Dividimos os temas que teriam que ser pesquisados, fizemos os apontamentos iniciais e combinamos de cada uma desenvolver o seu para nos reuniríamos na quinta-feira e ensaiar a apresentação. Já passava das dez da noite quando terminamos, nos despedimos e a Laura me pediu uma carona, afinal, ela morava no meio do caminho até meu apartamento. Na Avenida das Américas, em um trecho que estava parado, fomos abordadas por dois marginais encapuzados e, mesmo entregando tudo o que tínhamos em mãos, fomos alvejadas cinco vezes. Quando olhei para meu lado, Laura com a mão sobre o seio, gritava de dor. Eu tentei ajudá-la, mas fiquei tonta e desmaiei.
[...]
Capítulo 33 - Lágrimas ao vento…
Obviamente que, quando vi a Annemarye nua, minha cabeça já formulou altas possibilidades para aquela noite. Chutei meu calção para longe e me deitei junto dela. Porra! Quando encostei no corpo nu daquela danada, um arrepio me percorreu toda a coluna. Não sei ela, mas eu ficava louco só de sentir seu cheirinho natural, e ali, ainda banhado a creme e um perfume docinho, era de perder o juízo mesmo!
- Estou sem camisinha, Anne. - Confessei, na esperança que ela cedesse aos seus próprios desejos.
- Então, dançou filhão! Sem camisinha, sem trepadinha. - Falou, rindo.
- Ah, Anne…
- Não, Marcos! - Ela insistiu uma vez mais, mas, vendo minha cara decepcionada, propôs: - Olha, não é que eu não confie em você, mas estamos ficando íntimos só agora. Então, se você concordar, nós poderíamos fazer alguns exames para ver se está tudo bem conosco e daí, quem sabe, eu libere as brincadeiras sem a capinha.
- Ô mineirinha desconfiada, sô!
- Uai! Que belezinha, amor. Já tá aprendendo a falar mineirês só pra me agradar!? - Disse e riu gostoso e alto: - Opa! Escapou… E sim, sou muito desconfiada mesmo, sô!
- Amor!? Olha, eu gostei, hein? Espero que só me chame assim de agora em diante.
- O quê? Amor!? Tá bom, amor. Acho que pode ser, amor. Claro, por que não, amor? Sim senhor, amor. - Disse entre pequenos beijinhos carinhosos em meu rosto, mas se calou por um momento na sequência e começou a rir novamente: - Sim senhor, é o caralho!
Ficamos namorando ali, nos roçando e atiçando nossos corpos. Vez ou outra ela tocava meu pau e o masturbava para me deixar louco. Piorou quando ela se deitou por cima de mim e o colocou entre as pernas e aquele calor vindo de sua buceta, aliado a uma esfregação de seu corpo no meu, me deixou louco:
- Ai, Anne…
- Não!
- Deixa?
- Não! E é melhor a gente dormir mesmo antes que acabemos fazendo alguma besteira.
- Ah, poxa, Anne… Sacanagem isso! Você podia ter uma camisinha aí também, né!?
- Mas eu tenho na minha bolsa.
- Filha da mãe! Por que não me falou? E você me torturando aqui à toa…
- Não! Sossega, Marcos. Vamos só dormir agora. Estou até com a perseguida inchada de tanta surra que ela levou. Além disso, não quero transar com os seus pais do outro lado da parede. Agora não vai rolar mesmo.
- As paredes têm isolamento acústico…
- Marcos, dorme! - Ela disse e se levantou da cama: - Eu vou pro outro quarto. Assim, não dá.
- Não! Não precisa. - Falei e me levantei, encoxando-a por trás: - Fica. Deixa eu cuidar de você.
Por mais que ela negasse, eu sentia que ela também queria. Seu corpo estava fervendo e meus beijos, meus toques a arrepiavam inteirinha. Ela ainda resmungando baixinho foi se entregando. Logo seus resmungos foram substituídos por “nãos” sofridos e depois por gemidos quase inaudíveis entre sua respiração ofegante:
- Não faz isso, Marcos… Ai! Assim não. - Falava para se entregar a um gemido gostoso quando meu dedo pressionou seu clítoris: - Ahhhhh! Aiiiiii… Paraaaaaii!
Eu não parei! Eu não queria parar e ela, apesar de dizer que não queria, suas atitudes, seu corpo denunciavam justamente o contrário e eu continuei. Suavemente ela se deixou levar até a cama, onde a deitei e pude explorar com mais vontade seu corpo, sua pele, seus odores. Que mulher! A cada toque, cada beijo, cada lambida um arrepio e um gemido diferente dela mostravam que eu estava no caminho certo. Foi assim que me esmerei em seu pescoço, fazendo-a respirar mais forte. Ao chegar em seus seios, apesar de ela dizer “não”, a forma como ela apertava minha cabeça de encontro a si enquanto eu mamava aqueles mamilos eriçados, me significava um “sim” ainda mais alto. Mas foi quando cheguei em sua púbis e corri minha língua por sua pele lisa e perfeitamente depilada fazendo-a arfar alto e sofrido, que senti que eu poderia abusar. Sem medo enfiei minha boca:
- Ai! Ah, ah, ah, aiiiiiii, Marcos, para! - Gemeu ao sentir meus lábios envolverem e sugarem seu clítoris.
Eu simplesmente a ignorei e continuei lambendo e beijando aquele montinho de nervos, fazendo com que ela requebrasse bonitinho em minha mão. Ela literalmente desistiu de me impedir e agarrou um travesseiro próximo, colocando-o sobre a própria cabeça para abafar seus sons. Não sei se deu muito certo, porque quando eu enfiei dois dedos dentro dela e os pressionei contra a parede anterior de sua vagina, no local do chamado ponto G, ela urrou com sua voz rouca e forte, mas abafada, contida por aquele travesseiro. Adorei senti-la tremer e acelerei ainda mais meus movimentos, aliando-os aos de minha língua por toda a extensão de sua vagina, dando especial atenção aquele clítoris ousado e teso. Alguns minutos depois, ela começou a requebrar ainda mais e a tremer demonstrando ter chegado a um magnífico orgasmo. Subi novamente beijando seu corpo, mas agora sem afobação ou pressa. Eu queria deixá-la se recuperar, mas não queria perder o mínimo contato com ela:
- Covarde! - Ela resmungou, sorrindo: - Eu só queria dormir.
Eu também sorria e, quando cheguei a altura de seu rosto, retirei aquele travesseiro e passei a beijá-la com paixão. Ela se agarrou em mim com braços e pernas e ficamos nos curtindo. Aliás, eu ainda estava louco e queria possuí-la, só não sabia como. Passei então a esfregar meu pau em seu clítoris e a vi desmontar novamente, até revirando os olhos quando a fricção entre nossas intimidades aumentou de velocidade e intensidade. Num momento de descontrole causado por aquela enxurrada de sensações, coloquei meu pau na entrada de sua vagina e deixei que escorregasse para dentro:
- Marcos!? - Ela reclamou surpresa e repetiu choramingando: - Não, não, não, não, não, não…
- Anne, só um pouquinho…
- Não! Por favor, não. - Dizia sem a menor vontade de ser convincente, ou já sem forças depois do orgasmo alcançado: - Não faz isso, por favor.
Lutando contra todos os meus instintos, mas sabendo que não poderia obrigá-la a simplesmente me saciar, eu recuei. Ela é importante demais para eu magoá-la. Ela era o meu destino e ninguém se colocaria entre a gente, nem mesmo a minha mais louca vontade de possuí-la. Como também não sou de ferro, deitei-me ao seu lado, respirando, aliás, arfando e tentando me controlar para não fazer de um momento de prazer um tormento de arrependimento posterior:
- Desculpa! - Ela me pediu, virando-se em minha direção: - Eu só não quero…
- Está tudo bem, Anne. Está tudo bem…
- Não está, não! Estou vendo na sua cara que ficou chateado.
- Fiquei, mas não com você e sim comigo mesmo, porque eu quase perdi o controle e sei que iria te magoar se tivesse continuado. Eu é que tenho que te pedir desculpas.
Acabamos ficando em silêncio. Eu olhava para o teto tentando relaxar, mas o danado do meu pau não cedia por nada. Aquela mulher exercia um fascínio sobre mim ao ponto de eu perder totalmente o controle de meu próprio físico. Eu sabia que ela me olhava também, mas eu tentava não corresponder para não piorar ainda mais minha situação:
- Marcos?
- Oi!?
- Vamos fazer esses exames amanhã de manhã, por favor? - Perguntou, fazendo com que eu voltasse minha atenção para ela: - Eu também não sei quanto tempo vou conseguir evitar.
Danadinha! Ela também estava tão louca quanto eu para se entregar de corpo e alma aos nossos momentos. Virei-me para ela e voltamos a nos beijar:
- Não, Anne, assim eu não aguento. Melhor eu tomar uma ducha fria. - Disse e me levantei, deixando-a na cama.
No banheiro, entrei rápido embaixo da ducha. Não tive coragem de tomá-la fria, mas levemente amornada, apenas para quebrar o gelo. Fiquei recostado na parede, apenas sentindo a água correr por minha pele enquanto eu tentava relaxar e, não sei quanto tempo depois, senti duas mãos tocando meus ombros, que se transformaram em unhas que desceram arranhando levemente minhas costas, separando-se em minha bunda, uma indo para a frente e segurando com firmeza meu pau e a outra voltando a me segurar pelo peito. Ela me abraçou forte, apertado e tive a impressão de sentir seus mamilos eriçados tocarem minha pele. Meu pau que não amolecia ficou duro como aço em sua mão:
- Deixa eu cuidar de você agora, amor? - Me pediu com uma voz rouca próxima ao meu ouvido.
Quase gozei nesse momento, aliás, não sei como consegui me segurar. Ela deu a volta por baixo de meus braços e me encarou, roubando um beijo carinhoso, mas intenso de meus lábios. Depois me olhou novamente nos olhos, deu um sorriso e passou a descer pelo meu corpo, beijando-me o peito, barriga, virilha… Quando chegou na altura de meu pau, ela se deteve e ficou analisando-o curiosa, eu diria até que o admirando. Não sou o mais dotado, mas também não passo vergonha. Ela parecia gostar do que via e tive certeza disso quando ela me olhou de baixo para cima e deu um sorriso safado, mordendo o canto da boa, antes de abocanhá-lo todo de uma vez. Passou então a sugá-lo com uma vontade absurda, alternando com lambidas e beijos por toda sua extensão. Eu já estava muito excitado e não conseguiria aguentar muito, mas tentei de toda forma prolongar aquele momento. Minha mineira era esperta e passou a punhetá-lo com as mãos e boca, levando-me a gozar em pouco tempo. Naquele êxtase do momento, nem me dei conta de que segurei sua cabeça e empurrei o pau o máximo que pude para dentro de sua boca, só notando isso quando ela começou a me dar tapinhas na barriga:
- Ai, desculpa, Anne. - Falei, preocupado em ter abusado.
Ela abaixou a cabeça e colocou a mão na boca, dando duas tossidas em seguida. Depois me olhou e riu da situação, mas não reclamou, apenas se sentou no piso do banheiro e mostrou que em suas mãos havia deixado um pouco do semem que eu havia lhe entregue. Então, me sorriu maliciosamente outra vez e passou a lamber toda a sua mão, como se fosse uma gata, sorvendo todo aquele leite. Só parou quando terminou ou se deu por satisfeita. Eu a olhava impressionado, absorto naquele clima de safadeza e ela me encarou, pela primeira vez na noite, preocupada:
- Desculpa. - Me falou depois de um tempo com um semblante constrangido: - Não sei o que me deu.
Desci até onde ela estava e me sentei ao seu lado, ambos agora banhados pelas águas do chuveiro:
- Por que está me pedindo desculpas? Fui eu que abusei de você. - Falei.
- Você não fez nada demais. Eu sei que foi no tesão do momento. Apesar de que quase me afogou, né, Marcos!? - Ela disse e caiu numa gostosa risada: - Mas é que eu… Ah, sei lá…
- O que foi, Anne? O que está te preocupando? - Perguntei, já acariciando seu rosto.
- Sei lá… Acho que abusei um pouco com esse negócio de… - Se calou, desviando o olhar.
- De? - Insisti para que ela se sentisse confiante e falasse.
- De beber o seu leite, Marcos. Tenho medo que pense que sou uma vadia, uma puta, sei lá…
- Ôôôô, mineira… Relaxa! Eu não vou te recriminar em nada que queira fazer comigo em quatro paredes. Nada! Quero que você se sinta à vontade para experimentar entre a gente.
- Ooooolha, Marcos… - Disse, sorrindo com aquele jeitinho meigo e tímido que só ela sabe fazer.
- Tudo! Estou te falando. Quero que confie e se realize em mim.
Ela deu um sorriso malicioso, mas não me encarou diretamente, só no final deu uma risadinha sapeca e me olhou nos olhos:
- O que? - Perguntei, curioso e até assustado.
- Nada, não! Deixa pra lá.
- Anne!?
- Ara! Você não disse que eu tenho que confiar em você? Então, você também tem que confiar em mim, uai! - Riu gostoso e me abraçou: - Só estou brincando com você, amorrrr. Relaxa, vai!
Terminamos então o banho, nos ensaboando um ao outro e depois nos secamos, voltando para a cama, novamente nus, mas agora satisfeitos e cansados. Liguei a televisão e ficamos assistindo um filme de ficção científica, se não me engano era o “Independence Day”, mas francamente não durei sequer dez minutos, apagando ao lado dela que já ronronava o sono dos justos.
[...]
- Mas o que é isso!? Quem pode ser, ligando a uma hora dessas? - Resmunguei enquanto me levantava para pegar meu celular: - Alô! Quem é?
- Dona Eugênia?
- Sou eu.
- É o Jairo que está falando. Tudo bem com a senhora?
- Vou bem, seu Jairo. - Respondi, já acordando o Balthazar aos tapas que me olhou assustado e lhe falei, sussurrando: - É o pai da Márcia no telefone.
- Desculpa ligar agora, mas eu queria que soubessem por mim que a Márcia foi baleada e está internada na UTI. - Falou com uma voz chorosa, sofrida.
Arregalei meus olhos e não consegui falar mais nada. O Balthazar, pragmático, pegou o telefone e passou a conversar com ele. Eu não consegui falar mais nada, aliás, nem sabia o que falar. “Baleada!? Ah, meu Deus.”, pensei, enquanto via meu marido conversar com seu Jairo:
- E o bebê, Balthazar? - Perguntei, fazendo-o repetir minha pergunta e ativar o viva voz para que eu ouvisse a resposta.
- Eles ainda a estão examinando, não me deram muitas informações.
- Como isso aconteceu? - Insisti.
- Parece que foi um assalto, dona Eugênia. A Márcia havia saído para fazer um trabalho na casa de uma colega e na volta, na Avenida Brasil, paradas num engarrafamento, foram assaltadas e baleadas. Não sei se reagiram, não sei de nada…
- Fica calmo, Jairo. Estão precisando de alguma coisa? - Balthazar perguntou.
- Não, seu Balthazar, elas estão bem atendidas, mas é que… - Se calou e o ouvimos chorar.
Balthazar me olhou com um semblante chateado, esperando um pouco que ele se acalmasse e continuou:
- Jairo, estamos em São Paulo, mas farei de tudo para voltar ainda amanhã. Não fique constrangido em me ligar se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, homem. Estou à sua disposição.
- Obrigado, meu amigo. Por favor, avise a todos por aí. Sei que ela e o Marcos já não estavam se entendendo, mas, mesmo que não fiquem juntos, são amigos e achei que ele gostaria de saber.
- Claro! Fez muito bem em me ligar. Vou avisá-lo, sim. Ah, e por favor, nos mantenha informado, ok?
- Ok. Obrigado, Balthazar.
Se despediram e, assim que desligaram, Balthazar me encarou. Ninguém sabia o que falar, nem como falar, mas algo precisava ser dito e principalmente para o Marcos. O pior é que havia um potencial enorme de estragar a lua de mel dele com a Annemarye, mas precisava ser feito:
- Vou falar com o Marcos, Gegê. Ele precisa saber.
- Sim, é claro que precisa saber, mas vamos com calma para não assustá-los, principalmente ela, Balthazar, não quero que eles se desencontrem novamente.
- E como dar uma notícia dessas sem falar o óbvio, Gegê? - Me perguntou, curioso.
- Deixa comigo. Eu falo com eles. - Disse e me levantei, colocando meu robe.
- Vou junto. - Ele falou e também se vestiu.
Saímos os dois pelo corredor e logo estávamos em frente à porta do quarto deles. Havia apenas o silêncio dentro e fora do quarto. Dei dois toques na porta de seu quarto e nada. Insisti novamente e, pouco depois, ouvi o barulho da chave na porta. Marcos me olhava, enquanto coçava um olho:
- O que foi, mãe? Pai!? Credo, gente! Aconteceu alguma coisa? - Perguntou, agora assustado.
- Filho, não tem um jeito fácil de dizer isso, então, vou ser bem direta. A Márcia foi baleada num assalto e está numa UTI agora. O Jairo acabou de nos ligar, avisando. - Falei, dando-lhe um abraço e vendo a Annemarye que dormia tranquilamente enrolada nos lençóis, alheia a tudo.
- Mãe, que história é essa?
- Não sabemos muito. Só sabemos que ela havia saído para fazer um trabalho na casa de uma amiga e na volta, lá na Avenida Brasil, foram abordadas, assaltadas e baleadas.
- Caramba, cara! O que é isso? - Falou, claramente atordoado com a notícia.
Nesse momento, nosso barulho acabou acordando a bela adormecida de Minas Gerais que, de imediato, intuiu que algo estava errado. Ela se sentou na cama, enrolada num lençol por certamente estar desprevenida e perguntou:
- Aconteceu alguma coisa?
Marcos se virou e foi até ela, se sentando na beirada da cama. Dei um sinal para o Balthazar de que ela estava “desprevenida” e ele seguiu para a sala. Entrei no quarto para tentar mediar caso eles se desentendessem, mas a Annemarye demonstrou uma maturidade imensa ao receber a notícia através dele, sem brigar, discutir, ou nada do gênero, apenas acariciando o rosto dele:
- Mas e o bebê? - Ele me perguntou, chamando a atenção dela que também me encarou nesse momento: - O bebê está bem?
- Ainda não sabemos, Marcos. O Jairo também estava esperando notícias dos médicos. Temos que aguardar.
- Poxa, cara…
- Marcos, você tem que ter fé. Não adianta ficar lamentando algo que ainda não aconteceu. Vai correr tudo bem. Acredite, porque a fé tem poder. - Disse a Annemarye para animá-lo.
- Eu tenho que ir pra lá, mineirinha. - Ele falou para a gente: - Não posso deixá-los sozinhos.
Vi que a Annemarye o encarou em dúvida nesse momento. Acredito que ela não tenha entendido exatamente o alcance de suas palavras, mas ainda assim manteve um elogiável autocontrole e se manteve ao seu lado, acariciando sua mão em sinal de apoio:
- Vou fazer um chá para a gente. Acho que precisamos acordar e pensar com calma, não é? - Falei e Annemarye acenou positivamente para mim.
Fui até a cozinha, deixando-os a sós e no caminho notei que Balthazar conversava com alguém ao celular. Me aproximei e, ouvindo sua conversa, entendi que terminava uma conversa com Aurélio:
- Aurélio ainda não estava sabendo de nada, Gegê.
- Ele não é tão próximo da família dela como nós somos, Balthazar.
- É mesmo… - Concordou e fez uma nova chamada: - Vou ligar para a Duda.
Aguardou alguns segundos e ela o atendeu. Ele ativou o viva voz para que eu participasse da conversa:
- Oi, Duda. Como você es…
- Já estou sabendo, pai! - Ela o interrompeu: - A dona Ana ligou para a casa de vocês e a Isa ligou para a Nana que me ligou. Eu estou agora na casa de vocês e estava falando com o seu Jairo até agora há pouco e…
- Tem alguma novidade da Márcia, Duda? - Foi a minha vez de interrompê-la, bem na hora em que o Marcos se aproximava da gente junto da Annemarye: - E o bebê?
- Mãe, a Márcia não está bem, não. Parece que ela foi colocada em coma induzido e o bebê… bem, o bebê parece que não resistiu.
[...]
Acordei sozinha na cama e ouvindo uma conversa baixinha vinda porta do quarto. Comecei a prestar atenção no que falavam e me surpreendi quando ouvi dizerem sobre um assalto e alguém sendo baleado. Notei pelo timbre das vozes que a questão era mais séria e com alguém muito próximo. Apesar de eu estar nua, eu precisava auxiliá-los, então, fingi estar acordando naquele momento e, enrolada em um lençol, sentei-me na cama, olhando em direção a eles:
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei.
Marcos veio em minha direção e se sentou na beirada da cama, contando que a Márcia havia sido baleada durante um assalto. A dona Gegê deu um sinal para o seu Balthazar que foi para a sala e veio até junto de nós. Eu estava surpresa e sem saber o que fazer, então, fiquei acariciando sua mão, principalmente quando ele perguntou para ela se tinha notícias do bebê. Infelizmente, ela não tinha e isso o deixou ainda mais nervoso.
Eu tentei lhe dar apoio, dizer algumas palavras de fé, mas ele estava bastante abalado, querendo ir para lá tentar ajudá-los de alguma forma. Não vou mentir dizendo que isso não me incomodou, aliás, incomodou bastante, mas eu precisava entender que ela foi uma pessoa muito importante e ainda carregava um filho dele. A dona Gegê, notando que precisávamos de alguma privacidade, disse que iria preparar um chá e nos deixou a sós no quarto. Assim que ela saiu, ele me encarou:
- Por favor, eu preciso ir, Anne, é o meu filho…
- Eu sei, Marcos. Não estou brava, nem chateada. Eu só não posso te acompanhar amanhã, mas irei no final de semana te encontrar. - Disse e o abracei: - Vai dar tudo certo. Tenha fé.
- Cara, não estou acreditando! Quando parece que tudo vai se encaminhar na minha vida, vem uma dessas e me dá uma rasteira.
- Não fala assim! Não pensa de forma negativa. Tenha fé! Bons pensamentos, boas energias tem poder para mudar tudo em nossa vida para melhor. Você precisa acreditar nisso. - Insisti.
- Eu sei que você está certa, mas ainda assim é muito difícil… - Disse e, com lágrimas nos olhos, se levantou indo em direção ao banheiro.
Levantei-me também e me vesti com um robe azul que ele havia me emprestado, mas que eu sequer havia usado ainda. Quando ele saiu, de rosto lavado e péssima expressão, eu já estava pronta para recebê-lo e juntos fomos até a cozinha, em busca de novas informações. Chegando na sala, vimos que seu Balthazar falava com alguém no telefone que já identificamos ser a Duda. Infelizmente, ela dava a pior das notícias para ele: Márcia havia perdido o bebê.
Ele caiu em prantos quase que imediatamente, eu precisei ampará-lo, aliás, eu e a dona Gegê. Colocamos ele sentado no sofá e, enquanto eu o acariciava, ele, num esforço fora do normal, se controlou para ouvir o restante da conversa do pai com a irmã:
- Parece que a Márcia perdeu muito sangue e um dos tiros atingiu a cabeça, mas os médicos ainda não sabem falar a extensão dos danos. Parece que um edema ou sangramento, sei lá, estava dificultando tudo. Então, eles se preocuparam em estabilizar o quadro dela e fazer novos exames amanhã, mas a situação não é nada boa.
- Entendi, querida. Amanhã, eu volto para o Rio e vou lá dar apoio para eles. Qualquer novidade, me liga, a qualquer hora, tudo bem?
- Tá bom, pai, eu ligo. Beijo para vocês.
- Outro, meu amor.
Marcos sucumbiu de vez. Com os cotovelos apoiados nos joelhos, ele se debulhou em lágrimas. Um choro doído, sofrido pela perda de alguém que sequer havia conhecido, mas que, independente disso, já amava demais. Também não aguentei vê-lo sofrer e chorei junto, mais contida, mas não menos dolorosamente. Aliás, todos choraram, até seu Balthazar que parecia ser o mais controlado, sentiu a perda do neto. Eu o acariciava e tentava levantá-lo, mas tudo o que eu falava parecia em vão, até um momento em que ele se virou para mim e me abraçou, chorando em meu ombro:
- Chora mesmo, Marcos. Vai te fazer bem por pra fora. - Falei e o abracei forte, apertado.
E ele chorou, como chorou, ouso dizer que chorou tudo o que nunca havia chorado em sua vida toda até aquele momento. Entretanto, o terror daquela noite estava só começando e revelações sombrias iriam assombrar todos naquela família, inclusive a mim.
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.