Foi tudo muito rápido. Eu saía de uma solenidade noturna de formatura e como o carro havia sido estacionado a uma considerável distância, optei por diminuir o caminho, através de um quarteirão sem casas – apenas altos muros laterais das residências, de um lado e outro. Nem prestei atenção na kombi parada, senão quando, ao me aproximar, dois jovens se aproximaram, arma em punho, e anunciaram o sequestro.
Empurraram-me para dentro do veículo e, sempre com os revólveres apontando para mim, um deles me amarrou e colocou uma larga fita adesiva na minha boca. Seguros de que eu estava completamente dominado, sem condições de reagir, passaram para o banco da frente e arrancaram o veículo em toda a velocidade que uma kombi permitia.
Eu me sentia meio atordoado com a rapidez da ação e os múltiplos sentimentos que se conflituavam dentro de mim deixavam-me ansioso e inseguro. O medo do sofrimento físico a que poderia ser submetido me aterrorizava até mesmo mais que a morte. Eu era uma merda para a dor.
Enquanto o carro rodava aparentemente sem uma direção certa, eu ouvia pedaços da conversa inflamada dos dois. Pelo que pude entender, o plano inicial era um sequestro-relâmpago, e a limpeza na minha conta bancária. Mas o outro dizia que tinha pensado melhor, e que o pato (no caso, eu) poderia render bem mais através de um resgate. “Não tá vendo que o cara é rico, porra?!” Entendi: ele confundia minha roupa chique alugada, com que fora à solenidade, com a indumentária de um milionário. O motorista discordava, meio assustado: sequestro com resgate é sempre uma merda, meu irmão! Se pegarem a gente, tamo fudido! Mas não pegariam, o outro assegurava. Deixa de ser cagão! Acabaram concordando com a opção do resgate.
Depois de inúmeras voltas, finalmente paramos; os últimos minutos foram de muitos solavancos, o que indicava um caminho cheio de buracos, portanto afastado. Abriram a porta da kombi e me puxaram para fora do veículo, fazendo-me entrar numa casa antiga, perdida no meio do nada, com cheiro de fechada há algum tempo. Não usavam de violência. Em silêncio, guiavam-me ao interior de um quarto, jogando-me sobre um colchão de espuma que estava no chão. Do teto pendia uma única lâmpada fracamente acesa. O que me levara até ali retirou a mordaça de minha boca, a roupa e os sapatos, deixando apenas a cueca; enquanto me prendia com uma corrente com cadeado a um gancho de ferro na parede, falava para eu ficar calmo, que não fariam mal nenhum se a família colaborasse e pagasse a grana que pediriam.
Enquanto ele falava, eu o observava. Era pouco mais que um adolescente, deveria ter entre dezoito e vinte anos. Negro, magro, braços musculosos, mais ou menos da minha altura. Parecia mais ansioso que violento, quase tão assustado quanto eu. Depois de conferir se eu estava de fato preso, retirou-se do quarto. Ouvi o clique desnecessário da fechadura.
Eu estava em pânico, é verdade, mas procurei me conscientizar de que não me fariam mal, fosse pela visível inexperiência dos dois naquele tipo de operação, seja pelo improviso que tudo aquilo representava para eles – os planos terem se mudado de última hora. Por outro lado, eu sabia que esse ineditismo poderia deixa-los inseguros e imprevisíveis; qualquer transtorno poderia ter consequências inesperadas. Procurei relaxar o possível para a situação, fechei os olhos e quando os abri o dia entrava pálido pela fresta da telha. A lâmpada, ainda acesa, parecia uma inútil tocha pendurada.
Nenhum som de civilização chegava aos meus ouvidos, senão a trilha da natureza. Compreendi que estava na zona rural, em alguma casa fechada de algum sítio num lugar ermo. Isso decerto dificultaria a comunicação com minha família, pois não deveria haver rede de internet por ali, o que os obrigaria a se afastar para ligar, algo que os poderia deixar nervosos.
O tempo foi passando, o dia se arrastando, e nada de notícia, nem de aparecerem no quarto. Comecei a me preocupar com a possibilidade de me abandonarem naquele lugar, sem comida e sem condições de me alimentar, morreria de inanição. Mas no que acho que fosse o final da tarde, eis que surge o cara que me depositara ali, com um sanduiche e um refrigerante. Estava sem camisa e só de cueca. Não entendi direito, mas meu corpo reagiu prazerosamente à figura de pele marrom e jovem que ali estava.
Procurei disfarçar enquanto devorava o alimento, mas meus olhos várias vezes vadiaram pelos mamilos negros, o pelo liso e a rola acomodada na cueca; suas coxas também lisas provocavam estranhas sensações. Quando ele veio pegar o prato e garrafa vazios, seu braço roçou no meu ombro – senti um arrepio e não pude conter a ereção. Muito provavelmente ele percebeu minha cueca estufada, mas nada disse – apenas retirou-se.
Lá pelas tantas da noite, eu cochilava, quando despertei com o barulho da fechadura se abrindo; meu carcereiro entrava, de bermuda jeans, com zíper aberto, mostrando o início de negros pelos. Aproximou-se em silêncio, ajoelhou-se diante de mim e puxou a rola para fora – estava duríssima; catou minha cabeça pela nuca e levou minha boca até seu falo. Na verdade, nem precisava de toda aquela determinação – o corpo do negrinho não saíra da minha imaginação.
Tomei a rola com a boca e passei a sugar, num boquete como poucos que já fiz. Ele gemia e cada vez forçava mais minha cabeça. Eu não compreendia bem aquele sentimento que me invadia, mas eu ansiava ser invadido de outra forma também. Então, enquanto o mamava, fui baixando minha cueca, libertando meu pau hirto e fui me pondo de costas, no colchão. Ele veio por cima e me cobriu, fazendo deslizar sua pica babada pelo meu rabo adentro. Eu gemia e rebolava como uma cadela no cio. Ele nada falava, apenas gemia e estocava. Eu estava em tempo de gozar pela pica debaixo de mim e pelo cu. Mas foi ele que esporrou, violento, em mim, ganindo de prazer.
No mais completo silêncio, retirou-se de meu cu, arrumou a rola na bermuda e saiu do quarto, deixando-me como em transe. Não precisei de muita manipulação para uma punheta fazer-me gozar. Não economizei gemidos e gritos. Eu queria que ele ouvisse e que soubesse que eu também explodia meu prazer.
Nem bem amanheceu o dia e o garoto me trouxe frutas e me libertou para que eu tomasse um banho. Sem camisa, fazia questão de expor a arma presa no cós da bermuda, a me intimidar para o caso de eu pensar alguma coisa. O banheiro não via limpeza há algum tempo e o caco de espelho escorado na parede era marcado de manchas enegrecidas.
A água fria sobre meu corpo nu provocou-me um arrepio de prazer. Enquanto eu me esfregava, eis que ele surge na porta, despido e com a pica em riste. No silêncio de sempre, entrou sob a água, me virou para a parede, através de gestos me fez levantar os braços e abrir as pernas e senti novamente seu pau me penetrando, me fodendo com vontade. Desta vez eu queria simultaneidade e passei a me punhetar, enquanto era enrabado.
Eu já começava a sentir os primeiros raios de gozo e percebia que ele acelerava as estocadas, quando, num barulho enorme de porta batendo, o parceiro dele precipitou-se no casebre:
– Puta que pariu, véio! Que porra é essa?!
Ele retirou-se rapidamente de mim, e dirigiu-se ao companheiro, procurando explicar, mas quanto mais tentava, mais o outro se exasperava, e em pouco tempo os dois gritavam desesperadamente entre si. Pude perceber que o mais velho estava puto por mais que o fato de o parceiro colocar em risco a operação; era um desespero de ciúme. Compreendi que ele era a fim do negrinho, e sentia-se terrivelmente traído. Estava ficando descontrolado e acabou acertando um forte murro no rosto do meu fodedor de há pouco, que o sangue espirrou; foi o que bastou para um revide violento e os dois se atracaram como dois monstros selvagens, batendo-se com uma violência desmedida, arrebentando os poucos cacarecos daquele barraco.
O encarnado cobria os dois corpos, que sangravam em profusão. Até que, enlouquecido e cego de ódio, o mais velho jogou-se com toda a força sobre o negrinho, fazendo-o desequilibrar-se e ir ao chão, estilhaçando seu crânio sobre uma esquina da parede. O tremular do corpo em agonia durou pouco.
Lágrimas nos olhos injetados de ódio do assassino voltaram-se para mim. Eu estava transido de terror, petrificado de medo, certo de que chegara o meu fim. Ele aproximou-se de mim, mancando, arrastando uma das pernas ferida, e, com uma brutalidade imensa fez-me virar de costas, forçando minha nuca a me abaixar e expor meu cu.
O tenebroso som que emergia de sua garganta me aterrorizava. O tempo que ele passou, provavelmente abrindo o zíper da calça e sacando a rola com que me arrombaria, foi me deixando em polvorosa. Quando senti a rola visguenta sobre minhas nádegas, buscando meu orifício, o meu terror chegou ao máximo; não sei como fiz isto, mas catei o caco de espelho e, com toda a força do meu corpo em giro, passei-o sobre o pescoço do cara. O sangue espirrou para todos os lados, envermelhando o pequeno banheiro e também me sujando todo. Mas, com um esgar medonho, seu rosto se contorceu e seu corpo desabou, batendo a fronte sobre um tamborete velho que estava por ali.
Eu sentia meu coração acelerado, em tempo de explodir. Pensei que teria um ataque cardíaco, tamanha era a tensão. Fechei os olhos um instante, mas os abri imediatamente, a medo, para constatar não haver sido um pesadelo: havia dois cadáveres ensanguentados naquela casa, e um deles fora morto por minhas mãos.
Então, inexplicavelmente, uma calma, uma tranquilidade imensa foi tomando corpo em meu corpo; fui relaxando, respirando com leveza, o coração voltando ao ritmo normal. O barulho da água escorrendo do chuveiro atraiu-me e voltei para retirar o sangue que respingara em mim. Completei o banho, enxuguei-me, fui me esgueirando entre toda aquela sangueira, entrei no quarto para recuperar minha roupa, recolhi a chave do carro, jogada sobre uma cadeira na sala e saí em disparada porta afora. O carro parecia querer se desmanchar nos buracos da estrada vicinal.
Ao ver uma estrada asfaltada à frente, parei o carro no meio do mato e me dirigi a pé, a pedir uma carona – o que revelou-se uma tarefa fácil: quem negaria ajuda a um rapaz tão elegantemente vestido?