Peguei as chaves de meus brinquedos, um sedan médio branco de uma marca francesa e uma Fat Boy vermelha com detalhes em preto, e Marcos a minha mala. Descemos até a portaria e entreguei as chaves para seu Tiãozinho que se incumbia de ligar seus motores um pouco a cada dois ou três dias só para mantê-los lubrificados e a bateria em dia, e saímos. Por fim, pedi que também alimentasse meus bichinhos e seus olhos brilharam.
Capítulo 5 - Meu cafofo, seu cafofo.
Bons minutos depois, num trânsito que parecia não querer cooperar, chegamos ao apartamento duplex da dona Eugênia num luxuoso prédio em Higienópolis, onde fui instalada numa suíte ao lado da dela:
- Você é minha convidada. Quero que se sinta à vontade. Se precisar de qualquer coisa, é só me falar. - Ela falava enquanto me ajudava a organizar minhas roupas num imenso guarda-roupas: - Adorei seus vestidos! Você tem muito bom gosto.
- Obrigada, dona Eugênia, mas eu não queria estar aqui dando trabalho.
- Trabalho algum, querida. Vou pegar algumas toalhas porque, com certeza, você deve querer tomar um banho, não é?
- Sim! Quero.
Ela saiu e voltou rapidinho. Se sentando ao meu lado na cama e me encarou:
- O que foi? - Perguntei.
- Vou ficar com você no banho.
- Eu estou bem. - Respondi, meio constrangida.
- Eu acredito, mas ainda assim quero ter certeza. Só hoje, ok? - Falou, colocando sua mão sobre a minha: - E eu já te vi pelada mesmo, então…
- Tá bom. Tá bom…
Tomei um banho rápido, mas bastante relaxante. A pressão da água do chuveiro era ótima! Pareciam pequenas agulhas batendo de leve no meu corpo e cheguei a me recostar com os braços no revestimento do banheiro, deixando-a preocupada:
- Está tudo bem aí, querida? - Me perguntou.
- Ah, sim! Como está bom. - Respondi.
Ela então viu que eu estava apenas curtindo a pressão da água e relaxou. Aliás, ela ficou todo o momento sentada no vaso sanitário conversando comigo até eu terminar meu banho. Saí, me sequei e depois de enxugar o cabelo, fui escolher um vestido. Ela veio até mim e começou a me ajudar a secá-los ainda mais, passando a penteá-los logo depois:
- Adorava fazer isso nas minhas filhas… - Disse, rememorando seu passado.
- Filhas?
- Sim. Tenho duas: Duda e Nana. Você ainda vai conhecê-las. Duda é casada, mãe de dois meninos, Felipinho e Ricardinho. Já Nana é divorciada e ainda não pariu. É a caçula e meio maluquinha, mas gente boníssima. Só não deu sorte ainda.
- Ai!… - Gemi, ao sentir meu cabelo ser puxado mais forte nesse momento.
- Opa! Desculpa, querida.
- Tudo bem.
Coloquei uma calcinha básica na cor “nude” e uma calça jeans com uma camiseta discreta que até dispensaria o uso de sutiã. Ainda assim fiz questão de usá-lo, afinal, não estava em minha casa e não poderia abusar da boa vontade dela e dos hormônios do Marcos. Saímos em direção a sala de estar, conjugada com sala de jantar e cozinha onde uma senhora de cor preparava uma iguaria:
- Annemarye, esta é a Fátima. - Me apresentou a ela.
- Prazer, Aninha. - Ela falou ao se virar para me olhar.
Fui até ela e lhe dei dois beijos no rosto, como fazemos no interior de Minas Gerais e ela arregalou os olhos, surpresa com minha atitude e me dando um terceiro:
- Uai! Já gostei da menina, dona Eugênia. - Respondeu sorridente: - E é “treis” pra “casá”.
- Uai! A senhora é mineira?
- Sou sim, sô! Você também?
- Sou, uai!
Dona Eugênia começou a rir da forma como nós duas conversávamos. Depois, ela própria nos serviu de café, leite e um belo bolo de fubá cremoso com gostinho de interior:
- Hummm… - Gemi: - Que delícia! Lembra o que a minha faz.
- Brigada, Aninha. Esse eu fiz hoje cedo, mas tá levinho ainda.
- Está uma maravilha, Fátima.
Dona Eugênia me olhava de uma forma que transitava entre a curiosidade e o deslumbramento. Eu não entendia bem, mas acho que estava agradando. Ela não comeu, mas me serviu umas três vezes que eu me lembro. Tomei um café preto com aquele bolinho delicioso e nisso ela me acompanhou. Um tempo depois, Marcos apareceu de banho tomado, cheirando a um sabonete com notas amadeiradas e chegou dando um beijo na face da Fátima também, perguntando:
- O que você está fazendo de gostoso pra gente hoje, Neguinha?
- Lasanha de quatro queijos. - Respondeu e me encarou, piscando: - Será que a mineirinha bonita vai “gostá”?
- Será que uma mineira gosta de queijo, Fátima!? - Brinquei com ela, assim que terminei de lamber e chupar um dedo com restinho do creme do bolo.
E gostei mesmo! Comi como há muito tempo não comia. Eu adoro queijo, mas aquela lasanha estava deliciosa demais. Tudo bem que para alguém que havia acabado de comer uma comida insossa de hospital qualquer comida seria ótima, mas aquela estava realmente maravilhosa! Após isso, ficamos de papo na sala e senti como se tivesse tido um apagão. Depois, a própria dona Eugênia me contou que notou que eu cochilava encostada nela e me ajudou a ir até minha suíte, me guiando pelo braço, onde me colocou deitada e onde fiquei. Eu acreditei, porque não me lembrava sequer de ter desejado “boa noite” para eles.
No dia seguinte, apesar de me sentir um peixinho fora d’água, dona Eugênia, realmente fez de tudo para eu me integrar em sua vida. Aliás, até demais, pois passou a me mimar e querer saber os meus gostos para realizá-los. Claro que não deixei, mas ainda assim ela grudou em mim para me deixar menos deslocada. Quando não era paparicada por ela, era pelo Marcos e ele se mostrou uma companhia tão boa, senão até melhor que a dela: conversava comigo, brincava sempre que podia, me aporrinhava quando dava, aliás, nós dois, um com o outro. O dia passou voando e, no início da noite, estranhei uma conversa dele comigo num momento em que a dona Eugênia havia se ausentado para tomar seu banho:
- Você se lembra de alguma coisa da noite em que dormiu no hospital? - Me perguntou.
- Não. - Respondi, o encarando curiosa: - Por que? Dei vexame?
- Não… - Titubeou: - Não necessariamente…
- Marcos, o que foi que eu fiz?
- Nada. Bem, nada além de falar dormindo.
- Eu!? Mas eu não falo dormindo. Pelo menos, eu acho que não.
- Ah, mas falou. - Disse e começou a rir.
- O que foi? Conta pra mim. Eu quero rir também.
- Deixa pra lá, Anne. Outro dia te conto.
- Fala! - Insisti e me aproximei dele, encarando-o: - Eu vou ficar chateada com você.
- Acho que foi um sonho erótico. Eu não entendi muito bem… - Disse e riu novamente: - Mas você geme bonitinho.
Eu arregalei meus olhos para ele, sem saber o que falar. Se existe uma cor mais escura que o roxo, eu fiquei naquele momento. Me recostei no sofá para não encará-lo, mas ele começou a brincar comigo. Chorei de vergonha porque eu acreditava no que ele havia falado, pois me lembrava de um sonho do tipo realmente e, o pior, eu parecia lembrar dele como um dos atores. Ele se compadeceu de mim e me deu um abraço carinhoso:
- Fica tranquila. Não falou nada demais. Além disso, uma enfermeira disse que provavelmente foi efeito dos medicamentos.
Apenas balancei a cabeça, afirmativamente no início por concordar com sua explicação, negativamente logo depois por não acreditar em mim mesma. Me acalmei e sequei minhas lágrimas, afinal, já havia feito e não poderia ser desfeito:
- Falei algum nome? - Perguntei.
- Não. Claro que não.
- Ai, Marcos, eu falei?
- Não. Não falou. Fica tranquila.
Acabei me resignando e fiz questão de esquecer essa passagem. Naquela noite, após uma intensa jogatina de poker entre nós dois, ganhei cem reais dele, mas não o cobrei, apesar dele insistir e expliquei que eu não jogava por dinheiro, só por diversão. Dormi tranquila, mas não antes sem lhe desejar uma “boa noite”, seguida de um carinhoso beijo no rosto. Devo ter exagerado, pois a dona Eugênia me sorriu de uma forma que me arrepiou quando fui lhe dar um beijo de “boa noite”.
Dormi muito bem nessa noite, porém estranhei quando o Marcos entrou em minha suíte para me dar novamente um beijo de “boa noite”. Só que o safado errou meu rosto e acertou o canto da minha boca, aflorando as lembranças de quando ficamos em Nova Iorque. Eu já estava carente, não transava há quase um mês e depois daquele quase beijo, com ele me encarando a menos de um palmo de distância e do sonho que tive com ele, não pensei duas vezes em puxá-lo para mim. Ele estava quente, fervendo e empurrou o short de seu pijama rapidamente, desnudando-se. Puxei a calcinha de minha camisola para o lado e peguei seu pau, intencionada em guiá-lo dentro de mim. Entretanto o que segurei me impressionou, pois ele não parecia portar um espécime daquele, grande mas não exagerado e grosso ao ponto de não consegui-lo envolver com meus dedos. Eu o encarei, surpresa e sorri, colhendo um lindo sorriso de volta. Ele me beijou cuidadosamente, ciente de meus ferimentos, mas ainda assim foi um beijo muito bom. Fui o mais cuidadosa e silenciosa possível, mas não pude abafar completamente meu gemido ao ser penetrada por um pau maior e mais grosso do que eu esperava. Quando o senti encostar em meu útero, forçando-o ainda mais, tive meu primeiro orgasmo de dias, me retesando toda sob ele:
- Aiiii, Marcos. - Gemi em seu ouvido: - Ahhhhhhhh...
- O que foi isso? - Perguntou, sorrindo para mim.
- O que você acha… que foi… isso? - Sorri de volta, ainda tentando controlar minha respiração.
- Mas eu nem comecei e você…
- Ai… Para de falar e me come. Capricha! - O interrompi, enlaçando-o com meus braços e pernas: - Eu quero mais!
Ele passou a me penetrar forte e fundo, e cada vez que a cabeça de seu pênis empurrava meu útero, era impossível não gemer. Não era dor, era uma sensação diferente, incômoda e gostosa, muito gostosa:
- Ah! Ai, Marcos... Ai, Deus! - Gemia, mordendo sua orelha.
- Você é muito mais gostosa do que eu podia imaginar, caipirinha.
- Me fode gostoso, vai. Aproveita que sou toda sua! Me fode, vai. Ai! Macho gostoso, tesudo...
Ele passou a acelerar ainda mais seus movimentos e comecei a gemer mais alto:
- Para… Para! - O empurrei para que parasse: - Vamos acordar sua mãe desse jeito...
- Num bar!? - Me perguntou, surpreso.
- Oi!? - Perguntei mais surpresa ainda.
Passei a olhar para os lados e me localizei sobre uma espécie de palco ou mesa, enquanto várias pessoas nos observavam, comentando e sorrindo. Nisso, voltei a encará-lo assustada e vi aquele loiro que havia me golpeado atrás do Marcos, com uma espécie de porrete na mão:
- Marcos, para, para! Ele vai te acertar. - Comecei a gritar, mas não antes dele ser atingido por dois golpes na cabeça, jorrando sangue por todo o lado.
- Não, não, não, não! - Comecei a gritar, me debatendo.
Comecei a chorar compulsivamente ao ponto do ar me faltar. Nesse momento, luzes se acenderam e a dona Eugênia veio ao meu encontro, me abraçando forte:
- Calma, Anne. Estou aqui. Fica calma, menina.
Ainda atordoada, abri meus olhos e me vi sentada, tremendo igual uma vara verde sobre a cama. Fiquei ainda mais perdida:
- O Marcos? - Acabei perguntando, entre lágrimas: - Cadê ele?
Nesse momento, ele chegou correndo na porta do quarto, coçando os olhos e querendo saber o que havia acontecido. Quando eu o vi, bem e saudável, vestido apenas com um confortável pijama de algodão e se sentando ao meu lado, soltei a dona Eugênia e passei a olhar, ainda meio aturdida, seu rosto e cabeça, tateando-o todo:
- O que é aconteceu, Anne? - Ele me perguntou, sorrindo e nos olhando, sem nada entender.
Eu me joguei sobre seu colo e o abracei forte, desandando a chorar ainda mais, mas agora de alívio por ter sido apenas um pesadelo. Ele acariciava minhas costas e olhava assustado para a mãe que foi buscar um copo de água para tentar me acalmar:
- Ah, meu Deus! Meu Deus… - Eu balbuciava enquanto o abraçava forte e continuei chorando até a dona Eugênia retornar com o copo de água que ela me obrigou a beber de uma vez, adoçado ao extremo.
Depois de um tempo, e já devidamente adocicada, comecei a me acalmar e fui me soltando de seu pescoço. Eles me olhavam preocupados e a dona Eugênia quis saber o que havia acontecido. Eu mencionei apenas a parte final, quando o delicioso sonho havia se tornado um pesadelo, e eles se surpreenderam, aliás, ele, porque ela, psiquiatra, já devia imaginar o que se passava na minha cabeça:
- Ora, ficou preocupada comigo? - Ele tentou brincar, mas eu não queria interagir.
- Para, Marcos. Poxa… - Choraminguei, ainda soluçando.
Mesmo assim acabei começando a rir feito uma boba na frente deles por tê-los acordado, tentando esconder minha cara envergonhada em minhas próprias mãos:
- Desculpa, gente. - Pedi, chateada comigo mesma.
- Fica tranquila, querida. Pesadelos acontecem… - Dona Eugênia me acalmava, alisando minhas costas: - Tenta dormir um pouco para descansar.
- Dormir!? Acho que não consigo. Vou navegar um pouco no celular. Quem sabe mais tarde. Talvez… - Respondi tentando não encará-la.
- Chega pra lá, Anne. - Marcos me pediu: - Vou ficar aqui conversando com você um pouco até seus carneirinhos voltarem.
- Meu rebanho está todo espatifado…
- Por isso mesmo. Vamos papear um pouco.
Saí de seu colo, me deitando, sem saber mais o que falar e dona Eugênia se despediu de nós dois, dando beijos em nossas testas, terminando com o clássico de toda mãe zelosa:
- Juízo vocês dois, hein!? - Sorriu e na porta ainda perguntou: - Querem que eu apague as luzes?
- Sim. - Ele respondeu.
- Não! - Eu respondi: - Ara! Claro que não, Marcos! Ou talvez sim, se a luz do corredor puder ficar acesa.
- Claro, querida. - Ela respondeu.
Retirou-se, então, do quarto, deixando-nos com a luz apagada, a porta entreaberta e a do corredor acesa:
- Então, você se preocupa comigo… - Marcos voltou a insistir.
- Claro, né, seu bobo! Pesadelo louco de tudo, Marcos. A gente estava no bar, tran… - Pigarreei: - Conversando. Daí aquele animal que me agrediu, apareceu com um porrete e começou a te bater. Poxa! Foi tudo tão real…
- Desencana, caipirinha! Pode dormir que vou ficar aqui te protegendo. - Falou e acariciou meu rosto.
- Ai! - Falei, ao sentir o peso de sua mão sobre minha face ainda machucada.
- Desculpa! Esqueci…
Acabamos ficando quietos e embalei num sono mais rápido do que eu pensava que seria possível. Acordei no meio da madrugada com frio nos braços e então o vi encolhido sobre a cama. Não pensei duas vezes e o cobri com meu edredom, voltando a dormir. Não fosse o trágico final, aquele estranho sonho com o Marcos me surrando com uma deliciosa pica, grande e grossa, teria sido delicioso. “Como será que é o pau dele”?, acabei me perguntando depois em silêncio, afinal, a gente só tinha trocado alguns beijos e uns amassos em Nova Iorque, mas sem nunca chegar nos “finalmentes”.
No dia seguinte, acordei com uma gostosa carícia sobre meu rosto, mas eu estava tão bem aninhada num peito másculo e forte que pedi para me deixar dormir mais um pouco:
- Ah, Gú, deixa eu dormir mais um pouquinho.
“Gú”!?, mas eu já tinha mandando meu noivo para o inferno diversas vezes. Abri meus olhos e dona Eugênia me encarava, surpresa. Olhei então onde eu estava e um calafrio percorreu minha espinha. Me vi deitada sobre o peito do Marcos e, quando olhei para cima, ele me encarava igualmente surpreso:
- Desculpa! - Foi a única coisa que consegui falar.
Eu não sabia onde enfiar minha cara, tamanha a vergonha. Não sabia nem se devia sair ou ficar sobre seu peito, então só cobri meu rosto. Coube a dona Eugênia, mãezona, acabar com o constrangimento daquele momento:
- Vamos acordar, flor do dia e cravo da noite.
Eu não sabia o que falar e me sentei ao lado do Marcos que ainda me encarava, meio chateado. Mostrei para eles minha mão direita e, no dedo anelar, a marca de uma aliança retirada não há muito tempo:
- Gú, Gustavo, foi meu noivo. Eu… Eu não sei o que dizer para você me desculpar. Por favor, não fique bravo comigo. Minha vida tá uma bagunça, mas se tem algo que eu tenho certeza é que não quero perder sua amizade. - Insisti.
Ele se sentou na cama, olhou para a parede, para a mãe que nos encarava, depois novamente para mim e, com o indicador esquerdo, apontou para sua própria bochecha:
- Beijo de “bom dia”, então. Eu mereço, não acha? - Falou, sorrindo.
O abracei e dei vários beijos em sua bochecha. Me levantei e fui igualmente dar um beijo na dona Eugênia, indo depois em direção ao banheiro. Mesmo com a porta fechada consegui ouvir uma rápida conversa entre eles enquanto saíam de minha suíte:
- Não vai ficar chateado com isso, né?
- Feliz eu não estou, mãe! - Resmungou: - Dormimos juntos e, na primeira chance, ela me chama pelo nome de outro.
- Ela ainda está confusa, Marcos. Terminou recentemente um noivado. Não fez por mal.
- Eu sei, mãe. Eu sei. Vai passar…
Depois de fazer minha higiene matinal e me vestir como no dia anterior, fui ao encontro deles na ilha da cozinha. Eles estavam tomando um café e eu me sentei ao lado dele. Eu o olhava de soslaio e não sabia se ria ou se chorava. A dona Eugênia me olhava carinhosamente e, vendo que o clima chato ainda não havia se dissipado, foi falando:
- Eu tenho que sair para encontrar uma amiga e você virá comigo, Anne.
- Sair!? - Falei, arregalando meus olhos e mostrando meu rosto roxo para ela que fiz questão de frisar ainda com o indicador direito.
- Não é a passeio. Ela é médica, dermatologista. Comentei com ela sobre você e ela nos convidou para tomar um chá.
- Ah! Chá!? Preciso mesmo?
- Deixa disso, menina! Termina seu café e vai se arrumar. - Disse e se levantou indo para sua própria suíte.
Ficamos apenas eu e Marcos na ilha, e Fátima que passou umas duas vezes, cuidando de seus afazeres. O silêncio estava me matando. Decidi brincar com ele, empurrando-o de leve com meu ombro, o que fez com que olhasse para mim e vi que ele se esforçava para não demonstrar estar chateado, mas estava:
- Não briga comigo, Marcos. Por favor… - Pedi: - Você e sua mãe têm sido as únicas coisas boas que me aconteceram nos últimos dias.
Ele me encarou em silêncio enquanto mastigava um bolinho de “sei-lá-o-quê”. Depois limpou a boca, me deu um abraço, puxando-me para ele e beijou minha bochecha:
- Desencana. Vai passar. - Falou: - Mas não repita isso! Da próxima vez, vou te dar um tapa na bunda.
- Ui! Que medo… - Brinquei e sorri.
- Então, esse Gú que ocupa seus pensamentos é o seu ex? - Zombou: - Posso saber por que terminaram?
- É, mas… Ah, é complicado. Um dia eu te conto. Prometo.
Desviado o assunto, passamos a falar abobrinhas um para o outro e logo a dona Eugênia apontou o rosto no corredor e nos cobrou agilidade. Terminamos nosso café e fomos para nossas suítes. Na minha, estendido sobre a cama, havia um vestido de estampas geométricas, meio longo, pouco abaixo dos joelhos, separado pela dona Eugênia. “Danada! Vai querer mandar no que eu uso.”, pensei e sorri. Ainda assim o vesti, porque gostava muito dele e coloquei ainda um sapato de salto médio. Passei uma leve maquiagem para tentar esconder o roxo do rosto, um batom de vermelho terroso nos lábios, soltei o cabelo sobre o rosto e peguei o maior óculos escuro que eu tinha, afinal, o mundo não precisava ver o estrago que haviam feito em mim!
Na saída, quase trombei com o Marcos, novamente bem trajado com um terno azul marinho, camisa azul clara e uma gravata vermelha:
- Gravata vermelha!? Credo, Marcos! - Não pude evitar de criticá-lo.
- Ora, meu! Não gostou?
- Odiei! Pode trocar. Vai, vai, vai! - Disse e o empurrei até sua suíte, dando leves tapinhas em sua bunda.
Em sua suíte, ele entrou num “closet” e fiquei aguardando:
- Vem cá, chata. Escolhe uma, então! - Me falou.
Entrei e escolhi uma bela gravata azul, permeada com listras rosas e de outros tons de azul. Ele me olhou e, pela expressão, saquei na hora que ele não gostava daquela. Ainda assim insisti e ele foi colocá-la em frente a um espelho de sua suíte, mas com uma tremenda má vontade, tanto que o nó ficou horrível. Fiquei de frente para ele e passei a arrumar o nó, depois ajeitando a gravata dentro de seu terno. Nesse momento, ficamos ainda mais próximos, mas, juro que eu não estava pensando em safadeza, só estava arrumando sua gravata. Só me dei conta de um certo clima quando olhei para ele na intenção de pedir que olhasse a gravata no espelho e seu olhar me congelou. Ficamos nos encarando um ao outro sem coragem de dar o próximo passo e perdi a noção do tempo:
- Aham! - Ouvimos uma voz próxima e, ao nos voltarmos, dona Eugênia nos encarava, com o mesmo sorriso malicioso que eu já havia visto antes: - Vamos, mocinha?
Nesse momento, certamente avermelhada, voltei minha atenção para o Marcos, com olhos arregalados e, só então, notei que suas mãos estavam em minha cintura, o que me deixou roxa de vergonha:
- Agora olha! - Consegui balbuciar, com muito esforço, indicando a direção do espelho.
- Ora! Até que ficou bem mesmo. Gostei!
- Viu!? Nunca duvide do senso estético de uma mulher. Não é dona Eugênia?
- Aham… - Ela falou novamente, seguido dos sons de uma gostosa risada e de passos se afastando pelo corredor.
Acabei saindo atrás dela sem nem olhar para trás com medo de que o Marcos quisesse terminar o que quase havíamos começado, mas, ali, naquele momento, era o melhor a se fazer. Descemos todos juntos no elevador, num silêncio tumular. Marcos vez ou outra me olhava e sorria, e eu acabava correspondendo. Dona Eugênia estava de costas para nós, mas depois de um tempo, vi que ela estava de frente para um espelho e, pelo seu reflexo, pude ver que nos olhava e sorria mais que a gente. “Danada!”, pensei novamente.
No térreo, fiquei sabendo que iríamos com um motorista até a amiga da dona Eugênia e Marcos seguiria para seu trabalho. Seu olhar dava dó! Parecia que tinham tirado o doce de uma criança. Sinceramente, eu também fiquei triste, mas me conformei. Ainda assim, decidi ir à luta! Fui até ele e me aproximando de seu rosto, o virei no último momento para lhe dar um beijo na bochecha:
- Bom trabalho, mocinho! - Sorri ao me afastar.
Ele me sorriu inconformado e, digo sem dúvidas, que se a mãe dele não estivesse ali, ele teria me pegado e beijado, ou eu o teria pegado e beijado, tamanha era a vontade entre a gente disso acontecer. Voltei para junto da dona Eugênia que tentava conter um sorriso bobo e entramos em seu carro:
- Para o Morumbi, Jaime. - Ela pediu.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.