Apesar de achar que era uma implicância de Leila, que mesmo tendo se tornado uma devassa e chantagista, dava sinais de que ainda tinha ciúmes de mim, procurei reparar melhor em Jane e ver se a mesma não estava, ainda que sem notar, se apegando a mim. Após uma tarde quente no motel, notei o seu jeito de me abraçar após o sexo, os carinhos demorados, o jeito delicado de falar, chegou a comentar que seria bom se um dia pudéssemos passar nem que fosse um final de semana longe de tudo, na praia ou no campo. Aquilo me acendeu uma luz forte de alerta. Entretanto, para testá-la de fato, entrei no assunto do acordo que ela tinha com o marido quando já estávamos no carro indo embora:
-O Rodolfo vem no mês que vem, né?
-Sim, vai ficar uns 20 dias, depois volta para os Emirados Árabes e fica mais seis meses lá, e quando vier novamente é para passar só uma semana, ou seja, em um ano, minha filha e eu o vemos por menos de um mês.
-Você chegou a contar a ele que está saindo com outro?
-Não! O Rodolfo prefere não saber, mas está desconfiado, me achou diferente, só que neguei. Mas esse negócio de ter que fazer sexo virtual com ele é um porre. Não tem graça, duvido que ela não esteja saindo com alguma ou algumas por lá.
Decidi testar Jane para ver se as desconfianças de Leila tinham algum sentindo:
-Como ele ainda ficará nessa de ficar mais tempo fora do que aqui, você pensa em transar com outros caras? Refiro-me a sexo casual mesmo.
Jane mudou completamente de feição, demonstrando espanto:
-Por que está me perguntando isso? Enjoou de sair comigo?
-Não, claro que não, adoro nossas transas, mas pensei que pelo fato do marido ter te liberado desde que seja discreta, após um tempo comigo, você iria querer sair com outros, variar. Eu não veria nada de errado.
Foi como se eu tivesse jogado uma bomba atômica em Jane que ficou alguns segundo de boa aberta me olhando como se não acreditasse no que disse, depois, enfurecida, deu um tapa forte no painel do carro:
-Para esse droga que eu quero descer!
-Calma! Só estamos conversando, desculpa se a pergunta te ofendeu.
Jane começou a socar o painel com força e berrar para eu parar. Tive que estacionar, ela estava ensandecida e saiu correndo pela calçada sem rumo. Fui atrás e a segurei, notei que minha amante estava aos prantos.
-Só foi uma pergunta sem maldade, não estou entendendo essa fúria. Vamos voltar para o carro.
Na verdade, eu estava entendendo o que tinha ocorrido, Leila tinha razão, Jane se apegou a mim, talvez fosse só carência e logo passasse, mas perigava ser algo ainda mais forte. Tentei abraçá-la, mas ela viu um táxi, deu sinal e antes de bater a porta me disse:
-Nunca mais me procure nem mande mensagem! Seu idiota insensível!
Para descobrir a verdade, eu tinha feito uma merda grande e fiquei muito mal com aquilo, não serei hipócrita em dizer que estava gostando também de Jane, mas além de uma delícia na cama, era uma pessoa muito legal, fui um idiota mesmo que deveria ter tido mais tato para entrar no assunto. Deixei passar uns dias e tentei me reaproximar, mas foi inútil, ela me bloqueou.
Não contei nada a Leila, a malandra poderia usar isso contra mim de alguma forma, mas não adiantou muito, num final de tarde, quando cheguei, ela indagou:
-Brigou com amantezinha, né?
-Que papo furado é esse?
-Ela faltou uns dois dias de academia, mas hoje foi com uma cara de quem tá curtindo um bode danado. Quase nem conversou.
Não adiantava nada seguir negando.
-Ela ficou meio bronqueada porque perguntei se ela pretendia sair com outros.
-Huuuum! Tá querendo ser corno dela também? Vê-la com outros?
-Vá te catar, Leila! Você ficou com aquele papo de que a Jane poderia estar gostando de mim, por isso resolvi testá-la e deu uma merda danada.
-Ráááááá Eu sabia! Eu sabia! Se fosse só sexo, a Jane iria mais é querer dar para outros, tem cada gato maravilhoso na academia e ela é linda, mas a songa monga gamou no meu marido. Pode arrumar outra, não quero vocês juntos!
-Olha, Leila, primeiro que quem inventou essa história de eu transar com a Jane foi você, meu erro foi pensar com a cabeça de baixo, mas não tinha como prever que ela fosse sentir algo além da vontade de transarmos. Não vou mais atrás dela porque não acho justo alimentar qualquer expectativa, além disso, pode ser que quando o marido volte, eles fiquem de boa e depois que for embora, ela veja que foi só um apego que teve. Só vou te pedir uma coisa, faz um ano que estamos nessa merda de vida, estamos caminhando para o final de novembro e como você sabe esse é um período que fico quase maluco com tantas coisas na loja, é a época que vendemos melhor, mas para isso não posso deixar faltar mercadorias, pesquisar preços, prazos e mais uma porrada de coisas para resolver, por isso, não me encha o saco com mundo liberal e outras loucuras de sua cabeça ociosa, pois vou batalhar para conquistarmos um coisa que você gosta mais do que sexo, dinheiro.
Leila concordou e me deixou em paz para trabalhar naquele final de ano, Claro que seguiu trepando com Jarbas, mas a essa altura já estava começando a se interessar por outro. Soube que no dia 14 de dezembro, Rodolfo havia chegado e que no dia três ou quatro de janeiro iria embora, torci para que Jane e ele tivessem bons momentos, especialmente por ela que tinha sido tão legal. Sentia um grande remorso quando me lembrava da cara que a coitada fez quando eu disse que não via nada de errado se ela transasse com outros.
Eu estava num correria monstro perto do Natal, estressado demais e certa noite, já dentro do condomínio, dou de cara com Rodolfo, ele estava numa baita BMW do modelo mais caro vendido no Brasil, achei extravagante ter um carro assim para quem estava usando-o menos de um mês por ano, ele buzinou para mim e cumprimentei-o de volta também buzinando, mas vi que ele fez o retorno em veio atrás de mim, na hora pensei. “Deve ter descoberto algo, se não foi a própria Leila que contou para me foder, não digo nada”. Ele deu luz e buzinou, só me restava parar, mesmo com o cu na mão, pois nessa hora achei que Rodolfo queria confusão e poderia estar armado, pois Jane me contara que ele tinha uma arma dentro de casa.
Rodolfo desceu do carro e veio e me cumprimentar de maneira amigável, dei um suspiro de alívio. Conversamos um pouco, ele me contou de sua vida nos Emirados Árabes e convidei-o para sairmos uma noite para bebermos algo, mas o marido de Jane tinha outros planos e chamou minha esposa e eu para jantarmos em sua casa no dia 28. Aceitei, apesar de não termos tanta intimidade assim.
Contei a Leila sobre o convite e que estava achando estranho, porém, em sua versão cada vez mais ordinária, ela disse:
-Relaxa! O Rodolfo mesmo insistiu para a esposa transar com outro, vai ver que nesse jantar, ele irá te chamar de canto e dizer “Obrigado por foder minha linda esposa nos últimos meses, inclusive na minha cama king size que paguei uma nota” ahahahaaha. Também pode ser só coincidência, vocês não se conhecem muito bem, mas Jane e eu somos amigas.
-Não sei não, e outra, a Jane ficou possessa comigo, é capaz de ficar estranha no jantar e levantar suspeitas.
-Isso pode ser um problema, mas deixa que falarei com ela pelo Whats e sentirei como está o clima.
Passamos um Natal tranquilo após um ano caótico, porém o jantar do dia 28 estava com cara de cilada. Leila conversou com Jane, mas não arrancou nada de relevante. Mesmo assim, acabamos indo, levei duas garrafas de uma excelente marca de vinho chileno. Senti-me um pouco mais aliviado quando Jane me cumprimentou educadamente sem dar qualquer bandeira de que estava desconfortável com a minha presença. Rodolfo também bancou o bom anfitrião. Conversamos por um bom tempo na sala, ele adorou o vinho, mas começou a virar um pouco de pressa. Fomos jantar e o assunto seguiu sendo o que cada um estava fazendo, estranhei o fato dele contar que os Emirados Árabes não é um país com leis e costumes absurdos para as mulheres, fiquei com vontade de perguntar “Por que não leva sua filha e sua esposa juntas? Mesmo que trabalhe longe de onde elas morarão, pelo menos as verá mais vezes”, mas eu não tinha nada a ver com isso.
Quando o jantar acabou, já tínhamos secado as duas garrafas de vinho, mas para dizer a verdade, uma deve ter sido só Rodolfo que bebeu, o que me trouxe um certo desconforto. Ao notar que a segunda garrafa tinha se esgotado, ele se levantou e perguntou se queríamos um uísque, no mesmo momento, Jane, demonstrando certa aflição, disse:
-Não é bom misturar, amor.
-Tem razão! Vou à adega pegar um vinho, creio não ser tão bom quantos esses que você trouxe, André, mas são saborosos, um minuto sim?
Quando Rodolfo saiu, o desconforto era geral, até Leila que abusava do sarcasmo começou a se preocupar. Ele voltou com uma garrafa de vinho, pegou o saca-rolhas na mesa, abriu e nos serviu, ainda em pé. Até que resolveu revelar o motivo daquele jantar:
-Sabe, André, tenho que tirar o chapéu, você e minha esposa disfarçaram muito bem durante todo o jantar.
Jane, Leila e eu tomamos um grande susto, ele sabia de tudo. Meu coração foi a mil, aquilo iria dar merda como eu previra, mas tentei me fingir de bobo:
--O que é isso, Rodolfo, sobre o que está falando?
Jane tentou cortá-lo.
-Acho que você exagerou na bebida, amor, melhor encerrarmos o jantar e você subir para descansar.
-Mas agora que a coisa vai ficar boa? Agora que vamos colocar as cartas na mesa? Ele disse se sentando.
Leila tomou à frente e disse:
-Vamos embora, André. – Já arrastando a cadeira para se levantar.
-Fica aí, Leila! Você precisa saber de umas coisas... Serei breve e direto: seu marido e minha mulher estão trepando há alguns meses.
-Você está confuso, Rodolfo, a Jane é minha amiga, fazemos academia juntas, não tem nada a ver.
Rodolfo deu uma bela virada na taça de vinho, soltou um “ahhhhhhhh” de quem adorou a bebida e disse:
-Vou confessar uma coisa que o André já deve saber, como estou morando a milhares de quilômetros daqui e tenho uma linda esposa, permiti que discretamente, ela pudesse, digamos...Saciar certas necessidades, mas desde que fosse com um estranho e que ninguém soubesse, nem eu queria saber. Jane se fez de pudica “Não de jeito nenhum que irei ficar com outro”. Quando vim no meio do ano, realmente tive certeza de que ela não tinha trepado com ninguém, mas dessa vez, eu já estava desconfiado pelas nossas conversas pela internet, minha esposa estava diferente, porém certeza eu tive mesmo aqui. Na hora do sexo, a senti distante, sequer ficou molhada, gozar então! (todos ficaram constrangidos, mas ele seguiu) Para piorar, além de ter certeza de que outro estava comendo-a muito bem, no meio da madrugada, minha linda mulher dormia em um sono profundo quando disse com uma voz quase choramingando “Andréééé”. Antes que digam que existem vários caras com esse nome, tomei o cuidado de com muito jeito lhe perguntar sobre o André aqui presente e a reação dela foi a de gaguejar e ficar mais branca que um fantasma. Tive certeza ali que era com você (apontando para mim) que ela estava sonhando e trepando. Mas agora é que vem a parte mais interessante, porém deveras arrasadora para mim. Vocês já devem ter ouvido falar em diário secreto, que as adolescentes dos anos 70, 80 e 90 tinham? Há muito tempo que ninguém faz uma coisa dessas, hoje, as meninas postam suas vidas nas redes sociais ou num blog, porém essa tonta aqui resolveu bancar a old school e, pasmem, criou um diário onde relata desde os meses de solidão que passou após a minha partida até a entrada de um novo amor em sua vida.
Nesse momento, Jane se desesperou, começou a chorar e se levantou tentando fugir dali, mas Rodolfo chocou a todos ao sacar uma arma prateada que estava escondida em sua cintura e apontar para a esposa dizendo com ódio:
-Volta aqui! Se me deixar falar tudo, ninguém se machucará!
Jane ficou parada chorando e soluçando, implorando para que o marido largasse a arma. Levantei-me da mesa por instinto:
-Rodolfo, isso está indo longe demais. Vocês têm uma filha, vamos esclarecer isso sem violência.
-Sim! Vamos esclarecer tudo sem violência, mas para isso, quero todos sentados aqui. Venha logo, Jane!
Jane hesitou, mas acabou concordando e se sentou chorando até Rodolfo manda-la fazer silêncio.
-Onde eu estava! Ah, na história do diário! Que piada! São páginas e mais páginas relatando detalhes de cada trepada, coisas até absurdas como um tal de plug anal que ele a fez usar, que adora o gosto do sémen dela, conta até que fizeram sexo na minha cama, na minha cama, porra! Sabem o que é isso para um homem? E mais, que ela nunca se sentiu tão mulher nos braços de um homem, adora obedecê-lo. Mas esperem! Não há espaço só para sacanagem, tem romance também e, acreditem essa é a parte que mais me arrebentou...
Rodolfo fez uma pausa dramática uma cara furiosa, encheu mais uma vez sua taça e virou de uma vez:
-Se fosse só o sexo, eu ficaria puto por ela ter quebrado algumas regras como escolher alguém conhecido e de ter feito na nossa cama, mas dentro do contexto e levando em conta que eu a incentivei a fazer discretamente, daria para perdoar, ficaria furioso, mas aceitaria, mas se você, Leila, lesse as coisas românticas que ela escreveu sobre o André, sobre os olhos dele, sobre o abraço, o beijo, o cheiro...Até poema tem, onde os dois ficam juntos para sempre, para sempre! Mas sabe o mais irônico de tudo, Leila? A trouxona aqui está perdidamente apaixonada por seu marido, mas ele deu-lhe um belo chute no traseiro, cansou de fodê-la. Nas últimas páginas do diário, ela demonstra toda a dor de um belo passa fora, conta o quanto está sofrendo e se perguntando por que tinha que ser assim, é como se fosse uma adolescente vivendo a dor do primeiro amor.
Envergonhada ao extremo, Jane colocou os braços dobrados na mesa, deitou a cabeça por cima escondendo o rosto, como uma criança faz e se pôs a chorar de uma maneira tão doída, que todos se puseram a olhar sem saber o que dizer. Eu já tinha feito algumas canalhices na vida, lavei muito dinheiro de corrupção do deputado Celso e fiquei com metade, tive uma amante quando Leila ainda era fiel, cometi outros erros, mas nada, nada, me fez me sentir tão mal quanto aquele momento, apenas pelo meu prazer sexual, tinha estragado um casamento e fodido com a cabeça de uma pessoa tão doce quanto Jane. Senti vergonha e raiva de mim, até me esqueci do perigo iminente que estava à minha frente com uma arma na mão, vendo e ouvindo o choro dela, eu queria que tivesse apenas um buraco ali para me jogar e pedir que me enterrassem. Creio que até Leila se apiedou do estado da amiga.
Rodolfo cortou aquele momento interminável dizendo mais merdas:
-Só quero deixar claro uma coisa, não farei nenhuma bobagem, com ela ou com você, e como prova, toma aqui, garanhão, tava se borrando de medo aí de levar umas balas, toma.
Surpreendentemente, Rodolfo colocou a arma na mesa e a empurrou até a mim, colocando-a na minha mão:
-Você já roubou a minha mulher, acaba comigo, vai?