Sinopse: Uma pessoa em especial é convidada para passar o feriado de Carnaval junto de cinco jovens cujos preparativos para a viagem começam a todo vapor, ainda em meio às aulas.
Serão quatro dias de Sol, praia e piscina... A casa de praia de um casal famoso muito querido pelo público, na badalada cidade, promete muita diversão. Mas terá apenas diversão?
***
Estávamos no início da última semana do primeiro mês das aulas. Aquela que, no sábado seguinte, seria o início do Carnaval. E eu não teria como dizer não ao convite da Gabriele para passar os quatro dias de folia em Búzios, o famoso balneário na Região dos Lagos. Melissa também voaria no meu pescoço se eu não fosse viajar.
A casa comprada pelos pais dos meus dois amigos era enorme. Tive a certeza depois que vi as fotos que a Gabriele me passou por WhatsApp. Era tão grande que poderia ser facilmente comparada a uma pousada e custei a acreditar quando me disse a quantidade de quartos que ela possuía. Eram mais de cinco. Oito talvez... Bom, mais do que parecer uma pousada, a casa era linda demais. Linda a ponto de não ter nenhuma vontade de sair para fazer passeios pela cidade. Algo impossível quando se tem uma amiga influencer, cheia de seguidores e filha de famosos. Com certeza, Gabriele teria conteúdo de sobra para produzir e postar em quatro dias.
A sala de aula já estava vazia e a agitação no corredor era praticamente nenhuma. Mesmo assim, eu ainda estava sentada em minha carteira e com a mochila em cima da mesa, devidamente pronta, aguardando para ir embora. Eu poderia ter saído, se não fosse o fato de ver o Eric também sentado à sua mesa, tentando ser convencido a ir passar o Carnaval na casa de praia de uma das suas alunas. Mas não qualquer aluna.
Gabriele estava em pé ao lado da mesa dos professores e junto dela, Patrick e Frederik.
- Mas você não contou que os seus amigos professores da faculdade também estarão em Búzios? Então, você poderia ir também e podíamos nos encontrar lá! Vamos!
- Senhorita Fernandes - ele suspirou - Não é tão fácil assim. A casa que os professores alugaram, as despesas, foi tudo dividido. E eu não participei disso. Por mais que a Luciana esteja com eles, não é certo eu aparecer do nada sem ter entrado com algum dinheiro.
- Viu só?! Isso significa que é mais um motivo pra você ficar com a gente na nossa casa!
- Verdade, professor! - o irmão gêmeo concordou - Vai ter quarto sobrando.
Me levantei da minha mesa, pondo minha mochila nas costas e me aproximei deles em silêncio para prestar atenção na conversa. Estava curiosa em saber se eles iriam conseguir convencer o Eric de viajar.
- Mas e os pais de vocês? Com certeza eles querem fazer essa viagem para descansarem.
- Sim, mas a casa nem vai estar cheia de gente.
- De amigos, só iremos eu, a Nívea e a Melissa, professor - foi a vez do Frederik falar - Vai ser tranquilo.
Eric continuava pensativo. Eu entenderia perfeitamente se ele recusasse o convite insistente da Gabriele para ir viajar pois já conhecia bem os motivos. Mesmo assim, eu ainda tinha uma pontinha de esperança de ele se render e aceitar.
- Vamos combinar o seguinte, professor: Eu converso com os meus pais hoje e pergunto se você pode passar o Carnaval na nossa casa. - Patrick fez o acordo - E aí você pensa. Vamos viajar no sábado de manhã bem cedo. Acho que de madrugada.
- Entendi.
- Bom, eu... - minha voz travou. Era sempre assim nas aulas dele. E isso porque ele já frequentava a minha casa como amigo da família.
- Fala, Nívea! - Frederik me incentivou a prosseguir - O que você acha?
- Bom, eu só acho que... - todos me olhavam com atenção - Se os quatro dias forem muito, você pode viajar na segunda-feira do Carnaval e voltar na quarta.
- Isso! Eu concordo com a Nívea! - Gabriele sorriu.
Eric olhou pra mim e continuou pensando. Meu coração me traindo como sempre, acelerando as batidas com aqueles olhos azuis na minha direção mesmo que eles estivessem discretos, sem parecer que estavam me devorando.
- Me passa o número do seu celular, senhor Fernandes! - Eric pegou o seu aparelho que estava na mesa e desbloqueou a tela.
- Show! Passo agora.
- E também o endereço da casa.
- Eu posso te passar o meu número também, professor!
- Ficarei em contato com o seu irmão, senhorita!
- Não se mete aqui, não! - Patrick retrucou para a irmã, que fez cara feia, enquanto mostrava a tela do seu aparelho para o Eric - Eu e o professor que vamos combinar tudo.
- Então você aceita o convite? - Frederik quis saber.
- Ainda não disse nada - ele riu e ironizou, terminando de salvar o número no seu aparelho - Apenas pedi uma forma de ficar em contato com um de vocês.
Eric iria mesmo para Búzios? Seria perfeito demais ainda que não pudéssemos ficar juntos de fato. Só de estar perto dele eu sentia meu coração aquecer. Sorri discretamente e disfarcei como pude a euforia que tomava conta de mim.
- Patrick, quero que você converse com os seus pais caso eu decida ir. Do contrário, nada feito.
- Hoje sem falta! - ele enfatizou e guardou o seu celular na mochila.
- Podemos ir? - Eric se levantou da sua mesa e pegou sua mochila - Acho que somos os únicos que faltam sair do colégio. - ele brincou e todos riram.
Descemos para a saída e vimos o Evandro nos esperando na calçada.
- Estranhei a demora de vocês.
- Ah Evandro, então. O Professor Schneider vai viajar com a gente! - Patrick tomou a palavra.
- Mesmo? - ele arqueou a sobrancelha demonstrando surpresa ao ouvir.
- Eu não decidi nada ainda, Evandro - Eric rebateu, corrigindo seu aluno - Vou pensar por esses dias e talvez eu vá apenas na segunda feira. É claro com o aval dos donos da casa.
- Certo. O William e a Natália não farão nenhuma objeção, a casa é enorme a ponto de vocês se perderem.
- Também acho - Gabriele concordou, entrando no carro.
- Você conhece a casa, Evandro?
- Sim, senhorita Martin. Eu estive lá no final de Janeiro, logo que a reforma terminou, para conhecer a casa. Fiquei dois dias.
- Ah, legal.
- E professor... - o guarda-costas se virou para o Eric - Pretende viajar sozinho?
- Sim. Por quê?
- Não, por nada - ele respondeu rapidamente - Curiosidade apenas.
- Bom, eu já vou indo.
- Vou torcer para que você consiga ir, professor. - Patrick disse com euforia.
- Vamos ver. - ele se voltou para mim - Tchau, senhorita. Envie lembranças aos seus pais.
- Tchau, professor - sorri - Envio sim.
Eric se despediu de todos e seguiu em direção ao estacionamento. Também estou torcendo para que você vá, Eric... pensei, logo que entrei no carro.
***
Era uma situação engraçada na casa dos nossos vizinhos e amigos. Havia apenas seis pessoas, mas falar enquanto todos me olhavam me deixava um pouquinho nervosa.
- E foi essa a orientação que o Evandro me passou quando estávamos voltando para casa depois da aula, amiga. Temos que fazer a nossa mala de viagem até quinta-feira porque na sexta, depois que deixar o Frederik, o Patrick e a Gabi no colégio, ele vai direto pra Búzios levar algumas coisas para a casa.
- E então ele leva as nossas malas também?
- Isso mesmo! - confirmei. Minha mãe me abraçava por trás como sempre e me beijou os cabelos.
- Vou preparar uma necessaire só com protetores solares para a sua pele, ouviu?
- Mas mãe, só serão quatro dias...
- Não tem mas nem meio mas! Você sabe o quanto eu tenho pavor de queimadura e quero te ver protegida do Sol.
- Eu fico tranquilo em saber que você e a Melissa vão viajar e estarão entre amigos e sob a supervisão dos pais e da avó - meu pai comentou - E mais tranquilo ainda que o professor de vocês também irá.
- Oi? - Felipe que estava no sofá com uma apostila na mão, parou a leitura de imediato.
- Como é? - Melissa cruzou os braços e ficou me encarando com a sua inevitável sobrancelha levantada.
- Papa, ainda não está certo do Professor Schneider também ir. A Gabriele só faltou implorar e mesmo assim, ele disse que ia pensar. Foi só isso, gente.
- Sei... - o irmão mais velho me olhava com ironia.
- Então tá tudo certo! - Melissa vibrou - Vou poder ir não é, mãe?
- Eu não decido mais nada, Melissa. - Dona Cecília disse enquanto assoprava um chá, sentada na mesa de jantar - Você sabe muito bem que a sua situação mudou desde o ano passado. Agora você está nas mãos do Henrique.
- Claro que você pode ir, Melissa - era certeza de que o seu padrasto iria permitir - Mas você já sabe, não sabe?
- Já sei - ela revirou os olhos - Quer que todas as notas do meu primeiro boletim do ano estejam acima de oito.
- Exatamente! E do contrário?
- Nada de aumento de mesada.
- Eu sempre soube que você era uma menina inteligente - ele brincou e todos riram.
- Droga - ela fechou a cara mas segundos depois se virou pra mim - Mas então, Ni, quando você vai começar a arrumar sua mala?
- Já comecei hoje logo depois que terminei de revisar e estudar as matérias das aulas. Até quinta-feira vou arrumando ela aos poucos.
- Ah, poxa mas era pra eu e você arrumarmos as nossas malas juntas!
- Meli, se eu não estudasse o dia inteiro podia ser assim mas eu só tenho a parte da noite.
- Tá legal - ela me pegou pela mão - Vem comigo e me ajuda então a arrumar com o básico!
- Nós já vamos pra casa, mon chère - meu pai me beijou no ombro - Não demore muito. Amanhã você acorda cedo.
- Tá bom.
- Eu ajudo vocês! - Felipe se levantou do sofá e nos seguiu corredor adentro enquanto meus pais se despediam dos pais dos meus amigos.
Melissa me levou até o seu quarto, entramos os três e ela fechou a porta, trancando com chave.
- Agora você vai me contar em detalhes esse babado de milhões!
- O Eric vai ou não vai viajar com vocês, Nívea? - Felipe também estava curioso.
- Foi como eu disse na sala, o Eric não confirmou nada. Ele e o Patrick que trocaram telefone e vão combinar tudo entre eles.
- Bom, não precisamos ser gênios aqui para saber que se ele for só estará indo por sua causa, certo?
- É, eu sei, Meli. Mas se ele não for eu vou entender. O Eric conversou comigo e me disse que até a metade do ano vai ser complicado pra ele essa questão de dinheiro.
- Eu disse que não precisava me reembolsar o valor das passagens da viagem mas ele faz questão.
- Sim, ele me contou tudo.
- E me pagou a primeira parcela este mês.
- E se ele for também, só vai ficar dois dias.
- Ah que pena - a ruiva lamentou - Mas é melhor do que não ir. Então vamos lá - ela foi até o seu guarda-roupa e abriu a pequena porta na parte de cima, puxando sua grande mala de viagem na cor amarela, com estampas de margaridas brancas e jogou em cima da cama - O que você colocou na sua mala?
- Ah, por enquanto só coisas de praia. Biquínis, dois pares de chinelo, toalhas de banho...
- E quantos biquínis você vai levar?
- Vou levar no máximo uns três, Meli. Até porque a blogueira famosa não somos eu e nem você.
- Tá bom, então eu vou levar três também - abriu uma das gavetas e pegou os biquínis, colocando na mala.
- Nada de ir com biquínis indecentes! - o meio irmão provocou e riu, piscando pra mim.
- E você não enche a droga do meu saco!
- Esse ano você não vai viajar, Lipe?
- Desta vez não. Comigo vai ser o inverso. Enquanto vocês viajam eu vou ficar pelos blocos daqui da cidade, já combinei com os meus amigos da faculdade que mantenho contato.
- Quantos protetores de Sol você vai levar, amiga? - Melissa me perguntou enquanto ajeitava os dois pares de chinelos em um canto da mala.
- Quem vai arrumar vai ser a minha mãe. Mas leva os seus também e a gente divide.
- Beleza!
- Vocês dois nem vão conseguir se despedir, não é?
- Não, Lipe. Na sexta-feira, saindo do colégio, eu vou direto para casa da Gabi e do Patrick. Vamos sair muito cedo de lá.
- Saquei.
- Mas eu vou enviar uma mensagem pra ele. E eu acho melhor não perguntar se vai viajar ou não.
- Tá mas e se ele for? - Melissa parou o que fazia e me encarou de braços cruzados.
- Ah... - senti meu rosto esquentar - Eu vou adorar ficar apenas perto - e suspirei - Eu tenho que ir agora. Já sinto o sono me dominar.
- Tudo bem, mas eu vou te enviar mensagens e fotos da minha mala pela semana. Se você perceber que falta alguma coisa, me fala.
- Pode me enviar, eu vou fazer a minha aos poucos e com sorte pode ficar pronta até antes.
- Combinado!
- Tchau, gente!
- Tchau, Nívea. Boa noite - Felipe me deu um beijo na testa.
Me despedi deles e fui para casa. Ao chegar no meu quarto, a minha mala cor de rosa estava aberta no chão, ainda com poucas coisas para a viagem.
Os dias até quinta-feira se passaram normalmente. Minha mãe montou e me entregou uma necessaire de tamanho médio com todos os tipos de protetores e hidratantes possíveis para a pele. Achei exagerado mas não disse nada. Era o que faltava para a minha mala ficar devidamente pronta. Naquela manhã bem cedo, ao invés de ir para o colégio com o meu pai, eu e a Melissa ficamos esperando o Evandro junto com os meus amigos no jardim do prédio para buscar as nossas malas. Aproveitei e fui de carona com eles para a aula e a minha amiga seguiu para o colégio dela com o padrasto e a mãe.
Na mesma noite, arrumei a minha mochila média que eu uso para viajar com duas mudas de roupas e mais uma de dormir para passar a noite de sexta na casa dos meus dois amigos e enviei uma mensagem para Melissa dizendo que seria bom fazer o mesmo já que as nossas malas de viagem foram primeiro que nós duas para Búzios. De repente, eu tive uma ideia e com isso precisava falar com o Frederik.
Sentei na minha mesa de estudos e peguei meu celular, desbloqueando a tela e enviei uma mensagem pra ele.
Ocupado?
Poucos minutos depois, ele me retornou.
Oi Nívea, fala aí!
Como o assunto era um pouco longo, decidi enviar um áudio.
▶️ Então Frederik, queria te pedir uma coisa. Amanhã depois da aula, o Evandro só vai passar aqui no prédio para buscar a Melissa não é? Teria como você falar com ele e perguntar se eu podia subir rapidinho apenas para trocar de roupa e pegar minha mochila para passar uma noite? Eu não queria ir pra casa da Gabi de uniforme, sabe? Não vou demorar mais do que quinze minutos. Tem problema pra ele?
Entendi, vou falar com ele agora. Espera aí rapidinho!
Tá bom
Depois do retorno do Frederik e enquanto eu esperava ele ir falar com o Evandro, havia uma mensagem do Eric.
Ansiosa para a viagem?
Muito! Tô aqui com o Frederik resolvendo um assunto.
🙄
Hahhahaahah ah, prince, não é nada demais! É sobre a viagem mesmo! ❤
Sei...
Ciumento.
Gostosa.
Vc vai conseguir ir para Búzios também?
"Você disse que não ia perguntar nada, Nivea!"
▶️Eu ainda estou vendo algumas coisas, cheguei em casa agora... A sua ideia foi muito boa, de que eu vá e fique apenas dois dias. Mas não posso ir assim.
Eu sei. Se vc não puder ir eu vou entender...😊
▶️Vamos ver como vai ser. O bom é que na mesma noite o Patrick cumpriu o que disse e conversou com os pais. O William entrou em contato comigo e agora estou falando direto com ele. Então eu fico mais tranquilo pra decidir se eu vou ou não.
Tá bom. Se vc não for, pelo menos vai descansar.
Por esse lado vai ser bom. Preciso ir ma petite. Amanhã começa tudo de novo.
Ok. Amanhã é o último dia.
Sim, rs... Beijos, Je t'aime ❤
Je t'aime aussi ❤
Encerrei a conversa e enfim, tive a resposta do Frederik.
Nívea, o Evandro disse que não tem problema. Ele espera vc subir e trocar de roupa!
Ah, que bom! Merci, Frederik e agradece a ele por mim.
Fechou, eu falo com ele. Boa noite.
Pra vc tbm😊
***
Tudo aconteceu como eu havia planejado. Saímos da aula e quando cheguei no prédio, Melissa me aguardava no jardim. Subi rapidamente, tirei o meu uniforme e peguei o primeiro vestido que vi no guarda-roupa. Eu não podia esquecer nada. Peguei meu celular e minha bolsa de mão, que está sempre com o essencial, de dentro da minha mochila do colégio e pus naquela que preparei para a noite antes da viagem e a coloquei nas costas. Depois de ver se estava tudo em ordem pela casa, desci de volta e partimos.
Eu sempre senti que a casa do casal mais famoso do jornalismo do país tinha um clima mais familiar e acolhedor. E talvez fosse por isso que eu nunca vi Natália Fernandes e William Medeiros como pessoas famosas, mas apenas como os pais dos meus amigos. Era diferente da casa do Frederik. Por mais que Simon e Denise fizessem de tudo para que eu me sentisse à vontade com eles, as coisas ficaram estranhas depois do que descobrimos.
Pairava na casa da Família Bertrand a impressão de que algo ruim aconteceria na minha presença e minha mãe estava com a razão por se preocupar no ano passado com as minhas idas para lá.
- Chegamos, família! - Patrick anunciou em voz alta assim que a porta do elevador se abriu na sala de estar.
Para minha surpresa, Natália e William estavam em casa sentados no sofá e vieram carinhosamente falar comigo e com a Melissa.
- É tão bom vê-las novamente! - a mãe nos cumprimentou com dois beijos no rosto - Mais ainda porque irão viajar conosco.
- Desta vez não podíamos recusar... - sorri.
- Como vão meninas? - o pai deixou um beijo no topo das nossas cabeças.
- Eu vou bem - Melissa respondeu sorridente - Pensei que hoje estariam no jornal.
- Pedimos o dia de hoje de folga para organizarmos tudo para amanhã.
- Eu tô indo tomar um banho e trocar de roupa - Gabriele tirou a mochila dos ombros, carregando no colo e seguiu pelo corredor para o seu quarto.
- Já voltamos! - o irmão fez o mesmo.
- Mas venham, sentem-se! - Natália nos pegou pela mão, levando até o sofá onde nos sentamos - Primeira vez de vocês em Búzios?
- Eu fui com a minha mãe há muito tempo e ficamos só um fim de semana. Depois eu não voltei mais - disse a ruiva.
- Eu nunca fui. Só conheço pelas fotos na Internet. Como nas férias eu vou sempre para a casa dos meus avós, nunca tive a chance de ir para a Região dos Lagos.
- Ah, vocês vão adorar! E com certeza vão se perder pela casa.
- Eu fiquei impressionada com o tamanho.
- Depois de ouvir a movimentação no corredor, vim aqui só para ver as minhas meninas favoritas!
Olhamos para o lado e então Dona Raquel apareceu sorridente na sala usando um vestido longo e bem solto que parecia confortável para se ficar em casa.
- Oi vó! - Melissa se levantou e deu abraço apertado na avó dos irmãos.
- Oi, vó Raquel - fiz o mesmo que a minha amiga e a abracei, formando um abraço triplo.
- Senti sua falta no aniversário do Frederik, Nívea!
- Eu estava no meio da neve e voltando para Lyon naquele fim de semana.
- Eu sei, foi uma festa tão boa... Tirando algumas coisas que eu gostaria de não ter presenciado. - lamentou.
- Mamãe!
- Estou falando a verdade, William!
Eu e Melissa nos olhamos e entendemos na hora o que estava por trás daquele rápido desabafo da Dona Raquel.
- Tudo bem, gente! - Natália acalmou a leve situação de tensão entre mãe e filho - Posso contar para elas, William?
- Conta. Elas com certeza vão gostar.
- Vocês por acaso já passearam de helicóptero?
- Não - mais uma vez eu olhei para a minha amiga mas desta vez sem entender. Melissa ficou tão confusa como eu.
- Pois amanhã será a primeira vez de vocês. Vamos sair bem cedo daqui e viajarmos até o Balneário de helicóptero. O que acham?
- Nossa, achei o máximo!
- Eu já perdi a conta de quantas vezes eu já andei de avião mas de helicóptero será algo novo pra mim.
- Eu poderia muito bem ir de carro e sentir a terra firme, mas como vocês querem chegar mais cedo e aproveitar o máximo... - a avó dos irmãos desabafou não demonstrando a mesma animação - Confio mais em aviões do que em helicópteros.
Continuamos a conversar sobre a viagem até o Patrick voltar para a sala com os cabelos molhados pelo banho e usando bermuda de surfista e regata branca.
- Seguinte, o Frederik me ligou pedindo para irmos até lá porque a Norma quer muito ver vocês duas. Partiu?
- Ah, vamos sim. - Eu e a Melissa deixamos a mochila no sofá da sala - Desde o ano passado que eu não a vejo.
- Só não voltem tarde, crianças.
- Tranquilo, pai.
- E a Gabi?
- Está terminando de se arrumar para ir com a gente também.
- Tenho certeza de que a Norma separou o sorvete de flocos!
- Meli!
- Isso, sem dúvidas!
- Estou pronta! - o aroma doce de perfume tomou conta da sala quando a Gabriele voltou para se juntar à nós. Ela usava um vestido leve de cor verde musgo e que ia até um pouco acima dos joelhos. Os cachos úmidos estavam comportados junto dos arcos de cabelo que ela adorava usar.
E de novo, eu fiquei na expectativa de encontrar algo incomum na casa do meu amigo e representante da turma. Esperava não ver nada demais por lá.
***
Melissa acertou em cheio.
A mesa de jantar estava arrumada com uma toalha branca, cinco taças para sorvete, com os pires debaixo de cada uma e colheres de sobremesa. No meio dela, o pote de sorvete de flocos totalmente congelado ainda soltava a fumaça de gelo e do lado, duas colheres próprias para sorvete de forma redonda dentro de uma tigela transparente com água quente.
- Quando o meu menino disse que vocês estavam vindo para cá, eu preparei tudo com muito carinho - Norma nos admirava com muita ternura - Podem repetir quantas taças quiserem! E venham mais vezes, por favor.
- Obrigada Norma - sorri - Este ano vai ser mais complicado porque é o nosso último no colégio. Mas vamos tentar vim pra cá, sim.
- As duas sempre serão muito bem vindas, aqui. Sabem disso - Simon estava em pé junto de nós cinco em volta da mesa, ainda com suas roupas de trabalho - Principalmente você, Nívea - e sorriu.
Não pude deixar de ficar levemente envergonhada com o último comentário do pai do meu amigo. Não eram apenas os meus pais que tinham a esperança de me ver namorando o Frederik. Os pais dele também nutriam o mesmo desejo.
- Então é verdade que você pretende estudar Economia, Nívea? - foi a vez da mãe dele perguntar - Ouvi os comentários no dia da sua festa.
- Pelo teste vocacional, talvez sim - respondi enquanto me servia com uma bola de sorvete e coloquei na taça. Meus amigos também faziam o mesmo - Mas farei outros durante o ano para ter certeza.
- É uma pena, pois para mim você seria uma ótima jornalista.
- Você acha? - pus a pequena colher no sorvete antes de dar a primeira colherada - Eu sou muito tímida em falar para as câmeras. Só me dou bem nos stories do Instragram.
- O bom do jornalismo é que ele não se limita apenas na televisão, minha querida. Você pode exercer a função nas redações de jornais e é claro, em editoras literárias. Frederik já decidiu por ela.
- Ah, sim... Entendi.
Não estava acontecendo nada de incomum na casa da Família Bertrand como eu pensei mais cedo. Apenas os pais do Frederik que eram diretos nas indiretas sobre o filho dele em relação a mim. E que se eu contasse para os meus pais, eles vibrariam de alegria.
Me peguei pensativa, olhando o sorvete na taça e dei uma colherada. Como sempre, sorvete de flocos era delicioso. Mas não desceu leve pela minha garganta como das outras vezes, por causa da angústia que se formou no caminho até o estômago.
Em um ano, eu apresentaria o meu namorado aos meus pais e ele não tinha a mesma idade que a minha. Não havia motivo para pensar naquilo no momento, mas a situação tomou força nos meus pensamentos. Será que eles iriam reagir bem ao me ver com o Eric?
Eu já seria maior de idade então não teria problema. Ou teria?
Olhei para a Melissa que me olhava séria e sendo minha melhor amiga, percebeu que eu estava longe dali.
Logo em seguida, Simon e Denise nos deixaram na mesa e foram para o quarto. Eram um casal normal que se tratavam muito bem, pelo menos na frente do filho e dos amigos dele, me fazendo pensar que não tinha nada de anormal entre eles.
- Será que a galera está no bosque? - a pergunta do Patrick me trouxe de volta para terra firme.
- Não sei... A gente pode ir lá para ver se tem alguém. - Frederik estava terminando de tomar o seu sorvete.
- Eu adoraria ir. Mas o seu pai disse pra gente não voltar tarde.
- Vamos rapidinho e depois voltamos para casa - Gabriele deixou a taça vazia de volta na mesa.
- Só vou avisar ao Evandro e a Norma - Frederik saiu da mesa, indo em direção à cozinha.
Não tinha muita gente no bosque quando chegamos. Boa parte da "galera" que eu conhecia também já tinha ido viajar. Patrick ficou conversando com alguns meninos que já estavam lá enquanto nós quatro ficamos sentados no gramado jogando conversa fora, sentindo a leve brisa da noite que refrescava o clima. Eu estava torcendo para o Sol aparecer durante os quatro dias de Carnaval para ficar bem bronzeada na volta para casa até o retorno das aulas. Ainda que a minha mãe ficasse de cabelo em pé por causa da minha pele que sempre foi sensível.
Não ficamos lá por muito tempo e voltei com a Melissa junto dos nossos dois amigos e Frederik foi para casa.
O dia seguinte começaria bem cedo.
***
Em uma viagem que durou menos de uma hora, foi maravilhoso visualizar do alto algumas das praias que pertenciam ao litoral do Rio de Janeiro. Com o Sol ainda nascendo, as ondas batendo na faixa de areia deixava tudo mais bonito.
O nosso grupo se dividiu em dois helicópteros e em um deles, eu fui junto com a Melissa, o Frederik, o Evandro e a Dona Raquel. Quando chegamos no heliponto, dois carros já estavam à nossa espera.
- Tudo com gente famosa é mais fácil! - Melissa comentou baixinho no meu ouvido enquanto entrávamos no carro para enfim chegar à casa de praia.
Fiquei sem fôlego com o tamanho da mansão no instante em que passamos pela porta dupla de madeira escura na entrada. Era muito, muito espaçoso com lindos móveis que contribuíram na decoração.
- Jesus amado... - Melissa estava tão boquiaberta quanto eu - Acho que vou me perder aqui...
- Se não gravarem onde fica cada cômodo, vão mesmo. - Evandro, que estava do nosso lado, brincou - Nos rápidos dois dias que fiquei aqui custei um pouco para saber onde estava tudo. Mas felizmente eu sou bom de memória.
No que eu consegui observar, os cômodos do andar de baixo davam vista para o mar e o vento forte e frio refrescava bastante. E com o Sol, o clima ficou bastante agradável.
- Fiquem à vontade, meninas! - Natália se aproximou de nós - Os quartos da Gabriele e do Patrick são no andar de cima e tem mais dois à disposição para vocês, jovens.
- Vamos dividir um quarto, Ni!
- Tudo bem. Só preciso da minha mala.
- Deixei as malas no corredor perto dos quartos daqui de baixo.
- Quantos quartos são ao todo? - minha curiosidade foi despertada devido ao tamanho daquela mansão enquanto caminhava, observando cada detalhe.
- São oito. Todos eles divididos entre dois andares. Mas também temos uma varanda no terceiro andar com sala de estar, metade dela a céu aberto. - a mãe dos meus amigos explicou.
- Vem, vamos pegar nossas malas e levar lá para cima! - Gabriele puxou a mim e a Melissa pelo braço até onde as malas estavam e seguimos depois para o segundo andar cuja escada também era toda de madeira igual a porta e um pouco escorregadia, conforme íamos subindo degrau por degrau levando a bagagem.
O aroma perfumado de limpeza pairava pelos corredores, enquanto andávamos com as malas em cima das rodinhas. Um dos quartos estava com a porta aberta e Melissa tomou a iniciativa de entrar. Ele era grande com um guarda-roupa branco de duas portas e havia duas camas de casal uma de frente para a outra. Cortinas brancas de tecido fino decoravam a porta de vidro da varanda que tinha a vista total para o mar.
- Gostei desse! Vamos ficar aqui! - a ruiva começou a quicar igual criança, sentada na ponta de uma das camas.
- Também gostei - puxei a minha mala para perto da outra cama e a levantei para cima, colocando no colchão com um edredom felpudo, junto da minha mochila básica, abrindo o zíper e começando a desfazê-la.
- Vão ficar aqui? - Gabriele questionou - Então tá, acho que o Frederik e o Patrick vão dividir um dos quartos também e terei um só pra mim.
- Vamos fazer o quê agora de manhã? - Melissa quis saber, ainda fazendo da sua cama um trampolim pessoal.
- Em algum lugar que eu ainda não sei, tem um pequena praia particular com uma faixa de areia, além das piscinas. Vou precisar de um GPS para me localizar aqui - debochou e nós rimos - Meu pai conversou com a gente durante a vinda que vai fazer churrasco para o almoço nos quatro dias e no fim da tarde vamos passear pelo centro, as outras praias e depois sair para jantar. Que tal?
- Adorei! Roteiro gastronômico é comigo mesma!
- Legal, já escolheram um quarto! - Patrick e Frederik entraram e ficaram na porta da varanda.
Com a mala aberta, comecei a tirar os acessórios básicos e ajeitando dentro do guarda-roupa. Foi quando finalmente eu vi com calma a necessaire que a minha mãe montou. Abri e despejei pela cama todos os protetores de Sol, hidratantes, tônicos e loções para a pele.
- Pra que tudo isso? - Patrick perguntou quando viu tudo espalhado.
- Eu tenho uma mãe esteticista, esqueceu? E falando nisso... - abri minha mochila e puxei meu celular que vibrou imediatamente quando desbloqueei a tela.
- Tem Wi-Fi aqui? - o aparelho tremia na minha mão sem parar.
- Lógico! Foi exigência minha quando meu pai comprou a casa. Eles sabem que eu não sou ninguém sem Internet. A senha está ali no criado-mudo.
Cheguei perto do móvel e digitei os dados, que liberou a Internet no mesmo instante. Ainda não eram oito da manhã quando vi a hora na tela. Abri o WhatsApp e enviei uma mensagem para a minha mãe avisando que já havia chegado e enquanto acompanhei com os olhos a Gabi se juntar ao irmão e ao Frederik na varanda, abri rapidamente a conversa cujo contato era um coração avisando o mesmo para ele sobre a minha chegada.
Deixei o aparelho no móvel e continuei a arrumar minhas roupas, colocando dois vestidos que optei em levar nos cabides que já estavam no guarda-roupa.
- Vai deixar suas roupas na mala? - perguntei à minha melhor amiga.
- Já vou arrumar! - deu um pulo da cama e puxou sua mala começando a fazer o que eu já estava quase terminando.
De repente, ouvi o criado-mudo vibrar com a tela mostrando uma chamada de vídeo da minha mãe. Deslizei o dedo para aceitar e sua imagem apareceu de imediato.
- Oi, meu anjo!
- Oi, mãe!
- Fizeram boa viagem?
- Fizemos sim, ir de helicóptero foi maravilhoso.
- Que bom que gostou. Seu pai está te enviando um beijo.
- Envia outro pra ele.
- Fiz essa chamada só para te ver tá bom? Não vou tomar muito o seu tempo.
- Tudo bem, estou desfazendo as malas e depois vamos para a praia.
- Certo, já sabe não é? Nada de tomar Sol sem proteção. Você viu tudo o que eu coloquei na necessaire?
- Vi sim, mãe. Obrigada, eu vou me cuidar.
- Tá bom, um beijo minha vida. Te amo.
- Também te amo.
Encerramos a vídeo chamada e vi uma mensagem do Eric de retorno. Como ele já sabia que eu sobrevivi ao voo de helicóptero, ele podia esperar mais um pouquinho até eu responder.
Terminei de ajeitar todas as minhas coisas no guarda roupa e separei um biquíni rosa com bolinhas brancas e mais a saída de praia também rosa com uma toalha branca e segui para o banheiro, fechando a porta. Tomei um rápido banho frio e coloquei a roupa que mais usaria durante o dia naquela viagem.
- Amigos, quero tirar uma selfie com vocês cinco. - peguei o meu celular e tirei uma foto de toda a vista da varanda que dava para o mar.
Melissa terminou de ajeitar suas coisas e se juntou a mim.
- Ai, Nívea, jura? Logo agora de manhã que estou sem um pingo de maquiagem - Gabriele torceu a cara.
- E só uma! Eu coloco um filtrozinho básico que disfarça olheiras.
Fiquei bem no meio do ângulo da câmera entre e Gabriele e a Melissa. Frederik e Patrick ficaram atrás de nós e por cima, só com a cabeça deles aparecendo. Cada um fazendo caras e bocas.
Tirei várias fotos e escolhi uma para o destaque que abri no Instagram com o título de Búzios e um emoji de máscara de baile de Carnaval. Postei a primeira foto sendo a paisagem do mar e o céu azul sem nenhuma nuvem com a legenda Salut, Búzios ! e na sequência a foto de nós cinco marcando o @ de cada um deles.
- Aqui - Patrick chamou a nossa atenção com os olhos para a tela do seu aparelho - Mensagem da vovó.
Então ele leu:
- Aonde quer que vocês estejam pela casa, o café da manhã já está servido.
- Então, eu já vou! - Frederik saiu e Gabi o seguiu logo atrás - Estou moído de fome.
- Vão vocês três na frente. Se eu não esperar essa ruiva aqui e deixar ela sozinha, é terceira guerra mundial.
- Ainda bem que você sabe - mostrou a língua e seguiu para o banheiro, fechando a porta.
Finalmente me vi sozinha, então sentei no meio da cama e visualizei a mensagem, esperando pela Melissa terminar o seu banho.
Tudo tranquilo por aí?
Sim, vamos descer daqui a pouco para tomar café e depois tem a praia particular aqui mesmo da casa.
Ser amiga de famosos tem mesmo vantagens.
Sim rsrsrs.
Vai se comportar direitinho, não vai?
Vou sim, inclusive meu biquíni fio dental será a prova de como eu vou ficar bem comportadinha, rsrsrs mas fica tranquilo pq o Frederik vai tomar conta de mim! 😛
Levar uns bons tapas nessa bunda você não quer, quer?
HAHAHAHAHAHAHAHAHA vou preferir sua língua e sua boca sugando.
Hum, agora sim, a conversa está do jeito que eu gosto, rs...
Trocamos mais algumas mensagens e minutos depois eu ouvi a porta do banheiro se abrir. Minha amiga também já estava pronta, com os cabelos molhados. Tudo nela era preto, desde o biquíni, a saída de praia de renda que ia até os pés de tão longa, além dos chinelos de cor vinho. A única coisa que se destacava eram os seus óculos de Sol com lentes cor de rosa bebê em formato redondo e pequeno.
- Decidi que hoje vou ser a gótica na praia. Aliás, como sempre.
Ouvi ela falar e depois de ver seu visual, voltei minha atenção para a tela, trocando mais mensagens com o Eric.
- Pelo seu sorrisinho bobo nem preciso adivinhar com quem está falando...
- Vou descer agora, meu amor. O café já está servido.
- Tá bom, ma petite... Divirta-se e se cuida. Um beijo bem gostoso nessa sua boca.
- Vou sonhar com ele. ❤
Fechei o WhatsApp e peguei dois protetores de Sol, um que parecia estar na metade e outro novo ainda fechado. Terminei de arrumar os outros espalhados dentro da bolsa e desci da enorme cama.
- E aí, ele vem ou não?
- Não sei, não perguntei. Achei melhor não criar expectativa.
- Hum... É, bom. Pelo que a Gabriele falou vamos fazer tanta coisa que você vai esquecer disso.
- É, vai ser bom.
- Vem, vamos descer logo! - saímos do quarto de braços dados para o primeiro dia de diversão.
***
Aquela primeira manhã da viagem foi muito tranquila.
A cozinha ficava em uma área aberta da casa e junto dela a churrasqueira onde dois rapazes estavam preparando as carnes para o almoço sendo orientados pelo William. Além deles, a Dona Raquel também orientava a cozinheira e quando cruzamos pela sala antes de chegarmos na cozinha, mais duas moças estavam ocupadas mantendo a ordem pela casa.
- A minha avó e a mamãe contrataram elas porque moram aqui na cidade, então fica mais fácil - Gabriele me explicava enquanto nos serviamos.
- Isso é legal - concordei.
- Elas ficam até o fim da tarde, depois a casa fica por nossa conta - Patrick mordia um pedaço de pão francês.
- Por nossa conta, mas sem bagunça - Natália se juntou à mesa e se serviu de café.
Depois de comer um bocado de coisa do farto café da manhã, finalmente iríamos conhecer a pequena praia privada da casa. O caminho começava por um lance de escadas de pequenos degraus na cor branca, nos levando até a faixa de areia e a água do mar. De tão cristalina que era, podia ser confundida com mais de uma das várias piscinas que a casa possuía.
- Nossa, mas é lindo demais! - hipnotizada, elogiei cada detalhe quase me esquecendo de esticar a canga na areia.
- Não é? - Gabriele confirmou enquanto tirava os seus óculos esculos - Tem aquelas pedras ali - apontou na direção - Amanhã mesmo vou fazer uma mini sessão de fotos com a câmera do papai. O Patrick que vai me fotografar.
- É hoje que eu vou ficar a manhã toda debaixo deste solzão - Melissa já estava deitada super à vontade - Vou ficar linda para a volta às aulas.
- Você vai ficar torrada isso sim!
- Não se preocupa, Ni! - Estou com a pele ensopada de protetor solar do fator mais forte. - Ela já estava esparramada sobre a canga.
Sendo dona de uma pele branca desde sempre, e ainda que uma leve brisa refrescante corria por onde nós três estávamos, fiquei no máximo até dez e meia da manhã me bronzeando e depois saí, deixando elas duas na praia.
Havia tanta coisa na casa para conhecer... Visitei os outros quartos, o salão de jogos onde havia uma mesa de ping-pong, a área com uma enorme jacuzzi... Registrei o que podia pelo celular e enviava para os meus pais e o Eric. Tudo tão bonito para se apreciar que eu não senti o tempo passar.
- Ei! - cruzei com o Frederik em um dos corredores da casa. - Já se perdeu por aqui? - brincou.
- Mais ou menos, tô conhecendo tudo com calma e enviando as fotos para os meus pais.
- Ah, legal. Eu fiquei com o Patrick e o Evandro em uma das piscinas. E cadê as meninas?
- Devem estar lá na praia privada.
- Eu ia lá agora para chamar vocês. O almoço vai ser servido.
- Mas já? - tomei um susto quando vi a tela do meu celular - Nossa, são quase uma da tarde.
- Pois é, a manhã passou voando.
- Eu vou lavar as mãos e encontro vocês. O almoço vai ser onde foi o café?
- Isso mesmo, ao ar livre.
- Tá bom.
***
O cheiro da fumaça do carvão se misturava com o das carnes do churrasco e tomava conta do ambiente. Isso fez o meu estômago roncar. Alguns tipos de salada das mais comuns até as mais exóticas "decoravam" a mesa que tinha jarras de vários tamanhos com diferentes sabores de sucos no meio dela. Mesmo sendo famosos, a família possuía gostos alimentares quase que simples.
- Vem minha querida, vamos servir o almoço daqui a pouco. - muito gentil, Natália me fez se sentar do seu lado na mesa que era grande e redonda - Ficou bem bronzeada para o primeiro dia - ela observava o meu rosto - as bochechas estão da cor do seu biquíni.
- É, eu fiquei pouco - sorri - Não sou doida igual à Melissa que quer ficar um pimentão.
Aos poucos, todos chegaram e se sentaram à mesa. Um dos rapazes que preparou o churrasco colocou as carnes em uma linda bandeja de prata e fomos nos servindo. Uma das jarras de suco era de abacaxi. Desviei os meus olhos para o meu prato, segurando uma risada pois me lembrei do meu aniversário e o que aquela fruta significava de um modo mais picante.
- Nívea e Melissa, gostam de salada? - Dona Raquel quis saber.
- Nem tanto, mas eu como - ela deu uma garfada em uma das tigelas, tirando e temperando com azeite no seu prato uma folha de alface.
- Eu como de tudo.
- Fiz estas saladas com a cozinheira, espero que tenham ficado boas.
- Tá muito bom, vó - Gabriele encheu o seu prato com vários legumes e poucas carnes - minha dieta agradece.
Conversamos algumas coisas e então William confirmou o nosso passeio do fim da tarde e depois o jantar em um dos restaurantes da cidade.
- Vamos nós três fazer compras pela Rua das Pedras, já adianto! - Gabriele era sinônimo de empolgação quando o assunto era grifes famosas.
- Nossa, que legal! - Melissa sentada de frente pra mim, ironizou o quanto queria bater perna pelas lojas, fazendo todos rirem.
- Alguém aqui não é muito animada para fazer compras - William brincou.
- Não é que não goste mas essas lojas elegantes não tem nada a ver comigo.
- Por onde nós vamos passear? - perguntei.
- Vamos sair de carro pelas outras praias, depois um passeio a pé pela Rua das Pedras e então vamos jantar em um dos restaurantes - Natália explicou.
- Ah sim... - sorri sem jeito - É que eu queria visitar um lugar.
- E onde você gostaria de ir?
- Queria conhecer a Orla Bardot e tirar uma foto para enviar aos meus avós na França. Minha avó, principalmente, gosta muito dos filmes da Brigitte.
- Sem problema algum, vamos sim!
- Obrigada.
- Boa parte da sua família mora na França, não é mesmo Nívea? - William demonstrou curiosidade.
- Sim, meus avós são aposentados, minha tia é professora universitária e o meu tio é dono de uma loja de vinhos que herdou do meu avô.
- É mesmo? Que bacana.
- Depois eu passo pela Gabi ou Patrick o endereço e o Instagram da loja. E aí vocês conhecem.
- Ah, vou querer sim. Muito gentil da sua parte.
- E apenas o seu pai mora no Brasil? - foi a vez da avó Raquel perguntar.
- Isso mesmo - peguei dois pedaços de carne da bandeja e pus no meu prato - é uma história um pouco longa mas em resumo... Ele se apaixonou pela minha mãe quando se conheceram na França, ela voltou para o Brasil e ele veio atrás dela meses depois.
- Ah, que lindo! - ela sorriu junto de um leve suspiro - histórias de amor sempre me emocionam.
Será que se emocionariam com a minha?
Continuamos a comer e fiz questão de experimentar um pouco de cada carne do churrasco que estava delicioso junto do suco de abacaxi. Natália nos explicou que nunca teve o hábito de beber refrigerante e conseguiu fazer com que os filhos repetissem tal rotina alimentar embora ela não conseguisse evitar quando eles iam em festas.
Achei ótimo pois o suco da determinada fruta seria o que eu mais iria beber nos próximos dias.
***
- TCHIBUUUMMM!!!!
O salto em cambalhota na piscina feito pelo Patrick espalhou água para todos os lados e foi filmado pelo Frederik que estava sentado do outro lado em uma espreguiçadeira branca.
- Muito bom, Patrick! - sorri e batia palmas logo depois que sua cabeça emergiu da água.
- Tenta também, Nívea!
- Eu te filmo dando um salto!
- Ah, não. Eu só dou os saltos mais simples.
O Sol da tarde estava quente mas não igual o da manhã. Mesmo assim, preferi ficar na sombra e com a pele bem protegida. O que mais me chamou a atenção foi como a Melissa estava vermelha e ela insistia em ficar debaixo do Sol.
Frederik e Patrick estavam na água enquanto que os adultos em algum lugar pela casa.
- A casa aqui é tão enorme, Gabi. Por que você não convidou mais meninas para viajar também? - Eu e ela estávamos deitadas na espreguiçadeira, igual a do Frederik, uma ao lado da outra.
- Ah, primeiro porque você viu ontem no bosque que a galera viajou. E depois não são todas as meninas de lá que eu posso dizer que são minhas amigas de verdade.
- É mesmo? - fui pega de surpresa com o que eu ouvi.
- Aham. Eu conto nos dedos. Toda a bajulação por eu ser filha de famosos e me tornar influencer tem o lado ruim. Muitas pessoas só se aproximam de mim por interesse. Menos o Frederik que é o meu amigo e amigo do meu irmão desde a infância e você e a Melissa. Vocês são verdadeiras comigo.
- Eu nunca te vi como a filha de famosos, Gabi. Só fui saber disso no ano passado porque nunca tive interesse em acompanhar a vida de celebridades da televisão.
- Por isso me sinto melhor quando estou com vocês. A Melissa com o jeito dela doido de ser e você quieta mas transparente.
Engoli em seco ao ouvir algo tão sincero vindo dela. Amava a minha amizade com eles três mas não ao ponto de dividir o meu maior segredo sobre o dono do meu coração. Eles nunca poderiam imaginar que se tratava do nosso professor de Literatura Francesa.
- Ah, Gabi, também não é assim - me sentei e pus uma mecha de cabelo molhado atrás da orelha - Eu tenho defeitos. Talvez ser tímida. Mesmo achando que eu melhorei isso um pouco em mim, depois que fiquei mais próximas de vocês.
- Seu defeito é não dar uma chance ao Frederik! - e mostrou a língua.
- O Frederik merece uma garota que se apaixone por ele de verdade. Principalmente se pensarmos no turbilhão familiar o qual ele faz parte e não tem a menor ideia disso. - consegui mudar o rumo da conversa.
- Nisso, eu concordo.
- Meninas!
Olhamos na mesma direção de onde vinha a voz e vimos o William com câmera profissional nas mãos se aproximando da beira da piscina.
- Entrem na água que eu vou tirar umas fotos de vocês - ele pediu e imediatamente nós três saímos de onde estávamos e pulamos, ficando bem no meio junto dos meninos.
Fizemos muitas poses. Gabriele subiu no ombro do irmão enquanto o pai tirava as fotos. Evandro chegou logo depois se aproximando do William e observava a pequena farra que fazíamos na água.
- Acho que ficaram boas. - ele observava o pequeno visor - Depois eu envio para vocês. E não demorem muito na piscina que daqui a pouco nós vamos sair.
***
Por ser um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade, a Orla Bardot vivia cercada de turistas que posam para fotos ao lado da estátua da atriz francesa que visitou a cidade nos anos 60.
Usando uma saia jeans claro e um cropped branco com um decote em V e tênis preto, eu fiz a minha parte pedindo à Melissa para tirar a minha foto ao lado do monumento e logo em seguida enviei no grupo da minha família. Nosso grupo também tirou fotos e ficamos mais algum tempo no local apreciando a linda praia em frente. O Sol já se despedia no nosso primeiro dia de viagem.
- Socorro, minha pele vai queimar! - Melissa torcia a cara por causa do tom avermelhado quase rosa que estava no seu rosto.
- É bem feito pra você! - rebati com uma bronca - Sua pele é branca igual a minha e ao invés de tomar Sol nos horários certos, ficou torrando por horas!
- Eu sei! Não precisa brigar comigo! - ela usava um vestido tomara que caia de cor vinho pois até a alça mais simples de uma blusa, machucaria sua pele.
- Antes de ir dormir, você toma um banho gelado para se refrescar e usa o meu creme pós Sol para o rosto.
Chegamos na Rua das Pedras e parecia que estávamos em um parque de diversões de lojas famosas e lanchonetes.
- Se eu fizer compras, elas não vão caber na mala e não sei se vou poder levar no helicóptero - comentei.
- Não precisa se preocupar - Natália caminhava com a gente - Vamos voltar de carro. O William alugou o helicóptero somente para chegarmos aqui e aproveitarmos bem o primeiro dia.
- Podem comprar o que quiserem - o pai dos nossos amigos acrescentou.
Melissa e eu compramos algumas blusas e camisetas com estampas da cidade para presentear os meus pais e ficamos mais focadas em passear pela conhecida rua da cidade.
- Podemos tirar uma foto com vocês? - quando olhamos para o lado, duas meninas se aproximaram da Natália e do William pois o reconheceram.
- Claro! - ela sorriu e ao lado do marido, posaram para a foto bem no meio da rua que incrivelmente estava tranquila.
- É tão estranho pra mim... - falei em voz baixa ao lado da Melissa e do Frederik enquanto observava a cena - Eu vejo eles dois como pessoas normais.
- No meu caso que conheço a família desde pequeno, já me acostumei a vê-los sendo abordados por fãs. - Frederik disse.
- E a Gabriele e o Patrick? - uma das fãs perguntou.
- Estão perdidos por aí pelas lojas com a avó! - o pai respondeu.
- Eu sou seguidora da Gabriele e adoro os vídeos dela.
- Obrigada, vamos dizer à ela que nos encontramos com uma de suas fãs.
Por sorte, mais ninguém abordou o casal famoso e continuamos o passeio com calma. Depois, nós ajudamos o Evandro e levamos com ele as nossas compras para deixar no porta-malas de um dos carros.
Um restaurante italiano foi o escolhido para finalizarmos o passeio do nosso primeiro dia. Por coincidência, ele ficava em plena Orla Bardot, de frente para o mar, cuja pista era estreita nos levando para a faixa de areia em poucos minutos. A fachada era branca com a porta de entrada e as janelas pintadas de azul-marinho. Embora fosse pequeno, possuía um ambiente muito confortável. Como estávamos em um grupo de nove pessoas, a atendente ficou receosa se conseguiria nos atender principalmente por ter um casal famoso e a família dele entre nós. Ficamos divididos em duas mesas, uma para os adultos e outra para nós, os cinco jovens.
O cardápio oferecia várias opções de massas, pizzas e outras especialidades.
Eu estava um bocado faminta então pulei o que eles serviam de entrada e fiz o meu pedido que foi algo bem exótico. Pedi um espaguete com frutos do mar e em seguida, para sobremesa, um terrine de chocolate com calda de baunilha.
- Gostei muito daqui - observava o local logo após fazer o meu pedido - Já vou me preparando para os dias de férias na Sardenha.
- Quantos dias você pretende ficar na Itália, Nívea? - Frederik, que estava sentado do meu lado, perguntou.
- Eu ainda não sei, talvez uma semana. É o meu tio que sempre organiza tudo.
- Ah, tudo bem. Eu vou com a Gabriele e o Patrick para Paris e aí podíamos nos encontrar lá.
- É, Nívea - Gabriele sentada de frente para mim entrou na conversa - O que a gente combinou sobre as férias de julho, continua de pé.
- Sim, com certeza! - confirmei - O que são duas horas de trem entre Lyon e Paris para encontrar os amigos?
Todos os pedidos chegaram quase que ao mesmo tempo. O meu prato estava delicioso. Diferente de mim, Melissa escolheu o tradicional da cozinha italiana que era uma massa comum à bolonhesa e optou pela mesma sobremesa que a minha.
Conversas animadas, Patrick falando todo tipo de besteira, um fã se aproximando para tirar foto com a Gabriele e com os pais dela...
O meu primeiro dia de Carnaval foi aproveitado ao máximo da melhor forma, rodeada de pessoas queridas.
De volta à casa, eu e a Melissa estávamos no quarto nos preparando para dormir. Enquanto eu penteava o meu cabelo após sair do banho e usando um pijama bem quentinho, me peguei pensando na conversa que tive com a Gabriele durante a tarde. Olhei para o enorme espelho do banheiro e pus o pente na pia, voltando para o quarto.
Melissa estava deitada na sua cama, usando camisola, atenta ao seu celular e seu rosto rosado pelo Sol estava repleto de hidratante.
- Meli... - me sentei na ponta da sua cama.
- Oi.
- Você ouviu a minha conversa com a Gabi hoje de tarde na piscina?
- Ouvi - ela desviou os olhos na minha direção, me encarando.
- E se eu contasse para ela sobre o meu namoro com o Eric?
Melissa ficou calada, continuando a me observar. Até que ela quebrou o breve silêncio entre nós.
- Sendo bem sincera? - ela se levantou, sentando em posição borboleta, cruzando as pernas - Felipe, Luciana e eu sabemos do seu segredo. Não acha que já é gente demais?
- Sim, mas... Ela também é minha amiga. Não do mesmo modo que você mas depois do que ela desabafou hoje comigo, me senti meio mal em esconder dela.
- Eu acho arriscado porque pra mim é um segredo muito delicado, Ni.
- Você acha que ela não é uma pessoa de confiança?
- Mais ou menos. Tudo bem, ela é uma garota super legal, falou que a parte da bajulação incomoda por ser famosa, que são poucas as amigas verdadeiras que ela tem e nós duas estamos incluídas. Mas tudo isso em volta dela, infla o ego, não acha? A parte boa da fama.
- Ela tem mesmo o ego um pouco inflado. Ficou se sentindo mal porque a festa surpresa para o Eric não foi ideia dela, mas fica se achando até hoje porque o abaixo-assinado foi iniciativa dela.
- Aí, viu só? E como ela reagiria se você jogasse essa bomba nuclear na cabeça dela?
- Talvez se sentiria diminuída?
- Aham. "Como assim não sou eu, a linda e famosa, que está trepando em segredo com o professor mais gato do colégio?" era o que ela ia dizer.
- É... Acho que você tem razão.
- Faz o que você bem entender. Só que eu não arriscaria.
- Tudo bem. - suspirei - Posso apagar a luz? Meu corpo cansado já está pedindo cama.
- Pode, eu vou ficar mais um pouco na Internet.
Me levantei da sua cama, desliguei a luz do interruptor ao lado da porta do quarto e só conseguia enxergar apenas a tela iluminada do aparelho da Melissa. O vento com o aroma da maresia que passava pela varanda era tão gostoso, que deixamos as portas abertas e ver as cortinas balançando de leve iria me fazer pegar no sono rapidamente.
O nosso dia de domingo não foi muito diferente do sábado. Praia, piscina, fotos para o Instagram... A diversão maior foi acompanhar a sessão de fotos da Gabriele que ela fez, com a ajuda do irmão, nas pedras da praia privativa. Melissa fugiu do Sol o quanto podia e usava um chapéu e óculos escuros pois ainda sentia os efeitos dolorosos na pele do dia anterior.
À noite, saímos apenas para jantar em um outro restaurante escolhido pela Natália.
Eu não podia reclamar de nada. A viagem estava sendo perfeita.
***
Acordei cedo na manhã de segunda-feira. Quando olhei para a cama de frente para a minha, ela estava vazia e com o edredom embolado.
"Melissa já levantou?" perguntei mentalmente ainda um pouco sonolenta. Saí da cama, bocejando, esfregando os olhos com uma das mãos e quando entrei no banheiro ele estava vazio.
- Ela desceu e nem me esperou - resmunguei.
Seguindo a rotina, me arrumei normalmente para mais um típico dia de casa de praia. Sem a Melissa no quarto, fiz tudo com um pouco mais de calma sem ela falando sem parar ou talvez me apressando para descer.
Com o celular em mãos, desci para tomar café. Ainda no corredor, cruzei com uma das moças contratadas para a limpeza da casa.
- Bom dia! - cumprimentei gentilmente.
- Bom dia - ela passou por mim - Posso ir até o quarto que você divide com a sua amiga e dar uma ajeitadinha?
- Ah, me desculpe. Eu esqueci de arrumar a minha cama.
- Não tem problema, eu posso fazer isso.
- Tudo bem, qual o seu nome?
- Janete.
- Obrigada, Janete.
- Se você ou a sua amiga precisarem de alguma coisa, podem falar comigo e com a Maria.
- Tá legal.
Descendo as escadas e indo em direção à cozinha, estranhei as vozes alteradas e as gargalhadas vindas de lá.
"Começando bem o dia..."
- Agora fala de novo o que a senhora falou pra mim sobre ele, vó! - Em pé, com um tom de deboche na voz, Patrick estava com a câmera do seu celular na direção da Dona Raquel.
- Tira esse celular da minha cara, menino! - ela pediu.
- Só vou tirar se você falar de novo!
- Qual o problema em elogiar o professor de vocês? Eu acho ele um homem muito bonito, sim!
Permaneci em pé, presenciando aquele momento entre avó e neto. Melissa e Natália estavam sentadas à mesa enquanto que a Gabriele e o Frederik também estavam em pé. Todos riam da cena.
- Mas vó, pensa comigo - ele continuava a filmar - A senhora já pensou que ele pode ser gay?
- Ah, não acredito! Um homem lindo daquele?
- Vovó! - Gabriele chamou a atenção dela.
- Já disse que eu não vejo problema nenhum em admirar a beleza de um homem. Eu hein. Mas ele é gay mesmo? - todos começaram a rir novamente.
- Claro que não! - a irmã rebateu - Bom, eu espero que não seja.
- Bom dia, minha querida. Dormiu bem?
- Dormi sim, Natália. Tá todo mundo animado essa manhã - me sentei e encarei a Melissa que desviou o olhar da minha direção, bebendo algo na sua caneca.
- Ah, mas não é para menos, teremos daqui a pouco a presença ilustre da pessoa em questão.
- Hã? - por sorte eu estava sentada para não desabar.
- Amigaaaa - mesmo já sentada, Gabriele veio por trás e me abraçou, encostando uma das suas bochechas no topo da minha cabeça, dando pequenos pulinhos - O professor mais lindo e maravilhoso da escola está chegandooooo.
- Ah... - tentei sentir o ar nos meus pulmões, sem sucesso - O... Professor Schneider?
- Isso mesmo. Ele telefonou ontem de noite para o William, nós dois já estávamos no quarto, confirmando que viria.
- Não é demais? - Gabriele se sentou do meu lado - Tomara que ele fique lá em cima no quarto que está vago.
- Nada disso, Gabriele! O quarto daqui de baixo está pronto para receber um hóspede. É o andar dos adultos. - Dona Raquel rebateu.
Não dei importância ao que a Gabriele falou pois ainda estava tomada pelo baque da notícia.
- Mas... Ele vai chegar perto da hora do almoço?
- Que nada, Nívea! - Patrick estava do lado do Frederik mexendo no celular - Ele já chegou e está na entrada da cidade.
- O William e o Evandro saíram para buscá-lo de carro, um pouco antes de você descer, e então ele vem seguindo com o dele. As ruas aqui são confusas, ele poderia acabar se perdendo. - Natália explicou.
- Claro... - respirei fundo e engoli em seco - Ele deve ter saído bem cedo de casa.
- É bem provável. Ainda não são nem nove horas.
Como quase sempre, eu precisava agir naturalmente após ouvir a notícia. De forma robótica e sentindo uma tempestade na minha cabeça, me servi com um pouco de iogurte de morango e peguei algumas torradas, colocando no pequeno prato na minha frente.
- Pode me passar o requeijão, amiga? - pedi à Melissa.
- Claro! - com um sorrisinho debochado, ela me passou o copo de vidro e continuava me encarando.
- Imaginem como ele deve ficar mais delicioso do que já é, usando bermuda surfista e sem camisa?
- E falando nisso, coloque uma saída de praia para receber o professor de vocês, Gabriele.
- E qual problema com o meu biquíni, mãe? Ele é bem comportado.
Gabriele usava um bonito biquíni vermelho cor de sangue com babados na ponta do tecido.
- Ele pode ser comportado mas não é adequado. Olha para as suas amigas - apontou para mim e para a Melissa - Elas só vão ficar de biquíni quando forem para a praia ou a piscina.
- Sua mãe está certa - a avó concordou - Coloque uma blusa por cima, pelo menos. Eles devem chegar daqui a pouco.
- Ai, tá bom - ela revirou os olhos - Vou terminar de tomar café e pego alguma coisa no quarto para vestir.
Se eu comi apenas uma torrada e bebi metade do iogurte, foi muito. Meu coração batia acelerado e me distraí pensando em como agir na presença dele. Professor e aluna, Nívea! Não está óbvio? Sim, está. Porém, era complicado e até torturante. Não seria o correto, mas talvez se eu evitasse cruzar com ele pela casa...
- Vamos para a praia, Meli? - pedi quase que suplicando.
- Vamos! - ela se levantou e eu fiz o mesmo.
- Não quer comer mais? - Natália observou que eu mal tinha tocado no que eu tinha me servido.
- Não, tudo bem - dei um último gole na caneca com iogurte e limpei os lábios com o guardanapo de papel - Vou segurar o estômago para o almoço. Você vem também, Gabi?
- Daqui a pouco eu vou. Quero estar aqui bem na hora que o professor chegar! - ela não disfarçava o quanto estava empolgada.
***
Eu e Melissa ficamos deitadas na parte bem rasa da água junto da areia úmida para nos refrescar. O Sol começava a ganhar força mas como a água estava bem refrescante, não sentimos tanto. De longe podíamos ver lanchas, barcos e até jet-ski por vários pontos em alto mar.
- Você não vai fugir dele, vai?
- Não é uma boa ideia, eu e ele ficarmos sozinhos... - disse, olhando para os meus pés que eu balançava na água.
- A casa aqui é enorme, Ni! Além disso, vocês não vão ficar se agarrando. Ou vão?
- Como se você não conhecesse o Eric.
- Pensei que tu ia surtar com a notícia por ele não ter te falado nada que viria.
- Eu surtei por dentro - rimos juntas - mas como eu estava sentada, foi fácil disfarçar.
- AE, os carros chegaram! - Da escada, Patrick nos avisou em voz alta que eles haviam chegado - Só vim aqui chamar vocês.
- Nós já vamos! Deus, me ajuda - respirei fundo - É sempre assim quando estou perto dele. Coração acelera e meu estômago se revira.
- Amiga, calma - Melissa se levantou primeiro da água e estendeu a mão para me ajudar a levantar - Fica tranquila, eu não vou sair do seu lado.
- Por favor, não saia. E pelo resto do dia também.
- Isso eu já não garanto. Nós vamos lá, falamos com ele e depois voltamos. Pronto, vai ser rápido.
De mãos dadas, depois de colocarmos nossas saídas de praia, fizemos o caminho de volta pelas escadas, até chegarmos na enorme sala. Apertei a mão da minha amiga com um pouco mais de força quando o vi.
Eric usava um boné preto bem moldado na cabeça, uma blusa regata azul onde os seus óculos escuros estavam pendurados na gola e uma bermuda azul-marinho com listras pretas bem ao estilo surfista.
- Espero que tenha feito boa viagem - sempre simpática, Natália ao lado da sogra e da filha lhe deu as boas vindas. Frederik e Patrick também estavam presentes.
- Foi muito tranquila. - ele estava com as mãos segurando a pequena aba da sua mochila preta - Não peguei trânsito pesado. Todos que pegaram estrada, fizeram isso no sábado pela manhã.
- Isso é verdade, estávamos comentando com as meninas durante o café, que você deve ter saído cedo de casa. Ah, olha elas aí.
De braços dados com a minha amiga, me aproximei e o leve tremor nas minhas pernas insistia em denunciar o meu bom nervosismo por estar perto dele.
- Olá meninas! - ele sorriu gentilmente logo que nos aproximamos.
- Oi, professor - dei um pequeno sorriso.
- Oi, Eric.
- Que inveja eu tenho da Melissa - Gabriele desabafou - Ela é a única que chama o nosso professor pelo nome!
- Claro que eu chamo, exatamente porque ele não é o meu professor! - e fez uma dancinha com os pés, fazendo todos rirem.
Só mesmo a Melissa para aliviar a tensão daquele momento.
- Vem, professor! - Gabriele o puxou pelo braço - Vou te mostrar onde é o seu quarto.
- Sem afobação, Gabriele! - a avó lhe chamou a atenção - Já tomou café, professor?
- Comi alguma coisa antes de sair de casa, mas aceito comer algo mais.
- Fique à vontade para pedir o que precisar.
Os três saíram em direção ao quarto do primeiro andar onde ele ficaria e conversaram amenidades, enquanto se afastavam, que não deu para ouvir. Meu primeiro momento de tensão em estar próxima dele foi atravessado com sucesso.
- Vocês não querem ficar na praia com a gente? - perguntei aos meninos - A água está ótima.
- Podemos ir - Frederik concordou - Quero nadar um pouco.
- Vamos avisar quando o almoço ficar pronto.
- Tá bom, mãe - Patrick lhe deu um beijo nos cabelos.
Voltamos nós quatro para a praia e nos sentamos na areia onde deixamos nossas cangas. Patrick e Frederik se jogaram na água e disputaram um pequeno campeonato de natação, chegando quase em alto mar. Sem ondas, eles podiam nadar tranquilamente sem perigo.
- Você viu só?
- O quê, Meli? - respondi em forma de pergunta, enquanto observava os meninos na água.
- A Gabriele só faltou abrir as pernas para o Eric quando ele chegou.
- Não percebi porque meus olhos eram todos para ele.
- É, mas eu vi. Os olhos dela praticamente brilhavam e fez questão de levá-lo até o quarto.
- Ela vai querer ser a anfitriã perfeita.
- Exatamente! O centro das atenções para ele. E você ainda pensou em dividir com ela o seu segredo?
- Eu sei, Meli. Você está certa.
- Ah, lá - ela apontou na direção das escadas - É sobre aquilo que eu estou te falando.
Quando me virei, Gabriele, Eric e Evandro estavam vindo na nossa direção. Aquilo não poderia estar acontecendo.
- A amiga de vocês fez questão que eu conhecesse a pequena praia da casa - Eric se aproximou de onde estávamos e tirou a blusa e os chinelos, ficando apenas de bermuda - Posso deixar com vocês?
- Claro, Eric!
- Não tem como resistir a um mergulho.
Gabriele se sentou junto de nós duas e ficou observando Eric e Evandro entrando na água.
- A perfeição existe e eu posso provar - Gabriele falou baixinho.
- Quem? O Evandro? - o modo sonsiane da Melissa me fez rir.
- Ai, lógico que não! - ela torceu a cara - Olha só como os ombros dele são perfeitos. Gente... Acho que vou precisar entrar na água também.
- É uma boa, apaga o fogo entre as pernas.
- Com certeza! - e ela saiu de perto às gargalhadas para mergulhar.
- Você não vai falar nada? - Melissa me cutucou ao ver que a Gabriele não ouviria a conversa.
- Falar o que, Meli? Não tenho porque ter crises de ciúme, ficar insegura a essa altura. O Eric e eu conversamos sobre isso de uma vez por todas. - peguei o celular e abri o meu Instagram, fazendo um pequeno story de onde eu estava sentada, de todos dentro d'água - Tira umas fotos minhas ali nas pedras?
- Tiro sim.
Nos levantamos e caminhamos devagar até as pedras que ficavam em uma das pontas da praia. Fiz algumas poses, nada muito sensual e Melissa tirou mais de uma foto de cada uma delas. Foi o tempo suficiente para que eles voltassem para a areia.
Melissa também pediu e tirei fotos para ela do meu celular. As posições que ela fazia eram de Yoga e ficaram muito boas.
Terminamos as fotos e voltamos para a areia. Eric estava sentado bem perto de onde estávamos com as nossas coisas de praia, usando óculos escuros.
- Vocês vão ficar aí? - comecei a recolher meus acessórios - O Sol já está começando a me incomodar.
- Vamos ficar mais um pouco, Nívea - Gabriele avisou - Se você quiser, a mamãe e a vovó estão relaxando no ofurô.
- Perfeito! Vou me juntar à elas. Vamos Meli?
- Ah... Vou ficar mais um pouco.
- Tem certeza? Não sou eu que vai chorar porque a pele está ardendo.
- Não vou demorar muito, prometo.
Quanto mais eu evitasse ficar perto do Eric, melhor. Ainda que estivéssemos entre amigos, seria difícil resistir aquele rosto e olhos azuis tão encantadores.
Cheguei na escada e quando olhei para trás uma última vez, vi que todos ficaram reunidos em um grupo só, sentados na areia. Realmente o Sol forte era uma boa desculpa para não ficar perto dele, seguindo de volta para dentro da casa. Havia um chuveiro que ficava no caminho da escadaria e o tomei um banho para tirar a areia que ficou pelo corpo.
Ficar na companhia da Natália e da avó Raquel, relaxando naquela manhã, era a chance que eu tinha para aliviar a adrenalina de um dia que seria mais longo que os outros dois anteriores. Era isso o que eu pensava após a chegada do Eric.
***
E ele fez questão de ficar de frente para mim...
O seu olhar e um leve sorriso debochado o denunciavam na intenção de escolher o lugar para sentar à mesa, enquanto esperávamos tudo ser servido. Frederik e Patrick já estavam junto de nós mas cada um atentos em seus celulares, desligados do mundo ao redor.
- CHEGUEI! - a voz estridente da Gabriele tomou conta do ambiente e sorridente, ela puxou uma cadeira também de frente para mim - Vou me sentar do seu lado, professor!
- À vontade, senhorita.
Por sorte Melissa, que estava em algum lugar da casa sabe se lá onde, também chegou para almoçar e se sentou do meu lado.
- Crianças, hoje além do churrasco vamos servir um peixe ao forno para quem quiser comer algo diferente. - Natália anunciou antes de se sentar.
- Eu vou comer um pouco de tudo, mãe.
- E eu vou manter meu foco nas saladas e na carne. Proteína faz parte da minha dieta.
Em pouco tempo, todos estavam reunidos para o melhor momento do dia, segundo a Melissa. Eu comi o mesmo de sempre, ou ao menos tentei. Nossos olhares se cruzavam rapidamente em meio a uma garfada e outra e eu tentei agir o mais natural possível.
- Bom, eu sei que isso não é assunto para o momento, afinal estamos todos aqui para descansar e passear nestes dias de feriado - Dona Raquel tomou a palavra - Mas queria saber de você, professor, se os meus netos estão entre os seus melhores alunos em sala de aula.
- Com certeza estão, Dona Raquel - ele respondeu de forma amigável - toda a minha turma do terceiro ano é excelente.
- Ótimo saber!
- Eu e a Natália decidimos matricular a Gabriele e o Patrick no Saint Vincent devido à chance de eles aprenderem o francês na alfabetização - William explicou - Embora ela seja em período integral, foi um bem-sucedido investimento na educação deles.
- Isso sem dúvida, e eu sendo o professor de lá afirmo que a diretriz pedagógica e infraestrutura do colégio para trabalhar é ótima.
- Verdade - Natália confirmou - Mesmo eu sabendo que estes dois fazem parte da famosa turma do fundão - chamou a atenção, enquanto comia um pedaço de peixe e bebia do seu suco.
- Ih mãe, não está sabendo de nada - o irmão gêmeo rebateu - Eu e a Gabi não sentamos na última fileira desde o ano passado. O Frederik aqui é testemunha.
- Verdade. - disse o representante da turma - Eu mesmo passei a sentar na frente também.
- Ah, é mesmo? - a mãe demonstrou curiosidade - E a que se deve esta mudança?
- A pergunta certa é a quem. - Frederik olhou na minha direção.
- Ah, mas essa eu posso responder, mesmo não estudando com vocês - foi a vez da Melissa chamar a atenção de todos - Quem fez os três saírem do fundão foi ela - e apontou para mim - A minha melhor amiga, vizinha de apartamento e com o segundo nome de princesa chamada Nívea Caroline, que senta desde sempre nas primeiras fileiras da sala!
- É mesmo? Mas que coisa boa! Muito obrigada, minha querida! - A mãe agradeceu - Por isso eu percebi que as notas deles dois melhoraram consideravelmente no ano passado. Apesar de nunca serem ruins.
- Ah não, eu não fiz nada - bebi do meu suco para tentar aliviar o fervor no meu rosto de vergonha - Eu sempre sentei perto do quadro para o meu rendimento não cair.
- Claro e euzinha aqui fiz igual me sentando ao lado da Nívea - Melissa estava certa no que disse, pois a Gabriele não perdeu a oportunidade - Ela sendo quieta, nós três sentimos o nosso rendimento nas aulas aumentarem.
- Isso eu posso confirmar. Na volta para casa depois de mais um dia inteiro de aula, a voz que eu menos ouço dentro do carro é a da senhorita Martin.
- O que o Evandro diz é verdade - Eric afirmou, olhando nos meus olhos - De todas as minhas alunas do Lycée, a senhorita Martin é a mais quieta, calada e concentrada.
- Sim e desde que começamos a sentar uma ao lado da outra, eu também passei a falar menos nas aulas.
- Isso é muito bom, filha. - o pai a elogiou.
- Que vocês quatro continuem assim e o resultado disso eu verei nas provas do primeiro bimestre. - o convidado recente da casa deu o conselho.
Enquanto todos almoçavam, lembrei de uma pessoa e apenas o Eric poderia me tirar uma dúvida sobre ela.
- Professor, a Luciana sabe que você está aqui na cidade?
- Depois que eu terminei de ajeitar algumas roupas no meu quarto, telefonei para ela avisando que havia chegado. E aí ela ficou brava comigo dizendo que eu teria que ter falado antes.
- É sério?
- Sim, mas está tudo bem, até o fim da tarde ela vai me retornar. Luciana foi a irmã que eu não tive e um dia sem me perturbar é um dia perdido pra ela.
- Ela é professora também? - Natália quis saber.
- É a Coordenadora do Curso de Letras na faculdade onde eu dou aula. E minha chefe.
- Isso é ótimo. Amizades assim são admiráveis.
- Se você conseguir falar com ela, professor, envie um beijo meu - terminei o meu almoço e levantei - Vocês vão fazer alguma coisa pela tarde? - perguntei na direção dos meus amigos.
- Que tal sala de jogos e depois piscina? Ou voltamos para a praia - Patrick sugeriu - Vamos sair hoje, pai?
- Não sei, vocês querem passear de novo pelo Centro? Podemos ir sem problemas.
- Ah, vamos ficar em casa e depois saímos para jantar como a gente vem fazendo. - Gabriele pediu.
- O que vocês decidirem, eu e sua mãe estamos à disposição. Vai sair para jantar com a gente não é, professor?
- Claro, contem comigo.
- Então eu vou para o quarto descansar um pouco - falei em meio ao roteiro que se formou sobre a diversão do dia.
- Vai amiga, qualquer coisa eu te chamo - Melissa ainda comia um pedaço de carne do churrasco.
- Com licença, então.
- Descansa à vontade, minha querida - Natália sorriu para mim e eu enfim, deixei a mesa.
Fui para o meu quarto e quando entrei vi o meu celular que havia deixado no criado-mudo, antes de descer para o almoço. O mesmo de sempre: notificações do Instagram, mensagens no WhatsApp... Me deitei na cama e visualizei tudo, enviei para a minha mãe e a minha familia na França as fotos que tirei nas pedras até comecar a sentir o meu corpo relaxar, junto do sono após o almoço.
***
Acordei lentamente com o aparelho nas mãos, sentindo o vento gostoso e o cheiro da maresia. Era pouco mais de três e meia da tarde, a hora que marcava na tela. Pelo menos não dormi tanto, pensei.
Saí da cama e fui até o banheiro apenas para escovar os dentes, algo que eu tinha esquecido depois de almoçar, penteei os cabelos e joguei uma água rápida no rosto. O bom de se estar em casa de praia é que biquíni e a saída por cima se tornam as roupas oficiais de quase todo o dia durante a viagem.
Desci para o primeiro andar e segui por um corredor da casa, diferente do que levava até os quartos dos adultos.
- E agora, onde fica mesmo a sala de jogos? Só fui no primeiro dia e não decorei em qual lado da casa ela fica...
O corredor por onde entrei me levou outra escadaria em direção à praia. Era diferente daquela que eu conhecia mas também levava para a pequena faixa de areia.
- Vou voltar por onde vim.
Passei pela enorme sala e as escadas que levavam ao segundo andar e entrei naquele lado da casa o qual fui apenas no primeiro dia e não queria entrar por nada desde o início do terceiro. Era onde ficavam os quartos dos donos da casa, da avó Raquel, mais um onde o Evandro estava hospedado... E o último...
Caminhei rapidamente, passando pelos quartos até ver uma outra ala da casa. Mas não cheguei até ela. Meu coração saltava dentro do meu peito quando dei de cara com a pessoa que eu evitei ficar perto em boa parte do dia.
- Deixa eu adivinhar. Está perdida? - Eric se aproximava, vindo na minha direção.
- Estou procurando a sala de jogos, professor - precisava manter a postura educada - Ela fica por aqui?
- Fica sim, estão todos lá. Menos os donos da casa. Parece que eles foram até a cidade resolver algum assunto que eu não dei importância. E a Dona Raquel está na cozinha, do outro lado desta casa que mais parece uma mansão.
- Ah sim, entendi. - tentei passar por ele, mas seu braço envolvendo a minha cintura me impediu.
- Nada disso, mocinha - ele me encostou na parede, segurando no meu rosto, fazendo com que eu olhasse em seus olhos - Será que finalmente vamos ter o nosso momento a sós?
- Eric, você ficou maluco? - falei baixinho, apertando seus pulsos. - Aqui não!
- Você sabe muito bem o motivo que me fez vir para cá.
- Foi apenas uma sugestão minha e eu ia entender se você não viesse. Sabe disso.
- Eu sei.
- Então por que veio?
- Acatei a sua sugestão para ficar perto de você como estamos agora - seus olhos percorreram o meu corpo - Precisei ficar um bom tempo na água para não cometer um vexame enquanto você estava tirando aquelas fotos nas pedras. Fica ainda mais deliciosa de biquíni.
- Por isso evitei cruzar com você o dia todo!
- Eu percebi. Mas agora não tem nada aqui que possa impedir nós dois de conversarmos.
Olhei para os dois lados e estava tudo incrivelmente calmo.
- É arriscado demais... - tirei uma das mãos do pulso, fazendo uma leve carícia no seu rosto - Além disso, eu fico preocupada. Você não estava tranquilo para viajar por causa de dinheiro.
- Não precisa se preocupar com isso, entendeu?
- Mas Eric... - E ele me calou, colocando o dedo indicador nos meus lábios.
- Se eu atravessei o oceano e fui para o meio da neve atrás de você, desesperado com medo de te perder, o que é uma simples viagem de carro até a Região dos Lagos?
Fiquei sem reação com aquela declaração tão linda. Apertei os lábios e me permiti sorrir. Eric fez o mesmo, acariciando o meu rosto, nós dois admirando um ao outro. Alisei a sua barba com ambas as mãos e lhe dei um beijo no seu lado direito no rosto.
- É melhor eu ir, não podemos ser vistos juntos. Por favor.
- E cadê o meu beijo?
- Eu acabei de te dar um - ri sem jeito.
- Foi uma simples viagem - seus olhos estavam fixos nos meus lábios - mas eu não vou passar dois dias aqui sem provar essa sua boca que também é minha.
A língua do Eric invadiu minha boca, com as mãos firmes segurando o meu rosto e eu não tive outra opção a não ser permitir mais um dos seus deliciosos beijos que derretia o meu corpo por inteiro. Agarrei nos seus braços, procurando pelo encaixe perfeito entre os nossos lábios e deixar as línguas se tocarem.
Presa na parede, Eric não amassou o seu corpo no meu, pois algo mais intenso entre nós seria um caminho sem volta. No entanto, senti o calor e a pulsação crescendo entre as pernas, que iam contra a calcinha do meu biquíni levemente úmida. Apertei minhas coxas tentando segurar o tesão que aquele beijo estava causando, mas era impossível. Me sentia nas nuvens. O beijo era lento e apaixonado, sem desespero.
Ficamos naquele momento perfeito e arriscado, não sei dizer quantos minutos. O tempo parecia não passar quando estávamos juntos. Eric parou o beijo, nossos lábios colados e se esfregando de leve, começando a respirar devagar, grudado com a sua testa na minha. Os selinhos mais macios e carinhosos percorriam pelos meus lábios e meu coração continuava a bater acelerado, junto do meu colo que subia e descia. Sentir meus lábios inchados eram a prova de que aquele momento entre nós foi muito, muito bom.
De repente uma sensação estranha de ser observada me percorreu e quando olhei para o lado, Melissa estava parada em uma pequena distância flagrando nós dois, com as suas mãos grudadas na boca, demonstrando seu estado de choque. Os olhos verdes eram dois faróis, causados pelo espanto.
E ela não estava sozinha.
- Então é ele quem você namora em segredo? - ouvi o questionamento, engolindo em seco.
- E - Eu posso explicar...
Segurei o meu corpo na parede pois toda forma de medo dominava cada parte do meu corpo e eu poderia desabar, de fato, no chão. A sensação gostosa causada pelo beijo desapareceu de mim em questão de segundos.
Olhei para o Eric e o seu rosto endureceu, engolindo em seco, olhando na mesma direção que eu, mas ele estava firme. Se estava com medo, ele amassou o sentimento dentro de si com força total.
- Não precisa explicar. O que eu já vi foi o suficiente.
Naquele momento eu me sentia dentro de Avenida Brasil, novela que passou na TV quando era menor, onde o rosto do personagem era congelado na cena final de cada capítulo, quase sempre em momentos cruciais.
Continua...
🎵🎶Oi, oi, oi!
Oi, oi oi!🎵🎶
Nota da autora: Final digno de novela das nove, não é povo amado? Hahahahahahahahaha
Demorou mas finalmente o terceiro capítulo saiu do forno depois de mais de um mês. Alívio define.
Não estamos em Las Vegas mas as apostas estão abertas. Ao lado da Melissa, quem flagrou esse beijão do nosso casal, hein? Vale lembrar que joguei esta questão na caixinha do Instagram e somente três pessoas acertaram. Eu lembro porque tenho as respostas salvas aqui comigo até hoje.
E agora é esperar para ver como Eric e Nívea irão sair desta enrascada. Estarão eles dois nas mãos de um chantagista?
Bom, mais uma vez, eu venho aqui incansavelmente agradecer a todos vocês que estão acompanhando a minha história. Todo o feedback positivo em forma de surto nos directs, comentários, votos e favoritos me deixam com coração quentinho de felicidade. Críticas também surgem mas elas fazem parte do processo e eu jamais irei censurá-las. Apenas deixo elas lá.
Um super beijo em cada um de vocês e espero mais uma rodada de "surto circuito" conforme vão lendo ;)
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