Bruna voltou !!! E já voltou causando. E isto provocou uma mudança drástica em Elisa. Ela se sentia inferiorizada à ex-esposa de Renato por se considerar “a amante”.
...
–(Elisa) O pior disso tudo é que, nessa equação, eu sou a outra. Sou a amante. Ela é sua esposa. Sim, oficialmente ela é a sua esposa e eu sou apenas vadia que surgiu para destruir o casamento feliz de vocês dois.
Diante daquele argumento, Renato entregou os pontos e não discutiu mais. Não demorou para que ela pedisse para que ele a levasse até a sua casa e ele passou o resto do final de semana sozinho.
Bruna, por outro lado, passou a noite daquela sexta-feira rolando na cama sem conseguir pegar na cama. Sentia um misto de frustração e, ao mesmo tempo, tesão e então agiu como sempre fez, desde que resolveu ficar longe de problemas e não ter mais relação com qualquer homem ou mulher. Ela comprou alguns vibradores que usava em suas noites solitárias. Foi até o armário onde guardava seus brinquedinhos e escolheu um daqueles duplos.
Voltou para cama, tirou toda a roupa e enfiou o vibrador que tinha a parte menor enfiada no seu cuzinho e a maior na xoxota. Como não conseguia gozar, ficou de quatro na cama e inverteu, gemendo de dor ao socar aquele enorme pau em seu cuzinho, enquanto o menor vibrava encostado em seu grelinho. Então gozou ruidosamente, mas isso não era nenhum problema, pois sabia que quase a totalidade da mansão tinha suas paredes revestidas com amortecedor acústico e que ninguém conseguiria ouvir. Na noite do sábado para domingo repetiu a dose, enquanto durante o dia ficou na piscina tomando sol e descansando.
Edna e Álvaro passaram todo sábado conversando sobre o que fazer para resolver o problema surgido com o regresso de Bruna. Ao final, não chegaram a nenhuma conclusão, exceto a de interferir o mínimo possível. Mas essa parte de não intervir era mais uma característica de Álvaro e ambos sabiam que Edna jamais deixaria de procurar ajudar a qualquer uma daquelas três pessoas que ela já se acostumara a tratar como filhos. Tanto é que, no domingo, ligou para Elisa e, ao saber que ela estava em sua casa e não na companhia do Renato, foi buscá-la, trazendo-a para casa onde ela foi coberta de mimos e carinhos.
Continua ...
Capítulo 08 – Lições de Pai para Filha
Bruna cedeu ao pedido de seus pais para ficar morando na mansão com eles e isso fez com que ela se sentisse, pela primeira vez na vida, próxima ao seu pai. Eles conversavam sobre todos os assuntos e ela tinha a nítida impressão de que seu pai conduzia os assuntos sempre de forma que servissem para deixá-la a par do vasto campo de atividades dele, sobre sua forma de agir em situações conflitantes e, o que ele disse ser o mais importante, o poder da informação.
Seu pai considerava a informação como a arma mais importante para sair vencedor em uma disputa comercial, política ou mesmo em uma guerra. Para ilustrar sua ideia, ele disse uma frase que fez com que ela entendesse o seu ponto de vista. Assim que falou sobre a importância da informação em uma guerra, ele ilustrou com a frase:
–(Pai da Bruna) Se aquele imbecil do Hitler se preocupasse em ficar bem-informado em vez de ouvir aquela cambada de puxa saco que o rodeavam, ele teria defendido o norte da África com tudo o que tinha, em vez de ficar jogando bombas em Londres ou, pior ainda, invadir a Rússia.
–(Bruna) Não entendo como manter a posse da África poderia ser útil para ele.
–(Pai da Bruna) Muito simples. Petróleo. Como alguém poderia vencer uma guerra naquele tempo sem ter a autonomia na produção de combustível.
Mais tarde, Bruna pesquisou sobre o assunto e depois aceitou a sugestão de seu pai e assistiu na Netflix a série: Círculo do Mal (Circle of Evil no original) e pode entender o que seu pai disse sobre ser desinformado e o poder da informação.
Então ela perguntou para ele se foi a informação que ajudou a ele a ficar tão rico, ou se ele já nascera rico e pouco mudara durante sua vida. Então o pai contou para ela algo sobre ele que ela jamais poderia sonhar nessa vida:
–(Pai da Bruna) Foi a informação. Quer dizer, não foi apenas isso. Eu tive que ajudar em muitos sentidos, mas também tive uma ajudinha do destino. – Depois, sem que ela pedisse, começou a contar: – Não, eu não nasci rico. Meu pai era um funcionário público que, sem grandes ambições, estava satisfeito com um emprego que lhe permitia ter sua casa própria, seu carro e custear os estudos dos filhos até concluir o ensino superior. Todos elogiavam a honestidade e os esforços dele, mas eu não era feliz. Eu queria mais, muito mais, nem que para isto eu tivesse que tomar atitudes não tão honestas. Bom, pelo menos me sinto agradecido ao meu pai pela faculdade, pois de posse do diploma foi fácil arrumar um emprego e conquistar a confiança do patrão. Essa confiança foi o pontapé inicial na minha vida, pois, em umas férias prolongadas ele deixou tudo em minhas mãos, além de uma procuração me outorgando poderes totais sobre todos os seus bens. Contudo, nesta viajem houve um acidente e a família toda faleceu. Era tudo o que precisava. Depois do acidente eu tive tempo suficiente para que transferir todos seus bens para mim.
“Sei que não foi correto o que eu fiz, aliás esta não foi a única atitude incorreta que eu fiz, mas eu aproveitei a oportunidade. A partir deste momento eu era o patrão. Fiz algumas alterações na forma da empresa agir, comecei a conseguir informações sobre os meus concorrentes e, menos de três anos depois, já tinha o total monopólio daquele segmento industrial. Depois foi só expandir e conquistar o status de homem bem-sucedido para poder ingressar nos círculos sociais mais elevados e foi aí que conheci sua mãe. Rica e totalmente sem noção de sua situação financeira, não foi difícil conquistá-la. Namoramos, tive a aprovação do seu avô depois de obter informações sobre algumas atividades não tão ortodoxas a respeito dele e de sua avó, e passei a fazer parte da nata da sociedade”.
O pai de Bruna continuou:
–(Pai da Bruna) Daí em diante, foi só administrar e aumentar essa fortuna cada vez mais. Com o tempo, me afeiçoei à sua mãe e a conquistei outra vez, mas já era tarde, pois com a minha ânsia de conquistar poder a qualquer custo, negligenciei o casamento e ela compensou essa minha ausência com outros homens. Ela gostou disso e, mesmo com todos os esforços em voltarmos a ser um casal tido como “normal”, ela não abriu mão. Então me vi em uma situação de, ou aceitava essa forma dela viver, ou terminava o casamento.
“Optei por manter o casamento, lógico. E não pense que me arrependo disso, pois com o tempo fui me acostumando até começar a gostar desse novo estilo de vida, então aproveitei ao máximo também. Para mim, o único entrave foi você. Não queria que nosso modo de vida viesse a te afetar e acabei sendo vencido também nesse particular. Ela continuou a agir como sempre e isso provocou alguns problemas sérios, alguns deles você já sabe do quem se trata”.
–(Bruna) Clara, eu imagino. – Disse Bruna interrompendo o pai pela primeira vez.
–(Pai da Bruna) Isso. Ela mesmo. – Concordou o pai e continuou. - Hoje, porém, me dei conta de que deveria ter me preocupado com você em outros sentidos. Não foram os casos de sua mãe que fizeram você agir da forma como agiu. Tudo bem, tem sim a questão da genética, mas não foi este o real problema. Deixei que você acreditasse nisso por comodismo, pois é fato, o grande responsável por isso sou eu. Eu imaginava que o que domina a sua vida, assim como dominou a minha, era a necessidade até abusiva que temos de manter o controle sobre vários aspectos da nossa vida. Eu percebi você se esforçando para disfarçar isso durante toda a sua vida.
“Nas escolas, você agia como a garota boazinha que concordava com todo mundo e demonstrava uma necessidade de ser útil. Nunca queria se destacar, quando no fundo sonhava em ser a heroína, a melhor em tudo o que fazia. Isso fazia com que você preferisse a companhia dos filhos de nossos empregados do que com seus primos e também te levou a se aproximar da sua amiga Aline e da família dela, agindo como se fosse adotada por eles. Foi somente aí que eu percebi que tudo isso teve um efeito maléfico em você que passou a ter uma necessidade enorme de ser controlada”.
Bruna ouvia atenta:
–(Pai da Bruna) A Aline exercia controle sobre você, assim como se deixava ser dominada por sua mãe. De repente, você se apaixona pelo cara mais errado que podia aparecer. Sim, estou falando do Renato, e não, ele não tem nada de errado com relação ao seu caráter. E olha que, com os pais que teve, ele tinha tudo para ganhar o Troféu Canalha todos os anos, porém, ele se tornou uma pessoa totalmente diferente. Dedicado, esforçado e te amava com todas as forças. Mas ele não é o tipo de homem que gosta de exercer controle sobre alguém. Ele nunca desejou uma mulher para ser sua seguidora e devotada a ele em todos os sentidos, ele queria uma companheira e cúmplice.
“Alguém que lutasse por ele e com ele, ombro a ombro, em todos os aspectos da vida. Você, por outro lado, passou a precisar de um homem que te domine, que seja macho, coordene seus desejos e que te leve a ser a pessoa adorada, desejada e, ao mesmo tempo, sempre disposta a realizar os desejos dele. Fiquei assistindo o desenrolar dessa relação e não me surpreendi quando aconteceu aquele episódio com o Arnaldo, o tio dele, que era o tipo de homem que tinha tudo o que você queria. Mas você desenvolveu isso de forma diferente. Em tudo o que diz respeito à vida caseira e profissional de um casal vocês deram certo porque você gosta de ser parceira em algumas coisas, menos no sexo.
O pai de Bruna continuou:
–(Pai da Bruna) No sexo você gosta de ser dominada, usada e nas vezes que você se deparou com situações em que pessoas que agiram dessa forma você se entregou de corpo e alma. Então é isso. Você ficou protegida sobre o véu que estendi sobre você para este fim, mesmo sabendo que não ia conseguir isso durante todo o tempo. Então aconteceu o Arnaldo, a Ester, o Djalma e muitos outros, pois você rompeu a barreira que te manteve a certinha por tanto tempo e agora não tem mais retorno. Pode estar certa, se você não encontrar um homem que possa ser seu cúmplice. Que te tenha e te domine, mas ao mesmo tempo seja seu cúmplice nesses seus desejos sexuais malucos, você não vai ser feliz.
–(Bruna) O que você está querendo dizer com isso? Você está insinuando que o Renato e eu não temos nenhuma chance de voltarmos a ser marido e mulher? – Disse Bruna com uma voz chorosa.
–(Pai da Bruna) Infelizmente eu acho que não minha filha. E insistir nisso é trazer sofrimento para todos. Para você, para ele e para todos os que rodeiam e amam a vocês dois. E você pode acreditar que tem muitas pessoas à sua volta que te amam.
–(Bruna) Quer dizer que ele vai ficar com aquela insossa daquela menina? – Bruna agora já se desmanchava em lágrimas.
–(Pai da Bruna) Sinto muito minha filha. Mas ela não é uma menina e muito menos insossa. E eles vão ficar juntos, quer você queira ou não. Quer dizer, você pode até atrapalhar isso. Com o dinheiro que você tem, se abrir mão de seu caráter de vez e agir desonestamente você vai poder tudo. Agora, se a sua pergunta é sobre ser feliz, então não. Insistir nisso trará infelicidade aos dois, mas isso não vai te fazer feliz. Aliás, insistir nisso, só vai fazer que o pouco de consideração que o Renato ainda tem por ti acabe de vez, ou seja, você ainda pode ter a amizade e algum respeito da parte dele, continuando a tentar destruir a felicidade dele, só vai conseguir desprezo.
“E tem mais minha filha. Tenho informantes dentro da empresa de vocês e tudo o que pude concluir com o que fiquei sabendo é que Renato e Elisa são como corda e caçamba. Aonde um for, o outro vai junto. Se um se movimenta, o outro faz o movimento necessário para ficarem próximos e isso acontece sem que ninguém faça nada, é automático. Na verdade, acho que essa união dos dois é uma coisa que já vem de vidas passadas.
–(Bruna) Do que você está falando, pai? Que vidas passadas?
–(Pai da Bruna) Sei que pode parecer estranho. Mas ultimamente andei me informando sobre o espiritismo e isso foi muito benéfico para mim. Seu que soa hipócrita eu falar em espiritismo e, na verdade, é isso que sou, um grande de maldito hipócrita, pois a doutrina de Kardec nos ensina que, fé sem ações não salva ninguém. Nunca fui caridoso. Posso ter ajudado a muita gente, mas sempre houve um motivo não muito louvável. Ou para que a pessoa beneficiada se mantivesse calada, ou para obter alguma coisa dessa pessoa. Entretanto, aprendi que podemos ter outra vida e nela uma oportunidade de compensarmos o mal que fizemos e eu até anseio por isso.
“Essa doença e o fato de estar com os dias contados não me assusta, pois sei que será apenas uma passagem e vou ter como pagar por todo o mal que fiz. Por falar em conforto, vou te passar uns documentos sobre alguns investimentos que fiz e ninguém tem conhecimento, ninguém mesmo. Você é a primeira a saber. O dinheiro que tem lá pode ser seu, basta você querer, porém, gostaria que esse dinheiro fosse usado em caridade. Caso aceite, você poderá repassar para ajudar a quem quiser. Até agora, tenho destinado esse dinheiro para o Hospital de Câncer de Barretos. Pode ficar tranquila, mandei investigar os dirigentes e administradores daquela instituição e descobri que são todos idôneos. Todos eles justificam o fato de ter sua obra denominada como Hospital do Amor”.
–(Bruna) Nossa pai! Você fala como se fosse morrer amanhã.
–(Pai da Bruna) Não sei se é amanhã. Porém, sei que não demora e acho bom que você esteja preparada para isso. Afinal, é você que vai ter que administrar tudo isso e cuidar de sua mãe.
Depois disso, Bruna se abraçou ao seu pai e choraram juntos.
Mais tarde, já controlados, o pai começou a passar orientações sobre seus bens para a filha e depois sobre a forma como ele agia em determinadas situações, até que chegou a detalhar a forma como mantinha uma rede de informações. Bruna chegou a ficar assustada com a capacidade do pai de manipular tanta gente e ficou feliz quando ele informou, quando se deu por satisfeito, que estava desmantelando sua rede de informações e a deixou até mesmo assustada quando lhe disse ao final:
–(Pai da Bruna) Inclusive, vocês da empresa vão receber dois pedidos de demissões nesta semana. São dois ótimos profissionais, porém, não tentem impedir que eles abandonem vocês, são os dois informantes meus e não se preocupem com o destino dos dois, já cuidei para que eles tenham um futuro tranquilo.
O ambiente na empresa de Advocacia, até o dia de sua conversa com o pai, foi tenso. Todos os sócios, Elisa e até algumas pessoas que lá trabalhavam agiam como se estivessem pisando em ovos. Tudo era dito com muito cuidado com todos se policiando para não ferir suscetibilidades. Menos é lógico, Bruna e Elisa. Sim, porque se de um lado Bruna não perdia uma oportunidade em alfinetar sua rival, por outro a jovem advogada adotou uma postura de não engolir sapos.
Com relação ao relacionamento de Renato e Elisa, o ambiente não demorou a esquentar, porém, foi só uma vez. Estavam em uma reunião de encerramento de cinema e Bruna estava presente, embora ainda não estivesse atuando, pois estavam preparando as dependências para depois divulgarem o início dessas atividades.
Porém, ninguém se importava com isso, afinal de contas, ela era a principal sócia da empresa, estando de posse de cinquenta por cento da mesma. Estavam discutindo um processo que estava a cargo de Renato e ele estava encontrando dificuldades, quando Elisa chamou a atenção para um detalhe que, se observado por ele, mudaria essa situação. Ele concordou e agradeceu, porém, Bruna usou esse episódio para provocar e falou:
–(Bruna) Você anda muito distraído Renato. Acho que esse negócio de ficar só trepando com a sua garotinha não está te fazendo muito bem.
Todos prenderam a respiração e durante alguns segundos só se ouvia o som baixo dos aparelhos de ar-condicionado do ambiente e Edna já ia dizer alguma coisa para chamar a atenção de Bruna, quando a voz calma e tranquila de Elisa se fez ouvir:
–(Elisa) Você está errada Bruna. A gente não trepa, nós só fazemos amor. Você consegue se lembrar de como é fazer amor? Ou melhor, já fez amor alguma vez na sua vida?
Se antes todos ficaram quietos, depois disso mesmo ficou parecendo até que era uma reunião de mudos. A primeira a reagir, foi a própria Bruna que, percebendo que ninguém ali sairia em sua defesa, pegou sua bolsa, se levantou e saiu dizendo:
–(Bruna) A frígida aqui está saindo pela tangente. Bons serviços para todos vocês.
Mal a porta se fechou atrás de Bruna, Renato censurou Elisa:
–(Renato) Você precisava mesmo agir assim? Desse jeito logo vocês duas estarão se estapeando.
Agora foi a vez de Elisa que, revoltada pela reação dele que a incomodou mais do que a ofensa de Bruna, foi impedida de falar, pois Edna já saiu em sua defesa:
–(Edna) Precisava sim, Renato. Precisava e fico feliz que ela tenha feito. Assim não precisou que fosse eu dizer, ia ser muito pior que isso.
–(Renato) Não sei não. Do jeito que as coisas estão indo, não acho que a gente vai muito longe com essa empresa. Em um ambiente assim ...
Álvaro interferiu na discussão concordando com Renato e pediu para que Elisa pelo menos tentasse não reagir a cada ofensa de Bruna, porém, prometeu que ele mesmo falaria com Bruna caso ela voltasse a provocar.
Entretanto, não foi necessário. A partir da conversa entre Bruna e seu pai, ela não fez mais nenhum comentário sobre o relacionamento de Renato e Elisa. Os pedidos de demissão dos dois colaboradores foram aceitos, com Bruna interferindo veladamente para que que ninguém tentasse interferir, porém, ela nunca contou para ninguém o verdadeiro motivo daquelas demissões.
Com relação às salas para Bruna instalar seu escritório, decidiram alugar no mesmo prédio. Álvaro descobriu que no andar de cima tinha uma sala vaga e em outros andares mais dois. Isso criaria dificuldades, pois as salas não eram contíguas. Resolveram negociar com dois ocupantes daquele andar.
O primeiro deles não criou dificuldades, pois, na atividade que desenvolvia, havia um fluxo muito grande de pessoas que vinham até ele e, como uma das salas livres era no primeiro andar, ele ficou feliz em concordar com a permuta, sabendo que com isso seus clientes poderiam chegar até ele independente de elevador, pois seriam apenas dois lances de escada. E também não era nada mal fazer essa mudança com todos os custos correndo por conta da empresa de Bruna.
O último deles, entretanto, resolveu criar dificuldades. Não houve argumento que convencesse o homem que, com a única justificativa que estava muito feliz ali, não aceitou de forma alguma. Mesmo com o impasse, Bruna iniciou algumas reformas que já estavam quase concluídas, quando o homem entrou na sala em que ela estava.
Ele falava alto e demonstrou estar muito revoltado, dificultando que ela entendesse o que se passava. Com muito custo, ela foi descobrir que o homem havia recebido uma solicitação de um fornecedor que era crucial para ele manter suas atividades para que aceitasse fazer a permuta de sala e, como ele se recusou, estava agora sendo informado que aquela empresa estava encerrando qualquer atividade comercial com ele.
Para complicar ainda mais, naquele momento era Elisa quem estava ao lado de Bruna. Um processo em que Bruna atuou como defensora e perdeu estava agora para ter o julgamento do recurso, pois ela não concordava de forma alguma com o resultado e insistia nisso.
Elisa, ao analisar o processo, encontrou um detalhe que poderia ser crucial na decisão do recurso, porém, antes de tomar qualquer atitude resolveu falar com ela. Desceu então até o andar abaixo e entrou na sala onde Bruna havia acabado de discutir com o decorador a respeito dos móveis e demais adereços para deixar a sala em condições de uso e estava sozinha. Ela se dirigiu à Bruna dizendo:
–(Elisa) Com licença. Doutora Bruna, você poderia me ajudar com esse processo.
Bruna olhou para ela admirada por ser ela a fazer a solicitação e acenou com a cabeça concordando. Elisa se aproximou dela e passou a explicar. Elas se sentaram nas duas únicas cadeiras que tinha no ambiente e o processo ficou sobre as pernas de Elisa. Bruna ouvia o que ela dizia e se inclinava para consultar os documentos que ela lhe mostrava.
O clima era totalmente profissional, porém, Bruna se sentia um pouco incomodada, principalmente ao notar que o detalhe que a outra lhe mostrava já estava ali quando do julgamento e ela tinha deixado passar, o que implicava em dizer que havia tido uma falha dela, porém, em momento nenhum Elisa agiu como se censurasse a ela. Foi nessa hora que o vizinho invadiu a sala para ofender Bruna.
Elisa não se intimidou e foi em defesa de Bruna que agradeceu a ela e disse que resolveria tudo, pois não levou um segundo para saber o que estava por trás disso. Então ela informou ao homem que resolveria isso e pegou sua bolsa e já ia saindo, quando se voltou para Elisa e perguntou:
–(Bruna) Você pode, por favor, cuidar disso pra mim? – E ao ver que Elisa concordou com um aceno de cabeça, completou: – E muito obrigada por vir me mostrar essa besteira que eu cometi, e também, se precisar de alguma coisa, só me procurar. E estou falando sério. Ah! Você poderia informar ao Álvaro que estou saindo e não volto mais hoje?
Depois saiu da sala sem dar tempo para que Elisa respondesse à sua última pergunta.
Bruna não voltou a ocupar o apartamento que ocupava antes de ir para a Europa. Talvez, em virtude da doença do pai, ela resolveu ficar na mansão deles e isso estava trazendo alguns benefícios, pois, convivendo mais com seu pai, ela começou a ver nele algumas qualidades que ela até então não conhecia.
Porém, o defeito de ficar se metendo na sua vida ele não abandonava. Mas ela estava resolvida a acabar com isso. Sabia que isso não seria fácil. Isso provocou uma discussão horrível entre os dois, mas ela não arredou pé e só deixou o pai em paz quando ele, na frente dela, ligou para a empresa fornecedora da matéria prima e pediu para seus diretores retirarem a ordem de boicotar aquele homem, tendo sido obedecido imediatamente, pois ele era o maior acionista daquela empresa e ninguém ali queria contrariá-lo.
Bruna então pediu para que ele parasse de uma vez por toda de interferir em seus negócios e o velho homem, constrangido, pediu desculpas acompanhado com a promessa que não faria mais isso.
Resolvido o problema, ela ligou para sua empresa. Sua intenção era pedir para que Edna fosse até o homem para lhe informar que o problema de fornecimento estava resolvido. A telefonista informou que Edna estava em uma reunião e não poderia atender naquele momento. Ela pensou por um tempinho e depois pediu:
–(Bruna) Passe para a Dra. Elisa, por favor.
Quando Elisa atendeu, ela se identificou e solicitou a ela que fosse até o escritório daquele homem e passasse aquelas informações pra ele e dissesse também que ela sentia muito e que isso não ia mais acontecer. Elisa concordou, se perguntando o motivo daquele pedido ser dirigido a ela, mas estranhou muito mais quando ouviu a voz da outra:
–(Bruna) Ah! E Elisa. Diga a ele também que não precisa se preocupar com mudanças. Diga que não vamos mais precisar daquela sala.
Elisa sabia que isso não era a verdade, porém, estranhou a decisão, pois a doutora Bruna que ela conhece não desistiria assim tão facilmente. Porém, não custava nada atender à solicitação dela e fez exatamente o que foi pedido.
Duas semanas depois Bruna estava instalada no seu escritório que contava com as três salas, pois o reticente vizinho que não queria ceder a sala, depois do ocorrido, fez questão de atender ao pedido dela e, depois disso, começaram amizade, com o homem sempre a procurando para, como ele dizia “um papinho descontraído” e era recebido por ela com um sorriso.
Ao final, ela descobriu que se tratava de um homem muito inteligente e que, apesar de ser quatorze anos mais velho que ela, tinha uma mente ágil e inteligente que fazia com que ela apreciasse sua companhia.
Daí a saírem para um almoço juntos foi um passo, porém, quando ele a convidou para jantarem juntos, Bruna entendeu como um convite para um encontro e recusou com uma desculpa cortes. O episódio com o aluguel das salas fez com que Bruna se desse conta que, ser gentil com as pessoas e agir com justiça também trazia vantagens.
Em outra ocasião, quando estava examinando um processo que era o segundo para o qual havia sido contratada, foi interrompida por um Diretor dessa empresa que desejava contratá-la como advogada, pois ele tinha se envolvido em um acidente de trânsito com vítimas e estava em vias de ser indiciado por isso.
Ela explicou que ela pertencia a uma empresa de advocacia que atuava em todas as áreas e que poderia sim, mas quando o homem insistiu para que ela atuasse na defesa, ela respondeu que não e procurou tranquilizá-lo a respeito disso. O homem insistiu e ela acabou por convidar o homem para vir até ela.
Quando o homem chegou, ela pediu para que a secretária o introduzisse em sua sala e chamou Elisa, pedindo para que ela viesse até seu escritório. Quando ela chegou, foi apresentada ao homem que, ao saber que ela era a advogada criminalista da empresa, foi dizendo:
–(Diretor) Como assim? Advogada como? Parece uma criança ainda!
Bruna saiu em defesa dela:
–(Bruna) Não se deixe enganar com a aparência dela. Ela está apta a atuar em qualquer caso, até melhor que eu.
–(Diretor) Desculpe, Doutora. Mas eu vim aqui para contratar a senhora. Se a senhora não pode, então vou procurar outro advogado. Mas gostaria muito de não precisar disso, afinal, tenho boas relações com seu pai.
–(Bruna) Olha seu moço. As boas relações que você tem com meu pai não vão te ajudar na situação difícil que você está. Aliás, eu também não vou. Quer dizer, até poderia, mas não vou fazer isso porque nós temos aqui uma profissional muito mais preparada que eu. É pegar ou largar.
O homem ficou pasmo. Tratava-se de um grande empresário e não estava acostumado a ver ninguém se dirigir a ele daquela forma. Depois pensou melhor e se deu conta que aquela mulher que foi direta com ele era filha de alguém muito mais importante e rico que ele.
Então baixou um pouco a crista e começou a fazer perguntas sobre Elisa que logo desconversou e disse a ele que, se ele quisesse os serviços dela, seria melhor ele começar a contar a ela tudo o que ele sabia a respeito do acidente e do processo.
Com dois foras em menos de dez minutos, ele resolveu baixar de vez a bola, percebendo que aquelas duas não eram pessoas que ele pudesse manipular e que ameaçar Bruna de que deixaria de usar os serviços dela como advogada no processo sobre Comércio Exterior também não era uma opção.
Depois desses dois episódios, a relação entre as duas melhorou. Bruna se sentia grata por Elisa ter demonstrado respeito por ela a consultando sobre aquele processo e mais grata ainda por ela, sabendo que a falha tinha sido da própria Bruna, jamais comentou isso a ninguém, nem mesmo nas reuniões de encerramento semanal.
Por outro lado, o fato de Bruna ter respeitado o seu espaço profissional a chamando para uma reunião com o cliente dela e depois a defendê-la daquela forma, fez com que ela baixasse um pouco a guarda e todos ficaram mais aliviados.
Se antes Bruna não insistia muito em relação ao Renato, talvez, pelo fato de nunca ter lutado por ninguém na sua vida, pois os homens e mulheres com quem teve relacionamento foram sempre os primeiros a fazer o primeiro movimento para chegarem a isso.
Que dizer, todos, menos Renato, porém, com ele não houve nenhum movimento por parte dos dois. Eles apenas foram se aproximando e quando se deram conta já estavam ambos interessados um no outro e esse interesse foi crescendo ao ponto de eles começarem a namorar. Renato, um belo dia a convidou para um cinema, ela aceitou e de repente estavam se beijando.
Sem saber como agir, ela o assediava em ocasiões especiais, como o fato de ter convidado ele para passar o Natal em companhia dela e da família, repetindo o convite para a passagem do ano na praia, dessa vez só os dois, ou aqui e ali uma insinuação de saírem juntos. Renato não aceitou os convites dela e se fazia de cego e surdo com relação às insinuações dela.
O relacionamento de Renato e Elisa retornou quase ao normal. Eram vistos juntos com frequência, ela dormia mais vezes no apartamento para onde ele se mudara e a deixou muito feliz em passar o Natal junto com a família dela e ter levado ela em uma viagem dos sonhos para passar o réveillon no Rio de Janeiro, onde ficaram hospedados no Copacabana Palace.
Entretanto, parecia que faltava algo entre eles. Por mais que Elisa se mostrasse disposta a se entregar a Renato, sendo muitas vezes ela a tomar a iniciativa, ela não era mais a mesma mulher. Renato percebia que Elisa agia como se tivesse alguma coisa a incomodando, porém, quando ele comentou isso com ela negou com muita veemência que não estava bem, mas ninguém consegue esconder uma situação assim de uma pessoa com quem esteja convivendo no nível que eles estavam, então, não demorou para entrarem em atrito.
A discussão começou com os dois na cama, depois de terem transado. Eles haviam gozado, um na boca do outro, na posição sessenta e nove. Elisa achou um absurdo ele tocar no assunto Bruna, justo naquela hora e respondeu de forma brusca que estava tudo bem. Porém, ele insistiu com ela que, como já estava irritada, respondeu bruscamente:
–(Elisa) O que poderia estar errado? Eu estou aqui não estou? Você gozou na minha boca e pode gozar na buceta também, é só dizer quando, meu senhor.
–(Renato) Elisa! Que diabos deu em você? Por que esse estresse todo agora?
–(Elisa) Que estresse? Quem disse que estou estressada. Aliás, quem falou que puta tem direito a ficar estressada.
–(Renato) Pare com isso, por favor. Quando foi que te tratei como uma puta.
–(Elisa) Mas é isso que sou. Qualquer mulher que fode com homem casado é uma vadia. Principalmente quando faz isso com interesse.
–(Renato) E quem foi que disse que você tem interesse? Nunca te tratei assim, quanto mais falar. O que deu em você?
–(Elisa) O que deu em mim? O que deu em mim? Como você se sentiria se eu fosse casada com outro homem e nunca fizesse nada para me separar oficialmente dele?
–(Renato) Eu não diria nada, lógico. O que eu teria para dizer?
–(Elisa) Nada né. Você não tem nada para me dizer. Você nunca tem nada para dizer mesmo!
A discussão prosseguiu, sem que Elisa fosse clara quanto às restrições que tinha contra Renato, enquanto ele também não fez nada para descobrir quais eram os motivos dela estar agindo assim. No final, mais calmos, tomaram um banho e foram dormir.
Elisa evitou que Renato a tocasse e, quando viu que ele estava dormindo, vestiu-se e foi embora para sua casa. Ela já tinha adquirido um carro, porém, sempre que saia com Renato, o carro dela permanecia na vaga que ela tinha direito prédio onde trabalhava. Por esse motivo, chamou um Uber e foi chorando todo o trajeto até chegar em sua casa.
No dia seguinte, não compareceu na empresa e, apesar de inúmeras chamadas de várias pessoas, Renato, Edna, sua secretária e alguns colegas de trabalho, ela não atendeu nenhum.
Continua ...