Danço agarradinho com o Jake. Ele é o garoto mais lindo que eu já vi. Seus olhos tem uma cor tão linda. Eu poderia passar horas admirando essas esmeraldas. Porém, sinto um frio no meu pé. Eu me afasto dele e olho para baixo. Meus pés formigam e parecem que estão congelando. De repente, uma dor aguda me faz gritar. Presto atenção em minha volta e tudo parece congelado.
Os olhos esmeraldas do Jake estão azuis e frios. A nevasca fez tudo isso? Aos poucos, o meu corpo congela e perco os movimentos. Acordo na cama. Estou ofegante e suado, apesar do frio que está fazendo do lado de fora da minha casa. Ao contrário de mim, o Jake dorme tranquilamente.
Levanto e vou até a janela. A claridão invade as minhas pupilas e fecho as cortinas. O vento sopra com uma força violenta e impiedosa. Volto para a cama e deito ao lado do Jake. Eu aproximo o meu rosto do dele e durmo mais um pouco. Depois de um tempo, acordo com um toque diferente em mim. É o Jake.
— Bom dia, nevasca do dia. — ele diz, passando a mão no meu cabelo.
— Bom dia, bobão. — é a única coisa que consigo responder.
— Como está a tempestade do século? — Jake questiona, levantando e indo até a janela. — Caramba. Eu não estou conseguindo ver o lado de fora. E aqui perto da janela está um frio horrível.
— Jake, sobre ontem, tipo, se eu fiz alguma coisa que você não gostou...
— Ei, — Jake se aproximou da cama e pegou em minha mão. — eu adorei o beijo. Adorei ficar com você. — tocando em meu rosto.
Isso nunca aconteceu comigo. Esse é o lado ruim de ser um dos poucos gays assumidos da escola. Alguns alunos nos veem como pragas, enquanto outros querem nos usar como palanques políticos e para as redes sociais. Alguém nunca gostou de mim. Eu nunca senti algo tão forte assim.
Não sei o que dá em mim, mas seguro o rosto de Jake e o beijo. Lasque-se o mau hálito matinal. Eu capricho, porque quero impressioná-lo. Sinto uma mão me afastando, só que não é a dele. O afasto e dou um grito. Ao olhar para trás, vejo a Pam, que não tem vergonha nenhuma de se aninhar ao meu lado.
— Puta que pariu, Pam. — grito me recompondo.
— Qual é. Passei a noite de Natal vendo vocês se agarrarem. Esse beijinho não foi nada. — ela protesta e puxa a coberta em sua direção. — Fora que o aquecedor do quarto de hóspedes é péssimo. — Avalanche e Tempestade passam correndo para dentro do cobertor. Eles adoram lugares quentes.
— Pera ai. — digo, mas lembro que os dois são furões e não vão me obedecer.
O Jake está vermelho igual um pimentão. Eu não sei se é engraçado ou constrangedor os meus dois melhores amigos dividindo a cama dos meus pais comigo. Dou espaço para a Pam, que dorme rapidamente. Resolvo descer para preparar o café da manhã. Ainda constrangido, o Jake me segue e vamos para a cozinha.
Algumas partes da casa estão congeladas. Realmente, a calefação está sofrendo para nos manter aquecido. Acho que os Estados Unidos não estava preparado para a nevasca do século.
Qual é a melhor coisa para enfrentar um clima tão gelado? Chocolate quente. Na verdade, o Jake assume essa missão.
Eu sento na mesa de mármore e meus pés ficam balançando no ar. O Jake usa um pijama que deixa o seu bumbum avantajado. Como esse homem pode ser tão perfeito? Eu devia ter visto essas qualidades do Jake antes. Quanto tempo eu perdi? Meu Deus. Eu sou muito patético.
Neste meio tempo, conversamos sobre diversas coisas e damos alguns beijos. O Rayb entra na cozinha com uma cara péssima. Ele exagerou na bebida na véspera de Natal e ganhou uma ressaca daquelas de presente. Para o amigo de Jake, servimos um café expresso com canela. Ficamos na cozinha por um bom tempo. O que fazer em um dia de neve? Nada.
— Então, Jake e Mark. Eu vi os pombinhos se pegando ontem. — Rayb comenta e faz Jake cuspir um pouco de chocolate quente. — Que tigrão. Pobre Mark, quase foi sugado.
— Ei, eu beijo bem. — protesta Jake, limpando o chocolate de seu pijama.
— Beija muito bem. — eu digo para o desespero do Jake, que deve estar tendo a pior conversa de sua vida.
— Vamos parar de falar das minhas habilidades de beijo? — ele pede, cruzando os braços e revirando os olhos.
A cada hora do dia, a nevasca aumenta e aumenta. A primeira coisa a ser cortada é a água. Antecipando isso, a gente enche todas as banheiras da casa. Vai ser difícil, eu sei. Aproveito para tomar o meu último banho quente e coloco as roupas mais quentes que encontro no guarda-roupa. Um sueter do grupo coreano Black Pink e calça moletom, além de seis meias fofinhas.
Os meus amigos estão reunidos na sala assistindo aos noticiários. Pam e os furões brincam no chão, enquanto Jake e Rayb prestam atenção na fala do jornalista. Eu fico em pé e olho para a janela. A neve ocupa as ruas e jardins das residências.
— Eu vou dar espaço para o casal do ano. — avisa Rayb levantando e sentando no chão se rendendo aos furões, que sobem em seu corpo e brincam com ele.
— Idiota. — Jake joga o travesseiro na direção do amigo.
Sento ao lado de Jake e me aninho ao lado dele. Apesar de estar quentinho, as notícias da televisão não são animadoras. Muitas pessoas estão desaparecidas ou morrendo devido ao frio extremo. A Pam deixou o walkie-talkie em casa para se comunicar com os pais. Até o momento, tudo tranquilo com a família da minha melhor amiga. Os meus pais também estão seguros longe dessa confusão.
Eu sei que o Jake está pensando na mãe presa no hospital. A Sra. Harris decidiu dar prioridade para os pacientes e pessoas que venham precisar de suporte médico. Com certeza, ela está segura e protegida pelas paredes do hospital local. Eu tento animar o meu melhor amigo, mas no fundo estou preocupado e ansioso. Principalmente quando o vento bate na janela e nos assusta.
A Pam pede para assistir um filme. Escolhemos "O Rei Leão", a animação no caso. Faço pipoca para acompanhar a sessão de cinema em casa. A história do Simba é tão bonita. Ele sofre bastante para conseguir se impor contra Scar. Fora que a trilha sonora é perfeita, os compositores Hans Zimmer e Elton John fizeram um ótimo trabalho. Afinal, qual criança não cantarolou ao som de "Hakuna Matata"? Eu sei de cór e salteado.
Passei o filme agarrado com o Jake. Eu me senti muito confortável, principalmente, com as carícias que recebi nos cabelos e os beijos na minha nuca. Eu fico temeroso por causa do fim da tempestade de inverno. Assim que o Elliot for embora, o Jake também vai. É muito egoísmo pedir para nevar eternamente? Sou babaca, eu sei disso.
Tempo demais. Diversão de menos. Cada um vai para um canto da casa buscando se distrair, já que estamos sem internet. O Rayb ficou na sala concentrado com seu Nintendo Switch. Enquanto Pam renova os esmaltes vermelhos de suas unhas. Eu tive que arrumar o quartinho dos furões, Tempestade e Avalanche fazem uma bagunça fora do normal. O Jake dormia no quarto dos meus pais.
Um forte estrondo me faz ficar de joelhos no chão. A minha cabeça parece que está repetindo esse som diversas vezes. Eu levanto e desço para checar se todos estão bem. Os meus amigos estão olhando pela janela. Aparentemente, os postes de energia foram derrubados com a violência do vento.
— Vocês estão bem? — questiona Jake, fechando o roupão para cobrir seu peitoral
— Nós estamos, mas a rua de vocês acabou de ficar sem energia. — explicou Rayb, ainda olhando pela janela. — Ei, caras. Tem um senhor andando na rua.
— Senhor? — questiono, pedindo espaço para chegar e vejo o nosso vizinho, o Sr. Ferguson todo agasalhado na rua.
— Esse homem é louco? Ele pode congelar lá fora. — comenta Pam, que está segurando os furões.
— É o Sr. Ferguson. — digo para Jake, o único além de mim que conheço o idoso. — Eu vou lá. — ando até a porta e visto um agasalho, luvas e um gorro de neve (aqueles que cobrem a orelha).
— Mark. — Jake segura em meu braço. — É perigoso. Deixa que eu vou.
— Qual é, Jake. Eu não sou tão delicado assim. Quem foi o campeão das Olimpíadas de Inverno? — questiono o deixando vermelho, só não sei se de raiva ou vergonha.
Na nossa infância, principalmente nos dias mais rigorosos de inverno, os nossos pais costumavam fazer competições. Eram coisas bobas, acho que era uma forma de aproximar o Jake e eu. Enfim, eu arrasava nas modalidades de inverno, mas levava uma surra nas disputas de conhecimento geral. A recordação invade a minha mente, enquanto eu calço as botas para ajudar o Sr. Ferguson.
Ao abrir a porta, o vento gelado dá um tapa em meu rosto. Caramba, os meus amigos tem até dificuldade para fechá-la. A visão ainda é difícil devido ao vento constante, só que o casaco cor vermelho do meu vizinho se destaca neste cenário caótico de inverno. Graças a Deus que vesti o casaco mais quente do armário e coloquei esse gorro quentinho.
— Sr. Ferguson, eu sou o Mark Davis o seu vizinho. Está tudo bem? — questiono, pegando no ombro do idoso, que nem presta atenção em mim.
— Eu fui colocar o Merlin para fazer as necessidades, quando a fiação elétrica explodiu. O danado do cachorro se assustou e correu. — o idoso explicou. — Estou ouvindo os latidos dele, mas essa nevasca está dificultando a minha vida.
— O que houve? — Jake pergunta e me assusto, pois não contava com a sua intromissão.
— O cachorro do Sr. Ferguson fugiu, mas está perto. — explico, então olho para o idoso. — Volte para casa. Nós vamos pegar o Merlin, tudo bem?
— Por favor, eu vou ficar eternamente agradecido.
Ótimo, Mark. Faça uma promessa em plena tempestade de inverno. A minha atenção volta para a rua, que está parecendo um cenário de filme de terror. É possível ouvir os latidos de Merlin. É fraco, mas audível. Olho para o Jake que aponta para frente e sai andando. Não tenho muito o que fazer, além de segui-lo. A tempestade aumenta cada vez mais. Os carros estão cobertos, a rua escorregadia e não há sinal de vida do lado de fora. Espero que não tenha sido um erro ter saído de casa.