A força do gay guerreiro
Aquela manhã de fevereiro jamais sairá da minha memória, a partir dela minha vida ganhou um novo rumo que, na época, em minha inocência, eu não pude vislumbrar. A dor que penetrou no meu peito com a neve caindo sobre as nossas cabeças quando minha mãe me abraçou e me mandou ser forte, sim foram apenas essas as palavras que me dirigiu quando, após um beijo, segurava meu rosto em suas mãos regeladas – Be brave, Gabe! (Seja forte Gabe!) – é a mesma dor que ainda muitas vezes me acomete quando as cenas daquela manhã afloram à minha mente.
As aulas haviam sido suspensas por conta do inverno rigoroso daquele ano, uma semana inteira, para a qual a meteorologia havia previsto nevascas com ventos fortes, o que costumava deixar as estradas quase intransitáveis. Sem um compromisso definido, me deixei ficar por mais tempo na cama, ela certamente estava mais quente e aconchegante do que o clima que vinha reinando em nossa casa nos últimos meses. Embora eu desconhecesse o motivo, sentia que ele já não era mais o mesmo. Os galhos desfolhados do enorme bordo que ficava próximo às janelas do meu quarto tinham quase um palmo de neve acumulada sobre eles, e as gotas da chuva da noite anterior que escorreram deles se transformaram em estalactites transparentes, mais um motivo para eu continuar sob o edredom me espreguiçando. Mais eficiente do que um despertador, meu estômago roncando determinou a hora de levantar. Quando desci, a mesa continuava posta, mas ninguém mais estava à vista. Papai deve estar dando as ordens para os três rancheiros que o ajudavam na lida com a fazenda, pensei comigo, pois durante o inverno o trabalho com a alimentação do gado redobrava. Mas mamãe ainda costumava estar pela cozinha ou nas proximidades àquela hora, porém também não a vi e nem obtive resposta quando chamei por ela. Assim, tomei meu café sozinho, enchendo o fundo da caneca de açúcar para deixá-lo bem melado, do jeito que eu gostava, o que me era impossível fazer quando alguém estava por perto me proibindo de o fazer em nome da minha saúde.
Quando minha mãe desceu, estava vestida para sair e, por seu semblante carregado, percebi que tinha chorado. Ela passou por mim, foi até a varanda da casa e chamou pelo Dave, um dos rancheiros, o mais novo deles, um rapagão maçudo de pouco mais de vinte anos, para que fosse apanhar as malas que estavam no quarto dela e as pusesse no carro. Ninguém havia me comunicado nada de que ela viajaria.
- Aonde você vai, mamãe? – perguntei curioso. – Vai viajar com esse tempo e essa neve toda?
- Sim, Gabe! Eu preciso. – respondeu ela, sem dirigir o olhar na minha direção.
Não sei o que me fez suspeitar que aquela não era uma viagem normal, tipo aquelas que ela costumava fazer até Aberdeen na casa dos meus avós. E, imediatamente, meus sentidos se aguçaram tentando entender o que estava acontecendo naquela manhã atípica. As malas já estavam no carro quando ela veio até mim, fazendo uma inspiração longa e profunda antes de tomar meu rosto em suas mãos e me mandar ser forte. Por que eu precisava ser forte? Ela sentou-se ao volante e tomou o caminho cascalhado que conduzia até a porteira da fazenda. O vapor condensado que saia do cano de escape do carro foi desaparecendo ao se mesclar com a brancura da neve que continuava caindo em flocos finos. Então vi meu pai parado junto a porta corrediça do celeiro observando a partida dela, tanto logo o carro desapareceu na estrada vicinal que conduzia à cidade, ele voltou para dentro do celeiro, não houver sequer um aceno. Ainda perplexo com tudo aquilo, eu não sabia que jamais voltaria a ver a minha mãe.
Pouco depois da partida dela, meu pai entrou em casa, subiu até o quarto dela, demorou-se alguns minutos e tornou a descer chamando por mim na sala de estar onde o fogo da lareira crepitava em meio aos pedaços de lenha quase totalmente transformados em cinzas. Meu pai era um homem grande em todos os aspectos, ao menos eu sempre pensei assim. Alto, espadaúdo, muito musculoso, rosto másculo com um queixo angulado, braços potentes e coxas grossas e vigorosas que o faziam caminhar de forma decidida e firme. Ele ocupava toda a poltrona de couro que ficava próxima à lareira, o que me obrigou a sentar no colo dele quando o abracei e dei o meu “Bom dia!”, junto a um beijo no qual senti os pelos curtos de sua barba espetarem meus lábios. Eu já estava bem crescidinho para sentar no colo dele, mas ambos gostávamos dessa demonstração de afeto que, tanto minha mãe quanto os pais dela, ao a presenciarem, davam para recriminar. Ele me apertou com mais força do que o convencional quando passou seus braços em volta de mim, esperou um pouco e começou a falar.
- A partir de hoje seremos apenas você e eu, não é legal! – afirmou com um sorriso forçado.
- Por que, aonde a mamãe foi? – questionei, sentindo aquela dor que começou a se formar quando ela me beijou crescer dentro do peito.
- Ela foi cuidar da vida dela! – respondeu
- Como assim cuidar da vida dela? A vida dela não é aqui, com a gente?
- Não mais! Você é um menino esperto Gabe, mas ainda é cedo para entender certas coisas, isso vai acontecer com o tempo. Por hora, você só precisa ser forte, e continuar sendo esse meu garotão maravilhoso. Combinado?
Era a segunda vez que ouvia essa recomendação naquela manhã, e me decidi que não queria ser forte, que aquilo que eu não sabia o que era, estava doendo. Então comecei a chorar. Eu não era forte, eu era um menino que não estava compreendendo nada, mas que sabia que tudo aquilo não era boa coisa.
- Não precisa chorar, Gabe! Eu estou aqui, nunca vou te abandonar! – exclamou meu pai, me apertando contra seu tronco e acariciando meu rosto. Foi quando desatei a soluçar, a palavra abandonar trouxe uma luz sobre aquele nefasto amanhecer.
Minha ligação com meu pai sempre foi muito forte. Só ele parecia me compreender e ter sempre uma palavra para me consolar quando ninguém mais era capaz de captar a sensibilidade que havia na minha personalidade. Essa reciprocidade de carinho é que nos tornava alvo de censura, o que só nos levava a ser cada vez mais unidos.
Naquela noite não consegui dormir. “A partir de hoje seremos apenas você e eu” – essa frase não saía dos meus pensamentos e, percebendo que se continuasse sozinho no meu quarto essas palavras continuariam a me atormentar, tirei o Tusker, meu ursinho de pelúcia que há tempos não saía da prateleira próxima a minha cama e caminhei em silêncio até o quarto do meu pai. Fiquei parado ao lado da cama, observando-o. A respiração dele era forte e profunda, ressoava pelo quarto e fazia com que o edredom de movesse cada vez que inspirava. O mais sutilmente possível, entrei debaixo dele e me encostei no corpão quente do meu pai, ali nada de ruim ia me acontecer e aquele ressoar cadenciado ia me fazer adormecer. Mesmo assim, ele acordou ao sentir meu corpo recostado no dele.
- Somos só nós dois agora! – balbuciou ele, me envolvendo em seus braços e beijando o canto da minha boca. Minutos depois eu dormia sem nenhum fantasma rondando meus pensamentos.
Meus pais se separaram depois de quase onze anos, numa união que estava destinada ao fracasso desde o primeiro dia, e ambos pareciam estar cientes disso. Nem meu nascimento antes do primeiro ano, foi capaz de mudar esse destino, embora eu nunca tivesse presenciado alguma discussão mais acalorada, uma briga ou qualquer outro indício de que ambos estivessem infelizes nele. A primeira coisa concreta foi aquela partida súbita da minha mãe, cuja motivação nunca vim a descobrir.
Afora a ausência da minha mãe, que nos primeiros meses me despertou muitas saudades, realmente nada mudou no nosso cotidiano. Continuei frequentando a escola, meu pai estava cada vez mais presente e carinhoso, todos os programas que fazíamos juntos supriam as minhas necessidades de adolescente. Além disso, já não nos preocupávamos mais em segurar aquele afeto que nos unia e, não raro, compartilhávamos a cama na qual ele havia se deitado quase sempre sozinho nesses anos todos. No começo, eu ia procurar abrigo nela nas noites insones, depois minha atração pelo corpo seminu do meu pai me levou a desejar um contato mais próximo, que ele nunca me negou e do qual também parecia gostar. Conversávamos longamente antes de dormir, pouco depois de havermos tomado banho juntos criando uma intimidade entre nossos corpos e gerando nosso inconfessável segredo do qual ambos eram guardiões zelosos. Conquanto a testosterona corresse nas veias de ambos, provocando os mesmos sintomas em nossos corpos, nunca chegamos a conjugá-los, porém estávamos cientes de que mais cedo ou mais tarde isso viria a acontecer.
Com o que eu não contava era que no ano seguinte ao da partida da minha mãe, eu seria mandado a um colégio interno sob a alegação de receber uma melhor formação do que aquela que minha escola atual era capaz de oferecer. Aos prantos supliquei para que meu pai não me afastasse dele, que eu seria o melhor filho que alguém poderia desejar, que não queria perder aquele elo que nos unia e nem o amor que ele tinha por mim.
- Tenho muito trabalho na fazenda, você bem sabe, tem percebido que temos cada vez menos tempo de ficar juntos. Além do mais, lá você terá uma educação primorosa, vai conseguir se candidatar às melhores universidades. E, nós jamais vamos perder esse amor que nos une, eu garanto a você, Gabe! – asseverou meu pai. Pela primeira vez não acreditei nele.
Eu era virgem, ingênuo, mas meu corpo já sabia identificar os sinais de estar sendo cobiçado. As ereções cavalares que meu pai não disfarçava mais me deixavam excitado, e me faziam procurar abrigo em seus braços, numa tortura que vinha sufocando a ambos. Foi a isso que atribuí essa repentina mudança de planos sobre o meu futuro, mais do que a qualquer palavra de convencimento que ele usou para me levar a aceitar a ida ao colégio interno. Assim, aos doze anos, deixei a fazenda onde até então havia sido meu lar, e fui encarar o desconhecido, sem coragem alguma.
O colégio ficava na capital do Estado, Pierre, a mais de 300 quilômetros da fazenda. O edifício imponente de tijolos à vista, três andares e um sótão, cercado de amplas janelas emolduradas por arcos góticos de arenito dominava o centro dos 20 acres de um jardim cheio de recantos bem cuidados com topiarias, labirintos de arbustos aparados, canteiros de flores e esculturas de mármore que se espalhavam pelo vasto gramado. Eu apertei a mão do meu pai assim que desci do carro no estacionamento diante do prédio, pois me senti intimidado por seu tamanho e austeridade. Tive vontade de chorar e pedir a ele para não me deixar ali, mas então me lembrei da frase com a qual ambos, mamãe e papai, haviam me instruído – Be brave, Gabe! – e engoli o nó que travava minha garganta. Fomos recebidos pelo diretor, um homem de meia idade com grandes entradas na testa e um cabelo ralo de cor palha, seus olhos eram grandes e castanhos e pareciam enxergar muito além das aparências. Ele se mostrou gentil, logo chamou seu auxiliar para me mostrar o meu quarto que seria compartilhado com mais três alunos, enquanto ele discutia questões burocráticas e financeiras com o meu pai. Antes de me deixar conduzir pelo auxiliar, corri até meu pai e me pendurei ao pescoço dele, apertando-o com toda a força que tinha.
- Vá lá meu querido, conhecer seu novo quarto e as dependências do colégio. Nos vemos daqui a pouco, antes de eu voltar para casa. – disse ele, dando tapinhas carinhosos nas minhas costas. Eu quase podia jurar que ele ia acrescentar – Be brave, Gabe! – mas ele não disse mais nada.
Os cômodos do edifício entram interligados por largos corredores revestidos de mármore branco e preto formando um mosaico parecido ao de um tabuleiro de xadrez e por escadarias amplas com degraus de arenito, ao se caminhar por eles, os passos reverberavam nas paredes e no teto alto denunciando que suas entranhas possuíam algum tipo de vida.
- Aqui será o seu dormitório! Este é Justin, ele será um dos seus companheiros de quarto, os outros dois devem chegar amanhã ou depois, as aulas só começam da segunda-feira. – comunicou-me o auxiliar do diretor, após termos feito um tour pelos principais cômodos do prédio. – Vou deixá-los para se conhecerem, e você poder começar a arrumar suas coisas, volto para te avisar quando seu pai for partir.
- Oi! Justin! Seja bem-vindo! Se é que se pode ser bem-vindo a um lugar como esse. – proferiu o rapaz de cabelo castanho espetado em todas as direções e que me lembrou um ouriço, o que também logo lhe rendeu o apelido de Hedgehog, estendendo-me a mão com um sorriso amistoso brilhando em seus olhos âmbar.
- Oi! Gabe! – respondi tímido, baixando o olhar.
- Você pode escolher qualquer um desses beliches, eu fiquei com esse aqui! – continuou ele, sentando-se na cama de baixo de um dos beliches. – De onde você é? – emendou, para puxar conversa.
- Posso ficar com essa aqui? Perguntei, apontando para cama que ficava acima da dele. – Watertown, e você? – esclareci
- Claro que pode! Wichita, no Kansas. – respondeu ele. – Você está triste? – perguntou, o que quase me levou às lágrimas. Era tão óbvia assim aquela dor me sufocando o peito? Demorei a responder, o que por si só já respondia à pergunta.
- Um pouco! – confessei sincero.
- Você nunca estudou num colégio interno antes?
- Não, nunca!
- É por isso que está assim, mas logo você se acostuma. Eu sempre estudei em colégios internos. – revelou o Justin. Tive pena dele, não sei explicar o porquê, mas achei que ninguém podia ser feliz num lugar como esse.
- É, talvez! – respondi.
- Mesmo porque não há outra alternativa, não é? – indagou ele. Eu não concordava, porém teria que me acostumar a essa realidade.
- É, acho que não!
Fomos interrompidos pelo auxiliar do diretor que voltou para me chamar, meu pai estava de partida. Larguei tudo e saí quase a correr à frente dele, percorrendo os corredores que conduziam à saída, os únicos que havia gravado na memória. Desci a escadaria do edifício até o pátio de estacionamento pulando os degraus de dois em dois, e com um salto, voltei a me pendurar no pescoço do meu pai, e chorei. Ele me apertou com força, dava para sentir os batimentos acelerados do coração dele pulsando contra o meu peito. A expressão em seu rosto era pesada quando ele afagou carinhosamente o meu. Eu estava prestes a pedir para que não me abandonasse ali, que fossemos para casa juntos viver as nossas vidas, mas eu não queria fazê-lo repetir todos aqueles discursos que havia me feito para me explicar o inexplicável por ter se decidido a me levar para um colégio interno. Ele me soltou no chão, entrou na picape e mais uma vez eu vi um carro conduzindo um dos meus entes mais queridos por uma alameda que o levava para longe de mim. Por mais de um quarto de hora fiquei plantado ali no meio do estacionamento, os pensamentos vagando em minha mente, uma sensação de ser a última criatura sobre a face da terra. As lágrimas secaram por si mesmas, e eu tornei a me embrenhar nas entranhas obscuras da minha nova casa.
No dia seguinte, vieram quase todos os estudantes voltando das férias ou, aqueles que como eu, estavam ali pela primeira vez. Entre eles os outros dois companheiros de quarto, Jake Hartley um veterano em seu segundo ano no colégio, e Seong-su Kinslay um imigrante sul-coreano filho de um casal de mãe coreana e pai americano que, devido às profissões, viajavam muito e haviam optado por deixar o filho num colégio interno. Jake era atirado, talvez por aquilo tudo não ser mais nenhuma novidade para ele, enquanto Seong-su conseguia ser tão ou mais tímido do que eu, talvez por sua origem asiática ou por se sentir tão abandonado quanto eu.
Já nas primeiras semanas após o início das aulas, esse quarteto díspar começou a despertar a atenção dos demais alunos e grupinhos. Tudo começou no refeitório com uma discussão entre o Jake e um carinha parrudo que liderava uma espécie de gangue de encrenqueiros. O Jake inicialmente ficou na dele, tentou a todo custo ignorar a provocação com seu jeitão compenetrado e taciturno, mas houve um momento em que chegou ao seu limite e passou a revidar os empurrões e socos, arrebentando com a cara do provocador, deixando-o caído no chão do refeitório em meio à comida espalhada. O seguinte a passar por uma prova de fogo foi o Seong-su numa clara demonstração de xenofobia que começou por meio de um apelido e de repetidas ações de bullying nos intervalos entre as aulas. O Seong-su era bastante introvertido, andava sempre cabisbaixo abraçado com os livros e cadernos, permanecendo isolado o quanto fosse possível, inclusive de nós seus companheiros de quarto. Uma noite, ao fazer o trajeto entre a biblioteca e o nosso quarto, ele foi capturado por outro bando que gostava de uma boa confusão, arrastaram-no até a piscina do ginásio de esportes coberto e após inúmeras agressões verbais e alguns safanões, atiraram-no na água enquanto ele procurava defender seu material escolar. Seong-su não sabia nadar, quando perceberam que ele estava se afogando, resgataram-no todo atordoado e o abandonaram encharcado junto a borda da piscina. Foi lá que o encontramos, tremendo de frio quando, após o horário de recolher, ele não havia regressado ao quarto. A terceira vítima de uma gangue fui eu, no vestiário das quadras esportivas. Nunca fui afeito a qualquer tipo de esporte, participava das aulas por obrigação e, o minimamente possível. Também detestava aquele clima reinante dos vestiários, com caras pelados debaixo dos chuveiros ou perambulando com as toalhas amarradas à cintura falando sacanagens e comparando-se uns aos outros quanto ao tamanho de seus falos, vangloriando-se de feitos com suas experiências com as garotas. Três quartos do que proclamavam não passava de mentiras para impressionar os mais recatados, no entanto, uma porção de babacas passavam a idolatrá-los e segui-los como exemplo. Nesse ambiente dominado pela luxúria, eu ficava ainda mais tímido, tinha vergonha do meu corpo, particularmente do meu pintinho bonito e proporcionalmente pequeno para a minha compleição física, embora não destoasse das esculturas e pinturas renascentistas e, da minha bunda bastante carnuda e saliente que parecia nunca caber nas calças. A tudo isso se somava uma total ausência de pelos, eu conseguia ser até mais lisinho e desprovido deles do que o próprio Seong-su que, enquanto asiático já era bem desprovido de pelos pelo corpo. Devido a isso eu me escondia, evitava tirar as roupas diante dos colegas e só seguia para os chuveiros quando todos já haviam deixado o vestiário, o que muitas vezes me fazia chegar atrasado nas aulas. Uma tarde, pensando estar só, apressei-me na ducha e mal tinha vestido a cueca quando o grupinho de quatro alunos entrou no vestiário. Feito gaviões vieram para cima de mim tentando arrancar minha cueca.
- Vamos ver se ele tem um pinto! – berrou o líder, procurando agarrar meu pau, enquanto eu me debatia tentando escapar dos que me seguravam.
Por mais pontapés e socos que eu desferia à esmo, não consegui evitar que me deixassem nu e bolinassem tanto com o meu pinto quanto com a minha bunda, mas logo surgiu o Justin para me defender e uma briga começou tumultuando o vestiário com o ar ainda envolto nos vapores úmidos dos chuveiros e do cheiro de suores. Eu fiquei sem ação, paralisado, cobrindo meu sexo encolhido a um canto, enquanto o Justin lutava valentemente com os quatro, numa algazarra que já podia ser ouvida à distância. Ao se darem conta de que poderiam ser flagrados em plena briga, os quatro saíram correndo, deixando o Justin quase nocauteado.
- Você está bem? Eles te machucaram? – perguntou ao se levantar e vir na minha direção.
- Não sei! – respondi envergonhado por ele estar me vendo nu.
- Tome aqui as tuas roupas! Vai ficar tudo bem, não precisa ter medo. – asseverou ele, me abraçando.
Permanecemos um tempinho ali até o susto passar, antes de voltarmos para o quarto e eu notar que eles haviam machucado o rosto dele.
- Obrigado! – exclamei, penalizado pela situação dele.
- Você devia ter reagido, batido neles também, pego qualquer coisa que estivesse ao seu alcance para se defender. Se eu não tivesse aparecido quem sabe o que podia ter acontecido. – sentenciou ele.
- Eu tentei, não tinha nada para me defender ao meu alcance, e não deu certo, eles são bem mais fortes do que eu. – respondi
- Você podia ter molhado a toalha e dado neles com ela, seria uma boa arma. – sugeriu ele.
- Não pensei em nada, só em não ficar pelado. – respondi encabulado.
- Já passou! Você vai ficar bem! – eu queria acreditar nele, mas sabia que outros episódios como esse podiam se repetir a qualquer momento.
- Seu lábio está sangrando, e seu olho está ficando inchado e roxo. – afirmei ao observar o rosto dele.
Com uma toalha de rosto umedecida comecei a limpar o sangue espalhado em seu rosto, ele soltava uns “ais” quando eu tocava os locais doloridos. Havia uma laceração no supercílio esquerdo dele e na parte interna do lábio inferior, ambas ainda vertendo um pouco de sangue após eu ter limpado seu rosto. Apliquei um curativo adesivo na sobrancelha o que conteve o sangramento. Ele me sorriu, eu devolvi o sorriso.
- Você é maluco de enfrentar os quatro! Olhe para a sua cara, está toda machucada. – afirmei condoído.
- Mas você está salvo, é isso que importa! – exclamou ele. Nesse instante começou a nossa amizade.
Aquela noite me agitei tanto na cama que o Justin não conseguia dormir com o balanço do beliche. Num pesadelo sem fim, eu me via sendo desnudado e vilipendiado por um bando de garotos tarados pelo meu corpo, eu lutava, mas numa condição de desigualdade insuperável, o que fazia meu receio de ser estuprado virar quase realidade.
- O que está acontecendo aí em cima? – perguntou o Justin, me acordando do pesadelo.
- Nada! – até para revelar o pesadelo eu tinha medo.
- Então por que não fica quieto e me deixa dormir?
- Desculpa! Tive um pesadelo! – respondi cauteloso. – Vou ficar quieto, prometo!
- Com o que aconteceu hoje no vestiário? – indagou ele, surgindo na beira da minha cama com a cara sonolenta e ainda inchada dos socos que levou.
- É!
- Chega para lá! – ordenou, subindo e se enfiando comigo debaixo da coberta. – Eu estou aqui, ninguém vai fazer nada contigo! Trate de dormir! – acrescentou, me abraçando e colando seu corpo ao meu. Dormi feito um anjo.
Toda vez que os pesadelos se repetiam ele vinha se deitar comigo e eu esquecia meus receios em seus braços, onde parecia reinar uma segurança que se assemelhava a dos braços do meu pai.
O Justin não se conformou de não ter dado conta daqueles quatro como pretendia, e estimulado pelo Jake ambos começaram a malhar e a se dedicar à defesa pessoal com um afinco que jamais vi igual. Eles passavam horas no ginásio de esportes treinando, assistiam a campeonatos de lutas marciais e dedicavam quase todo seu tempo livre moldando seus físicos em crescimento. O Jake já era bom de briga como tinha provado, mas o estímulo do Justin em querer aprender a se defender fez com que se tornassem bons parceiros de treino. Um ano depois, ambos já apresentavam um corpo bastante atlético e vigoroso que ia se sobrepondo ao restante da garotada, mesmo daqueles mais velhos que costumavam provocar os mais fracos e retraídos.
- Você está treinando tanto por causa do Gabe, não é? – perguntou-lhe certo dia o Jake
- Estou treinando para aprender a me defender, nunca mais quero ser derrotado por outro garoto! – respondeu o Justin.
- Eu já percebi como você cuida do Gabe, e que vai se deitar com ele toda vez que ele tem pesadelos. Você gosta dele, não é? – questionou o Jake
- E o que você tem a ver com isso? – retrucou o Justin, achando que aquilo era uma provocação.
- Nada! Não pense que estou te julgando! Eu acho legal a amizade de vocês dois. O Gabe também gosta muito de você, dá para ver como ele te olha, como te admira. – devolveu o Jake
- E daí?
- Daí, nada! Não se preocupe, eu nunca vou comentar nada com ninguém sobre vocês dormirem juntos e abraçados. Se vocês se curtem, eu dou até força. Não esquenta! O segredo de vocês está guardado de minha parte e acho que por parte do Seong-su também. – asseverou o Jake.
- Não vá achando que só porque estou tranquilizando o Gabe que eu sou viado! Eu só não quero que ninguém o machuque, ele é um cara muito legal e eu gosto dele desse jeito. – sentenciou o Justin.
- Eu já disse, não esquenta! Não acho que você seja viado só porque se preocupa e cuida do Gabe, eu também acho ele um carinha muito legal e que não merece que zoem com ele.
- Tá, então valeu! Desculpe eu desconfiar das suas intenções. – retrucou o Justin.
Nunca mais se falou sobre o assunto. O Seong-su tinha seus problemas e também nunca mencionou ou deu importância ao fato do Justin e eu muitas noites dormirmos abraçados, mesmo quando após isso estar acontecendo com mais frequência, eu ter passado a gemer baixinho e contidamente porque o Justin estava me penetrando no cuzinho.
A primeira vez em que isso aconteceu foi próximo às férias de verão, numa noite abafada de ar estagnado e alta umidade que não deixava o suor se dissipar do corpo da gente. Após o banho fui me deitar usando apenas a cueca, o lençol fino se assemelhava a um edredom tão quente estava o quarto e, aos poucos, durante meu agite, fui me livrando dele. O Justin também estava tendo uma noite insone, tanto pelo calor quanto pelo estímulo que meu corpo vinha exercendo sobre ele, provocando-lhe consecutivas ereções, e que muitas vezes o obrigavam a se masturbar debaixo do chuveiro. Ele estava tendo uma delas, a terceira daquele dia, segurando-a com uma das mãos enquanto olhava fixamente para a cama de cima, implorando para que o sono viesse e o livrasse daquele tormento. De tanto tempo duro, o cacetão dele já começava a doer, ele então resolveu se mudar para a cama de cima. Ele me tirou do cochilo ao se encaixar nas minhas costas e passar o braço pela minha cintura, eu nunca o repeli, gostava de ficar enrodilhado nele, mesmo quando comecei a notar que em algumas dessas ocasiões, algo rijo se comprimia ou resvalava nas minhas nádegas. Naquele dia ele já subiu nu, e na penumbra vi que o caralhão dele estava enorme e duro e o achei lindo como das vezes em que o flagrei debaixo do chuveiro se masturbando. Esperei ele se encaixar em mim, e quando senti o braço dele me envolvendo, peguei sua mão e a beijei, demonstrando que gostava de ele estar tão juntinho a mim.
- Você não devia ser tão carinhoso assim comigo! – sussurrou ele
- Por que não, se eu gosto de você? – questionei
- Porque isso me excita como você já deve ter notado, e eu fico querendo você. – respondeu
- Eu também quero você! – devolvi.
- Você não sabe o que isso significa! Quando eu digo que quero você, eu quero dizer que quero transar com você, que quero colocar meu pinto dentro do seu cuzinho. Você não ia querer uma coisa dessas, é o mesmo que aqueles garotos querem fazer com você. – afirmou
- Com eles eu não quero, mas com você sim! – sussurrei, beijando mais algumas vezes a mão dele, que me acariciava o rosto.
- É sério? Você deixaria eu entrar em você? – ele mal podia acreditar que eu tinha dito aquilo, que tinha aberto essa possibilidade.
- Sim, deixaria! Assim a gente ia ficar ainda mais juntinhos! – devolvi, na inocência da minha virgindade, sem ter plena ciência dos passos e consequências de um coito.
- E você gosta de ficar juntinho a mim?
- Gosto muito!
- Posso entrar em você agora? – ele salivava de tanto desejo, melhor dizendo, seu falo babava de tanto tesão.
- Pode! O que eu preciso fazer? – ele nem desconfiava do quanto eu gostava dele, do quanto o achava o garoto mais lindo e forte do colégio, e do quão privilegiado me sentia por sermos tão amigos.
- Nada! Você não precisa fazer nada, é só ficar paradinho nessa posição, talvez erguer um pouco essa perna, nada mais, o restante eu faço. – respondeu, fletindo ligeiramente minha perna direita para facilitar o acesso à minha bunda. Eu obedeci e ele montou em mim.
No mesmo instante senti sua ereção resvalando no meu reguinho apertado. O Justin moveu os quadris e o cacetão melado ficou se mexendo entre as bandas da minha bunda. Ele arfava junto ao meu rosto e eu virei o meu na direção dele. Assim que o hálito morno dele roçou minha boca eu a levei para junto da dele e o beijei, comprimindo meus lábios contra os dele. Eu vinha querendo fazer isso já fazia algum tempo, toda vez que olhava para a boca sensual dele eu sentia esse desejo crescendo dentro de mim. Agora eu a tinha, ela era saborosa, quente, se unia a minha num encaixe perfeito, como se tivessem sido feitas uma para a outra. O Justin a movia e a comprimia contra a minha numa força crescente, ao mesmo tempo em que colocava sua língua dentro dela, o que me surpreendeu, mas que achei a coisa mais maravilhosa que já tinha sentido. De tão feliz eu a lambi com a minha e a chupei quando senti que ele salivava abundantemente. Esse encanto até me fez esquecer por alguns segundos do caralhão dele deslizando no fundo do meu rego, mas logo voltei a senti-lo, já sendo forçado sobre a minha rosquinha anal. Ela se contraia, abrindo e fechando, sem nenhum controle de minha parte. Parecia ter desejos e vida própria. O Justin sentia meu cuzinho piscando e tentando abocanhar a cabeça melada de seu pau, fazendo-o subir pelas paredes de tamanha tara que sentia. Nenhum dos dois tinha feito sexo alguma vez; ambos virgens, estávamos tendo aquelas primeiras sensações, comungávamos apenas o mesmo desejo, unir nossos corpos, fundi-los num só. Ele, instintivamente, sabia que precisava enfiar o pinto no meu casulo anal, eu, também instintivamente e, por estar começando a compreender a minha natureza que me compelia e me atraia para os homens, sabia que precisava me entregar, me abrir e me deixar penetrar no lugar mais íntimo e resguardado do meu corpo. O Justin tentou por três vezes romper a resistência das minhas preguinhas que se ocluíam e o obrigavam a usar de mais força a cada nova tentativa. Na quarta vez, enquanto meu cuzinho relaxava entre uma piscada e outra, ele enfiou o cacetão em mim. Soltei um grito e, assustado pela dor e pelo receio de ter acordado alguém, afundei a cara no travesseiro e o mordi, pois outro impulso vigoroso do Justin estava fazendo o caralhão deslizar mais para dentro do meu cuzinho. Entrei em desespero quando senti aquela dor aumentando e se espalhando pelo baixo ventre.
- Ai, ai, Justin não estou aguentando! Dói muito! – gani entre dentes, tentando suportar aquela dor que parecia estar me rasgando ao meio.
- O que é que dói? Eu não estou te machucando! – retrucou ele, arfando mais que antes e louco de vontade de enfiar o pauzão inteiro naquela maciez apertada, úmida e quente, que envolvia seu membro na mais prazerosa sensação que já sentira.
- Acho que está, sim! Tenho a impressão que você me rasgou, e quanto mais fundo você enfia, mais dor eu sinto. – devolvi confuso, sem saber o que poderia estar acontecendo.
- Rasguei? Como assim, eu te rasguei? O que pode se rasgar, se eu só estou penetrando em você? – questionou ele, sentindo o tesão a lhe cobrar mais ação.
- Não sei explicar, mas é isso que estou sentindo! – respondi.
- Dá para vocês dois pararem de cochichar, ninguém consegue dormir com essa barulheira toda! – protestou o Jake de sua cama, cobrindo os ouvidos com o travesseiro.
- Me desculpa! – exclamei, pois era eu quem mais estava fazendo barulho com meus ganidos de sufoco.
- Antes de vocês começarem com esse troço que estão fazendo, por que não foram se informar como fazer a coisa certa? Podiam ter ao menos perguntado para alguém mais experiente, ou pesquisado na Internet, o que não falta é informação. – sentenciou o Jake, deixando o Justin e eu sem palavras.
- Você quer que eu pare? – perguntou-me o Justin.
- Vocês são uns bobalhões mesmo! Já que perdi o sono mesmo! Não precisa parar, Justin. Apenas vá colocando mais devagar, deixa o cuzinho do Gabe ir se acostumando com o seu pau e relaxar, quando você perceber que ele não está mais tão contraído, dá uma nova forçada com bastante gentileza, automática e instintivamente o cuzinho do Gabe vai se contrair, aí você para e espera novamente, e assim vai repetindo até todo seu pau estar dentro do Gabe. Aí vocês se curtem, vão se movendo devagar para o pau não escapar e deixam acontecer naturalmente. – instruiu o Jake. Não esperávamos por essa aula e acabamos achando graça, sem conseguir segurar o riso. – Mas façam isso em silêncio seus depravados, eu quero dormir, e não assistir uma sessão de sacanagens. – emendou zangado.
Eu nunca senti algo mais maravilhoso do que o pauzão do Justin pulsando dentro do meu corpo, da pele suada dele grudada na minha, do jeito que ele me envolvia em seus braços como se quisesse que nos fundíssemos um no outro, dos beijos cheios de ternura e paixão que eu lhe dava e que sua boca retribuía na mesma intensidade. Acho que era a isso que o Jake se referia quando disse – “Aí vocês se curtem” – porque era exatamente isso que estávamos fazendo, nos curtindo de um jeito todo especial. O Justin tinha praticamente montado em mim, e se mexia devagar e pouco como aconselhara o Jake, o que me permitia senti-lo por inteiro, como se ele todo tivesse entrado em mim, e eu só pensava em aninhá-lo o mais justo e apertado possível para que aquelas pulsações do cacetão dele reverberassem nas minhas entranhas. Os beijos ardentes, os toques que faziam nossas peles se incendiarem foram nos levando a um ponto em que quase não dava mais para aguentar. Eu achei que ia explodir e, de repente, sem ter percebido que meu pau também estava completamente rijo, eu senti que estava gozando, era a mais sublime e fantástica felicidade. Pouco depois o Justin parecia ter perdido o controle sobre si mesmo, ele me estocava com força, eu gania, o Jake de sua cama soltava palavrões e, junto com um estremecimento, o Justin ejaculou no meu cuzinho. Eu estava tão sensível que sentia os jatos entrando e escorrendo num formigamento excitante, nesse momento o urro do Justin superou os meus ganidos, ele se agarrou com mais força ao meu tronco em quanto as contrações de sua pelve se encarregavam de liberar seu sumo viril onde ele mais desejava.
- Juro que vou aí jogar um balde de água fria em vocês dois se não pararem agora com essa zoeira! Caralho, quem é que consegue dormir com essa putaria toda? – esbravejou Jake, perdendo a paciência.
- Desculpe Jake! Não foi de propósito, eu juro! – exclamei, temendo que ele cumprisse sua ameaça.
- Tá, tá, agora cala a boca e dorme! Se é que vai conseguir. – revidou ele.
Enquanto isso, o Justin ignorava os protestos do amigo, ele ainda saboreava de corpo alma aquilo que tinha acontecido entre nós dois, e se deixava caído sobre mim, afagando meu rosto, beijando meu ombro, esperando o pau relutante amolecer, sem a mínima vontade de tirá-lo de dentro de mim.
- Eu podia passar o resto da minha vida assim, dentro de você, te abraçando! – sussurrou ele, enquanto mordiscava minha orelha. Eu compartilhava do mesmo sentimento, aquilo podia nunca acabar.
Subitamente ambos se lembraram do Seong-su, e olhamos quase simultaneamente para a cama dele. Ele certamente também foi acordado pelo nosso reboliço, mas não disse uma palavra. O silêncio dele era algo que me perturbava, era um silêncio que parecia esconder seu julgamento sobre as pessoas e os acontecimentos. Também era o que o mantinha afastado de todos. Ele não fizera nenhum amigo nesse tempo todo, o coleguismo dele era frio e distante. Com o tempo, eu achei que ele vivia num mundo só dele, onde não havia mais pessoas. Porém, eu gostava dele, não sei bem explicar por quê, mas eu simpatizava com ele, muito embora ele jamais tivesse sido simpático comigo.
Constrangido, tentei falar com o Seong-su a caminho do refeitório, sobre o que tinha rolado entre o Justin e eu na noite anterior. Eu achava que lhe devia uma explicação, mas também queria pedir seu sigilo.
- Você não precisa me explicar nada, Gabe! O que você e o Justin fazem não é da minha conta. – retrucou ele, assim que abordei no assunto.
- Eu sei, eu entendo! É que atrapalhamos o seu sono e é por isso que quero me desculpar, entende. E também, te dizer que eu gosto muito do Justin e por isso aquilo aconteceu. – devolvi.
- Eu sei que vocês querem o meu silêncio, que tem medo que eu vá contar o que presenciei, mas não se preocupem, eu jamais vou falar nada sobre isso com ninguém. Você tem sua maneira de pagar pela proteção que o Justin te dá contra esses garotos encrenqueiros e, como você faz isso, não é problema meu. – disse ele.
- Eu não fiz o que fiz com o Justin para recompensá-lo de alguma forma pelo cuidado que ele tem comigo. Eu descobri que sou gay Seong-su, é por isso que eu me entreguei para o Justin, é porque eu gosto dele de verdade, como homem. – afirmei. – Eu não me submeteria a fazer sexo com qualquer um se não fosse por eu gostar dessa pessoa, gostar de um jeito todo especial, amar, na verdade. – acrescentei
- Como eu já te disse, isso é problema seu! Seu segredo está guardado comigo, e é isso que importa, para deixá-los despreocupados. – retrucou ele, com jeito seco de ser e lidar com os outros.
- Obrigado, de qualquer forma, Seong-su! Se um dia você precisar de alguma coisa pode me pedir, vou ficar feliz em te ajudar. – asseverei, em mais uma tentativa de me aproximar dele.
- Não obrigado! Não gosto de ficar devendo favores aos outros! Eu sei como cuidar da minha vida. – confesso que não esperava essa resposta rude, mas deixei passar. Ele devia ter seus motivos para não querer amizades.
- Você não me deveria absolutamente nada se eu precisasse te ajudar alguma vez, eu o faria de bom grado e sem esperar nada em troca, esteja certo!
- A aula já vai começar, preciso subir e escovar os dentes! – devolveu ele, abraçando livros e cadernos da sua maneira usual e me deixando sozinho.
- Falou com o Seong-su? O que ele disse? Vai guardar segredo? – perguntou-me o Justin assim que fui ao encontro dele.
- Falei! A reação dele foi estranha. Mas ele disse que não ia contar nada para ninguém. – respondi
- Ele é estranho, não só as suas reações! Nunca vi cara mais esquisito do que ele. O importante é que ele fique calado. – disse o Justin. – E você como está? Sente alguma dor? Eu fiquei preocupado quando vi aquele sangue no lençol, achei que era do meu pau, mas quando vi que era da sua bunda fiquei aflito por ter te machucado. Eu não percebi que estava te machucando, porque não entendi como você podia estar sentindo aquela dor que mencionou. Me perdoa, Gabe, se fui muito bruto. – emendou ligeiro, pois desde que notamos aquele sangue no lençol e no meio das minhas nádegas, ficamos preocupados achando que algo tinha dado errado.
- Estou bem, foi apenas o susto! Você não foi bruto! Nunca tinha sentido uma felicidade como aquela. – revelei.
- Eu também! Isso quer dizer que podemos fazer mais vezes?
- Sim, podemos! – respondi com um sorriso ao mesmo tempo terno e lascivo. O semblante do Justin se iluminou.
Naquela tarde o Justin conversou franca e demoradamente com o Jake durante os treinos no ginásio de esportes quando tiveram a chance de ficar sozinhos, sobre o nosso lance da noite anterior. Ao que parece, o Jake entendia mais do assunto do que a gente supunha, e ele deve ter dado mais uma aula sobre os mistérios do sexo para o Justin, pois quando ele voltou do treino, ele me encarava com um brilho diferente nos olhos, um brilho de cobiça de quem já urdia planos para repetir outros coitos como aquele. Quando lhe perguntei por que estava me encarando daquele jeito, ele riu discretamente, e respondeu simplesmente – Porque você é muito lindo! – para mim, foi o mesmo que não ter dado resposta alguma, continuei sem compreender.
Eu vinha observando as mudanças no corpo do Justin, lentas, mas progressivas, e que estavam-no deixando com uma compleição mais máscula. De um ano para cá, seus ombros praticamente haviam dobrado de largura, seus bíceps aumentaram e se tornaram mais salientes, os pelos pubianos haviam se adensado e agora faziam uma trilha no centro de seu abdômen que subia até o umbigo, também havia mais pelos em suas pernas, e outros começavam a pespontar sobre o peitoral dele. A voz deixou de modular, agora saía mais grave. No queixo começou a crescer uma barbicha que ele precisava barbear a cada dois ou três dias, juntamente com outros pelos ainda esparsos que desciam de suas costeletas e chegavam à borda da mandíbula. O volume entre as coxas dele também havia crescido, e seu contorno sob as calças se tornava cada vez mais visível. Toda vez que eu me deitava nos braços dele, ficava observando maravilhado aquelas sutis mudanças, e as percorria delicadamente com as pontas dos dedos. Ele se deixava afagar como um gato, apenas observando calado eu tocá-lo com tanto carinho.
- Você está ficando diferente a cada dia, mais bonito! – murmurava eu, enquanto o acariciava.
- Diferente como? – indagou ele
- Eu disse, mais bonito! Sei lá!
- Bobão, eu e você estamos crescendo, apenas isso! O que fica cada dia mais lindo é o seu corpo, o seu rosto quando sorri para mim, isso sim está mudando, e para melhor. Mesmo quando você não está na mesma cama que eu, fico imaginando e sonhando segurando seu corpo nos meus braços como agora. – confessou.
As conversas segredadas entre o Justin e o Jake fizeram aumentar a frequência com a qual copulávamos. O Justin estava se aperfeiçoando na arte de fazer sexo, era criativo sempre inventando uma novidade que, a princípio, me deixava intrigado, às vezes, até receoso; porém ao consumar o coito, ele conseguia me levar às nuvens e me fazer descobrir prazeres ocultos no meu corpo que eu desconhecia. Em nosso dormitório já não era mais segredo que eu era gay e que o Justin era o meu macho, uma vez que as transas noturnas haviam aumentado de constância. Meu grande receio era de aquilo sair daquelas quatro paredes e ganhar os corredores do colégio, o que seria uma catástrofe de proporções incalculáveis.
Esse receio quase tomou uma configuração real num raríssimo dia no qual, ao estudar com o Seong-su na biblioteca, onde ele costumava passar horas sozinho e recluso de qualquer outro contato, um daqueles cadernos com os quais sempre andava abraçado junto ao peito despencou da mesa e caiu aberto no chão. E lá estava eu em nosso dormitório, num desenho de uma nitidez e perfeição de traços que só um artista talentoso seria capaz de retratar, completamente nu, de frente, com meu pintinho proporcional e quase infantil não fosse o prepúcio já não cobrir completamente a glande, deitado adormecido no tronco do Justin e envolto em seus braços. Cada detalhe minucioso dos músculos de ambos estava fielmente delineado, até os que estavam sob tensão e os que estavam relaxados podiam ser vistos como se estivessem sendo observados ao vivo. Meu coração quase saiu pela boca ao ver aquele caderno aberto podendo ser flagrado por qualquer eventual passante.
- O que significa isso, Seong-su? Pelo amor de Deus pegue logo esse caderno! – eu praticamente me atirei sobre o caderno no salto que dei da cadeira. – Você ficou louco? Por que fez esse desenho? Exijo que se livre dele agora mesmo, ou vou dar sumiço nesse caderno. – continuei desesperado.
- Não se aflija, ninguém nunca viu esse caderno! Eu gosto de fazer desenhos ... das coisas que eu vejo. Não os fiz com nenhuma segunda intenção, eu juro! – respondeu ele.
- Você não podia ter feito isso comigo! Se esse caderno cai nas mãos erradas eu e o Justin estaremos lascados, você já se deu conta disso? Lascados, ferrados, fodidos, Seong-su, você me entende? – despejei exasperado, olhando ao redor para ver se alguém tinha percebido alguma coisa, ou visto o que não devia.
- Me desculpe! Posso te dar o desenho se você quiser.
- Não, Santo Deus, não! Isso está muito perfeito, muito bonito, mas precisa ser destruído ou quem será destruído seremos o Justin e eu. – devolvi.
Nesse instante arranquei o caderno já fechado das mãos dele para dar sumiço no desenho, mas ao folhear as páginas para encontrá-lo, constatei que só havia desenhos nele, nenhuma anotação de qualquer disciplina, apenas desenhos, centenas deles. Me mudei para a mesa mais escondida da biblioteca, uma que ficava isolada atrás de duas largas colunas de sustentação, e me inclinei sobre o caderno que fui folheando com cautela, sempre atento para ver se alguém se aproximava. O Seong-su me seguiu, e pedi para que ele vigiasse o movimento ao redor. Os desenhos foram me deixando boquiaberto. Havia professores dando aula retratados, quase sempre nus, muitos com o rosto desfigurado, mas ainda reconhecíveis. Havia alunos ou em sala de aula, ou em atividades e descanso por quase todas as dependências do colégio. Alguns uniformizados, outros em trajes esportivos nas quadras, outros ainda complemente pelados com um detalhamento surpreendente de seus corpos. Os quatro principais algozes dele estavam nesse grupo, seus corpos atléticos e fortes estampavam a musculatura de dominância subjugando alunos mais retraídos e fracos cujos rostos nunca tinham nitidez, o que me levou a concluir que se tratava dele próprio. Alguns desenhos chegavam a ser engraçados, outros bizarros, outros ainda, exprimiam medo e revolta. À medida em que virava as páginas, fui me identificando em outros desenhos, ora só, ora com o Justin, e até um onde o Jake me observava trocando de roupa após uma chuveirada, enquanto sua mão manipulava o cacete. Num eu estava dormindo no meu beliche com um livro de geografia aberto sobre o peito. Noutro eu estava pelado nos chuveiros do vestiário do ginásio de esportes envolto numa bruma de vapor e com os outros alunos me examinando com cobiça. Em outro, o Justin estava me penetrando debaixo da ducha no banheiro do nosso dormitório; a cena exibia o exato momento em que a imensa cabeçorra do Justin havia penetrado no meu rego e já não podia mais ser visualizada, restando o caralhão cheio de veias ingurgitadas e o sacão peludo sendo comprimidos contra o meu cuzinho, ambos estávamos sorrindo, minha cabeça lançada sobre o ombro dele e suas mãos bolinando meus mamilos. A imagem era carregada de erotismo, eu me lembrei do dia em que ela aconteceu e, na ocasião, nem imaginei que alguém nos observava, o que a tornava ainda mais perigosa no meu entender. E ainda, havia aquela que ficou exposta quando o caderno caiu no chão.
- Você desenha muito bem, Seong-su! Mas, isso aqui é uma bomba! Você também corre perigo se esse caderno cair nas mãos erradas, consegue visualizar o risco que está correndo? – sentenciei ao terminar de folhear o caderno.
- Eu sei!
- Então, cara! Suma com isso! – aconselhei.
- Vou fazer isso, prometo! – retrucou ele, arrancando e me entregando as páginas nas quais eu aparecia.
Passei o restante do dia num dilema, mostrar ou não os desenhos ao Justin. Qual seria a reação dele? Eu não queria nem pensar. O Justin não tinha nada contra o Seong-su, mas também não tinha muita coisa a seu favor, e esses desenhos podiam comprometer ainda mais a tênue ligação entre os dois. Eu não queria que um clima de desarmonia se instalasse em nosso dormitório, o lugar se tornaria insuportável. Por outro lado, se omitisse a existência e conteúdo dos desenhos, o Justin podia achar que eu o traí, que trai sua confiança, e com isso eu não suportaria viver, pois ele era uma das pessoas mais importantes da minha vida.
- Por que está tão calado, desde o jantar você quase não fala nada comigo? Está zangado com alguma coisa que eu disse ou fiz? – questionou o Justin
- Não, claro que não, você não fez nada! Eu estou pensativo, só isso! – respondi, ainda com o dilema a me atormentar.
- Está pensando em mim? Eu passei o dia pensando em você se entregando para mim, me deixando fazer de um tudo com você. – devolveu ele, com uma expressão libidinosa e insinuante.
- Também! Porém não do jeito que você imagina. Eu preciso te contar uma coisa, mas antes, você vai ter que me jurar que não vai tomar nenhuma atitude drástica, e que não vai brigar com o Seong-su. Você promete?
- O Seong-su? Por que eu haveria de brigar com o Seong-su, mal se percebe a presença dele?
- Por causa disso aqui! – exclamei, tirando do fundo de uma das gavetas do meu lado do armário os desenhos que até então não tive coragem de destruir, apesar do risco que representavam. Eu queria ouvir a opinião do Justin antes de destruí-los.
- Uau! Foi o Seong-su quem os fez? Eu já tinha notado ele fazendo uns rabiscos naqueles cadernos com os quais anda agarrado por aí, mas não sabia que eram desenhos tão perfeitos. Olha que tesão você está nesse aqui, esperando eu entrar em você. E nesse então, seu pauzinho é bem desse jeito, eu o acho lindo por ser pequeno e refletir a sua inocência. Chego a ficar de pau duro. – ia comentando ele, à medida em que examinava os desenhos.
- Precisamos destruí-los, o quanto antes! Ninguém pode ver uma coisa dessas, estaremos fodidos! – afirmei
- Destruir? Eles são maravilhosos! Se você nãos quiser eu vou guardá-los! – devolveu
- Você só pode estar brincando! Se os descobrem cairemos na boca do povo, podemos até ser expulsos. Não, Justin, vamos dar um sumiço nesses desenhos!
- Eu tenho um lugar bem seguro para eles, juro que ninguém nunca vai descobrir. Mas me deixe ficar com eles, Gabe. – pediu ele. Eu esperava tudo dele, menos essa reação. Os desenhos ficaram com ele.
A intimidade entre o Justin e eu cresceu ao longo de nossas demoradas e quase intermináveis conversas, conduzindo-nos até o estágio atual, onde o relacionamento havia chegado ao pico dos sentimentos e conjunção carnal. Conhecíamos a história um do outro desde as primeiras memórias que guardávamos em nossas mentes. O Justin havia perdido os pais num acidente de carro quando ele ainda era bem pequeno, e não se lembrava deles, só do que sua avó materna havia lhe contado e mostrado através de fotografias. Além da avó que o criou desde então, ele só tinha um tio pelo lado paterno que residia em Nova Iorque e com quem não teve mais do que três encontros na vida, sendo um deles o dia do funeral dos pais. Assim, o amor que sentia pela avó, era sua única referência de amor familiar, e também a mais importante. A saúde dela sempre foi frágil, motivo pelo qual ele sempre esteve em colégios internos. Eu a conheci numa das vezes em que ela veio buscar o Justin para passar uns dias das férias de final de ano com ela em Wichita, e ela me convidou a ir com eles. Era realmente uma pessoa muito doce e carinhosa, mas os sinais de debilidade já eram bem visíveis. Ela não conseguia nos acompanhar nos passeios sem ter que dar um tempo e sentar para descansar.
O Justin foi chamado à sala do diretor durante a aula de química. Não sei se ele já desconfiava, mas quando me encarou, havia uma profunda tristeza em seu olhar. Eu quis acompanhá-lo, mas o auxiliar do diretor me impediu, mandando que eu continuasse na sala. Nem cinco minutos depois, pedi ao professor para ir ao banheiro, e saí em disparada pelos corredores até chegar esbaforido à porta do escritório da diretoria. Pensei em simplesmente invadir a sala do diretor, mas me contive, podia não ser nada e eu ia parecer um bobo. Contudo, quando a espera se tornou insuportável, abri a porta e passei pela mesa do auxiliar desembocando diretamente na cara do diretor, cuja expressão taciturna estava ainda mais séria. O Justin chorava num canto do sofá de couro que ficava na lateral da estante que percorria toda uma parede. Corri até ele e o abracei e, mesmo sem saber de nada, comecei a chorar em solidariedade ao choro dele.
- O que faz aqui, Gabe? Volte para a sua aula! Eu preciso terminar uma conversa com o Justin. – sentenciou o diretor com frieza.
- Não, eu não vou sair do lado dele! O que aconteceu? Por que ele está chorando, ele nunca chora? – retruquei, apertando o Justin nos meus braços enquanto ele fazia o mesmo, se agarrando a mim como se eu fosse sua tabua de salvação.
- É um assunto muito pessoal, Gabe! Procure entender, e volte para a sala de aula! – insistiu o diretor.
- Deixe ele ficar, por favor! – balbuciou o Justin e, dirigindo-se a mim revelou. – A vó Cecille morreu. – eu quase o sufoquei de tão forte que o abracei, e ambos choramos convulsivamente.
- Está bem, fique com ele, talvez até seja melhor. Vou entrar em contato com o seu tio, Justin, acho que ele deve conduzir o funeral e nos dizer como proceder quanto a você. – disse o diretor.
- Posso levá-lo até o dormitório? – perguntei
- Pode! Você precisa de mais alguma informação, Justin? Há algo mais que possamos fazer por você? – indagou o diretor.
- Não, acho que não!
Quando caminhei com o Justin apoiado em mim pelos corredores vazios até o dormitório, uma voz soprava nos meus ouvidos – Be brave, Gabe! – e eu fui.
Respirei fundo e conduzi meu amigo pesaroso até o quarto. Deitei-me com ele na cama e segurei sua cabeça no meu colo. Enquanto ele chorava baixinho, eu afagava sua cabeleira, não era preciso dizer nada, ele sabia tudo o que eu tinha para lhe dizer; que estaria com ele para o que desse e viesse, que o amava mais do que a qualquer outra coisa nessa vida, que enxugaria todas aquelas lágrimas com minhas carícias, e que ele tinha em mim um porto seguro.
Naquela noite liguei para o meu pai, pedindo para que ele me deixasse ir até o Kansas para acompanhar o Justin. Ele não só concordou, como veio nos buscar para nos levar até Wichita. O tempo todo o Justin se prendia a mim, não me soltava com receio de se tornar uma pipa errante que podia vagar arrastada pelo vento como quando a linha se rompe.
O tio dele passou a ser seu tutor legal até ele atingir a maioridade. Também foi ele quem determinou que o Justin continuasse no colégio interno até completar os estudos, que continuaram a ser subvencionados pela herança dos pais e da avó Cecille. Ele alegou não poder levar o Justin com ele para Nova Iorque, pois estava envolvido com o trabalho que o obrigava a fazer muitas viagens e com um divórcio em andamento. Meu amigo aceitou tudo com resignação, nem parecia o Justin que me impelia a reagir quando ameaçado e agredido, que dava conselhos e dicas de como me defender dos alunos encrenqueiros. Mais do que nunca ele precisava de um Gabe forte, um Gabe que o amparasse e lhe devolvesse o ânimo arrasado pela perda da avó. Meu pai ficou conosco naquela semana do funeral, entendendo que tanto o Justin quanto eu estávamos precisando de apoio. Depois, nos levou de volta para o colégio, e a rotina prosseguiu. Por semanas o Justin andou triste, falava pouco, tinha parado de treinar com o Jake, assistia às aulas disperso, o que se refletiu nas notas das provas, as mais baixas de toda sua carreira e, à noite, apenas queria meu colo no qual só conseguia adormecer comigo acariciando suavemente seu rosto e brincando com as mechas de seu cabelo. Ainda assim, era um sono agitado e interrompido por momentos em que sua face se cobria de lágrimas.
- Durma, eu estou aqui! Sempre vou estar! – sussurrava eu beijando-o.
A volta após as férias de verão daquele que seria o nosso último ano antes da conclusão do curso foi diferente de todas as anteriores. Talvez a ansiedade pela espera do fim daquela etapa de nossas vidas tivesse algo a ver com isso, mas não só. Ao contrário dos dois verões anteriores quando o Justin passou as férias comigo na fazenda e em curtas viagens às quais meu pai nos levou, este ele tinha passado na casa de um de seus colegas do time de basquete, ao qual havia aderido no penúltimo ano. Eu fiquei magoado por ele não ter aceito meu convite, tinha como certo que passaríamos as férias juntos como nos anos anteriores quando tive as melhores férias da minha vida por ele estar presente em cada momento delas, pois na minha mente foi ali que minha paixão por ele se consolidou de vez. Eu o amava, estava tão perdidamente apaixonado por ele que não me furtava a declarar minha paixão a todo instante, ou através de palavras, ou proporcionando-lhe sexo intenso e prazeroso. Mesmo antes daquelas férias ele já andava um pouco estranho, distante, eu diria, envolvido com aquela galera do basquete. Confesso que fiquei enciumado por ele passar menos tempo comigo, mas nunca falei nada nem o cobrei. Ele tinha o direito de ter outros amigos, de fazer programas que não fossem exclusivamente nossos e, por isso, aceitei aquilo numa boa. Até porque, ele continuava tão amoroso e libidinoso comigo na cama como sempre tinha sido até então. Eu não tinha do que reclamar, se fosse fazer qualquer mimimi seria por pura infantilidade e insegurança, o que não era o caso.
Os veteranos dos dois últimos anos tinham permissão de sair do colégio aos finais de semana através de autorizações declaradas dos pais ou tutores conquanto estivessem de volta aos dormitórios até as 23:00 horas. A turma do basquete se reunia em dois pontos da cidade onde sempre havia alguém maior de idade que acabava comprando as cervejas que a galera consumia. Algumas vezes acompanhei o Justin nessas saídas, não era nada que me empolgasse, mas me dava a oportunidade de ficar junto dele fora do ambiente escolar e do controle rígido de professores e diretoria. Com a repetição desse tipo de programa comecei a achá-los enfadonhos, pois quase sempre acabavam com alguns colegas dando trabalho aos demais por conta da bebedeira e tendo que ser conduzidos de volta ao colégio quase capengando. Além disso, eles não faziam outra coisa que não dar em cima das garotas que também se juntavam nesses lugares para serem vistas e desejadas por aquele bando de rapazes atléticos, falantes e cheios de testosterona atiçando suas picas.
Numa dessas saídas eu havia proposto a Justin irmos ao cinema, ele não se mostrou entusiasmado preferiu ficar com a galera do basquete num desses lugares.
- Vá você, a gente se encontra mais tarde quando você sair do cinema e volta junto para o colégio, está bem assim? – disse ele, declinando do meu convite.
O cinema ficava a algumas quadras do lugar onde eles costumavam se reunir e fui a pé até lá quando o filme terminou. Não vi o Justin quando cheguei ao local, dois carinhas com os quais ele costumava conversar com mais frequência no colégio estavam sentados com algumas garotas em volta, penduradas nos pescoços deles, trocando beijos vulgares e tendo suas partes íntimas apalpadas pelas mãos vorazes dos taradões. Perguntei pelo Justin, um deles, com a língua pesada e embolando as palavras, me disse que ele estava por aí; convidou-me a me juntar a eles enquanto esperava pelo Justin e, sem me dar muita chance, me puxou para uma cadeira vazia ao lado dele. Não quis ser grosseiro quando sua mão pesada e forte agarrou meu braço me obrigando a sentar, apenas me limitei a dar um sorriso amarelo. Logo uma das garotas se sentou no colo dele, ele a apertou, deu um beijo rápido no rosto dela, que riu feito uma hiena, e afundou a cara entre as tetas dela, fazendo-a protestar de modo fingido como se quisesse salvaguardar sua castidade, provavelmente já perdida há muito. Com uma enorme ereção dentro do jeans, o carinha enfiou a mão sob a minissaia da garota o que a fez intensificar as risadas, dar uns tapas no braço dele com o intuito não desejado de que ele tirasse a mão dali, e beijá-lo quando sentiu as carícias dele sobre sua vagina. Desconfortável, afastei-me deles e fui procurar o Justin. O lugar tinha uma área externa onde as mesinhas ficavam sob toldos e uma área interna na qual havia um mezanino do qual se avistava o salão. Como não encontrava o Justin, acabei subindo até o mezanino, num canto próximo ao corredor que levava aos banheiros, encontrei-o prensando uma garota à parede, a qual ele já me havia apresentado em ocasiões anteriores, mas de quem não me lembrava mais o nome. Ele estava chupando uma das tetas dela, enquanto ela o masturbava com uma das mãos enfiada na braguilha dele. Eles não me viram. Senti como se uma flecha tivesse atravessado meu peito, numa súbita e intensa falta de ar. Eu quis sair correndo dali, mas meus pés não me obedeciam. Pareciam querer que eu continuasse a presenciar a cena só para me torturar, para me mostrar algo que até então nunca tinha passado pela minha cabeça, que o Justin não era mais um garoto, ele estava se transformando num homem já próximo da maioridade com desejos que todo macho possui. Quando o baque inicial passou e eu consegui me mover, voltei para o colégio sozin ho e me enfiei na cama abraçando meu travesseiro. Na minha cabeça ecoavam as palavras – Be brave, Gabe! Be brave, gabe! Be brave, Gabe! – como se fosse um martelo golpeando o prego até ele afundar na madeira. Parecia que, tal como o prego, aquilo que presenciei precisava ser fincado na minha mente a todo custo. Eu consegui ser forte, surpreendendo-me a mim mesmo, nenhuma lágrima se formou nos meus olhos. Também não consegui conciliar o sono, eu sabia que ele não viria naquela noite, minha cabeça era um turbilhão de pensamentos.
- Por que não me esperou conforme o combinado? Fiquei te procurando. Chega para lá! – disse o Justin ao regressar e querer se enfiar debaixo do cobertor comigo.
- Hoje não, Justin! Durma na sua cama! Estou com muita dor de cabeça, acho que vou pegar um resfriado, por isso não te esperei. – respondi, deixando-o nu ao lado do beliche.
- Posso fazer alguma coisa por você? Não quer que eu te abrace? Nos meus braços a dor de cabeça vai passar mais rápido. – murmurou ele.
- Não obrigado! Vou ficar bem assim! Boa noite! – retruquei, deixando-o com o tesão insaciado amofinando sua rola.
- Boa noite! – exclamou frustrado ao recostar a cabeça no travesseiro, tentando entender porque eu não o queria como das outras vezes.
Ficamos três semanas sem transar, mesmo quando o deixava se deitar comigo, não permiti que me penetrasse, uma vez que a cada tentativa dele eu voltava a ver a imagem da mão da garota trabalhando a jeba dele. Aquele cacetão que eu julgava ser só meu, que tantas e tantas vezes eu tinha manipulado carinhosamente nas minhas mãos, chupado até ele me encher a boca de esperma, mastigado com meus esfíncteres anais após ele ter encharcado meu cuzinho de porra. Ele já não era mais exclusividade minha, aquela garota estava roubando ele de mim, e minhas armas para evitar que isso acontecesse eram poucas diante das dela.
- Por que está me evitando? Você está esquisito ultimamente, não é mais tão carinhoso como antes! – questionou o Justin, quando, abraçado a mim, tentava enfiar o pauzão no meu cuzinho e eu escorregava para o lado fazendo a pica escapar do meu reguinho antes da penetração.
- Impressão sua! Ando um pouco cansado, só isso! Vamos dormir que já é bem tarde. – respondi
- Preciso de você! – sussurrou ele junto ao meu ouvido, todo excitado e não conseguindo desistir do assédio.
- Para quê, Justin? Aquela garota, como é mesmo o nome dela, não está suprindo suas necessidades sexuais? – eu devia ter me calado, mas não consegui, e as palavras acabaram escapando.
- Do que você está falando, Gabe? Que garota?
- Eu vi vocês dois juntos naquela noite em que não quis ir ao cinema comigo para ficar se agarrando com ela. – revelei
- E daí? Não tenho nada com ela! Só dei uns amassos, nada mais. Nem sei se vou me encontrar com ela outra vez. É de você que eu gosto. – retrucou.
- Me deixe refletir sobre o assunto, me dê um tempo para entender essa situação. – pedi
- Você fica ainda mais sexy quando está com ciúmes, sabia? É a primeira vez que alguém sente ciúmes de mim. E você é um bobão se pensa que vou abrir mão de você só porque conheci aquela garota. – afirmou ele, enquanto ainda continuava insistindo em enfiar o cacetão duro no meu cuzinho, o que acabou conseguindo durante os minutos em que eu refletia sobre suas palavras.
Aqueles novos amigos do basquete estavam transformando o Justin num cara bem diferente daquele que eu conhecia até então. Eles estavam incutindo nele novas maneiras de se enxergar a si mesmo, levando-o a conduzir sua masculinidade por caminhos que ele ainda não havia trilhado. O Justin se encontrava com aquela garota e com outras toda vez que saia com aquela turma. Aquela em particular estava disposta a conquistá-lo, fazia de um tudo para isso acontecer, queria que o corpo que lhe oferecia sem restrições o fizesse assumi-la como namorada. Contudo, nem o acesso fácil à sua vagina levou o Justin a pensar nela como uma parceira, era tão somente uma companhia com a qual dava vazão aos seus instintos primais. Nossa amizade nunca se abalou com isso, o que se abalou foi aquele sexo puro e ingênuo que havia nos unido. Ele não se extinguiu, mas de alguma forma não era mais como antes. Meu carinho pelo Justin continuava o mesmo, e o dele por mim também, e as nossas transas eram uma consequência natural desse afeto mútuo.
Quando eu disse que aquele último ano antes da formatura estava sendo um ano atípico por muitas coisas estarem acontecendo, por todos aqueles jovens estarem entrando em novas fases de suas vidas, eu não estava enganado. Também foi ano do episódio mais triste que vivi naquele colégio.
O Seong-su se mostrava cada vez mais retraído, patologicamente retraído, aquilo não podia mais ser apenas uma fase de timidez ou incertezas de adolescente. Era sim, uma doença cujo sintoma principal era a solidão profunda. Em termos comportamentais pouco se notava alguma diferença desde que o conheci; o isolamento voluntário, o caminhar pelos corredores com aqueles livros e cadernos abraçados junto ao peito, as conversas raras e monossilábicas eram exatamente iguais. Continuavam a atormentá-lo com todo tipo de assédio, tanto verbal quanto físico. Particularmente aqueles mesmos quatro carinhas que sempre o apoquentavam, mas que haviam crescido como todos nós e com o crescimento também veio um incremento na crueldade. Esses caras eram o terror dos novatos, continuavam sendo o suplício de alguns veteranos e eram temidos como uma verdadeira gangue de marginais. Até a diretoria tinha dificuldade em lidar com suas personalidades e caráter rebelde. Embora de vez quando também ainda me lançassem algumas agressões verbais, eu aprendi a não mais temê-los. De uma certa forma, eles tinham receio de mim, principalmente das minhas reações quando assediado, que deixaram de ser de acovardamento para retribuição ostensiva e beligerante. Numa das vezes em que me assediaram, longe das vistas do Justin, com algo até brando para os padrões que costumavam usar com outros garotos, eu empurrei um deles do topo de uma das escadarias fazendo que ele chegasse no primeiro degrau com um braço e um pé fraturados.
- Se algum de vocês revelar à diretoria que fui quem o empurrou, garanto que vou me vingar de cada um de vocês, um por um, até vocês jamais se esquecerem de mim. – ameacei, quando o garoto berrava de dor e se contorcia levando as mãos aos ossos fraturados. Nenhum deles se atreveu a abrir a boca. O caso foi tratado como uma queda acidental e parou por aí.
Noutra ocasião, roubaram as minhas roupas enquanto eu tomava uma ducha após a aula de esportes. Atravessei pelado o caminho entre o ginásio de esportes e o edifício dos dormitórios, como se os olhares e as risadas não me afetassem. Na aula seguinte, pedi ao professor para sair mais cedo, fui ao vestiário, tirei as roupas deles dos escaninhos, amontoei-as perto das arquibancadas das quadras, cobri-as com álcool e ateei fogo. Eu os aguardava sentado num dos bancos do vestiário quando regressaram da aula e viram seus armários escancarados sem as roupas.
- Alguém quer me xingar ou me bater? – perguntei desafiador. – Talvez você, Nikolas, o mais valentão, quer me bater, estou aqui esperando. – ele me fuzilou com o olhar, mas não moveu um dedo na minha direção.
Minhas ameaças não eram blefes a serem ignorados, elas vinham se tornando cada vez mais violentas. Havia deixado de ser divertido zoar comigo e, aos poucos, a prudência os demoveu de mexer comigo, pois não tinham apenas que enfrentar o Justin, eu também respondia à altura as provocações. Foi esse espírito que tentei incutir no Seong-su, defender-se a qualquer custo e sempre numa intensidade bem acima da agressão. Mas ele entrava numa espécie de transe quando o abordavam e não conseguia reagir, deixando que lhe fizessem o que os aprouvesse.
- O que foi que aconteceu, Seong-su? Eles bateram em você outra vez? Cadê os teus livros e cadernos? – perguntei quando o encontrei correndo todo molhado em direção ao nosso quarto ao deixar a biblioteca por volta das 21:00 horas, onde tinha ido fazer as minhas lições. Ele não me respondeu, e eu saí correndo atrás dele.
Alcancei-o no quarto, voltei a questionar o porquê de estar com as roupas todas molhadas, e de onde estava vindo àquela hora.
- Eles me jogaram na piscina outra vez, minhas coisas ficaram lá! – respondeu ele, tremendo de frio e pavor.
- Quem? Me diga quem fez isso! Foram eles de novo, não é? E o seu rosto, está saindo sangue do seu nariz, eles te bateram? – ele se encolheu em posição fetal sobre a cama, não chorava, não respondia, só se encolhia. – Fala Seong-su! Eu já não te disse umas mil vezes para você reagir, pegue qualquer coisa que esteja a sua volta e agrida-os também, devolva tudo na mesma moeda!
Ele correu em direção ao banheiro, não teve tempo de trancar a porta que acabou ficando entreaberta, ajoelhou-se diante do vaso sanitário e vomitou.
- Está tudo bem aí, Seong-su? Posso te ajudar? – questionei do meu beliche, desejando que o Jake ou o Justin estivessem comigo. Ele não respondeu.
Ouvi a água do chuveiro correndo, havia se passado mais de um quarto de hora e o Seong-su continuava quieto lá dentro. Fui até a fresta da porta e espiei, ele tinha sangue saindo do meio das nádegas e eu soube o que tinham feito com ele. Ele estava simplesmente parado com os braços cruzados sobre o peito, a água caindo sobre o corpo dele, enquanto seu olhar focava a água tingida de vermelho entrando pelo ralo. Acho que ele ia passar o restante da noite ali parado se eu não o tirasse debaixo da ducha.
- Vem Seong-su, pegue a toalha e se seque! Você vai vestir uma roupa e vamos conversar com o diretor. Isso não pode ficar assim! – disse, conduzindo-o até seu beliche.
- Não! Me deixe, Gabe! Não se meta nisso! – retrucou ele
- Como assim, Seong-su? Você não pode permitir que isso passe em branco! Se você não vier comigo, eu vou sozinho falar com o diretor, alguma providência precisa ser tomada. – afirmei
- O Justin não faz a mesma coisa com você? Alguma vez você cogitou procurar o diretor por causa disso? – questionou
- Cara, eu não acredito que você está falando assim comigo! Eu estou tentando te ajudar, será que você não percebe? O Justin nunca me estuprou, o que eu faço com ele é consensual, porque a gente se gosta, já te expliquei isso uma vez. Você não pode ser tão ingrato e jogar uma coisa dessas na minha cara. Estou sendo seu amigo, só quero te ajudar! – exclamei, revoltado com a atitude dele.
- Não quero sua ajuda! Não quero que me faça favores! Me deixe em paz, Gabe! – revidou ele, encolhendo-se na cama como um caramujo. Não insisti, apenas lamentei ele estar tão doente a ponto de não perceber que alguém se importava com ele.
Assim que o Jake e Justin chegaram contei o que havia acontecido, pedi a opinião deles que, unânimes, me aconselharam a esquecer o episódio. Havia tempo que ambos deixaram de se incomodar com as esquisitices do Seong-su, tinham desistido dele por nunca terem recebido qualquer tipo retorno da parte dele. O Justin até se revoltou por saber que o Seong-su tinha comparado nossas transas com o estupro que sofreu.
- Esse cara é um idiota! Não fosse essa situação eu ia quebrar a cara dele agora mesmo! Filho da puta do caralho! Te falar uma coisa dessas, só pode ser um merda mesmo! Que se foda! – soltou exaltado.
- Não fala assim! Dá para perceber que ele tem problemas, problemas sérios. Eu acho que isso até pode ser uma doença, é tudo muito estranho com ele. – afirmei
- Então que vá se tratar! Na próxima vez que ele fizer esse comentário, eu juro que meto uns socos na cara dele. – asseverou o Justin, revoltado.
Não sei o que me deu, mas me pus a acompanhar os passos do Seong-su, procurando não o deixar sozinho sem vigilância apesar de me manter afastado dele. Uma vez, ao me deparar com um pacote que a mãe dele havia lhe enviado, no qual constava um endereço que supus ser o da casa dele, pois veio de uma cidade do interior do Estado, fiquei tentado a enviar uma carta contando sobre os perrengues que o filho deles estava passando no colégio.
- Eu não faria uma coisa dessas! – foi a resposta que ouvi tanto do Jake quanto do Justin, quando contei da minha intenção.
- Talvez fosse o caso de você se abrir com seus pais e contar o que está acontecendo com você. – sugeri ao Seong-su, antes de pôr meu plano em prática.
- Não quero que eles saibam de nada! Eu vi que você copiou meu endereço no seu bloco de anotações e o proíbo de entrar em contato com meus pais! Eles vão pensar que sou um fraco! Pessoas fracas não são bem vistas na minha cultura, e eu não vou dar essa decepção a eles. Você se mete demais na vida dos outros, Gabe! Isso já está me irritando! – disse o Seong-su, no que eu acredito ter sido o maior discurso que já ouvi saindo da boca dele.
- Como você quiser! Eu só queria ajudar!
- Não quero sua ajuda! Já te falei mais de mil vezes! Para de me importunar! – revidou ele.
- Isso é bem-feito para você aprender! O cara quer ser deixado em paz, e você simplesmente não consegue acatar o pedido dele. – afirmou o Justin quando conversei com ele.
- Estão abusando dele, Justin! Não consigo fingir que não vejo o que está acontecendo! – devolvi inconformado.
- Pois deveria, antes de sobrar para você! – retrucou ele
- O que você quer dizer com isso?
- Que uma hora dessas você vai se ver metido numa confusão de tanto insistir nessa questão. – respondeu ele
Quase meados do outono, chuvas finas e frio dominaram praticamente as últimas semanas. Sem poder andar pela área externa do colégio sem estar bem agasalhados, os estudantes se recolhiam cedo para os dormitórios após as aulas e atividades extracurriculares, o que deixava os corredores vazios mais sombrios. Para não ter que ficar conosco no quarto, o Seong-su passava horas na biblioteca ou na sala de música, depois que sua aula de violino terminava, executando sozinho o que o professor havia acabado de lhe ensinar naquela aula. Até eu me sentia entediado de ficar tanto tempo confinado no dormitório e resolvi seguir para o quarto de um colega que estava me ensinando a jogar xadrez. O dormitório dele ficava no terceiro andar, enquanto subia as escadas, ouvi uma balburdia, as frases incongruentes mal se conseguia compreender, mas os grunhidos e algo sendo arrastado e batendo contra paredes e portas era bem nítido. Apressei o passo e me deparei com o bando de encrenqueiros agarrando o Seong-su pelas roupas ao mesmo tempo em que o continham e tentavam levá-lo para o telhado do edifício que podia ser alcançado por uma porta pela qual era feita a manutenção e a limpeza das calhas. Era uma saída pouco usada e isolada no final do corredor. Ao vencer o último degrau, vi o extintor de incêndio preso à parede, soltei-o e parti para cima dos quatro. Um talo se abriu na testa do primeiro que alvejei com o extintor, enquanto os demais soltaram momentaneamente o Seong-su e vieram para cima de mim tentando arrancá-lo das minhas mãos. Um forte jato com a mistura de nitrogênio e bicarbonato de potássio atingiu em cheio o rosto do carinha que me prensava contra a parede quando liberei o lacre e acionei o gatilho.
- Corre Seong-su! Corre, cara! – gritei, ao perceber que não ia dar conta dos quatro.
Ele se contorcia no chão e não conseguiu se levantar, deviam tê-lo acertado nalgum lugar que estava doendo por demais para ele conseguir fugir.
- Dessa vez você vai junto com ele, seu merda! – berrou possesso o Nikolas, líder do bando, ao mesmo tempo em que fechava seu braço musculoso ao redor do meu pescoço e me arrastava em direção à porta. – Ai, filho da puta! – gritou ele quando enfiei meus dentes o mais fundo que pude no antebraço dele, fazendo-o soltar um grito e me dando chance de correr.
Quase rolei escadas abaixo para procurar socorro. A primeira opção que me veio à mente foi a sala do diretor no térreo, e foi na direção dela que disparei. Nos dois primeiros lances após a fuga, ainda ouvi os palavrões e as ameaças bem como os gemidos do Seong-su para quem tinham voltado sua raiva.
- O diretor está recebendo uma comissão municipal de ensino, não vai poder te atender agora! – disse o auxiliar que me barrou diante da porta.
- É urgente! Preciso de socorro para o Seong-su! Me deixe entrar, preciso contar tudo para o diretor! – devolvia eu quase gritando.
- O que aconteceu com o Seong-su? Ele se machucou? – perguntou o auxiliar.
- Não! Eles estão batendo nele lá no terceiro andar e vão levá-lo até o telhado! Rápido, me ajude!
E, deixando o protocolo de lado, driblei o auxiliar e me atirei porta adentro, o que fez o diretor arregalar os olhos na minha direção e as outras três pessoas me encararem com desconfiança.
- O que é isso, Gabe? Isso são modos de entrar na minha sala? Espere.... – não o deixei terminar a frase.
- É o Seong-su, diretor! O senhor precisa ir em socorro dele, AGORA! – exclamei, esbaforido pela corrida.
Enquanto eles olhavam para mim, nos dois janelões que formavam o canto da sala, passou despencando um corpo, eu soltei um grito que fez todos na sala estremecerem. Eu havia chegado tarde demais, a tragédia já tinha acontecido. Antes mesmo de o diretor voltar a conversar comigo, outros gritos de alunos vindos dos dormitórios e até da área externa já se faziam ouvir por todo o colégio. Rostos debruçados para fora das janelas e um pequeno aglomerado de alunos cercava o corpo disforme com as calças arriadas do Seong-su deitado em meio aos arbustos de sabugueiro. Juntamente com o diretor, o auxiliar e uma tropa de alunos que desciam as escadas correndo, fui até onde o Seong-su jazia, mas não consegui me aproximar muito, faltou-me coragem para ver seu rosto. O Justin e o Jake logo se juntaram a mim, eu me lancei nos braços do Justin e desatei a chorar.
Enquanto a polícia chegava, e depois dos alunos terem sido forçados a dispersar, obtive toda a atenção do diretor e do comitê que visitava o colégio. No departamento de polícia contei tudo o que vi e sabia.
- Foram o Nikolas Finkelstein, o Aaron Kirkman, o Chris Lebruce e o Seth Arenberg que fizeram isso com o Seong-su. – declarei em alto e bom som, pronunciando cada um dos nomes com ênfase e clareza, para que não restassem dúvidas quanto a veracidade do que afirmava, acusando-os do homicídio e de todas as outras agressões sofridas pelo Seong-su. Ao final do depoimento eu estava com o corpo todo dolorido de tanto estresse.
A autópsia do corpo do Seong-su revelou que no cu dele havia presença de esperma do Nikolas Finkelstein, o líder da gangue e do Seth Arenberg, seu mais fiel assecla. Minhas declarações e de outros alunos que se dispuseram a contar o que vinham observando durante os anos de convívio com aquele bando, determinou a prisão deles como autores do homicídio. O julgamento definitivo só aconteceu alguns meses depois, e também fui arrolado como testemunha da promotoria. O Aaron Kirkman e o Chris Lebruce perderam a primariedade e foram conduzidos a uma casa de custódia por um ano cada um. Já o Nikolas Finkelstein e o Seth Arenberg foram condenados à prisão, inicialmente, até a maioridade que se daria dali a alguns meses, ficaram num presídio para menores infratores, depois foram transferidos para uma prisão comum para cumprir o restante da pena de 23 anos e oito meses a que foram condenados por unanimidade do júri.
Como nosso dormitório fora interditado durante as investigações policiais, tivemos que nos mudar para outro, o que achei providencial, pois não conseguia mais olhar para a cama do Seong-su sem cair numa tristeza profunda.
- Não fique assim, você fez tudo o que podia por ele, nós somos testemunha do seu empenho em ajudá-lo! – me disseram o Jake e o Justin para me consolar.
As palavras deles não me confortavam. Tudo naquele colégio havia falhado de alguma maneira ao não conseguir barrar todas aquelas agressões, a injustiça e a trágica morte do Seong-su. Seria um peso que marcou nossa adolescência e que carregaríamos pelo restante das nossas vidas.
O torso adulto e viril, já definido, do Justin, bem como seus braços enleados ao redor do meu corpo me traziam um pouco de conforto, e neles procurei o refúgio que ele nunca me negou. Os meses subsequentes ao julgamento da gangue foram os mais estranhos que passei no colégio. Tudo parecia diferente, os alunos estavam diferentes, os professores e funcionários, nada mais parecia inspirar segurança. Eu não via a hora do semestre terminar, de chegar a formatura e de eu sair dali para encarar uma universidade. Creio que essa mesma ansiedade era compartilhada com o restante da turma do último ano.
Cerca de um mês antes da formatura, eu perguntei ao Justin quais eram seus planos para o futuro. Ele me respondeu que ainda não havia pensado muito sobre o assunto, mas que provavelmente faria como os demais, se inscreveria para uma universidade.
- E quanto a nós? Como acha que vamos ficar quando sairmos daqui? – perguntei
- Vamos continuar sendo amigos, ora! Como sempre fomos! – não era bem isso que eu queria ouvir, mas não forcei outras perguntas. – Acha que vou te esquecer só porque não nos veremos mais todos os dias, nem passaremos mais as noites abraçados fazendo amor? – não respondi, pois minha resposta seria um “sim”.
Ele continuava a se encontrar com aquela garota, ela se grudou nele como um carrapato, sugando-lhe parte do juízo junto com a porra que o fazia esporrar. Talvez ela não tivesse a mesma clareza de visão que eu, de que seria abandonada assim que o curso terminasse. Creio que a esperança dela era a de ele a assumir de vez, conduzindo um namoro que mais adiante acabaria num casamento. Eu conhecia bem o Justin, amarras e um compromisso não estavam nos planos imediatos dele. Tínhamos combinado de passar umas semanas na fazenda logo após a formatura, lá faríamos os projetos que guiariam nossos próximos passos. No entanto, na véspera da formatura, em nossa última noite no beliche do colégio, quando me reclinei em seu ombro sentindo toda a umidade pegajosa que ele havia despejado no meu cuzinho escorrendo para as profundezas das minhas entranhas, ele me surpreendeu com a notícia de que não seguiria comigo e meu pai para fazenda.
- Eu te amo, Gabe! Te amo muito, você sabe! Mas, não posso ser esse namorado que você espera que eu seja. Nem eu mesmo sei quem sou exatamente, o que quero da vida. Você sempre foi mais maduro e sábio do que eu, nunca duvidou do que queria para seu futuro. Eu não vou conseguir ser esse homem de quem você precisa. Sempre vou estar presente quando precisar de mim, mas não como seu homem, seu companheiro de vida. – declarou ele, falando pausadamente, como se estivesse procurando as palavras certas que menos me magoariam.
- Acho que eu já previa isso, Justin! Eu também te amo muito! Te amo tanto que não seria justo eu te prender, te cobrar o que quer que seja. Sei que seremos amigos pelo resto da vida. O que tive com você foi muito especial, mas sei que acaba aqui. Você sempre cuidou de mim, zelou pela minha segurança e lhe sou imensamente grato por tudo isso. Contudo, não é apenas isso que eu procuro num parceiro, pois se fosse apenas isso, eu poderia contratar um guarda-costas. Além disso, eu não quero ser protegido o tempo todo, eu aprendi a me defender a partir do legado que você está me deixando. Eu procuro um homem que esteja disposto a me assumir monogamicamente, que divida sua vida comigo em todos os sentidos. Eu quero a sua felicidade, seja lá com quem for, e torço para que essa pessoa descubra o ser maravilhoso que você é, e te dê todo o amor que merece. – devolvi. Ambos tínhamos os olhos marejados, e a mesma dor a latejar no peito sufocado.
Apesar de eu já haver previsto que meu relacionamento com o Justin talvez não acabasse da forma como eu sonhava, a dor da separação não foi pequena. Durante esses cinco anos de internato, eu vivi muitas coisas ao lado dele, descobri minha verdadeira identidade sexual, o vi crescer como homem tanto física quanto emocionalmente, partilhei muitos momentos difíceis, amei e fui amado, aprendi a satisfazer as necessidades de um macho sem abrir mão das minhas. O Justin sempre será aquela criatura especial que agradecerei até o último dos meus dias por ter cruzado meu destino. Agora a dor é imensa, forte, está me aniquilando com o sentimento da perda, e sei que apenas o tempo será capaz de dilui-la. Até por isso, estou me dando o direito de chorar, deixar escoar o pranto e com ele a dor, longe das vistas de todos. Não quero parecer um coitadinho que se lamenta pela perda de seu homem, embora saiba que esse seja um direito legítimo de toda pessoa que se vê subitamente alijada de alguém especial.
Minhas expectativas quanto à festa de formatura, que sempre foi um dia muito comemorado no colégio, nunca foram grandes. Eu a esperava com ansiedade, sim; mas por ela significar o fim daquele ciclo, a porta de entrada para uma nova fase da vida. Os formandos estavam cercados de seus pais, parentes e amigos esbanjando sorrisos e alegria. Eu tinha sentimentos ambíguos, estava feliz e estava triste e, nesse dia compreendi que a vida seria sempre assim, a felicidade sempre carrega certa tristeza, e a tristeza sempre carrega consigo certa felicidade. Era no meio termo de ambas que se situava a razão de viver.
- Está feliz? – perguntou-me meu pai quando me abraçou com diploma na mão.
- Muito, pai! E devo tudo a você! – respondi, apertando-o com força.
- Estou muito orgulhoso de você! Ninguém poderia ser mais feliz tendo um filho como você! Eu te amo! – disse ele, emocionado
- Também te amo, pai! Muito! – devolvi comovido
Me despedir do Justin foi bem mais difícil, não só para mim, mas para ele também. Durante a festa evitamos nos aproximar um do outro, sabíamos que dificilmente conseguiríamos segurar as emoções. No entanto, o momento decisivo foi se aproximando à medida em que a tarde caía e os formandos e suas famílias deixavam o colégio. Foi o Justin que veio até mim e meu pai, nesses momentos ele era mais corajoso do que eu. Ele e meu pai trocaram algumas palavras com as quais ele se justificou por não vir conosco até a fazenda, enquanto eu o observava em silêncio, procurando captar cada ínfimo detalhe daquele rosto que eu estava fadado a demorar a rever ou, quem sabe, nunca mais. Ele era lindo, o rosto mais lindo que eu já tinha visto, o rosto que meus dedos percorreram inúmeras vezes, afagando-o e beijando-o com toda a ternura e amor que havia em meu coração.
- Não se demore muito, Gabe! Ainda temos mais de 300 quilômetros pela frente antes de chegar em casa. – avisou meu pai ao se despedir dele.
O Justin e eu nos afastamos de todos, havia uma pequena área nos fundos do terreno do colégio cercada por sebes altas onde um galpão de meia-água guardava alguns implementos usados na jardinagem. O local raramente era acessado e as sebes plantadas muito próximas garantiam privacidade. Em muitas ocasiões de tardes quentes ou noites enluaradas, ele testemunhou nossos encontros sexuais. Um banco de concreto foi meu suporte enquanto o Justin se debruçava sobre mim e socava seu cacetão insaciável no meu cuzinho, me fazendo gemer em coro com os passarinhos ou as corujas que se abrigavam entre as sebes. Assim que chegamos ao local eu deslizei minha mão sobre o concreto frio. Como eu fui feliz ali. O Justin esboçou um sorriso, provavelmente teve o mesmo pensamento. Nos sentamos lada a lado, os ombros se tocando, ambos sem saber o que dizer, olhando ao redor e para o céu onde o sol começava a se declinar. De repente, ele me abraçou com força e me puxou para junto dele, nossas bocas se uniram, nossas línguas se entrelaçaram, ambos choravam. Não havia o que dizer, só viver mais esse momento, era tudo que nos restava. Por mais de meia hora ficamos ali abraçados, os beijos se sucedendo no nosso mundinho particular onde só havia espaço para nós dois. Quando intentei levantar ele me apertou com mais força, pois sabia que ao sair de seus braços eu seguiria meu caminho. Eu me levantei, fiquei em pé na frente dele, tomei seu rosto em minhas mãos e o beijei. Ao soltá-lo, me virei e comecei a caminhar me afastando e voltando em direção ao local da festa. As lágrimas caiam pesadas pelo meu rosto, e eu comecei a correr cada vez mais rápido. Não olhei para trás, caso o fizesse não conseguiria deixá-lo. Ao encontrar meu pai, lancei-me em seus braços.
- Be brave, Gabe! Tudo vai passar, você vai ficar bem! – asseverou meu pai, ciente de que meu coração estava em frangalhos.
Recebi o aceite de três universidades em resposta aos pedidos que enviei, entre elas as universidades de Princeton e Cornell ambas fora do Estado, embora me sentisse orgulhoso por minhas notas e meu desempenho escolar me permitir o acesso a universidades tão prestigiadas, não tinha vontade de me afastar mais uma vez do meu pai por tanto tempo.
- Você deveria aceitar, filhão! É o seu futuro que está em jogo, e é nele que você deve pensar. – aconselhou meu pai, mesmo eu percebendo que não era aquilo que ele desejava.
- O colégio interno não foi uma boa experiência, pai! Eu senti muito a sua falta, foram cinco anos longe de você, e eu não quero passar por isso novamente. – respondi. – Eu não preciso de um diploma de prestígio para ser feliz, eu sou feliz perto de você, de tudo que você construiu aqui. Isso me basta. – acrescentei.
- Faça o que achar melhor, Gabe! Sempre terá o meu apoio, seja lá o que você decidir.
- Eu quero ficar aqui. Estou pensando em cursar engenharia agrícola e biossistemas na Universidade Estadual da Dakota do Sul; Brookings está a menos de uma hora daqui, posso ir e vir todos os dias, quando muito talvez terei que passar uma noite ou duas por lá se estiver assoberbado com algumas tarefas; mas, no mais, estarei aqui com você. – revelei.
- Se é isso que deseja, tem meu total apoio! – exclamou ele. Percebi o quanto essa informação o deixou contente.
- Tem mais uma coisa, pai! Eu gostaria de começar a faculdade apenas no ano que vem, este eu queria ficar aqui na fazenda com você. – ele não me questionou o motivo, mas em seu íntimo tinha essa escolha como uma prova do que eu sentia por ele. – Você concorda?
- Claro que sim, Gabe! Claro que sim, querido! – eu o abracei com força e o beijei demoradamente, meu pai não era apenas o meu ídolo, era meu exemplo de homem, e quando descobri minha sexualidade, também entendi muito do que sentia por ele, e o porquê de a nossa relação ser tão forte.
Ele também não escondia a satisfação de me ter de volta, de podermos estar o tempo todo juntos e de ser o alvo exclusivo da minha atenção e carinhos. Eu o ajudava na lida diária da fazenda e também cuidava das nossas refeições e da manutenção da casa. Um dos três rancheiros que ele havia contratado tinha se casado enquanto estivesse no colégio interno, era um mexicano que conseguiu trazer uma antiga namorada para os Estados Unidos. Meu pai lhe pagava pelos serviços da casa enquanto estive fora, e agora ela me ajudava nessas mesmas tarefas.
Meu pai sempre foi um homem que atraia os olhares e a cobiça das mulheres por seu físico avantajado, seu rosto viril, aquele certo ar rústico, tipo caubói Marlboro, transbordando uma sensualidade inata, embora não fosse fumante nem ostentasse o mesmo vasto bigode do sujeito retratado nos pôsteres da marca de cigarros, os quais cheguei a ver desbotados nas paredes de algumas lanchonetes de beira de estrada, preservadas com relíquias. Ele também não me era indiferente; enquanto gay e, antes mesmo de me descobrir homossexual, havia algo inexplicável nele que me seduzia. Entre essas coisas, seu cheiro almiscarado que se acentuava quando estava suado, o perfume de sua loção de barba que invadia minhas narinas quando o beijava e que acendia uma labareda dentro de mim. Com o meu regresso para casa, essas coisas iam se reavivando em mim e me fazendo desejá-lo como homem em sonhos incestuosos. Ele tinha maturidade, era sereno e resolutivo diante dos problemas e dificuldades. Parecia sempre saber qual era coisa certa a fazer. E, seu jeito de tratar comigo tinha algo que ia além do amor paternal. Às vezes, quando ele me tinha em seus braços, eu notava um desejo por mim que ele procurava camuflar. Isso ficava particularmente evidente quando eu me sentava em seu colo, uma mania que ele nunca desestimulou mesmo depois de eu ter deixado de ser criança.
Aquelas primeiras semanas do verão tiveram dias de muito calor, e eu passava os dias metido apenas num short, especialmente dentro de casa, pois havia notado os olhares que o Dave, o mais jovem ajudante do meu pai, um rapagão solteiro e tesudo vindo de um lugarejo perdido no Texas, lançava obstinadamente para o meu corpo, em especial, para a minha bunda, sempre acompanhados de um sorriso libidinoso. Eu tinha vivido isso no colégio à medida em que meu corpo foi se desenvolvendo e minha bunda ganhando esse contorno abastado, se tornando alvo de cobiça da molecada cheia de hormônios, bem como de piadas de cunho sexual, e que deixavam o Justin puto da vida, querendo quebrar a cara dos abusados. Foi lá que conheci o que era o ciúme de um homem pela primeira vez, e agora isso se repetia com o meu pai, que procurava fazer de um tudo para manter o Dave longe de mim.
- O Dave não anda se engraçando com você, ou está? – perguntou-me ele numa daquelas noites abafadas quando ele tomava uma cerveja e assistia uma partida de beisebol esparramado no sofá da sala trajando nada mais do que uma daquelas suas cuecas samba-canção com botões de pressão que sempre abriam a braguilha e deixavam à mostra seus densos e negros pelos pubianos, algo que sempre atraiu meus olhares.
- Claro que não, pai! Ele é gentil, sorri e acena quando me vê, mas é só isso. Vez ou outra, troco algumas palavras com ele, mas não passa disso. – respondi.
- Gentil, sei! Conheço bem esse tipo de gentileza! Mantenha-se afastado dele, especialmente quando estiver usando esse short. – retrucou ele, enciumado.
Eu lhe devolvi um sorriso; aquilo não era um conselho de pai para filho, era pura demonstração de ciúme de macho, e confesso que fiquei imensamente contente ao me dar conta disso. Sentei-me em seu colo, abracei-o e sussurrei em seu ouvido que não se preocupasse que eu sabia me cuidar. Ele ficou excitado, a ereção tinha escapulido pela braguilha e roçava a dobra entre a minha coxa e a nádega. Eu dei uma rebolada bastante sutil, mas suficiente para fazê-lo colocar a lata de cerveja de lado e me abraçar, o desejo lascivo brilhava em seu olhar, mas ele relutava em prosseguir com aquilo.
- Eu te amo, pai! – afirmei, colocando um beijo no canto de sua boca. Ele agarrou minha nuca e fez seus lábios se encaixarem nos meus. Lentamente fui abrindo a boca e a língua dele me invadiu, ávida e voraz.
- Não devemos ir adiante, Gabe! Você é meu filho, isso não é certo! – disse ele, interrompendo abruptamente o beijo que instalara o tesão em nossos corpos.
- Sabe, pai, quando você me mandou para o colégio interno eu cheguei a pensar que você não gostava mais de mim, que eu estava atrapalhando a sua vida e a chance de você conhecer outra pessoa depois que a mamãe nos deixou. Fiquei arrasado quando te vi partir observando a picape desaparecendo aos poucos, achando que você também tinha me abandonado. No entanto, com o passar dos meses, eu compreendi que estava enganado, que você só tomou essa atitude porque percebeu que o amor que havia entre nós também ensejava sentimentos que não eram típicos de uma relação pai/filho. Eu cheguei a essa conclusão no dia em que o Justin me desvirginou, foi ali que eu descobri que o amor tem nuances que vão além daquilo que eu conhecia até então. Eu compreendi, pai, que foram essas nuances que te levaram a me afastar de você para me preservar, e eu imediatamente o perdoei. Não queria que você sofresse por não poder satisfazer suas necessidades de homem comigo. – revelei
- Você era um adolescente! Meu dever de pai é te proteger, e isso estava ficando incompatível com o que eu sentia por você, sempre tão carinhoso e amoroso. Eu também sofri muito quando te deixei naquele estacionamento, chorando enquanto me pedia para não deixá-lo. Eu só estava cuidando de você, filho. – afirmou.
- Eu sei, pai! Mas hoje não sou mais! Hoje eu sou um adulto que sabe o que quer, que aprendeu a conhecer seu corpo e suprir suas necessidades. Hoje eu sei que tipo de homem você é, e te amo muito por ser assim. Um homem com H maiúsculo, aliás, bem maiúsculo pelo que estou sinto roçar na minha coxa, foi um homem assim que pensei existir no Justin, mas me enganei. O Justin é apenas um homem comum que foi muito importante durante todos aqueles anos, eu não nego, eu me apaixonei por ele, e acredito que ele também se apaixonou por mim, mas ele não foi capaz de ir adiante. Não o culpo, ele sempre cuidou de mim com muito carinho, me ensinou muitas coisas, porém ele não conseguiu ser esse homem com H maiúsculo que eu queria, e ele sabia também sabia disso. – meu pai riu quando afirmei que ele era um homem com H maiúsculo e olhei para sua ereção cavalar despontando da braguilha.
- Eu gostei do Justin desde a primeira vez que você nos apresentou. Fiquei imensamente feliz por saber que ele estava cuidando de você, protegendo você, desenvolvendo sua sexualidade. Sempre achei que vocês acabariam juntos no futuro, uma vez que o amor que sentiam um pelo outro era algo quase palpável. Me surpreendi por ele não ter vindo conosco após a formatura, e ter aberto mão de você. – confessou meu pai.
- Tudo o que o Justin conheceu foram colégios internos, ele não sabia nada do mundo que o cercava, não tinha vivido nada além daquilo que se confinava entre os muros dos colégios. Quando teve a oportunidade de sair e explorar as coisas além daquele confinamento, ele se deslumbrou com coisas com as quais jamais havia sonhado. O Justin precisa descobrir a si mesmo antes de saber o que quer da vida, e eu, infelizmente, não estava nesses seus planos para o futuro. – revelei.
- Você vai conhecer alguém que te mereça! Algo me diz, instinto de pai, que o Justin algum dia vai se arrepender de ter aberto mão de alguém tão amoroso e especial como você. – disse ele.
- Não tenho pressa, eu tenho você agora, e gostaria de te fazer feliz suprindo todas as tuas necessidades de homem. Deixei de ser criança, sou um gay que só quer ter um macho para amar e cuidar. – sentenciei. Meu pai tornou a me beijar com a mesma voluptuosidade voraz que o levou à ereção, e já não reprimia seu desejo de me possuir.
Seus beijos e chupões foram descendo para o meu pescoço e ombros, sua mão puxou meu short e expôs minha bunda que, ao mesmo tempo em que era acariciada e apalpada, sentia o roçar úmido de seu caralhão.
- Você sempre foi um garoto lindo, Gabe! Se tornou um rapaz ainda mais lindo, não admira que seu corpo seja tão cobiçado. Eu não devia agir assim, mas eu te quero, Gabe! Te quero muito! – murmurou ele, sem parar de me beijar e chupar a pele que se arrepiava com sua boca sedenta.
Meu cuzinho piscava querendo acolher aquele macho. Sim, naquele momento deixei de vê-lo como meu pai e o enxerguei como homem; um homem a quem eu amava, um homem a quem queria me entregar. Escorreguei por entre as pernas grossas e peludas dele até ficar ajoelhado à frente dele. O cacetão emergia da cueca como um tronco grosso que pulsava e de onde vazava um pré-gozo abundante e cheiroso. Abri os botões de pressão da cueca e, deslizando suavemente minha mão para dentro dela, liberei seus genitais imensos. Eu já os tinha visto algumas vezes enquanto ele se banhava, mas nunca tão de perto, tão ao meu alcance esperando que eu os tocasse e afagasse. A grossa tora de carne, reta e circundada por um emaranhado de veias ingurgitadas tinha mais de um palmo de comprimento, seu diâmetro era intimidador, o volume globoso da cabeçorra se destacando como um cogumelo gigante. O sacão não ficava a dever, mais parecia o escroto de um touro, abrigando seus testículos taurinos que, minutos depois, eu viria a descobrir, produziam uma quantia volumosa de sêmen denso e saboroso. Meus dedos tatearam carinhosamente ao longo do caralhão e do sacão, explorando sua textura, o calor que emanavam, a virilidade que exprimiam. Meu pai me encarava em jubilo, deixando-se envolver pelos meus afagos. Fechei minha mão ao redor da rola e cobri sua cabeçorra com os meus lábios, lambendo o sumo aquoso que ela vertia. Ele soltou um grunhido forte e gutural, gemeu meu nome e enfiou os dedos nos meus cabelos. Chupei-o devotamente por toda extensão da pica, trabalhando com afinco ao colocar o máximo que podia daquela glande imensa na minha boca. O pré-gozo ia se mesclando à minha saliva e eu a engolia deliciado com seu gosto picante e seu aroma almiscarado. A minha musculatura oral já estava cansada de tão distendida chupando aquela verga gigantesca e, extenuado, eu a mordiscava e lambia seguindo em direção ao sacão peludo. Abocanhei um dos testículos, chupei-o e massageei-o com a língua, enquanto meu pai só rugia feito um leão recebendo dengo.
- Se você fazia isso com o Justin, preciso dizer que ele só pode ser um idiota ao dispensar uma boca aveludada e hábil como a sua. Que homem se furtaria a ser privado desse privilégio? – grunhiu ele.
Voltei a me concentrar na cabeçorra, chupava-a com força e delicadeza sabendo de sua sensibilidade; ao mesmo tempo, meus dedos faziam os colhões deslizarem pelo sacão mimoseados com carinho. Senti as mãos do meu pai pressionando minha cabeça, afundando-a na sua virilha, quando suas coxas e pelve começaram a retesar.
- Eu vou gozar, Gabe! Ai, caralho, eu vou gozar, Gabe! – anunciou ele, me prevenindo da iminência da esporrada.
Talvez ele estivesse esperando que eu parasse a mamada, mas a advertência dele só serviu para me instigar chupando-o mais intensamente. Quando o urro dele ecoou pela sala, o primeiro jato desceu direto pela minha garganta quase me sufocando, tamanha a quantidade de porra que ele ejaculou. O segundo quase me vazou todo pelos cantos dos lábios, pois precisei inspirar antes de degluti-lo. Os demais foram vindo numa sequência, cremosos, mornos, deliciosos e foram engolidos à medida que eclodiam, enquanto nossos olhares se fitavam em êxtase. Eu tinha apenas um parâmetro de comparação, o Justin. E, nem quando ele ficava três ou quatro dias sem ejacular, conseguia produzir tanto esperma quanto o que eu acabara de engolir.
Foram tantos anos de desejo reprimido que nós não queríamos nos desvencilhar. Abraçados, os beijos se sucediam, tórridos e úmidos, nossas bocas se saboreando com o tesão. Meu pai tornou a me puxar sobre suas pernas abertas, entre as quais me alojei, enquanto ele manipulava meus mamilos esmagando-os com seus dedos grandes e grossos, ondas de um frenesi sem tamanho perpassavam meu corpo e eu gingava em seu colo, antes de abocanhar um deles lambendo-o com sensualidade e incitamento fazendo a ponta da língua circundar a auréola castanha e umedecendo o biquinho rosado enrijecido pela excitação. Ao mesmo tempo em que começou a chupar meu peitinho e dar mordidinhas na pele ao redor dele, foi delicadamente explorando meu cuzinho com um dedo devasso que era cautelosamente enfiado na rosquinha anal. Cobri o rosto dele de beijos, sua barba espetava meus lábios, e eu segurava sua cabeça junto à minha teta como se lhe estivesse dando de mamar, fazendo-o rugir de tanto tesão. Esse tesão deflagrado quando eu mamei seu caralhão não arrefecia e continuava mantendo a ereção sólida e rochosa que pincelava meu reguinho mantido aberto por suas mãos espalmadas sobre as minhas nádegas. De súbito ele se levantou comigo pendurado em seu pescoço troncudo e minhas pernas enlaçadas em sua cintura, caminhou até imprensar minhas costas contra a primeira parede que encontrou e, fixando seu olhar voraz no meu, penetrou a cabeçorra do cacetão no meu cuzinho, me obrigando a ganir enquanto minhas pregas eram dilaceradas.
- Dói? – perguntou, bufando de êxtase e furor.
- Doeu na penetração! Vai devagar, papi! Você é enorme! – gani tremendo de desejo.
Ele deu apenas mais um impulso fazendo o cacetão deslizar fundo o bastante no meu cuzinho para não escapar enquanto me levava para o quarto e me deitava lentamente sobre ela à medida em que se inclinava em cima do meu corpo. Puxei seu rosto para perto do meu e uni meus lábios aos dele, deixando-o mordiscá-los e aprisioná-los entre seus dentes. Afagando minha face sem tirar os olhos dela, ele começou a me estocar devagar e cadenciadamente. O caralhão ia deslizando cada vez mais fundo, distendendo e preenchendo meu reto que se contraía em espasmos vigorosos trazendo simultaneamente dor e prazer. Meus esfíncteres mastigavam o cacetão enfiado neles tragando-o para dentro da minha ampola retal. Aquele não era o primeiro prazer sexual que eu sentia, mas estava sendo o mais expressivo que já senti, por comungá-lo com meu pai numa relação incestuosa carregada daquela sensação de veto moral. Nenhum dos dois estava se importando com isso, não era a luxúria e nem o pecado que comungávamos, e sim, aquele amor singelo e puro que sempre permeou nossa relação. Ele tinha o direito de ser expresso, de prevalecer naquela conjunção carnal prazerosa. Enquanto meu pai me enrabava bombando ritmicamente meu cuzinho apertado e receptivo, sua boca ora me beijava com a gana da posse consumada, ora me chupava os peitinhos inchando com a avidez com a qual eram assediados. Meu corpo não parava de tremer, os hormônios do prazer me eram injetados nas veias trazendo quentura e satisfação. Quanto mais o tesão me consumia, com mais ímpeto e força eu me agarrava aos ombros largos do meu pai, cravava as pontas dos dedos em suas costas e o arranhava trazendo-o para cima de mim enquanto erguia os quadris franqueando meu cuzinho para o caralhão impetuoso dele. Algo parecido com uma descarga elétrica percorreu minha coluna e foi se concentrar no meu cu, travando-o e desencadeando ondas progressivas que se espalhavam pela minha pelve, com um ganido mais pungente comecei a gozar empapando meu ventre com os jatos de porra que meu pinto ejaculava vertiginosamente. Meu pai continuava me estocando, o caralhão atingia minhas entranhas e as fazia convulsionar ao perceber que tinha me levado ao clímax. Sua tara parecia ter aumentado após me ver gozar e meus ganidos, agora constantes, acompanhados do contorcionismo que meu corpo fazia debaixo do dele, o fizeram gozar. Mais uma vez aquele urro rouco vindo do fundo de seu peito me anunciou o despejo volumoso de porra no meu cuzinho. Enquanto ele me encarava e afagava o rosto, os jatos pegajosos de esperma iam inundando meu ânus lanhado.
- Ah, Gabe, há quantos anos venho imaginando e sonhando com esse dia! Mas jamais o tinha imaginado ou sonhado tão maravilhoso como você o fez ser. Amo você, querido! – exclamou meu pai, arfando e suado ao desabar sobre mim.
- Amo você, papi! Amo muito e quero te fazer feliz! – sussurrei, acariciando suas costas largas e suadas de macho ardente e viril.
Os coitos se repetiram seguidamente nos dias subsequentes àquela primeira conjunção carnal, saciando o desejo cobrado por nossos corpos. Passamos a dividir o leito com todos os benefícios e regalias que são concedidas aos apaixonados, numa intimidade nunca vivida antes. Ambos tínhamos a impressão de estar vivendo os momentos mais felizes de nossas vidas e isso transparecia como o brilho do sol iluminando o alvorecer.
Passei aquele primeiro ano após a minha saída do colégio interno envolvido com os assuntos da fazenda, aprendendo com meu pai todos os macetes para administrá-la lucrativamente. No ano seguinte, entrei na faculdade de engenharia e biossistemas da Universidade Estadual da Dakota do Sul, em Brookings conforme havia planejado. Foram quatro anos de estudo nos quais procurei aplicar os conhecimentos adquiridos nos negócios da fazenda e, mais dois dedicados a uma pós-graduação.
Meu pai sempre insistia para eu abrir espaço na minha vida e no meu coração para uma nova paixão, toda vez que percebia que algum colega da faculdade ou um rapaz do nosso círculo de amizades se mostrava interessado em mim. No entanto, meu pai me bastava, o que eu tinha com ele preenchia todas as lacunas sentimentais e sexuais, me levando a ser reticente com mais alguém demonstrando interesse em mim. Eu não conseguia enxergar nesses possíveis candidatos aquilo que rolava com o meu pai. Era aquela velha questão do homem com H maiúsculo que parecia faltar em todos eles e, naqueles em que não faltava, não rolava a química necessária para construir um relacionamento.
- Você sabe que eu gosto muito de fazer amor com você, nosso entrosamento é perfeito, você me proporciona todo prazer e satisfação que um homem pode desejar, Gabe. Mas, eu estou envelhecendo e vou envelhecer muito mais daqui para a frente, e você é jovem, está no auge da vida, merece alguém da sua idade que saiba te satisfazer e te dar todo o amor que merece. Dê uma chance a esses rapazes, o Sam, por exemplo, filho de um dos meus melhores amigos, ele não esconde o quanto te deseja; ou aquele seu colega da faculdade, vocês viviam estudando juntos, o Taylor, ele é tarado por você dá para perceber de longe; e mesmo o Jamie Felton que, embora pareça um palhação ao ficar te provocando o tempo todo, no fundo só usa esse expediente por estar gostando de você e perceber que ele não é o único a ter esse sentimento. – sugeriu meu pai.
- Não sei, pai. Para ser sincero, não me sinto entusiasmado por nenhum desses que você enumerou, acho que não ia rolar. – devolvi
- Então conheça outros! Você é lindo, é sexy, é charmoso não precisa nem procurar, os caras vêm a você atraídos por todas essas qualidades. Eu me preocupo com seu futuro, quero que construa uma vida com alguém que cuide de você e te proteja, te faça feliz. – retrucou ele.
- Está bem, prometo que vou pensar sobre o assunto! Mas, sem pressa, ok?
- Ok! No seu tempo, quando você estiver disposto. – eu já sabia que ele não ia cumprir sua parte no acordo, que a minha concordância lhe abria, de certa forma, o caminho para bancar o cupido.
Eu estava cursando o último ano faculdade quando permiti que o Sam, aquele filho do amigo do meu pai, fosse se insinuando e frequentando a nossa casa sem aquelas formalidades, até porque, isso sou obrigado a admitir, ele era um tremendo de um macho de virar a cabeça de qualquer gay ou mulher que cruzasse seu caminho. Começamos a sair, a fazer programas com a galera que ambos conhecíamos, e até a transar toda vez que o tesão exigia. Ele era divertido, tinha uma vida responsável, tinha objetivos de vida bem definidos, nos quais a perspectiva de compartilhar seus dias com um gay não constituía um empecilho e, era gostoso feito ele só. Ficamos juntos durante três anos, até hoje não tenho claro o que nos levou a desistir de uma hora para outra daquela relação que nunca havia apresentado problema algum. Acabei atribuindo ao arrefecimento daquele primeiro entusiasmo que nos aproximou o motivo pelo qual a coisa não foi adiante, talvez tivesse faltado algo que nenhum dos dois foi capaz perceber e consertar. Continuamos amigos até hoje. Passou-se um ano do encerramento do relacionamento e, desde então, me mantenho só, embora não me sinta solitário ou carente. Mesmo enquanto estive com o Sam, meu pai e eu nunca deixamos de transar, tínhamos chegado a um acordo de que aquilo só terminaria no dia em que eu estivesse num relacionamento sério com outro homem.
Paralelamente a ajuda que dava ao meu pai com a fazenda, consegui um emprego numa empresa que produzia maquinário agrícola, atuando como engenheiro de desenvolvimento de projetos. Eu estava satisfeito com a minha carreira e não tinha do que reclamar.
Um final de tarde daqueles do mês de março quando anoitece cedo e as últimas neves ainda teimam em cair, ao chegar em casa do trabalho, encontro o Justin e meu pai conversando animadamente diante da lareira acesa. O impacto ao vê-lo foi tão grande que estanquei logo após entrar na sala aquecida, enquanto as extremidades dos meus pés e mãos ainda se ressentiam dos -11°C que fazia lá fora. Ele se levantou num salto e veio me abraçar com aquela intimidade da qual ainda sentia muita saudade e, sem se importar com a presença do meu pai nos observando, colou sua boca à minha num beijo demorado, carinhoso e com sabor de Justin. Minhas pernas bambearam, e me senti grato por ele estar me apertando com toda aquela força.
- Oi! – disse ele, depois daquele beijo que durou minimamente uns três minutos.
- Oi! – respondi, sentindo que meu coração queria sair pela boca.
- Você está lindo, Gabe! Ele não é lindo, Mathew? Seu filho é lindo! – disse ele, me encarando com um sorriso doce que ainda estava bem vivo na minha memória.
- É sim, Justin! O Gabe é lindo, mesmo que eu pareça um pai coruja afirmando isso. – afirmou meu pai.
- O que estão pretendendo com isso, me deixar encabulado? – questionei com a cumplicidade que havia entre eles.
- Você ainda fica com as bochechas rosadas quando está tímido? – perguntou o Justin, para me deixar ainda mais constrangido.
- Deixa de ser bobo! Que surpresa é essa? Nunca pensei que voltaríamos a nos encontrar. Está passeando ou a trabalho? – perguntei, sem conseguir soltar aquela mão vigorosa e quente que me trazia doces recordações de quando passeava libertina sobre meu corpo nu.
- Voltei para te ver! Só para te ver! – exclamou ele, não querendo entrar em detalhes sobre aquela visita inusitada e inesperada. Para responder à minha pergunta ele precisava de privacidade, de tempo e de coragem. – Sentiu saudades minhas? – indagou rápido na sequência, abrindo um sorriso ladino.
- Você nem deveria me fazer essa pergunta! Sabe que sim! – respondi.
O tempo todo durante o jantar eu tive a sensação de que havia perdido alguma coisa, pairava no ar um assunto que eu ignorava, mas sobre o qual os dois estavam estranhamente cientes.
- Por que estou com a sensação de que estão me escondendo alguma coisa? Vocês podem me explicar? – perguntei a certa altura, quando a conversa voltou a continuar na sala.
- Porque sua curiosidade não tem limites! – respondeu o Justin. – Lembra-se de como ficava irritado quando não te contávamos alguma coisa? O Jake adorava te azucrinar com isso. – citou o Justin.
- É porque vocês dois eram cheios de segredinhos! – exclamei.
- Papi, você não está compactuando nada com esse safado pelas minhas costas, não é?
- Acho melhor você contar de uma vez, Justin! O Gabe não vai nos deixar em paz enquanto não souber. – sugeriu meu pai.
- Souber do quê? O que eu preciso saber?
- Que eu vim para te perguntar se você aceita que eu seja seu marido! – disse o Justin, de supetão. Engoli em seco e olhei de um para o outro para me cientificar de que tinha ouvido direito.
- Como é? Você quer que eu .... , você está me pedindo .... , você está de brincadeira? Vocês estão me gozando?
- Não Gabe, eu não estou zoando com você! Eu voltei porque quero ser mais do que aquele namorado que você queria quando terminamos o colégio, eu quero ser seu companheiro pelo resto da vida, eu quero ser seu marido. – asseverou o Justin, observando como meu semblante começava a ficar tenso.
- Eu nem sei .... ! Eu não tenho ... ! O que é que eu posso dizer? – balbuciei atordoado e confuso
- Preferencialmente que sim, que aceita! – retrucou o Justin, olhando na direção do meu pai e procurando sua conivência.
- Não é tão simples! Você precisa, quer dizer, eu tenho que te contar uma coisa antes de te dar uma resposta. E, depois do que eu tenho para te contar, você talvez não queira mais .... – que raios estava acontecendo comigo que meus pensamentos já corriam quilômetros à frente das minhas palavras e não me permitiam concluir as frases?
- Sobre você e seu pai? – eu quase tive uma síncope quando ele fez a pergunta.
- Papi, o que você ...., você contou ao Justin sobre .... – não, não seria possível ele saber, melhor eu me calar antes de soltar o que não deveria.
- Não Gabe, eu não disse nada! O Justin já sabia! – respondeu meu pai
- Sabia? Como sabia?
- Eu desconfiava, é o que seu pai está querendo dizer. Esta tarde ele apenas confirmou as minhas suspeitas, depois que eu lhe contei das minhas intenções para com você.
- Esta tarde? – indaguei. Ele estivera a tarde toda com meu pai? Quando foi que ele chegou à fazenda?
- Sim, esta tarde! Eu liguei para o seu pai há alguns dias atrás e ele me disse que poderíamos ter essa conversa enquanto você estivesse na empresa. Quando você me convidou pela primeira vez para passar as férias de verão aqui, eu notei que a relação que você tinha com o seu pai era muito especial. Você agia tão carinhosamente com ele como fazia comigo no colégio. Então passei a observá-los com mais atenção, e percebi que seu amor por ele não era apenas um amor de filho para pai, e vice-versa. Se no colégio eu tinha seu afeto e suas carícias pelo amor que sentia por mim, essas mesmas coisas apareciam na relação entre vocês dois.
- Mas eu nunca tinha feito nada com o .... Isso só aconteceu bem depois, quando voltei para cá. – afirmei.
- Sim, eu estou sabendo, seu pai me disse. Ele e eu estivemos conversando a tarde toda, e quando eu disse que queria te pedir em namoro, e perguntei se ele concordava com isso, ou se esse relacionamento entre vocês seria um empecilho, ele me garantiu que não, que você está livre para fazer suas escolhas, que vocês tem uma relação incestuosa, que no entanto não o obriga a ficar preso a ela. – revelou
- E você ..., você não temEu não tenho restrição nenhuma! Se é essa a sua pergunta. O que aconteceu entre vocês não diminui o que eu sinto por você. Não sou um moralista para julgá-los, para decretar que tipo de amor deve guiar a conduta das pessoas. Eu te amo, Gabe! Sei que te decepcionei quando você esperava que eu assumisse nosso amor, mas naquela época eu não estava preparado para isso. Hoje eu sei que quero ficar com você, que o que tivemos foi maior do que tudo que experimentei depois. E, uma vez que estamos pondo as cartas na mesa, entre essas experiências houve até um casamento que durou pouco mais de três anos. – continuou revelando
- Você é casado?
- Não, Gabe! Eu fui, já está tudo resolvido, inclusive as questões burocráticas. Eu estou solteiro, bem solteiro para você, se ainda me quiser. – eu não sabia o que pensar, era informação demais, perguntas demais que, de repente, eu parecia não conseguir processar.
- Eu acho que vocês dois estão precisando passar um tempo juntos para que possam avaliar se aquele amor que sentiam um pelo outro no colégio ainda está vivo dentro de vocês. O Justin vai ficar por aqui, ao menos alguns dias, segundo ele. Vocês podem conversar bastante nesse tempo. – sentenciou meu pai.
- É eu acho que sim! – murmurei atônito.
- Fui muito gentil seu pai ter me pedido para ficar aqui. Eu tenho tantas coisas para te contar Gabe, tanto para esclarecer e te dar a chance de saber que posso ser seu homem, o homem com quem sempre sonhou. Eu prometo aqui, diante do seu pai, que se você topar que eu seja seu marido, eu vou cuidar, proteger e te fazer muito feliz. – sacramentou ele.
- Você já sempre fez isso, lembra? O dia em que se meteu numa briga para me defender, e ficou todo estropiado. – recordei.
- E você cuidou dos meus machucados com tanto carinho que naquele dia mesmo eu me apaixonei por você, e decretei para mim mesmo que minha missão seria tornar a sua estadia no colégio o mais feliz possível. – afirmou ele.
Assim que o silêncio reinou na casa após nos recolhermos, o Justin entrou no meu quarto, o que não me espantou, pois no momento em que ele colocou seus olhos sobre mim depois de todos aqueles anos, eu senti como ardiam de desejo, o mesmo tesão que o levava a me enrabar naquele beliche que compartilhávamos no colégio.
- Você ainda a tem, o que aumenta as minhas esperanças! – exclamou ele, quando viu uma fotografia na parede do meu quarto, onde ambos apareciam com os cabelos molhados.
- Sim, eu a guardei. Ela me lembra de um dos muitos dias felizes que tive com você. – respondi
- Foi um dia muito especial para mim também! Fico feliz que tenhamos a mesma certeza sobre esse dia.
A fotografia fora tirada por ele num dos verões que passamos juntos na fazenda e no qual tomamos uma chuva torrencial que nos apanhou durante o caminho de volta para casa após um longo passeio pelas pastagens mais afastadas da fazenda. O Justin ficou com tesão quando minhas roupas ficaram aderidas ao seu corpo. Num rompante sôfrego, ele me prensou contra o tronco de um plátano da estrada e me fodeu ali mesmo, com a chuva banhando nossos corpos afogueados. Durante o coito, além de gemer com o furor destemperado dele, e reclamava por não termos voltado antes que a chuva nos alcançasse e, por estarmos completamente encharcados.
- E eu te disse – “agora sim você está encharcado, por fora e por dentro!” – citou o Justin, lembrando-se das palavras que usou depois de haver dado uma farta esporrada no meu cuzinho. – Foi aí que resolvi registrar aquele momento, pegando o celular e tirando a foto onde, apesar de ambos aparecermos com os cabelos pingando, consegui captar esses sorrisos de felicidade. – dizia ele, pensativo enquanto seus dedos percorriam nossos rostos na fotografia.
- É foi bem assim! Você tinha essa mania, quando me deixava puto com alguma coisa, me agarrava e metia esse seu caralhão em mim, até eu me esquecer do porquê tinha me zangado com você. – afirmei.
- Me deixa fazer isso pelo resto das nossas vidas, Gabe! – exclamou ele, me envolvendo em seus braços e juntando seus lábios aos meus.
- Tem certeza? Mesmo depois de ficar sabendo da minha relação incestuosa com meu pai? – indaguei, retribuindo o calor daquela boca com toda ternura.
- Eu já afirmei ao seu pai e vou fazer o mesmo com você, eu não me importo com o que vocês tiveram. Eu quero você, Gabe! Você não vai mais precisar dele nessa questão quando estivermos juntos, eu juro que vou ser o homem com H maiúsculo que você tanto sonha. – garantiu, mencionando o que talvez meu pai tenha lhe dito sobre o tipo de homem que eu procurava.
- Ainda te amo muito, Justin! Agora que você está aqui na minha frente, parece que nunca estivemos separados. – devolvi, enquanto seus beijos se intensificavam e suas mãos sequiosas me despiam.
- Acho que também deve se lembrar disso aqui! – exclamou, tirando da mala os desenhos que o Seong-su havia feito de nós dois em momentos íntimos.
- Você os guardou! – devolvi, examinando as folhas de caderno rotas.
- Quero emoldurá-las para que passem a fazer parte da vida que teremos daqui para a frente. – retrucou ele.
Quando senti o caralhão dele dentro de mim, procurando pela satisfação que ele julgava ter perdido depois que nos separamos, tive a confirmação de que ele era o homem que eu procurava. Não era mais o Justin garotão que me fodia, mas um macho determinado que me desejava tanto por saber que sua felicidade estava atrelada a tudo o que eu tinha a lhe oferecer. O Justin estava enorme, seu metro e noventa de altura, seus 115 quilos de ossatura e músculos e seu caralhão imenso e proporcional, sua maturidade e o jeito zeloso que nunca perdeu, faziam dele o homem com H maiúsculo que permeava meus sonhos. Gemendo quando ele ainda me bombava o rabo, eu lhe sussurrei o “sim” que ele tanto queria ouvir.
Na manhã seguinte, não precisamos explicar nada ao meu pai, nossos semblantes resplandecendo lhe deram a certeza de que havíamos nos acertado. Segurando as minhas mãos entre as dele, ele declarou que daquele dia em diante, o Justin seria meu homem, que ele fazia muito gosto por estarmos juntos, e que ele seria apenas meu pai. Não havia em tristeza nem remorsos no olhar afetuoso que me lançou, apenas a certeza de ter vivido momentos extraordinários atolado no meu cuzinho acolhedor.
Desde então, o Justin mora conosco e advoga no centro de Watertown, para onde se transferiu depois de sair do escritório de seu tio em Nova Iorque; enquanto meu pai e eu continuamos a melhorar os processos produtivos da fazenda. Muitas vezes o Justin e eu ficamos na varanda da casa recostados nos braços um do outro, como fazíamos no colégio, contemplando a paisagem e suas mudanças a cada estação do ano. Me sinto em paz comigo mesmo nesses momentos por que sei que sou feliz.
- Do que está rindo?
- De ser tão feliz ao seu lado! Por você ter me ajudado a ser um homem forte! – afirmei.
- Eu te amo, Gabe!
- Eu te amo, Justin!