***CAPÍTULO VINTE***
Acordo com o sol entrando pela porta aberta da sacada.
Me levanto, escovo os dentes e volto a costurar. Nesse curto espaço de tempo, Osvaldo trouxe meu café da manhã e avisou que Gabriel havia chegado, mas logo saiu de novo.
A raiva começa a me atormentar. Portanto, pego a bermuda que estava costurando e a jogo em cima da máquina.
Eu que não vou fazer as vontades dele só porque deixou um presentinho para me distrair. Por mim ele pode socar essa máquina naquele lugar.
Que se danem as regras!
Saio do quarto e começo a andar pela casa. Não vou ficar nesse quarto esperando por ele enquanto sai com outros homens.
Vou de cômodo em cômodo, bisbilhotando — ainda bem que não encontro ninguém.
Chego à entrada da academia, é bem maior que a do apartamento, há mais equipamentos. Pelo jeito nem é usada, está tão limpa, possui um cheiro suave de lavanda.
Olho para os aparelhos, um mais esquisito que o outro.
— Bem, acho que posso fazer isso. — Penso alto.
Certamente a academia ocuparia o meu tempo e eu ainda entraria em forma, seria uma perfeita distração fora daquele quarto.
Subo correndo e vasculho as minhas coisas, procurando roupas de ginástica. Como o dia está quente, escolho um short de malha preto e uma camiseta azul-escuro. Amarro o cabelo em um rabo de cavalo malfeito e calço o tênis. Não estou me sentindo bem, mostrando o corpo dessa forma, mas já vi alguns garotos na televisão e é esse tipo de roupa que eles usam.
Fito os equipamentos por um tempo, sem nenhuma ideia de onde e como devo começar, até que vejo um dos seguranças do lado de fora.
Não o tinha visto ainda por aqui, aparenta ser jovem, talvez tenha uns 25 anos; mas é forte, deve fazer exercícios todos os dias para manter o corpo bombado desse jeito.
Gabriel me mandou ficar longe dos seguranças e, mesmo assim abro a janela e aceno para ele, que vem olhando para os lados, parecendo confuso, pensando se deveria mesmo vir até mim.
— Sim, senhor? — O segurança abre um leve sorriso.
— Pode me ajudar?
Tento ser simpático, ele parece ser um cara legal.
— Será um prazer, estou às ordens.
Educado e prestativo, gostei... Aponto para dentro.
— Pode vir até aqui?
Ele pensa por alguns minutos e concorda, balançando a cabeça, entrando pela janela, que parece mais uma porta. Não faz diferença.
— Como posso ajudar? — Ele olha em volta, abrindo um largo sorriso.
— Estou perdido, não sei como faço para usar esses aparelhos, é que nunca fiz isso — digo, envergonhado, e ele mal olha para mim.
— Acho que o senhor Miller não vai gostar disso. Tenho certeza que ele pode te ajudar — garante, desfazendo o sorriso do rosto.
— Por favor, só algumas dicas, não quero ter que pedir a ele. É um homem muito ocupado e quase não para em casa. Além do mais, Gabriel deixou bem claro que vocês estariam à minha disposição para fazer o que eu pedisse.
Claro que ele se referia aos funcionários e não aos seguranças. Mas ele não precisa saber.
— Tudo bem.
Com toda paciência do mundo, ele vai parando nos aparelhos e explica a serventia de cada um.
— Pode me mostrar como funciona, já que esqueci tudo o que você falou? Eu aprendo melhor na prática.
Ele acaba rindo.
— Você pode começar com os alongamentos, é essencial para cada exercício que for fazer e, é claro, também tem o descanso e o tempo. É sempre tudo cronometrado, se fizer pouco não tem resultado e se fizer muito vai se machucar.
— Parece complicado, Douglas.
Esse é o nome dele, não daria para continuarmos se eu tivesse que chamá-lo apenas de segurança.
— Não é, Samuel, você vai ver que logo se acostuma. — Ele parece gostar mesmo de academia.
Ah! E ele teve que se acostumar a me chamar de Samuel, pois da forma como me chamava — “Senhor, esse aparelho serve pra isso. Senhor, aquele serve pra aquilo” —, não estava dando certo.
— Me mostre os alongamentos — peço, me preparando.
— Assim... — Ele começa alguns movimentos repetitivos e eu passo a seguir sua demonstração. É até engraçado um rapaz desse tamanho fazendo alongamentos, apesar de ser bonito e ter um corpo incrível.
Tem horas que eu reparo o jeito como olha para mim, fazendo meu estômago se revirar de nervosismo. Com certeza está apenas vendo se faço os exercícios corretos, não é todo mundo que tem uma mente poluída.
Melhor me convencer disso.
— Depois dos alongamentos, você pode fazer qualquer aparelho, é claro, um pouco mais leve para iniciante. Sempre evite os pesados, se estiver sozinho pode se machucar bem feio. Se quiser usar peso, pode pegar esses. — Ele vai até uma prateleira na parede, cheia de umas coisas que parecem ser algemas, mas separadas, e demonstra em seguida: — Este é o peso certo para começar, você pode usar no tornozelo para exercícios fora dos aparelhos, são ótimos.
Olho em volta procurando um aparelho que me chama a atenção, ele até falou o nome, mas não me lembro. Olhando daqui parece uma guilhotina, mas de perto é uma maca, com partes separadas e tudo meio estranho.
— Como usa... — Aponto para o aparelho esquisito.
— Ah, aquela é a mesa flexora — explica.
— Mesa flexora.
Testo o nome e não é difícil.
— Com esse equipamento você exercita vários músculos das coxas e bumbum. — Engole em seco, constrangido.
Está sem graça de explicar, coitado.
— Como faz? — pergunto, querendo ir para a prática logo.
— Você deita de bruços aqui.
Ele mostra com as mãos. Vou até lá e me deito.
— Assim? — pergunto.
— O que está fazendo? — Se afasta um pouco.
— Aprendendo.
Douglas assente, hesitante, depois mexe os dedos como se estivesse suando frio.
— Está errado. Encoste a barriga aqui. — Vou fazendo conforme ele pede — Segure nos pegadores, isso, bem firme. As pernas estendidas, e os tornozelos sobre os apoios, exatamente assim. Agora inspire e suba as pernas, tentando alcançar o bumbum, e expire quando voltar as pernas no lugar. — A posição é constrangedora, mas se quero aprender, tenho que fazer. Tento de novo — Não, assim... — Ele segura a minha perna na direção da panturrilha e da coxa, é a minha vez de engolir em seco. O bom é que ele não me aperta nem me constrange, apenas me conduz a fazer os exercícios corretamente. — Isso, agora desce, mas nunca se esqueça de inspirar e expirar, é essencial...
— Mas que porra está acontecendo aqui? — A voz de Gabriel reverbera pela sala e se infiltra nos meus ossos. Ele parece calmo, mas sua voz é letal e fria. Sinto medo pelo Douglas, que se afasta imediatamente, parecendo rígido, sob o olhar assassino do Gabriel.
Não consigo me mover, estou com a bunda para o ar e sem saber o que fazer. Parece errado estar assim com outro homem, todavia, se me lembro bem, Gabriel disse que não tínhamos nenhum relacionamento, então nada do que está acontecendo aqui é errado, só estou querendo aprender.
— Desculpe, senhor Miller, Samuel pediu ajuda e eu...
— Samuel? E por que está fora do seu posto? — Ele não dá chances para o rapaz se explicar.
— Fui eu quem pedi. — Me sinto na obrigação de salvá-lo, ele foi tão legal comigo.
Endireito-me, saindo do aparelho, e recebo seu olhar gélido.
— Mas quem dá as ordens sou eu. Quantas vezes vou ter que dizer isso?
— O seu tom de voz me faz encolher o corpo.
— Ele só queria ajuda com os aparelhos...
— E você achou que poderia sair do seu lugar para ensinar o meu homem a se exercitar? Pensei que fosse o meu segurança e não um Personal trainer.
Meu homem? De onde ele tirou isso? Expiro fundo.
— Senhor Miller, o Samuel não tem...
— Eu não te dei permissão de chamá-lo tão intimamente, agora vá para o meu escritório que falaremos sobre esse assunto daqui a pouco.
Douglas sai de cabeça baixa e nem dirige os olhos em minha direção.
— Por que isso, Gabriel? Ele só estava me ajudando, já que você nunca está em casa — reclamo, jogando verdades na cara dele.
— Eu estou em casa — diz, com cara de sínico.
A irritação começa a formigar minha pele.
— Osvaldo disse que tinha saído.
— Mas já cheguei, e você deveria ter ficado no seu quarto como combinamos.
Quase rio da cara dele.
— Uma ova que vou ficar preso naquele quarto o dia inteiro só porque me deu uma máquina de costura. É um tédio ficar lá. Já que eu tenho essa academia enorme que nem é usada, posso passar o meu tempo aqui. Você disse que eu precisava me exercitar, lembra? — indago, irônico.
— Não com o meu segurança, porra! — grita, perdendo o controle. — Por que ele estava com as mãos em você?
— Não é o que está pensando, ele só estava me ensinando a fazer o exercício.
— Ensinando... Com as mãos em você? — Ele passa as mãos pelos cabelos desgrenhados, tentando se acalmar.
Já estou ficando cansado dessa discussão.
— Ele não estava fazendo nada, foi até educado demais e prestativo.
— Sim, deve ter sido bem prestativo enquanto observava você esfregar a bunda na cara dele. — Me examina meticulosamente de cima a baixo. — E ainda mais com essa roupa.
Meu corpo todo amolece com a intensidade do seu olhar.
— O que tem a minha roupa? Posso usar o que eu quiser, e essa é bem confortável para fazer exercícios. Não me lembro de estar esfregando nada em ninguém, eu teria percebido — rebato, abrindo um meio sorriso.
— Não me provoque, Samuel. — Ele se aproxima e coloca as mãos na minha cintura, aquecendo a minha pele. Tento me afastar, mas ele me segura firme. — Se quiser fazer exercícios, me chame. Mas vou te dar um último aviso: fique longe dos meus seguranças.
Seus olhos estão tão negros, e sua boca se abre num sorriso sombrio, sem humor.
— Está com ciúmes? — provoco.
— Não tenho ciúmes, mas não gosto de dividir o que é meu. Se eu encontrar qualquer um deles com as mãos em você de novo, vou matá-lo na sua frente.
Um gelo desce pela minha espinha. Sei que a sua ameaça é verdadeira.
Será que é mesmo?
Estou ficando sem ar por causa da proximidade dos nossos corpos, das suas mãos na minha pele exposta.
— Me solta.
— Não sei o que faço com você Samuel, você está me enlouquecendo, me tirando dos eixos. — Ele tira a mão direita da minha cintura e começa a subir, tocando firmemente a curva do meu pescoço. Com a ajuda do polegar, me faz olhar para ele.
Estou tremendo, derretendo, na verdade. Respiro fundo e o encaro de volta.
Ah tenha dó, Samuel! Controle-se.
— Já disse para não encostar em mim — Me debato, mas é em vão.
— Então deveria trocar essa roupa, se pretende me manter afastado de você.
— Estou bem assim.
Gabriel enlaça o braço na minha cintura, colando meu corpo ao dele.
— Com certeza está deliciosamente bem assim. — Se inclina para cheirar meu pescoço, depois me solta. — Quer ajuda com os aparelhos?
Me recomponho rapidamente.
— Não, já entendi como funciona, o Douglas foi de boa ajuda. Deveria compensá-lo por ajudar a sua... Como foi mesmo que você disse? ... Ah! Seu homem. — Ele estreita os olhos, vejo seu peito subir e descer com a respiração pesada. — Agora, aumente o salário dele, ele é muito bom com os exercícios — admito, com segundas intenções, percebendo que o atingi.
Ponto pra mim.
Enquanto saio, me sentindo nas alturas, Gabriel me puxa de volta para ele, grudando minhas costas em seu peito. Com um braço, segura firme meu tórax, e a outra mão corre pela lateral do meu corpo.
— Ah, Samuel, está me provocando, atiçando a minha raiva. Você adora brincar com fogo, e eu adoro te incendiar. — Ele pressiona sua ereção na minha bunda.
Gemo involuntariamente. Sou um caso perdido.
Quando me aperta mais firme, Gabriel arrasta sua mão pelo meu corpo até chegar à minha barriga, deixando uma trilha de fogo puro, causando uma leve eletricidade em cada parte de mim.
— O que está fazendo? — Mal consigo respirar, imagine falar.
— Te aquecendo.
Estremeço, soltando um gemido alto, sem conseguir controlar o meu corpo.
Cinquenta pontos pra ele.
Sua mão atrevida desce pela minha coxa direita, e lentamente sobe entre as minhas pernas, tocando o meu pau. Meu corpo quase entra em combustão, explodindo como uma bomba nuclear.
— Oh! — Me contorço, precisando de mais.
Esse homem sabe como me enlouquecer com apenas um toque.
Sua mão volta para a minha barriga enquanto suspira no meu ouvido. Sem aviso, ele desce a mão se infiltrando dentro do short e da minha cueca — que com certeza também é um caso perdido —, chegando ao meu pau, sedento por ele.
Puta que pariu!
— Nossa, você está deliciosamente duro e pronto. — Faz um movimento, lento e atordoante, me deixando mole em seus braços — Não sabe como quero sentir você de novo, como me enlouquece só de olhar pra você. E saber que não posso te tocar assim — Ele praticamente rosna as palavras, com desejo puro na voz —, que não posso te jogar na minha cama e sentir seu sabor... — Acelera o ritmo fazendo todo o sangue do meu corpo bombear e se aglomerar em meu ventre, me deixando à beira do abismo.
— Oh, Gabriel, por favor! — imploro sem conseguir conter a minha língua.
Suas palavras sujas só me levam para mais perto, e estou pronta para me jogar de cabeça.
— O que você quer, anjo?
Seu ritmo diminui.
— Por favor, continue — respondo possuído pelo desejo que aflora entre as minhas pernas, perdendo completamente os sentidos.
Ele segura meu rabo de cavalo, e puxa minha cabeça para trás, só para sussurrar no meu ouvido:
— Eu arrancaria essa sua roupinha agora mesmo e comeria você naquele maldito aparelho, com a bunda empinada pra mim — Seus movimentos param, e eu choramingo. Meu corpo está preparado para mais, totalmente pronto para chegar ao ponto mais alto —, mas me desobedeceu de novo, e ainda deixou um maldito segurança tocar em você. Por isso, vou te castigar, e te proíbo de terminar sozinho. Você é meu, anjo, entenda isso.
Ele solta meu cabelo e volta a segurar minha cintura. O quê?
— Gabriel? — questiono, inerte ao que está acontecendo. Sua mão ainda está dentro do meu short, com seus dedos me pressionando na minha bunda, então movimento o quadril e aproveito para roçar a bunda na sua ereção, provocando-o.
Como chegou a isso, Samuel? Bloqueio os pensamentos.
Ele solta um grunhido do fundo da garganta, e ofega no meu cabelo. Está tão pronto quanto eu.
— Ah! Anjo, você é tudo o que eu quero neste momento, mas esse é o meu castigo também. — Ele tira a mão do short e se afasta, me deixando trêmulo e sem ar. Antes de sair da academia, ele fala: — Isabel está vindo pegar você para juntos tomarem um café. Aproveite, pois você só vai porque ela foi bem insistente, senão jamais sairia dessa casa.
— Filho da puta! — xingo, mas ele saiu muito antes de ouvir.
Caio de joelhos no chão tentando normalizar a respiração, mandando ar para os pulmões e tentando entender o que acabou de acontecer.
Castigo? Terminar sozinho?
O que esse desgraçado quer dizer com isso? Nossa, como eu odeio esse homem! Tal pensamento deveria enviar uma onda raivosa pelo meu corpo, mas a única coisa que sinto é uma vontade enorme de correr atrás dele e forçá-lo a terminar o que começou.
Merda!
Subo para me trocar, porque o que mais quero é sair dessa casa. Estou à flor da pele, com tanta raiva e frustração que sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
Por que deixo que faça isso comigo? Quem ele pensa que é?
Gabriel está sonhando que vou deixá-lo me usar dessa forma. Bato a porta do closet.
— Desgraçado! — grito, jogando a roupa na cama.
**************
Deixo a água lavar o seu toque, esfrego com força para ver se consigo parar de senti-lo. Resmungo e me odeio por ser tão burro, por não conseguir resistir a ele. Mas como resistir? A forma como ele me segura, como me pressiona... Só de lembrar meu corpo reage, esquentando e aflorando em mim um desejo sôfrego.
Droga, Samuel!
Suas palavras voltam a minha mente, me perturbando.
“Não sabe como quero sentir você de novo, como me enlouquece só de olhar pra você...”.
A rouquidão em sua voz é o que me enlouquece, me deixa sem forças para afastá-lo.
“O que você quer, anjo?” Como se ele não soubesse. Esse desejo que sinto por ele é tão intenso que sinto minhas mãos escorregando pelo meu corpo, como se ele estivesse me tocando. É bem louco, eu sei, mas ainda sinto suas mãos me torturando.
“Eu arrancaria essa sua roupinha agora mesmo, e comeria você naquele maldito aparelho, com a bunda empinada pra mim...”.
Naquela hora eu queria tudo o que ele me oferecia. Penso como seria se ele tivesse mesmo arrancado a minha roupa e me debruçado no aparelho. Qual seria a sensação de ter Gabriel dentro de mim novamente? Será que me daria o mesmo prazer ou dessa vez seria muito melhor sem sentir dor?
Merda! Merda! Merda! Afasto os pensamentos e me dou conta de que estou me tocando. Nunca tinha feito isso, é mais uma coisa que Gabriel faz comigo, me enlouquece sem nem ao menos estar perto.
“Te proíbo de terminar sozinho. Você é meu, anjo, entenda isso.” Argh! Me irrito. Ele é um presunçoso e idiota.
Saio do banheiro mais irritado do que quando entrei.
Coloco um jeans e uma camisa básica, sem vontade nenhuma de me arrumar, mas me esforço. Desço as escadas e vou em direção às vozes deles.
Isabel está sentada à mesa, mordendo uma maçã e falando com Gabriel.
— Ela falou que você prometeu um bebê de presente de aniversário.
Isabel não parece feliz, e ainda não notou que estou me aproximando.
— E o que tem? — questiona, com desdém. Ridículo.
— Um bebê de verdade! Onde já se viu prometer uma coisa dessas, Gabriel? Ela acha que vai brincar com um bebê de verdade. — Ele ri enquanto ouve a irmã reclamando. — Isso é sério, ela ainda não entende, tem só seis anos e está toda empolgada, você não sente pena...
— Samuel — Gabriel fala meu nome maliciosamente e me analisa com um olhar perverso.
— Samuel! — Isabel pula da mesa e corre para me abraçar, nem parece que nos vimos ontem.
— Isabel, que bom que veio.
— Queria ter vindo mais cedo, mas a empresa estava uma loucura e meu irmão disse que vocês estavam aproveitando o tempo. — Me cutuca na barriga.
Fuzilo o Gabriel com o olhar. Ele tranca o maxilar, segurando o riso.
— Aonde vamos? — Não consigo mudar o tom de voz. Estou puto da vida, sentindo a pele formigar de raiva.
— O que você tem? — questiona Isabel, confusa.
— São os hormônios — afirma Gabriel, respondendo por mim, antes de pegar uma maçã, jogar para cima e pegá-la de novo com as mãos. Com um olhar intenso, ele morde a fruta, enviando uma onda de sensações por todo o meu corpo traidor.
— Hum, será que estou atrapalhando alguma coisa? — Isabel indaga insinuando outras coisas que, com certeza, nunca mais aconteceria entre mim e esse cretino. Nunca!
— Não, vamos. Preciso sair daqui antes que você tenha que me ajudar a enterrar um corpo.
Viro as costas e ouço Gabriel gargalhar.
— O que deunelae? — Isabel pergunta, se divertindo com a minha explosão.
— É muito amor — Gabriel, responde rindo.
— Vão se foder! — Ergo o dedo do meio e sigo para porta, ouvindo os dois rirem às minhas custas.
Não quero descontar minha frustação na Isabel, mas meu humor está péssimo.
— O que você tem? Por que está tão estressado? — Isabel pergunta enquanto saímos da garagem.
— Não é nada.
Olho pelo retrovisor e bufo. Atrás vem um SUV preto. Ele quer que eu fique longe dos seguranças, mas os manda atrás de mim. Hipócrita.
— Não acredito, atrás de nós está vindo um segurança — aviso, incrédulo.
Será que ainda estamos em perigo? Ele não nos deixaria sair se esse fosse o caso.
— Eu sei, meu irmão às vezes exagera, mas essa foi a condição para poder tirar você de casa, então acho que podemos aguentar — diz, como se fosse normal a atitude do irmão de me aprisionar em vários aspectos. Se bem que ela não sabe o que Gabriel faz ou fez comigo.
Lanço um olhar em direção a ela, demonstrando todo o meu estresse, como se pudesse avisar antecipadamente o meu desejo de ficar em paz.
— Acho que você precisa de uma boa massagem — Isabel afirma, enquanto continuo olhando feio para ela, pensando que talvez tenha sido um erro sair daquela casa. — Credo! Espero que seu mau humor não seja contagioso.
Fizemos, depilação — quase morri. A massagem estava sendo a melhor parte do meu dia, até a Isabel abrir a boca:
— E as coisas com o meu irmão, melhoraram?
Estamos nus, com apenas uma toalha cobrindo o meu bumbum, e mãos maravilhosas tirando todo o estresse dos meus ombros, da semana inteira, e ela vem e me fala do Gabriel. Meu corpo se contrai.
Por quê? Por quê? Meu Deus!
— Sério? Não vai dar para falar do... Dele agora. — Me recuso a dizer seu nome.
— Está tão ruim assim? Caramba, vocês vão se casar.
Ela logo me lembra do desastre que é a minha vida.
— É.
Não vou falar nada, se eu fingir que estou dormindo, talvez ela fique quieta.
— Samuel! É sério? Preciso saber.
Isabel é um amor de pessoa, mas quando coloca uma coisa na cabeça, fica perturbando até conseguir o quer.
— Vai por mim, não precisa não.
— Quando falei com meu irmão essa manhã, achei que vocês tivessem se acertado. — Ela se entristece.
— O que ele disse?
— “Cuida da sua vida, Isabel, nós estamos bem e ocupando nosso tempo com coisas boas.” ... Achei que ele estivesse falando sobre sexo.
Sexo! Como é que uma palavra tão simples pode me causar essa grande frustração? E eu só fiz uma única vez, imagine se já fosse viciada nisso.
Sabia que não deveria ter saído hoje. É uma droga tudo o que está acontecendo.
Dispenso a moça da massagem, porque começou a me irritar também.
Levanto e começo a me trocar.
— Samuel! — Isabel grita, quando saio da sala.
Nem olho pra trás.
Por que estou tão nervoso assim? Parece que tem um formigueiro na minha pele e entre as minhas coxas.