CAPÍTULO V
P U T O, escreveram com uma chave ou pedra pontuda no capô esquerdo do carro. Ian mordia os lábios sem controlar a tremedeira dos dentes. Eu ri, porque só podia ser azar.
- É letra de mulher, - ele murmurava. - Quem? Quem?
- Alguma mulher traída te confundiu com a amante do marido, - tentei consolá-lo.
- Fala sério cara, - disse mau humorado. - Que pecado fazerem isso. Vai me custar uma fortuna.
Felipe trazia nos braços uma das caixas da casa de Ian focado nas marcas, as bochechas rubras, testa vincada de rugas, olhava o capô como para uma pessoa em estado terminal.
- É praga de mãe, - Felipe ajudou.
- E agora como é que eu vou embora com ele assim? - Ian disse de cocaras próximo ao para-choque dianteiro.
- Quanto drama Ian, - Felipe colocou a caixa dentro do porta-malas. - Isso não atrapalha em nada os seus planos.
- Eu preciso ir para o trabalho, - falei. - Mas você deveria tentar as câmeras de segurança com certeza alguma naquela rua flagrou a culpada, ou culpado.
- Você me ajuda Lipe? - ele pediu. - Ainda tenho que terminar de organizar algumas coisas antes da louca chegar.
- Que jeito horrível de se referir a mãe, - eu o adverti.
- Hipócrita, aprendi ouvindo você falar do seu pai - ele me cortou amuado. - Vai mesmo trabalhar?
- Claro né? Ou perdo o emprego, - suspirei queria ficar. - E vocês juízo, me deem notícias disso aqui.
Chutei o pneu e levei uma metralhada dos olhos do dono do carro.
Eu e o Felipe havíamos ido até a casa dele para ajudá-lo a separar as coisas que levaria para sua nova vida em outra cidade a quilômetros dali. Felipe trabalhava em na empresa da família, por isso tinha liberdade, eu, era simples funcionário.
- O que é que a vida faz da gente depois do terceiro ano do ensino médio né migo? - Felipe era impossível. - A gente vai se falando, enquanto investigamos.
- Quem faria uma barbaridade dessas? - Ian repetia. - Invejosos! Invejosos!
Ele começou a berrar no meio da rua. Eu não me contive, ria enquanto caminhava na direção oposta. Pela cara do Felipe, julgava que ele desejava fazer o mesmo.
- Se acalma amigo, - Felipe dizia a ele. - Olha o mico...
Eu cheguei em cima da hora. Os carros dos pais dos meninos estavam na frente da faixa de pedestre rente ao portão da escola. Meu celular começou a vibrar, eu imprimia algumas planilhas. Sob o olhar de um dos pais.
- Ainda demora? - perguntou o homem.
- Só um minuto, por favor - respondi.
Não eram apenas mensagens e áudios do Felipe como um vídeo. Os olhos do homem a minha frente me acompanhavam a cada passo. Cliquei na mensagem de Felipe.
Eles foram mesmo até a rua onde estacionamos próximo a pizzaria e conseguiram as gravações das imagens. Eu quase caio duro na frente da impressora.
- Que merda! - falei alto.
Entreguei as planilhas com o nome do tesouro do homem na margem superior. Enviei "é a mãe dele aí??" para o Felipe, ele colocou uns ícones de sorrisos "a bicha é ruim", respondeu.
Meu celular tocou na mesmo instante, era o Felipe.
Ele: "Veado, foi a mãe dele mesmo, Ian saiu daqui transtornado"
Eu: "E você foi atrás dele?"
Ele: "Não sou babá de homem"
Eu: "Ele é seu amigo Felipe!"
Ele: "Exato! Amigo, não filho"