Encontro de Natal
Nesses dois anos em que estamos trabalhando juntos no departamento jurídico de uma grande corporação em Los Angeles, o Derryl e eu nos tornamos grandes amigos. Tínhamos chegado à cidade com poucos meses de diferença, ele vindo da pequena Laurel, próximo a Billings no Estado de Montana e eu de Boston, Massachusetts e, coincidentemente, morávamos a poucos quarteirões de distância na Wallace Ave, como viemos a descobrir no meu primeiro dia de trabalho. Desde então, nos habituamos a fazer caminhadas ou corridas no Echo Park, que ficava nas imediações, nas manhãs dos finais de semana, bem como tínhamos construído um círculo de amigos praticamente em comum, com os quais costumávamos sair à noite para as baladas e points descolados da cidade.
A empresa entrava em recesso por três semanas na época do Natal, logo após uma festa de confraternização na qual era fácil reconhecer a verdadeira personalidade dos funcionários. Aquele sujeito muitas vezes compenetrado e sério, depois de alguns drinques se transformava num cara extrovertido e zoador, ou num comediante hilário, ou ainda num tarado safado, enquanto aquela senhora, zelosa mãe de família, com uns goles a mais de champanhe, soltava a franga dançando, abraçando e agarrando os solteiros mais cobiçados e, as senhoritas, normalmente discretas e contidas enfiadas em seus terninhos ou tailleurs comportados, traziam à tona seu lado libertino de garotas de programa, dançarinas de casa noturna ou destemidas e obstinadas caça-marido. Aqueles becos, salinhas e espaços pouco frequentados no cotidiano do luxuoso e vanguardista edifício da empresa, se transformavam no destino daqueles que tinham ficado apenas flertando durante o ano, em verdadeiros aposentos de bordel, onde o sexo e todas as taras acumuladas durante aqueles doze meses eram liberadas sem nenhum juízo. O que não raro, se transformava em grandes arrependimentos e constrangimentos no decorrer do ano seguinte. Tanto o Derryl quanto eu fazíamos parte daquele grupo de solteiros bonitões cobiçados e, além de sermos criativos nas estratégias para nos livrarmos do assédio, nos divertíamos com o descontrole dos demais colegas. Ambos detestavam a festa, mas fazíamos o nosso social junto ao CEO, pois era importante estar nas graças dele se a intenção fosse não apenas nos mantermos nos cargos, como conseguir as almejadas promoções.
Esse era o segundo ano em que o Derryl me convidava a passar o Natal na casa da família dele em Montana. No ano anterior eu não me sentia tão próximo dele a ponto de participar de uma festa tão familiar e recusei gentilmente o convite. Dessa vez ele havia me intimidado a fazer parte do encontro, começando quase três meses antes a fazer a minha cabeça e a me impedir de arranjar qualquer outro compromisso para aquelas três semanas de recesso. Me vi coagido a ir com ele para não deixá-lo ressentido.
Meus pais se separaram quando eu ainda era pequeno, tinham constituído novas famílias e o Natal para mim era uma época na qual ambos ficavam discutindo com qual deles eu ia passar as festas de final de ano. Invariavelmente, eu me sentia deslocado em ambas as casas, e via aquelas comemorações como uma verdadeira tortura. Quando conquistei minha independência, nunca mais passei o Natal com eles, e já achava aquela uma das festas mais sem-graça que podia existir. E foi com esse espírito que encarei o voo de quase seis horas até Billings, com escala em Phoenix, na companhia do Derryl e toda a estadia que estava por vir, tão logo tínhamos deixado a festa de confraternização da empresa, rumando dela direto para o aeroporto.
O pai do Derryl foi nos buscar no aeroporto Billings-Logan, a cerca de 20 milhas da casa deles em Laurel.
- Pai, esse é o Kevin! Kevin, meu pai, Orson! – apresentou-nos o Derryl, todo entusiasmado.
O pai do Derryl era um homem bastante rijo e bem-apessoado na casa dos cinquenta e poucos anos, que apenas alguns fios brancos nas costeletas denunciavam. Simpático e extrovertido, ele logo foi me abraçando com a mesma empolgação que recebia o filho. Também foi ele quem mais falou enquanto dirigia sem pressa pela rodovia I-90W, enchendo tanto ao Derryl quanto a mim de perguntas sobre o trabalho, sobre nossas vidas em Los Angeles e sobre as possíveis garotas que estivéssemos namorando.
- Por enquanto não encontrei nenhuma que me fizesse querer deixar de ser solteiro, e o Kevin é gay, pai; portanto, quanto menos perguntas embaraçosas vocês fizerem a ele com relação a namoradas e garotas, melhor. Já deixando esclarecido, ele também está sem nenhum pretendente em vista. – respondeu o Derryl, me deixando um pouco constrangido por me expor daquela maneira logo de cara. Mas, eu sabia que ele estava fazendo aquilo justamente para que eu não me visse numa saia justa no futuro.
- Não está mais aqui quem falou! Não se preocupem, ninguém vai constranger o Kevin em nossa casa. – respondeu ele. – Me perdoe a indiscrição Kevin! – disse, voltando-se para mim.
- Não há do que se desculpar, Sr. Orson! Faz anos que aprendi a ligar com a minha sexualidade sem problemas. – respondi.
- Isso é muito bom! Seus pais sabem que você é homossexual? – perguntou
- Pai! O que foi que acabei de te pedir? – interveio o Derryl
- Sem problema, Derryl! – tranquilizei meu amigo. - Sabem sim, Sr. Orson! Não posso dizer que ficaram exatamente felizes quando me abri com eles, mas é uma questão já superada entre nós.
- É bom saber que pessoas da minha geração sem mostrem mais abertas, livres de preconceitos. E não me chame de senhor a todo momento, pois vou parecer mais velho do que sou. – retrucou ele – Orson, apenas Orson, Ok!
- Ok, Orson! Não sei se meus pais são tão abertos assim a essa questão, creio que se viram mais obrigados a aceitar diante do inevitável. – respondi
- O mais importante é que se deem bem como família! O resto é só uma questão de ajuste. – comentou ele
- Bem, nesse aspecto não tenho lá boas recordações. Meus pais são divorciados faz muitos anos, minha experiência com a vida familiar nunca passou de um pula-pula de uma casa para a outra, sem muita conexão com nenhuma delas. – revelei sincero
- Lamento por você! – retrucou ele
- Bem pai, você não vai ficar interrogando o passado do Kevin, vai? – questionou o Derryl
- Não, claro que não! Me desculpe mais uma vez, Kevin, pela curiosidade.
- Está tudo bem! Não tenho problemas em falar sobre isso.
Numa parada rápida que o Orson fez num supermercado próximo da casa deles, o Derryl se desculpou mais uma vez pelo interrogatório do pai, e foi me avisando para me preparar, pois a família dele não era de muita cerimônia e que não faltavam bisbilhoteiros curiosos com as visitas. Pela maneira como ele falava da família, percebi que a vida dele tinha sido muito diferente da minha nesse aspecto, que eles formavam um grupo coeso que não se restringia apenas aos pais dele e aos dois irmãos, mas também aos parentes mais próximos. E esse era um universo totalmente desconhecido para mim, meus tios e primos nunca conviveram com nenhuma das minhas duas famílias. Não posso dizer que sinto falta dessa relação mais próxima, primeiro porque a desconheço, segundo porque nunca me interessei em estreitar laços de parentesco.
Faltavam quatro dias para a véspera de Natal quando chegamos à casa do Derryl que se localiza nos arredores de Laurel num vasto terreno de dois hectares, em estilo Tudor, distribuída por três andares e paredes revestidas de pedra, o que demonstrava estarem muito bem de vida. Eu já sabia que ele vinha de uma família abastada tanto pelo lado paterno quanto materno, e também já tinha visto fotos da casa que ele havia me mostrado parcialmente durante nossas conversas. Nesses papos, eu também percebi que tudo convergia para aquela casa, que, creio eu, meio que simbolizava aquela agregação, era a parte tangível da união daquela família, e que devia encerrar muitas histórias acumuladas durante os anos. O engraçado nisso era que o Derryl sabia fazer parte daquilo tudo, onde cada um tinha sua importância e seu papel, algo que eu jamais senti. Nunca me faltou nada do ponto de vista financeiro, tanto meu pai quanto minha mãe também tinham um bom patrimônio, fruto não apenas do trabalho deles, mas de heranças. Porém, por isso não estar unido, eu nunca consegui avaliar a dimensão desse patrimônio, nunca houve nada simbolizando o que seria uma família, quanto menos seu status. Não que isso fosse de vital importância ao longo da minha vida, mas perceber o quanto aquela casa do Derryl simbolizava me deixou tocado.
Uma recepção calorosa nos aguardava, em meio ao aroma de especiarias dos cookies e bonecos de gingerbread assando na cozinha. A casa estava cheia, irmãos do Derryl com suas famílias, o avô materno que morava com eles, um casal de tios paternos sem filhos que residiam Great Falls e vinham todo ano comemorar o Natal em companhia deles, e um primo que morava na cidade, mas cujos pais, nessa época, fugiam do inverno rigoroso de Montana e iam para a casa de veraneio na Flórida, devido aos problemas de artrose da mãe.
Eu o notei assim que eles vieram de todos os cantos da casa para nos receber. Foi o primeiro no qual meu olhar se fixou, destacando-se dos demais, por ser grande, corpulento, rosto másculo com uma barba cerrada por fazer que descia pelo pescoço troncudo, ombros largos, cabelos escuros ligeiramente desalinhados como se não tivessem um corte definido, e um ridículo pulôver de tricô com três renas de nariz vermelho se destacando do fundo branco cru, abaixo das quais se podia ler Rudolph, Dasher e Blitzen, o que o fazia parecer patético. Uma voz, vinda sabe-se lá de onde, soprou no meu ouvido – é ele o que você está procurando esse tempo todo, trate de não deixá-lo escapar, sua felicidade depende desse sujeito – como se fosse um conselho, mais do que isso, uma ordem.
Bonitão ele é, sem dúvida, meio esquisito com o que mais se parece com uma fantasia sobre um corpão desse tamanho. Eu até podia me apaixonar por esses olhos verdes e essa carinha de bom moço, pensei com meus botões, enquanto, como que hipnotizado, não conseguia desviar meu olhar dele.
Tem cara de ser esnobe, quem é que viaja nessa época de terno e gravata feito um almofadinha? Quanto tempo será que ele levou para deixar essa cabeleira toda alinhada desse jeito, linda ela é, preciso admitir, assim como esse rosto lisinho e essa boca que, valha-me Deus, é de tirar o fôlego. Isso sem mencionar esse corpo perfeito, só pode passar horas numa academia malhando ou ser resultado de meia dúzia de cirurgias plásticas, não tem nada que não esteja perfeito ou fora de proporção. Eu comeria essa bunda com o maior prazer! Pensei comigo mesmo, ao apertar essa mão macia.
- Kevin, esse é meu primo Gary! Gary, meu amigo Kevin! – apresentou-nos o Derryl
- Prazer! – cumprimentei . Eu queria ter tido um primo desses, disse a mim mesmo, quando senti aquela mão vigorosa se fechando ao redor da minha.
- Olá! – respondi, enfeitiçado por aquele par de olhos azuis que me encaravam como se eu fosse um alienígena. – Seja bem-vindo Kevin! – exclamei, meio abobalhado com tanta beleza mesmo esse tesudo estando todo vestido. O que dirá nu debaixo de um chuveiro, só de imaginar sinto minha pica coçando.
- O Gary namora a Linda há cinco anos, é isso não é Gary? Ela atualmente mora em Denver no Colorado para onde a família se mudou há cerca de três anos. Falando nisso, Gary, já estão pensando em casamento? – perguntou o Derryl ao primo. Acho que foi seu jeito de me avisar que o bonitão não estava disponível.
- Ainda não tocamos no assunto, mas pretendo comprar um anel nos próximos meses e fazer o pedido. O pai dela é bem tradicional, quer tudo nos conformes. – respondi, para que esse almofadinha soubesse que eu era chegado numa buceta.
Uma hora após a nossa chegada, a casa toda já sabia que eu era gay, a discrição do Orson não superou a necessidade de contar à esposa e, essa, se encarregou de espalhar o fato aos quatro ventos. Não o fizeram por mal, a intenção era que ninguém fizesse piadinhas sobre gays, que me tratassem sem nenhum constrangimento ou reserva, pois esse era um fato irrelevante para me aceitarem em seu convívio.
- Então esse é o rapaz entendido que o Derryl está namorando! Tenho que parabenizar o meu neto, ele sabe escolher o que é belo! – sentenciou o avô do Derryl, quando me viu pela primeira vez, algumas horas depois da nossa chegada, pois tinha estado a ler seu jornal no sossego de seu quarto, antes de ser chamado para o almoço.
- Não seja indiscreto, papai! Não foi isso que eu te disse, quando falei que o Derryl trouxe um amigo do trabalho para passar o Natal conosco. Você está confundido tudo outra vez! – recriminou-o a filha, sentindo-se encabulada por ter espalhado a notícia.
- O que foi então? Você disse que ele era entendido! Não estou tão surdo assim! – retrucou o velho.
- Me desculpe pelo papai, Kevin! Ele anda fazendo confusão com tudo e além de ser surdo ainda entende tudo errado. – desculpou-se a Betsy.
- Não tem problema, eu entendo!
- Eu não sou surdo e não faço confusão, são vocês quem fazem! Afinal, o Kevin é entendido, ou não? É o namorado do Derryl, ou não? – insistiu o avô, tornando-se cômico.
- Vô, o Kevin é gay, mas você não precisa se ater a isso. E não, eu não estou namorando com ele, somos apenas bons amigos, entendeu? – esclareceu o Derryl
- Quando eu estava na Marinha, meu amigo Josh tinha um caso com um rapaz entendido. O Josh sempre foi muito macho, mas aquele rapaz era lindo demais, tinha uma bunda tão gostosa que até hoje me lembro dela, e de como todos nós, amigos do Josh sentíamos certa inveja por ele ser o único a ter o privilégio de enrabar aquela bunda. – revelou o avô, deixando a todos estarrecidos com a falta de vergonha com a qual ele se expressava.
- Pare com isso, papai! Que bobagens você está falando! – censurou a mãe do Derryl abismada
- Não é bobagem, não! Aqueles dois eram dois malucos! – exclamou rindo, como se estivesse revivendo tempos passados que lhe traziam boas recordações.
- Não repare no meu avô, até hoje não sabemos se esse tal de Josh realmente existiu, ou se as histórias que ele conta como se fossem desse Josh, não são fatos que ele mesmo viveu, pois esse tal amigo dele parecia ser a reencarnação do capeta e ninguém nunca o conheceu. Segundo minha avó dizia, meu avô nunca foi nenhum santo, por isso acreditamos que para não ser recriminado, ele diz que essas coisas escabrosas foram feitas pelo Josh. – revelou o Derryl
- Ele existiu sim, não o inventei! – revidou o velho, mais atento do que nunca no que se dizia à sua volta. – Você, meu jovem, ia fazer o Josh subir pelas paredes. Aquele safado era tarado, um tarado como nunca vi outro igual. – emendou, me fazendo achar graça de sua espontaneidade assumida.
- Chega dessa conversa, papai! O que o Kevin vai pensar da nossa família, que somos todos loucos, ou então safados como você. – afirmou a Betsy, fazendo o velho sorrir.
Está aí, o vovô deve ter sacado tudo. Conhecendo o Derryl como eu conheço, desde nossa juventude, só pensando em enfiar aquele cacete dele no primeiro buraco gostoso que aparecer, não duvido que esse Kevin já não conheça aquela pica a fundo. Sendo muito franco, não posso recriminá-lo por isso, o cara é um tesão.
Eu daria tudo para descobrir o que se passa na cabeça desse sujeito que não para de me examinar com esse olhar de lobo faminto. Fico até sem jeito, parece que estou nu.
Tivemos uma tarde agitada, a novidade das apresentações, as histórias que se acumularam durante os meses em que não se viam, os preparativos para a noite de Natal, a correria para as últimas compras, isso tudo após uma confraternização na empresa e um voo cansativo, me deixou exausto. Durante o jantar eu já me esforçava para manter os olhos abertos, apesar da minha alienação nas conversas denunciar meu cansaço.
- Vá mostrar o quarto ao Kevin, filho! – sugeriu a Betsy. – Eu o coloquei o Kevin e o Gary no quarto do final do corredor esquerdo, aquele com a vista para as montanhas. Tem uma cama dupla nele e uma de solteiro, Kevin, você escolhe a que preferir, vocês vão ficar bem acomodados lá, o quarto tem seu próprio banheiro o que vai dar mais conforto aos dois. – sentenciou ela.
Está certo que também sou visita, mas a tia Betsy me colocar no mesmo quarto do almofadinha já e demais. Talvez fosse melhor eu voltar para casa e dormir por lá mesmo, conjecturei. O que eu não entendo, é porque não consigo parar de olhar para esse rosto, só pode ser doidice minha. Se toca, Gary, o cara é gay, lindão, mas é gay, vai me dizer que agora você deu para gostar de gays. E vá tirando seu cavalinho da chuva por que o Derryl não vai gostar nem um pouco de saber que você está de olho no namoradinho dele. Isso pode dar merda!
Não me faltava mais nada, dividir o mesmo quarto com esse sujeito. A casa dele não fica na cidade, por que raios ele não vai dormir lá? Afinal, mesmo estando sozinho na cidade, ele já é bem grandinho para poder ficar sozinho em casa. E esse olhar que não para de me perseguir, até parece que estou fazendo alguma coisa errada, ele deve estar julgado cada um dos meus movimentos, cada uma das minhas frases. Sujeitinho incomum, quem me dera adivinhar seus pensamentos, coisa que preste aposto que não é. Está tarde, estou morrendo de sono, amanhã eu me preocupo com isso. O melhor a fazer agora é cair na cama, mesmo com esse troglodita aqui dentro do quarto, se apossando da cama dupla sem nem ao menos ter a gentileza de me perguntar qual delas eu prefiro. Vá lá, que seja, o cara é grandão, a cama maior fica para ele, pensei.
Caraca! Quem disse que vou conseguir pregar o olho com esse tesão aqui do lado? Que perfume da porra é esse, vai me dizer que o cara passa perfume para dormir, só pode ser coisa de boiola mesmo. Vai, tira essa toalha da cintura, me deixa ver tudo. O carinha não tem pelos, é tão lisinho quanto um bebê; cacete, que homem não tem pelos? Não bastasse a carinha lisa sem barba, o corpão também é lisinho, sem nenhuma imperfeição. Quem consegue segurar o caralho numa hora dessas? Nem sendo monge tibetano! Não acredito, o cara vai se trocar no banheiro, tudo isso é timidez, ou medo de ficar pelado diante de um macho?
- Você passa perfume para dormir? – questionou o Gary, enquanto eu tirava o pijama da mala.
- Não! Claro que não! – respondi com firmeza. Qual é a desse cara?
- É que estou sentindo um perfume de camomila, sei lá, ou parecido!
- Deve ser do gel hidratante que passo no corpo após o banho! – respondi, meio sem-graça, com aquela curiosidade descabida.
Gel hidratante no corpo, fala sério. Para que porra um cara precisa passar gel hidrante no corpo depois de tomar banho? Já não é o suficiente estar limpo? Desse jeito gostaria de me transformar nesse gel só para ficar grudado nessa pele. Caralho, se isso continuar pelos próximos dias vou estar maluco antes do Natal.
Só podia ser um exibicionista mesmo! Qual é a desse sujeito, terminar de se enxugar aqui no quarto e deixar esse cacetão todo a mostra como se fosse uma obra de arte, sem-vergonha! Não sou a sua, como é mesmo o nome da fulaninha que ele está namorando, Linda, para você ficar peladão na minha frente. Uma coisa eu preciso admitir, essa tal de Linda está muito bem servida. Um macho com um cacetão desses não anda dando sopa por aí, quem me dera conhecer um desses, ia levar para casa na mesma hora.
Na manhã seguinte, quando desci para o café, eu estava mais constrangido do que nunca. Ter partilhado o quarto com o Gary me fazia sentir o mais devasso dos gays, embora não tenha rolado absolutamente nada entre nós. Só a presença física dele já me intimidava.
- Dormiu bem, Kevin? O que achou da cama, estava do seu agrado? – perguntou a Betsy, toda sorridente.
- Ótima! A cama é maravilhosa! Muito obrigado pelo carinho com o qual estão me recebendo, está tudo maravilhoso. – respondi.
- Preparei-a especialmente para você quando o Derryl confirmou que você viria. Foi nossa primeira cama de casal antes de nos mudarmos para essa casa, foi feita por um artesão com carvalho americano maciço. – revelou ela
- Ih, tia! Fui eu quem dormiu na cama dupla, não sabia que você a tinha preparado para o Kevin! – apressou-se a dizer o Gary
- Isso é mais uma brincadeira sua, não é Gary? A de solteiro é para ser a sua! Não vai me dizer que você fez a grosseria de dormir na maior? Eu vou te arrancar as orelhas, safado! – revidou a Betsy, estarrecida.
- Desculpe! Você não disse nada!
- E precisa dizer, Gary! Vou mandar trocar todos os lençóis para essa noite e você nem chegue perto dela, está entendendo?
- Não é necessário Betsy! Eu dormi super bem na de solteiro. Não me incomodo! – afirmei
- Nada disso! A dona dessa casa sou eu, e você vai dormir, enquanto for nosso hospede, no lugar que eu preparei para isso. Esse malandro é de casa e vai dormir no sofá se não se comportar. – disse ela, dando um tabefe no ombro sólido do sobrinho folgadão. – O Derryl disse que ainda precisava dar uma passada no shopping, então é você quem vai providenciar a árvore de Natal, para compensar a maldade que cometeu com o Kevin. E, leve-o com você para aproveitar e mostrar um pouco da cidade para ele. Trate de escolher uma bem bonita, daquelas mais fechadas como todos os anos. Não me apareça aqui com aquelas todas tortas e cheias de falhas entre os galhos, está me ouvindo, Gary? Preste atenção no que estou falando! – sentenciava ela, desconfiando da capacidade do sobrinho, mesmo que a tarefa fosse tão banal.
- Estou escutando, tia! Trazer um abeto bem formado e mostrar a cidade para o Kevin! – repetiu o Gary, para deixá-la ainda mais exasperada.
Se o Derryl não tivesse saído antes de eu descer, teria preferido mil vezes ir com ele ao shopping, por mais que detestasse esses lugares, do que dar uma volta no quarteirão que fosse com esse sujeito. Aquela voz que me disse para não deixá-lo escapar quando botei os olhos nele pela primeira vez, só podia ser a de um inimigo que queria me ver padecendo na companhia dele. Água e óleo eram mais compatíveis do que ele e eu.
Até que não seria de todo mal ficar um tempinho a sós com o almofadinha, especialmente depois do que vi ontem à noite. O terno o deixava elegante, sem dúvida; mas essas roupas descontraídas o fazem mais atraente, ao menos na minha humilde opinião. Na verdade, acho que tudo o que fosse colocado sobre esse corpo ia ficar bem, até vestido de drácula ele seria bonito. Quando ele sorri, e esses dentes brancos e alinhados surgem por trás dos lábios primorosamente desenhados, formam o sorriso mais sexy que eu já vi. Portanto, eu estava disposto a fazê-lo sorrir, só para ficar curtindo por algum tempinho esse sorriso. Que ninguém me ouça, mas esse cara está me dando tesão.
- Importa-se se eu der uma passadinha em casa? Preciso pegar algumas roupas, já que vou ficar esses dias na casa dos meus tios. Também preciso dar uma passada rápida no escritório da empresa, para ver como andam as coisas por lá. – perguntou o Gary, assim que saímos na camionete dele para buscar a árvore de Natal.
- Não, nem um pouco! Estou por sua conta, faça o que precisar fazer. – respondi. – Não precisa me levar com você, se não quiser, posso me distrair com outra coisa até o Derryl voltar do shopping. – emendei.
- Você e o Derryl moram juntos em Los Angeles? – perguntou ele, sem nenhuma sutileza.
- Não! Nossas casas ficam próximas, mas não moramos juntos e nem transamos, somos realmente só amigos. – respondi esclarecendo o que ele efetivamente queria saber.
- Não, não foi por isso que eu perguntei! – apressou-se a dizer.
- Bem, assim já fica respondida a pergunta que cedo ou tarde você ou alguém ia acabar me fazendo. – afirmei
- Você deve nos achar um bando enxeridos, não é? Depois do que o vovô falou ontem acho que você ficou meio assustado. – observou ele.
- Curiosos eu diria, o que é normal quando se conhece alguém. Quanto ao seu avô, ele é um cara peculiar, devo admitir, a idade já não o reprime. Mas, não me senti ofendido com a história que ele contou. – respondi sincero.
- É, ele é engraçado, um avô muito querido, apesar das besteiras que fala. A cada um dos netos homens ele vive perguntando se estamos trepando, diz que um homem só tem cabeça boa quando transa bastante e não deixa a porra acumular no saco. – revelou o Gary.
- Você mencionou que ia passar no escritório da empresa, posso perguntar com o que você trabalha? – perguntei para tentar fugir daquele assunto que estava enveredando por um caminho estranho.
- Sou engenheiro civil, trabalho com meu pai na empresa que ele montou, uma pequena construtora. Ele está quase se aposentando, passa meses na Florida e eu tenho assumido o controle de tudo. – respondeu ele, pela primeira vez se mostrando mais maduro e responsável do que eu imaginava. – O que foi? Ficou surpreso? Pensou que eu não passava de um garotão imaturo e fanfarrão? – indagou em seguida, talvez porque eu tenha mesmo ficado surpreso com sua resposta.
- Não, não! Não foi isso que eu pensei, juro! – devolvi ligeiro. Só me faltava essa, o cara consegue ler meus pensamentos.
- O que você e o Derryl costumavam fazer em Los Angeles para se divertir, saem juntos, que lugares frequentam? – lá estava ele voltando a bisbilhotar. Algo me dizia que ele ainda não estava completamente convencido de que entre o Derryl e eu não rolava nada.
- Sim, saímos juntos às vezes com uma galera de amigos, vamos correr num parque perto de casa, nada de excepcional. – respondi
- Entendi! – exclamou ele. Quem não entendeu esse ‘entendi’ fui eu, mas não ia encher minha cabeça por causa disso.
- O seu namoro com a Linda, como é namorar à distância, dá certo? – era minha vez de fazer perguntas capciosas.
- É trabalhoso! E caro, eu diria! Um final de semana por mês vou para Denver para ficar com ela, o resto do tempo é só no Whatsapp. Faz três anos que estamos nessa. Estou ensaiando um jeito de pedi-la em casamento, mas ainda não encontrei a melhor maneira de fazer isso. – respondeu
- Como assim? Não é só pedir para se casar e pronto? – indaguei.
- Não é tão simples! Ela não quer voltar para Laurel, a família dela toda está em Denver agora. – respondeu
- E você não está disposto a se mudar para lá! – devolvi, sacando qual era o problema.
- Eu gosto daqui, nasci e cresci em Laurel, tenho meu trabalho aqui e estou contente com os resultados. Acho que não me daria bem numa cidade grande. – não precisava ser nenhum vidente para sentir que aquele namoro estava com os dias contados.
- Se vocês se amam de verdade, vão encontrar um jeito de ficar juntos! – afirmei
- É, talvez! – para quem estava querendo comprar uma aliança de noivado, e resposta dele me pareceu bastante evasiva.
O que é que você entende sobre mulheres, se não as curte? Mulheres são complicadas, cara. Não se dá um jeitinho tão facilmente quanto se dá para trepar. Disso sim, você deve entender bem, pois aposto que não te faltam candidatos cobiçando essa bunda. Casamento é outro lance, envolve muita outra coisa. Você não ia entender. Afinal, existe alguém que consegue entender os gays? Esqueça, vamos pegar essa porra dessa árvore antes que a tia Betsy me ligue dando outro esporro.
Com esse seu dom da clarividência para ler meus pensamentos, é bom eu nem ficar imaginando muito você me pedindo em casamento, ou me presenteando com um anel, mas que isso ia me deixar muito feliz, isso ia. Talvez você não seja um sujeito tão abominável assim, charmoso e sexy você sabe ser. Não viaja Kevin, você vai conviver com esse cara por alguns dias e depois nunca mais vai encontrá-lo, se liga!
Encontrar o tal abeto reto e bem formado não foi tão fácil quanto parecia. O florista estava com o estoque bem reduzido e o Gary e eu vasculhamos pelos corredores do pátio até encontrar uma nas especificações exigidas pela Betsy. Fazia um frio de rachar e, de quando em quando, alguns flocos de neve caiam sobre nossas cabeças. Era um abeto grande, pesado e bem denso, e igualmente lindo.
- É esse? – perguntou o Gary, querendo dividir a responsabilidade pela escolha comigo.
- É esse! – devolvi
- Vai dar conta de pegar numa das pontas para levarmos até a camionete? – perguntou ele, insinuando que talvez eu não fosse homem suficiente para uma tarefa daquelas. Babaca presunçoso!
- Sou gay, não uma donzela frágil! – respondi exasperado, o que o fez rir.
Ele pegou na base do abeto, a parte mais pesada e com os maiores galhos e eu fiquei com a outra extremidade, mais leve. Era óbvio que estava querendo me provar alguma coisa. Carregamos a árvore até a camionete e a levamos para casa. Passados pelo crivo do controle de qualidade da Betsy, o carregamos até o ponto da sala que ela havia preparado para recebê-la. O Gary tinha baixado o capuz do agasalho sobre as costas que até então o tinha protegido do frio e da neve e colocou novamente a base pesada do abeto sobre o ombro, rumando para dentro da casa. Mal tínhamos dado alguns passos dentro da sala quando um esquilo assustado saiu do meio dos galhos e correu direto para o que lhe pareceu uma toca, o capuz do Gary. Assim que o bichinho correu pelos ombros dele, só se ouviam os gritos de um Gary apavorado, enquanto saltava mais que o próprio bichinho e deixava a ponta do abeto despencar no chão. Os dois sobrinhos pequenos do Derryl desataram a rir vendo aquele homenzarrão assustado com o esquilo, a Betsy não conseguia conter o riso e quem veio chegando atraído pela gritaria dele se juntava ao coro de gozação.
- Cacete, que bicho é esse? Tem um bicho nas minhas costas, será que ninguém pode tirar essa coisa daí! – berrava ele, tentando se livrar do agasalho, enquanto o esquilo se enfiava cada vez mais para o fundo do capuz.
- Acalme-se é só um esquilinho! – avisei, quando me vi obrigado a colocar a outra extremidade do abeto no chão, pois nem eu estava conseguindo controlar a risada.
- É um monstro isso sim, eu posso sentir, está no meu pescoço, façam alguma coisa! – berrava ele.
De tanto se agitar e arrancando desesperadamente as roupas, o esquilo acabou saltando para fora, sentindo que não estava mais seguro naquele abrigo. A correria pela sala começou, todos querendo capturar o pobre bichinho. Ele saltava sobre os galhos de abeto vindo na minha direção e facilitando sua captura. O coraçãozinho dele batia a mil, achando que sua vida findaria ali. Mas, logo se deu conta de que estava seguro nas minhas mãos, que ninguém o machucaria, que não seria devorado pelo gigante que o segurava.
- Deixa eu ver, Kevin! – pediu um dos sobrinhos do Derryl que se aproximou de mim curioso com aquele serzinho assustado de olhos arregalados que eu segurava nas mãos.
- Eu também quero ver, Kevin! Posso mexer nele um pouquinho? – pediu o outro
- Pode sim, mas devagar para não deixá-lo ainda mais assustado. – orientei. – E vá buscar também o primo Gary, diga a ele que o monstro é inofensivo. – eu não podia perder a chance de tripudiar em cima daquele machão convencido. Enquanto o Gary ainda assimilava o que tinha acontecido, os demais riam até não mais poder.
Retomando o fôlego e se recuperando do susto, o Gary me encarava com cara de poucos amigos como se a responsabilidade por estarem gozando dele fosse minha. Não bastassem as testemunhas oculares do acontecido, a cunhada do Derryl tinha filmado no celular os pulos e gritos dele, reproduzindo o vídeo diversas vezes, o que fez daquilo o assunto predileto do dia, e deixou o Gary carrancudo.
No início da noite, a casa recebeu mais um hóspede, esse totalmente inesperado. Tratava-se de uma prima do Derryl que há alguns anos tinha se mudado para o Canadá e resolveu fazer uma visita surpresa aos parentes que há tempos não via. Àquela altura, a casa mais parecia um hotel com gente circulando por todos os ambientes, bem ao estilo que os pais dele gostavam, casa cheia e muita interação.
- Com a vinda da prima Susan teremos que fazer algumas adaptações nas acomodações. – comunicou a Betsy. – Será que você se incomodaria de dividir a cama dupla do seu quarto com o Gary, assim eu posso acomodar a Susan na cama de solteiro que transferiremos para o quarto dos garotos. Pode ser? – como hóspede diante de todas as gentilezas que estavam tendo para comigo, o que dizer, a não ser concordar para tornar as coisas mais fáceis para meus anfitriões.
- Claro, sem nenhum problema, de minha parte! Vamos fazer isso já? Eu ajudo a transportar a cama até o quarto dos garotos. – respondi solícito.
Não era lá o que eu havia imaginado quando aceitei o convite do Derryl para passar as festas de final de ano na casa dos pais dele, ter que dividir uma cama com um sujeito feito o primo dele; porém não seria eu a criar empecilhos.
- Não precisa se incomodar com isso, tia! Eu vou dormir em casa, afinal moro na mesma cidade e não faz sentido eu passar as noites aqui quando você já tem tanto com o que se preocupar. – respondeu o Gary, que me pareceu pouco à vontade com aquele arranjo.
- Deixa de ser bobo, Gary! Você praticamente nasceu nessa casa junto com seus primos, não precisa passar as noites sozinho na sua casa. Vamos dar um jeito e não se fala mais nisso. Agora trate de ajudar o Kevin a levar essa cama para o outro quarto, anda rapaz! – retrucou a Betsy, como uma comandante de batalhão.
Sem coragem para enfrentar a tia, o Gary se viu, assim como eu, forçado a concordar com os termos e condições impostas pela situação e por ela. Era a noite de véspera do Natal e ninguém queria ser o estraga prazeres. As crianças, sobrinhos e sobrinhas do Derryl tinham ido para a cama cedo, numa euforia que precisou ser contida pelos pais, para que pudessem despertar também cedo na manhã seguinte quando esperavam encontrar os presentes deixados pelo Santa Klaus sob a árvore na sala. Enquanto isso, os adultos tiveram um esplêndido jantar numa mesa ricamente decorada, seguido de conversas em pequenos grupos espalhados pela ampla sala onde crepitava o fogo da lareira completando o clima festivo natalino. Até então, eu vinha assistindo essas pequenas atitudes de união familiar com apresso e satisfação, me emocionando com algo que nunca tive ao longo da minha vida. No entanto, observando de relance aquela sala cheia de pessoas animadas, vindas de longe só para estarem juntas, fiquei mais emotivo do que desejava a minha vontade e, subitamente, percebi os olhos úmidos. Apesar do frio intenso e da neve que caia em flocos contínuos espalhados pelo vento, eu fui procurar refúgio na varanda, não queria que ninguém se apiedasse de mim e me visse chorando.
- Está chorando? – mal tinha notado que alguém havia se aproximado de mim enquanto eu observava o céu em silêncio, mas imediatamente reconheci aquela voz.
- Óbvio que não! O que te faz pensar que estou chorando, que motivos eu teria para isso? – devolvi, apressando-me a secar as lágrimas que tinha no rosto antes de me voltar em sua direção.
- É o que eu gostaria que me dissesse! – exclamou ele, ciente de que eu havia chorado.
- Não tenho nada para dizer! Acho que fiquei com os olhos levemente irritados com a fumaça da lareira. – inventei no improviso.
- Sei! A fumaça. – estava na cara que ele sacou que aquela não podia ser uma desculpa mais esfarrapada. – Às vezes são ciscos nos olhos, outras são alergias, e outras tantas que a criatividade consegue justificar. – emendou ele, sem sarcasmo, sem ironia, na voz pacífica.
- Estou feliz por estar aqui com todos vocês! O Derryl é um amigo muito especial e querido! – retruquei, no que se pareceu com a confirmação do que ele havia constatado.
- Pode acreditar que todos nós também estamos! Você é um cara muito legal, Kevin! – afirmou ele. Não me atrevi a dizer mais nada, ou não conseguiria segurar as emoções que tumultuavam meu peito.
Creio que nunca passei por um constrangimento tão grande quanto o de me deitar naquela cama ao lado do Gary. Não sei o que se passou comigo para estar tão cheio de pudores. Nunca fui um cara puritano, já tinha compartilhado espaços exíguos dormindo lado a lado com colegas durante a adolescência, portanto, aquilo não era nenhuma novidade. O que diferenciava essa situação de todas as outras, era aquele olhar indecifrável do Gary, era a maneira como ele tinha dificuldade de expressar as palavras, era aquele corpão ao qual meu tesão não conseguia ser indiferente.
Só espero não dar bandeira demonstrando o quanto estou excitado com a chance de sentir o corpo lisinho e tentador dele a tão poucos palmos do meu. Tomara que não fique de pau duro, o que será quase impossível de não acontecer. Cacete, ele deve ter passado outra vez aquela porra de gel hidratante, esse perfume só pode ser afrodisíaco, e não de camomila, o caralho. Isso é uma verdadeira tortura, pior do que fazer um macho cheirar o cio de uma fêmea e impedi-lo de chegar nela. Caralho, eu não sei se vou aguentar! Uma noite inteira, inteira, merda! O que se passa comigo? Nunca senti tesão por outro cara a vida toda, que porra está acontecendo comigo? Por que justo esse? Se estava predestinado a acontecer, que fosse com qualquer outro, cacete, mas não com o Kevin, justamente o Kevin! Isso não vai dar certo, eu preciso de um banho frio! Agora!
- Algum problema, Gary? Quer que eu te alcance mais um travesseiro? – perguntei, pois o sujeito parecia ter sentado num formigueiro e não parava de se agitar, me impedindo de pegar no sono.
- Não, nenhum! Eu preciso ir ao banheiro, só isso! – respondeu ele, saltando da cama e desaparecendo atrás da porta do banheiro. Não sei por quanto tempo ele ficou por lá, pois adormeci antes de ele voltar.
Dorme feito um bebê. Qual será o sabor desses lábios? São carnudos, estão sempre úmidos, devem ser quentes, dá vontade de abocanhá-los. Devem deixar qualquer um maluco envolvendo uma pica. Pare de ficar olhando e babando feito um idiota, Gary, ou vai precisar se meter debaixo da ducha fria novamente. Cacete, como um viado pode ser tão gostoso? Depois o Derryl quer me convencer que nunca trepou com ele, só sendo burro para acreditar nisso. Anda, tira esses pensamentos e fantasias da cabeça! Conta carneirinhos, quem sabe você não adormece e esquece esse cara e essa bunda por algumas horas. Perdi a conta lá por volta dos oitocentos e qualquer coisa, se não me falha a memória.
Era só o que me faltava! O que é que eu estou fazendo? Mas que merda! Estou todo enroscado no corpão desse sujeito, constatei quando acordei na manhã seguinte com a algazarra dos garotos descendo as escadas alvoroçados para pegar os presentes. Ele ocupava dois terços da cama, esparramado feito um paxá metido só numa cueca. O que foi feito do pijama que ele estava usando quando veio se deitar ontem à noite? Eu tinha até medo de me mexer e o acordar. Como eu ia justificar minha cabeça deitada no ombro dele, meu braço apoiado e cruzando seu tronco peludo, minha perna enfiada no meio das dele e esse caralhão duro resvalando na minha coxa? Por sorte ele está afundado no sono. Com cuidado e muita leveza, fui erguendo o braço e o afastando do peito dele, erguendo lentamente a cabeça para apoia-la no travesseiro e deixar aquele ombro maravilhoso. Quando comecei a retirar a perna o Gary se virou, minha perna agora não estava só enfiada no meio das dele, mas também estava presa, se eu a puxasse ele certamente iria acordar, e foi o que aconteceu. Quando abriu os olhos ele estava praticamente todo montado sobre mim. Que vergonha! Esse sujeito quase pelado deitado em cima de você, e você agindo como um adolescente apavorado, que conclusões ele vai tirar disso?
- Bom dia! – a voz dele estava rouca, parecia ainda não ter se dado conta de que estávamos enlaçados um no outro quando começou a se espreguiçar.
- Bom dia! – balbuciei avexado, paralisado pelo constrangimento. – Você pode fazer o favor de se virar um pouco para o lado para que eu consiga sair debaixo de você? – devia fazer séculos que eu não corava, mas aquele calor abrasador nas minhas faces era a prova de eu estar com o rosto vermelho.
- Ah, claro! Desculpe, eu tenho essa mania de me esparramar na cama! – respondi. E o que eu faço agora para o Kevin não notar esse cacete todo duro? Não tem nem como disfarçar um troço desse tamanho, cacete! Até porque nem adianta fingir, ele já viu o que está acontecendo debaixo da cueca, mas que merda de situação!
Assim que me vi livre do peso daquele corpão, saltei da cama, corri para o banheiro e me troquei mais rápido do que um relâmpago, indo me juntar ao pessoal ao redor da árvore da Natal onde os garotos rasgavam afoitos o papel que embrulhava os presentes. Todos acabaram entrando no clima e fazendo a troca de presentes, antes do desjejum.
- Obrigado pelo convite e pelos dias maravilhosos que estou tendo com sua família! – disse ao entregar meu presente ao Derryl, enquanto o abraçava e, sutilmente lhe dava um beijo camuflado na base da mandíbula.
- Esse é o seu, espero que goste! – retrucou ele ao me dar o presente que tinha comprado para mim, retribuindo o abraço e o beijo.
Também tinha aproveitado uma daquelas manhãs e ido até Billings comprar os presentes da Betsy, do Orson e um para o Gary, e os entreguei com meus agradecimentos pela calorosa hospedagem. O Gary ficou sem jeito quando lhe dei o presente, aquilo o surpreendeu.
- Não comprei nada para você, me desculpe! – disse ele, segurando encabulado o pacote que pus em suas mãos, enquanto o abraçava recatadamente.
- Não tem importância! É apenas uma lembrança! – justifiquei, embora tenha passado horas procurando por algo que tivesse a cara dele. E parece que acertei quando ele abriu o pacote e voltou a me abraçar com aquele mesmo brilho no olhar que se via em cada uma das crianças.
- Obrigado! – sussurrou e, sem a menor cerimônia, colou sua boca à minha fazendo minhas pernas bambearem.
Onde é que eu estou com a cabeça? Esse almofadinha vai me deixar louco! Como é que um gay vai ter lábios tão gostosos? Isso só pode ser a porra! Eu beijando um gay e achando ele gostoso! Só pode ser a porra! Só pode!
Na semana entre o Natal e o Ano Novo ficou difícil segurar as crianças dentro de casa, elas também já não se contentavam em apenas fazer umas caminhadas pelos arredores, o que o frio e a neve restringia a curtos períodos durante o dia. O irmão do Derryl teve a ideia de levá-los até um parque de diversões em Bozeman quando o serviço de meteorologia anunciou que o dia seria marcado por aberturas de céu limpo e ensolarado e que não estavam previstas precipitações de neve. As 185 milhas de ida até Bozeman controlariam a ansiedade dos garotos com a oportunidade de se divertirem e, o mesmo tanto da volta, já cansados, os fariam ir para a cama cedo, dando uma folga aos pais. Nos pusemos a caminho logo após o café da manhã, o irmão do Derryl e o cunhado num carro com os garotos, a Susan, o Garry, o Derryl e eu em outro. Assim que entramos na cidade o Derryl pensou que o Gary tinha errado o caminho.
- O parque não fica nessa direção, você perdeu a entrada à direita que acabamos de passar. – orientou.
- Eu sei! Preciso passar num lugar antes, aproveitando que estou na cidade. – respondeu o Gary
Ele estacionou diante de uma joalheria e pediu que a Susan o ajudasse com uma escolha. Acabamos entrando todos na loja, o Derryl e eu sabidamente curiosos, embora não o quiséssemos demonstrar. O vendedor lhe trouxe diversos displays de acordo com o pedido do Gary, anéis de noivado.
- Sou péssima para te dizer o que escolher, por mim ficava com todos. Esse é lindo, o diamante impressiona, a Linda deve adorar. – sugeriu a Susan, colocando a peça escolhida no próprio dedo.
- E você Kevin, o que acha?
- Eu? Acho que um gay seria a última pessoa indicada para escolher um anel de noivado. – afirmei
- Talvez esse? – questionou o Gary, apontando para uma aliança e não um anel de noivado.
- Isso não é um anel, senhor! – exclamou o vendedor. – Certamente não vai causar o mesmo impacto que a moça sugeriu, essa peça é bem menos feminina.
- Kevin?
- Já disse Gary, sou uma nulidade nesse assunto. Leve o que você acha que a Linda vai gostar mais, é você quem a conhece melhor do que qualquer um de nós. – respondi.
Enquanto o Gary fechava a compra com o vendedor, nós três nos distraíamos com outras peças da joalheria, particularmente seus valores, e não prestamos atenção naquilo que ele acabou adquirindo.
A previsão meteorológica havia acertado em cheio, o dia estava lindo, iluminado por um sol fraco que refulgia em tudo, deixando a neve que cobria as montanhas ao redor reluzindo, e criando longas sombras quando se caminhava. Havia bastante movimento no parque, parecia que centenas de outros pais também estavam saturados de aguentar os filhos dentro de casa. Por um tempo ficamos acompanhando o irmão do Derryl, o cunhado e as crianças, até elas começarem a implorar para ir na montanha-russa.
- Todos para a montanha-russa! – exclamou o Derryl, enquanto o grupo se ajeitava na pequena fila diante do brinquedo.
- Vão vocês, eu os espero no final da pista! – afirmei, pois meu pavor de alturas chegava a ser patológico.
- Nada disso, você vem conosco! – exclamou o Gary, percebendo o porquê de eu me recusar a ir no brinquedo. – Está com medo?
- Medo é pouco, não subo nisso nem arrastado! – respondi
- Derryl, o que fazemos quando alguém está se cagando nas calças de medo? – perguntou ao primo com uma cara de malandro que já tinha passado por situação semelhante quando eram adolescentes.
- Agarramos o sujeito e o levamos à força! – respondeu o Derryl, imediatamente me segurando pelo braço até o Gary chegar junto e ambos me carregarem até o assento.
Todos ao redor começaram a torcer e incentivá-los a me prender no assento do carrinho, as garotos eram os mais ensandecidos, o vexame não podia ser pior. Quando o carrinho começou a se mover lentamente em direção ao primeiro aclive, pensei que meu coração ia sair pela boca. O Derryl e a Susan estavam no carrinho atrás do meu e do Gary, já gritando feito dois alucinados, o que foi me deixando cada vez mais tenso. Eu não ia sair vivo dali, era só no que pensava, era minha única certeza. A inclinação era tamanha que só se via o céu, seria esse um prenúncio da minha próxima moradia? Ao contornar a primeira lombada, meu corpo desceu junto com o carrinho, mas meu estômago ficou lá em cima. Eu só ouvia o meu grito. Um mergulho e nova escalada; esta mais longa, mais alta. Eu não ia sobreviver. Do topo daquela lombada avistava-se quase toda Bozeman, olhar para baixo, nem pensar, melhor fechar os olhos assim não viria a morte chegando. Mais um mergulho a 103 Km/h e aparentemente eu continuava vivo e com a minha mão fusionada à do Gary. Nem forças nem ar me restavam nos pulmões, mas eu conseguia ouvir meu grito ensurdecedor, enquanto meu corpo era inclinado para o lado direito onde eu sabia estar o precipício que levava ao chão. Dos mais de cem quilômetros por hora para nova lentidão, eu já sabia o que isso significava, mais um aclive interminável sendo escalado. Uma eternidade esperando a queda e ela não vinha, só me restava continuar gritando, gritando muito para todo aquele sufoco sair do meu peito. Sobreveio a queda a quase noventa graus, esse seria certamente o fim. Adeus mundo, foi uma vida razoavelmente boa, podia ter sido melhor, mas para que reclamar a essa altura. Rezar é bom, é meio caminho para as portas do céu, então rezemos. A força da gravidade separava cada um dos órgãos do meu corpo segundo sua densidade, o que ainda os mantinha dentro dele era um mistério. Tanto a minha mão quanto a do Gary estavam isquêmicas de tanto eu as apertar quando o carrinho finalmente chegou ao final da pista. Nem devia mais haver sangue nas minhas artérias, só adrenalina, pura adrenalina.
- Como é que alguém consegue achar graça num troço desses? É só tortura! – balbuciei, tremendo tanto que nem conseguia sair do carrinho, e ainda tentando descobrir onde eu estava.
- Parece que vivo ele ainda está! – exclamou o Derryl ao me abraçar. – Pálido feito um defunto, mas ainda respira! – emendou, antes de eu lhe dar um soco no ombro.
Antes de voltarmos para casa passamos novamente pela joalheria pois o Gary tinha ficado de pegar o anel algumas horas depois. Todos os músculos do meu corpo continuavam duros, resultado dos espasmos gerados pelo pavor. O Derryl e o Gary se divertiam as minhas custas, como dois sacripantas desalmados. A situação da Susan também não era das melhores e ela jurava enfaticamente que jamais voltaria a subir numa porra daquelas. Os garotos precisaram ser levados no colo do carro diretamente para as camas.
Aquela noite todos se recolheram cedo. Eu tinha saído do banho e estava sentado numa poltrona do quarto respondendo algumas mensagens no Whatsapp quando o Gary saiu do banheiro com a toalha envolta na cintura e os cabelos ainda molhados. Ele veio até mim, fechou suas mãos pesadas sobre os meus ombros e começou a massageá-los junto com a nuca, em movimentos fortes e compressivos. Coloquei o celular de lado e joguei a cabeça para trás até ela se apoiar no espaldar da poltrona, o Gary continuava a massagear vigorosamente, fechei os olhos a fim de usufruir aquela sensação voluptuosa e prazerosa. Senti a respiração dele resvalando no meu rosto, ele devia estar a centímetros dele, quase podia sentir o calor de sua boca roçando a minha e abri os olhos. Ele estava mesmo inclinado sobre mim numa proximidade instigante, mas logo se afastou abruptamente tirando suas mãos dos meus ombros e seguindo na direção da cama onde se sentou e continuou secando os cabelos.
Quase faço uma besteira, essa foi por pouco. De nada adiantou eu me masturbar debaixo do chuveiro, bastou vê-lo ali com aqueles ombros nus, sentir o perfume da pele dele e o tesão voltou com tudo. Eu queria aquela boca só para mim, por alguns segundos, só minha, retribuindo meu beijo. Ainda bem que ele abriu os olhos e me alertou da besteira que eu ia cometer. Sim, porque não ia ficar só num beijo, do jeito que ele me deixa eu não daria um minuto para jogá-lo em cima da cama e enfiar minha benga no rabão carnudo dele. Só isso vai devolver a serenidade para a minha pica.
Para não passar novamente pelo vexame de acordar agarrado ao Gary, eu enfileirei dois travesseiros entre nós depois daquilo. Não era uma barreira lá muito eficaz, pois ao esparramar seu corpão os travesseiros acabavam ficando debaixo dele, mas ao menos não acordei mais nenhuma vez entrelaçado nele.
Na tarde da véspera do Ano Novo o Gary deu uma saída, ninguém soube para onde. Estava na hora da ceia e nada de ele voltar. A Betsy ligou à procura dele, mas ele não atendeu o celular. A meia-noite estava próxima, ele continuava sumido. O Derryl passou a ligar para ele de cinco em cinco minutos, deixou mensagens e nada.
- Vou atrás dele! – avisou quando sua paciência se esgotou. – Deve ter acontecido alguma coisa para aquele maluco não dar notícias. – disse, ao pegar as chaves do carro.
- Eu vou com você! – me prontifiquei, pois aquele sumiço me deixou angustiado.
Fomos à casa dele, não havia ninguém. Passamos pelo escritório da empresa, por mais improvável que fosse encontrá-lo por lá, estava valendo tudo. Enquanto isso, eu continuava ligando no celular dele.
- Onde será que aquele maluco se enfiou? – indagou o Derryl.
- Você não imagina nenhum outro lugar onde ele possa estar? Será melhor procurar no hospital, na delegacia, quem sabe? Ninguém some assim do nada. – devolvi.
- Você está gostando dele, não é? – perguntou o Derryl de supetão.
- Imagina, que absurdo é esse! – respondi de pronto
- Ele também está gostando de você!
- De onde você está tirando essas coisas? Não existe nada entre nós, que absurdo, Derryl!
- Do jeito que vocês dois se olham! Vocês se apaixonaram um pelo outro, se apaixonaram em pouco mais de uma semana! – afirmou categórico.
- Não fala besteira, Derryl! Apaixonados, que ideia estapafúrdia! Ninguém se apaixona em uma semana! – devolvi enfático.
- Mas foi exatamente isso o que aconteceu! – insistiu ele
- Ontem mesmo ele comprou um anel de noivado para a Linda! Você foi testemunha! Se ele está apaixonado por alguém é por ela!
Como o Orson disse que o Gary ainda não havia aparecido, o Derryl e eu resolvemos passar pelo hospital e pela delegacia, só por desencargo de consciência. Não o encontramos, e a situação já começava a deixar todos aflitos.
- Aonde é que aquele danado foi se enfiar? Isso é coisa que se faça? Eu juro que arranco as orelhas dele quando ele chegar! – esbravejava a Betsy.
A virada do ano se aproximava e todos continuavam desesperados.
- Vocês disseram que passaram numa joalheria ontem em Bozeman, vai ver que o maluco foi pedir a mão da Linda. – aventou o Orson, no que logo todos concordaram. – Vou ligar para ela, provavelmente ele está lá.
Não estava mais, garantiu a Linda quando falou com o Orson. Ele estivera lá sim, para terminar o namoro, comunicou ela. Do atual paradeiro dele ela não tinha informações.
- O que é que deu nesse menino? Sair daqui na véspera de Ano Novo para ir terminar um relacionamento de mais de cinco anos lá em Denver. Ele só pode ter ficado doido, ninguém em sã consciência age dessa maneira! – dizia inconformado o Orson, enquanto colocava a todos a par dos fatos.
O Derryl me levou ao quarto dele, discretamente, para que ninguém percebesse e viesse a ouvir a conversa que queria ter comigo.
- Aconteceu alguma coisa entre vocês, Kevin? – foi a primeira pergunta que me fez ao nos fecharmos no quarto dele.
- Não! Que eu saiba não aconteceu nada. Por que, você acha que o sumiço dele tem a ver comigo? O que te leva a essa conclusão? – questionei indignado pela desconfiança dele.
- Como assim, que você saiba? Você sabe o que estou querendo saber. Vocês dois passaram mais de uma semana dormindo naquele quarto, um bom tempo na mesma cama. Eu te conheço tempo suficiente para saber da sua preferência por homens, e eu diria que o Gary é exatamente o seu tipo, fisicamente pelo menos. Também conheço meu primo, e sei que aquele tarado mal consegue manter a pica dentro das calças, e a sua bunda definitivamente não é algo que ele dispensaria. Vocês transaram, ou você não deixou ele tocar em você? – eu não estava acreditando nas suspeitas do Derryl.
- É claro que não transamos, você está maluco! Quem você pensa que eu sou? Acha que eu ia desrespeitar a sua casa fazendo uma coisa dessas com toda sua família aqui? Você só pode estar delirando se achou que eu ... que eu fiz qualquer tipo de sacanagem com seu primo. – asseverei.
- Desde quando transar é desrespeito? Deixa de ser puritano, Kevin! Só pode ser isso, ele estava doido para te comer e você não cedeu. – sentenciou, como se houvesse descoberto o mistério.
- Não tinha nada para eu ceder, Derryl, mete isso na sua cabeça! O cara comprou um anel de noivado para a noiva, o que ele haveria de querer comigo? Deve ter acontecido alguma coisa entre eles dois. Não tenho nada a ver com isso! – garanti.
- Só que ele foi a Denver para terminar com ela! Não foi algo que aconteceu num momento de discussão, num rompante de uma briga de namorados, foi algo que ele premeditou. Ele comprou uma passagem de avião e foi para o Colorado terminar o namoro, o que você quer que eu imagine? O Gary se apaixonou por você, isso sim, explica tudo! – sentenciou o Derryl.
Fomos interrompidos pelo irmão dele que veio nos chamar para brindar o Novo Ano. Eu estava tão confuso que já nem sabia mais o que pensar. Será que dei tanta bandeira que o Gary percebeu que eu estou gostando dele. Não pode ser. Sei muito bem esconder meus sentimentos, especialmente aqueles dos quais nem eu tenho certeza. É bem verdade que eu impliquei com o Gary no primeiro momento em que nos conhecemos, e que a imagem que eu fazia dele foi se transformando ao longo desses poucos dias, mas daí a concluir que eu estava apaixonado por ele, já era demais. E pior, de ele, aquele sujeito esquisito, também estar apaixonado por mim, só mesmo sendo totalmente sem noção.
Era madrugada quando fui para o quarto, o Derryl e eu fomos os últimos a subir, ficamos conversando sobre o que poderia ter levado o Gary a agir daquela maneira, deixando a todos preocupados. Não chegamos à conclusão alguma. Então por que, ao recostar a cabeça no travesseiro, sozinho na cama que repentinamente se mostrou grande demais, eu sentia tanta culpa?
No terceiro dia do novo ano o Gary continuava sem dar notícias, o que levou a Betsy a ligar para a irmã na Flórida e avisar do sumiço dele, alguma providência precisava ser tomada.
- Ele está aqui conosco, chegou anteontem! – foi a resposta que ouviu da irmã, o que a deixou aliviada e ao mesmo tempo muito zangada.
- Diga ao Gary que eu vou esfolá-lo vivo quando ele voltar, quase nos mata de tanta preocupação. – despejou a Betsy inconformada.
- Ele terminou com a Linda! Não anda nada bem, afinal foram cinco anos, não é querida? Até o momento ele não nos deu muitos detalhes, só disse que já devia ter feito isso há mais tempo. – revelou a irmã.
Fui desabafar com o Derryl, aquele sentimento de culpa só crescia. Eu precisava de um conselho, precisava que alguém me dissesse como agir, pois pela primeira vez me sentia completamente travado.
- O que você sente pelo Gary? – foi sua primeira pergunta
- Eu? Pelo seu primo? Ora, o que eu sinto pelo Gary. Eu sinto que ele é um cara legal, que deve estar passando por uma crise diante de um compromisso mais sério. – respondi titubeando e tentando encontrar frases que não me comprometessem.
- Deixa de embromar, Kevin! Você gosta dele, gosta para valer? Você o ama, Kevin? Hein, você ama o Gary? Responde de uma vez, não pode ser tão difícil responder uma pergunta simples dessas. – exigiu, me colocando contra a parede.
- Não sei, eu acho ... eu acho ... Ah, sei lá, Derryl! Eu acho que sim! – consegui finalmente liberar.
- Então vai atrás dele! Está esperando o quê? Vai atrás do Gary e diz que o ama. Ele sente o mesmo por você, sua besta! Será que ainda não se tocou? – explodiu ele.
- Você quer dizer ir para a Flórida? Voar até a Flórida para dizer que ... – minha mente parecia um terremoto, embaralhando e retorcendo tudo o que havia dentro dela.
- É claro que é ir voando, por telepatia é que não ia ser! E confessar para ele que o ama. Simples assim! – retrucou o Derryl.
O que é que eu vou dizer a sua família, como vou explicar essa partida antecipada e repentina? – questionei.
- Isso é fácil! Assim, ó! – respondeu me arrastando pelo braço até a cozinha onde estavam quase todos. – O Kevin está indo atrás do Gary, porque esses dois acabaram de descobrir que estão apaixonados um pelo outro. – comunicou ante os olhares pasmos dos parentes, me fazendo corar de vergonha. – Anda cara, temos que encontrar o primeiro voo para a Flórida ainda hoje.
O voo da Delta Airlines com uma escala de três horas e vinte minutos em Minneapolis levou nove horas para cobrir as 2.300 milhas que separavam Billings de Tampa. Com o endereço da irmã, que a Betsy colocou nas minhas mãos ao se despedir emocionada de mim, me desejando todo sucesso na conquista do sobrinho, me vi diante da porta de uma casa de veraneio junto a orla, debruçada numa pequena elevação que ascendia a partir da praia. Minhas mãos, trêmulas e suadas, hesitavam em bater a aldrava, quando ela se abrisse não haveria mais volta, eu só poderia seguir adiante, por mais que tenha refletido durante toda a viagem, eu não tinha certeza alguma, nem a de que o Gary fosse acreditar que eu o amava.
- Olá! Melissa, não é? Sou amigo do Derryl, trabalhamos na mesma empresa, estive passando o Natal e Ano Novo com sua irmã em Laurel, e conheci o Gary .... – desatei a falar assim que a mulher alta e esguia me sorrindo abriu a porta.
- Jonathan! É o rapaz que está apaixonado pelo Gary! – berrou ela, para alguém dentro da casa, o que me fez perder o rebolado e engolir em seco. – Entre, entre, é Kevin, não é mesmo? – indagou ela, me puxando pela mão até uma sala ampla e minimalista com grandes aberturas envidraçadas que emolduravam o mar de águas verde-azuladas por trás delas.
- Por favor não pensem que sou algum tipo de maluco! Eu nem sei o que dizer, estou tão embaraçado! – gaguejei nervoso
- Este é Jonathan, meu marido, pai do Gary! O Orson e a Betsy nos contaram tudo o que aconteceu. Até agora estamos sem palavras. O Gary chegou aqui dias atrás, inesperadamente, todo acabrunhado dizendo que havia terminado o namoro com a Linda. Nenhum de nós imaginava que podia ser por causa de um rapaz. – revelava a mãe do Gary.
- Para ser muito sincero, nem mesmo eu estou entendendo o que se passa. Nunca estive tão confuso e perdido na vida, depois que conheci seu filho. É por isso que peço desculpas por ter vindo assim sem avisar. – expliquei.
- Me parece que o Gary está na mesma situação! Vocês precisam conversar. – disse o pai dele.
- Ele está? – eu estava tão envergonhado e temendo aquele encontro que minha voz mal podia ser ouvida.
- Ele foi à praia! Deve estar aqui por perto, ele tem se sentado todos os dias, desde que chegou aqui, numas pedras que afloram da areia, é só você caminhar pelas dunas e logo vai avistá-las. – informou o pai dele.
- Sem me permitem, eu gostaria de ir agora mesmo! – exclamei, o que os fez se entreolharem e rirem da minha afobação.
- Não quer vestir uma roupa mais apropriada? – perguntou a mãe
- Não obrigado! A depender do resultado da nossa conversa, talvez eu nem precise me preocupar com isso. – respondi.
- Vá, meu rapaz! Vá falar com ele, vai fazer bem a ambos! – ela segurou meu rosto entre as mãos delicadas e de pele muito fina, enquanto me falava. Ali mesmo comecei a chorar.
Identifiquei-o de longe. Era estranho como a silhueta dele tinha me ficado familiar em tão pouco tempo, a ponto de eu a identificar com precisão. Ele acompanhava um bando de gaivotas que voava raso pouco acima da arrebentação. Usava um short e uma camiseta cujos músculos vigorosos iam ficando cada vez mais definidos à medida que eu me aproximava. Meu coração batia acelerado, a boca estava seca, teria sido bom se eu houvesse pedido um copo d’água antes de sair no encalço dele. Meus sapatos de couro italiano afundavam na areia. Que tipo de maluco vai à praia de sapatos de couro? Ele ia tirar uma com a minha cara como fez quando me viu chegando à casa dos tios vestindo um terno. Ele percebeu minha aproximação, mas não se mexeu. Sentei-me ao lado dele, a pedra estava molhada e meus fundilhos absorveram a água sobre a qual me sentei. Sou um doido varrido, conclui.
- Oi! – saudei
- Oi! – respondeu, sem se voltar para mim.
- Ficaram todos aflitos com o seu sumiço! – exclamei
- Você também?
- Sim, claro, eu também! Ninguém entendeu nada! – respondi. Por mais de um quarto de hora reinou um silêncio que apenas as ondas quebravam. – Gosto de você, Gary! – tive coragem de dizer, depois de haver ensaiado muito.
- Eu amo você, Kevin! Acredita nisso? Eu amo você! – devolveu ele, me encarando pela primeira vez desde que cheguei.
- Acredito! Acredito sim! É por isso que cruzei metade do país, para te dizer que eu te amo, Gary! – por mais que estivesse me controlando, não aguentei mais sufocar aquele nó entalado na minha garganta.
- E o que fazemos agora? O que fazemos com esse amor? Namoros à distância não dão certo, acredite em mim! – asseverou.
Tomei o rosto dele nas mãos e o beijei, sem perder tempo, ele me tomou em seus braços e com toda a intensidade retribuiu meu beijo. Um beijo que não queria terminar, como se ao nos desgrudarmos o encanto fosse acabar.
- Não sei o que faremos! Só sei que te amo, e quero ficar com você! – afirmei quando encostei a cabeça no ombro dele, e ambos admirávamos o bando de gaivotas fazendo malabarismos no horizonte.
- Ficar com você é o que eu mais quero! Mas, você em Los Angeles e eu em Laurel, não me parece haver futuro para uma relação.
- Talvez eu não queira mais ficar em Los Angeles. Quem sabe em Billings não esteja faltando um advogado jovem e dinâmico com vasta experiência em direito empresarial querendo abrir seu próprio escritório. Acho que descobri que existe algo que eu queira muito mais e que não está em Los Angeles.
- E o que, ou quem, seria essa pessoa que você quer mais e não está onde você trabalha, tem sua casa e seus amigos e suas coisas? – por uns instantes ele voltou a ser aquele Gary presunçoso que precisava ouvir da minha boca a confissão de que estava me rendendo a ele.
- Será que você não adivinha? É um sujeito quase intragável, que banca o machão, mas se apavora com um pequeno esquilo, que luta consigo mesmo para aceitar o que sente por um gay, mas que pega em sua mão quando ele está apavorado numa montanha-russa para lhe garantir que está seguro, conhece alguém parecido? – devolvi.
- Você não faz ideia do que vou fazer quando te pegar de jeito, Kevin! – ameaçou ele com um largo sorriso libidinoso.
- Para começar, podia me dar mais um beijo como o de agora há pouco! – exclamei, cobrindo os lábios dele com os meus.
Caminhamos pela praia de mãos dadas de volta para casa. Apresentei o Kevin formalmente aos meus pais, não sei bem o que havia por trás das expressões de seus rostos quando disse que queria me unir a ele. Talvez estivessem tão perplexos com o fato do filho deles ter se apaixonado por um gay quanto eu próprio ainda estava. Um filho reconhecidamente macho, que nunca esboçou a mais ínfima inclinação homossexual, que sempre teve relacionamentos com garotas, que é visto pelos amigos e parentes como um pegador safado os surpreender trazendo um belo rapaz para dentro de casa e se dizendo apaixonado por ele, era algo, no mínimo, inusitado. Por outro lado, eles também sabiam que por trás de toda aquela irreverência e indecorosidade havia um sujeito cônscio de suas responsabilidades e dono de uma obstinação ferrenha quando se tratava de alcançar suas metas. Nenhum dos dois fez qualquer comentário desabonando o Kevin ou a minha escolha, receberam o Kevin com simpatia e acolhimento. Provavelmente, mais tarde, cada um deles, a seu tempo, me chamaria para uma conversa privada e exporia suas dúvidas e pontos de vista quanto ao nosso romance. Contudo, pelos sinais que estavam demonstrando não o censurariam, quando muito me fariam um daqueles típicos sermões de pai para filho. O Kevin estava visivelmente intimidado, algo raro nele, que aparentemente sabia se impor diante de qualquer circunstância, mas confesso que estou adorando o jeitinho encabulado dele. Não sei se é porque não vejo a hora de transar com ele, mas ele todo tímido fica deliciosamente sexy. Levei-o ao quarto onde ficaria hospedado, o mesmo que eu ocupava e onde as minhas coisas estavam espalhadas, ele olhou em volta e demorou a arriscar uma observação.
- Posso ficar num hotel, se houver algum problema. – começou ele
- Não quer ficar no quarto do seu namorado? – questionei
- O que os teus pais vão pensar, ambos dividindo a única cama do quarto?
- Que estamos namorando, transando, fazendo amor!
- Sem essa, Gary! Gays já são tidos como donos de má reputação, de serem depravados sexuais, o que você pretende, confirmar isso para os teus pais? – questionou pudico.
- Relaxa, Kevin! Ninguém aqui está te julgando, isso não é um júri, você não está diante de juízes, essas coisas só existem no seu trabalho, não aqui. Aqui você está numa casa de família, na casa do cara que não vê a hora de transar com você para que todos saibam o quando esse cara te ama. – respondi.
Fiz com que relaxasse, que se desarmasse enquanto conversávamos e ele ia acomodando suas roupas no espaço que abri no armário. Também deixei que seguisse vestido e sozinho, todo apudorado para o banheiro para tomar uma ducha depois da longa viagem, embora minha virilha estivesse pegando fogo. Ouvi o barulho da água vindo de trás da porta do banheiro, centenas de imagens libertinas se formaram na minha mente, o calor na virilha me provocou uma ereção; caralho, eu não sou nenhum monge, não fiz voto de castidade, sou tarado pela bunda do Kevin, por aquela pele, pela sensualidade de seu corpo. Chega! Não aguento mais.
- Precisa de ajuda? – sussurrei no ouvido dele quando passei os braços ao redor do tronco dele e o fiz sentir o tamanho da minha disposição, ao me juntar a ele sob a ducha.
- Não faça isso, Gary! Não estamos sozinhos. – exclamou ele, enquanto eu roçava minha ereção em suas nádegas protuberantes e volumosas.
- Você está vendo mais alguém por aqui? – murmurei licencioso, e sentido como ele se entregava à minha sanha.
- Você sabe o que eu quis dizer! Não faz assim, Gary, por favor! – sibilou num quase gemido
- Estou te deixando excitado, é isso? Você é tão gostoso, Kevin! Sente o quanto estou louco por você, sente! – ele suspendia a respiração por alguns segundos toda vez que minha rola se encaixava no reguinho estreito dele.
- Ai, Gary! – foi esse o momento que eu tanto esperei, o da rendição incondicional.
Peguei-o pelo queixo virando seu rosto na minha direção, beijei-o enfiando minha língua em sua boca para que soubesse que eu ia enfiar mais coisas dentro do corpo dele. Ele retribuiu meu beijo, chupou minha língua e empinou o rabão contra a minha virilha. Ele também me queria. Pincelei o cacete no fundo do reguinho liso dele, nenhum pelo, só aquela pele macia e quente até a cabeça do meu pau sentir a rosquinha pregueada piscando. Pronunciei o nome dele num gemido e enfiei a rola no cuzinho. Ele se retraiu, travou o cu aprisionando meu pau e ganiu alto, espalmando ambas as mãos na parede azulejada.
- Devagar com isso, Gary! – balbuciou, soltando um longo gemido pungente que fez meu tesão chegar às alturas.
Dei um novo impulso que o fez gritar. Eu sabia que o estava machucando por mais que não o quisesse fazer. Enquanto eu estava quase pirando de tanto tesão, aquele ainda era um momento de dor para ele, e eu o apertei com força trazendo-o para tão perto de mim quanto possível, sentindo seu receio quase palpável em minhas mãos.
- Não vou te machucar! – garanti, embora soubesse que isso seria quase impossível, visto que meu cacete grosso não atravessaria aqueles esfíncteres apertados sem os lanhar.
Enquanto eu o beijava ele foi se entregando, com um pouco de força meu pau deslizava para dentro do cu macio e quente dele, até chegar ao fundo, deixando apenas meu saco de fora. O Kevin gemia numa sensualidade pungente, ainda sem desfrutar do prazer, enquanto eu já estava perdido no meio dele. As tetinhas dele estavam empinadas, os mamilos com seus biquinhos rosados enrijecidos começavam a demonstram que o prazer também estava se formando nele. Eu afaguei e apertei ambos mamilos ao mesmo tempo, bombando suave e simultaneamente o cuzinho dele, seus gemidos me ensandeciam, nunca desejei algo com tanta intensidade quanto desejava aquele corpo que eu segurava em meus braços, languido e submisso. Meti dois dedos na boca do Kevin, ele os chupava vorazmente, eu queria entrar inteiro no corpo dele e socava o pau no cuzinho que ele me ofertava sem nenhuma reserva. O pinto dele balançava no ritmo das minhas estocadas, seus gemidos aumentaram e ele esporrou no delírio do gozo me deixando completamente maluco. Toda pressão acumulada no meu peito eclodiu num único urro e eu enchi o rabão do Kevin de porra.
Meu cu ardia, o esperma do Gary formigava nas minhas entranhas prolongando o prazer que ele me proporcionou. Estávamos jantando, os pais dele tinham obviamente muitas perguntas, às quais eu ia respondendo com franqueza e satisfação. Eles me sorriram quando expressei minha opinião e meus sentimentos em relação ao Gary. Estou convicto que ambos simpatizaram comigo, embora ainda não me sentisse completamente à vontade diante deles, especialmente com a umidade viril do Gary não me deixando esquecer o que tínhamos acabado de fazer. Era tarde quando o Gary sugeriu que fossemos dormir, alegando que eu devia estar cansado depois de haver cruzado metade do país. Aquilo não passava de uma desculpa muito da fajuta, pois ele ajeitando constantemente a caralhão dentro da bermuda tinha bem outra explicação.
- Eles gostaram de você! – disse ele quando começou a me despir. – Quem é que resiste a você?
- Espero sinceramente que sim! Gostaria que eles aprovassem o nosso relacionamento. – devolvi
- Já aprovaram! – asseverou ele, me entregando um pequeno embrulho.
- O que é isso?
- Abra!
- O que significa isso? – perguntei quando vi que era uma caixinha com o emblema da joalheria de Bozeman, meu coração palpitava acelerado, mas eu definitivamente não estava atinando com aquilo ao constatar que era o anel que ele tinha comprado para a Linda. – Sou uma espécie de consolo para você depois que terminou com a sua namorada? Você está me presenteando com o anel que seria dela? – questionei indignado, mal acreditando que ele seria capaz de tamanho descaramento. Por um instante cheguei a sentir raiva dele.
- Leia o que está gravado dentro dele! – respondeu me encarando
Eu estava tão furioso que minha mão tremia e mal consegui ver o – Kevin & Gary eterno amor – gravado com uma letra cursiva miúda dentro do anel. Subitamente meus olhos se encheram de lágrimas, eu olhei para o rosto dele e só vi amor transbordando daquela cara safada.
- Não gostou? Eu pedi sua opinião quando o comprei, lembra? Está chorando porque? – perguntou ele, quando me lancei em seus braços
- Por que eu te amo, seu tonto! Eu te amo! – balbuciei chorando de tanta felicidade.
O danado não tinha terminado o relacionamento com a Linda devido a distância e a dificuldade de estarem juntos, ele tinha terminado com ela porque me amava como afirmava.
- Eu também te amo, Kevin! Você não faz ideia da imensidão desse amor que sinto por você! – confessou ele.
Com o rosto banhado em lágrimas ele me cobriu de beijos, um mais tórrido que o outro, à medida que o tesão dele aumentava. Aquela sensação dele me desejando era maravilhosa. Suas mãos tateavam pelo meu tronco, afagando e acariciando meus pelos. Sua boca lambia e beijava meu pescoço, meus ombros, meu peito e descia libidinosa e voraz em direção a minha pica. Eu o agarrei pelos cabelos, fiz com que me encarasse, beijei-o como se o fosse devorar, e guiei sua cabeça para dentro da minha virilha.
Eu aspirava o aroma almiscarado impregnado nos densos pentelhos do Gary. Tomei o caralhão pesado dele quase duro nas mãos e o levei à boca, fechando meus lábios ao redor da cabeçorra melada. Lambi e chupei-a sorvendo o néctar que ela vertia. O cacetão reto pulsava vivo e insaciado, se sujeitando às minhas carícias. O Gary grunhia baixinho, arfava e não tirava os olhos de mim. Chupei, lambi e mordisquei o caralhão que latejava forte enquanto endurecia feito uma rocha. Massageei o sacão globoso e peludo com as pontas dos dedos, abocanhei cada um daqueles testículos ingurgitados e os acariciei com movimentos delicados da língua. Ele se contorcia todo, grunhia meu nome.
Deitei-o de bruços sobre a cama, abri as pernas dele, afastei as nádegas e mordi na carne tenra e quente delas, o Kevin gemia cada vez mais alto à medida que minhas mordidas entravam no rego e se aproximavam da rosquinha rosada e ferida dele. Minha pica tinha detonado algumas pregas e isso me deixou com tanto tesão que eu não ia poupar mais algumas da minha tara, uma tara que ele despertava em mim com toda aquela meiguice e carinho que me cobria.
Pensei que fosse enlouquecer quando senti a boca úmida do Gary rodeando a portinha do meu cu, e gemi quando a língua dele se moveu sobre minhas preguinhas sensíveis. Meu corpo todo tremia, perpassado pelo desejo. Ele enfiou um dedo no meu cu, moveu-o em círculos, eu quis gritar e mordi o travesseiro. Ele enfiou um segundo dedo e os moveu num vaivém excitante. Quando começou a me cobrir com seu corpo, me prendendo entre seus braços e chupando minha nuca, eu soube que seria dele mais uma vez. O caralhão entrou em mim com um impulso abrupto e se alojou entre os meus esfíncteres já machucados, a dor foi lancinante, quase insuportável, e me fez ganir mordendo o travesseiro para que ninguém testemunhasse o que estávamos fazendo. O Gary socava a jeba colossal e faminta no meu cu num vaivém frenético, fazendo o sacão bater cadenciadamente no meu rego apartado.
O Kevin se deixava foder ganindo de prazer. Eu mudei de posição diversas vezes, comi do cu dele de bruços, comi o cu dele na posição de frango assado, comi o cu dele de quatro, comi o cu dele na posição de canguru e ele era só ternura, carinho e entrega. A sintonia chegou a tal ponto que gozamos juntos, o que redobrou o prazer do coito. Eu nunca antes tinha gozado em tão estreita sintonia, eu nunca antes tinha amado alguém tão intensamente. Os poucos dias de que dispúnhamos foram insuficientes para tanta paixão, e me fizeram duvidar que eu aguentaria uma semana que fosse longe dele. Mas nossa vida não estava ali, naquele paraíso de verão.
Parti com o coração na mão. Eu tinha todo um país continental para cruzar, e levava comigo a certeza de que mudaria minha vida para ficar com o Gary, quando nos despedimos no aeroporto. Ao chegar em Los Angeles e voltar ao trabalho, pedi demissão. O Derryl não se espantou, sabia que eu o fazia pelo amor que sentia pelo primo dele. Eu estava arriscando tudo, jogando um emprego invejável para o alto, me mudando para uma cidadezinha em Montana para ficar ao lado do último homem pelo qual imaginei me apaixonar. O Gary me dava uma força e coragem que jamais pensei ter. E não me arrependi da minha decisão.
Que maior prova de amor eu podia querer do que a que ele estava me dando, abandonando tudo para ficar comigo, arriscando sua carreira bem-sucedida para montar um escritório em Billings sem saber de seu futuro. Ele o fez sem pestanejar, confiando em mim, confiando no nosso amor.
Eu não tinha mesmo do que me arrepender. O Gary construiu nossa casa em Laurel. Pouco mais de um ano depois de instalar meu escritório em Billings eu precisava de mais pessoal e convidei o Derryl para tocarmos os negócios. Ao trazê-lo de volta para o convívio com a família eles redobraram o carinho que sentiam por mim. E, todos nós estávamos unidos por aqueles laços de pertencimento, laços que eu nunca senti antes, família que eu nunca tive até então.