ter você só pra mim?

- Não por muitas horas... - Segurei o seu rosto e dei um selinho apertado nos seus lábios, sentindo a barba macia.

- Eu sei... - ele acariciou de leve o meu rosto, pousando a mão na minha nuca e deslizando o polegar na minha bochecha - Dorminhoca - e rimos.

E sem que eu esperasse, ele se levantou usando toda a força que tinha e me colocou pela minha cintura no seu ombro quase me deixando de cabeça pra baixo.

- Eric, me solta! Tá doido? - Agarrei na blusa dele pelas costas, tentando me equilibrar.

- Tem certeza de que seus pais não vão aparecer? - ele questionou o Felipe, ignorando o meu pedido de me colocar no chão.

- Absoluta - ele respondeu - Almoçamos em família hoje e depois eu vim com a Mel pra cá.

- Ótimo - e começou a caminhar na direção no quarto de hóspedes - Não seremos interrompidos.

- Só não façam escândalo - Ouvi a voz e vi a Melissa saindo da cozinha carregando uma pequena bandeja com um sanduíche e um copo de suco.

Entramos no quarto, Eric bateu a porta com pé e enfim, me colocou no chão, trancando com chave em seguida.

Foi a vez das suas mãos segurarem o meu rosto e a sua testa colar na minha. O beijo no exato segundo era lento, apaixonado com as nossas línguas querendo se tornar apenas uma. Meu coração batia cada vez mais acelerado e a pulsação gostosa por entre as minhas pernas crescia sem controle.

Na ponta dos pés, envolvi os meus braços no seu pescoço não querendo parar de beijá-lo. Senti suas mãos na minha cintura, mais uma vez ele levantou o meu corpo e fiz com as minhas pernas o mesmo que os braços fizeram. Sem desgrudar a sua boca da minha por nada, Eric caminhou lentamente comigo no seu colo até cairmos na cama de solteiro que havia no quarto, com o colchão quicando debaixo de nós.

Suas mãos penetraram pelos fios dos meus cabelos e o seu beijo explorava cada canto da minha boca, seguido de vários selinhos pelos meus lábios.

- Eu sonhei com essa boca... - sussurrava enquanto seus beijos e chupões se espalhavam pelo meu rosto como se quisesse me provar - Com essa boca e com o seu gosto de fruta...

- Então eu vou mudar de perfume... - provoquei, sentindo meu colo subir e descer...

- Coloco você em três dias de suspensão, se fizer isso... - disse no meu ouvido e eu ri, com os arrepios tomando conta da minha pele.

Suas mãos deixaram a minha nuca e abaixaram o meu vestido devagar com a sua boca beijando o meu pescoço, o colo e chegando nos meus seios. Eric abocanhou um deles como se estivesse desesperado por isso. A boca sugava, a língua circulava pelo meu bico e ao mesmo tempo mordia de leve, deixando o meu corpo febril de tanto desejo.

- Eu quero você, Eric... - pedi com as mãos acariciando os seus cabelos e o meu vestido sendo tirado - Por favor...

- Foi muito tempo longe de você, meu amor... - já sentia o meu vestido embolado na cintura - Não tenho nem um pouco de pressa...

Eric se ergueu, ficando de joelhos entre as minhas pernas e terminou de tirar o vestido junto da minha calcinha, jogando as peças longe. Eu já estava totalmente ensopada quando o encarei e percebi o volume apertando a sua bermuda. Seus lindos olhos azuis estavam hipnotizados pelo meu corpo e seus dedos começaram a deslizar por dentro das minhas coxas, acariciando a minha virilha e o meu ventre. Eu não conseguia segurar o tesão que parecia uma fogueira dentro de mim e apesar de todo o tempo longe um do outro, Eric parecia conhecer em detalhes a forma como eu reagia.

Uma das mãos pousou e acariciou o meu baixo ventre e, mesmo deitada, meu corpo se ergueu da cama quando o seu dedo polegar começou a circular lentamente no meu ponto mais sensível e inchado.

- Eric, não...

- Shhiiuu - ele pousou a outra mão na minha boca e abriu mais as minhas pernas com os joelhos, deixando uma bem longe da outra - Vai gozar no meu dedo como uma boa menina... - Sua mão segurava o meu rosto e seu outro dedo desenhava o contorno dos meus lábios - Você é ou não é minha aluna obediente?

Apenas fiz que sim com a cabeça e beijei a ponta.

Olhando nos olhos, Eric continuou aquela provocação deliciosa e eu sabia que não iria demorar muito a acontecer. Mordi o lábio para conter um gemido e meu corpo inteiro implorava por alívio. Além da carícia, seu dedo do meio me invadiu piorando tudo. Não que fosse algo ruim.

- Eric.... Ahhh....

Senti seu dedo sendo esmagado sem parar e a explosão que o meu corpo precisava surgiu em forma de ondas e me senti flutuando, sendo puxada de volta seguida. Foram os segundos mais deliciosos que uma garota poderia sentir quando ela é realmente amada.

O fôlego me faltava mas eu não queria que parasse. Habilidoso como só ele era, Eric se livrou das suas roupas rapidamente exibindo aquele corpo nu e delicioso. Se encaixou por entre as minhas pernas, sem me penetrar e continuou a me beijar.

- Você gosta de me torturar... - falei ainda ofegante e sentindo ele sorrir, com o rosto coladono no meu, arranhando os pelos da barba na minha pele.

- Uhum... Amo o seu corpinho reagindo, amo ver você gozando...

Eric ergueu as minhas pernas e colocou em volta da sua cintura e eu delirei inclinando a cabeça para trás quando ele enfim, se enfiou dentro de mim.

- Era o meu pau que você queria, danadinha... - disse beijando o meu rosto, estocando e ficando dentro de mim para estocar mais uma vez, me fazendo vibrar debaixo dele.

- Era... - Agarrei as suas costas enormes, arranhando a sua pele - Não tira...

Seu peitoral me esmagava quase me sufocando porém eu não ligava. Queria pertencer ao Eric como todas as outras vezes em que eu pertenci a ele. Eu o amava tanto e o fiz olhar nos meus olhos enquanto o seu corpo amava o meu. Queria olhar naquele céu azul que só meu.

- Eu te amo...

- Também te amo, ma petite...

Suas mãos grandes agarraram nos meus quadris e pude sentir tudo até o meu útero. O orgasmo se aproximava quando ele se esfregava onde pouco antes seu dedo me provocava.

Me agarrei nele com toda força que podia e gozei de novo. Eric gemia no meu ouvido e continuava dentro, socando sem parar, acelerando os movimentos até que eu senti todo o seu gozo quente em mim.

Era o cheiro de suor, do sexo, dos nossos perfumes... Tudo estava ali grudado naquela cama a qual não éramos acostumados a fazer amor. Mas era bom porque ficamos mais perto um do outro praticamente grudados.

A respiração pesada no meu pescoço me fazia esboçar um leve sorriso. Estávamos mais apaixonados do que nunca.

Eric me puxou, deixando o meu corpo de lado e frente a frente com o dele. Em silêncio apenas nos encarando, seus dedos passeavam pela ponta do meu nariz e no meu rosto um pouco úmido pelo suor.

- Nem acreditei quando vi você na hora que eu cheguei em casa - pousei a minha mão no seu rosto, acariciando a barba - Matei a saudade de você mais cedo...

- Sentiu mesmo saudades?

- Claro que senti, você não acredita em mim?

- Mais ou menos - ele se ajeitou no travesseiro, virando o corpo e olhando na direção do teto enquanto ajeitava o cabelo um pouco para trás - Fiquei sabendo de uma festa universitária em Lyon, sabe? E uma linda mocinha se infiltrou nela sem ter idade pra isso. Por qual motivo sentiria saudade do namorado?

- Ah, Eric... - falei com a voz manhosa e fiquei deitada e por cima no seu peitoral, com meu rosto perto do dele - Foi a comemoração do meu aniversário com a minha madrinha e os meus primos, poxa! Não teve nada demais, eu juro!

- Então por que escondeu de mim?

- Eu não escondi, só não te contei. É diferente.

- Nívea...

- Eu ia te contar sim, quando estivéssemos sozinhos. E além disso você mesmo me falou lá em Chamonix que Eu preciso saber e entender que o nosso amor é maior do que qualquer coisa que possa aparecer para me atingir. Qualquer coisa e qualquer pessoa. Foi ou não foi? Eu não esqueci mais.

- Foi, mas isso... - antes que ele continuasse, eu cobri sua boca com as duas mãos.

- Então você precisa confiar em mim também!

Ele deu um leve suspiro e senti sua respiração quente nas minhas mãos, rendido. Foi quando eu tirei e pousei no meu queixo o encarando e percebendo que ele ainda estava sério.

- Eu só não quero que você me esconda mais nada. Me promete?

- Prometo. - apertei os meus lábios nos dele, sentindo seu abraço. - Mas que a festa foi muito legal, isso foi!

- Com certeza foi. - ele pousou um braço no alto da cabeça, enquanto que me encarava e desenhava com os dedos o contorno dos meus lábios - Um bando de imbecis universitários olhando pra sua bunda, te vendo rebolando até o chão.

- Se olharam eu não percebi!

- Mas foi bom a gente tocar nesse assunto, porque eu tenho algumas coisas pra conversar com você...

- Sobre?

- Essa sua habilidade com os números que eu não conhecia. Tive que conferir com os meus próprios olhos e hoje de manhã eu entrei no site do colégio, acessando o seu histórico desde o sexto ano.

- E teve ainda mais certeza de que eu sou a melhor aluna em tudo, acertei? - sorri debochada. - Sua melhor aluna.

- Acertou. Suas notas nas matérias de exatas são incríveis. Com vários dez.

- E isso não é bom?

- É, é bom sim. É ótimo. Razão suficiente para você começar a pensar na sua vida universitária.

- Eu não quero pensar nisso agora, Eric! - me levantei de cima dele, ficando sentada de joelhos e com a cara fechada - Ainda tem muito tempo até eu decidir o que eu vou estudar.

- Nivea, isso é importante - ele também se levantou, ficando sentado - Quanto mais cedo você pensar nisso, melhor. Na hora de você escolher um curso, as chances de você ficar indecisa serão bem menores.

- Vai querer que eu estude Literatura igual a você?

- Não, eu não vou. Você vai estudar o que quiser. Só quero que comece a pensar a respeito. Amanhã começa o primeiro dia do seu último ano e esse será um dos principais assuntos entre os seus colegas de turma.

- E se eu não quiser pensar? Eu acho isso tudo muito chato!

- Chato? A escolha de um curso de graduação você acha que é chato?

- Acho! Meus pais não me pressionaram nem um pouco, por que você vai me pressionar? Fora de sala de aula vai virar meu professor também? Eu e você somos namorados ou não?

- Você não quer nem conversar sobre isso?

- E pra quê? Eu disse que ainda falta muito tempo!

- Tá bom - ele concordou, desistindo da conversa.

- Eu não quero mais falar disso.

- O que significa que eu não vou esquecer a respeito! - ele disparou e eu revirei os olhos.

- Pode esquecer ele por hoje?

- Posso. Com uma condição.

- Qual?

- Que você me envie a sua foto com a boca suja de chocolate quando era bebê.

- Ah não, Eric! Aquela foto não! - me joguei na cama, afundando a cabeça na outra ponta do colchão querendo sumir.

- Vou colocar ela na minha área de trabalho do meu notebook - ele me puxou pela cintura, me agarrando por trás e cheirando os meus cabelos - e também na tela do meu celular.

- Aquela foto é horrorosa! Me pede qualquer outra coisa! - me virei de frente pra ele, envolvendo meus braços no seu pescoço - Menos isso.

- Eu tô apaixonado pela aquela foto, ma petite...

- Eu te mando várias outras fotos minhas quando eu era bebê. Pronto! Resolvido!

- Eu quero aquela - foi enfático, me deixando ainda mais de cara amarrada - E se ficar com essa carinha emburrada eu faço um pôster dela!

- Chato.

- Gostosa - sua boca veio direto no meu pescoço, me enchendo de beijos e me deixando arrepiada.

- Eu te envio a foto mas também te dou uma condição.

- Qual? - continuou me beijando e chupando.

- Que você vá para Búzios no Carnaval e a gente se encontra por lá.

Automaticamente sua boca parou na minha pele e ele voltou a me encarar com a expressão no rosto mais séria do que estava quando conversávamos sobre a minha futura graduação.

- Eu não vou viajar, Nívea.

- Por que não? Sou eu que estou pedindo... - e acariciei o seu rosto.

- Exatamente pela razão que expliquei ontem para a sua mãe mas aqui com você eu posso te dar mais detalhes. Essa viagem para França me quebrou financeiramente. O Felipe disse que não precisava mas eu faço questão de reembolsar todo o valor das passagens que ele tirou pra mim. Talvez e com muita sorte, eu consiga quitar essa dívida até o meio do ano.

- Você podia ficar só um dia e a gente se encontrava... Se não puder ficar osNão dá! Não é só a viagem, em janeiro eu tive um monte de coisas para pagar. É imposto do carro, do apartamento onde eu moro... Sabe a vida adulta? Pé na realidade? Pois é, coisas que você não sabe!

Senti a dureza das palavras bem no meio do meu peito e engoli em seco. Abaixei a cabeça, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e não consegui dizer mais nada.

- Tá bom... - foi o que saiu quase em um sussurro - Se você não pode, tudo bem...

E me virei, ficando de costas para ele com as pernas dobradas, apoiando a minha cabeça de lado nos dois joelhos.

Seriam muitas coisas que eu teria que entender dali pra frente e não era apenas a força e a verdade do nosso sentimento. O resultado de uma diferença de idade entre o Eric e eu estava aparecendo naquele momento para mim.

Ele era um homem adulto mas eu nunca me importei com isso quando me dei conta do quanto estava ficando cada vez mais apaixonada e dos minutos que faltavam pra estar junto dele.

No entanto, nossas realidades além do amor eram diferentes.

- Ei... - as mãos dele pousaram nos meus ombros e ele se aproximou, me abraçando de novo pela cintura - Desculpa... Não quis ser grosso com você... - se justificou, deixando beijos no meu pescoço até a ponta da minha orelha.

Eric puxou o meu corpo e nos deitamos, ficando abraçados. Meu rosto sentia o carinho de uma das suas mãos e ele beijava o topo da minha cabeça, enquanto eu sentia seu coração bater.

- Fica complicado pra fazer uma viagem assim, entende? Mas é tudo verdade isso o que eu te contei.

- Aos poucos eu vou começando a entender a vida adulta. Meus pais trabalham e tem responsabilidades, então você também tem.

- Isso mesmo... - e riu - Daqui a um ano você fará parte desse mundo. Talvez sem a parte dos boletos para pagar.

- Verdade - concordei e virei meu rosto o encarando - Pensei em uma coisa...

- No que?

- O que você acha de assumirmos o nosso namoro no meu aniversário de dezoito anos?

- Não é uma má ideia.

- Eu serei maior de idade e os meus pais não vão poder nos proibir de ficarmos juntos.

- E se eles proibirem? A chance disso acontecer é real. Eu tenho idade para ser o seu pai, Nívea.

- Mas você não é! - segurei no seu rosto, lhe dando vários selinhos - E eu não vou desistir de nós dois.

- Eu também não, ma petite...

Nosso beijo ficou mais intenso e era a prova daquela promessa que tínhamos feito um para o outro. O encaixe das bocas e as línguas brincando aumentava o calor entre as minhas pernas com as minhas mãos segurando no seu tronco. Senti a ponta dos seus dedos deslizarem pela minha coluna e voltando lentamente, me causando um arrepio, até as duas mãos acariciarem os fios do meu cabelo. Eric me virou rapidamente, me deixando por baixo e rompeu o beijo com uma leve mordida no meu lábio inferior. Meu corpo implorava mais uma vez pelo corpo dele e eu me esfregava sentindo a ponta do seu membro rígido na minha entrada úmida.

- Vira pra mim... - sussurrou e se levantou. Fiz o que pediu, ficando de quatro e empinando o meu bumbum o máximo que pude.

Mordi o lábio para não gemer alto quando senti a ponta deslizando e me provocando na entrada, cravando minhas unhas com força no travesseiro.

Meu corpo tremeu quando Eric me invadiu de uma vez, com as mãos segurando por dentro das minhas coxas. Estocou firme e ficando dentro de mim, me fazendo pulsar sem controle.

- Rebola pra mim, meu amor... - toda empinada fiz o que ele pediu, amando cada segundo daquele momento - Isso...

Não consegui segurar um gemido que saiu da minha garganta e senti meus cabelos sendo deixados de lado quando o rosto do Eric se juntou ao meu e os nossos corpos se tornaram um só.

- Minha cadelinha deliciosa... - o tesão aumentou mais ao ouvir a voz deliciosa e rouca junto de uma mordida na ponta da minha orelha.

- Sua... - sussurrei.

- Minha... - me agarrou pela cintura, estocando lento e firme querendo prolongar o prazer entre nós dois.

Virei o meu rosto e busquei pela sua boca no que ele correspondeu no mesmo instante, me segurando de leve pelo pescoço. Ainda no vai e vem e me agarrando pela cintura, seu corpo enrijeceu de repente. Eric se derramou dentro de mim e sua boca desgrudou da minha, buscando por ar. Ofegante, continuamos grudados.

- Eric...

Sua boca chupava o meu pescoço, marcando a minha pele e uma das mãos pousou na minha buceta acariciando e buscando me levar ao orgasmo que ele teve antes de mim.

- Eu não resisti, me perdoa... - sem perceber, comecei a rebolar no seu dedo que brincava onde eu ansiava gozar pela terceira vez - Relaxa... - me pediu baixinho, mantendo o seu rosto grudado no meu.

Meu coração acelerou e segurei com toda força que pude no travesseiro, quando me juntei ao Eric indo ao céu e vendo estrelas. Estava toda ensopada e pulsava sem parar quando desabei na cama, sentindo o corpo dele por cima do meu. Depois de recuperar meu fôlego, nos deitamos em forma de conchinha.

- Você não cansa... - brinquei enquanto sentia meu pescoço sendo sugado.

- Não... - Seu braço cruzou com o meu, entrelaçando nossos dedos.

Terminar a semana do meu aniversário sendo amada pelo homem que eu achava o mais lindo do mundo. Acho que superava o presente que ele mesmo havia me dado. Ou não. Ou os dois eram perfeitos.

***

Acordei com as batidas na porta sem parar e me sentei na cama, ainda um pouco tonta. Era normal cochilar depois de tudo o que havia acontecido.

- Volta pra cá, volta... - ele agarrou na minha cintura, cheirando os meus cabelos.

- Deve ser a Meli batendo na porta... - Levantei e busquei o meu vestido no chão, colocando rapidamente por cima da cabeça e em seguida a calcinha. Fui até a porta, abrindo bem lento deixando apenas a minha cabeça à vista.

- Interrompi alguma coisa? - Melissa perguntou sem jeito.

- Não. - sai do quarto, fechando a porta bem atrás de mim - O que houve?

- Sua mãe ligou pra mim agora e está espumando. - mostrou o celular com a tela voltada na minha direção - Já passa de dez e meia da noite.

- Ah, meu Deus! Eu esqueci o meu em casa!

- Aham, ela falou isso. Liga! - me entregou o aparelho.

Cliquei de volta na última ligação e esperei.

- Filha!!! - a voz dela do outro lado estava um pouco aflita - Já viu que horas são?

- Eu sei, mãe. - Fui andando até a sala - Desculpa! Eu deixei o meu celular no meu quarto e a gente ficou vendo filme. Não vi a hora passar. - Me virei para a Melissa e ela concordou com a cabeça, fazendo o sinal de positivo pela bela desculpa.

- Eu percebi quando te ligava e você não atendia, então liguei para a Melissa. Se fosse dia de sábado não teria problema, você sabe disso...

- Eu sei, não fica brava comigo!

- Não estou brava, só fiquei preocupada por causa da hora. Já está tarde.

- Tá bom. Eu estou indo agora. Um beijo.

- Outro - e encerrei a ligação.

- Eu tenho que voltar pra casa... - falei um pouco tensa pra ruiva.

- Fica calma... - ouvi a voz do Eric atrás de mim me abraçando por trás - Eu te levo embora...

- Eu não arriscaria - Felipe aconselhou, sentado no sofá, vendo alguma coisa na Netflix - É melhor a Nívea voltar comigo e a Mel.

- O Fê tá certo - me virei e ficamos de mãos dadas - Não é bom arriscar alguém te ver.

- Só queria ficar mais um pouco com você.

- Amanhã a gente se vê de novo. E em todas as segundas-feiras - sorri.

- Me anima muito ter que voltar a te chamar de Mademoiselle Martin em sala de aula.

- Mas é o que eu sou. Principalmente eu indo sentar no fundão com os meus três amigos e o Frederik do meu lado.

Melissa começou a gargalhar alto e Felipe também riu da provocação.

- Eu daria a minha vida para ver essa cena - ela continuou a rir.

- Eu vou entrar naquela sala amanhã e quero ver você no seu lugar de sempre, entendeu?

- Vou pensar - sorri cínica.

- É melhor irmos logo - Felipe desligou a TV e eu puxei o Eric pelo braço em direção à porta e ficamos no corredor esperando pelos nossos amigos desligarem tudo e fechar o apartamento.

Me despedi do Eric na calçada do prédio e voltamos os três para casa. Antes de abrir a porta, coloquei os meus cabelos para frente, cobrindo o meu pescoço com as marcas deixadas pelo Eric. Quando girei a maçaneta e entrei, encontrei minha mãe vendo TV usando seu hobby branco de seda.

- Minha vida - ela se levantou do sofá vindo até mim - Não faça mais isso - e me abraçou.

- Nunca mais vai acontecer, eu prometo. Et mon père ?

- Já foi dormir. Só ficou tranquilo quando eu consegui falar com você.

- Vou pra cama.

- Quero só ver se você vai acordar no horário.

- Vou colocar o despertador no máximo, pode deixar.

Andamos juntas abraçadas pelo corredor e cada uma foi para o seu quarto. As comemorações de dezessete anos terminaram e o início de mais uma etapa na minha vida começaria no dia seguinte. Era o que eu me peguei pensando quando saí do banheiro enrolada na toalha de banho e apenas com a luz do abajour iluminando o meu quarto.

Vi meu notebook aberto e me sentei na mesa de estudos. Deslizei meu dedo no touchpad, surgindo a minha foto com os meus pais passeando por Lyon. Cliquei na pasta que tinha as minhas fotos de infância e salvei a tão falada foto na área de trabalho. Fiz todo o passo a passo para ativar o WhatsApp web e por fim enviei para o Eric a foto que ele havia me pedido junto de um emoji gigante de coração.

Own, merci, Ma petite...

Depois eu te envio as outras...

Tá bom. E sua mãe? Brigou muito? rs...

Não. Foi tranquilo.

Eu sabia que seria.

Vc sempre sabe de tudo,rsrs Até amanhã. Je t'aime

Je t'aime ma petite

Fechei a conversa, pus uma camisola e após apagar o abajour, finalmente me deitei na minha companhia em forma de boneca. E mais um ano letivo começaria em poucas horas.

Continua...

Notas da autora:

Demorei muito? Sentiram saudades? Eu sei que a ansiedade de vocês com o início desta temporada estava nas alturas. Mas eis me aqui retornando nesta data tão especial que é o aniversário de dois anos deste romance cujo presente quem está ganhando são vocês. Como o tempo passou rápido...

Espero que tenham gostado deste primeiro capítulo que já mostra mais ou menos como as coisas irão se desenrolar ao longo da trama. E que eu consiga transmitir a maturidade da nossa protagonista em um momento tão decisivo da sua vida ao lado do Eric.

Gostaria de agradecer imensamente ao meu querido leitor Ruan Carlos que muito gentilmente formou uma parceira comigo e escreveu o desenvolvimento da cena do jogo Banco Imobiliário. Muito obrigada mesmo.

E é claro, quero agradecer a cada um de vocês que tiveram toda a paciência do mundo e continuam aqui comigo acompanhando esta história após este longo hiato entre as duas temporadas e tendo o Especial da Helena como aperitivo.

Je ne sais pas, papa = Eu não sei, pai.

Je suis désolé, mon enfant = Me desculpe, minha filha.

Je sais, papa ! Et merci ! = Eu sei, pai. E obrigada.

Et mon père ? = E o meu pai?

Pas question = De jeito nenhum

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Foto de perfil de Ana_EscritoraAna_EscritoraContos: 63Seguidores: 174Seguindo: 34Mensagem "Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo." Toni Morrison

Comentários

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Conto pra quem gosta de uma literatura de qualidade. Tem sexo? Sim, mas é só um detalhe. E quando chega na cena de amor, é excitante, mas sobretudo romântico e narrado com arte.

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Excepcional, a aguardar os próximos capítulos

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Muito mais que um simples conto, é uma história super elaborada, detalhada e bem escrita. Li ao longo do dia em vários momentos, ainda me ambientando ao relacionamento da Nivea com o Eric, e ansioso pelo desfecho delicioso dos dois. Adorei, perfeito!

PS: deu até vontade de jogar Banco Imobiliário no final de semana! 😉

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Não é um relacionamento fácil. Tanto que decidi não colocar nenhuma vilã ou vilão que atrapalhe o relacionamento dos dois. O próprio namoro "às escondidas" já é uma bomba relógio em si.

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Já me aconteceu de falir o banco antes mesmo de vencer meu irmão em uma partida entre nós dois. Na época havia apenas o Banco Imobiliário com dinheiro físico. Sem essa frescura de cartão de hoje em dia kkkk

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