Iminente Amor - Capítulo V

Um conto erótico de M.J. Mander
Categoria: Gay
Contém 1571 palavras
Data: 08/12/2022 11:07:03
Assuntos: Dor, Gay, Homossexual, jantar

CAPÍTULO V

** MICHAEL**

Passei quase duas horas testando novas receitas com o Richard. Assim que terminamos de preparar os pratos, todos os funcionários experimentaram. E adoraram.

Faz três dias que estou fugindo do João Miguel. O covarde que habita em mim, não me deixava prosseguir. Além disso, amanhã faz dez anos desde que tudo aconteceu. Eu sempre ficava abalado na véspera e principalmente na data do acidente.

Fazia um tempinho que meus dedos estavam deslizando pela tela do celular. Estava na dúvida se ligava ou não para o garoto de programa, o qual, consegui o número telefônico pelo próprio site dele. Eu sempre fazia isso. Queria fazer qualquer coisa para mostrar que ainda estava vivo. Fazer sexo era uma escolha. Depois quando tudo terminava, o remorso me batia. Não conseguia mudar isso.

Era mais uma razão para eu manter o João Miguel longe. Ele merece um homem de verdade, que esteja disposto a formar uma família... E que principalmente não ame outro homem. Se passaram dez anos desde a morte do meu grande amor. E eu continuo andando sobre cacos de vidros.

De repente meu celular começou a vibrar e a imagem da minha mãe apareceu. Ela com certeza queria se certificar que eu estava bem.

— Estou bem, mãe. — Adiantei, antes que ela falasse.

— Queria tanto estar ai contigo, meu filho.

— Mãe, por favor, não fique preocupada.

— Como não, Michael? Meu amor, por que não escuta sua velha mãe. Procure ajuda.

Acredito que as pessoas que me entendem são aquelas que passaram por algo parecido. Não era apenas uma tristeza de verão, que no final acabaria passando. Era uma tristeza profunda, que vem atormentar a noite sem hora para acabar.

— Eu preciso desligar. Amo você e o papai.

— Tudo bem, querido. — Escutei seu suspiro, sabendo que estava descontente. — Ligue-me amanhã.

Faltava cinco minutos para meu intervalo terminar. E tomei a decisão. Liguei para o garoto de programa, Douglas. A conversa foi rápida e formal. Combinamos que ele estaria amanhã as sete da noite no meu apartamento.

O movimento no restaurante estava grande. Richard e eu mostramos que conseguiríamos dar conta. A equipe toda era maravilhosa, o que tornava o trabalho mais eficiente e rápido. Era pouco mais de meia noite quando sai do Típico. Levei um susto quando senti uma mão pesada segurar o meu braço esquerdo.

— Jesus, homem! — Bradei, olhando de cara feia para o moreno, ou melhor, João Miguel.

— Parece que essa é a única maneira de eu conseguir falar com você, Michael. — Sua voz soou brava, diria até magoada.

Ele merece mais. Precisava manter isso em mente.

— Tenho trabalhado muito.

— Não minta, Michael. — Ele passou a mão direita entre os cabelos negros e lisos, nitidamente frustrado. — Pensei que tínhamos combinado que tentaríamos, lembra?

Sem encarar seus olhos, falei:

— Mudei de ideia.

— Como assim?

— Não sou homem de um cara só. — Tentei ser o mais frio possível.

— Que caralho é esse? Pare de me afastar.

— Estou sendo sincero. Para depois você não se surpreender.

— Não, miele. Você está inventando isso. Qual o problema de me dar uma chance? — Aproximou-se, fazendo-me encostar as costas na lataria do carro. Seu cheiro de homem gostoso, o calor que sentia quando ele estava perto... Era tão difícil me controlar. — Fale para mim, Michael.

— Eu apenas mudei de ideia.

— Pois se prepare, moreno. — Ergueu meu rosto. — Eu não vou desistir de nós dois.

Quase voltei atrás na minha decisão quando ele se afastou.

***

Por um momento pensei em passar o dia inteiro dormindo. Porém não fui adiante. Comecei o dia em uma melancolia forte. Não consegui me controlar e busquei refúgio nas lembranças que eu mantinha em uma caixa dentro do roupeiro. Lá estavam as poucas coisas do Jackson.

Para não preocupar ainda mais minha mãe. Telefonei e tentei ao máximo desfaçar minha voz de choro. Dona Alerte não era boba. Ela sabia que eu estava mais uma vez me lamentando pela tragédia.

Faltava meia hora para o garoto de programa chegar. Tomei um banho, e trajei uma roupa leve. Não era necessário eu me arrumar. Seria sexo carnal e pronto.

A campainha tocou e prontamente fui atender. Douglas entrou e fomos direto ao proposito. As longas horas de sexo foram boas. Assim que terminamos dei privacidade para ele se vestir, e fiz o mesmo rapidamente. A dor ainda continuava martelando o meu coração.

— Obrigado. — Falei, e entreguei o dinheiro.

Douglas tinha minha idade. Tem a feição jovial, e soube me tratar bem. Em vários momentos percebi que ele queria me perguntar alguma coisa, mas não dei espaço para isso.

— Quando precisar... Estarei à disposição.

Acompanho-o até a porta. As lágrimas já molhavam meu rosto, e despejei tudo debaixo do chuveiro.

**JOÃO MIGUEL**

Não entendo como Michael mudou de ideia tão rápido. Era óbvio, que ele sofreu muito. Mas porra, eu quero ajuda-lo. Eu posso faze-lo feliz. Pensei que finalmente havia encontrado o caminho do coração do meu carrasco, todavia precisarei ser mais convincente.

— Estou sentindo pena desse saco. — Parei de deferir golpes no saco de pancadas.

— Não estava com os nossos pais?

— Sim, seu desnaturado. Nossos pais exigiram sua presença no almoço de hoje, mas avisei que você estava de cuore spezzato.

Não neguei. Eu realmente estava de coração partido pelo moreno bandido. Quando eu pegar ele... Espero que esteja preparado.

— Precisava extravasar.

— Esse cara deve ser muito importante. — Cruzou os braços, e sentei na beira do ringue.

— Sim, irmão. Ele é.

— Não gosto de ver você com essa cara de cachorro abandonado. Vamos lá, João Miguel. Reaja. Lute pelo seu garoto.

— Se fosse fácil. Eu não estaria aqui, João Pedro. — Resmunguei.

Caminhei em direção ao vestuário privado que tínhamos no clube. Meu plano agora seria: chegar em casa, tomar um demorado banho e aproveitar o resto do dia com a mia figlia. Teria sorte se ela não falasse sobre o Michael.

— Por que não convida ele para jantar lá em casa?

Antes que eu pudesse responder. Escutei a costumeira saudação do meu irmão caçula, e encostei minha testa no armário. Era só o que faltava.

— Convidar quem? — Indagou João Lucas, curioso como sempre.

— Ninguém.

— Já que ele não é ninguém. Então não tem problema eu investir nele.

Ah, cacete. Uma porra que ia!

— Não me provoque, João Lucas. O ringue não está muito longe.

— Parem os dois, porra! Você passou a semana toda longe, meu irmão. Não prestou atenção no trabalho, e agora fica assim. — Apontou para o meu rosto. — Com essa cara.

Os dois ficaram me encarando como se eu fosse o errado da história. Acabei rosnando de frustração.

***

Pedi ajuda do Marcondes para pôr meu plano em ação. De última hora, ele conseguiu fechar o Típico, somente para um jantar privado. Afirmei que ele poderia dar cortesia nos vinhos Fraser para os clientes de amanhã, como forma de agradecimento e compreensão.

Os funcionários sempre entravam e saiam pelos os fundos. Então Michael não iria estranhar tanto. Marcondes avisou que deixaria as chaves do estabelecimento com os dois seguranças do restaurante. Assim eu não me preocupo com nada.

Apenas com o meu carrasco.

— Mas o quê...

E lá estava ele. Os cabelos cacheados estavam presos em um coque, e os dolmã apoiado no ombro. Eram sete da noite, e com certeza ele pensou que encontraria os seus colegas de trabalho reunidos antes de começarem suas atividades.

— Espero que aprecie o jantar. — Fitei sua feição, e notei o ar triste que apresentava.

— Está perdendo seu tempo.

— O tempo é meu, e faço o que quero dele. — Soei rude. — Vamos ao que interessa. Jante comigo, assim conversaremos melhor.

Relutante, acabou aproximando-se e afastei a cadeira para ele se acomodar. Havia se passado um tempo desde que iniciamos a refeição. Eu acompanhava todos os seus gestos. Até a maneira que seus lábios carnudos se encontravam com a taça, deixava meu corpo aceso.

— Não entendo porque continua insistindo.

— Costumo agir da forma que julgo certo. Eu quero tentar um relacionamento com você, Michael. Não curto joguinhos, e nem caso de uma noite. Gosto de pertencer apenas a um homem. E escolhi você.

No momento certo a música try not to love you da banda Nickelback, versão acústica, preencheu o ambiente. Estendi minha mão e soltei a respiração quando ele aceitou meu convite.

Ele abraçou a minha cintura, e ali percebi que aos poucos iria conseguir quebrar as barreiras desse homem. Pelo que tudo indica sua alma era ferida, e eu posso ser a cura. Quero ama-lo e em troca viveria com a sua felicidade ao meu lado.

— Eu posso cuidar de você, Michael. — A lateral de seu rosto descansa no meu peito, ele parecia tão pequeno, frágil. Nada comparado ao homem encrenqueiro.

— Você não existe. — Murmurou, e pus minha mão na sua nuca fazendo carinho ali.

— Claro que eu sou real. Pode parecer coisa de novela, mas eu acredito que toda a perda pode ser superada.

— Eu não acredito nisso. — Confessou, olhando em meus olhos.

Eu encontrei o amor, onde não deveria. Mas nada nessa vida era escrito por nós, apenas seguíamos o que já está predestinado. Não adiantaria eu pressionar o Michael. Aos poucos encontraria o caminho do seu coração.

— Escute, Michael. Vamos ao seu tempo. Só não me afaste.

Fechei os olhos quando senti sua mão macia acariciar meu rosto. Era um carinho tão bom. Minha vontade era de beija-lo forte, duro, e ao mesmo tempo de forma lenta. Contudo, deixaria para ele tomar a iniciativa.

— Tudo bem. Eu quero tentar, João Miguel.

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Comentários

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Porra, essa história está né deixando com Borboletas no estômago...

Quando Michael vai resolver se permitir amar de novo...

10 anos??? Que vida é essa que ele está levando????

Tomara que agora ele realmente dê uma chance a João Miguel....

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