CAPÍTULO III
O bafo do Felipe de um lado e do Ian do outro, só não eram piores que os de Hilda e Luana a entoarem "é no passinho, é no passinho, no passinho das..." e o resto ficou com o uber que nós olhava com uma cara de " quem paga meu estofamento?".
- Ninguém vai vomitar aqui, moço - eu garanti, em dúvida.
As meninas se sentaram atrás do motorista, uma no colo da outra, procurei por Felipe e dei de focinho com Ian.
- Eu estou perfeitamente bem para dirigir, - Ian empacou. - Olha aqui eu consigo fazer o quatro.
Ele me mostrava os três dedos das mãos sorrindo.
- Ô cidadão olha a hora, - disse o motorista e bateu no relógio do pulso. - É pra hoje?
- Entra logo aí, - eu sussurrava ao Ian. - Sério cara larga de graça e entra nessa porra...
Felipe não acertava fechar nem o zíper da calça vinha da pizzaria trocando as pernas. Ian também mal se equilibrava em pé. Eu trouxe Felipe e o fiz se sentar perto das meninas.
Ian atravessou a rua apontando o polegar em direção ao carro dele estacionado ali perto como se tivesse pressionando o botão da chave. Eu avancei até ele e o trouxe pelo braço.
- Você fica tão fofinho quando está assim, - ele disse. - Tenho vontade sabe de quê?
Ele me abraçou, podre na cachaça, fungou em meu pescoço, o motorista buzinou, empurrei o Ian ao lado do Felipe, e o motorista travou as portas, suor escoria da minha testa. Espreguicei-me no banco ao lado do uber.
- Manda seu namorado tirar a boca do estofamento, por favor, - reclamou o uber.
- Ele não é meu... Afasta Ian, - eu disse.
Tentava por ordem a bagunça mas também estava meio alto.
Ian atrás de mim com a bochecha colada ao encosto do banco, rosnava. Felipe soltou uma gargalhada, o uber arrancou com o veículo e Hilda caiu por cima de Felipe com a cabeça nas costas de Ian.
- O cinto cidadão, - o motorista parou em frente a faixa de pedestre. - O cinto pessoal, por favor.
As meninas ainda cantavam pedaços de funks indecorosos fazendo o pobre do Uber resfolegar pesado em cima do volante.
- Eu acho que tinha maconha no bolo - Hilda comentou.
- Ah, ah, ah, será? - Luana acotovelou o Felipe. - Pôs maconha no bolo, veado?
As vozes se entrecortaram com Felipe berrando que só quem podia chamá-lo de veado eram os outros veados iguais a nós.
- Né Joquinha? - me disse mais para lá do que pra cá.
- Misericórdia, - exclamou o homem ao volante. - Acho que até eu estou bêbado aqui já...
Um homem barbudo esperava a frente do prédio da casa de Hilda, o Uber estacionou, e abaixou o vidro, destravou as portas. Era o marido de Hilda, ele abriu a do fundo e conseguiu convencê-la a descer.
- Cuidado ao passarem na dois de Julho, o bafômetro vai apitar de longe - ele brincou. - Vem Lu, vocês combinaram de dormir aqui lembra? Meu deus o que vocês beberam hein?
Felipe e Ian dormiram um em cima do outro o resto da corrida.
- Devia ter erva mesmo, - sussurrei comigo. - Até os números estou embaralhando. Nunca mais confio em Felipe pra nada.
Eu passei o dinheiro para o motorista enquanto estávamos a uma rua da minha casa.
Ele contava as notas enquanto eu retirava o Ian, e o Felipe veio atrás. Meus bolsos abarrotados, com as chaves da minha casa, as do carro, os celulares de Ian e Felipe, incapazes até para carregá-los.
- Ai merda, - Felipe sentou no chão do rol. - Acho que aquela pizza me fez mal.
- A pizza né? - eu o segurei por baixo do braço. - Com certeza foi a pizza.
Ian caiu de cara na minha cama e o Felipe ao lado, eu ainda consegui tomar um banho antes de também cair entre os dois, o sono foi acachapante.