O amor nunca desiste
Diego invadiu o consultório assim que terminei de atender o paciente, burlando a secretária aflita que nem teve tempo de o impedir, antes de ele bater com a porta na cara dela. A gravata dele já estava com o nó deslizado, a camisa com os três últimos botões desabotoados, o que expunha seus pelos negros e grossos que forravam seu peitoral vigoroso, no rosto hirsuto e viril barbeado na manhã do dia anterior começava a se esboçar um sorriso malicioso, e seu olhar fulgurava aquela cobiça que fazia meu corpo inteiro estremecer. A primeira coisa que fez ao me alcançar, com os olhos fixos em mim, foi me puxar pela gravata, obrigando-me a levantar para não ser enforcado. Tão logo meu rosto se aproximou do dele, um beijo intenso, com meus lábios sendo capturados pelos dele e a língua me penetrando sôfrega e libidinosa, se desenrolou lentamente, quebrando minhas defesas e me fazendo retribuir carinhosamente sua investida. Foi a quinta vez naquele mês, o que já me fazia saber o que estava por vir. Era insano, eu sabia, em pleno expediente, com a sala de espera acumulando pacientes por atender, mas o apelo daqueles braços musculosos e daquele tronco maciço e quente eram demais para eu me recusar. Enquanto o Diego terminava de desabotoar a camisa e tirá-la para fora da calça, eu também ia desabotoando o jaleco e a camisa, ambos arrancados à força me deixando com o torso liso completamente nu. Ele o encarou por meros segundos, como se estivesse conferindo se tudo continuava ali tão formoso e sensual como lhe seduzia desde que o viu pelado pela primeira vez. Enquanto isso, eu levei minha mão até a braguilha dele, me deparando com a rigidez rochosa do cacetão intrépido. Do tremor excitado, meu corpo passou a um frenesi que se espalhou como uma descarga elétrica, que culminou se concentrando no meu ânus. Ele podia enxergar isso através do meu olhar, e sorriu ciente de que eu havia capitulado. Mais um rápido e intenso beijo cobriu minha boca, fazendo com que a sua saliva se mesclasse à minha, antes de ele me debruçar sobre a mesa e começar a abrir minha calça, arriando-a juntamente com a cueca até os meus joelhos. Enquanto abria afoitamente a própria calça, inclinando todo seu peso sobre mim e mordiscando diversos pontos da minha nuca, eu me preparava para recebê-lo empinando a bunda carnuda. Uma única pincelada do caralhão melado no fundo do meu reguinho estreito o conduziu até a exígua rosquinha pregueada, bastando um impulso abrupto para alojar a cabeçorra úmida dentro dela. Eu não tinha dúvidas de que meu ganido chegou à sala de espera, mas não havia como segurá-lo toda vez que a verga calibrosa do Diego entrava em mim. Ele imediatamente enfiou os dedos indicador e médio na minha boca enquanto os demais agarravam meu rosto. Mais um impulso potente com meus esfíncteres ainda travados introduziu mais um pouco daquela jeba no meu cuzinho, garantindo que dali não haveria mais retorno, de que ela não escaparia do casulo tomado de contrações voluntariosas.
- Ai Diego! Devagar com isso! – gemi, envolto pelo tesão. Ele não disse nada, arfava tão forte que mais se parecia com um touro bravio.
Seus braços se fecharam ao redor do meu tronco, uma das mãos manipulava gananciosamente meu mamilo, enquanto estocadas consecutivas se encarregavam de meter todo o caralhão no meu cuzinho. Ele foi deslizando paulatinamente para dentro de mim, até que apenas o sacão ficasse à portinha do meu rabo apertado. O Diego parou por alguns segundos quando atingiu seu objetivo, deixando seu peso me comprimir contra a mesa.
- Estava sentindo a minha falta? Estava com saudades disso? – sussurrou, enquanto lambia o lóbulo da minha orelha.
- Você é maluco, sabia! – gemi sensual, relaxando e contraindo os esfíncteres que mastigavam e agasalhavam o caralhão sedento dele.
- Sou maluco por você, meu amor! – grunhiu ele, socando cadenciadamente a caceta no meu cu.
Eu já não me preocupava mais com o tempo, me conformando com o atraso nas consultas e com a ideia de só conseguir deixar o consultório no início da noite. Meu único foco estava direcionado para o Diego, para sua carne rija revolvendo minhas entranhas que eu lhe franqueava com o coração transbordando de felicidade. Estávamos tão afinados nesse desejo comum, que havia já algum tempo que gozávamos junto. De repente, me lembrei que não havia preparado a mesa para aquilo, que não havia nada ao meu alcance onde eu pudesse soltar aquela porra que já percorria minha uretra através da pelve retesada. O Diego deu uma socada profunda, parou engatado na minha bunda, estremeceu umas duas ou três vezes e se despejou fartamente em mim. O ar do consultório foi se impregnando do cheiro de sexo, da luxúria e falta de comedimento de ambos. Mas, ele não estava sozinho, imiscuído em seu aroma, fluía aquela aura de amor que nos unia.
O Diego continuava debruçado sobre mim, ambos arfávamos, esperando os espasmos dos nossos corpos arrefecerem. Minha porra estava espalhada sobre o tampo da mesa junto com meu bloco de receituário, algumas caixas de medicamentos, o estetoscópio e tudo o mais que precisava para fazer os atendimentos e, assim que o Diego a viu, deixou escapar uma risadinha lúbrica.
- Isso merece uma fotografia! – exclamou ele, contemplando aquela disparidade pecaminosa. – Daria uma obra de arte ímpar, capaz de rivalizar com o surrealismo de Dalí, Miró ou Magritte. – emendou irônico.
- Surreais são estas suas visitas inesperadas em pleno expediente. Você não tem o que fazer na empresa para vir aqui no meio da tarde, seu doido? Dá só uma olhada nisso aqui, nem se parece com uma mesa de trabalho e sim com uma cama de motel. Agora vou ter a trabalheira de limpar essa lambança toda. – protestei. Ele riu, veio me abraçar e me beijar, o que retribuí todo afetuoso e satisfeito.
- Preciso voltar correndo para a empresa, estou atolado em trabalho, mas não ia aguentar até a noite, precisava de você agora! – respondeu ele, com sua cara maliciosa e encantadora.
Acompanhei-o até a porta, onde trocamos mais um beijo, e eu lhe confirmei que o amava. Antes de chamar o próximo paciente, limpei a porra do tampo da mesa, com um sorriso bobo na cara, enquanto a dele formigava no fundo do meu cuzinho ardente.
- Não tive como impedi-lo, ele parecia desesperado caminhando pela espera de um lado para o outro. Avisei-o que o senhor estava com a agenda lotada e que ele não tinha horário marcado, mas assim que o paciente saiu ele passou por mim e entrou doutor Caio. Não foi culpa minha! – desculpou-se a secretária que ainda não havia aprendido a lidar com as extravagâncias de certos pacientes.
- Não se preocupe, Fátima! Esse você não ia conseguir segurar nem que lhe colocasse grilhões. – respondi para diminuir sua aflição. Se nem eu o consigo impedir de entrar em mim, quanto mais você no meu consultório, pensei comigo mesmo, antes de fazer entrar o paciente seguinte.
Havia dois anos que estávamos namorando, após nos conhecermos numa balada onde ambos estavam num grupo de amigos. Diego é primo de uma garota que eu conheci através de um amigo comum. Posso dizer que foi amor à primeira vista, tão intensa foi a empatia que sentimos um pelo outro. Algo que nunca tinha me acontecido antes, com homem nenhum. Há um ano ele veio morar comigo, deixando a casa dos pais, onde pareciam estar ansiosos e torcendo para que deixasse o ninho aos 31 anos.
Essa mudança acabou se precipitando quando o Diego disse aos pais que estava apaixonado por mim, o que gerou uma série de protestos e me fez não ser mais benquisto naquela casa.
- Você está doido Diego? Se envolver com outro homem, onde já se viu tamanha falta de vergonha! De uma hora para a outra temos um filho gay, Priscila! Você sabia disso, que seu filho é um invertido? E esse médico, já imaginou mulher, você ir se consultar com um viado que se passa por amigo do seu filho, mas é seu amante? Em que mundo estamos vivendo! – descarregou o pai do Diego, quando soube que estávamos namorando.
- Quem precisa questionar em que mundo e em que época você ainda vive, sou eu pai! A Idade Média já passou, mas você parece que continua lá. Eu amo o Caio, a gente se ama. Não tem nada de errado nisso. Abra a sua mente! – retrucou o Diego, enfrentando o pai.
- Olha como fala comigo, seu moleque! Sob o meu teto não quero saber dessas baixarias, está entendo? – revidou o pai.
- Então chegou a hora de eu sair de casa! Não dependo mais de você, sou dono do meu próprio nariz, e acho que tenho o direito de escolher com quem eu quero construir uma vida junto. – sentenciou o Diego, deixando a mãe entristecida, e o pai revoltado.
- Já vai tarde! A porta é serventia da casa! Vá fazer suas sacanagens longe daqui! – bradou o pai que nunca havia sido contestado pelo filho.
- Acalme-se Lorenzo, vai acabar enfartando homem! – exclamou a mãe do Diego
- E não é exatamente isso que o Diego quer, nos matar do coração depois de tudo que fizemos por ele? Essa é a paga dos filhos de hoje, Priscila! – devolveu o pai
- Você deveria rever seus conceitos, pai! Se você enfartar seria providencial ter um genro médico! – exclamou sarcástico o Diego.
- Cínico! Debochado! Você viu isso, mulher, ele ainda caçoa? – indagou o pai inconformado.
- Você também exagera com tudo, Lorenzo! Até parece mesmo que ainda está na Idade Média, Santo Deus homem, como você é retrógrado! – desabafou a mãe. E assim, o Diego veio morar comigo. Foi o cutucão do qual precisava para deixar a casa dos pais.
Fiquei o restante da tarde sem concentração alguma depois que o Diego se foi, me deixando com o cu ardendo e sua gala aderida à mucosa anal. É um doido tarado, devaneava eu de tão apaixonado por esse homem que estava. Eu nunca compreendi o que nos uniu daquela maneira, sendo tão diferentes. Só para exemplificar, ele é engenheiro, seu mundo são os cálculos, os números, as exatidões comprovadas por fórmulas e teoremas. O meu, como médico anestesista, é a ciência baseada em evidências, o uso dos meios e não a promessa dos fins que rege minhas condutas. Portanto, temos visões diferentes do mundo e das relações humanas. Para o Diego dois mais dois sempre é quatro, enquanto para mim havia inúmeras circunstâncias a serem ponderadas entremeadas nessa soma banal e, a depender de como se manifestassem, o resultado poderia ser qualquer um. Foi essa visão ambígua que sempre me fazia pensar qual tinha sido a mágica que nos uniu. E atitudes dele como a daquela tarde, se tornavam difíceis de entender, embora arroubos como aquele deixassem meu coração ainda mais apaixonado.
É por conta do aniversário dele, pensei com meus botões. Falávamos da data há um mês, teríamos um jantar romântico só nos dois, num restaurante sofisticado, tomaríamos uma garrafa de vinho sem nos preocupar com o preço; findo o jantar brindaríamos com uma taça de champanhe, iríamos para casa fazer amor até ficarmos sem forças, esse era o combinado. O que ele não sonhava, era que além do presente que eu lhe daria antes de sairmos para o jantar, junto com a champanhe eu lhe mostraria uma caixinha com duas alianças que mandara confeccionar e o pediria em casamento. Nesses dois anos de convívio a certeza de que ele era o homem dos meus sonhos se materializava dia após dia e, apesar de não ficar me atendo a burocracias e papéis que atestassem o amor que sentia por ele, achei que uma formalização dos nossos sentimentos seria ir um passo além do convencional. O Diego era a razão, eu a emoção. Com o plano já todo estruturado de como lhe fazer o pedido, eu sabia de antemão que não conseguiria segurar as lágrimas, e que ele ia se rir mais uma vez por ter um namorado tão sensível, e me abraçaria com ternura me acolhendo em seus braços protetores.
Eram pontualmente 20:00 horas quando dispensei o último paciente, nada que fugisse da rotina. Mas naquele dia eu estava mais ansioso e com mais pressa de chegar em casa, beijar meu marido, tomar uma ducha, me vestir e partir para o tal jantar. O Diego chegava em casa mais cedo todos os dias, seu expediente na empresa se encerrava às 18:00 horas e ele preparava cotidianamente nosso jantar enquanto esperava pela minha chegada. Durante a semana era ele quem cozinhava, nos finais de semana a tarefa era minha. Como naquele dia ele estava dispensado da tarefa, me aguardava numa cueca branca que contrastava com as grossas coxas bronzeadas e peludas, e onde o contorno sedutor do enorme cacetão dele já me fazia cogitar dispensar o jantar romântico e partir direto para a sobremesa apaixonada em nossa cama.
- Isso vai ser a cereja do bolo, não adianta ficar aí babando desde já! – exclamou libidinoso, como se tivesse lido minha mente.
- Será que não pode ser o aperitivo? Só um pouquinho! – provoquei, afagando aquele volume gigantesco.
- Já te fiz provar o aperitivo esta tarde! Quer mais? – indagou com seu sorriso malicioso me encarando.
- Até perdi a concentração depois daquilo, sabia? E ainda sinto todas as marcas que você deixou em mim, seu pervertido! – respondi, beijando-o intensa e carinhosamente, enquanto minhas mãos deslizavam entre os pelos do tórax dele.
- E agora está me deixando maluco! Vá tomar seu banho, você está com aquele cheiro horrível de hospital. – retrucou ele.
O Diego era um verdadeiro cagão, seu pavor de agulhas, sangue, hospitais não encontrava uma explicação lógica no campo racional. Um homenzarrão como ele, cheio de músculos, forte como um touro, com aquela aparência viril que deixava qualquer criatura sonhando com as mais delirantes fantasias, virava um passarinho indefeso diante dessas coisas. Pouco depois de nos conhecermos, ele apresentou uns problemas estomacais repetitivos. Achei por bem pedir uns exames para avaliar seu quadro sistêmico, e uns mais específicos para descobrir se aquilo podia ser uma úlcera gástrica se desenvolvendo. Até então, eu não conhecia essas suas fraquezas e esse seu lado fóbico, tudo nele fazia crer que era destemido, que nada o abalava, que toda aquela força e vigor não soubessem o que é o medo. Foi durante a coleta de uma amostra de sangue que eu vim a conhecer meu Diego não tão corajoso e valentão. De tão apavorado que ficou ante a visão da agulha, conseguiu deixar a atendente do laboratório completamente estressada. De um lado ele a questionava se ela sabia o que estava fazendo, se aquela agulha não era grande demais, se ela estava enxergando a veia dele, que mais se parecia com uma corda de tão calibrosa e visível; por outro, a coitada já não sabia mais o que fazer para manter aquele homenzarrão intimidador sentado na cadeira, garantindo-lhe que seria apenas uma picadinha. Eu me divertia, em anos de experiência nunca tinha visto algo tão patético.
- Não ria! Não é o seu sangue que vai ser drenado! Posso até desmaiar antes de ela encher esse montão de tubos com o meu sangue. – disse ele, voltando-se para mim como uma criancinha mimada.
- Se você desmaiar vai ser de medo, não porque lhe tiraram umas gotas de sangue! Deixa de frescura e ajude a moça a fazer o trabalho dela. – revidei impaciente
- Não é medo, é um perigo real! – devolveu ele, o que só me fez rir mais ainda.
- Me dá uma licencinha, moça, deixa que eu cuido desse chorão! – intervi, inserindo prontamente a agulha na veia do Diego e acoplando o adaptador para os tubos de coleta à vácuo. Ele revirava os olhos nas órbitas quando me encarou pálido e lívido como uma estátua de alabastro.
- Olha para mim! – ordenei imperativo. – Olha para mim, Diego! – repeti enérgico.
- Acho que estou ficando tonto! – balbuciou ele
- Você já é tonto, impossível ficar pior! – revidei. A moça começou a rir. – Pronto, já terminamos! E você continuava vivinho da Silva! – ironizei.
- Vamos ver como vou te deixar depois de eu te pegar! Precisava enfiar aquela baita agulha daquele jeito no meu braço? Sanguinário! – protestou ele, fazendo cara de melindrado.
- Manhoso! – exclamei, com um sorriso doce, proposital para que se desmanchasse de tesão. Encabulado diante da moça, ele abriu um sorriso econômico, para não dar o braço a torcer.
Então era assim o meu Diego, um brutamontes que pagava vexame quando o assunto era enfrentar alguma situação relacionada com a medicina, hospitais e mesmo dentista.
A caminho de casa eu tinha passado numa floricultura e encomendado um arranjo de flores lilases, misturando lisianthus, hortênsias, tulbaghias e didiscos, que foi entregue enquanto eu estava sob a ducha.
- Você tem algum trocado na carteira para o rapaz que veio entregar as flores? – perguntou ele, enquanto o rapaz aguardava.
- Veja na minha carteira, acho que sim. Está na minha maleta! – respondi
- Não tem, está mais vazia que a minha! – retrucou ele
- Veja na primeira gaveta do meu lado do closet! – devolvi, sem me ater que era lá que eu tinha enfiado a caixinha com as alianças que havia comprado. – Achou?
- Sim! – respondeu ele, apressando-se para dar a gorjeta para o rapaz e voltando rapidamente para examinar aquela caixinha. Ele ficou pasmo quando as viu, e resolveu guardar segredo de tê-las descoberto.
O Diego estava tirando o carro da garagem quando meu celular tocou, era o hospital onde eu trabalhava no período da manhã como anestesista, me requisitando para duas cirurgias de emergência que haviam entrado e que os dois colegas de plantão não teriam como cobrir sozinhos dado o movimento excepcional no centro cirúrgico naquela sexta-feira.
- Preciso ir para o hospital, Diego, sinto muito! É uma emergência, não tem como eu não ir. – revelei
- Só pode ser brincadeira! Estamos combinando esse jantar há semanas, peça para chamarem outro anestesista. – protestou ele, que ficava puto quando me requisitavam e ele tinha feito alguma programação.
- O Tadeu está de férias, só tem eu mesmo! Volto assim que der, prometo!
- Aí já fodeu tudo! A comemoração já foi para o caralho! De que adianta, a gente se programar se isso sempre acaba nessa merda! – exclamava zangado.
- É meu trabalho, querido! – amenizei
- Sempre mais importante do que eu! – revidou ele exasperado
- Nunca! Você é mais importante do que qualquer outra coisa desse mundo. Mas eu tenho obrigações a cumprir, não posso simplesmente deixar de atender uma emergência. Tente entender, amor. – devolvi, beijando-o, embora ele tenha se recusado a me devolver o beijo.
Tivemos outras pequenas discussões por conta da minha profissão. O Diego não se conformava com esses chamados repentinos, a qualquer hora ou dia. Para ele o trabalho tinha um expediente fixo, que podia numa eventualidade outra, ser estendido, mas nunca dessa maneira repetitiva. Aí ele se zangava comigo, ficava de cara amarrada e era preciso um bocado paciência, muitas carícias e principalmente muito sexo para ele se convencer de sua importância na minha vida.
Consegui me ver livre pouco depois de uma e meia da madrugada. Arrisquei uma ligação no celular dele, mas não obtive resposta. Achei que devia estar dormindo. Senti o coração pesado de remorso, por abandoná-lo no dia do aniversário, no dia em que ia pedir para que se casasse comigo. Fui para casa o mais rápido possível, ainda teríamos algumas horas de amor e sexo até o alvorecer e eu queria dedicá-las todas a ele. Ao entrar no quarto vi que a cama não havia sido desfeita, ele não estava em casa. Talvez tivesse ido à casa dos pais, comemorar o aniversário com eles, e liguei para avisar que já estava em casa. Ele não respondeu. Teria saído com alguns amigos de última hora? Geralmente ele me deixava um recado quando isso acontecia. Onde se meteu esse safado? Não o culpo por estar zangado comigo, mas não atender as minhas ligações era muita infantilidade. Às quatro da manhã fui me deitar, teria que me conformar com sua bronca e suas explicações. Pouco antes das seis da manhã ele entrou no quarto, estava com uma cara horrível, senti o fedor de cigarro em suas roupas, muito embora ele não fumasse, e o hálito etílico exalando da boca quando me deu um ‘Oi’ seco.
- Por onde você andou, Diego? Estou te procurando há horas! – questionei
- Fui me divertir, comemorar meus trinta e um anos! Sem você, que me abandonou! – balbuciou ele, deixando-se cair sobre a cama.
- Estou vendo! A noitada deve ter sido boa! – devolvi
- Pode-se dizer que sim!
- E posso saber como foi essa diversão?
- É melhor não! Você me deixou puto e se eu responder a sua pergunta vou deixar você puto, e eu não quero fazer isso! – respondeu ele.
- Quer dizer que é olho por olho dente por dente? Não pensei que você fosse tão vingativo. – Com quem você esteve?
- Não quero mais falar sobre isso! – respondeu
Não precisava ser nenhum gênio para adivinhar que ele não só esteve com alguém como fez algo com essa pessoa que eu não aceitaria. Será que ele transou com alguém, foi o que me veio à cabeça, me deixando estarrecido e furioso. Sexo com outro não, ele não faria tamanha sacanagem comigo só por conta de um jantar de aniversário frustrado, isso eu não ia admitir. Insisti numa explicação, eu queria e precisava de respostas.
- Acho que sou bissexual! – exclamou ele, subitamente, me deixando perplexo.
- Como você chegou a essa conclusão? Você esteve com uma mulher, Diego? Você transou com uma mulher? Me responde!
- Foi uma casualidade! – respondeu o cínico
- Você quer que eu acredite que você trepou com uma mulher por casualidade?
- Eu disse que você ia ficar puto! Mas foi uma casualidade sim!
- Ninguém trepa por casualidade, trepa porque está a fim de trepar! Ou você quer que eu acredite que casualmente esbarrou numa mulher e, do nada, resolveram trepar. Você me traiu justamente hoje, Diego! Eu, eu ..., eu tinha tantas coisas para te dizer nesse jantar, e você me apronta isso! – sentenciei inseguro e furioso, mal conseguindo me expressar.
- Ao jantar que você não foi? Naquelas alianças que não me entregou? Na noite especial que tínhamos planejado e você me abandonou? O que você queria, que eu viesse para casa e chorasse minha dor sozinho? – questionou
- Você viu as alianças, você sabia que eu ia te pedir para casar comigo e mesmo assim você foi trepar com uma mulher, Diego! Não acredito que você foi capaz de tamanha vilania! Não, não pode ser, só pode ser um pesadelo, você foi cruel, Diego! Eu te amo tanto e você, por uma bobagem qualquer, vai transar com uma mulher e me diz com a maior cara de cínico que acha que é bissexual. – despejei aos prantos.
- Eu nunca tinha transado com uma mulher antes, então não sabia se também gostava de comer uma buceta! – devolveu ele
- Cretino! Cínico, desgraçado! – berrei com todas as minhas forças. – Não quero mais olhar para essa sua cara! Acabou!
- Eu ter descoberto que sou bissexual não significa que não queria continuar trepando com você. Foi só dessa vez, foi só sexo nada mais. Eu nem sei explicar exatamente como aconteceu, eu a encontrei tomando um drinque sozinha no bar, trocamos olhares, ela era peituda e até jeitosinha, me convidou para sentar com ela, conversamos e, de repente, eu estava dentro do carro com ela de pernas abertas, sem calcinha, enfiando minha rola na buceta dela. – afirmou ele
- Sou eu quem não quer mais transar com você! Você me traiu, traiu minha confiança e meu amor, e ainda tem a ousadia de me contar essa safadeza com essa cara de pau.
- Estou sendo sincero, não te enganei nem estou omitindo nada. Eu te amo e não penso em fazer sexo com ninguém mais além de você. Desde que começamos a namorar nunca te traí, nunca mais transei com outra pessoa. Só você sabe cuidar do meu pau como ninguém mais!
- Se você pensa que com essa conversinha mole vai me dobrar, está muito enganado. Se quiser que alguém cuide do seu pau, vai procurar a vagabunda, pois eu não quero ver esse pau que entrou numa vagina nem pintado a ouro. Só de pensar me dá asco!
- Eu usei camisinha, para sua informação! Não sou nenhum irresponsável para colocar a sua saúde e a sua vida em risco, eu jamais faria qualquer coisa para te machucar. - asseverou
- Quero que saia da minha casa! Você diz que jamais faria algo para me machucar, mas machucou, e muito! – sentenciei convicto
- Nossa casa, você quer dizer! Vivemos juntos aqui, somos um casal, eu ter transado com uma mulher não modifica isso. – teve a coragem de afirmar.
- Tecnicamente a casa é minha, fui eu quem a comprou, você se mudou para cá. Eu achei que podíamos ser um casal, mas me enganei. Não quero conviver com um homem que sai por aí procurando por sexo com outras pessoas. – afirmei
- Concordo, tecnicamente a casa é sua. Mas eu não saio por aí procurando por sexo, isso só aconteceu porque você me abandonou, num dia que era especial para mim, num dia planejado só para nós dois. – retrucou ele
- Não seja ridículo, eu ter atendido a um chamado do hospital não significa que o abandonei!
- O que significa então? Que eu não sou importante para você? – insistiu, batendo na mesma velha tecla.
Juntei as roupas dele com as lágrimas descendo pelo rosto e o mandei embora, não tinha como suportar aquela traição. Nos separamos, ele voltou para a casa dos pais num primeiro momento, e depois se mudou para um apartamento. Era tudo o que o pai dele queria, o fim daquele relacionamento homossexual do qual tanto se amofinava. Que o filho estava triste, que havia perdido aquele entusiasmo contagiante, o pai não se apercebeu.
A casa sem o Diego não era mais a mesma. Chegar em casa e não o ver na cozinha preparando nossa janta, abrir o closet e ver todo aquele espaço sem as roupas dele, não me deparar com a escova de dentes e os apetrechos de barba sobre a pia do banheiro, não encontrar a cueca e a toalha de banho sobre a cama para ter do que reclamar dele e, principalmente, me virar na cama durante a noite e não dar de encontro com seu corpão quente estavam me deixando deprimido. Um enorme vazio se abriu no meu peito. No final do dia, eu já não tinha mais pressa alguma de chegar em casa.
Primeiro arranjei um filhote de beagle para preencher minhas horas e ser recebido por uma criatura fiel quando chegasse em casa. Depois, comecei a aceitar os insistentes convites dos amigos para sair. E, por último, e apenas porque ainda me sentia solitário, comecei a dar ouvidos aos conselhos bem-intencionados deles, mas totalmente desprovidos de sensatez. Foram esses conselhos que me levaram a experiências, no mínimo, bizarras, pois fui me encontrar com figuras exóticas que, numa primeira vista, pareciam criaturas bem normais.
O Danilo, meu colega anestesista com quem trabalhava no hospital e, de quem o Diego tinha um ciúme patológico por ele praticar esportes radicais, gostar de aventuras e ter uma porção de músculos mais ativos que seu cérebro que o faziam tecer comentários impróprios sobre a minha bunda, foi o primeiro a me apresentar candidatos para substituir o Diego. Ele me apresentou a um cara que conheceu durante uma expedição à Argentina para escalar os picos nevados dos Andes. Não nego que era um cara atraente, bonitão e muito tesudo para ser bem sincero. Eu queria ir devagar, por isso propus um café para o primeiro encontro, assim teria como fugir caso as coisas não fossem como o esperado. Mas o sujeito, João Vitor, insistiu num jantar num restaurante moderninho. Além de falar pelos cotovelos, e sobre suas proezas, já na primeira hora, ele me revela que está de pau duro desde que apertou a minha mão e não via o momento de me enrabar. Fiquei chocado, mal conhecia o sujeito e aquela tara compulsiva me assustou. Inventei um monte de desculpas para não irmos para a cama, mas não escapei de sua mão voraz, amassando despudoradamente minhas nádegas enquanto sua língua impudica vasculhava a minha garganta insanamente, e nem da visão de sua jeba dura e torta que ele fez questão de me exibir. Para um primeiro encontro aquilo tudo era demais, o sujeito não estava procurando um relacionamento como eu, ele estava procurando um cu para enfiar a estrovenga. Descartei-o antes que me enrabasse.
Camila, outra velha amiga compadecida da minha dor, me apresentou um de seus primos que estava saindo de um casamento de quase dez anos por ter se envolvido com um rapaz do trabalho. Os familiares ainda estavam chocados com a atitude dele, mas ela viu nisso uma oportunidade de arranjar um parceiro fixo para o primo, uma vez que o rapaz com quem saia de vez em quando era um verdadeiro galinha, um viadinho-puto cujo cu não dispensava uma boa rola.
- Isso é uma gozação, não é Camila? Acabo de ser traído pelo meu namorado com uma mulher, e você quer que eu conheça outro traidor que trocou a mulher por um caso do trabalho. Fala sério! – aleguei quando ela me deu alguns detalhes sobre o primo.
- Desconsidere esse detalhe, ele é um cara muito legal, a mulher dele era uma mala para dizer a verdade, nem sei como ele aguentou ficar quase dez anos com aquela fulana. Além do mais, ele é bem do seu tipão, macho do interior, sabe, daqueles com pegada firme, parrudo, cara de macho com barba cerrada, de caminhar firme com aquelas pernas grossas bem abertas por conta do volumão que carrega no meio delas. Você vai se apaixonar, tenho certeza! – sentenciou ela enaltecendo os predicados do primo.
- Camila, enfia uma coisa na tua cabeça, eu estou a fim de conhecer caras para serem meus companheiros, para formarmos um casal, termos um relacionamento sério, não estou procurando uma máquina de fazer sexo! – devolvi
- Mas com ele você vai ter as duas coisas, um parceiro e macho de deixar qualquer um molhadinho. – revidou ela.
Bem, de tanto ela falar, topei sair com o sujeito. Conheci o tal primo num encontro forjado pela Camila que ela queria que eu acreditasse que tinha sido por coincidência. Nos primeiros cinco minutos ela desapareceu, como por magia se evaporou no ar. Fiquei eu o sujeito, Paulão, como queria que o chamasse. Passou três quartos de hora metendo o pau na ex-esposa que, pela descrição dele devia ser o capeta personificado. Não acreditei na metade do que ele me contou, era um garganteiro que se achava sempre coberto de razão. Quando percebeu que o assunto da ex estava me dando sono, partiu para o pobre infeliz do rapaz com quem trabalhava, descrevendo-o como uma bichinha assada e enrustida que já tinha sido enrabada por mais de uma dezena de caras na empresa.
- A bunda é meio chapada, manja, tipo tabua de passar roupas, mas o boquete dele é delicioso! – começou ele. – Nunca recebi um boquete como os dele, fantásticos! Mas ele não engolia, cuspia a porra fora, o que dava um pouco de frustração. Porra de macho não foi feita para ser desperdiçada! – proclamou o Paulão. Eu não queria isso para a minha vida, um sujeito que se caba e denigre todos com quem já se relacionou, era demais para mim.
- Você é exigente demais, Caio! Se é com homens que você quer compartilhar sua vida, tem que aceitar as imperfeições deles, homens são naturalmente cheios de defeitos, você precisa se adaptar e aceitar, ou nunca terá ninguém. – aconselhou a Camila, quando lhe falei que não tinha me interessado pelo primo dela.
- Isso pode ser na visão de vocês mulheres, para mim não funciona! Sei que ninguém é perfeito, todos temos nossos pontos fracos, mas daí a me sujeitar ao machismo assumido só para ter um parceiro, já é demais.
Outro desastre foi um cara que conheci circunstancialmente no supermercado. Minha despensa e geladeira estavam vazias havia alguns dias. Com preguiça para cozinhar, fui adiando a ida ao supermercado pedindo comida por aplicativos. Era tarde da noite, eu tinha saído do consultório bem depois do esperado e ainda tinha feito algumas ligações antes de seguir para casa com o estômago roncando. Ao passar numa dessas lojas 24 horas, resolvi reabastecer o estoque, e me lancei às compras. Reparei nele ao passar pela seção dos vinhos, ele examinava os rótulos com apuro, usava óculos o que lhe dava um ar intelectual, uma barba de uns dois ou três dias acentuava não só essa característica como o fazia parecer mais másculo. Fingindo ler os rótulos das garrafas, ele não parava de me examinar de soslaio. Era eu olhar na direção dele e lá estava aquele par olhos acompanhando com interesse todo e qualquer movimento meu. A tarefa de escolher os vinhos sempre tinha sido do Diego, eu era meio leigo no assunto, e escolhia as garrafas pela beleza dos rótulos, mais do que pelas descrições contidas neles, o que sempre resultou em críticas do Diego, me acusando de fazer péssimas escolhas.
- Perdão! Sou péssimo para escolher vinhos, segundo meu ex-namorado, será que você pode me indicar alguns para não fazer feio num encontro com amigos? – lancei a isca, já deixando claro que era gay, que estava sozinho, que certamente era leigo num assunto que ele devia dominar muito bem, além de não deixar transparecer que minha vida era um grande vazio, inventando um encontro com amigos que não existia. Ele fisgou a isca com voracidade.
- Claro! Primeira lição, não escolha pelo preço. Nem todo vinho caro é bom, essas prateleiras estão cheias de exemplos. Segundo, considere a estação do ano, a ocasião em que será servido, que tipo de comidas ou petiscos vão acompanhar a degustação. Cada vinho tem sua própria alma, cada produtor sabe distinguir e combinar as castas de suas uvas dando corpo ao vinho. – eu estava me sentindo um imbecil, mas o entusiasmo dele, o brilho daquele olhar, a maneira elegante como ele gesticulava, o movimento daqueles lábios sensuais e o corpão atlético dele me atraiam mais do que as explicações que ele estava me dando, pois eu já tinha como certo que nunca seria um expert nesse assunto, simplesmente porque não era algo que me interessasse verdadeiramente.
Concluindo, saí do supermercado com um encontro marcado. Ele fazia parte de uma confraria que se dedicava à degustação de vinhos numa reunião que acontecia uma vez por mês, e me convidou para a próxima dali há alguns dias. Esperei pela data com a ansiedade a mil. Recomendei centenas de vezes que a Fátima não preenchesse minha agenda daquele dia nem fizesse qualquer tipo de encaixe sob qualquer apelação. Também troquei meu plantão no hospital para não ser perturbado e me ver novamente deixando alguém na mão. Um dia antes fui refazer o corte do cabelo que não havia nem quinze dias tinha dado um retoque. Cheguei em casa cedo, me enfiei na banheira com sais relaxantes e passei meia hora com o corpo imerso na água tépida ouvindo músicas. A ansiedade me deu tesão, fiquei imaginando as mãos dele, com pelos sobre as falanges, deslizando vorazes pelo meu corpo, e me masturbei. Só depois de meia dúzia de camisas estarem espalhadas sobre a cama me decidi pela que vesti. O jeans novo, comprado no sábado anterior, tinha o gancho tão bem talhado que ressaltava a curva e o volume das minhas nádegas, e tinha deixado o garotão da loja que me atendeu de pau duro. Eu estava torcendo para que o mesmo efeito se repetisse com o Rogério, e fiquei à sua espera, contando os minutos. Durante esses dias ficamos conversando pelo Whatsapp todas as noites durante horas, o papo dele era interessante variando entre a seriedade e malícia num equilíbrio perfeito. Encontrei o que procurava, pensei comigo. É só deixar rolar, sem pressa, sem cobranças, e logo estarei nos braços do meu homem. Gays são otários, se deslumbram quando um cara se parecesse minimamente com aquele que eles idealizam em seus devaneios de viado romântico. Se as circunstâncias não colaborarem, podem demorar séculos a descobrir que caíram numa cilada. A minha estava só começando.
O Rogério e eu éramos os mais novos no encontro da confraria formada majoritariamente por cinquentões e sexagenários bem-apessoados, até aí nenhum problema. À medida que as horas passavam e a degustação, seguida de verdadeiros e longos sermões sobre as características de cada vinho, prosseguia, comecei a reparar que estava ficando sozinho como o único ainda lúcido e ciente de sua realidade. Alguns sexagenários já estavam dando em cima de mim, abordando-me inicialmente com seus problemas de artrite, implantação de stents coronárianos, dificuldades para respirar, tratamentos para devolver a libido e mais uma miríade de patologias, para depois, com algumas taças de vinho obnubilando as mentes, me assediarem sexualmente elogiando e até brindando meu bundão carnudo e arrebitado. O Rogério, sentado numa poltrona de couro, me observava como um lobo estuda sua presa. Não nego que isso me excitou, especialmente quando ele ajeitava o cacetão dentro da calça. Cheguei a me sentar no braço da poltrona próximo à mão dele, para que ela pudesse discretamente roçar nas minhas nádegas, o que formou uma ereção gigantesca e acintosa no meio das pernas dele e, da qual eu não conseguia desviar o olhar, só me imaginando com ele troço na boca.
- Está ficando um pouco tarde, o que acha de irmos para outro lugar mais reservado, minha casa talvez. – sugeri sussurrando discretamente no ouvido dele.
- Não deixamos a confraria antes da última degustação! É só mais um tempinho, depois vamos para onde você quiser. – respondeu ele. Eu gostaria que a voz dele fosse mais firme, como no dia em que o conheci no supermercado, mas a modulação das palavras me indicava que ele já não estava mais tão sóbrio assim.
Eu já nem podia mais sentir o cheiro de vinho que me vinham engulhos. Tinha certeza de que não colocaria um gole na boca pelos próximos dois ou três meses. Se arrependimento matasse eu estaria esturricado. Nem as chaves do carro no bolso o Rogério conseguia encontrar e, quando enfiei minha mão para encontrá-las, ele me dirigiu um sorriso torto.
- Meu pau está do outro lado! Não vai encontrar nada aí! – balbuciou com a língua pesada me encarando com aquela cara abobalhada e ébria.
Àquelas alturas só havia uma pica macilenta ali dentro, e eu já tinha perdido a esperança de a sentir entrando em mim. Raios que me partam, nem sei onde esse camarada mora, o que vou fazer com ele agora, nesse estado?
- Onde você mora, Rogério? Deixa que eu dirijo, você não está em condições de pegar num volante.
- Na minha casa! Eu estou ótimo, posso te levar para o céu se quiser! – respondeu atabalhoado.
- Por enquanto prefiro ficar por aqui mesmo, na terra! Não tenho dúvidas de que se pegar nesse volante vai nos levar para o céu bem antes do tempo! – respondi. – Onde fica a sua casa, nome da rua, você se lembra?
- É coronel, não, não, é general, o cara foi promovido, é general! Como é mesmo o nome do general, Luiz, Luiz, Luiz do caralho, não lembro do restante da porra do nome enorme dele. A rua é curta, mas o cara tem um puta nome enorme! – resmungava ele
E lá estava eu, com um bêbado se debruçando nos meus ombros, falando coisas sem sentido, com o carro que ele não tinha a mínima condição de dirigir, e só me restando levá-lo para a minha casa. É nisso que dá Caio, sair procurando picas para preencher seu rabo assanhado que não consegue viver sem um macho do lado, remoía eu comigo mesmo. O Rogério abriu o vidro do passageiro, enfiou a cara no ar frio e pouco depois estava vomitando a enfadonha degustação de vinhos junto com a bile que tentava neutralizar o estrago que a bebida estava fazendo no fígado do infeliz. Eu mereço, eu mereço, eu mereço, repetia para mim mesmo. Arrastei-o para dentro de casa, pois ele nem mais se lembrava do próprio nome.
- Deixa eu comer essa sua bundinha tesuda! Venho sonhando com isso há dias! Você, você é um tesão, sabia! – exclamava ele, pendurando-se em mim e tentando me beijar com aquele hálito de vômito.
- Também sonhei com isso, mas você não tem condições de comer ninguém. Já lembrou do nome da sua rua? Faça um esforço! – eu queria me livrar dele, mas isso estava se mostrando quase impossível.
- Preciso mijar! – disse ele
- Espere, não tira a pica aqui, estamos na sala, não me apronte mais essa! – devolvi desesperado, levando-o até o banheiro para que não urinasse no chão da sala.
- Pega na minha rola! Sente como ela te quer!
- Isso está mais murcho do que uva-passa! Ela vai continuar querendo! Trate de mirar no vaso, em vez de ficar balançando esse bagulho de um lado para o outro! – protestei
Tirei-lhe os sapatos, desafivelei o cinto e o joguei sobre a cama no quarto de hóspedes, tão inconsciente quando os pacientes que eu anestesiava para as cirurgias. Fui para o meu quarto me xingando de tudo que é palavrão que me recordava. Passei uma noite insone, ouvindo os murmúrios que vinham do quarto ao lado, o desgraçado acordava de quando em quando e, mais perdido do que cego em tiroteio, dava para falar feito uma matraca, voltando a cair no sono num ciclo sem fim.
Na manhã seguinte, ele veio me encontrar na cozinha preparando o café da manhã, eu já estava atrasado para o trabalho e ainda precisei ver aquela triste figura completamente nu, pedindo uma toalha de banho.
- Fiz um papelão, não foi? Nem sei o que te dizer! – começou ele, enquanto se enxugava.
- Melhor não dizer nada, e se apressar, já estou bastante atrasado. – respondi
- Me desculpe! Não foi isso que eu tinha planejado! Vamos combinar outro dia e eu prometo te recompensar pela noite de ontem! – disse ele
- Acho melhor cada um seguir seu caminho, Rogério! Aceitar seu convite foi um grande engano! Estou fragilizado e não raciocino direito. Ficamos assim, ok! Obrigado pela aula sobre vinhos, mas no momento eu não estou preparado para me envolver com ninguém. – afirmei. Nunca mais o vi.
Meio ano depois, eu continuava solteiro, tinha parado de aceitar conselhos e sugestões dos amigos, e passado a ser bem mais seletivo e exigente com os eventuais flertes, antes de aceitar qualquer convite para um programa. Depois de tudo que aconteceu, comecei a sentir saudades do estrupício do Diego. Ainda estava puto com ele, mas não podia negar que ele tinha sido sempre sincero, até quando me traiu trepando com aquela mulher que, se fosse uma pessoa íntegra, não teria aberto as pernas para o primeiro sujeito que encontrou num bar. Ele podia ter seus defeitos, eu conhecia todos eles, porém não era um cara sem caráter, tanto que no mesmo momento em que pisou na bola comigo, confessou a verdade. Também não dava para esquecer que sempre foi carinhoso comigo, cuidava de mim, me protegia de aborrecimentos, era tarado pelo meu cuzinho esbaldando-se nele, mas nunca se gabando para quem quer que fosse do que fazíamos na cama.
- Você continua apaixonado por ele! – afirmou cabalmente meu amigo Danilo, quando me recusei a conhecer outro cara que ele quis me apresentar, enumerando as qualidades que o Diego tinha e os outros caras que conheci não.
- Claro que não! – respondi de pronto. – Sinto saudades, é isso! Aquele estrupício me traiu, lembra! Apaixonado, era só o que me faltava! – emendei
- Se não é isso, então por que não esquece dele de uma vez?
- Estivemos juntos por dois anos, e foram os dois anos mais maravilhosos da minha vida. Não tem como apagar o passado, assim de uma hora para a outra. – respondi
- É mais fácil você admitir que ainda gosta dele! E, dar uma nova chance a ele! Você fica feliz, ele fica feliz, e tudo acaba bem! Não complica, Caio! Não empata esse rabão com bobagens, a vida é curta, vá viver a sua ao lado dele! – sugeriu o Danilo. Era mais um conselho que eu não ia seguir, estava farto deles.
Enquanto eu dava ouvidos a amigos bem-intencionados, o Diego fazia o mesmo, aceitava encontros com pessoas que lhe eram apresentadas, experimentou se relacionar com mais mulheres para ver se gostava mesmo da coisa, ou se aquela experiência não tinha passado de uma simples novidade e, por isso, o deixado tão impressionado, refletia sobre o que o pai dele pensava sobre relacionamentos homoafetivos; mas com o passar do tempo, ele foi percebendo que nada se comparava ao que tinha comigo. Continuava tão só quanto eu, relembrando o relacionamento maravilhoso que tinha comigo.
Acabamos nos encontrando no casamento de um amigo. Fui preparado para o encontro que sabia ser inevitável. Nem ele nem eu podíamos deixar de comparecer, era um amigo muito querido e a garota com quem estava se casando também era uma boa amiga de ambos. Tinha tudo esquematizado na minha cabeça, iria cumprimentá-lo se ele viesse a falar comigo, seria gentil e educado, sem dar nenhuma demonstração de estar sentindo saudades dele. Até trocaria meia dúzia de frases sobre qualquer assunto banal, para ele saber que o fato de ele estar ou não na minha frente me era totalmente indiferente. Tentei arrastar o Danilo comigo, o que não só o deixaria enciumado, mas também evitaria que me abordasse. Não deu certo, o Danilo preferiu ir fazer uma trilha lamacenta de downhill com colegas de mountain bike nos quintos dos infernos do que ir ao casamento comigo.
- Você sabe que eu te amo, mas ir a uma porra de um casamento nem pensar! Ainda mais que nem conheço os infelizes que estão se amarrando e cometendo o maior erro de suas vidas. – sentenciou o Danilo ao me dispensar.
- O casamento é uma única vez, já essa droga de trilha você pode fazer qualquer outro dia. – insisti.
- Esquece, Caio! Nem que você me libere o seu cuzinho, casamento não! – respondeu o sacripanta.
- Pois esqueça que precisei de um favor e você me negou, quando nunca dei mancada com você! E o meu cu não está à venda, nem por um casamento nem por qualquer outra coisa, está entendendo. – retruquei
- Você é um chantagista barato! Precisa apelar? Quando foi que eu te neguei um favor? Estou negando esse, que você há de convir é uma merda. Para você não ficar dizendo que sou um cara ruim, vou te apresentar meu vizinho de apartamento, aposto que quando ele colocar os olhos em você vai topar ir até o inferno contigo. Ele se mudou há pouco, está fazendo de tudo para se enturmar, até a casamentos aposto que está aceitando ir. É um cara boa-pinta, pode confiar, meio atrapalhadinho, mas boa gente. Você sabe que eu não ia te colocar numa enrascada. – devolveu ele
- Nem pensar! Ainda estou traumatizado com o último dos teus amigos que me apresentou, dispenso mais um tarado querendo me foder. E o que você quer dizer com meio atrapalhadinho, o cara é um nerd, um debiloide, ou o quê? – questionei
- É meio perdido, foi isso que eu quiser. Confie em mim, ele é legal!
- Faz tempo que não confio mais em você! Deixa essa chatice de trilha e vem comigo, vai! Para se redimir de tudo que já me fez. – coagi, ao mesmo tempo que o deixava dar um tapa despudorado na minha bunda no vestiário vazio do centro cirúrgico. Nem isso o demoveu.
Conheci o tal do vizinho dele, era realmente um cara boa-pinta, e logo entendi o que o Danilo quis dizer com ele ser meio atrapalhadinho, o sujeito era tímido, gostoso, tesudo, mas tímido ao extremo, o que o fazia ficar travado. Para os meus propósitos serve, pensei com meus botões. Poso do lado de um cara bonitão, o Diego me vê bem acompanhado, se dá conta de que nem me lembro mais dele e não descobre o quanto lamento tê-lo escorraçado de casa. Meu esquema não tinha falhas.
Topei com o Diego logo de cara. Quando ele sorriu para mim com aquela carinha de cachorro abandonado, metade do meu esquema já tinha ido por água abaixo. Resolvi usar meu trunfo, apresentei o vizinho do Danilo, citando apenas seu nome e apoiando minha cabeça em seu ombro no momento da apresentação. O Breno congelou com minha atitude inesperada. O Diego foi puxando conversa com ele e, um quarto de hora depois, os dois tinham assunto para mais de semana. Outro tanto do meu esquema ruindo feito um castelo de areia. Depois o Diego estava usando uma camisa com a qual eu o havia presentado e na qual ele ficava simplesmente lindo, com o tronco másculo ressaltado pela cor e pelo caimento perfeito da camisa, como se fosse uma segunda pele; isso deixou meu raciocínio confuso, ou digamos, um tanto quanto prejudicado toda vez que eu olhava para ele e ficava me lembrando do quão delicioso era aquele peitoral avantajado. E aí, veio o pior.
- Você é tão lindo! – exclamou assim que me viu, e como fizera inúmeras vezes quando acordei ao lado dele e ele me observava em silêncio. – Sinto tanto a sua falta! Tenho tido noites péssimas sem o teu corpo ao meu alcance para me encaixar nele, e sentir seu perfume. – confessou ele. Pronto, esquema já era. Precisei fazer um esforço enorme para não me atirar em seus braços, pedir para ele voltar e confessar que ainda o amava. Como você pode ser tão idiota, Caio? Quem disse que eu sabia responder a essa pergunta?
Contudo, eu ainda tinha uma carta na manga, Breno, o bonitão que me acompanhava. Imediatamente voltei-me a ele, tentando ser displicente, afaguei seu rosto lentamente, sorri e pousei um beijo breve que apenas tocou seus lábios. O Diego presenciou a cena sem dizer nada, o vizinho do Danilo ficou atônito, embora não se esquivasse da minha abordagem. Só então me passou pela mente que o sujeito podia nem ser gay, e que deveria estar espantado com a minha conduta. Encarei-o para ver se descobria alguma coisa por trás daquele olhar, mas não cheguei à conclusão alguma. Devo estar fazendo papel de idiota, o cara deve estar achando que sou alguma espécie de maluco. Precisava levá-lo para longe dali, afastá-lo do Diego para poder me explicar, mas os dois conversavam como se fossem velhos amigos. Nada estava dando certo, como pude pensar em provocar ciúmes no Diego levando um desconhecido comigo para o casamento. Eu estava enfiando os pés pelas mãos, nem parecia eu, o cara centrado e reconhecido pelo bom-senso de sempre.
- Me perdoe, você deve estar achando que fiquei doido, não é? Não se sinta ofendido por eu ter me comportado como agora há pouco. Nem nos conhecemos direito e eu fui tomando liberdades que provavelmente você não gostou. – desculpei-me assim que alguém veio requisitar o Diego levando-o consigo.
- O quê, você estar me usando para fazer ciúmes naquele cara? Não esquenta! Sou heterossexual e não tenho nenhum problema de identidade, não vai ser um selinho e um afago que vão abalar a minha masculinidade. – respondeu ele, me deixando ainda mais constrangido. – Só que eu acho que a sua tática não está funcionando. – emendou
- É, eu também percebi que não. Ele já me esqueceu, deve estar em outra, nem se importando mais com o passado. – respondi desiludido
- Isso não é verdade! Ele está com ciúmes, mas está se controlando para te provar que é capaz de enfrentar a situação sem te criar nenhum constrangimento, armando uma confusão. Não sei o que aconteceu no passado de vocês dois, mas seja lá o que tenha sido, o sentimento dele por você ainda é o mesmo. Esse cara está apaixonado por você, a maneira como ele olha para você não nega. Homens são hábeis em camuflar seus sentimentos, mas o dele por você é tão forte que supera essa capacidade. – subitamente eu tinha alguém que me compreendia, e eu nem mesmo me lembrava do nome do sujeito. Que tipo de pessoa egoísta e mesquinha eu sou?
- Não, não pode ser! Você não conhece esse pilantra! Ele sabe ser dissimulado, sabe te trair e jogar isso na sua cara, sem nenhum arrependimento. – devolvi, para convencer a mim mesmo da minha tese furada.
- Mesmo assim você ainda o ama! Basta ver como você fica abalado perto dele. Parece haver uma energia entre vocês dois que solta faíscas quando se aproximam um do outro. – argumentou o Breno. – Não seria o caso de vocês tentarem se entender? De construírem um novo começo? – questionou.
- Ele nunca vai admitir que errou! Você não faz ideia de como esse homem pode ser petulante quando quer. Ademais, sempre acha que está com a razão, e eu detesto isso nele. – respondi. Breno, agora me lembrei do nome do bonitão, é Breno. E o Breno começou a rir.
- Falei algo tão engraçado? – indaguei, achando que ele estava debochando de mim
- Desculpe, mas não consegui evitar. Quando você diz ‘detesto isso nele’, na verdade está querendo dizer ‘amo isso nele’, pois até os defeitos dele te cativam, e isso só acontece quando se ama muito a pessoa, mesmo com suas imperfeições.
Sem o perceber, o Breno e eu estávamos nos tornando amigos. Ele parecia animado com essa perspectiva, era justamente o estava procurando desde que se mudara para a cidade, embora nunca houvesse imaginado que sua primeira amizade seria um gay o usando como muleta para provocar ciúmes no antigo namorado. Enquanto eu estava admirado com a sensibilidade e a franqueza de um cara como o Breno. Seríamos amigos, sem dúvida, apesar do início peculiar dessa amizade.
O Diego veio ao nosso encontro quando estávamos deixando a festa. Tomou minha mão entre as dele e a apertou. Ficou me encarando por alguns segundos antes de sugerir um jantar para algum dia da semana seguinte, me deu um beijo no canto da boca e nos desejou um “boa noite”. Fiquei sem palavras.
- Pode chorar se quiser! Vai te fazer bem! – disse o Breno quando eu o levava para casa e, após o silêncio que se mantinha desde o ‘boa noite’ do Diego. Deixei as lágrimas descerem pelo rosto, não adiantava mais fingir, nem esconder meus sentimentos.
- Obrigado por tudo, Breno! Me perdoe, mais uma vez, por ter sido tão babaca e ter te usado dessa forma. Não sei onde estava com a cabeça quando armei esse plano. – sentenciei ao chegarmos ao nosso destino.
- Eu já disse, não esquenta! Você estava usando as armas que achava que tinha para não se sentir ferido, mas acabou descobrindo que vocês ainda se amam. Agora é só tocar em frente, e reatar o quanto antes. – o cara era incrível, maravilhoso, e merecia um beijo que pousei tímido em seus lábios e que, no entanto, ele retribuiu colocando a mão na minha nuca e me puxando para junto de sua boca num beijo de tirar o fôlego de qualquer cristão. – É a primeira vez que eu beijo um homem, e foi muito bom, muito bom mesmo! – exclamou o Breno antes de descer do carro. Nesse exato momento eu soube o que ele quis me provar com aquele beijo.
Na sexta-feira seguinte, o Diego irrompeu sem aviso o consultório no meio da tarde entre uma consulta e outra, repetindo o que deixava a Fátima totalmente desconcertada, pois ele simplesmente ignorava os apelos dela para não me interromper sem ser anunciado ou ter uma consulta agendada. Assim que o vi passar pela porta e fechá-la atrás de si, estremeci da cabeça aos pés, só de imaginar a possibilidade de ter vindo me foder como das outras vezes. Pus-me em pé num salto, me preparando para a defesa, ele não ia me foder sem termos nos acertado, um mínimo da minha dignidade precisava ser salvo. Com esforço, eu ia conseguir não me deixar levar por aquela sua intrepidez apaixonante, pelos cabelos displicentemente desalinhados que o deixavam com uma aparência mais selvagem e sedutora, pela camisa de mangas enroladas até o cotovelo que o deixam com ar de informalidade, e pelo contorno saliente do caralhão dele junto à coxa direita que imediatamente deixou meu cuzinho piscando de tesão.
- Ainda é o dia da faxineira, como costumava ser todas as sextas? – perguntou ele, por algo que eu não esperava.
- Sim! – respondi confuso.
- Então o jantar é hoje, chego antes de ela ir embora e vou preparando o jantar até você chegar. Aprendi uma nova receita de aligot, você vai adorar, acompanhando teremos robalo com crosta de amêndoas e, para sobremesa, espumone de morango com chocolate. – revelou todo entusiasmado. Eu continuava tremendo, as pernas bambas, o cuzinho se revolvendo em espasmos, meu homem em casa novamente, fazendo nosso jantar como nos velhos tempos; o que mais eu podia querer da vida? – Combinado? Não se atrase, estou te esperando!
- Tá! – respondi. Antes de ele colocar um beijo na minha face, e partir, sem vir para cima de mim feito um lobo faminto como das outras vezes.
Nem percebi a Fátima entrando e me perguntando se podia deixar entrar o próximo paciente. Me sentei assim que o Diego saiu. Ele não me fodeu, e nunca eu desejei tanto que o fizesse. Ele só me beijou, no rosto! Desde quando ele ficou tão comedido? Das outras vezes que ele deixou o consultório eu estava com o cuzinho ardendo e inundado de porra, como eu sentia falta disso.
Ao entrar em casa e ouvir o tilintar de panelas e louças vindo da cozinha, bem como os aromas que me fizeram salivar, precisei respirar fundo para não chorar. Aquilo tinha acontecido tantas vezes, tão banalmente, sem que eu tenha me dado conta do quão importante essa cena era na minha vida. Apertei os olhos, passei as mãos diante deles para secá-los e fui ter com ele.
- Ah, que ótimo que já chegou! Bem a tempo! Pode ir tomar seu banho que na volta tudo estará pronto para jantarmos! – disse ele. Não consegui me mover. Queria ir até ele e o abraçar, cobri-lo de beijos, mas não conseguia dar um passo sequer. – Vamos, apresse-se! Que cara é essa? Se demorar muito passa do ponto! – emendou, sem olhar na minha direção.
- Tá! Já volto! – balbuciei. Estava chorando quando me enfiei sob a ducha. Não posso perder esse homem, ele é meu tudo, percebi.
Não conversamos muito durante o jantar delicioso que o Diego havia preparado, houve momentos de longos silêncios nos quais apenas nos entreolhávamos. Em momento algum tocamos no assunto que levou à nossa separação, aquela noite não podia ser estragada com o que já passou. Terminamos a noite com um café que servi na sala, antes de ele partir.
- Obrigado pelo jantar! – agradeci. – Estava tudo maravilhoso! Você sempre foi tão carinhoso ao me esperar com o jantar pronto, muito obrigado, Diego! – confessei.
- Gosto de te ver feliz! E estar com você me deixa mais feliz também. – confessou. – Te ligo durante a semana, talvez possamos ir tomar um café ou algo parecido, o que me diz? – completou, já à porta.
- Vou ficar esperando! – respondi, sentindo uma vontade enorme de pular no pescoço dele e pedir para que me levasse para cama e fizesse o que lhe aprouvesse com meu corpo sedento de tesão.
Esperei a semana toda pela ligação, mas ela não aconteceu. Eu não podia ser tão estúpido a ponto de não tomar uma iniciativa, e liguei para ele.
- Acabei me atolando de serviço, por isso não consegui te ligar. Vamos deixar mais para a frente, talvez na semana que vem estou mais livre, pode ser? – respondeu ele, na ligação breve que atendeu de dentro do carro.
- Combinado! Bom trabalho e boa semana para você! –eu ia emendar “estou com saudades”, mas ele podia entender isso como uma forçação de barra. – Beijão! – isso não teve como segurar.
- Beijão para você também! – disse ao desligar. Talvez fosse apenas mais um dos meus delírios, mas eu tive a impressão de que as coisas estavam se reconectando. Melhor não fantasiar, e esperar para ver, antes de sofrer mais uma desilusão.
O Diego me ligou alguns dias depois, me convidando a ir com ele para Paraty no Rio de Janeiro, num veleiro saindo da marina do Guarujá. Ele não me deu muitas informações, respondeu esquivamente a pergunta de quem mais participaria do final de semana, explicou que o veleiro era alugado e havia uma pessoa habilitada para fazer o trajeto em segurança, mas tudo era meio vago, como se ele não quisesse pormenorizar os detalhes. Refleti dois dias antes de lhe dar a resposta, mas acabei aceitando. Uma embarcação balançando ao sabor das ondas e provocando cinetose não era meu lugar preferido de estar, mas a companhia dele e de alguns medicamentos talvez compensasse a viagem. Era muito estranho ele me fazer aquele tipo de convite, nunca antes tínhamos planejado algo semelhante e, pelo que me constava, ele também não era nenhum aficionado pelo mar aberto, seu negócio se restringia à praia, quando muito a passeios de jetsky após a arrebentação das ondas. Quanto mais eu perguntava, menos informações obtinha. O Diego ia estar num short, no máximo com mais uma camiseta, e isso era motivo mais do que suficiente para eu querer estar ao lado dele. Seja o que Deus quiser, pensei.
Uns dois dias antes da viagem revirei umas gavetas do closet à procura das minhas sungas, afinal não se vai ao mar sem os trajes apropriados. Encontrei-as numa gaveta raras vezes aberta, junto com uma camiseta ralada e um moletom do Diego do Los Angeles Lakers com suas espalhafatosas cores amarelo e roxo. Por diversas vezes eu pedi que ele se livrasse daquelas peças desgastadas que costumava usar dentro de casa, mas ele sempre relutava, eram o xodó dele; até um dia desaparecerem das minhas vistas e das minhas reclamações. Agora eu compreendia o sumiço repentino delas. Levei ambas ao rosto para sentir se ainda havia o cheiro dele impregnado nelas, mas rescindiam a amaciante de roupas. Mesmo assim, as acariciei e apertei contra o peito, a saudade do Diego era algo indescritível, e senti os olhos marejarem. Eu amava tanto aquele bobalhão que ele nem fazia ideia. Deitei a camiseta sobre o travesseiro do lado vazio dele na cama, e a acariciei aquela noite até pegar no sono.
Chegamos à marina pouco depois do meio da tarde de uma sexta-feira de sol ameno e brisa úmida. O Diego se identificou na recepção e pouco depois um funcionário nos acompanhou até o Pier flutuante, parando ao lado de um suntuoso veleiro branco de linhas esguias e mastros altos. No convés do veleiro dois homens se encarregavam de checar a cordoalha, amarras, velame e outros itens que garantissem uma viagem tranquila e segura. Um deles logo veio se apresentar, Mario, o capitão. Era um homem de uns quarenta e poucos anos, alguns fios de cabelo grisalhos, o mesmo se repetindo em seu peito bronzeado, tinha olhos pequenos e escuros bastante vivazes, um sorriso econômico e amistoso, nos cumprimentou estendendo a mão vigorosa que ao se fechar na minha fez minhas juntas estalarem, o que me levou a concluir que não tinha noção de sua força. Ele nos informou que a partida podia acontecer dentro de uma hora e nos chamou para subir a bordo.
- Você não disse que teríamos companhia durante essa viagem até Paraty, onde está o restante do pessoal? – perguntei ao Diego.
- Um você acaba de conhecer, o outro é aquele ali e deve ter mais outro por aí. – respondeu o Diego, enquanto subíamos a bordo.
- De quem é esse veleiro? Você o alugou? O que você está aprontando, Diego? – questionei, achando aquilo tudo muito estranho.
- Vou te respondendo por etapas, pode ser? Agora vamos seguir o capitão e ver o que ele tem para nos orientar, OK? – respondeu
A primeira coisa que me chamou a atenção ao chegarmos ao deque principal, foi que havia um enorme piano de cauda protegido por uma cobertura de lona, perguntado, o Diego fingiu não me ouvir. O capitão nos levou para dentro, mostrou a sala confortável decorada com motivos náuticos, as duas cabines e a da proa, maior e com uma larga cama dupla cercada por escotilhas que deixavam a luz da tarde se infiltrar e banhar a suíte com uma luz amarelada.
- Essa é a cabine de vocês, as da popa no final do corredor são da tripulação. – disse o capitão. – Espero que esteja de seu agrado, conforme solicitou. – emendou dirigindo-se ao Diego, o que me fez entender que ambos estavam mancomunados e combinados com os detalhes da viagem.
- Gostou? – perguntou-me o Diego
- Sim, gostei! Mas você pode me explicar o que significa tudo isso? Estou ficando preocupado! – respondi
- Não precisa se preocupar, asseguro que teremos uma viagem bastante segura, vocês só precisam desfrutar a embarcação e o tempo, que tem previsão de dias com de céu limpo e sol, e noites amenas com um pouco de vento soprando de sudoeste. – afirmou o capitão, o que deu chance do Diego se esquivar da minha pergunta. Dirigi um sorriso acanhado ao capitão, torcendo para ele nos dar espaço para eu ficar a sós com o Diego e ele me explicar tudo aquilo.
O terceiro marinheiro chegou numa picape que estacionou próximo ao Pier e começou a descarregar algumas caixas que foram sendo levadas para dentro do veleiro. A movimentação não durou mais que vinte minutos, e o capitão veio nos comunicar que estava tudo pronto para zarparmos. Um pôr-do-sol alaranjado mergulhava no horizonte espalhando um rastro dourado sobre a superfície da água azul-marinho. Algumas gaivotas voavam em frente ao sol, outras, pousadas sobre os mastros e tetos das embarcações vigiavam atentas o movimento das ondas para ver se algum peixe subia à superfície. As embarcações ancoradas de cores salteadas, balançavam ao sabor das ondulações do mar, como se fossem seres vivos. Eu observava aquela calmaria contrastando com o rebuliço instalado no meu corpo, quando o Diego se aproximou de mim e cercou minha cintura com seu braço, o que fez aumentar minha inquietação.
- Será um final de semana só nosso! – exclamou, dirigindo seu olhar para o mesmo ponto distante do horizonte que eu.
- Para que tudo isso, Diego? – perguntei
- Para você saber que eu ainda te amo, que nunca deixei de te amar um só segundo nesse período que estivemos afastados. – respondeu ele, puxando minha cabeça sobre seu ombro.
- E precisava dessa extravagância toda? Não seria mais fácil apenas me dizer que me ama? Também nunca deixei de te amar e sinto a sua falta. – confessei
- É porque eu quero que essa viagem seja inesquecível para você! E, para isso, vale tudo! – meu ímpeto foi querer beijá-lo, mas ele ainda precisava me esclarecer muita coisa antes de eu me decidir sobre o nosso futuro juntos.
Os motores se encarregaram de nos tirar do Pier e levar a embarcação ao longo do canal de saída para mar aberto. Só então uma movimentação frenética dos dois marinheiros fez o velame subir pelo mastro e, ajudado pela brisa, dar mais impulso ao veleiro cortando a água com a proa e formando um longo rastro de espuma branca que ia se abrindo como um leque atrás da popa. Assim que os motores foram desligados, só restou o farfalhar das velas agitadas pela brisa num murmúrio contínuo e surdo, e o ruído da água deslizando pelo bojo. As primeiras estrelas começaram a pontilhar o céu que ia escurecendo gradualmente ganhando tons escuros. O Diego e eu ficamos parados junto a amurada por um bom tempo, curtindo aquelas paisagens que começavam a desaparecer à medida que escurecia, deixando apenas as luzes do litoral delineando seu contorno sinuoso.
Eu já estava me acostumando ao calor que vinha do corpo do Diego colado ao meu quando ele se afastou e caminhou pelo deque até o piano. O flanco do meu corpo que ele deixou a descoberto sentiu um leve arrepio de frio, e eu envolvi meu torso num abraço. As luzes penduradas na cordoalha que subia pelos mastros criavam longas sombras tremulantes no convés. Eu estava tão encantado com tudo aquilo que só pensava me lançar nos braços do Diego e confessar que não conseguiria mais viver sem ele. Com essa ideia ganhando corpo em minha mente, comecei a ouvir uma sequência de notas de uma balada que me era familiar, o Diego muitas vezes tinha reproduzido trechos dela no piano da sala de casa, como se ele estivesse procurando uma continuidade para eles tentando concatená-los. No entanto, agora a sequência soava harmônica num contínuo romântico de andamento lento. Ela não me lembrava nenhuma composição conhecida, e pensei desconhecer o artista que a compôs. Aproximei-me do piano e do Diego, que continuava dedilhando o teclado necessitando de pouco apoio da partitura manuscrita que estava aberta a sua frente. No cabeçalho de cada folha lia-se – Balada para Caio – com a letra inclinada do Diego. Desatei a chorar, cada nota entrava fundo no meu coração e na minha alma, olhei para o céu já todo estrelado e me debrucei sobre os ombros dele que, inabalável, continuava tocando a música que havia composto para mim. Ao terminar, ele se levantou da banqueta, enfiou uma mão no bolso da bermuda, tirou dele uma caixinha e a abriu diante dos meus olhos, duas alianças reluziam dentro dela.
- Quer casar comigo? – perguntou ele, me encarando com o mais doce e transparente olhar que já tinha visto. – Eu te amo, Caio!
- Quero, quero sim! Foi o que sempre quis! – respondi, sem conseguir controlar o choro e as lágrimas. – Você não imagina o quanto eu te amo, Diego! – emendei, quando me foi possível balbuciar algumas palavras.
Ele colocou uma das alianças no meu dedo e me deu a outra para que eu fizesse o mesmo, depois me abraçou e me puxou com força para junto dele, colando sua boca à minha num beijo que não queria findar.
- Me perdoe por ter sido tão babaca, por ter querido experimentar algo novo no sexo, por achar que você não me dava o devido valor. Eu tinha tudo ao seu lado, o cara mais doce, amoroso e gostoso que alguém podia desejar, o cara que sempre me deu o melhor sexo que um homem podia querer, o cara que sempre me idolatrou, e eu, num momento de hesitação e fraqueza, achei que encontraria essas coisas todas facilmente por aí. Quase arruinei o nosso amor por algo sem o menor valor. É você quem eu quero e preciso, é você quem amo como jamais amei alguém na vida, é você minha única e grande paixão. – proferiu ele, abraçado a mim e contornando meu rosto com delicadeza com as pontas dos dedos.
- Vamos colocar uma pedra sobre esse assunto, combinado? Tive tanto medo de te perder. Nunca mais duvide do quanto eu te amo, Diego! – afirmei
A noite estava agradável, a brisa ainda quente envolvia nossos corpos quase nus com um roçar morno, enquanto jantávamos sob a luz de velas num canto aberto do deque. O veleiro ainda deslizava sobre o mar calmo, do restante da tripulação não se notava a presença. Tomamos uma última taça de Prosecco nas espreguiçadeiras da popa, de mãos dadas, admirando o céu onde uma lua em crescente, vez ou outra, era coberta por uma nuvem passageira; ao longe, à bombordo, surgiam, de quando em quando, aglomerados de luzes de cidades ou vilas; à estibordo só havia a negritude profunda do oceano.
Era cedo quando nos recolhemos à cabine, não foi o sono que nos conduziu até lá, mas o tesão que fervilhava em nossos corpos. Não íamos dormir, íamos fazer amor com toda a intensidade de nossos corações, pois era disso que nos ressentíamos.
Eu ainda escovava os dentes quando o Diego se aproximou por trás e envolveu meu torso em seus braços, beijando meu ombro e me dando uma encoxada vigorosa, na qual senti sua ereção. Após enxaguar a boca, inclinei a cabeça para trás sobre o ombro dele e franqueei-lhe o pescoço. Ele o lambeu, mordiscou suavemente a pele e me deu um chupão como se quisesse me devorar. A barba dele me espetava, eu senti cócegas e me agitei tentando escapar, enquanto ele arriava meu short e esfregava o cacetão, já liberto, nas minhas nádegas. Um frenesi que se formou na minha nuca desceu ligeiro e eletrizante pela minha coluna até se concentrar no meu cuzinho, o que instintivamente me fez empinar a bunda contra a virilha dele.
- Você é meu! – sussurrou ele, reforçando as encoxadas
- Sou todo seu! – devolvi arfando de tão excitado, o que ele comprovou acariciando meus mamilos com os biquinhos completamente salientes e rijos.
Eu me virei para ficar de frente para ele e o beijei, capturando seus lábios com os dentes e mordendo-os sutilmente, até que o tesão que o consumia fizesse com que forçasse sua boca contra a minha e enfiasse a língua dentro dela. Minhas mãos estavam espalmadas sobre seu peito peludo e o afagavam sem pressa, as dele deslizavam sobre meus flancos, costas e desciam sorrateiras até a bunda, agarrando e amassando minhas nádegas firmes. Fui me ajoelhando diante dele, as mãos continuavam espalmadas e desciam sobre o ventre trincado, as coxas grossas e peludas onde me firmei antes de pegar no cacetão à meia-bomba com a cabeçorra quase toda exposta e do qual emanava o cheiro másculo do Diego. Dirigi meu olhar na direção do rosto dele e fui aproximando a boca da caceta que dava curtos pinotes a cada vez que chegava um jato de sangue que a fazia endurecer. Delicadamente encostei os lábios na glande melada, fazendo o Diego soltar um sopro forte e rápido por entre os dentes, e agarrar meus cabelos. Lentamente fui deslizando os lábios até a cabeçona toda estar na minha boca, quando dei a primeira chupada, sorvendo o pré-gozo que ia se mesclando à minha saliva. Com movimentos demorados fui contornando o caralhão grosso, lambendo, chupando e mordiscando a pele quente dele. O Diego havia lançado a cabeça para trás, gemia entre dentes, e mal conseguia ficar parado, pisando o chão com força ao trocar os pés como se estivesse trotando. Enquanto eu ia enfiando a pontas dos dedos nos densos pentelhos dele, seguindo rumo ao sacão, ele ia afastando as pernas para me liberar o acesso. Tateei e massageei suavemente cada uma das gigantescas bolas que pendiam pesadas dentro do sacão globoso, o Diego bufava como um touro excitado. Trabalhei os genitais dele por mais de um quarto de hora num boquete generoso que ia me inebriando com o pré-gozo farto que fluía da cabeçorra volumosa, até ele não aguentar mais aquela provocação demorada e me lançar sobre a cama com o olhar injetado e cobiçoso escrutinando meu corpo nu que se movia languida e propositalmente para atraí-lo. Ele se atirou sobre mim, entrando em meus braços e pedindo pelos meus beijos. Depois, foi percorrendo o caminho entre a minha mandíbula e meus mamilos, com beijos úmidos e chupões que iam marcando a pele lisa e alva com seu desvario alucinado. Enquanto ele chupava e cravava os dentes nos meus mamilos eu me contorcia todo debaixo dele, o que fazia nossos corpos se entrelaçarem como numa dança de acasalamento. Aquele caralhão resvalando nas minhas coxas estava me matando de tanto tesão, eu o queria dentro de mim, e fui me virando até ficar de bruços debaixo do Diego. Ele sabia muito bem o que eu queria empinando a bunda para ele da forma lasciva e provocante como o fazia. Seus beijos e mordiscadas foram descendo pelas minhas costas até chegarem às nádegas. Ele as mordeu até me ouvir gemer, ia das laterais para o centro, rumo ao rego, que abriu com ambas as mãos afastando os glúteos polpudos até visualizar no fundo lisinho dele a rosquinha rosada e inquieta que piscava para atentá-lo. Ele enfiou a ponta da língua na fendinha estreita e pregueada, me fazendo soltar um gemido e me obrigando a agarrar a superfície do colchão. A língua devassa se movendo insistentemente sobre a minha rosquinha anal estava me levando a loucura, ele precisou me conter porque eu não conseguia manter o corpo parado, me agitando de tanto tesão. O Diego voltou a montar em mim, senti a pincelada da jeba deslizando pelo rego e parando exatamente sobre meu cuzinho pregueado, interrompi a respiração, segurando o ar e esperando a penetração, foram segundos angustiantes de espera, uma eternidade frente a necessidade que me consumia. Ele deu uma primeira forçada, mas eu estava tão excitado e ao apreensivo ao mesmo tempo que meus esfíncteres se travaram antes da cabeçorra passar por eles.
- Vai devagar, Diego! Ninguém mais passou por aí desde a última vez que você me pegou. – supliquei, ciente do quão dolorosa era a penetração daquela rola grossa quando tão afogueada pelo desejo.
- Assim está bom? – perguntou ele, no mesmo instante eu que soltei um gritinho pungente, ao sentir minhas pregas se rasgando quando a cabeçorra deslizou para dentro do meu cuzinho.
Instintivamente meus esfíncteres travaram de novo, apertando o pauzão dele na minha musculatura anal, o que lhe deu um prazer que há muito não sentia.
- Ah, Caio! Nada se compara ao teu cu apertado, como senti falta dele, de você me encapando a pica com tamanho carinho. – ronronou ele, enquanto esperava eu relaxar o ânus para ele poder continuar enfiando o cacetão em mim.
Eu rebolei para descontrair e relaxar a musculatura anal, e ele foi se aproveitando para entrar em mim cada vez mais fundo, deslizando para dentro com impulsos abruptos e curtos até o caralhão desaparecer por completo dentro do meu cu. Todos aqueles meses de abstinência cobraram seu preço, o vaivém cadenciado com o qual ele me fodia ia esfolando minha mucosa anal e provocando um ardor que se espalhava pelas minhas entranhas; mas isso não impediu que eu desejasse aquele macho como nunca desejei outra coisa na vida. Depois de um tempo bombando meu cu naquela posição, o Diego sacou a pica me virou de costas, se enfiou entre as minhas pernas abertas e fletidas e tornou a meter no meu cu, dessa vez metendo metade do pauzão de uma só vez, o que me fez soltar outro gritinho pungente e me agarrar aos ombros vigorosas dele.
- Ai, Diego! A tripulação vai acabar ouvindo meus ganidos, vai devagar! – pedi, em meio a respiração agitada e ofegante
- E você acha que eles não sabem o que estamos fazendo aqui? Eles sabem que esse charter tem a finalidade de eu te reconquistar, de reconquistar meu marido, o amor da minha vida. – respondeu ele, metendo o restante do cacetão em mim.
Ele foi me estocando o cu, acariciando meu rosto e o beijando, enquanto eu erguia minhas ancas para o pauzão dele entrar cada vez mais fundo, e o puxava para dentro dos meus braços cobrindo-o de beijos libidinosos e carinhosos. Ao anunciar que estava prestes a gozar, precisei me controlar, segurando o gozo que já se fazia presente no baixo ventre e vinha emergindo como uma onda determinada.
- Ai, ai Diego! – gani devido as duas últimas estocadas potentes que ele me deu e o gozo que não conseguia mais reter.
Meu ganido o fez gozar e, mais uma vez estávamos ambos esporrando ao mesmo tempo, naquela comunhão de sentimentos que nos unia, ele se despejando todo no meu cuzinho lanhado e eu ejaculando sobre a minha barriga.
- Meu amor! – suspirei exausto, acariciando o rosto viril e suado que me encarava transbordando felicidade e amor.
- Te amo tanto, Caio! – respondeu ele, contornando carinhosamente meus lábios com as pontas dos dedos.
Passamos a noite e a madrugada fazendo amor numa sequência infindável de posições saciando nossos corpos e nossas almas. Havia passado do meio da manhã quando subimos ao convés, o veleiro zingrava firme e sereno sob mais um dia ensolarado. A tripulação nos cumprimentou com discrição e conivência, procurando em nossos semblantes a felicidade que se consumou naquela cabine que ainda deveria estar impregnada do cheiro de sexo recente.
O Diego voltou para casa, trazendo durante a semana, aos poucos, suas coisas de volta. Não há palavras para descrever o quão feliz fiquei por ter meu marido de volta, preenchendo todos aqueles vazios que sua ausência dolorosa tinha deixado. Fizemos amor todas as noites e, durante o dia, no trabalho, nos perguntavam se não estaria na hora de tirarmos umas férias, dadas as nossas caras cansadas, o que nos fazia sorrir de felicidade.
- Esse cara não toma jeito, doutor Caio! Eu já pedi para ele ligar antes e agendar a consulta, mas ele não me dá ouvidos, aparece de repente e assim que um paciente sai ele invade a sua sala mesmo eu tentando impedir. O que esse sujeito tem que não pode esperar como os outros pacientes? – questionou-me a Fátima na primeira tarde em que o Diego voltou a aparecer no consultório para me enrabar.
- Fique tranquila! Você não vai conseguir discipliná-lo! Ele tem um problema que, aos sintomas repentinos e incontroláveis se manifestarem, precisa da minha ajuda. É por isso que ele aparece assim sem agendar e nessa urgência toda. – respondi, ela me encarou não fazendo ideia de qual doença podia ser essa cujos sintomas se curavam após uma consulta. Eu precisei segurar o riso.