Eu inclinei-me para a mesa de centro. Uma mão de cutículas bem aparadas, dedos finos, e unhas cor de sangue, pousou sobre a mesma revista e a trouxe para cima de uma coxa inteira desenhada pela leveza do corte do vestido.
A mulher cruzava as pernas e enquanto abria a revista em cima desta, balançava-se, entoando uma canção de rua.
- Desculpe, - ela disse. - O senhor interessa-se por crochê?
Os lábios bem unidos ao pronunciar a última silaba e o decote acima do peito, insinuando duas linhas, que acabavam por expandir-se no volume por baixo da roupa no busto, - saúde em dia louvavam baco!
A maciez da pele como a massa de pão francês saído ao forno e o cheiro doce de laranja cítrica vinham dos seus gestos, ela sorriu-me recompondo os cabelos atrás da orelha esquerda. Eu recostei-me a cadeira.
- Fique a vontade, - eu disse. - Era para passar as horas de espera.
- Entendo bem, - respondeu.
Ela folheou a revista moveu a cabeça como a espantar uma mosca ou algum pensamento que lhe passara entre os olhos. A figura do velho recurvo sob uma bengala devolveu-me a realidade daquela recepção.
As hélices do ventilador de teto giravam e as lâmpadas derrubavam as sombras das pernas do ventilador no chão no centro da mesa, o sopro erguia a barra da saia da mulher ao lado, e os olhos do velho seguiam aquele movimento.
Ela utilizou a revista sobre o joelho para escondê-lo dos olhos do homem a nossa frente. Eu inclinei-me novamente para pegar outra revista, quando ela disse de forma clara.
- É um absurdo e um velho ainda.
Eu foquei na revista e não desviei meus olhos para o lado embora aquele par de coxas insinuasse um paraíso no final das curvas. As figuras de motos e carros apenas instigaram em mim a imaginação em torna daquela pele.
- Augusta Bernardes Franco - disse a recepcionista.
E a mulher ergueu-se entregando-me a revista que segurava minutos antes sobre os joelhos. Ela bateu com a unha de sangue sob um número riscado a lápis no canto direito superior da página, onde desenhava-se uma coxa de cama.
O velho a minha frente soltou um suspiro. E a mulher sem olhar para trás seguiu em direção a porta que a recepcionista mantinha aberta. Eu rasguei a ponta da folha e a guardei no bolso da camisa.
Logo meu nome foi chamado. Após a consulta saí do consultório e nem a mulher, nem o velho estavam mais na recepção.
Os dias passaram-se e eu decidi ligar para o número que a mulher havia me passado. Chamou, chamou, e nada. Até que a voz de um homem atendeu. Não me intimidei.
- Gostaria de falar com Augusta Franco - falei firme. - É da parte dos Advogados Associados.
A voz do homem disse alguma coisa longe do fone, e logo a de uma feminina assumiu o seu lugar.
- Alô, doutor Roberto? - ela disse. - Eu ainda não me decidi sobre o divórcio.
- Não, não. A revista de crochê, ficou na minha mão, gostaria de devolvê-la.
- Quem está falando? É trote?
- Você mesma colocou esse número no alto da página.
Ela guardou silêncio e soltou um "ah" que desmanchou toda possibilidade de mal entendidos.
- Então é você? Ligou mesmo hein? Rapaz corajoso.
- Não me diga que uma mulher tão bela, tem envolvimento com o crime?
Ela soltou um riso de deboche. Abriu a boca e fechou simulando desdém e desinteresse.
- Tem algum convite a me fazer? - ela perguntou direta.
- Posso convidá-la a minha casa, - respondi.
- Ah, pouco cortês o senhor, - disse rindo. - Amanhã, as seis da tarde, na travessa J. J. Seabra, até lá.
Ela desligou. Era bem localizado. Eu vesti uma roupa leve, camisa, short jeans, relógio, e peguei um táxi. Em primeiro momento julguei que seria trolado, ou ela não apareceria, ou faria alguma gracinha.
O céu estava começando a ficar mais escuro quando ela desceu de um carro que a deixou do outro lado da rua, eu fumava um Copacabana de ombro com o poste da esquina que ela havia indicado, trajava um vestido justo ao corpo, e óculos escuros.
Abaixou um pouco os óculos até a ponta do nariz, soltou um riso, e prosseguiu caminhando em passo lento, pouco destra em caminhar com velocidade. Eu a acompanhei de longe, até começar a segui-la.
À esquerda ela desapareceu voltando a mostrar-se no outro extremo de uma rua com casas de telhado baixo, e pés de árvores nas portas, em um prédio de três andares, ela parou, virou-se em minha direção, indicou dois dedos da mão. Abriu.
O perigo de uma cilada aumentava o frio na espinha. Como a lâmpada de baixo para cima até a cabeça nós arrepia o corpo inteiro, ouricei-me, a imaginá-la nuazinha na cama.
Um vira-lata atacava um saco de lixo na porta de uma das casas e não desviou-se a minha passagem, além dele, apenas os pardais brincavam no passeio, abri o portão em que ela havia acabado de fazer o mesmo.
O perfume de laranja cítrico atiçou-me daquele ponto em diante, subi um lance de degraus, até o segundo apartamento, a porta entreaberta, o vestido no chão da sala, um sofá, uma janela coberta por persianas, uma mesa de centro.
Fechei a porta, recolhendo o par de saltos médios, a bolsa no canto da porta, ela retirava a calcinha no momento em que encostei-me ao batente. Os seios duros apontados para cima de bicos esparramados como rodelas. O ventre liso.
Lisuras nas pernas e no olhar que vagueia por mim, o cheiro na roupa que trago até o nariz e o aspiro, a fragrância lascívia de mulher, aproximo-me a ela na cama, seguro-lhe o pê, e beijo-o até o joelho, ali entre as pernas, sem pelo.
Mas arrepiado a pele doce e firme que mordo com os lábios sem a pressão dos dentes, ela abre-se como uma rosa, e os seios despontam, picos montanhosos, de maciez os agarro, os massageio, sentindo que seus mamilos crescem.
Em mim chamejam também por todo corpo a necessidade de livrar-me das roupas, ela nega, move a cabeça.
- Não tira nada, vem assim mesmo - diz.
Eu abaixo o zíper da calça mas antes sento-me na cama e a a seguro em cima de mim, apertando-me contra seus seios macios, sedosos, cheios de um cheiro de mulher que conhece o prazer.
Os engulo movendo os lábios em torno do mamilo, ela segura meu rosto, invade minha boca com a língua, friccionando de forma a ficar por cima, sinto-a segurar-me com firmeza contra sua pélve, e se encaixar em mim.
O seu órgão molhado pela minha boca mas por algo mais úmido ainda, ela move-se para baixo, e eu arfo, as forças dominam-me o corpo, o calor, o suor, a seguro com firmeza contra meu corpo, nossas bocas mordendo-se, comendo-se.
A viro de bruços na cama avançando sob sua carne tenra macia, sempre a maciez delirante da pele em chamas. Ela submete-se olhando-me por cima do ombro cobrando uma reação, seguro seus cabelos.
Ela arqueja, empurro-me mais para dentro, entre suas pernas apoiando-me nos joelhos em cima do colchão, ela morde meu ombro coberto pela camisa, continua e movimentar-me sem conseguir parar.
A sua voz é aguda ao murmurejar no meu ouvido, puxando meus cabelos, tentando arranhar minhas cosas por cima da roupa, enquanto minha bermuda ainda na cintura roça em sua pele nua.