Um conto de Natal
Milhares de pequenas luzes coloridas pintavam a cidade, acendendo e apagando em um ciclo sem fim.
Pela janela do apartamento no 12º andar do Edifício Bristone, Daniel observava a gama de cores que cobriam a cidade durante as festividades natalinas. Ele odiava aqueles pequenos vaga-lumes que infestavam a paisagem todo fim de ano. O gelo em seu copo de whisky já tinha virado agua, mesmo assim ele engoliu tudo em um gole, se dirigindo a pequena mesa branca onde a garrafa ainda estava quase cheia. Na grande televisão que tinha sido deixada ligada apenas pra quebrar o silencio, uma família sentada a mesa cortava um peru, felicitações eram trocadas em meio a risadas.
"clic"
A tela ficou preta, o único som agora era do gelo batendo nas paredes do copo já cheio de liquido dourado. Se sentando pesadamente na poltrona, Daniel deu um suspiro, ele detestava tudo aquilo, a felicidade alheia, troca de presentes e reuniões familiares.
"O ano podia acabar 24 de Dezembro" pensou ele, amargo por ter como única companhia o álcool.
Mesmo que não fosse o plano quando abriu a garrafa, ele decidiu que ia ficar muito bêbado, o suficiente pra entorpecer a sua solidão que o consumia como um buraco negro consome a luz. Pelo menos a poluição de cores não chegava até ele, talvez esse fosse seu presente de Natal. Sentado na escuridão ele fechou os olhos, tentando limpar da mente todos os sentimentos ruins.
Sua paz foi quebrada com o barulho do celular tocando.
"Ligação de Augusto, deseja aceitar?"
Daniel recostou a cabeça com força na poltrona, deixando um suspiro escapar, ele sabia que isso ia acontecer, torceu com todas as forças pra não acontecer, mas ainda assim aconteceu. Apertando o botão verde ele levou o telefone ao ouvido.
"Fala Augusto!" disse ele, que depois de anos de depressão tinha se tornado um mestre na arte de fingir que estava feliz.
"Como tá meu velho? Feliz Natal! Seguinte, a gente tá com um pessoal aqui no apartamento 29, fazendo uma bagunça, não quer dar uma passada pra tomar uma?" perguntou Augusto, sempre animado.
Era a hora de usar toda a habilidade conquistada em anos de treino.
"Putz cara, eu to meio cansadão hoje, já tava indo me deitar, mas me chama na próxima!" atuou Daniel,torcendo com todas as forças pra funcionar.
"Você tá bebendo sozinho de novo né" disse Augusto, em tom sério dessa vez.
Augusto que conhecia Daniel a décadas leu ele como se fosse um livro aberto.
"Que nada, já to até de pijamas, a gente se fala amanhã" respondeu Daniel, tentando desviar do assunto desesperadamente.
"Cara, de coração mesmo, te conheço desde que a gente usava fraudas, ficar sozinho não é a solução" falou Augusto, que considerava Daniel o irmão que nunca teve.
Aquelas palavras bateram na mente dele mais forte que um soco do Tyson.
"HAHA, que papo maluco é esse, eu só to cansado, no Réveillon a gente cobra o atraso e bebe o dobro" disse Daniel, com a voz falhando, como se estivesse perto das lágrimas.
"Tá bom, mas não ache que eu esqueci do teu presente, amanhã você me fala se gostou, Feliz Natal" disse Augusto, desligando sem esperar resposta.
Um suspiro de cansaço mais uma vez escapou do nariz do homem sentado no escuro, ele só queria ficar deprimido em paz e os outros insistiam em se intrometer. Levando o copo a boca ele virou mais uma vez tudo em um gole. Daniel sabia que mesmo 100 garrafas não iriam encher o oceano que era o vazio que ele sentia, mas era melhor do que nada.
20 minutos se passaram naquela sala iluminada apenas pela luz da lua que invadia pela janela.
"ding-dong" a campainha tocou.
"Não acredito que aquele canalha realmente veio pessoalmente" pensou Daniel, com raiva da preocupação do amigo.
Talvez se ele ficasse bem quieto, depois de um tempo Augusto desistisse, ele podia dar a desculpa que não escutou porque estava dormindo.
"ding-dong"
"ding-dong"
A campainha tocou duas vezes seguidas.
Derrotado, Daniel se levantou, passando a mão no rosto, como se colocando a mascara social que ele usa quando sai de casa e se dirigindo até a porta. Pensando na desculpa que daria ele abriu a porta, mas não era o amigo que o esperava do outro lado.
Uma moça com no máximo 25 anos o olhava, batom vermelho em seus lábios que combinava com seu vestido e uma touca de Papai Noel em sua cabeça.
"Daniel?" perguntou ela, olhando de cima baixo o homem.
"Sim?" respondeu ele, confuso.
Sem cerimônias a moça passou por ele e entrou na casa, olhando em volta.
"Sou a Sasha, porque tá tão escuro aqui? Cadê o interruptor?" disse ela, tateando as paredes pra acender a luz.
"Acho que você tá procurando outro Daniel Sasha, aqui é o apartamento 125" falou Daniel, supondo que era um engano.
Sasha pegou o celular e leu uma mensagem que estava salva no histórico do WhatsApp.
"Daniel, apartamento 125, se ele te mandar embora, insista, melhor ainda, já entre direto quando ele abrir a porta" falou ela.
Todas as maldições que Daniel conhecia foram direcionadas pra Augusto, levando as mãos a cabeça, como se uma dor de cabeça fosse chegar a qualquer momento. Então essa era a surpresa que ele tinha dito, o desgraçado tinha lhe enviado uma acompanhante.
"Olha, Sasha né, isso foi só uma piada de um amigo, vou pegar a minha carteira e pagar quanto vocês tinham combinado, espera ai" disse Daniel, andando até a mesa perto da TV.
"O cliente pagou adiantado.... beeeem melhor agora!" disse ela, ao acender todas as luzes da sala.
Ótimo, era só despachar a moça e voltar pra garrafa, planejou.
"Certo, então vamos fazer o seguinte, vá pra sua casa, festejar o Natal ou qualquer coisa que você queria fazer, eu invento que tive a melhor noite da minha vida pro meu amigo amanhã e todo mundo sai ganhando, vai ser nosso segredo" disse Daniel, tentando se livrar daquele problema inesperado.
Andando pelo apartamento em passos lentos a moça parecia nem ter escutado as palavras, ignorando totalmente a proposta do homem, olhando pra grande TV ela pegou o controle que repousava no sofá.
"clic"
A TV ligou, uma comédia romântica natalina era transmitida.
"ADORO ESSE FILME!" disse Sasha, sentando no sofá com os olhos grudados na tela.
Daniel que já estava cansado daquilo começou a se irritar.
"Moça, é serio, se puder sair da m...." começou a falar e foi interrompido.
"XIIIIIIIIIIII, adoro essa parte" falou ela, mandando Daniel se calar, vidrada na tela.
Exausto de todas as derrotas em um só dia, ele se sentou pesadamente na poltrona, até o seu fiel copo parecia estar contra ele, preenchido apenas com gelo.
Na tela um filme típico de Hollywood passava, a mesma formula repetida ao infinito, o rapaz correu atrás da garota o filme inteiro, no final ele se declara pra ela no momento mais perfeito possível e são felizes pra sempre, fim. Até isso irritou ele, o roteiro de um filme.
Quando o casal feliz finalmente se beijou no clímax da 'obra', Sasha se empolgou, batendo palminhas e batucando o assoalho com os pés.
"QUE LINDO, ADORO ESSA CENA" dizia ela, como se fosse uma adolescente.
O homem que borbulhava de ódio contra tudo e todos, deu uma pequena risada ao ver aquela cena tão inocente. Sasha não deixou passar.
"Isso foi uma risada Senhor 'estou-com-muita-pena-de-mim-mesmo' ?" falou a moça, sem rodeios, que tinha notado a atmosfera no momento que entrou na casa, debochando da auto piedade do seu cliente.
"Não tenho pena de mim mesmo" falou Daniel, em tom serio, era mentira e ele sabia, mas ele não admitia que apontassem isso pra ele.
Dessa vez foi Sasha que riu, como se tivesse escutado uma piada absurda.
"CLARO Senhor 'estou-sozinho-no-escuro-na-noite-de-natal', aposto que é só porque seus olhos são muito sensíveis a luz e sua religião não comemora essa data" disse ela, dobrando o deboche, inventando desculpas absurdas.
"Você não sabe nada de mim, e quem é você pra me julgar? Fazendo programa e achando ruim eu preferir ficar sozinho" falou Daniel irritado, sem se preocupar em ofender a moça.
A moça que já tinha escutado coisa pior na vida, nem se abalou.
"A noite de Natal é uma das melhores pros negócios, um monte de bebes chorões querendo afogar as magoas no peito de uma estranha" disse ela, deixando implícito que Daniel era um deles.
Não mantendo a mesmo compostura da moça, Daniel tomou mais um soco no estômago, se tivesse um juiz de boxe ali perto a contagem regressiva pra se levantar teria começado.
"Não fale sobre o que não sabe" foi o melhor que ele conseguiu pensar, aceitando o nocaute e se calando.
Outro filme começava na tela, dessa vez era um filme de comédia de uma criança que foi esquecida em casa.
"TODO ANO ESSE FILME!" reclamou Sasha, que parecia assistir muito a rede Globo.
"Se não gosta dele, pode ir pra casa" disse Daniel, um péssimo perdedor, fazendo birra igual uma criança.
Mais uma vez ignorando as infantilidades dele, Sasha se levantou, indo em direção a cozinha.
"Não tem ceia? Não da pra passar o Natal sem comida gostosa" falou ela, vasculhando a geladeira, achando apenas produtos congelados e cerveja.
Respirando com força, como se ela fosse um incomodo que insistia em lhe atormentar, Daniel pegou o celular, acessando um aplicativo de entrega de comida, na verdade ele também estava com fome, uma refeição ajudaria a amenizar a ressaca que ele causaria após Sasha ir embora.
"O que você quer comer?" perguntou ele, falando alto pra que a moça que agora vasculhava os armários pudesse escutar.
As palavras mágicas tinha sido ditas, disparando como um corredor olímpico Sasha pulou em seu colo, enfiando a cabeça na frente da dele pra poder ver a tela do celular.
"Procura hamburguês, tem uma hamburgueria que faz um que você precisa provar, tomara que eles estejam aberto" disse a moça.
O cabelo negro que batia nos ombros da moça encostou em seu nariz, o aroma do shampoo que ela usava misturado com a doce fragrância de seu perfume. Um dos braço descansava sobre o dele, a pele muito clara e macia, suave como seda fina.
Descendo pela lista de restaurantes com um dedo, Daniel começou a se sentir confortável, o calor do corpo da jovem sobre o seu, a raiva que ele sentia começava a se dissipar.
"ALI! ELES TÃO ABERTOS, QUAL VOCÊ QUER? EU GOSTO DESSE COM QUEIJO DUPLO" exclamou ela em alegria apontando pra um nome na lista, como se tivesse encontrado o presente embaixo da arvore de Natal.
O ar que saiu da boca de Daniel dessa vez não era um suspiro, mas ao invés disso, uma risada.
"Para de bater na tela, já entendi, você quer o de queijo duplo, preço fritas também?" ele repreendeu a moça que estava elétrica.
Ainda sentada em seu colo, a acompanhante abraçava seu pescoço e recostava a cabeça em seu peito, ambos assistindo a comédia na grande tela.
"Nunca entendi como ninguém reparou que estava sobrando uma passagem ao fazer check in no aeroporto, antes de embarcarem" disse ela, achando um furo no roteiro do filme.
"Se tivessem reparado o filme teria durado 15 minutos" respondeu Daniel, agora apreciando a presença da moça.
O interfone tocou, a moça que se aninhava sem seu peito se levantou rapidamente, apressando ele pra ir buscar a comida.
"Calma calma, você parece uma morta de fome" falou ele, se levantando bem devagar.
"Vou arrumar a mesa enquanto isso" respondeu ela, ignorado a provocação.
Imaginando que teria um prato pra cada e talheres quando voltasse, Daniel desceu pelo elevador até a portaria.
Ao voltar, uma surpresa lhe esperava, parecia que todas as decorações da casa tinham sido colocado no centro da mesa retangular que atravessava a sala.
"O que diabos você tá fazendo?" perguntou ele, surpreso com a bagunça.
"Arrumando a mesa pra ceia ué, se tivesse algumas velas a gente podia acender e fazer uma ceia romântica" disse ela, vasculhando todas as gavetas animada com a possibilidade.
Sem nem tentar impedir ela, Daniel botou as sacolas com comida quente na bancada que ficava próxima ao fogão. Desempacotando tudo ele encontrou o saco de papel marrom com as palavras 'Queijo duplo', separou de um lado junto da bandeja de batatas fritas, o resto ele separou pra ele, um simples hambúrguer com bacon, uma garrafa de coca cola gelada tinha vindo junto.
Levando a refeição até a mesa, por costume, ele sentou em uma das extremidades da longa mesa com 8 cadeiras, esperando que a Sasha se sentasse no lado oposto.
Ao ver isso, a moça que segurava dois pratos colocou ambos um do lado do outro.
"Senta aqui do meu lado, é muito longe as pontas, eu ia ter de ficar gritando igual uma louca" falou ela, que realmente as vezes gritava igual uma louca.
Sem reclamações ele obedeceu, servindo o hambúrguer 'com queijo duplo' no prato dela, colocando ao lado a bandeja.
Com a boca já salivando ao ver o tão esperado alimento, ela se sentou apressadamente ao seu lado, ainda chateada de não ter achado nenhuma vela, mas empolgada pela comida.
Quando Daniel estava prestes a dar a primeira mordida, foi interrompido.
"Calma ai, a gente tem de fazer uma prece de agradecimento" falou ela, em tom serio.
"Não vou fazer prece nenhuma, to com fome" disse ele, voltando a tentar dar a primeira mordida no lanche que fumegava em suas mãos.
"Então vou fazer uma por nós dois" disse ela, pegando em sua mão livre.
"Senhor Deus, faça com que esse homem deixe de ser um bebe chorão, e pra mim um carro novo, amém" disse ela, recitando o mais próximo de uma prece que ela conseguia.
"Se eu fosse Deus, teria carimbado tua passagem pro inferno na hora" fez piada Daniel, pela primeira vez em semanas.
Juntando as mãos, como em forma de agradecimento a moça olhou pro teto.
"Obrigado por cumprir rapidamente o pedido senhor, o carro pode esperar um pouco" falou solenemente a moça, descobrindo que homem carrancudo tinha no fim das contas algum senso de humor.
Dessa vez Daniel riu com vontade, quase se afogando com a comida na boca, pegando rapidamente o copo com coca pra tomar um gole.
Ao conhecer Sasha ele a considerou um incomodo, uma pedra no sapato que insistia em não ir embora independente de quanto fosse chutada, porém um estranho sentimento de afeto surgiu.
Sua beleza física era suficiente pra derreter o coração de qualquer homem, não havia duvida quanto a isso, porém suas qualidades iam muito além da aparência exterior. Inteligência e sagacidade se misturavam na energia positiva que emanava onde quer que ela estivesse.
O porque dela ter escolhido essa profissão de acompanhante era um mistério pra ele, era impossível não notar que a moça tinha um potencial imenso pra muito mais.
"O que foi? Tem maionese no meu rosto?" perguntou a moça, notando o olhar perplexo dele.
"Tem, bem ali" mentiu Daniel, apontando pro canto de seus lábios vermelhos.
Muito distraída esticando a língua e fazendo caretas ao invés de pegar um guardanapo ele roubou uma batata da bandeja dela, obviamente ela protestou, tão gulosa quanto linda.
Finalmente saciados o casal se esparramava na cadeira, como se direcionando toda energia pra digestão o silencio tomou conta da mesa.
"Bom, você já viu teu filme e já fez a sua ceia, chegou a hora de nos despedirmos" falou Daniel perturbando aquele momento de paz, sentindo uma dor por dentro em cada palavra, como se não pudesse aceitar um pouco de felicidade, se auto flagelando.
Sem lhe responder, a moça se levantou e caminhou até a janela, vendo as mesmas luzes coloridas que Daniel amaldiçoou horas antes.
"É bonito né, queria que elas ficassem o ano todo" Sasha falou, com uma ponta de tristeza na voz, como se após o Natal a magia acabasse.
A passos lentos ele a seguiu, ao olhar pra paisagem que a moça triste tanto gostava ele se surpreendeu ao notar que não sentir mais raiva, mas que também apreciava a beleza. Sem nenhum aviso ele a abraçou, apertando o corpo dela contra o seu, provando mais uma vez sua pele e aroma.
Sem se preocupar com o mundo, os dois desconhecidos trocavam o calor de seus corpos, sentindo a respiração e os batimentos cardíacos do parceiro.
"Não tem ninguém me esperando em casa" disse ela, quebrando o silencio, bem baixinho, como se só pra ele escutar, pegando nos braços que a envolviam e apertando com força.
Mais um período de silencio.
"Como você aguenta?" perguntou Daniel, percebendo que a moça vivia uma vida semelhante a sua.
"Um dia de cada vez, perdi meus pais muito cedo, tive de entrar nessa vida de acompanhante porque era isso ou viver na rua, o mundo me dizia pra desistir, só por isso continuei" revelou ela, um pedaço de sua vida pessoal que ela guardava bem no fundo do peito.
"Sasha, me desculpa, o que eu falei mais cedo, eu só tava bravo" se desculpou Daniel, percebendo como tinha sido idiota.
"Laura" falou ela, só um nome.
"Como?" respondeu ele, sem entender.
"Meu nome é Laura, uso Sasha só no trabalho" revelou ela.
Sem pedir, como por impulso, Daniel virou o rosto de Laura e deu um leve beijo em seus lábios.
La fora o vento balançava as milhares de pequenas luzes coloridas que piscavam alheias aos problemas humanos.
Quebrando a atmosfera, Laura se separou do abraço de Daniel, como se acordasse de um transe, rapidamente ela fechou o exterior que tinha deixado exposto por alguns segundos, voltando a mesma personalidade energética e extrovertida.
"ENTÃO, agora é a hora que nós transamos e vou embora antes de você acordar" disse ela, com a voz nervosa mas começando a se recompor.
Aquela cena bateu tão pesado quanto todos os golpes que tinha recebido antes, aquela mulher de estatura frágil era mil vezes mais forte que ele. Sem conseguir imaginar a quantidade de tormentos que ela tinha suportado até agora, ela ainda assim se mantinha firme, em comparação ele era realmente um bebe chorão, patético em seu egoísmo.
"Nós podemos só assistir mais uns filmes, aposto que tem algum passando que você goste" falou ele, tentando disfarçar a piedade na voz.
"A hora de ver filmes já passou, me aponta onde fica a cama que tenho de me preparar" disse ela, percebendo a pena de Daniel, sentindo raiva.
"Fica ali" apontou pra uma porta perto da televisão, mesmo contra sua vontade.
"Beleza, me da 5 minutos que eu vou te levar a loucura, não enrola muito que já meu programa foi pago só pela noite" disse ela, andando apressadamente, como se fugindo dele, deixando ele mais uma vez sozinho.
Pensando no que faria, ele reparou a garrafa de Whisky quase cheia do liquido que tantas vezes lhe entorpeceu os sentidos, deixando ele tão bêbado ao ponto de desmaiar até nas noites de insônia. Quando a noite acabasse ela voltaria a ser sua única companheira, aquecendo seu peito e o levando pra uma morte eventual por alcoolismo.
"Tá na hora de tirar as fraldas" pensou ele, sentindo que a auto piedade voltava a tentar lhe derrubar.
Sem hesitar dessa vez, contagiado pela energia que Laura tinha compartilhado, ele pegou a garrafa e levou até a pia da cozinha, despejando todo seu conteúdo. Na hora uma frase que ele escutou em uma musica veio a sua cabeça: "Há sofrimentos que nós libertam e prazeres que nos esvaziam'. Se afogando no álcool ele tinha se tornado seu próprio refém.
Se sentindo mais leve ele andou em direção ao quarto.
Laura estava deitada apenas com a roupa de baixo, da mesma forma que já esteve em dezenas de camas de desconhecidos diferentes. Seu corpo era uma obra de arte que serviria de inspiração pra qualquer gênio pintar a sua musa. Porém o pensamento de Daniel ia muito além disso, o corpo era só carne, ele admirava o conjunto inteiro: Soma, Sarx e Pneuma como diziam os antigos, carne, corpo e espírito. Talvez por piada ou pena, Augusto tinha dado inicio a um efeito borboleta que mudaria a sua vida.
"Tira a roupa e vem me comer" disse ela, personificando a profissional do sexo, como se com pressa de terminar o serviço que tinha sido paga em adianto.
Não havia um pingo de tesão no corpo de Daniel, ele não enxergava uma bela mulher semi nua disposta a realizar seus desejos, mas sim uma companheira de martírio. Ainda assim ele obedeceu, tirando a roupa devagar, como se pudesse atrasar o fim da noite.
Ao terminar ele se deitou ao lado dela, passando a mão em seu rosto, sem prestar atenção em suas curvas e só querendo admirar a beleza de seus olhos.
Laura que tinha aguentado muita coisa na vida sem sucumbir, sentia um estranho afeto pelo homem a sua frente. Ainda sem entender bem o turbilhão de sentimentos que giravam em sua mente, ela afastou a ideia, se fechando na casca dura que criou pra separar seu âmago do mundo que é cruel com os fracos. Ela não sabia, mas nunca tinha se dado ao luxo de sentir uma felicidade verdadeira.
Deixando de lados as distrações, dentro de seu casulo, ela levou a mão entre as pernas de Daniel e começou a lhe estimular, mas pela primeira vez ela encontrou um membro flácido. Os homens que requisitavam seus serviços só de ver seu corpo já ficavam prontos, dessa vez era diferente. Como se treinada pra toda situação, ela usou todos os truques que conhecia, tirou o sutiã e puxou a cabeça dele, dando de mamar, instigando o instinto primitivo do homem de se reproduzir.
Não era algo que Daniel pudesse evitar, com aqueles lindos seios em seus lábios ele se rendeu aos esforços daquela deusa pra lhe excitar.
"Agora sim hein, tava achando que você era broxa" falou Sasha, debochando dele da mesma forma que tinha feito antes, escondendo o fato de que gostava da boca que lhe chupava, a casca começando a rachar.
Daniel engolia seu seio com urgência, como se caso parasse a moça podia desaparecer pra sempre, lambendo ele e mordendo o pequeno mamilo cercado por uma aréola rosa claro.
Laura que agora de novo era Sasha conhecia uma sensação nova, em todos seus programas ela só sentia repulsa pelas homens que desfrutavam de seu corpo, mas com ele era diferente. Quando o membro dele ficou rígido, ela tirou a calcinha, revelando toda sua nudez, uma pitada de vergonha lhe surpreendeu.
O homem que engolia seus seios mudou a atenção pra parte recém revelada, como se possuído pelo tesão ele abocanhou a sua boceta, lambendo toda a extensão e estimulando seu clitóris com a ponta da língua.
Deitada de barriga pra cima, Sasha estava em êxtase, tendo dado prazer a muitos parceiros, essa era a primeira vez que recebia também, com as mãos ela puxava o cabelo de Daniel, arqueando o quadril, se oferecendo inteira pra aquela boca que lhe devorava.
Alcançando níveis até então desconhecidos de tesão, a moça se rendeu ao momento, gemendo sem pudor e abrindo as pernas ao máximo, se entregando por inteira.
Daniel sugava aquela vagina com adoração, como se fosse um privilegio que a deusa tinha lhe concedido depois de muita adoração, mordendo, soprando, não deixando um pingo de seu suco escapar com a língua.
"Me fode" exclamou Sasha, tentando voltar ao controle da situação.
Subindo e lambendo todo seu corpo, passando pela barriga, peitos e pescoço, Daniel beijou a sua boca, pegando o pau pra lhe penetrar.
"Não, tenho de me recompor" pensou Sasha.
Empurrando o corpo do homem pro lado, ela se levantou e lentamente começou a se agachar, sua pequena boceta ensopada em direção a cabeça daquele pau que pulsava de tesão.
"Hummmm" escapou o gemido ao sentir o membro de Daniel abrindo caminho pela seu gruta apertada.
Sem pensar e nem parar, ela engoliu tudo de uma vez aquele pau que nublava seu julgamento.
Com ele inteiro dentro de seu corpo, Laura começou a cavalgar, devagar pra manter a compostura, o homem respirava pesado em jubilo.
Mesmo mantendo um ritmo constante ela temia perder a cabeça, sentimentos de amor que ela ainda não reconhecia começaram a vazar pelas rachaduras da casca que ela tinha criado pra proteger o seu gentil interior do resto mundo.
Não era a primeira mulher que Daniel tinha tido na vida, tendo experimentado de todas as cores, idades e tamanhos, ele se considerava um veterano. Laura desafiava sua confiança, de uma forma que ele não achava sequer ser possível, aquela moça que invadiu a sua casa horas atrás tinha mudado sua vida e o enlouquecia na cama. No movimento de vai e vem, ele contemplava aquele corpo que subia e descia em um ritmo incansável, os gemidos que escapavam de sua boca eram mais lindos do que qualquer musica que ele conhecia, os seios naturais balançando. Um medo irracional lhe atingiu, como se pudesse ficar cego apenas por se atrever a olhar aquela Afrodite encarnada.
Mesmo usando toda sua determinação pra manter a relação o mais profissional possível, Laura não resistiu, sucumbiu ao que o corpo exigia, um calor lhe preencheu, se curvando sobre o homem que tanto lhe satisfazia, com a boca ela se ofereceu por inteira.
Surpreso com o beijo apaixonado, entendendo que era vez dele movimentar, Daniel começou a bombar com vontade, em um estado de frenesi, a saliva que ela compartilhava era seu combustível, seus gemidos a ordem.
Perdendo toda a força nos músculos, Laura pela primeira vez na vida sentiu as pernas tremerem, seu corpo mole desabou, mordendo o pescoço do parceiro com suas ultimas forças ela teve seu primeiro orgasmo.
Notando o estado da parceira, Daniel acelerou o ritmo, ele queria gozar junto com ela, como se de alguma forma isso fosse selar a união dos dois.
Abraçando o torso da moça com força e puxando o corpo quente contra o seu, incitado pelas mordidas e gemidos ele chegou ao clímax, enchendo o interior dela com sêmen em fortes rajadas.
Sem se atrever a mexer um dedo sequer, o casal ficou naquela posição, ofegantes e suados, trocando promessas de amor.
"HÁ, la vem o noivo, ta bonitão heim" falou Augusto ao ver Daniel chegando na igreja.
Com um sorriso ele deu um aperto de mão.
"Quer dar uma volta antes da cerimônia começar?" perguntou.
No pequeno bosque ali perto, a dupla andava lado a lado. Sempre olhando pra frente, da forma que os homens conversam.
"Dois anos atrás, porque você fez aquilo?" perguntou Daniel.
Sem virar a cabeça ele respondeu.
"Nunca te contei isso, não que fosse um segredo que pretendia levar pro túmulo, só não achei não achei necessário falar, na verdade não foi por acidente que Laura, em especial, bateu em sua porta naquela noite" falou ele.
"Isso eu já sabia, soube na hora que era coisa tua, mas porque 'em especial'? " perguntou Daniel, sem entender onde ele queria chegar.
"Quanto a isso, a verdade foi que eu conheci uma amiga de Laura bem naquela época, acompanhante também, cometei sobre um amigo depressivo que eu tinha, na hora ela me indicou a amiga que vivia sozinha e estava disponível até mesmo durante o Natal" confessou Augusto.
Refletindo sobre tudo o que tinha acontecido em sua vida depois daquela noite, o namoro, noivado, sua carreira que decolou e a de Laura que começou, o pedido de casamento e as viagens que fizeram, Daniel concluiu.
"Então não foi um acidente" sem emoção alguma na voz.
"Não, me odeie se quiser, mas eu fico feliz por ter feito, repetiria 100 vezes caso fosse preciso" disse Augusto, de cabeça baixa.
Sem nenhum ódio, Daniel botou a mão em seu ombro, lágrimas em seus olhos.
"Fico feliz por ter você como amigo"
Lágrimas encheram os olhos de Augusto dessa vez. O momento durou alguns minutos, ambos em silencio.
"Olha lá a noiva chegando, vamo logo senão você é capaz de perder o próprio casamento" fez piada Augusto, sempre barulhento.
A alguns metros dali, Laura em um grande vestido branco saiu do carro, olhando em volta como se procurando algo, sorrindo ao encontrar Daniel.
"Você tá linda" falou ele, pegando sua mão e subindo juntos a escadaria.
FIM