MEMÓRIA DA LOUCURA - ENTRE A PAIXÃO E A TRAIÇÃO IV

Um conto erótico de Sidney (escrito pelo Leon)
Categoria: Heterossexual
Contém 2168 palavras
Data: 20/12/2022 18:09:41

4. Onda perdida morre na praia

Eu estava tentando pegar uma onda, sentado sobre a prancha que balançava ao sabor das marolas, vendo o sol nascer no horizonte. Com meus 67 anos, aqueles momentos, eu sozinho com a natureza sempre me traziam à memória toda a série de acontecimentos da minha vida, os altos e baixos, e um sem número de aventuras. E aquela história triste do fim do meu casamento com a Salva sempre retornava à minha mente quando eu estava sozinho na praia. Uma coisa era verdade. Eu não fora capaz de apagar, mesmo em décadas, a marca dolorosa por ela deixada. O trauma não se dissipou. E lembrar daquilo me provocava ainda muita frustração.

Mas naquela manhã eu me sentia particularmente ressentido. Durante a noite, eu tinha conseguido deixar a jovem mulher que estava na cama comigo profundamente excitada, louca para ser possuída. Fizera uma deliciosa massagem tântrica, provocara toda a sua sensibilidade. Ela ficou tomada de volúpia. Era uma linda moça morena. Possuía um corpo espetacular e era inteligente e experiente. Uma jornalista talentosa da televisão. Mas, por alguma razão, num primeiro momento, meu pau não teve ereção. Poucas vezes aquilo tinha acontecido na minha vida toda. Algumas vezes no passado eu sabia que fora o excesso de bebida ou sistema nervoso abalado. Mas naquela noite nada disso houvera. Eu estava muito excitado, com muita vontade de praticar sexo como sempre fiz, intensamente, mas meu pau não reagiu. Ficara mole e mesmo sendo chupado e manuseado à exaustão ele não reagia. E a mulher era bela, muito bela, e muito sensual. Eu relutei muito a admitir, mas lá no meu íntimo sabia qual era o verdadeiro problema. Ela era muito parecida fisicamente com a Salva, minha ex-mulher, na altura em que nos separamos. Tudo nela me recordava a Salva, até os lindos pezinhos delicados e pequeninos. Para não deixar a mulher carente, eu a chupara deliciosamente, prolongadamente, e fiz com que tivesse vários orgasmos com minha língua, boca e mãos. Expliquei a ela que me encontrava bastante preocupado e abalado com uma questão muito séria, e que interferia na minha virilidade. Jamais poderia revelar o que ocorrera. Mas na verdade aquilo era uma desculpa que eu dava a ela. Eu não sabia mesmo o motivo daquele efeito. E me sentia abalado pelo ocorrido, isso sim. Não sabia explicar como nem por que havia broxado. Mesmo assim a mulher adorou a noite, e me agradeceu as horas prolongadas de prazer. Eu aprendera naquela noite mais uma lição. Que as mulheres dão mais valor à atenção, ao carinho, à dedicação, e aos prazeres emocionais e afetivos do que um simples orgasmo obtido pela penetração. Elas encontram muitas outras formas de orgasmo, às vezes até mais importantes e significativos.

Saí antes de amanhecer, deixando-a dormir feliz. Nas primeiras horas do alvorecer, peguei minha prancha e fui para o mar. Pegar umas ondas, descarregar a tensão e talvez processar melhor o que estava acontecendo. E mais uma vez, de súbito, ao ver o clarão do sol surgindo no horizonte, me vinham na lembrança momentos da minha vida. Momentos ligados à memória da loucura entre a paixão e a traição. Uma frase de surfista naquela manhã me acompanhava na memória: "Onda perdida morre na praia." - Já era.

Eu havia, me separado definitivamente da Salva, naquele episódio da traição, ficamos dois anos sem nos ver, sem falar sequer. Soubera por intermédio de amigos comuns, que ela sofreu muito, levou mais de um ano para conseguir se recuperar da perda. Mas nunca mais foi a mesma. Como eu havia previsto, ela disse para a mãe que eu era muito assediado pelas mulheres e não era fiel. A ex-sogra deu razão à filha, nem me procurou para conversar. Eu também havia ficado quase um ano meio sabático, solteiro, sem namorar e sem ter envolvimento afetivo com ninguém. Tivera diversos casos isolados de parceiras temporárias para sexo casual. O que era muito bom. Mas nada que envolvesse sentimento. Eu deixara de acreditar que voltaria a me apaixonar por alguém. Larguei o trabalho de jornalista, e me dedicara a fazer o que eu mais gostava, apenas fotografar. Montara um estúdio e progredira na carreira. E fotografava preferencialmente belas mulheres. Modelos, atrizes, e candidatas a modelo. Também fazia fotos publicitárias.

No começo da mudança tive uma queda de padrão econômico, mas aos poucos fui crescendo na atividade. Até que já no segundo ano após a separação, a Salva me telefonou perguntando se eu estava disposto a fazer nosso divórcio. Eu concordei de imediato. Aquilo era um milagre. Tratei de me organizar, e consegui um advogado, sugerido por ela, que tratou de nossa separação judicial amigável. Fui eu que paguei tudo. Desconfiei até que nos honorários do advogado, que não foram pouco, tinha embutido algum percentual de comissão para a Salva. Mas eu nem quis discutir. Precisava livrar aquela mancha do meu passado.

Assim, finalmente, depois de um prazo para os trâmites legais eu estava definitivamente separado e com a certidão legal que oficializava aquilo. Um capítulo parecia ter se encerrado.

Mas com o passar do tempo eu fui descobrindo que a ferida que a Salva havia aberto no meu sistema afetivo-emocional com aquela traição, nunca cicatrizou completamente. Eu não conseguia superar a dor causada por sua atitude. O fato dela ter feito como fez, quando fez, comigo perto, presente, nunca deixou de me doer muito. Eu a varri da minha vida, mas a nódoa da ferida ficara.

Eu segui em frente. Numa época em que eu estava bem de trabalho, bem de dinheiro, a carreira em ascensão, eu não tinha nenhum envolvimento afetivo com mulheres. Nem queria. Nem conseguia. Só me envolvia com casos passageiros de uma noite de sexo intenso. As aventureiras não faltavam e na época mulher liberal era o que mais havia. Eu evitava ao máximo manter vínculos. E essa ferida marcou tanto que eu nunca mais consegui ser totalmente descontraído e me entregar inteiro para nenhuma companheira.

Minhas relações eram afetivas, honestas, mas eu nunca mais havia me entregado completamente a uma relação amorosa como fora com a Salva. Desde então eu tinha sido sempre muito contido, em função do que havia ocorrido. E conheci muitas mulheres fantásticas que se eu quisesse ficariam comigo.

Foi quando conheci a Mel. Dois anos depois da separação.

Eu tinha um grande amigo, desde o tempo da faculdade, chamado Gal. Ele também era adepto do surfe, gostava de jogar futebol de areia, e se tornou um publicitário bastante atuante no mercado. Paulista de origem era um carioca por paixão.

Graças a ele eu fui chamado por muitas agências e produtoras, para fotografar anúncios e editoriais. Nós éramos grandes amigos mesmo, mas como os dois haviam se casado, ficáramos por um tempo mais distantes. Mas ele também se separou da esposa, pouco depois da minha separação, e voltamos a sair juntos para paquerar nas noites do Rio de Janeiro.

Numa noite de dezembro, eu encontrei com ele num bar de Ipanema, acompanhado da garota mais linda e espetacular que eu jamais vi igual em toda a vida. Uma menina muito jovem, parecia menor de idade, de pele morena clara, cabelos castanhos encaracolados e soltos na altura dos ombros. Não era alta, tinha estatura mediana, mas seu corpo era uma escultura, mãos e pés lindos e delicados. Olhos lindos, castanhos cor de mel, e com pestanas longas. Cheguei a ficar sem ar ao vê-la e gaguejei na hora de me apresentar.

Mel era uma modelo iniciante, que o Gal conhecera numa seleção de garotas para fazer um filme publicitário. Gal é loiro, olhos azuis, bom físico, da minha altura, corpo esbelto, inteligente, e como eu, alegre, divertido, e logo cativou a garota. Estavam saindo juntos fazia alguns dias e eu ali admirado, encantado com a namorada do amigo. Gal sugeriu que a Mel fizesse um ensaio fotográfico comigo, para ter um book de apresentação mais charmoso, e ela se entusiasmou. Eu não escondia a felicidade. Quando a Mel deu uma saída da mesa para ir à toalete, eu perguntei mais sobre ela, sobre a relação deles, e elogiei a garota. Fiquei surpreso com o amigo quando ele disse:

— Se você deixar, ela vai fazer você ficar loucamente apaixonado. Até se não deixar ela vai fazer você morrer de amores. Ela é irresistível.

— Mas, não está com você? Que papo é esse?

— Estou saindo com ela, a gente se dá muito bem, sexo nota mil, mas ela sabe que eu não sou futuro para ela. Depois da minha separação, não quero mais me envolver com ninguém. E a Mel não é mais uma. Se ficar com ela eu vou novamente me enrolar. Eu e ela estamos ficando juntos, mas é temporário. Eu não quero mais ter compromisso afetivo por enquanto. Não tenho estrutura para pilotar esse avião.

Eu na mesma hora, com o coração aos pulos respondi:

— Eu também não quero compromisso, estou ainda traumatizado do outro relacionamento, mas essa gatinha é espetacular, vale correr o risco.

Qual não foi a minha surpresa quando o Gal disse meio segredado:

— Convide essa gata para um ensaio. Não fique com receio. Eu vou dar força. Você merece. E vai me ajudar a sair desse caminho sem volta.

— Como assim? Caminho sem volta?

Gal sorriu e dando um tapa na minha mão sugeriu:

— Se arrisque, conheça a Mel, experimente. Depois vai entender. Não vai querer deixar nunca mais.

Intrigado, mas confiante na sinceridade do amigo, fiquei animado. Quando a Mel voltou da toalete, o próprio Gal disse a ela:

— Estou convencendo o Lobas a fazer um ensaio com você. Ele estava quase aceitando, só depende de você querer.

Gal sempre me chamou de Lobas pois meu nome é Sidney Lobato Mendes Garcia. E ele, sempre criativo e gozador, dissera que eu tinha mesmo era jeito de lobo mau que adorava uma menina perdida na selva de pedra. Assim, sempre me tratou por Lobas.

A Mel abriu um sorriso lindo de dentes muito brancos e perfeitos entre os lábios carnudos e olhando firme em meus olhos falou como se dissesse dentro da minha alma:

— Agora isso é tudo que mais quero. Um ensaio é um sonho. Você marca e eu vou.

Marcamos para aquele próximo final de semana, faltavam três dias, e combinamos ali mesmo, na mesa do barzinho, o que ela precisava fazer para o ensaio, em termos de trajes, maquiagem, cabelos, depilação, cuidados com a pele. Eu estava encantado, só de ouvir seu jeito gracioso de falar, seus olhares e sorrisos descontraídos, eu já me sentia fervendo.

Para quem sempre foi o objeto do desejo das mulheres, e estava fugindo de qualquer possibilidade de envolvimento afetivo, eu não me reconhecia.

Mel em nenhum momento foi desrespeitosa com o Gal, continuava ao lado dele, carinhosa, mantendo a postura de atenção e zelo por ele. Mas ao mesmo tempo ela se mostrava bastante empolgada com a possibilidade do ensaio.

Num determinado momento ela perguntou quanto custava um ensaio e eu disse que estava oferecendo de presente, em função da grande amizade que eu tinha com o Gal. Ela agradeceu feliz da vida e ficou tudo definido. E eu não via mais o final de semana chegar.

Falei com o Gal todos os dias, ansioso e animado, que me deu o telefone da Mel para que eu ligasse e combinasse detalhes. Eu sabia que minha beleza masculina, que meu poder de atração, funcionariam muito bem, mas ainda não me sentia totalmente à vontade por saber que a garota era uma namoradinha temporária do amigo. Mas o Gal fez questão de dizer:

— Lobas, a Mel ficou encantada com você logo que o viu. Me disse que fazia muito tempo que não via um homem tão atraente e másculo. Você está com tudo, ela adora uns olhos claros de surfista, está muito a fim, faça um lindo ensaio, ganhe essa menina, faça com que seja feliz.

Ele deu uma pausa para valorizar a frase:

— Eu adoro a Mel, mas não vou nunca assumir essa relação, e ela sabe. Somos bons amigos. E ficarei muito contente se vocês se encantarem.

Agradeci, e me convenci. E de fato, deu tudo certo. No sábado a Mel apareceu na minha casa em Botafogo, onde eu já tinha e tenho até hoje o meu estúdio fotográfico nos fundos do quintal. Estava radiante, linda e descontraída. O ensaio foi um dos mais belos que já fiz na vida e desde esse dia, nos apaixonamos perdidamente. Mas isso já será uma longa parte da história.

Continua

Meu e-mail: leonmedrado@gmail.com

NOTA DO AUTOR: Esta história é parte integrante de meu próximo romance a ser publicado em breve. Trata-se de uma história de pessoas reais cujos nomes foram alterados propositalmente. Portanto, direitos reservados e história exclusiva. Não é permita sua reprodução. Vou publicar aqui algumas partes, até onde acho que é conveniente. Faz parte da divulgação de minha próxima obra.

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Comentários

Este comentário não está disponível
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Texto excelente!

A série de contos explica bem a diferença entre relacionamento liberal e traição.Três estrelas. ⭐⭐⭐

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Todos esses novos personagens são fascinantes, Ellen se sentiu saudosa aqui ao relembrá-los.

⭐⭐⭐

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Que acontecimento aconteceram,como disse feridas antigas não cicatrizam,nem com novos remédios chamado mel,ela iram ficar lá dentro no fundo escondido mas um dia voltaram a doer forte,mas terá momentos bom então viva

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Cara não me diga se apaixonou quem diria kkkkkk parabéns mais o passado te condena

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O tema "traição" é muito mau entendido, sobram clichês, o "corno", a "vadia", etc. A maioria dos autores e leitores colocam traição e relacionamento liberal no mesmo barco, como se fosse a mesma coisa. Já enjoei de ler comentários taxando de "corno manso" o marido que libera sua esposa e vice versa. Sua história é didática, prima pela sinceridade, mostra o que é ser traído, o quanto pode ser doloroso e frustrante perder a confiança na pessoa amada. Descobrir o lado escuro do desejo de quem acreditamos ser fiel inviabiliza qualquer fetiche. O personagem principal foi traído, mesmo sabendo separar sexo de amor, diferente do Mark (por exemplo) que liberou a Nanda para transar com outros. Dentro desta lógica, Mark não é corno, já Sidney...

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Certíssimo amigo. Confiança é tudo. Depois que se perde, fica difícil recuperar. Como falei traição não é desejo e sim falta de caráter. Ainda mais quando se tem liberdade de ser franco com o parceiro.

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Cada um com seu desejo e fetiche. Mas para mim quem ama não trai., e essa desculpa de que sexo e amor são coisas diferentes não concordo. Para mim um completa o outro. Isso de dizer "foi so sexo" é balela. Se tiver amor , respeito, confiança e comunicação tudo se acerta. Isso de falar que tinha desejo ou fantasia, abre o jogo com o parceiro. Ele pode aceitar ou não. Cabe ao casal decidir se vale a pena o risco.

Acho que nesta sequencia, a decisão do marido foi perfeito. Foi traição. A confiança nunca mais seria a mesma. E olha que ela tinha a opção de se abrir com o parceiro antes.

Não me venha com essa de desejo incontrolável, isso é caráter e índole.

Se não esta satisfeito com algo em um relacionamento, seja honesto e converse ou se separe.

tenho lido vários relatos de pessoas onde o cara é traído, humilhado e até subjugado. Respeito a tara de cada um.

Mas nesse conto enfim uma decisão sensata, doida sim, pois a traição doi, mas uma decisão correta.

Encerra um ciclo doente, sofre, se cura, independentemente do tempo e busca outra pessoa que mereça sua confiança.

Parabéns pelo texto. Muito bem escrito como sempre vale todas as estrelas.

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Leon posta a parte 3 da "vizinha crente e o marido envergonhado, estou no aguardo, seus contos são ótimos.

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