No quarto de Letícia, Gê me conta que, logo que eu deixei a piscina, os dois jovens de membros eretos fizeram comentários maldosos e homofóbicos que fizeram murchar os seus desejos. Por isso, ela resolveu ir até a sauna e me encontrou saindo do local com os olhos vendados. Silenciosamente, ela se apresentou para Letícia e pediu para que não revelassem a sua presença, queria apenas assistir tudo. Queria ser a observadora passiva dos meus prazeres.
Enquanto eu era devassado como uma fêmea no meio do oceano, Gê foi tocando no próprio corpo, excitando-se de forma controlada, para que eu não percebesse a sua presença. A minha esposa queria apenas o prazer dos voyers, quase como uma cientista que teme que a sua presença contamine a cena que deseja examinar com o máximo de cuidado. Gê queria se descobrir, observar a minha bissexualidade, e temia que a sua presença pudesse me inibir de alguma forma.
Por isso, ela ficou à minha espreita, à minha espera, observando com a atenção o momento em que eu era penetrado e tocando-se devagarinho, preparando-se para o momento em que se relevaria para mim.
O que mais fascinava a minha amada era a ereção intocável do meu membro. Eu estava ereto mais não me tocava, como se o meu membro estivesse ali apenas para ser olhado por ela, enquanto o pênis de Silvio penetrava com cada vez mais força as minhas carnes, devassando-me. Para ela, era como se o meu lado feminino quisesse desabrochar, enquanto o meu lado masculino permanecesse fiel, querendo apenas a sua presença.
Aquela fidelidade inesperada excitou Gê. Ela pensou que, mesmo gemendo, como uma fêmea no cio, e sendo embalado pela voz feminina de outra mulher, eu permanecia sendo dela. O meu pênis era dela. Foi por isso que, depois de terminada a transa, ela passou a reivindicar a sua posse, como seu eu fosse o seu escravo e ela fosse a minha dona.
Gê segurou no meu membro e me guiou, percorrendo corredores, olhares, foi me guiando, e me levando, sem que nada parecesse importar. De repente, estávamos à borda da piscina, apenas um salto nos separava da água, um mergulho, apenas a brevidade de um desejo. Nesse momento, ela se agarra na minha cintura e me penetra nos olhos, é um pedido sem palavras, e eu a atendo, deixo-me envolver pelas águas e pelo seu corpo.
Os seus beijos, as suas carícias, a leveza dos nossos corpos na piscina, o mundo parece perder a densidade, o seu corpo gira ao redor de mim, as coisas flutuam e buscam novas acomodações, novos encaixes, entrelaçamentos. Com facilidade, a sua buceta me penetra, envolvendo-me, margeando-me, fluindo. Os seus gemidos são desavergonhados, ignorando por completo os outros casais que estão ao nosso redor, desconhecendo olhares, possibilidades, ou talvez querendo tudo aquilo, desejando ser vista, ser olhada, ser escutada, querendo mostrar para todos que o sexo é tão normal quanto qualquer outra atividade, o sexo é tão natural quanto nadar na piscina ou conversar em voz alta com um amigo mais próximo.
Pernas e braços me envolvem, abraçam-me, arranham a minha pele e se desfazem em gemidos. E eu procuro retribuir, oferecendo o meu corpo em sinal de gratidão. É preciso não ter medo e nem pudores. É preciso deixar os corpos fluírem os seus prazeres. É preciso não saber de nada. É preciso querer esquecer de tudo.
É preciso sentir com intensidade. Sentir sem saber. Existe um ponto em que nos conectamos, um ponto em que eu estou dentro dela e ela consegue me sentir com mais vigor, um ponto em que a carne penetra a carne, um ponto em que os órgãos sexuais se realçam, como se quisessem comunicar algo que transcende toda a razão, um ponto que é preciso compreender e que parece zombar de nós, como se voltássemos a ser adolescentes ingênuos que estão descobrindo seus corpos pela primeira vez. Porque, no final, é disso que se trata, o encanto da descoberta, o desejo de fazê-la se renovar novamente, uma e outra vez, sempre mais, um cenário novo, uma carícia inesperada, um olhar inusitado, um sorriso ainda não esboçado, um gemido em público, qualquer coisa de virgem que os corpos ainda escondem e que resolve se mostrar pela primeira vez, como uma virgindade inesperada, um pudor que se quebrou, qualquer coisa que precisa ser devassada para que os corpos possam gritar, gemer, e nos fazer sentir plenos em nossa humanidade.
É preciso quebrar todos os falsos moralismos através da força incandescente dos nossos corpos. É preciso não ter medo da própria sexualidade. E não ter medo não significa fugir de velhos padrões e se agarrar aos novos, como quem busca boias no meio de uma correnteza. É preciso ser. E foi pensando assim, ou querendo não pensar em nada, que eu penetrei o corpo da minha amada sem ligar para olhares e sem tentar silenciar os meus desejos. Ou até mesmo querendo os olhares e os desejos, porque tudo, até as censuras e os moralismos, pertence a mesma força sexual e criadora que nos movimenta.
A buceta de Gê era a minha praia, as minhas ondas, a força geratriz que me alimentava. Pouco importava se dois jovens heterossexuais viam em mim um marido bissexual e reprovável ou se um casal de idosos pudesse achar que estávamos gemendo muito alto, ou se um terceiro quisesse nos rotular como exibicionistas. Eu estava naquela piscina com a minha amada e a minha felicidade era sentir os seus gemidos, o estremecer do seu corpo, o alegre momento em que a vida perde toda a abstração para se fazer carne e prazer.
Gozei no corpo de Gê, derramei o meu leite nas suas entranhas, e ela sorriu para mim, e disse que nem precisaria se limpar, porque o cloro resolveria tudo, e a vida era simples como aquela piscina. O corpo da minha amada flutuou e se dirigiu ao casal formado por Silvio e Letícia, os dois faziam parte da nossa plateia, e passaram a ser beijados e acariciados, em sinal de agradecimento por aquela maravilhosa tarde e por tudo que ainda haveria de acontecer.
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