Sinopse:
Revelações envolvendo o futuro do nosso querido casal são trazidas à tona e faz com que Nívea repense sobre sua vida universitária que, até então, foi deixada de lado.
***
As buzinas dos outros carros eram apenas um dos vários sons que se podia ouvir no instante em que eu desci do carro, depois de me despedir do meu pai. Enquanto eu caminhava, sentia o clima frio daquela manhã, o que era natural no bairro onde eu morava. Não resisti e esfreguei minhas mãos nos braços tentando conter a brisa gelada, embora o clima na tela do meu celular indicasse que teríamos um dia de Sol, logo depois que eu acordei e interrompi o alarme. A movimentação de alunos na companhia dos seus pais ou motoristas a qual eu me acostumara por anos e anos continuava igual.
E então eu estava ali.
Em frente ao Lycée Saint Vincent, o colégio onde estudei a vida inteira. Parada, com as mãos segurando as duas alças de cada lado da minha mochila, eu começava mais um ano letivo. Em seguida os meus olhos se voltaram para dentro do prédio. A pequena reforma de sempre entre um ano e outro podia ser sentida através do cheiro de tinta fresca. Eram pequenos grupos de alunos se reencontrando, risadas e alguns com a cara fechada talvez pelo fim das férias e por ter que acordar tão cedo.
Fiquei alguns minutos distraída porque aquilo que acontecia todas as manhãs, naquele momento se tornou diferente pra mim. Em pouco menos de um ano nunca mais eu iria presenciar tais cenas. Suspirei fundo pensando que estava prestes a dar início ao meu último ano no Ensino Médio.
Caminhei rumo à entrada, depois de passar por uma das inspetoras e chegando no corredor, estavam lá no mural os mesmos cartazes de Bienvenue e outros avisos para os alunos antigos e novos. Uns esbarrões por trás na minha mochila enquanto lia o que estava escrito. Tudo normal. No entanto, era o início de uma despedida que aconteceria aos poucos, todos os dias a partir daquela manhã.
Se eu me sentia estranha? Talvez. Não sabia o que esperar, como os alunos do terceiro ano deveriam se comportar. Será que iria acontecer o que o Eric havia me dito? Que o principal assunto nas conversas seria as futuras graduações? Se fosse isso, eu já estava me entediando por antecipação. Óbvio que eu iria continuar os meus estudos mas eu ainda não me interessar sobre o que estudar era tão errado assim? A cobrança do Eric estava sendo exagero?
Subi o lance de escadas até a minha nova sala de aula que ficava no último andar. Não fui até a cantina pois eu já tinha um pacote de biscoito na mochila e poderia comer durante as aulas da manhã, driblando um pouco a fome até o almoço.
Poucos alunos haviam chegado e uma pessoa me chamou a atenção. Nicole estava sentada na fileira do canto da parede, perto da janela, distraída e olhando o celular. Ela ainda parecia um pouco triste, afinal não deveria estar sendo fácil continuar a vida normalmente depois de perder alguém da família que era tão próxima e especial. Deixei a mochila na minha mesa de sempre e fui até ela.
- Oi Nicole... - me aproximei e me sentei na carteira ao lado dela, que estava vazia.
- Oi Nívea - ela se virou para mim, ao ouvir a minha voz e sorriu, deixando o aparelho na mesa - Tudo bom?
- Estou bem e você?
- Ah, eu estou indo... - deu de ombros - Ainda sinto saudades da vovó mas evito pensar muito. Eu rezo todas as noites por ela e isso me deixa mais tranquila.
- Que bom - sorri - Agora que estamos no último ano, o foco nos estudos será maior.
- Sim e eu vou ter que mergulhar de cabeça pra manter as boas médias de sempre porque aquele bimestre foi terrível.
- Você conseguiu se recuperar nas últimas provas?
- Consegui, sim. Meu pai me levou a uma psicóloga e com a ajuda dela, eu consegui me recuperar aos poucos do trauma da perda. Não apenas eu, o meu irmão também se consultou. Lembra do que eu te contei sobre o professor Schneider me aconselhar a ficar acima da nota nove? Foi o que aconteceu. Então fui aprovada.
- Legal.
- E falando em professor Schneider - ela sorriu, mudando de assunto e eu vi um brilho nos seus olhos - Você viu que ele vai continuar no colégio e dar aula pra gente no último horário?
- Vi sim - falei sem jeito.
- Que bom que o nosso abaixo-assinado deu resultado! Tá certo que ele já é adulto mas você não acha ele lindo?
- Acho. Não só eu mas todas as alunas.
- Vou torcer para que a aula dele demore bastante. Assim eu fico admirando aqueles olhos azuis perfeitos que só ele tem. Ai ai... - E suspirou.
Mais uma aluna apaixonada por ele. Eu já deveria saber, afinal ela se dedicou ao máximo em preparar a festa surpresa de aniversário aqui na sala. Se ela soubesse a verdade...
Tomei um susto quando senti um abraço por trás espremendo os meus ombros e um beijo apertado na minha bochecha.
- Pensei de você se encontrar com a gente lá na cantina - virei meu rosto para a Gabriele e ouvia ela falar - O Evandro estava lá também!
- Vim direto pra sala e fiquei conversando com a Nicole enquanto o sinal não toca.
- Você tá legal, Nic?
- Tô sim, Gabi. Obrigada.
- Olha, eu sinto muito mas a Nívea é minha parceira em sala de aula e sentamos juntas.
- Por mim, tudo bem... Acho que eu não ia conseguir ficar do seu lado sem enjoar do seu perfume...
- Ei! - ela protestou - Não ouse falar mal do meu J'adore ouviu bem? - e nós três rimos.
Com uma bolsa preta de couro no ombro e segurando algumas pastas, a professora Edith entrou na sala para a primeira aula do dia no momento em que o sinal tocava. Todos os alunos foram para os seus lugares e eu fui para o meu ao lado da Gabriele com Frederik e Patrick se sentando nas duas carteiras atrás de nós. Era com gramática francesa que começaríamos o nosso dia e, mesmo eu sendo excelente aluna em exatas, ele terminaria com a disciplina que eu adotei como a melhor de todas: Literatura Francesa.
***
Como a previsão do tempo havia acertado, o Sol se fazia presente mas não muito forte durante o intervalo. Uma parte da turma estava sentada no jardim conversando sobre o que fizeram nas férias e outras coisas. Gabriele como sempre, rodeada de meninas e eu apenas a observando ser a "estrela do palco".
- Que bom que você encontrou a escola de maquiagem em Paris, Gabi! - uma das meninas comentava.
- Eu sei e isso me deixa mais animada, mesmo não sendo fácil o processo para o candidato ser aceito!
Ela contava com empolgação sobre como era a futura escola e devia ser legal a pessoa já saber o que queria fazer pelo resto da vida. No meu caso, o campo de exatas era o mais provável o que eu iria estudar. Sempre fui muito concentrada em sala de aula, atenta às explicações de todos os professores, isso era um ponto forte na minha personalidade e quem sabe, algo a se levar em conta na hora da escolha do curso.
- Já sabe o que vai estudar, Nívea? - Patrick me perguntou sentado no chão do jardim. Eu estava sentada no banco ao lado do Frederik.
- Ainda não. Eu conversei sobre isso no sábado mas você na hora estava na sala e de mau humor por ter perdido o jogo. Eu fiz um teste vocacional e caiu Exatas.
- Sério? Legal, depois me passa o teste. Eu quero estudar algo na área tecnológica mas ainda não sei o quê exatamente.
- Passo sim. - E de novo meus pensamentos voltaram para a conversa chata do dia anterior - Acha normal eu ainda não querer pensar nisso?
- Nisso o quê?
- Sobre o curso de graduação.
- Você ainda não sabe o que quer estudar?
- Não é isso, só não acho importante agora.
- Não precisa ficar com isso martelando na sua cabeça - Foi a vez do Frederik entrar na conversa - No meu caso, eu vou estudar Jornalismo só para pegar o diploma e trabalhar no mercado editorial igual a minha mãe. Na segunda-feira depois da minha festa de aniversário, eu passei o dia inteiro na editora com ela.
- E você gostou?
- Muito. Eu só fui para ter certeza de que é isso mesmo o que eu quero fazer.
- Quanto mais pressão, vai ser pior - Patrick me alertou.
- Meus pais também falaram a mesma coisa - eu concordei e ele apontou o dedo indicador, piscando pra mim - Eles me deixam à vontade com isso.
- Não é porque nós já sabemos o que queremos que você precisa ter pressa em saber. Fica tranquila.
- Obrigada, Frederik - sorri.
Para o Eric, era importante eu pensar no meu curso de graduação a partir do início do ano letivo. Mas realmente, este assunto confirmava uma coisa que nós dois concluímos há tempos: enquanto eu preferia pensar no momento e no momento isso não era prioridade podendo adiar o máximo, ele pensava no futuro, planejando tudo.
Eu fiquei mais tranquila depois da conversa na roda de amigos.
***
O friozinho na barriga e as minhas mãos geladas ao mesmo tempo que estavam levemente úmidas de suor...
Era sempre assim quando a aula do Eric estava prestes a começar.
A aula de História havia acabado há poucos minutos e a professora Marie terminava de ajeitar seu material na mesa, pronta para deixar a sala. Frederik estava em pé em frente ao quadro, também terminando de apagar o que estava escrito nele e deixou o apagador em cima da mesa dos professores voltando a se sentar no seu lugar.
- Até a próxima, turma! - ela se despediu, saindo da sala com sua bolsa e algumas pastas.
- Tchau, professora! - alguns alunos a responderam.
- Tchau!
No instante em que ela deixou a sala, meu coração parou de bater quando o Eric entrou imediatamente, encarando todos os alunos e eles começaram a gritar eufóricos quando o viram ali. Sem jeito, ele sorriu de canto e balançou a cabeça em negação, indo para a mesa onde deixou a sua mochila preta.
- Professeur! Professeur! Professeur! - todos gritavam e batiam com as mãos nas mesas como se estivessem em uma torcida organizada e aos poucos foram acelerando as batidas - AEEEEE!!!
Ele observava todos os alunos e eu automaticamente desviei o olhar na direção da minha mesa, com a mão apoiada na bochecha. Se nossos olhares se cruzassem, acho que meu coração iria saltar pra fora. Sempre bem vestido com suas roupas em tons neutros mas que destacava o seu corpo, o que me deixava babando.
- Vocês pediram e então estou aqui - ele começou a falar após pedir com as mãos que pausassem os gritos - Eu agradeço muito pelo que fizeram. É a prova de que estou fazendo bem o meu trabalho.
- Claro, professor! - ouvi a voz de um aluno ao fundo - E é o nosso ano de formatura, você não podia faltar!
- De fato. Além disso, algumas coisas me fizeram voltar atrás na minha decisão e... - a pausa que ele deu, antes de prosseguir, revirou o meu estômago - Tenham certeza de que o abaixo-assinado que vocês fizeram, teve um peso importante nisso tudo.
- E de quem foi a ideia? - Gabriele chamou a atenção ao levantar os braços - Foi minha, é claro!
- Não poderia ter sido de outra pessoa, não é mesmo Senhorita Fernandes? - ergui o olhar rapidamente e ele estava olhando na nossa direção - Como sempre muito criativa. E de novo eu agradeço a todos que assinaram - e virou sua atenção na direção da turma - Mas então? Como foram de férias?
Alguns alunos começaram a contar o que fizeram durante o período sem aulas e ele ouvia atento cada um deles. Permaneci quieta até o instante em que ele começou a falar.
- No meu caso, acho que eu bati todas as metas em ser convidado para ir em festas de aniversário - falou sorrindo e finalmente nossos olhares se cruzaram. Tive a certeza de que o meu rosto virou um vermelho tomate. A sorte foi que a Gabi me abraçou de lado, pois ele se referia ao meu aniversário e então pude disfarçar aquele momento constrangedor - Mas que bom que todos se divertiram! Vamos começar nossa primeira aula?
- Desta vez vai aliviar a quantidade de folhas nas provas não é, professor? - Patrick questionou.
- Vocês pediram que eu continuasse aqui, não foi? Por qual motivo eu mudaria o meu modo de trabalhar?
- Droga! - ele fechou a cara e cruzou os braços - Eu tinha que tentar! Pelo menos quatro folhas estaria de bom tamanho.
- Bom - ele suspirou - Este ano letivo será um pouco diferente. Nos quatro bimestres vamos nos dedicar a estudar e discutir a literatura francesa no século vinte, certo? Mas antes disso, quero avisá-los de que a Jacqueline virá até aqui na última meia hora de aula para conversar com vocês.
- Alguma coisa séria?
- Mais ou menos, senhor Bertrand. Em todas as turmas do terceiro ano, no primeiro dia de aula, ela faz isso. Foi assim nas minhas duas turmas nos anos anteriores e não será diferente com vocês.
O silêncio tomou conta da sala.
- Não fiquem preocupados porque o assunto não será nenhum filme de terror. Ouvrez vos livres et commençons !
(Abram os seus livros e vamos começar!)
***
A aula foi muito tranquila. Eric, como sempre, deixou escrito no quadro o livro que iríamos ler naquele primeiro período de dois meses até o dia da prova que seria o primeiro volume de À Procura do Tempo Perdido do escritor Marcel Proust e também começou a explicar sobre o primeiro capítulo do livro de Literatura que era o cenário literário francês após a Primeira Guerra Mundial.
Abri o compartimento da minha mesa e peguei o meu celular cujo horário marcava 16h35. A diretora já deve estar vindo... Foi o que eu pensei enquanto olhava a tela. Pus o aparelho dentro da mochila para não correr o risco de esquecê-lo e folheei a página com os exercícios do capítulo que a turma iria fazer em casa para discutirmos as questões com o professor na aula seguinte.
Duas batidas na porta e ela se abriu.
- Com licença, turma! Professeur! - Dona Jacqueline apareceu apenas com a metade do corpo na porta antes de entrar. Sorridente, finalmente ela chegava para conversar com turma como o Eric tinha avisado.
- Entre, Jacqueline! - Eric gentilmente lhe entregou sua cadeira para que ela se sentasse na nossa frente.
- Não estou atrapalhando nada, estou? - ela entrou, segurando uma agenda e um chaveiro repleto de chaves por entre os dedos.
- Não, não! Já terminei a aula de hoje.
- Ótimo - Ela se sentou - Vou esperar vocês guardarem seus materiais porque temos alguns assuntos para conversar que são muito importantes.
Guardamos tudo e coloquei a minha mochila em cima da mesa. Após isso, as atenções estavam todas para ela. Eric permaneceu em pé encostado na mesa e estava calmo. Era como se já soubesse o que ela iria conversar. E mais uma vez, o silêncio em sala. Ela permitiu desde o ano passado que as turmas do segundo e terceiro ano pudessem conversar em português sem ser durante as aulas e fez o mesmo.
- Pois muito bem. - começou - Primeiramente, gostaria de dizer a vocês que estou muito feliz e satisfeita por conseguirem chegar até aqui. Todos são excelentes alunos e isso podemos ver demonstrado nas altas notas durante todos estes anos em que estão conosco no Lycée Saint Vincent. Meus Parabéns!
Ela sorriu e continuou:
- No entanto, estas altas notas mais do que nunca precisam ser mantidas. Ou seja, será necessário este ano que vocês conquistem o 9.5 e irem além dele em todas as disciplinas. Estou diante de futuros formandos do Ensino Médio e sinto dizer que a pressão será maior a partir de agora.
- Vai ser moleza! - Patrick se gabava fazendo alguns alunos rirem.
- É ótimo saber que está seguro e confiante, Patrick! - ela respondeu com uma leve ironia - É exatamente isso o que eu quero de toda a turma. Afinal, médias altas serão importantes para que o histórico escolar de vocês ganhem relevância e destaque no momento em que eles chegarem à todas as universidades de língua francesa.
Respirei fundo após ouvir aquela fala. Desde que havia entrado no Lycée Saint Vincent no jardim de infância, conforme os anos foram se passando e eu fui entendendo melhor como as coisas aconteciam, este era o foco de ensino do colégio: preparar os estudantes para serem admitidos nas mais importantes universidades europeias entre a França, Bélgica, Suíça e também pelo Canadá.
- Mas e no meu caso, Dona Jacqueline? - Nicole levantou a mão - Eu tenho chances de ser aceita?
- Então minha querida, eu lamento muito o que aconteceu com você no ano passado e que isso tenha atingido as suas ótimas notas. Eu vou acompanhar com atenção o seu caso até o momento em que o seu histórico for fechado e o que eu te peço é que se esforce durante todo este ano para que você conquiste as altas notas. Você se compromete com isso?
- Sim, vou me dedicar bastante - ela afirmou com a voz baixa.
- Perfeito. Continuando - ela voltou sua atenção para nós - Com o histórico de vocês chegando nas universidades da Europa e as cartas de convocação chegando para o e-mail dos responsáveis, temos um desafio maior que será o BAC. E o que é o BAC? Nada mais do que o Enem francês sendo realizado no mês de Junho.
- E ele é muito difícil, diretora? - uma aluna ao fundo questionou - Eu já li alguma coisa sobre ele mas não muito a fundo.
- Ele possui um grau de dificuldade considerável mas o que ele difere do nosso é o periodo de uma semana em que é realizado. E claro, isso pode assustar vocês. Mas até o fim do ano, eu terei as datas confirmadas, não se preocupem.
O burburinho de vozes começou dentro da sala.
- Acho que a Diretora de vocês ainda não terminou a conversa! - Eric elevou a voz com firmeza, repreendendo o falatório que diminuiu no mesmo instante - Prossiga, Jacqueline.
- Na verdade, eu tinha uma pergunta - o aluno sentado na minha frente levantou a mão - Podemos fazer normalmente o nosso Exame Nacional?
- Mas é claro que sim! - ela de imediato o respondeu - Fiquem à vontade e tranquilos para realizarem o nosso Enem. Mas quero lembrar a todos que o ensino do Lycée foi devidamente direcionado para que vocês conquistem uma vaga nas universidades de excelência da Europa. Bom, em outras palavras, acredito que a Sorbonne seja o sonho da maioria.
Talvez eu não me encaixasse naquela maioria. Meu pai e meus tios estudaram na mais importante universidade da França. Entretanto, eu não tinha planos de me tornar uma universitária e moradora da capital francesa. E precisaria conversar sobre isso com a Jacqueline em particular.
- Eu sei, turma, que são muitas as informações. Apesar disso, eu peço que não fiquem preocupados. Terminando este ano letivo, vocês terão alguns meses do próximo ano para descansarem e se prepararem para a vida universitária. Como bem sabemos, o ano letivo francês começa em Setembro. De Dezembro deste ano até lá, respirem com calma.
- Eu quero ir para a Sorbonne, Diretora!
- Eu também!
- Vai ser tudo de bom, morar em Paris!
A empolgação tomou conta de alguns colegas de turma.
- Mas é claro que vocês irão! Basta estudarem com dedicação e lembrem-se: Temos um brilhante exemplo entre nós - ela apontou para o Eric que sorriu discretamente - O querido professor de vocês é ex-aluno de lá. Mais motivador que isso, é impossível.
- Conta pra gente suas histórias da Sorbonne, professor! - uma aluna pediu.
- Se continuarem comportados como sempre, vocês terão muitas das minhas histórias por lá. Foram cinco anos inesquecíveis.
- Bom, nosso próximo assunto. - ela se ajeitou na cadeira e olhou na direção atrás de mim - Frederik? Deseja continuar como representante de turma?
- Eu não sei, Dona Jacqueline - ele respondeu sério - Este ano para nós será puxado e eu queria me dedicar às provas para manter as notas acima do 9.5 como a senhora pediu.
- Entendo... Caso você recuse o cargo, terei que sortear entre todos os nomes da turma.
- Aceita, Frederik! - Patrick sentado ao seu lado pediu - Se você achar que o seu rendimento nas primeiras provas caiu, a gente marca de estudar!
- Nívea, se você pedir pro Frederik continuar, ele aceita! Vai, pede a ele.
A turma inteira começou a rir e o meu rosto esquentou de vergonha e raiva.
- Isso não tem a menor graça, Gabi! Se o Frederik aceitar vai ser porque ele quer! - Me virei para frente com a cabeça baixa e rapidamente Eric e eu trocamos olhares de um jeito sério.
- Se as minhas notas caírem, tu vai passar o sábado inteiro estudando comigo, entendeu? - ele ameaçou o melhor amigo - Eu aceito, Dona Jacqueline! - enfim, mais uma vez, ele iria representar a turma.
- Obrigada, meu querido. Não fique preocupado, você se sairá bem nas provas.
- É o que eu espero - deu de ombros.
- Uhuull - Gabriele vibrou - Continuo no cargo de melhor amiga do representante.
- Frederik - me voltei para ele - Marcamos nós quatro de estudar na sua casa se as suas notas ficarem abaixo da média. E com a condição de ter sorvete nos intervalos - brinquei.
- De flocos que é o seu sabor favorito! - rimos juntos.
- E para finalizar - nossa atenção se virou para a Diretora quando a ouvimos falar - Pois o sinal vai bater daqui a pouco, o assunto que todos com certeza estão esperando. A cerimônia e o baile de formatura.
- AEEEEEEEEEEEE.
- A cerimônia de entrega dos diplomas ocorrerá na primeira sexta feira de Dezembro e o baile no dia seguinte no sábado. Querem adivinhar o tema do baile?
- Nem imagino o que seja! - uma aluna respondeu.
- Todos aqui gostam de cinema, certo? - a Diretora questionou.
- Gostamos!
- Eu vou quase todo o fim de semana!
As respostas positivas fizeram a Dona Jacqueline sorrir antes de continuar a conversa.
- E o que vocês acham de trazer para o nosso baile um dos festivais de cinema mais famosos e charmosos da Europa? Que tal?
- Dona Jacqueline... - Olhei para a Gabi e ela ficou pálida, segurando no meu braço como se fosse desabar, mesmo estando sentada - Não brinca comigo...
- Acho que alguém aqui já adivinhou - ela e o Eric trocaram olhares e sorriram
- Sejam todos muito bem-vindos ao Festival de Cannes, turma!
- Aaaaaaaaaa - os gritos histéricos da Gabriele ganharam força mais do que a euforia da turma e ela surtava de todos os jeitos possíveis do meu lado fazendo todos rirem na sala - Com direito a tapete vermelho???
- Com direito a tudo, até premiações para alunos e professores tendo a réplica da Palma de Ouro. Caprichem no figurino!
- Ah meu Deus! Ah meu Deus! Ah meu Deus! - ela me abraçava de lado, agarrando com força e eu apenas ria de toda aquela histeria - Um motivo a mais para as férias em Paris: comprar o vestido de gala perfeito! Aaaaaaaaa.
- Aí Nivea, vai sobrar pra você acompanhar essa maluca pela Champs - Elysées atrás do vestido - Frederik brincou.
- Por mim tanto faz - dei de ombros - Posso ir para São Paulo com a minha mãe em um fim de semana igual o ano passado e comprar um vestido por lá...
- Você não tá falando sério, não é? - Gabriele me olhou como se eu fosse alguma anomalia - O tema do baile será um festival de puro glamour e você usando um vestido meia boca? Você é muito mais do que isso, Nívea!
- Até lá vamos ter muito tempo!
- Bom, é isso. - a Diretora se levantou da cadeira, devolvendo para o Eric - Consegui dizer tudo o que queria.
O sinal tocou logo depois da Dona Jacqueline terminar todos os assuntos que ela queria conversar com a turma. E então, um deles que fora falado voltou a dominar os meus pensamentos enquanto eu me levantava da mesa e colocava minha mochila nas costas. Olhei para frente e a vi conversando bem próxima do Eric algo em particular mas que não me despertou a curiosidade. Percebi que o assunto entre eles dois foi rápido e então chamei por ela quando a vi saindo.
- Dona Jacqueline!
- Diga, minha querida! - imediatamente ela se virou para mim.
- Será que eu poderia ir até a sua sala? Queria conversar com você um assunto pessoal - pedi enquanto ajeitava as duas alças nos ombros.
- Mas é claro, vamos até lá. Até semana que vem, professor.
- Até... - ele se despediu dela e me encarou discretamente ao mesmo tempo que colocava todo o seu material na mochila.
- Saiam da sala com calma, crianças! - ela orientou e saiu na frente pois sabia que todos os alunos das outras turmas pareciam disputar corrida para ver quem chegava primeiro até a saída - Não quero ver ninguém se machucando!
- Você vai demorar muito com a Diretora, Nívea?
- Eu acho que não, Frederik. O Evandro não vai poder me esperar?
- Eu falo com ele que você foi na diretoria.
- Tá bom, obrigada.
Saímos todos juntos e como normalmente acontece, os alunos nos corredores quase que corriam para chegarem na portaria. Quanto mais descíamos as escadas, mais alunos aglomeravam em direção à saída.
Fui até a sala da Diretora e quando cheguei perto, ela estava na porta conversando com uma das secretárias. Ela sorriu ao me ver e me chamou. Apenas sorri e apertei com força as duas alças um pouco ansiosa. Entramos juntas até a sua sala e ela fechou a porta atrás de mim, indo se sentar na sua poltrona de couro.
- Sente-se!
- Obrigada... - tirei as alças dos ombros e me sentei, colocando a mochila no meu colo.
- E então? Qual o assunto em particular gostaria de falar comigo?
- Bom... - pus uma mecha do meu cabelo atrás da orelha - É sobre a minha futura graduação. Eu já sei mais ou menos o curso que pretendo fazer.
- Ah que bom, isso é ótimo!
- Mas eu não estou fazendo disso uma prioridade e os meus pais estão me apoiando.
- E você só vai decidir quando o ano letivo terminar?
- Talvez - o início da conversa sobre o curso foi apenas uma desculpa - Mas o que eu queria conversar na verdade era o que você nos explicou na sala sobre as universidades na França.
- Algum ponto em específico?
- Sim... O envio dos nossos históricos escolares. Ele acontece quando o ano letivo acaba?
- Na verdade, ele irá ocorrer em Janeiro pois eles já estarão devidamente fechados e revisados com todas as notas lançadas - ela se aproximou da mesa, apoiando os cotovelos e cruzando os dedos - Isso dará tempo suficiente para que as universidades façam uma análise com calma de cada um e assim, eles selecionam os alunos com maior excelência nas notas. Será ao longo do semestre até o período do BAC.
- Entendi.
- O Lycée Saint Vincent possui convênios com as principais universidades francesas e elas aguardam todos os anos pelos históricos dos nossos formandos. Muitos deles conseguiram a aprovação e estão trilhando uma brilhante carreira universitária.
- Isso é muito bom - sorri - E entre estas universidades francesas, a Universidade de Lyon está incluída?
- Lyon? Sim, está! Possui interesse nela? Pensei que também estivesse sonhando com a Sorbonne.
- Estudar em Lyon para mim seria muito mais fácil porque toda a família do meu pai mora lá.
- Mas é claro, como eu poderia ter esquecido? Jacques contou a história da família Martin quando ele e a Helena vieram fazer a sua matrícula! - ela disse empolgada.
- Sim... - ri sem jeito.
- Deixa eu ver uma coisa... - ela se virou com a cadeira na direção da tela do seu computador, mexendo no mouse e digitando algo em seguida - Aqui! É o seu histórico escolar... Nossa, suas notas são incríveis, Nívea - ela elogiou enquanto observava a tela - Sem dúvida alguma a Sorbonne te aceitaria de olhos fechados.
- Meu histórico será enviado para lá?
- Sim, exatamente como eu expliquei. Não apenas para ela, mas também para todas as outras. Apenas vou deixar uma observação aqui neste espaço abaixo das notas - ela voltou a digitar - a respeito do seu interesse em ir para Lyon. Quando os responsáveis pela seleção da universidade lerem este lembrete, a análise será mais minuciosa. Não apenas eles, mas eu, as minhas secretárias e até mesmo os seus pais poderão ler quando acessarem as notas ao longo deste ano.
- Legal!
- Prontinho - ela finalizou a digitação - Era apenas isso?
- Era sim, obrigada.
- Eu olho para você e me lembro exatamente do seu primeiro dia de aula, era tão delicadinha... E como você chorava no colo da sua mãe. Toda linda, com dois lacinhos cor de rosa nos cabelos, usando uniforme e grudada no pescoço dela não querendo ir para a sala. Seus olhos azuis ficaram vermelhos de tantas lágrimas.
- Eu me lembro mais ou menos. E usei muito os lacinhos, tenho as fotos lá em casa.
- O tempo passa muito rápido...
- Verdade... Eu preciso ir agora. Mais uma vez obrigada pela atenção, Dona Jacqueline - me levantei da cadeira e voltei a por a mochila nas costas - Fico mais tranquila agora que as minhas chances de ir pra Lyon podem aumentar.
- Espero muito que você consiga.
- Também espero.
Nos despedimos com um aperto de mão e deixei a sala, caminhando ligeira pelos corredores até a saída. Haviam poucos alunos mas felizmente o Evandro e o Frederik me esperaram na calçada.
- Demorei muito? - perguntei um pouco ofegante logo que me aproximei deles.
- Não. Até achei que você iria demorar mais.
- Podemos ir, senhorita?
- Vamos sim, Evandro.
Entramos nós três no carro e finalmente o primeiro dia de aula terminara. O trânsito na rua do colégio estava mais tranquilo e seguimos sem grandes complicações.
***
O silêncio quando eu chegava em casa todos os dias após a aula era sempre bom, eu já tinha me esquecido como ele era depois de passar várias semanas fora.
Entrei no quarto e tirei a minha mochila das costas, colocando-a na poltrona e fiz o mesmo com os meus sapatos logo em seguida, trocando-os pelos meus chinelos. Prendi meu cabelo em um coque bem no alto para que ele não molhasse tanto na hora do banho. Minha mãe sempre me orientou a não dormir com os cabelos molhados. Lembrei do meu celular e o peguei na mochila. Quando olhei a tela, já eram quase 18h30 e estranhei três ligações perdidas do Eric, sendo a última, poucos minutos atrás. Será que aconteceu alguma coisa? Imediatamente eu retornei e no segundo toque ele atendeu.
- Nívea.
- Oi Eric, vi suas ligações agora. Tá tudo bem?
- Sim. Pelo tempo, acho que você já está em casa.
- Cheguei agora.
- Que bom. Pode vir até aqui a esquina?
- Você está me esperando?
- É - ele riu seco - Tem algum tempo.
- Eu não sabia.
- Tudo bem meu amor, mas você pode vir ou não? Aproveita que a rua está deserta e não vai ter perigo de você ser vista.
- Tá bom, eu tô indo. Tchau.
Desliguei e deixei o aparelho na mesa, saindo ligeira de casa.
Enquanto caminhava a passos rápidos pela calçada, pensei que o Eric estivesse querendo matar a saudade das nossas segundas-feiras após a aula. Mas por quê então ele não me deixou uma mensagem mais cedo?
Virei a esquina e realmente não havia ninguém na rua, apenas os carros estacionados e avistei o dele quase no fim da rua quando os faróis foram acionados para chamar a minha atenção. Por mais que eu tentasse controlar, meu corpo entregava todas as formas de reações ao saber que estaria perto dele.
Acelerei os passos, porém sempre atenta e olhando discretamente para os lados. Ao chegar em frente à porta do carona, olhei tudo em volta uma última vez e entrei. O perfume dele tomava conta do carro e despertou todas as minhas lembranças de quando estou nos seus braços. E aquele rosto tão perfeito...
- É estranho você me pedir para vir até aqui. Você não tem aula na faculdade daqui a pouco?
- Esse semestre às segundas-feiras só começo a dar aula no segundo tempo no turno da noite.
- É sério? - sorri ao ouvir.
- Aham. E poderei sair do seu colégio sem tanta pressa.
- Que bom. Isso quer dizer que vamos voltar a nos encontrar igual fazíamos no início? - meu coração acelerou com a possibilidade.
- Se você conseguir inventar uma boa desculpa para o Evandro e com isso ele não precise te trazer em casa apenas hoje, quem sabe.
- Vai ser difícil - abaixei a cabeça e os ombros um pouco triste - Ele tem ordens do pai do Frederik para não me deixar voltar para casa sozinha.
- Exato. Além dos seus pais chegarem daqui a pouco.
- Sim. Mas mesmo assim - em um rompante e sem que ele esperasse, fui na sua direção, me sentando no seu colo - Podemos matar a saudade hoje.
- Nívea... - Eric riu e segurou na minha cintura tentando me afastar - Com você em cima de mim não vamos conseguir conversar.
- Ah, mas eu tinha que prestar atenção na sua aula usando nada por baixo da saia, não tinha? Pensa que eu esqueci? - Disparei, fazendo ele rir e me encaixei exatamente onde não iria resistir segurando o seu rosto, sentindo a sua barba.
Suas mãos deslizaram por debaixo da minha enorme saia do uniforme até chegar nos meus quadris e minha calcinha ensopou na mesma hora. Eric não resistiu e nossas bocas colaram em um beijo lento e profundo, com as línguas brincando sem pressa. Envolvi meus braços no seu pescoço sem apertar muito mas queria mais do sabor dele. Era tão gostoso! A palpitação entre as minhas pernas só aumentava e eu me esfregava devagar na calça social dele querendo mais daquilo.
- Nívea, espera... - afastou o meu rosto do seu com as mãos e ficamos nos encarando. A respiração pesada dele era a prova de que queria o mesmo que eu.
- O que foi?? - perguntei um pouco impaciente - Não veio aqui para matar a saudade de nós dois quando começamos a namorar?
- Não, eu não vim aqui pra isso.
- Então veio pra quê? - pus as minhas mãos nos seus ombros.
- O que você e a Jacqueline conversaram em particular é algo que eu precise saber?
- Foi esse o motivo de você vir até aqui?
- Sim, foi esse. - e acariciou o meu rosto, me olhando nos olhos - Algum assunto sério?
- Ah... Não foi nada demais. Quero dizer, foi sério mas nenhum problema. Eu queria saber mais detalhes sobre os históricos escolares sendo enviados para as universidades na França e ela me explicou tudo direitinho.
- Isso é muito bom.
- Eu disse à ela que tinha vontade em estudar na Universidade de Lyon porque seria mais fácil com a família toda do meu pai morando lá.
- Ótimo.
- Está vendo só? Agora não vale mais você falar que eu estou desinteressada na minha futura vida universitária. O lugar para estudar eu já escolhi. Uma coisa a menos. Você vai torcer para que eu seja aprovada e estude lá, não vai?
- Mas é claro que eu vou. - ele respirou fundo - Sendo a minha aluna mais inteligente eu não vejo motivo para não ser aceita.
- Sim!!! Tudo vai se encaixar!
- Você é aceita em Lyon e se muda para lá, certo?
- Certo!
- E então nós terminamos?
- O quê??? - estremeci no mesmo instante - Não Eric, é claro que não! Mas é que...
- Mas? - seus olhos e sua expressão no rosto se transformaram no mesmo modo que ele me questionou. De forma dura e direta.
Aquela bomba caiu no meu colo e o clima quente entre nós dois dentro do carro despencou para uma atmosfera gelada e vazia. Estava claro e óbvio: se eu me mudasse para a França ficaríamos longe um do outro.
- Eric... - foi a minha vez de acariciar os pêlos da sua barba e o encarando - Eu não pensei...
- Você não pensou mas eu pensei. Lembra da nossa conversa exatamente um ano atrás bem no dia do seu aniversário?
- Você disse que não iria mais poder me encontrar depois das aulas e eu pensei que era porque tinha enjoado de mim.
- Isso mesmo. E o que mais eu te disse?
- Disse que... - comecei a me lembrar de tudo - Era porque ia começar a dar aula de noite mas eu não acreditei.
- Que eu aceitei a proposta porque iriam me pagar muito bem.
- Sim...
- E que havia aceito pois estava pensando em nós dois. - ele afirmou e apenas balancei a cabeça concordando. - Pois bem, era exatamente este momento, sobre a ida da Jacqueline conversar com a turma e com você em particular que eu estava me referindo. Desde a minha primeira turma de terceiro ano, que ela realiza esta conversa com os futuros formandos. Por qual razão com a sua turma seria diferente, não é mesmo?
E como sempre acontecia, eu fiquei sem palavras.
- Agora você me entende? - suas mãos seguraram o meu rosto - Entende o motivo que me fez aceitar trabalhar no período noturno? Eu sabia que essa conversa da Diretora iria acontecer com vocês quando chegassem na reta final do Ensino Médio. Eu precisava me preparar de alguma forma e então comecei a me organizar financeiramente.
- Você está juntando dinheiro?
- Estou. Acha que eu vou suportar ficar quatro, cinco anos longe de você? O tempo de uma graduação?
- Mas Eric... - trocamos um apertado abraço - E o seu trabalho aqui?
- Eu não tenho problema nenhum em começar do zero em outro país. O que eu não quero é te perder.
- Mas você não vai me perder. Vamos assumir nosso namoro, esqueceu? - voltei a olhar em seus olhos - Meus pais aceitando ou não, vamos ficar juntos.
- E nos encontrando apenas nas férias? Eu não acredito em namoro à distância que se sustente por muito tempo.
Apertei os lábios com força e um turbilhão de coisas começou a passar na minha cabeça.
- Você se apertou com a viagem... Deve ter gasto o dinheiro que está juntando.
- Não, eu não mexi em nada do meu adicional noturno. Ele está em uma conta à parte para o dia eu finalmente precisar usar.
- Entendi.
- Entendeu mesmo? Entendeu as minhas razões por estar trabalhando até altas horas da noite?
- Sim.
- Eu esperei todo esse tempo para finalmente termos esta conversa e como você conversou com a Jacqueline, foi a oportunidade perfeita.
- Então eu e você vamos morar juntos em Lyon?
- Se tudo sair como eu estou planejando, sim. Talvez o único obstáculo será os seus pais.
- Você podia ter me contado tudo isso bem antes, poxa!
- Eu achei melhor estabilizar a oportunidade profissional que surgiu.
Sorrimos juntos e um outro beijo apaixonado aconteceu. Quando me dei conta, eu já estava colada mais uma vez no seu corpo totalmente excitada e sentindo o seu membro apertando a calça.
- Eric, por favor...
- Aqui não, ma petite... - sua voz estava rouca - No sábado eu vou ser todo seu, eu prometo...
- Não precisamos demorar... - segurei o seu rosto, lhe dando um selinho.
As mãos dele correram pelas minhas coxas e uma delas afastou a minha calcinha de lado. De tão molhada que eu estava, senti os seus dois dedos entrando fácil em mim e comecei a esmagá-los sem controle. Eu rebolava sem parar e ele precisou me segurar no meio das minhas costas pois meu corpo se jogou totalmente para trás, dominado pelo prazer.
- Ah, Eric... - agarrei nos seus ombros e não iria demorar muito o que eu mais desejava para acontecer.
- Abre mais as pernas! - ele ordenou e eu fiz, sentindo os seus dedos mais fundo.
Soltei um gemido alto quando um terceiro dedo massageou devagar onde eu queria. Estava inchado e perto de me fazer explodir. Meu coração acelerou as batidas e todo o meu corpo parecia se contrair, sendo mais forte por entre as minhas pernas.
Meus olhos se encontraram com os seus e eu ainda me sentia zonza respirando com dificuldade. Eric me olhava e tirou seus dedos de dentro de mim, chupando todo o meu gosto.
- Da próxima vez, não serão os meus dedos...
- Eu sei... - esfreguei a ponta do meu nariz no seu e aos poucos fui recuperando o meu fôlego - Preciso mesmo voltar para casa?
- Na verdade eu não queria, mas você precisa... - e me deu um selinho bem apertado.
Eric ajeitou a minha calcinha de volta e voltei para o banco do carona ainda cansada. Mas era um cansaço delicioso. Ele pegou na minha mão, começando a beijá-la e de repente parou, olhando para os meus dedos.
- E este anel? - ele perguntou, olhando curioso a joia que tinha um coração em aberto formado.
- Não é lindo? Foi um dos vários presentes que eu ganhei dos meus avós. A minha prima Madeleine também tem um e quando a Louise crescer vai ganhar o dela.
- É lindo mesmo... - ele continuava a observar quieto e então se voltou para mim - A gente se vê no sábado?
- Se nada atrapalhar, sim.
- Tá bom.
E trocamos um último beijo.
***
- Meu Deus...
Senti um frio na barriga quando voltei para casa e vi as luzes da sala acesas. Andei com calma corredor adentro, passei pelo meu quarto e tudo estava como eu deixei. Segui em frente e vi a porta do quarto dos meus pais aberta. Arregalei os olhos de susto quando dei de cara com o meu pai, em pé afrouxando o nó da gravata.
- Papa...
- Salut, ma chère! - ele estava de lado e se virou ao ouvir minha voz - O que houve? Passei pelo seu quarto, vi suas coisas mas você não estava.
- Ah... - me aproximei dele - Eu peguei uns trocados na minha bolsa e fui na loja de conveniência do posto comprar um sorvete. Me deu vontade e fiquei tomando ele por lá.
O tema do baile de formatura já estava começando a tomar conta de mim. Eu merecia a Palma de Ouro em Cannes como prêmio de Melhor Atriz.
- Ah sim. E como foi seu primeiro dia? - perguntou me beijando na testa.
- Foi bom, tranquilo como sempre. Só quero conversar com você e a minha mãe sobre algumas coisas que a Dona Jacqueline passou para nossa turma.
- Mas é claro! Sua mãe já está a caminho, vi a mensagem dela assim que eu cheguei em casa.
- Então tá. Vou tirar este uniforme e tomar um banho - e saí do quarto indo para o meu.
Até aquele momento, eu vivia intensamente o meu namoro com o Eric e não pensava no futuro. Mas depois de tudo o que conversamos eu sentia que aos poucos a nossa relação começaria a tomar um novo caminho. Será que eu deveria apressar as coisas? Decidir imediatamente pelo curso que eu iria estudar? O homem que eu amava, pensara em nós dois há bastante tempo e parecia que eu estava alguns passos atrás não o acompanhando. Isso se tornaria um problema? Ele me revelou todos os seus planos, todas as minhas dúvidas de um ano atrás foram respondidas mas ao mesmo tempo mais perguntas foram surgindo aos poucos.
E nós dois teríamos que responder juntos à todas elas.
- Amei o tema da baile de formatura, meu anjo! - minha mãe, empolgada, acariciava os meus cabelos soltos, sentada do meu lado no meio da cama.
Estávamos nós três conversando no quarto dos meus pais, usando roupas de dormir. Depois da conversa com o Eric, foi a vez deles saberem tudo sobre a presença da Dona Jacqueline em sala de aula e o que conversamos em particular na sala dela.
- É, eu também gostei - respondi sentada posição de borboleta - A Gabi é que está super empolgada e não veio falando de outra coisa durante o caminho de volta. Acho que por ela, já estaria amanhã mesmo em Paris só para comprar o vestido do baile.
- E então você escolheu mesmo ir para a Universidade de Lyon? - meu pai mais sério, me questionou encostado na cabeceira da cama.
- Vai ser mais fácil pra mim.
- Sim, vai. Mas depois da sua prima Maddie, você será a segunda a quebrar a tradição da Família Martin de não ir para a Sorbonne. Ela vai para a Ecóle du Louvre. E parece que o seu primo vai seguir o mesmo caminho.
- Henry também vai estudar em Paris?
- Ao contrário, vai ficar por Lyon. Mas acho que não será este ano e sim, no próximo.
- Então entraremos juntos na Universidade!
- É bem provável.
- Você fica triste, pai, pela minha escolha?
- Claro que não, mon ange - ele veio até a mim e segurou na minha mão - Fico muito feliz. A Universidade de Lyon é excelente, sua madrinha é professora de lá. Não há problema algum. E é por este motivo que seu primo também irá. Seu tio e ele conversaram sobre isso, você sabe, e assim que as férias de verão terminarem na França, eles vão começar a trabalhar juntos. O Henry quer ter experiência na loja.
- Isso é muito bom. E assim, os meus avós mas principalmente a vovó ficará feliz.
- Sem dúvida. O trabalho será por meio período pois ele também precisa se preparar para o BAC.
- E o meu foco será as notas acima de 9.5
- E vai atingir à todas elas! - minha mãe me abraçou - Basta se dedicar como você sempre fez até hoje.
- É, eu sei. Mas acho que por ser o último ano assusta um pouco.
- É normal, filha - meu pai me explicava - Quando me preparei, também fiquei ansioso, mas depois da admissão foi como se eu tirasse o peso do mundo nas costas. E depois ele volta pior nos anos da graduação.
- Ah, pai, isso não ajuda! - protestei e caímos os três na gargalhada. - Eu já vou dormir - Dei um beijo no rosto de cada um que me beijaram de volta e saí da cama enorme deles.
- Durma bem, meu anjo.
- Vocês também. - Deixei o quarto para começar tudo de novo no dia seguinte.
Ter o apoio dos meus pais sempre foi muito importante. Não fizeram pressão para que eu escolhesse um curso logo de uma vez e ficaram felizes por saberem que ao menos eu escolhi a Universidade ideal para mim.
***
A mesa estava ocupada com vários tipos de queijos e frios fatiados, tomates cortados da mesma forma, potes de requeijão, folhas de alface cortadas em tiras bem finas e embalagens de molhos coloridos. Tudo isso para servir de recheio nas inúmeras receitas de sanduíches que a Melissa havia aprendido durante as férias. Pacotes de pães de forma também estavam espalhados e como não havia mais muito espaço, apenas os pequenos pratos de sobremesa estavam na nossa frente para servir os lanches pois a jarra de suco de melancia e os copos tiveram que ficar na bancada que dava para a cozinha.
Estávamos eu, ela e Felipe sentados à mesa do apartamento dele em mais uma tarde de sábado e ela fez questão de me mostrar mais uma das suas novidades culinárias. Antes disso havíamos passado no mercado e compramos todos os ingredientes para montar tais receitas.
- Prova esse aqui, amiga! - a ruiva espalhava um pouco de requeijão cremoso, seguido de queijo ricota e uma fatia de peito de peru no pão integral, terminando de montar com alface e orégano - Como a ricota é um queijo sem sal, o requeijão ajuda a dar mais sabor - E me entregou o sanduíche pronto.
- Obrigada - peguei o gordo sanduíche e dei uma mordida - Nossa, mas é muito bom!
- Não é? - ela confirmou toda contente - Foi o que eu mais amei fazer nas férias desde que voltamos da minha tia: pesquisar receitas rápidas na Internet. Minha mãe só faltou enlouquecer quando entrava na cozinha e via toda a bagunça - e começou a preparar um igual para ela.
- Depois de tudo isso que você nos contou, Nívea, mais do que nunca agora eu tenho certeza. O Eric esteve muito focado este tempo todo - Felipe concluiu, ignorando toda a zona feita pela meia irmã - Ainda faz sentido você ter motivos para continuar duvidando do que ele sente?
- Não, claro que não, Lipe... - suspirei conformada - Ele pensou em tudo desde quando se tornou professor da sua segunda turma de formandos e então veio a proposta de dar aula de noite.
- Sério, isso é muito lindo - Melissa disse em meio a uma mordida no pão e mastigando, pondo a mão na frente da boca - O Eric é um ogro com você em boa parte do tempo mas fazer isso, pensar em uma vida a dois juntos...
- Sim... Estava na minha cara e eu não percebi. Se eu me mudar para a França...
- Vocês irão se separar. E claro que ele não quer isso - o irmão completou e eu concordei.
De repente, ele se mexeu na cadeira e colocou a mão em um dos bolsos da sua bermuda estilo surfista que ele sempre usa e pegou o seu aparelho de celular.
- Me dão licença? - ele se levantou - Mensagens em áudio do grupo do concurso - e saiu em direção ao quarto.
- Ele também está focado, não é Meli? - comentei em voz baixa.
- Aham. A primeira fase da prova para delegado de polícia vai ser no mês que vem.
- E por falar em prova... Quero só ver se alguém aqui vai se dedicar em boas notas este ano - olhei para ela depois da fala irônica.
- Claro que vou! Minha mãe já largou de mão e o acordo entre eu e o meu padrasto continua. Eu pedi aumento de mesada por ter passado de ano e você acredita que ele só vai aumentar se eu tirar notas boas nas primeiras provas?
- Acho justo. Você nunca me contou, Meli... O que aconteceu pra você tirar notas tão baixas no início do ano passado?
- Ah... - ela suspirou - Eu e o Felipe nos afastamos quando ele montou os horários dele com mais disciplinas da faculdade e começou a estudar feito um louco.
- Mas você brigaram por isso?
- Não! - ela negou rapidamente - Não brigamos mas também fiquei triste por não passarmos mais tantas noites juntos e isso me desanimou, o que me fez tirar notas baixas no colégio.
- Que chato.
- E agora ele continua estudando mas é só para o concurso. Acorda cedo todo dia e passa a manhã inteira em meio às apostilas dos concursos de provas antigas. E como eu também passo a tarde toda estudando, a gente meio que se desencontra dentro de casa - ela riu.
- E isso também te deixa triste?
- Agora nem tanto. No fim da tarde, estamos passando um tempinho juntos antes dos nosso pais chegarem.
- Entendi. Que bom! - sorri.
- No fundo, acho que eu também fui um pouco egoísta sabe? Se o Fê está se dedicando assim é porque também está pensando em nós dois no futuro.
Eram quase quatro da tarde na tela do celular, quando o peguei da minha bolsa, onde haviam algumas roupas que eu iria levar para a casa do Eric e comecei a estranhar ele ainda não ter ido me buscar.
- Será que ele esqueceu?
- Do que? - Melissa perguntou quando começava a montar o segundo sanduíche e eu mal tinha terminado o primeiro.
- O Eric iria passar mais cedo aqui... - desbloqueei a tela e disquei o número. Depois de três toques ele atendeu.
- Oi, meu amor...
- Eric, eu já tô aqui no Lipe te esperando, você não vem me buscar?
- Agora? Eu terminei de montar os planos de aula da semana e ia dar uma arrumação aqui em casa pra depois ir te buscar.
- Mas eu te pedi, lembra? - respirei fundo porque comecei a sentir a minha voz falhar - Você esqueceu? Te pedi para eu e você passarmos mais tempo juntos nos sábados.
- Eu lembro... - silêncio do outro lado da linha - Tá bom, eu só vou tomar um banho rápido e estou indo te buscar.
- Tá... Vou ficar te esperando! Te amo.
- Também te amo.
********
Desliguei a ligação e deixei o meu celular em cima da minha mesa de trabalho. Só tive tempo de reunir todos os planos prontos e colocar em um canto perto da parede. A organização geral eu teria que deixar para o dia seguinte.
Eu e a Nívea, enfim, havíamos reatado o nosso namoro. Ficarmos separados no ano anterior, contribuiu para aquele que eu considero como um dos piores da minha vida e não cumprir com a promessa que eu havia feito a ela em Chamonix poderia, mais uma vez, colocar tudo a perder. Da minha parte, seria fatal se eu falhasse novamente.
Deixei a minha mesa e a casa exatamente como estavam e fui para o banho. Após terminar e enquanto eu trocava de roupa, lembrei o quanto estava me sentindo aliviado sobre finalmente ter contado à Nivea sobre todo o meu objetivo que comecei a construir um ano atrás. Viveríamos uma vida debaixo do mesmo teto, sendo ela, uma estudante universitária, e eu recomeçando profissionalmente do zero na França. Não seria fácil, mas ao mesmo tempo um sentimento de otimismo me dominava ainda que possivelmente poderíamos sofrer uma grande resistência por parte dos pais dela e das pessoas no instante em que o nosso namoro fosse revelado. Não é fácil para muitos presenciarem um casal cuja diferença entre eles é de vinte anos de idade. Eu deveria começar a me preparar para tudo, por mais que a Nívea dissesse que não iria desistir de nós.
Cheguei no apartamento do Felipe e ela estava lá me esperando com a sua bolsa.
- Que bom que você veio! - Nívea me abraçou apertado e eu fiz o mesmo, deixando um beijo no topo da sua cabeça.
- Promessa é promessa...
- Aceita um sanduíche, Eric?
- Não, Melissa, obrigado. Vamos? - peguei pela sua mão e nos despedimos do nosso casal de amigos.
***
Entramos e Nívea observava tudo ao redor, no instante que entramos em casa. Ainda de pé e enquanto eu guardava sua bolsa no meu guarda-roupa, seus olhos pararam na coelha de pelúcia em cima da cama.
- Você não se desfez dela...
- Mas é claro que não - fechei a porta do móvel e me aproximei, virando o seu rosto, fazendo com que olhasse pra mim - Meu primeiro presente de aniversário para você, achou mesmo que eu ia fazer isso?
- Eu fui tão estúpida naquele dia... - suas mãos pousaram no meu rosto e lhe dei um beijo na palma de uma delas.
- Não vamos mais nos lembrar disso, já passou... - eu nunca me cansaria de observar cada detalhe perfeito do seu rosto.
- Mas pode acontecer da gente brigar de novo...
- Eu não quero nunca mais brigar. E você?
- Eu também não.
Sentir a pele macia e perfumada do seu rosto com as mãos, os seus lábios macios junto aos meus em um beijo era como experimentar a mais potente das drogas e não querer se livrar de tal vício. Sem interromper o efeito quase alucinógeno causado pelas nossas bocas e línguas, Nívea abraçou o meu pescoço, subindo no meu colo e tudo o que eu mais ansiava era aquele corpo novamente.
A coloquei na cama, tirando as suas sandálias, deslizei as mãos pelas suas pernas e ergui o vestido azul claro com alças que usava. Tê-la nua só para mim fazia parte do vício que era ser apaixonado. A calcinha de cor branca, quase transparente, me fez respirar fundo e tive que tirar rapidamente a minha bermuda para aliviar o que estava incomodando. Não que fosse um incômodo ruim.
Fiquei por cima dela e enfiei as mãos pelos fios dos seus cabelos. Eu precisava demais do sabor daquela boca e comecei a beijá-la em uma fúria quase sufocante. A experiência da Nívea em dois anos de relacionamento cresceu de forma natural e, mesmo sendo tímida, ela passou a tomar iniciativas na cama. Suas mãos suspenderam a minha blusa regata e eu ajudei a arrancá-la por cima da cabeça.
- Eric...
Minha boca e a língua começaram a provar cada parte do rosto, pescoço e dando lambidas na ponta da orelha causando-lhe arrepios.
Com calma, virei seu corpo de lado e me encaixei nele, continuando a beijar sua pele, me agarrando nos seus seios. Sentindo calafrios, Nívea agarrou no travesseiro e no lençol e soltava um gemido cada vez que minha boca provava da sua pele. O caminho de beijos foi em direção nas curvas da lateral do seu corpo e minha mão pousou no seu ventre, tirando sua calcinha bem devagar.
Seu corpo inteiro se contorcia igual ao de uma gata manhosa e isso facilitou para tirar a última peça que faltava para que assim eu a tornasse minha.
- Linda... - sussurrei enquanto fazia de volta o caminho de beijos até chegar na ponta do seu ouvido - E deliciosa...
Ainda de lado, ergui a sua perna e me encaixei como eu queria. De tão excitada que estava, Nívea apenas se virou para mim e trocamos um beijo apaixonado, com uma das minhas mãos segurando por baixo do joelho e afundando meus dedos na sua carne macia.
- Ah, Eric...
Afundei meu rosto na curva do seu pescoço e sentia meu pau sendo esmagado no vai e vem dos nossos corpos grudados. Seus gemidos eram cada vez mais intensos ainda que ela tentasse morder os lábios para contê-los. Não era a posição mais confortável do mundo mas também estava longe de ser a habitual.
- Eu quero ouvir você gemendo pra mim... - pedi.
Nívea se agarrou no travesseiro e seu corpo se ergueu, permitindo que eu me encaixasse e pudesse senti-la inteiramente por dentro. A agarrei pela cintura e meu lado animal tomou conta de mim na forma de urros, com meu rosto junto ao dela e enlouquecendo com os seus gemidos. Chupava e lambia seu rosto e suas mãos pequenas levaram as minhas até os seus seios.
- Eric... Eu vou...
- Se entrega, ma petite... Goza bem gostoso pra mim...
Seu corpo não era mais nenhum enigma e sentir ele vibrar era o suficiente para que eu me unisse segundos depois ao orgasmo, me derramando dentro dele por inteiro. Não conseguia e não queria me desgrudar dela. Aos poucos, os efeitos do nosso amor diminuíam mas eu queria mais e mais de nós dois. Meu coração batia tão acelerado e talvez eu estivesse sentindo o coração dela batendo na mesma velocidade, o que poderia me confundir facilmente.
Eu a amava com uma tamanha intensidade a qual fazia doer cada parte do meu corpo. No entanto, era uma dor que eu tinha prazer em suportar. E suportaria pelo resto da minha vida.
Seu rosto perfeito se virou para o meu e ainda que estivéssemos exaustos, ela sorriu. Saí, enfim, de dentro dela e ficamos nos encarando sem precisar dizer nada. Nossos corpos diziam por nós. Um beijo apertado dos nossos lábios dizia por nós.
O amor necessitava somente de palavras?
***
- Você vai amar o Parc de la Tête d'Or. É o ponto turístico de Lyon que eu mais amo.
Depois de lermos juntos o primeiro volume do livro que Nívea tinha me presenteado no meu aniversário, ela contava em detalhes sobre todos os lugares da cidade natal da família do seu pai. Eu me esforçava ao máximo para prestar atenção mas encostado na cabeceira da cama e no travesseiro, com ela deitada por cima de mim e eu observando cada detalhe do seu rosto ainda com as bochechas vermelhas, era uma tarefa difícil.
- Tenho certeza que eu vou adorar - confirmava o que dizia enquanto meus dedos deslizava suavemente pela linha da sua coluna.
- Lá tem um zoológico, lago com barcos, mais de um jardim botânico, área verde para fazer piquenique... Nossa, muita coisa!
- Na única vez que eu estive lá, eu não vi nada...
- Eu sei - ela fechou a cara - Você foi com uma ex-namorada - e deitou o seu rosto no meu peitoral.
- Uhum... - alisei os seus cabelos, deixando um beijo nos fios - Vamos combinar uma coisa?
- O quê? - ela me fitou novamente.
- O Parc de la Tête d'Or será o primeiro lugar que vamos visitar juntos assim que chegarmos lá.
- Combinado! - ela sorriu e trocamos um beijo - Eu pensei que você não tivesse gostado do meu presente...
- Não tinha graça nenhuma ler sem a sua companhia - peguei o primeiro volume que estava do nosso lado na cama junto dos meus óculos e observei a capa - Gostei dele. A leitura é rápida e olhar feito a partir de moradores e visitantes é bem mais interessante.
- O volume dois fala de outros lugares menos conhecidos pelos turistas. Tem até o Hot Club de Lyon que a minha dinda Sophie frequenta e ama! Lá toca Jazz e ritmos atuais ao vivo com músicos e bandas convidadas.
- Sei... Sophie é a sua tia que te leva para os lugares onde você ainda não pode frequentar, não é?
- Ela mesma!
- Até a hora que acontecer uma merda e ela ser parada pela polícia por levarem menores de idade para festas e casas noturnas - foi a minha vez de fechar a cara.
- Ah amor, não é sempre que acontece. Minha tia é a parte doida da Família Martin e nem parece que ela é professora universitária. Não é todo mundo que é igual a você que nunca fez nenhuma loucura na vida. Sempre foi certinho.
- E me apaixonar por você que é minha aluna? Isso não foi loucura? - passei meus dedos por uma das bochechas.
- Uma loucura boa.
- A maior de todas da minha vida.
- E eu sou sua aluna apenas em sala de aula.
Ela sorriu e começou a encher o meu peitoral de beijos, passando pelo meu pescoço e esfregava o seu rosto na minha barba. O cheiro doce da sua pele estava misturado ao meu e se estendia ao lençol, devido à transa deliciosa de momentos antes. De repente, percebi que Nívea ficou séria e passou a me olhar com o ar pensativo.
- O que foi?
- Queria te perguntar uma coisa...
- Sobre?
- Você quer que eu me decida logo?
- Decidir o quê?
- Sobre a graduação, o curso que eu vou fazer.
- E por que você está me perguntando isso?
- Porque você já está pensando em nós dois desde o ano passado. Então eu tenho que fazer igual, não é? Decidir o que eu pretendo estudar. E tem também esse ano pra me dedicar em estudar para ter as altas médias do colégio e também...
- Nívea... - a interrompi com o dedo indicador e observei a aflição tomando o seu rosto - Eu coloquei em você uma pressão muito grande sem me dar conta.
- Mas você disse que é importante!
- Sim meu amor, é importante mas... O melhor a fazer é que você fique calma e focar apenas no que a Jacqueline pediu na reunião com a turma. Se dedique em manter as notas altas nas provas.
- Tem certeza?
- Tenho. Só não deixe isso totalmente de lado e pense com calma ao longo do ano.
- Eu posso ir fazendo outros testes vocacionais...
- Claro que pode. É até divertido.
Nívea deu um meio sorriso, suspirando e abaixou a cabeça, ficando quieta. Mais do que nunca, eu tive a certeza de que éramos muito diferentes sobre planejamentos e eu não poderia girar essa chave na personalidade dela de uma hora para outra. Ela vivia o momento e eu precisava me adaptar a isso. A pressão que eu pus foi exagerada e o melhor que eu poderia fazer era recuar nesta questão para que não se sentisse colocada contra a parede.
Após transas deliciosas, lanches que comemos juntos e cochilos no decorrer da noite, Nívea dormia tranquilamente com os cabelos espalhados por cima do rosto e pelo travesseiro. Poderia parecer paranoico mas enquanto ela descansava, eu poderia colocar em ordem todo o meu planejamento das aulas da semana.
Saí lentamente da cama, vesti a bermuda que estava pelo chão e quando fui até a minha mesa, vi na tela do meu celular que já havia passado da meia noite. Algumas mensagens dos grupos que eu participava mas que iria visualizar somente quando estivesse afim.
Estava tudo uma bagunça. Me sentei e peguei os planos de aula, começando a organizar pela ordem de acordo com o dia da semana e empilhá-los para colocá-los de volta onde estavam.
Enquanto eu revisava pela última vez o plano de aula das minhas três turmas do Lycée Saint Vincent, senti as mãos pequenas e macias passeando pelo meu tórax e me envolvendo em um abraço junto de um beijo no meu rosto.
- Você só pensa mesmo em trabalho... - ouvi a voz da Nívea falando baixinho e seu queixo pousando no meu ombro.
- Também penso em você... - respondi ao mesmo tempo que segurava e olhava a folha na minha frente.
- Então vem pra cama comigo... - ela deu a volta e tirou o papel da minha mão, se sentando de lado no meu colo e colocando os cabelos por trás da orelha enquanto me olhava nos olhos. Estava completamente nua e vendo o seu corpo tomado pelas marcas dos beijos que eu tinha deixado, pensei o quanto que ela havia amadurecido mesmo que de forma lenta após o tempo que ficamos separados.
E eu tinha esperança de que ela continuasse assim, segura e confiante.
- Eu já vou - passei o dedo pelos seus lábios.
- Vem agora! - Tirou os óculos do meu rosto, pulando do meu colo e me puxou pela mão, na direção da cama me fazendo soltar uma bufada de ar, resignado.
É Eric, a organização do seu trabalho vai ter que ficar para a manhã do dia seguinte, foi o que eu concluí pensativo com um leve sorriso de canto.
- Quero voltar a dormir deitada no seu colo. E outras coisas também.
- Essa parte das outras coisas, eu acho mais interessante.
Nos deitamos novamente e depois de me ajeitar no travesseiro, Nívea deitou por cima de mim e se aninhou no meu peito, fazendo carinho na minha barba até pegar no sono de novo com a mão repousada no meu rosto. Um gesto simples mas que significava muito para ela.
Queria mais daqueles gestos e todos os outros do seu amor, diariamente pelo resto da minha vida. E abracei seu corpo com mais força só de imaginá-la longe mais uma vez. Eu não deveria mais pensar afinal ela estava ali nos meus braços, mas olhando para trás e lembrando do que aconteceu, eu iria enlouquecer se a Nívea decidisse permanecer na França. Meu coração acelerou de desespero.
🎶🎵Aqui estou
E ao alcance de minhas mãos
Ela está dormindo
E agora ela é mais doce que o mais selvagem sonho que poderia ter visto
E eu a deixo escapar
Pois sei que vou procurá-la por toda parte
Por toda parte...
Não haverá fim nas distâncias que irei percorrer
Para procurá-la por toda parte
Por toda parte...
Não haverá fim nas distâncias que irei percorrer
Para encontrá-la novamente
Pois meus sonhos dependem disso
Pela escuridão
Eu sinto o coração dela batendo próximo ao meu
Ela é o amor mais doce que eu poderia encontrar
Então eu acho que terei que procurá-la por toda parte
Por toda parte...
Não haverá fim nas distâncias que irei percorrer
Para procurá-la por toda parte
Por toda parte
Você sabe o que significa te amar?🎶🎵
Sentir o seu corpo mantinha o meu objetivo, na forma prática, bem vivo dentro de mim durante aquele ano.
Continua...
Nota da autora:
Ufa! Mais um capítulo finalizado. E isso me entristece porque a cada capítulo pronto, mais o fim se aproxima 😭
Acredito que este e o primeiro serviram para definir muitas coisas sobre o destino dos nossos personagens. No entanto, deixarei isso de lado (por enquanto) e pretendo focar de novo na rotina estudantil da galera inserindo todo o universo dos "terceirões" e no amor do nosso casal. Além de diversões, surpresas e revelações rsrsrsrs
Sobre o BAC: Trata-se do Baccalauréat que é o "Enem" francês, porém ele é muuuito mais complexo que o nosso. Precisei quebrar a cabeça por dias para tentar entendê-lo, como é todo o processo de seleção e por causa disso, farei algumas mudanças para adaptá-lo ao roteiro que estou planejando após a formatura. A coisa será bem mais simplificada do que é na realidade. Se eu seguir à risca, os acontecimentos da história entram em conflito.
Sobre o próximo capítulo: Vou retomar em Janeiro pois fim de ano é correria como todos sabem.
Prontos para pularem Carnaval com a galera? Será que Eric Schneider vai se encontrar com a sua princesa no paraíso chamado Búzios?
Trecho da música no final:
Hunting High and Low da banda norueguesa A-ha.
Essa música eu já queria encaixá-la desde a primeira temporada mas não encontrei o timing correto no decorrer da história. E então, conforme eu fui escrevendo para chegar na reta final do capítulo, achei a ocasião perfeita em meio às reflexões do Eric.
O que acharam do duplo ponto de vista em um capítulo? Se o feedback de vocês for positivo, tentarei fazer de novo no decorrer da temporada. Se for negativo, tentarei fazer do mesmo jeito hahahahahahaha
Aproveito também para desejar a todos vocês um Super Feliz Natal e um excelente 2023 repleto de Paz e Prosperidade.
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