Meu Preço - Capítulo Sete

Um conto erótico de Samuel
Categoria: Gay
Contém 4305 palavras
Data: 23/11/2022 11:12:44

***CAPÍTULO SETE***

As portas de aço se abrem, e o barulho de roletas, máquinas e conversas, chamam a minha atenção. Quando se fecham, me sinto preso, fascinado, louco, tudo ao mesmo tempo.

Onde estou?

Observo mulheres — quase desnudas — circularem de mesa em mesa. Alguns homens se distraem com a beleza delas; outros nem sequer dão atenção. Alguns homens também quase nus.

— Aqui ficam os caça-níqueis. Do lado de cá, como você mesmo vê, tem as roletas e, em cada porta daquelas... — Enquanto Daniel explica, percebo que no fundo do salão tem umas dez salas com portas fechadas —, há jogos de baralho. Ali, ao lado do bar, é onde vendemos as fichas, e atrás daquela cortina... — Ele para de falar por um momento. Aproveito para seguir seus olhos na direção de onde está se referindo. Vejo uma cortina vermelha, que pega do teto ao chão. — Bom, é melhor ver com os próprios olhos.

Não sei se vou gostar do que tem lá, principalmente pelo sorriso estampado em seu rosto.

— E seus amigos?

— Com certeza estão atrás da cortina. Venha, vamos beber alguma coisa. — Deveria ter recusado na mesma hora, mas pela sua expressão ao falar sobre o que tem atrás da cortina, o álcool me parece ser a melhor opção.

Ele pede as mesmas bebidas de antes. Em seguida, entramos pela cortina.

Travo na entrada.

Uma música ambiente e sensual toca. Do lado esquerdo, há um palco onde determinadas mulheres e homens dançam no pole dance, apenas de lingerie e cueca. Eles se insinuam aos clientes que estão sentados nas mesas — até as mulheres acompanhantes assistem à exibição.

Enquanto um grupo de homens conversam sem prestar atenção no palco, o outro coloca notas na barra das calcinhas das mulheres, além de jogar dinheiro em cima do palco.

Isso é ilícito! Com certeza, depois de ver essa cena, irei para o inferno.

Para o inferno de verdade.

— Está chamando a atenção, venha comigo. — Daniel, ou sei lá qual é o seu verdadeiro nome, pega a minha mão e me puxa atrás dele.

Olho em volta, onde várias mesas estão distribuídas. Percebo alguns olhares sobre mim, me analisando.

Merda de roupa!

— Não estou fazendo nada. — Ainda olho de boca aberta, ao redor.

Daniel se inclina e diz no meu ouvido:

— Acho que chamaria a atenção de qualquer forma com essa roupa.

Anda logo, me siga.

— Tá... tá bom. — Por que eu gaguejei, por quê?

Sigo-o até uma mesa, onde quatro rapazes e uma mulher conversam e riem. Estando comigo ao seu lado, com o braço apoiado de forma íntima, Daniel se aproxima, e logo eles param o que estão fazendo.

— Dani, pensei que não viesse. — Acho que ele engana os amigos também — Está uma hora atrasado. — Um cara ruivo se levanta animado e vem em direção a ele.

Está usando um short apertadíssimo. Mas ele pode, não é? Tem uma bunda perfeita e grande... O que fico indignado é pela seguinte questão: ele agarra o Daniel e dá um beijo, tipo daqueles de cinema, e ele ainda permanece com suas mãos em mim.

Eca!

Me afasto rapidamente enquanto o canalha retribui o beijo. Aproveito e bebo dois ou três goles da minha bebida só para acompanhar o desenrolar dessa cena patética.

— O que é isso, Vini? Deixe ele se sentar — diz um rapaz de cabelos pretos e pele clara, dando uma risadinha.

A mulher é loira e tem uma tatuagem no braço direito, não dá para ver o que tem desenhado, só sei que é uma bagunça total. Ela está debruçada em um rapaz cheio de piercing.

O outro cara é moreno, com a barba bem-feita, estatura mediana e músculos bem definidos. Ele olha para mim fixamente, me despindo. Desvio o olhar, me sentindo incomodado. Acho que ninguém percebe a sua ousadia.

— Quem é o seu amigo, Daniel? — ele pergunta, sem tirar os olhos de mim.

Daniel para de beijar o ruivo e me conduz a um banco acolchoado de frente para os amigos.

— Bem... Ele não é um amigo, é o meu noivo. — Todos se entreolham, e o ruivo me olha de cara feia.

Sim, chupa essa, cachorro.

Deus, de onde saiu isso? Viro o restante da bebida, me sentindo levemente tonto.

— Vacilou, Vini! — A loira diz, sorrindo.

— Como você se chama, lindo? — O rapaz de cabelo preto e a pele branca, questiona. Parece ser legal e tem um sorriso sincero.

— Samuel — respondo, sem olhar para eles diretamente.

— Lindo nome, o meu é Jorge.

Dou um sorriso, levantando a cabeça. Não posso ser mal-educado diante de sua gentileza.

— Eu sou Carla — A loira acena. — E esse é Vitor, meu namorado.

O rapaz só ergue a mão, com dois dedos abertos em V.

— Oi — digo pateticamente.

— Eu sou Rafael. — O cara moreno e de boa aparência abre um lindo sorriso para mim, não posso negar que ele é bem charmoso.

— Me chamo Vinícius, e desculpe pela cena. Espero que não tenha se importado — O ruivo fala com deboche.

Não gosto dele, nem um pouco. Mas isso não vai ficar assim...

— Não me importo, só espero que não se repita.

Não me importo, mas também não vou ser tachado de otário, nem ser corno. Daniel quer um homem apaixonado, então terá que colaborar.

— Não irá.

Não acredito em suas palavras.

Daniel me olha feio. Devo ter interrompido a sua transa de hoje. Ótimo, que se dane!

— É sério isso... Noivo? — Carla pergunta, incrédula.

— Sim, ele me encanta — Daniel responde. — Quer outra bebida, anjo?

Falso.

— Por favor.

Daniel ergue a mão e faz o pedido com um rapaz, acho que deve ser o garçom. Ele é jovem, talvez tenha uns 23 anos ou um pouco mais — veste poucas roupas também.

Vinícius abre um pouco as pernas se insinuando para Daniel, que está completamente focado nele.

Maldito!

As conversas entre eles continuam e minha atenção vai para as pessoas no palco. É interessante a forma que dançam, como seduzem os e as mulheres e os mantêm aos seus pés. Eles são lindos assim como seus corpos exuberantes e invejáveis.

Daniel fala um monte de mentiras sobre nós, eu só assinto, olhando o movimento de cada um ao meu redor. O ruivo continua com as investidas, tanto em palavras quanto em gestos, me deixando puto da vida. Não quero sentir nada disso, mas estou com tanta raiva dos dois, principalmente por Daniel ficar dando bola e menosprezando minha presença.

As bebidas chegam. Em vez de pegar a minha, eu pego a dele e viro de uma vez. Engulo tudo e quase vomito, fazendo uma cena para a diversão dos amigos dele. Queima muito.

Mico! Parabéns, Samuel, a primeira impressão é a que fica.

Será que mais alguém tem um subconsciente chato como o meu?

— Vá com calma, Samuel — Daniel alerta.

Não digo nada, só pego a minha bebida e me encosto no banco para continuar vendo o ruivo praticamente voando em cima dele.

Não posso deixar isso acontecer, é muita sacanagem. Daniel vai me pagar, e esse ruivo também.

Vou mostrar que posso chamar a atenção da mesma forma.

Viro toda a bebida, preciso do álcool para culpar mais tarde. Encaro o Rafael, quase perdendo a coragem quando ele retribui o meu olhar, mas vou firme. Coloco um fio imaginário de cabelo atrás da orelha — já que meu cabelo jamais teria se soltado daquele rabo de cavalo apertado —, e dou um meio sorriso tímido enquanto ele morde os lábios.

Daniel olha de mim para o Rafael.

Agora chegou a minha vez. Quase falo para ele, ou melhor, eu poderia apenas mostrar o dedo do meio, representaria o que estou querendo dizer agora.

Não fiz nenhum dos dois.

— Samuel? — Daniel me chama, se inclinando para mim. — O que está fazendo?

Me inclino para ele, ignorando o perigo que seus olhos emanam.

— O mesmo que você.

Estou orgulhoso da minha coragem.

Me endireito ao lado dele e cruzo as pernas. Seus olhos vão direto. Não me intimido.

— Nossa. — Ouço Rafael ofegar, e Daniel bufar.

Estou fazendo a dancinha da vitória em minha mente.

Vinícius continua chamando a atenção do Daniel, mas ele está focado em mim. A cara de raiva que ele faz é a melhor coisa que acontece na noite, melhorando o meu astral.

Me aproveito disso para provocá-lo mais um pouco, então me inclino de novo em direção a Daniel, e ousadamente coloco uma das minhas mãos em seu peito.

— Pode me pedir outra bebida? — Abro um leve sorriso, me afastando sem tirar a mão dele.

Me sinto tonto, mas ainda sei o que estou fazendo, pelo menos acho que sei.

Seus olhos estão em chamas. Droga!

Puxo a mão de volta.

Ele continua me olhando, até que abre um leve sorriso malicioso, ergue a mão e faz o pedido assim que o funcionário chega.

Sei que estou brincando com fogo, mas esse ruivo não vai me fazer passar vergonha. Sinto os olhares dos outros em nós no momento em que Daniel se inclina em minha direção. Não esperava por isso, só que agora me sinto triunfante quando Vinícius fecha a cara, desfazendo seu sorrisinho de satisfação.

— Sei o que está fazendo e acho melhor parar — Ele sussurra no meu ouvido. Um sinal de alerta se acende em meu cérebro, me fazendo querer correr, mas não vou me acovardar.

Podemos jogar o mesmo jogo.

— Enquanto me fizer passar vergonha, vou continuar. Não vou aceitar sua falta de respeito, e esse cara já está passando dos limites. — Minhas palavras saem firmes, como eu queriaEle se afasta, me encarando com um olhar de ameaça, sem qualquer humor.

Bom!

Ele volta a entrar na conversa dos amigos até minha bebida chegar. Pego o morango que vem de enfeite na taça, e começo a chupar da mesma forma que a mulher da outra mesa faz com um limão.

O quê? O cara que está com ela parece gostar, então, sem julgamentos.

A atenção de Daniel está em mim de novo, assim como a de Rafael. Os outros apenas conversavam e riam sem notar. Vinícius, por outro lado, começa a me encarar também.

Tomo outro gole da bebida e finjo não perceber os olhares. Coloco de volta o morango na boca e fecho os olhos, sentindo o sabor.

— Hum, eu amo morangos — resmungo em um gemido.

O inferno me espera, com certeza.

— Anjo — Daniel sussurra no meu ouvido, com um tom rouco e baixo, me causando arrepios por todo o corpo. — Pare com isso, agora — Ele ordena, só que para mim parece mais uma súplica do que uma ordem.

Me seguro para não rir.

Ao me aproximar mais dele, ignoro seu cheiro atordoante.

— Não estou fazendo nada — desconverso, ingênuo. — Esta bebida é muito boa, deveria provar. — Levo o morango até sua boca, mas ele não abre, apenas me fuzila com os olhos de um jeito intenso. — Então eu quero. — Dou de ombros, levando a fruta de volta a boca, ainda olhando para ele.

Daniel fecha os olhos e, quando os abre novamente, sinto medo. Minha garganta seca, portanto, bebo mais do drink para melhorar.

— Penso em outra forma muito melhor de provar uma bebida.

Engulo de uma vez para não cuspir tudo para fora. Me levanto rapidamente, fazendo o ruivo rir.

Maldição! Outro mico.

— Preciso ir ao banheiro.

Agora todos riem do meu desespero.

— Vou com você, te mostro onde fica. — Vinícius se levanta.

Tinha que ser ele?

Assinto, preciso sair daqui rápido.

Caminhamos até o banheiro; é enorme e tem algumas homens no espelho, lavando as mãos.

Entro em um reservado e me encosto à porta, tentando respirar. O que estou fazendo? Minha vida está bem complicada para ter que passar por isso.

O que o Lucas diria desse homem que me tornei? Com toda certeza sentiria nojo de mim. Me sinto sujo, imundo.

— Está tudo bem? — O ruivo pergunta batendo à porta.

— Está sim, só um probleminha com a roupa — Minto.

— Quer ajuda?

— Não, obrigado. — Puto! Queria muito dizer.

Acabo usando o banheiro.

Quando saio, vejo meu reflexo no espelho não me reconhecendo.

Essa não sou eu.

— Você ficou brava com o... Daniel pelo beijo? — Vinícius encosta-se ao meu lado, olhando pelo espelho. Percebo a forma como diz o nome dele.

Aposto que sabe o seu nome verdadeiro.

— Um pouco — Minto novamente. Talvez não seja tão mentira assim, porque fiquei bravo, mas não pelo motivo que ele pensa.

— Não sabia que ele estava noivo. Dani não é do tipo que tem compromissos.

— E você, conhece bem ele?

Será que eles já namoraram?

— Sim, estamos nessa amizade colorida há muito tempo. Portanto, te darei um aviso como amigo: — Abre um falso sorriso, que logo desaparece.

— Ele sempre volta pra mim. Se você pensa que será o único, esqueça.

Que vagabundo! Não acredito que ele disse isso.

Sinto a raiva escurecer minha visão e nublar meus sentidos.

— Eu serei o marido. É para mim que ele vai voltar, querido. Você é apenas a diversão, um objeto descartável — Ele levanta a mão e desce de uma vez para acertar a minha cara; mas como vejo Daniel fazer isso de vez em quando, consigo segurar o braço dele no tempo certo.

(Claro que a adrenalina do momento está ajudando...)

— Você é um putinho! Ele nem vai se casar com você, não irei permitir.

Dou risada na cara dele.

Queria dizer que não me importo, que pode tê-lo por inteiro, mas não digo.

— Você pode tentar — Faço um desafio.

— Vai ser fácil. Você parece inocente demais para ele, e posso afirmar, já que fugiu feito um bebezinho... — Vinícius fala alto, chamando a atenção dos outros homens — Até quando acha que ele aguentará as suas frescuras? Anjo! — zomba. — Ele é bruto, gosta dos selvagens, e você não é nada comparada a mim na cama.

Claro que não, se não estive com ele nem com ninguém na cama.

Bruto? Minha cabeça gira com essa palavra.

Lembro-me imediatamente do que Daniel me disse em casa, antes de ir com ele: “Selvagem, chega a arrepiar.”.

Afasto os pensamentos, antes que eu tenha um treco aqui com esse louco.

— Você é patético! Veio comigo no banheiro para esfregar na minha cara como pode ser um bom vagabundo na cama? Deveria se valorizar mais. — Empurro-o para longe de mim.

— Ele gosta de vagabundos. — O que esse cara tem na cabeça? — Gosta dos que se jogam em cima dele, e você não tem coragem, pois fugiu que nem um menininho assustado na primeira investida que ele te deu.

Meu corpo aquece, estou furioso. Nunca fui de aceitar provocações, mas confesso que ele está me tirando do sério.

— Não o beijei porque não gosto de me exibir, mas se é beijo que você quer, posso fazer uma boa cena — digo, sem pensar, zonzo pelo álcool em meu organismo.

Saio do banheiro pisando duro. Esse puto me irritou no limite...

Vinícius vem atrás de mim para ver se eu teria mesmo coragem.

Por que estou fazendo isso mesmo? Não sei, mas esse cretino não vai me ver fracassar.

Daniel está conversando na mesa e me vê se aproximar dele. Arqueia as sobrancelhas, sem entender por que eu estou indo em sua direção dessa forma.

— Levanta — ordeno, usando a mesma autoridade que ele exerce comigo.

— O quê? Samuel... — Seu tom de voz quase me faz desistir.

— Agora!

Os amigos dele começam a tirar sarro.

— Não estou entendendo. — Daniel se recusa a levantar.

Maldito!

O ruivo dá aquelas risadinhas debochadas, se sentando de volta no lugar dele.

Que ódio! Argh.

— Daniel! — Ergo as sobrancelhas sugestivamente, mas ele sorri, abrindo os braços no sofá, de um jeito desafiador.

Isso não está saindo exatamente da forma como planejei.

— Se não for até ele, eu vou — Rafael assegura, olhando para Daniel, que fecha a cara na hora.

— Quer tentar, Rafael? — Daniel fica de pé.

Acho que se eu não fizer alguma coisa agora, vai dar briga, e não quero causar danos a ninguém, seria mais vergonhoso.

— Daniel, olhe para mim — peço e acho que é pelo tom suplicante em minha voz que o faz me olhar de volta. Vejo a raiva se evaporar dos seus olhos e a confusão tomar lugar.

Mas não espero nem fico pensando, devo agir antes que eu perca a coragem. Puxo-o para mim, colando nossos corpos. Jogo os braços em seu pescoço e grudo nossos lábios. Alcanço sua boca sem problemas.

Daniel fica surpreso, mas não demora a agarrar minha cintura com seus braços fortes e dar passagem para minha língua se envolver na dele. No começo ele me deixa guiar, mas perco o ritmo assim que me aperta, aprofundando o beijo.

Meu Deus, o beijo é tão vigoroso que meu corpo se acende como uma tocha. É quente e cheio de ternura. Nunca fui beijado dessa forma, com tanto desejo envolvido, nem mesmo por Lucas.

— Procurem um quarto! — Jorge grita, fazendo todos explodirem em risadas histéricas.

Nos afastamos um pouco, olhando um para o outro, sem ter muito o que dizer. Ele parece querer perguntar algo, mas pega a minha mão em silêncio e me leva para o banco onde estávamos sentados.

Desvio os olhos para os outros no momento em que Daniel me encara.

Sinto o peso do seu olhar em mim.

A conversa em volta continua enquanto tento me recuperar do beijo.

— Acho que todos nós deveríamos achar um quarto — Vitor sugere.

— Todos juntos? — Rafael pergunta me olhando.

— Tá louco? — Carla responde. — Não divido o meu garoto.

Todos continuam rindo.

— Se quiser, podemos nos divertir. — Vinícius se insinua para o Rafael.

Puto!

— Com certeza — diz ele, sorrindo.

Eles começam a se beijar, e Daniel abre um leve sorrisinho. Ele deveria se sentir enjoado... Vá saber quem esse louco beijou antes de beijá-lo? E eu mais louco ainda porque o beijei.

Acho que vou vomitar!

— Quer ir embora? — Daniel sugere. Nem reparei que chegou tão perto. — Por quê?

Fico com medo do que o meu beijo pode ter causado. E se ele achar que eu quero alguma coisa?

O que fui fazer...

— Estou cansado. — Não acredito no que ele diz.

— Posso beber mais um drink?

Estou com medo de ir embora.

Ele concorda, olhando para minha perna cruzada. Nem percebo que fiz isso, então descruzo rapidamente. Num movimento rápido, Daniel está ligeiramente sobre mim, me prensando entre o banco e seu corpo quente. Põe a mão espalmada em minha perna, me fazendo ficar imóvel. Sua mão escorrega pela minha perna, pegando o joelho e vindo até o alto da coxa, me causando desejos desconhecidos. Lucas evitava me tocar, mas Daniel não tem problema algum com isso.

Seu toque faz um rastro de fogo em minha pele. É como se tocasse em meus ossos, minha alma.

— Tão macio — sussurra maliciosamente, sua voz trasborda sensualidade.

— Daniel, o que está fazendo? — murmuro para que os outros não me ouçam.

— Retribuindo o que me causou com o seu beijo inesperado, e vai ter que explicar por que me beijou.

Daniel é intenso, suas palavras me tiram o fôlego.

— Eu...

Ele encara a minha boca. Automaticamente passo a língua pelos lábios querendo ser beijado novamente.

Senhor! Devo ter bebido demais.

— Não me provoque, Samuel, não sou como o seu maldito noivo. Sou homem e pegarei o que é meu assim que quiser e, se continuar me provocando desse jeito, não vai demorar muito...

Essas palavras deveriam me fazer odiá-lo mais, só que o meu corpo me trai conforme vem fazendo ultimamente.

— Não se atreva — falo em um fio de voz, ofegante, negando totalmente o que meu corpo deseja.

Ele se afasta, aos risos, fazendo o pedido da minha bebida. Espero ansioso por algo gelado. Assim que bebo o primeiro gole, fecho os olhos, sentindo o alívio descer pelo meu corpo.

Acabo a bebida, e Daniel anuncia que já estamos indo. Nos despedimos dos seus amigos enquanto Vinícius continua me olhando com raiva.

Simplesmente a ignoro.

— Quer que eu vá também? Podemos fazer algo inusitado. — Ele oferece para mim, levantando a sobrancelha sugestivamente.

Filho da mãe!

— Não, querido, posso dar conta de tudo sozinho.

Não sei de onde saiu isso, mas saiu e agora não tem como voltar atrás, muito menos conseguir encarar o Daniel de frente.

— Será?

Argh, que raiva desse égua!

— O que acha? — Olho para Daniel, que parece se divertir com a minha cara. Não desvio o olhar, continuo desafiando-o a me envergonhar novamente.

Ele desvia seus olhos e percorre meu corpo descaradamente. No final suspira e solta um palavrão.

— Com certeza.

— Então está bem, quando precisar é só me ligar — Vinícius sugere, cabisbaixo tentando manter a postura.

Será que ele já levou um pé na bunda? Este com certeza ficará gravado na mente dela.

Saímos pelo canto, em silêncio, passando pela porta de aço. Subimos pelo elevador até chegar naquele corredor de tijolos. Tudo está indo bem, exceto o climão entre nós.

Quando sigo para o corredor da saída, Daniel segura meu braço.

— Você precisa colocar a venda nos olhos.

Sei que discutir não nos levará a nada, então me viro enquanto ele coloca a venda em mim.

Em vez de começar a andar, ele me prensa na parede e me beija. Tento empurrá-lo, mas é impossível, Daniel é maior e bem mais forte do que eu. Sinceramente, esse não é todo o problema, muito pelo contrário, eu dou passagem a ele.

Eu quero ser beijado.

O beijo é como o outro, só que mais intenso, principalmente porque agora estamos sozinhos. Suas mãos passeiam pelo meu corpo livremente, causando um frenesi de sentimentos misturados, fazendo um desejo avassalador se apossar de mim, me deixando confiante, tão pronto. Ergo a minha perna e, suas mãos vêm e vão me apertando, pressionando o quadril ao encontro do meu, esfregando sua ereção enorme na minha, me fazendo gemer.

— Daniel...

Ergo o pescoço e ele desce beijando toda a extensão e voltando para minha boca.

— Fique quieto, Samuel — Ele afirma, sussurrando na minha pele.

O quê? Busco um pouco da consciência que me resta e percebo o que está acontecendo. Como ele não espera que eu o empurre, é fácil me soltar.

Arranco a venda e jogo nele.

— Nunca mais toque em mim! — exclamo, ofegante, praticamente sem ar.

— Mas... O que foi? — Ele tenta se aproximar.

— Não se atreva a me tocar, você é repulsivo e imundo.

Começo a andar pelo corredor com pouca luz, de braços cruzados. Estou totalmente desconfortável e contrariado. Por que não consigo resistir a ele?

— Não é para esse lado.

Volto batendo o pé, feito um garotinho mimado. Passo por ele, indo para o outro lado ao mesmo tempo em que vem atrás de mim.

— Coloque a venda, vai ser mais rápido — Ele pede.

— Vai sonhando que vou colocar isso de novo.

Sigo o corredor imenso até que ele bifurca o meu espaço.

— Qual lado vai seguir? — Me provoca.

— Vá pro inferno, Daniel!

— Não me chame assim, esse não é meu nome! — esbraveja, como se fosse a minha culpa.

Me viro para ele, ficando frente a frente, numa distância de quase 2 metros.

— Como quer que o chame se não sei o seu nome? — resmungo, falando em voz alta. — Nem sei se você é mesmo real... Quem é você? Eu não sei.

As lágrimas ameaçam sair, mas me seguro.

— Qual é o problema com você? Será que não pode ser normal? Seria bem mais fácil se me obedecesse, seria tudo mais fácil se não tivesse me deixado sentir o seu sabor. Por que me beijou, Samuel? Por quê?

— Agora quer me culpar? Você que me arrancou dos meus pais e me trouxe aqui para os seus amigos zombarem de mim. O que queria que eu fizesse?

Nossos gritos reverberam pelas paredes do corredor, dando eco.

— Zombarem? Não, eu vi o contrário. Rafael estava bem satisfeito — rebate, seu rosto está vermelho de nervoso.

— Da mesma forma que o ruivo estava louco para abrir a bunda para você! Sabe o que ele fez? Foi me desafiar no banheiro. Disse que você sempre vai voltar pra ele, que eu estava fugindo de você. O que queria que eu fizesse... Contasse a verdade?

Jogo as palavras que vêm à cabeça sem ser capaz de controlar minha língua.

— Não, mas por que o que ele disse te incomodou? Por que isso importa?

— Não importa, mas você me apresentou a eles como seu noivo, então eu tinha que me importar se fosse mesmo apaixonado por você, não é mesmo? Ou pensa que vou andar por aí e as pessoas vão me chamar de idiota, me tachar de corno? Acha que vou ficar aceitando você beijar outro homem na minha frente? Se for para ser assim, da próxima vez me apresente como seu amigo, daí poderá transar com quem quiser — desabafo, enquanto ele me encara, parecendo cansado de tudo isso.

— Samuel...

— Nada de Samueo! Eu não vou me casar com você desse jeito. Sei que tem a vida do meu pai na sua mão, mas não vou passar por isso. Eu me mato primeiro...

— Samuel! — Ele grita.

— O que você quer? — grito de volta.

— É por aqui. — Indica por fim, suavizando a voz.

Ele vai à minha frente, entrando na escuridão. Seguro nele contra minha vontade, não quero cair.

Quando chegamos ao clube, percebo que ainda está lotado. Parece até que apareceram mais pessoas. Tenho que me esquivar dessa movimentação para chegar à rua.

Estou com raiva, meu corpo ainda formiga pelo seu toque.

Desgraçado!

— Onde está o carro? — pergunto, olhando para os lados.

— Na frente daquela loja — Aponta na direção oposta. Posso ver o carro estacionado lá.

Saio marchando, emburrado, não quero nem olhar para cara dele.

Chegamos a casa dele da mesma forma — obviamente ele correu que nem um louco na estrada.

Subo para o quarto e me tranco, mesmo sabendo que não terei privacidade.

— Samuel? — Ele bate à porta.

— Me deixe em paz.

Silêncio.

Por um minuto, penso que desistiu de me importunar, mas o que acontece em seguida, de alguma forma, me mostra exatamente o contrário:

— Meu nome é Gabriel.

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Comentários

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E os corações começam a trair os seus donos e transformar desejo em amor...

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Delícia, por um momento cheguei a pensar que iria rolar um namorinho de fim de noite.

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