A missão que me levou ao grande amor da minha vida
Era lá o ano de 1960, meu primeiro ano do ensino fundamental, no único colégio da pequena cidade interiorana onde nasci e vivia com meus pais, ele médico e ela a diretora do colégio. Pelo fato de ser o filho da diretora muito se cobrava de mim, atenção e participação efetiva nas aulas, boas notas em todas as disciplinas, comportamento exemplar nos recreios e nada de regalias especiais. Não cheguei a me transformar num nerd, mas era um garoto comportado, estudioso, tímido e cheio de colegas, muitos dos quais estavam mais interessados nas vantagens que poderiam obter sendo amigo do filho da diretora. Eram-me indiferentes os motivos que me faziam ser popular entre a turma, amigos mesmo eu tinha apenas dois, a Vera Matoso e o Davi Figueiredo. Ambos moravam perto de casa e, sendo o pai da Vera também médico com um bom relacionamento com meu pai, e a mãe do Davi uma amiga de infância da minha mãe, havia por onde nossa amizade extrapolar as dependências do colégio.
Passado o primeiro semestre, quando a turma já estava toda entrosada, à exceção do Pedro Augusto Mascarenhas, o pior aluno da classe. Ele parecia ter fogo na bunda, não parava quieto nem cinco minutos, era o terror dos professores, o excluído dos colegas, o arteiro-mor que não poupava nem os alunos mais velhos de outras turmas com quem vivia arrumando confusão durante as partidas de futebol nas atividades esportivas. Ele era um garoto grande para a idade, destoava da nossa turma por essa característica, embora fosse apenas um ano mais velho que a maioria de nós e estivesse repetindo o primeiro ano por ter tomado bomba nos exames.
Estávamos na aula de artes quando uma funcionária veio anunciar que eu estava sendo chamado à sala da diretora. Normalmente, os alunos ficavam preocupados e medrosos quando eram convocados à sala dela, mas eu tinha minha consciência tranquila, não tinha cometido nenhuma besteira ou desatino que me fizesse temer uma conversa na sala da minha mãe. Provavelmente tratava-se de um assunto corriqueiro que ela não teve a oportunidade de falar comigo em casa, pensei, ao seguir pelo corredor que ia dar na diretoria.
Havia uma senhora na sala dela e então me pus a esperar junto a porta, não deixando de ouvir a parte final da conversa entre as duas.
- Ele está assim desde que me separei do meu marido. Ficou rebelde, não obedece minhas determinações, é respondão com os avós que estão me dando todo o suporte e parece ter uma predileção por se ver metido em confusões. A única coisa que o mantem um pouco focado são as partidas de futebol; contudo, mesmo ali ele não admite ser advertido ou criticado, demonstrando uma agressividade exacerbada quando isso acontece. Já não sei mais o que fazer, preciso de sua ajuda, pois ele depende dos estudos para ter um futuro digno. – eu não conhecia a mulher que estava de costas para a porta. Sua voz, no entanto, lamuriosa e suplicante, me comoveu. Não sabia de quem ela estava falando, mas conhecendo a minha mãe, eu tinha certeza de que ela ajudaria aquela pobre mulher.
Tão logo a mulher se despediu da minha mãe e passou por mim, eu a fitei com interesse redobrado para ver se a reconhecia, o que não aconteceu. Ela parecia bastante agoniada e pensei tratar-se de um novo aluno a ser admitido na escola.
- Rodrigo, você vai precisar fazer um favor para a mamãe! – começou minha mãe assim que fiquei diante dela.
- Que favor, mãe?
- Você vai cuidar do Pedro Mascarenhas da sua classe! – respondeu ela com uma firmeza tal que eu logo entendi como sendo uma ordem, não um pedido.
- Eu? O Pedro Mascarenhas? Ninguém da turma gosta dele, mãe! Nem eu! – retruquei de pronto, já sabendo que minha resposta não encerrava o assunto.
- Não me importa quem gosta ou não dele, vocês fazem parte de uma turma, precisam aprender a conviver em harmonia, a respeitar as diferenças e a chegarem a um consenso. É assim que se vive numa sociedade, é assim que você vai precisar viver quando adulto, tanto no seu trabalho, quanto fora dele e em todas as situações da vida. – O desajustado era o Pedro, mas eu é que estava levando o sermão.
- Então você deveria fazer esse sermão para o Pedro e não para mim! Eu me dou bem com todos os colegas, é ele quem arruma as confusões por isso ninguém gosta dele. – devolvi.
- Não estou te passando um sermão, estou te explicando o porquê de você cuidar do Pedro de agora em diante.
- Como é que eu vou cuidar de um sujeito feito ele? Eu não quero fazer isso, mãe! – respondi, fincando o pé.
- Aqui não sou sua mãe, sou a diretora do colégio e zelo pelo bem-estar e interesses de todos os alunos e, é nessa qualidade de diretora que estou te designando essa missão. Você é um excelente aluno, seu comportamento é exemplar, suas notas são excelentes e convivendo com você o Pedro terá a oportunidade de mudar seu comportamento, espelhando-se no seu. – afirmou ela. Com o que eu absolutamente não concordava, mas não estava em condições de discutir.
- Você está mandando seu próprio e único filho para uma missão suicida e nem demonstra remorso algum! – exclamei deixando fluir meu veio dramático, o que a obrigou a disfarçar o riso que precisou conter para não ficar desmoralizada. – É mais fácil o Pedro me massacrar do que eu conseguir uma mínima mudança nele. Eu sou só uma criança, ninguém deveria me obrigar a uma missão perigosa como essa. – emendei emburrado, fazendo-a perder a seriedade que estava se autoimputando.
- E o que o faz pensar que isso é uma “missão perigosa”? - ela riu ao pronunciar as últimas duas palavras.
- Você já olhou bem para o Pedro? Já viu o tamanho dele? Tem ideia da força dele? Ele bate nos outros caras das turmas mais velhas, mãe! Imagina o que ele não vai fazer com o seu único filho! – eu estava dramatizando propositalmente a situação para ver se conseguia me livrar daquela “missão”.
- Bem, pode não parecer, mas eu conheço muito bem o meu “único filho” e, sei que ele não estará só a salvo, como também é capaz de fazer o que estou lhe pedindo. Agora volte para sua aula, já perdeu tempo demais fora dela. – sentenciou a diretora. Sim, aquela só podia ser a diretora, pois minha mãe não faria uma coisa dessas comigo, fui remoendo ao regressar à sala de aula.
Enquanto eu falava com a diretora em seu gabinete, a funcionária foi se encarregar de transmitir um recado para a professora e, quando quis ocupar o meu lugar costumeiro, ela me mandou sentar na mesma carteira do Pedro, a única que até então era ocupada por apenas um aluno.
- De agora em diante, você e o Pedro vão sempre se sentar juntos durante as aulas, ordem da diretora, estão entendendo? – sentenciou ela. Toda classe olhou para mim penalizada como se eu fosse uma vítima de um destino cruel. Limitei-me a uma cara carrancuda, demonstrando minha desaprovação.
O Pedro nem olhou na minha cara, como se eu não existisse. Como estávamos fazendo um trabalho com colagens de figuras e apliques sobre um fundo de papel cartão, antes de eu ter sido interrompido, continuei a fazer minha parte, enquanto o Pedro se apossava da tesoura que estava sobre a carteira e cortava uma mecha do cabelo da garota que estava sentada à nossa frente. Pasmo e com os olhos arregalados com tamanha ousadia, eu arranquei a tesoura das mãos dele, exatamente no instante em que a garota constatava o estrago em seus cabelos, começando a chorar e a chamar pela professora. Assim que ela se aproximou de nós, eu ainda em transe, mal me movia, até notar que a tesoura estava na minha mão. Lancei-a sobre a carteira como se ela fosse um bicho peçonhento, e encarei a professora com uma cara que jurava a minha inocência.
Por sorte, outros alunos ao redor tinham visto o autor do crime e o acusaram sem a menor compunção. O Pedro foi despachado para o pátio onde havia uma carteira para os indisciplinados refletirem sobre seus erros e, sozinho, apenas com seu caderno, teria que escrever a frase – NÃO DEVO AGREDIR MEUS COLEGAS – trezentas vezes com uma letra bem legível. Foi onde ele passou o restante do dia, só com sua penitência, enquanto todos nós continuávamos com nossas atividades normais. Hoje, adulto, fico me perguntando se essas punições de fato conscientizavam os delinquentes, ou se essa pedagogia era mais danosa do que instrutiva. Mas, os tempos eram outros, as crianças eram muito diferentes das atuais, a sociedade era mais rígida, e o intuito aqui não é discutir os métodos educacionais e sim relatar os fatos.
Toda vez que me era possível visualizar o Pedro por algum ângulo que me permitisse ver o pátio enquanto estava participando das demais atividades, eu o via com a cabeça afundada no caderno e, por incrível que possa parecer, tive pena dele. Talvez aquele final de conversa que ouvi entre a mãe dele e a minha tenham influenciado esse sentimento.
À medida em que os anos iniciais de ensino avançavam eu me convencia de que aquele ditado que diz que uma maça podre estraga todas as demais não era apenas um mito, mas uma verdade. Assim como o gás etileno atuando como um hormônio que amadurece as frutas e as leva ao apodrecimento, o comportamento do Pedro e minha preocupação constante de cumprir a missão que me fora dada, foi cada vez mais me distanciando daquele aluno exemplar do princípio. Meu desempenho escolar caiu, minhas notas seguiram a mesma corrente, uma ou outra nota abaixo da média mínima já não eram mais nenhuma novidade e eram punidas em casa com castigos que me privavam de muitas coisas das quais eu gostava.
Eu devia mesmo ser um tolo, pois apesar de tudo o que estava me acontecendo, eu gostava cada vez mais do Pedro, tinha me tornado seu único amigo verdadeiro em todo o colégio e até fora dele. Em parte, o comportamento dele também melhorou, ele até ficou mais participativo nas aulas, fazia as lições conquanto as fizéssemos juntos, já não provocava tanto os demais colegas, a menos que fosse ele o provocado e se mostrava um filho menos rebelde em casa. Comparando-se a mim e ao Pedro, foi algo como se tivessem igualado os dois pratos de uma balança até haver um equilíbrio, um não era mais tão mau e o outro não mais tão santo.
Tudo o que faltava nele eu provia, como ser mais atencioso e afetuoso com os demais, ser mais tolerante e menos impositivo, enquanto ele fazia o mesmo comigo me fazendo mais ousado, procurando arriscar mais e explorar novas possibilidades, ser um pouco menos introvertido e não me deixar explorar tanto pelos outros.
Um havia se tornado a sombra do outro, unha e carne como se costuma dizer, bastava saber do paradeiro de um para encontrar o outro. Eu que nunca fui afeito aos esportes, estava lá na beira do campo de futebol assistindo ele jogar, driblando com maestria os oponentes e sendo o artilheiro do time em todas as partidas. Já na fase adolescente, eu gostava de vê-lo jogar, de ver como corria em campo cheio de energia com seu corpo ganhando forma, seus músculos se desenvolvendo, o volumão que carregava entre as pernas balançando solto dentro do short. Como cada lobo conhece sua posição dentro de uma alcateia eu o enxergava como um alfa que se impõem, é agressivo e confiante, que lidera, e nunca tive a pretensão de questionar essa posição, ser um beta, ou até um ômega numa relação com ele não me fazia sentir diminuído, bastava-me que fosse com ele. O Pedro, provável e inconscientemente tinha essa percepção e gostava que assim o fosse, sentindo que de alguma forma eu precisava dele, o que o fazia sentir que sua vida tinha alguma importância. Ele só se sentia confiante e fazia bons lances por saber que eu estava ali ao lado, observando-o e admirando seus dribles. Ao final de cada um bem-sucedido, que fazia a bola balançar a rede, ele olhava na minha direção com um baita sorriso de satisfação, como se aquele lance estivesse sendo dedicado a mim. Nascia assim uma cumplicidade entre ele e eu que foi se consolidando à medida em que os anos passavam. Ao final do ensino médio, éramos bons e inseparáveis amigos que só sentiam contentes quando partilhavam cada nova experiência. Vivíamos nos abraçando, disputando curtos piques de corrida para ver quem chegava antes a determinado ponto, desafiávamos um ao outro nos jogos de tabuleiro, provávamos do prato do outro e tomávamos refrigerante no copo do outro quando íamos a alguma lanchonete com a mesma naturalidade que um casal faria.
Como mencionei, a cidade era pequena e o único colégio só oferecia o ensino até a conclusão do ensino médio, quem quisesse fazer uma faculdade precisava deixar a cidade e procurar uma maior e mais estruturada. Partimos ambos para a capital com a cabeça cheia de sonhos e planos buscando uma carreira profissional. Cursamos a mesma universidade em faculdades distintas e dividíamos um minúsculo apartamento nas proximidades da universidade.
Não sei qual foi a treta da qual o Pedro se valeu para conseguir que seu avô lhe desse a grana para comprar uma motocicleta. Eu tinha para mim que o avô jamais suspeitou que o dinheiro enviado ao neto fosse transformado numa motocicleta, mas isso é apenas uma conjectura. Quase sempre eu estava na garupa, pois o Pedro raríssimas vezes ia lugares sem mim. Também desconfio que ele, tanto quanto eu, gostava dessa proximidade que desfrutávamos durante os trajetos sobre a moto, quando meus braços envolviam seu tronco e muitas vezes eu apoiava a minha cabeça sobre seu ombro. Essa felicidade se estampava em nossos rostos ao mesmo tempo em consolidava tudo aquilo já tínhamos em comum.
No primeiro ano da faculdade de arquitetura conheci a Carol, uma colega de turma com a qual logo me entrosei, ou teria sido ela a forçar esse entrosamento, já nem sei. Era uma das garotas mais bonitas da faculdade e, assim que me viu, abriu um sorriso como se tivesse acabado de encontrar seu príncipe encantado. Minha carinha de bom moço, os olhos azuis e um corpo bem conformado ao longo de um metro e oitenta atraiu não apenas a ela, mas a outras garotas por todo campus da universidade. Eu nunca havia prestado muita atenção às garotas, mas com a Carol foi diferente. Cada vez que ela olhava para mim ou me sorria, meu coração palpitava e me fazia sentir emoções até então desconhecidas. Encasquetei que estava apaixonado, uma vez que nunca tinha sentido algo semelhante. Tinha sido fácil demais conquistá-la, não tinha feito absolutamente nada para isso, enquanto sempre tinha visto os rapazes se empenhando sem descanso ou limites para conquistar uma garota. Não me achei um presunçoso. Talvez eu tenha tudo aquilo que uma garota gosta em um homem, pensei comigo mesmo. Então, por que não dar uma chance ao destino e me aproximar dela? Foi o que fiz, e lá estávamos nós, Carol e eu, formando o primeiro par romântico da turma recém ingressada na faculdade.
A Carol era mais uma companheira do que propriamente uma namorada. O fato de cursarmos o mesmo curso era o pretexto para estudarmos juntos, fazermos os trabalhos participando da mesma equipe, sentarmos lado a lado durante as aulas segurando um na mão do outro, o que enternecia as outras garotas por constatarem que a Carol tinha um namorado carinhoso e, causava inveja nos rapazes que gostariam de poder tocar e beijar a Carol com a mesma liberdade que eu gozava. Eu nunca havia namorado, nunca tinha nem ficado com alguma garota até então, e tudo naquela relação era novidade para mim. Esse era o principal motivo pelo qual eu a deixava tomar as decisões, que filme íamos assistir no cinema, que passeio faríamos no final de semana, na casa de quem íamos estudar para as provas, tudo era ela quem decidia, bastando-me acompanhá-la sem ter que me desgastar com esses detalhes. Com essa atitude, nossa relação vivia em harmonia, gostávamos da companhia um do outro, e as eventuais diferenças que iam aparecendo eram rapidamente superadas sem grandes discussões. A Carol não simpatizava com o Pedro, achava que ele me empatava demais, que me roubava dela por horas preciosas que poderia passar ao meu lado. Também tinha dificuldade de entender porque eu aceitava tantas imposições dele, porque me deixava conduzir segundo a vontade dele e, qualquer explicação que eu lhe dava nunca era convincente.
O Pedro foi o primeiro a não gostar dela, não apenas dela como pessoa, mas daquela relação que começou a privá-lo da minha companhia, embora eu nunca tenha deixado de lhe dar atenção e de continuar fazendo praticamente tudo o que já fazíamos antes de eu a namorar. Toda vez que ficava sabendo que ela e eu tínhamos uma programação planejada, ele dava um jeito de arrumar alguma coisa para fazermos apenas nós dois, ficando chateado comigo se eu não fizesse como ele queria.
Com o passar dos meses, eu consegui manter ambos sob controle, sem que um ficasse acusando o outro me deixando como juiz da questão. Continuaram a implicar um com o outro, quase não se toleravam e, quando o faziam, era em prol dos sentimentos que nutriam por mim. Dessa forma, toleravam-se e, de vez em quando, até saíamos juntos, especialmente quando a turma era maior. Dessa forma, ficavam desobrigados de interagir muito.
Quem havia planejado tudo para aquele feriadão prolongado no segundo semestre foi a Carol. Iríamos apenas eu e ela para o apartamento na praia de um dos tios dela que nos havia cedido as chaves. Foi a primeira vez que eu menti para o Pedro. Se ele soubesse que eu pretendia passar o feriadão na praia ia insistir para ir junto, criando um atrito com a Carol. Justifiquei minha ausência alegando ter sido convidado por um colega de classe para fazermos um trabalho da faculdade na casa dele onde pernoitaria naquela noite. Isso só garantiria a desculpa para a primeira noite, depois ele teria que lidar sozinho com a minha ausência durante todo o feriadão, mas aí eu estaria longe para ouvir suas reclamações. Eu gostava tanto da Carol que não enxergava suas intenções, e pensei que estar com ela durante todo o feriadão significariam dias ensolarados deitados na praia tomando sol, passeios noturnos pela orla curtindo a brisa fresca depois de um jantar num restaurante que reunia uma moçada animada, e a oportunidade de conversarmos mais intimamente sobre assuntos de interesse comum, sem estarmos cercados de outras pessoas. Era aí que residia a minha personalidade de homem entre beta e ômega, segundo a psicologia, responsável, reservado e cauteloso que, diferentemente de outro macho qualquer que iria nessa viagem só pensando em como e quanto foder aquela garota gostosa. Eu fazia mais o gênero daquele cara bom, fiel, menos agressivo que os alfa, sensível e com os pés no chão com quem é fácil construir um relacionamento estável, que é sensível nos relacionamentos amorosos definindo limites que nunca quebra, que transmitem uma sensação de segurança e conforto, e que dão aos parceiros o que precisam para um relacionamento feliz. As expectativas dela para o feriadão eram muito diferentes das minhas, mas eu era ingênuo demais para percebê-las enquanto dirigia na estrada rumo ao litoral no carro que a mãe dela nos emprestou.
Eu só fui entender a razão daquele convite ao regressarmos ao apartamento após a longa caminhada noturna pela praia deserta. Tínhamos terminado de tomar uma ducha e fomos nos deitar pois já passava da meia-noite. Desde o início do namoro sempre fui carinhoso com a Carol, gostava de seus beijos e os retribuía com toda ternura e afeto. Começamos por eles assim que entramos na cama, enquanto eles se sucediam, notei como ela ia ficando com tesão sentindo minhas mãos em seu corpo metido apenas no sutiã e na calcinha cavada que deixava suas nádegas firmes completamente expostas. Ela se esfregava no meu corpo procurando me excitar, me beijava chupando meus lábios numa sensualidade profana, puxava-me para cima dela e abria as pernas se oferecendo à minha masculinidade. O perfume dela, o toque em sua pele macia, as carícias generosas que ela me fazia eram maravilhosas, mas não chegavam a despertar um interesse sexual em mim. Quando a Carol se esfregava na minha coxa senti que ela estava com a vagina toda molhada, seus gemidinhos eram os de uma fêmea querendo copular e, percebendo que eu não tomava as rédeas da situação, ela enfiou a mão na minha cueca e tirou meu pau para fora, roçando-o sobre a buceta úmida. Foi aí que me dei conta do que ela esperava daquele feriadão a sós comigo. Por mim, eu nunca teria pensado em transar com ela, mas como estávamos ali, nos agarrando e trocando todos aqueles beijos, talvez tivesse chegado a hora de eu deixar de ser virgem, e deixei a coisa rolar. Nunca ninguém tinha pego no meu pau, a sensação era boa, fez até com que ele se animasse e começasse a tomar consistência. Bem, pensei eu, agora é só enfiá-lo nela e você se transforma num homem de verdade. Puxei a calcinha dela para expor a vagina e nem precisei fazer muito mais, pois ela mesma já conduzia meu pau para onde desejava que ele entrasse nela. Dei uns dois impulsos para o meter naquela fenda molhada, insuficientes para lograr a penetração, mas bastantes para me fazer perder o estímulo de continuar tocando na Carol. Encarei-a sem saber o que dizer, se lhe dissesse que não tinha vontade de transar com ela certamente se sentiria humilhada, se continuasse com aquilo, sabia que ia brochar por falta de tesão. Ficamos uns minutos nos fitando nos olhos, ela cheia de esperanças e vontades, eu louco para sair daquela situação. Como nada acontecia naqueles intermináveis minutos, à exceção do meu pinto murchar, saí de cima dela e me deitei ao seu lado. Aquele foi o silêncio mais constrangedor pelo qual passei, minha vontade era poder evaporar no ar.
- Isso acontece, não se preocupe! – disse ela após um tempo, o que só tornou tudo ainda mais desconfortável para ambos.
- Me perdoe, Carol! Eu não queria que fosse assim! Eu gosto muito de você! – devolvi intimidado.
- Eu sei Rodrigo, eu também gosto muito de você. – retrucou ela, parecendo conformada.
Os dois dias restantes foram um verdadeiro suplício com aquela situação mal resolvida pairando entre nós. Subitamente ficamos sem assunto, o que nunca tinha acontecido antes. Trocamos frases curtas sobre coisas banais, com receio de que a questão pudesse voltar a ser abordada. Quando a deixei em casa no meio da tarde do domingo com um beijo chocho na testa achei que nosso namoro insosso tinha chegado ao fim. No entanto, eu estava feliz por aquele feriadão ter terminado e eu poder ficar sozinho comigo mesmo, analisando tudo o que tinha acontecido.
- Te vejo amanhã na faculdade! Durma bem! – disse ao lhe pousar os lábios na testa num gesto recatado, pelo qual ela certamente não esperava. Seus anseios iam muito além de um beijo tão insípido como aquele, mas era tudo o que eu tinha a lhe oferecer.
- Você também! Até amanhã! – devolveu ela, entrando rapidamente para dentro de casa, sem me convidar a entrar. Também devia estar querendo entender o que tinha dado errado.
Ao chegar em casa o Pedro não estava, o que achei providencial, pois não estava preparado para encarrar uma discussão com ele. Tomei uma ducha, me pus confortável num short e me fechei em meu quarto na penumbra, ouvindo umas músicas que tinha gravado numa fita cassete. Eu estava tão imerso em meus pensamentos quando o dueto Lionel Ritchie e Diana Ross, que liderava as paradas de sucesso naqueles anos, começou a cantar Endless love que nem percebi o quão fundo a letra da música estava reverberando em mim e fazendo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. As estrofes iam se sucedendo – That’s only you in my life ... My first love, you’re every breath that I take ... You’re every step I make ... And I, I want to share all my love with you, no one else will do ... And you will always be my endless love ... Two hearts, two hearts that beat as one ... Forever I’ll hold you close in my arms ... Oh, love I’ll be a fool for you I’m sure ... You know I don’t mind, cause you ... You mean the world to me ... I know I’ve found in you my endless love .... – e aquelas frases cantadas tão melodiosamente, só faziam sentido para mim e estavam me deixando tão emotivo, por que me conscientizei que só se aplicavam a uma única pessoa nesse mundo, e essa pessoa definitivamente não era a Carol.
- Aonde foi que você se meteu todos esses dias? Fiquei te procurando e ligando para todos os teus colegas de que me lembrava. Ninguém sabia do seu paradeiro. Você me disse que ia passar apenas uma noite fora, eu fui até a casa do Maurício e ele me disse que vocês não fizeram nenhum trabalho juntos e que você nem apareceu por lá. Por que você mentiu para mim Rodrigo? – despejou o Pedro assim que entrou em casa e invadiu meu quarto.
- Por que você não larga do meu pé! – respondi ríspido. Ele nem notou que eu estivera chorando. – Fui passar o feriadão na praia com a Carol. – esclareci.
- Por que não me disse, eu teria ido com vocês? – exclamou ele.
- Justamente por isso! Nós queríamos ficar sozinhos, só nós dois, dá para entender? – respondi.
- Você está me trocando por ela, é isso então! Pensei que fossemos amigos, que você gostava da minha companhia. – apelou ele.
- Não estou trocando ninguém por ninguém! Eu só queria ficar a sós com a minha namorada, algum problema nisso? – retruquei.
- Você não liga mais para mim desde que começou a andar com a Carol! – acusou-me.
- Bobagem sua! Estou sempre fazendo tudo como sempre.
- Vocês brigaram? – perguntou, pois só então reparou que eu estava com os olhos vermelhos e que havia chorado.
- Não! Claro que não, que pergunta mais sem sentido! – respondi. Era só o que me faltava, as pessoas ficarem sabendo que tinha decepcionado a Carol e não ter conseguido transar com ela.
- Então por que estava chorando? – questionou sensibilizado
- Eu não estava chorando!
- Mentiroso! Estava sim. – afirmou assertivo, antes de se deitar comigo na cama e ficar ouvindo as músicas ao meu lado, sem me chatear com mais perguntas. – Senti sua falta! Estou contente de que esteja de volta! – disse depois de algumas músicas.
- Eu também! – respondi sincero.
- Tenho uma partida amanhã no final da tarde, ela vale para a classificação do time no campeonato estadual, você vai me assistir, não vai?
- Tenho um compromisso amanhã, não vai dar para eu estar lá nesse horário! É coisa importante, não posso faltar! – respondi.
- Você agora sempre está cheio de compromissos importantes! Eu é que deixei de ser importante para você! – retrucou frustrado.
- Vou ver se consigo me liberar cedo e apareço por lá, se der! Mas, não estou prometendo nada! – devolvi, para que não ficasse magoado.
Eu tinha mesmo um compromisso, embora ainda não o tivesse agendado, uma consulta com um andrologista. Eu precisava saber o que havia de errado comigo, por que não consegui transar com a Carol, por que meu pau não ficou completamente duro, quando rapazes aos dezenove anos vivem com os cacetes duros pela mais remota chance de meter a pica na buceta de uma garota.
A consulta havia sido marcada para o exato horário da partida de futebol do Pedro, ele ia ficar furioso comigo. Cheguei pontualmente ao horário agendado. Havia três senhores na sala de espera, todos na casa dos cinquenta, sessenta anos, acho que por isso a recepcionista me encarou estranhamente quando me apresentei. Os outros pacientes também olharam para mim como se eu fosse um pobre coitado já tendo problemas de ereção com aquela tenra idade, na qual eles provavelmente transavam feito coelhos. Eu estava impaciente e aborrecido por ter encontrado aqueles três sujeitos esperando pelo médico. Nunca entendi porque os médicos agendam horários que nunca cumprem, deixando as pessoas esperando constrangidas numa sala onde ninguém se atreve a abrir a boca ou deixar transparecer o motivo pelo qual estão ali, restringindo-se a devolver sorrisos acanhados ao cumprimentar os que vão chegando. Depois de enfadonhas duas horas, chegou finalmente a minha vez. O olhar compungido da recepcionista ao me fazer entrar me deu vontade de afirmar que meu pau ficava duro sem o menor problema, uma vez que nunca tinha me deixado na mão durante as masturbações, mas seria no mínimo um contrassenso eu fazer uma afirmação dessas se estava justamente procurando a ajuda de um médico especializado nessa área.
O médico também já era um senhor com mais de cinquenta anos, embora seu físico atlético lhe trouxesse uma jovialidade que o sorriso largo e franco acentuava. Ao apertar sua mão fiquei imediatamente inibido, eu teria que contar o que aconteceu na cama com a Carol, dizer que meu pau não dera conta do recado. O exame físico me deixou ainda mais travado, novamente um estranho estava mexendo no meu pinto, virando-o de um lado para o outro, palpando-o por inteiro, assim como cada uma das minhas bolas, o que me fez sentir cócegas e uma tremenda insegurança. Não era exatamente assim que capavam os machos das espécies animais, fechando a mão redor daquelas preciosidades e passando sem a menor dó, com uma precisão cirúrgica, uma faca afiada para extirpá-los? Por sorte aquele senhorzinho estava desarmado.
- Clinicamente não encontrei nenhum problema com seus genitais, vou pedir alguns exames para avaliarmos mais a fundo a sua queixa. Assim que obtiver o resultado, volte para fecharmos o diagnóstico. – ele era objetivo, me inspirou confiança, muito embora tivesse deixado o consultório quase a correr.
Havia mais alguma coisa a ser feita naquela noite, ligar para casa e conversar com meu pai que também era médico e talvez pudesse me trazer alguma luz sobre minhas dúvidas.
- Oi querido, como você está? Faz três semanas que você não liga e dá notícias. Ligamos para você e ao que parece você e o Pedro nunca param em casa. – disse minha mãe ao atender a ligação. Eu havia torcido para meu pai a atender, mas normalmente minha mãe se apressava. – Você está comendo direito Rodrigo? Não me fique comendo bobagens o tempo todo nessas lanchonetes de onde vocês nunca saem! Falando em sair, você está se agasalhando quando passa as noites fora de casa? As noites estão ficando mais frias nessa época do ano, não deixe de levar sempre uma blusa consigo para não ficar doente. – era justamente isso que eu queria evitar, de ouvir aquela batelada de recomendações como se eu fosse um palerma completo.
- Sim, mãe! Estou fazendo tudo isso, não se preocupe! O papai está aí por perto, eu queria falar com ele? – respondi
- Por quê? Você está doente ou algo assim? O que quer com seu pai?
- Mãe, dá um tempo, pelo amor de Deus! Antes de ser médico ele é meu pai, dá para você deixar a gente conversar?
- Você é muito ingrato, Rodrigo! Eu estou aqui toda preocupada e você nem se importa. – chantageou ela.
- Está bem, agora que você já fez o seu dramalhão, chama o papai para mim, por favor! Beijo, te amo! – devolvi
- Oi filhão, o que manda? Tudo bem por aí?
- Tudo bem pai, e com você? Eu queria te perguntar uma coisa, é para um amigo da faculdade, é assunto profissional. – fui logo declarando para não prolongar aquela ligação, uma vez que o Pedro estava para voltar para casa, e não precisava ficar sabendo dos meus problemas.
- Pergunte, vamos lá! Se eu puder te ajudar. – respondeu meu pai.
- Não é para mim, é para um amigo, como eu disse! Bem, a questão dele é a seguinte. Ele é um cara jovem como eu, e conheceu uma garota, eles começaram a namorar e estão se gostando bastante, daí começou a rolar um clima e foram querer transar, até aí tudo bem. Só que ele não conseguiu fazer o que era para fazer, entende? Na hora a coisa desandou, segundo ele o pau não ficou duro o suficiente e até amoleceu assim que tocou nas partes íntimas da garota. Ele sabendo que eu tenho um pai médico, veio me pedir ajuda. O que eu respondo para ele? – felizmente essa conversa estava sendo pelo telefone, pessoalmente, cara a cara com meu pai eu acho que não teria coragem de abordar o assunto, uma vez que ele ia sacar de pronto que não existia nenhum colega, que quem precisava das respostas era eu.
- Bem, nessa idade ele não deve ter problema algum de saúde para não ter conseguido transar, pode ter sido a ansiedade em mostrar serviço, pode ser que a garota não lhe inspirou tesão suficiente, o que uma conversa franca com a garota poderia esclarecer. Se isso não funcionar, talvez valha a pena fazer uma consulta com um especialista para descartar qualquer hipótese de se tratar de um problema de saúde. – afirmou ele. – Diga a esse “seu amigo” que isso pode acontecer para qualquer homem em qualquer idade, que não deve dar muita importância ao fato de ter falhado uma vez, especialmente nessa idade. Nas próximas tentativas tudo vai acabar dando certo. – meu pai sabia que estava dando a resposta para mim, não para um suporto amigo.
Eu não sei o que nos leva a pensar nessa idade que nossos pais são as criaturas mais ingênuas desse mundo, que não percebem que estamos querendo engambelá-los com uma historinha sem muito nexo, que estamos com vergonha de abordar assuntos dessa natureza. Ficou evidente que meu pai sabia tratar-se de mim e não de um colega, especialmente quando concluiu a conversa com essa frase.
- Não custa reforçar o alerta para você nunca deixe de usar preservativos nessas situações, para não me aparecer aqui em casa com uma garota que engravidou, ou mesmo um neto antes de concluir seus estudos! – eu engoli em seco, minha estorinha não colou.
Quatro dias para eu obter os resultados dos exames pedidos pelo andrologista, os mais longos e torturantes que já passei. Em busca de mais respostas corri para a biblioteca da universidade que, por ter cursos na área da saúde, também dispunha de um vasto acervo para pesquisa. Os mais jovens que estejam a ler o conto vão ficar perplexos se questionando porque não recorri ao Google, ele tem todas as respostas a qualquer pergunta, saberia responder com toda certeza porque meu pau não endureceu. Mas, volto a lembrá-los, cursei a faculdade nos anos finais da década de 70, sim, era 1978 quando me vi nessa situação embaraçosa. Não se tinha computadores pessoais à mão, muito menos uma plataforma para fazer pesquisas, o que supria essa necessidade eram as velhas e tradicionais bibliotecas, abarrotadas de estantes onde o conhecimento se perfilava sob a forma de livros encostados um ao outro.
E lá estava eu, após a última aula, pesquisando os livros de medicina na esperança de um deles me dizer qual era o problema do meu pinto. Livros de anatomia, de patologia, de fisiologia folheados com afinco não esclareciam absolutamente nada do que eu precisava, de forma objetiva e rápida. Para examiná-los a fundo eu chegaria a uma conclusão quando já velho e quando, de fato, o meu pau já não se prestaria a grande coisa. Estava quase a desistir, quando um título numa capa verde escura chamou minha atenção – Teoria do sexo – era exatamente o que eu precisava, uma teoria que ensinasse a fazer sexo, a manter o pau duro e como o meter numa vagina para satisfazer uma mulher. Pus-me a examiná-lo num canto reservado da biblioteca, para não correr o risco de ser apanhado tentando aprender como se trepa, quando todos pareciam saber como fazer isso por puro instinto. Páginas e páginas do autor filosofando sobre o sexo, ensinar como fazê-lo de modo prático e rápido nem sinal. Eu não queria filosofar, eu queria simplesmente meter meu pau numa buceta, nada mais. Até nem teria sido tão ruim assim sair da biblioteca sem uma resposta satisfatória, mas ter sido flagrado pela Carol debruçado sobre o livro não podia ter sido vexame maior.
- O que está pesquisando? – indagou ela, sentando-se ao meu lado após me dar um beijo.
- Nada! – respondi sem nem pestanejar, fechando o livro com um só golpe.
- Como nada? Para que está com esse livro então? – insistiu ela.
- Nada de importante, eu quis dizer! Vamos até a cantina tomar um suco? – eu precisava me livrar dela ou do livro, o livro seria a solução mais rápida.
- Sim, podemos ir. Do que trata esse livro? – será que as mulheres são sempre assim tão curiosas?
- De nada! – outra resposta disparada sem pensar.
- Como assim, de nada? Quem se propõe a escrever um livro sobre nada? Você está bem, Rodrigo? Está me parecendo tão esquisito! – ela não ia dar sossego.
- Vamos sair daqui! Vamos lá tomar um suco. – disse, me levantando e tentando conduzi-la comigo pelo braço.
- Teoria do sexo? O que você está procurando num livro como esse? – questionou, ao se voltar rapidamente, escapando da minha mão e examinando a capa do livro que eu propositalmente havia empurrado para longe ao me levantar.
- Nada! – fiquei mais vermelho que um tomate maduro, meu segredo tinha ido pelo brejo, ela descobrira que além de ser virgem, eu não sabia como transar. Pode existir tragédia maior na vida de um garotão de dezenove anos? Logo descobri que sim, quando vi aflorar um sorriso nos lábios dela. Pronto, eu estava completamente desmoralizado.
- Está pesquisando por conta do que aconteceu lá na praia? Eu já te disse para não ficar preocupado com isso, acontece para todo homem alguma vez na vida. – como ela podia ter tanta certeza disso, nem sendo homem?
- Será que podemos parar de falar nesse assunto?
- Na próxima vai dar tudo certo, você vai ver! E não precisa ficar tão aflito, seu segredo está bem guardado comigo! – pode uma criatura ser tão insensível? Que bases ela tem para afirmar que na próxima vai tudo correr bem, se eu nem penso em ter uma próxima vez? Quantos homens ela conhece para afirmar que o cara vai brochar pelo menos uma vez na vida?
O que restou como lição desse episódio, foi que a Carol não tinha nada de ingênua que, apesar de eu não ter conseguido constatar que ela não era mais virgem naquela noite, ela já tinha se deitado com outros caras, e isso me fez perder o restante de interesse que tinha por ela. A certeza que se seriamos apenas amigos dali em diante nasceu junto com aquelas constatações.
- Olha, meu filho, seus exames não revelaram nenhum problema físico com seu membro. Tudo está exatamente como deveria ser. Sua queixa ao me procurar foi de que não conseguiu efetivar o ato sexual, isso acontece, e pode ser explicado, pela ansiedade, pelo estresse, ou por qualquer outra razão psicossomática e não deve ser nenhum problema para você se preocupar. Talvez a garota com que tentou não te deixou estimulado o bastante para consumar o ato. Você é jovem, vai conhecer outras garotas pelas quais vai estar mais fissurado e tudo vai transcorrer naturalmente. – diagnosticou o andrologista no regresso à consulta.
Em outras palavras, não senti tesão pela Carol, concluí. O hilário nisso tudo, é que meu subconsciente já sabia disso. E não seria apenas com a Carol que eu não sentiria tesão suficiente para uma transa, qualquer outra mulher me levaria ao mesmo resultado, um pinto sem desejo de se alojar numa buceta. A despeito dessa descoberta, meu namoro com a Carol não findou por causa disso, a troca de carícias e beijos se manteve como antes e, para todos os efeitos ninguém suspeitava que aquele namoro jamais daria em nada, à exceção de nós dois.
A Carol e eu fazíamos uma pesquisa na biblioteca sobre a arquitetura medieval para um trabalho a ser entregue ao professor na semana seguinte. Dos janelões da biblioteca avistavam-se as quadras de esportes, e era delas que vinham os gritos dos rapazes do time da universidade treinando para o campeonato estadual de futebol. Minha mente estava mais nas quadras do que nos livros abertos à minha frente. Caminhei até a janela e fiquei a observá-los correndo insanamente atrás daquela bola com o intuito de a meter entre as traves. Nunca era difícil reconhecer o Pedro entre os 20 jogadores que corriam pelo campo, ou pela camiseta quando o time as usava ou por sua atuação destacada. Naquela manhã de sol tímido o time dele atuava descamisado e seu torso másculo e suado reluzia quando os raios do sol o atingiam. Eu parecia estar hipnotizado rente à vidraça, conhecia cada pequena pinta que havia naquele torso, conhecia cada músculo sob a pele dele, conhecia cada fio de pelo que formava uma cruz entre seus mamilos e descia pelo abdômen trincado até se juntar aos pubianos.
- Desça lá e vá ficar com ele! – disse a Carol às minhas costas sem que eu tivesse notado sua aproximação. – Deixa que eu termino a pesquisa, falta pouco mesmo!
- Você não se importa? – perguntei
- Você está apaixonado por ele, não é? Foi por isso que não rolou nada entre nós naquela noite na praia, não é? – a pergunta me atingiu como se houvesse levado um soco na barriga. O que responder sem mentir? Calei-me. O silêncio fala por si mesmo.
- Eu sinto muito, Carol! Sinto muito mesmo, nunca quis te magoar! – respondi sincero, após avaliar as possíveis consequências de uma resposta como aquela.
- Não se preocupe, não vou contar nada a ninguém! Fica sendo outro segredo apenas nosso. – afirmou ela. Senti uma vulnerabilidade estranha depois de ela afirmar – outro segredo apenas nosso – eu nunca estivera numa situação tão suscetível a ser chantageado.
Um daqueles sorrisos deliciosos se abriu na face fatigada do Pedro quando me viu na beira do campo, era como se sua inspiração e força estivessem ali para apoiá-lo. De fato, no restante do treino ele enfiou mais cinco bolas no gol, sendo ovacionado pelos colegas. Antes do time correr para os vestiários ao final do treino, ele me jogou a camiseta que havia usado no primeiro tempo da partida, pedindo que eu o esperasse na saída do vestiário para almoçarmos juntos. Segurei a camiseta embolada nas minhas mãos até ter a certeza que todos os rapazes estavam a uma boa distância, e a levei ao rosto, aspirando o cheiro másculo dele, antes de a enfiar na minha mochila. Cheirar suas camisetas e até as cuecas tinha se tornado um hábito que eu fazia escondido para ele não notar. Era apenas mais um dos muitos que se incorporaram ao meu cotidiano desde que passamos a dividir o apartamento. O observar em silêncio enquanto dormia ou cochilava no meu colo após pegar no sono enquanto estudávamos, morrendo de vontade de beijar sua boca ou pousar um leve toque dos meus lábios sobre suas pálpebras, sentir uma comichão nos dedos que queriam percorrer o contorno de seu rosto hirsuto e viril, sentir a boca se enchendo de saliva quando ele acordava pela manhã com a ereção descomunal distendendo sua cueca eram outros desses hábitos que se criaram no meu imaginário. Eu me sentia mortificado com a possibilidade de ele vir a descobrir todas essas leviandades e se revoltar terminando com a nossa amizade. Fui me enclausurando em mim mesmo para que nada daquilo viesse a transparecer, tornando-me introvertido e perdendo o pouco de espontaneidade que me restava.
- A final do campeonato é amanhã, não me vá arrumar nenhuma desculpa para não estar lá me vendo jogar! – determinou o Pedro, que não parou de me perturbar depois que faltei aos seus dois últimos jogos.
- Está bem, faz uma semana que você não fala noutra coisa. Vou fazer o possível para estar lá. – respondi.
- O possível não! Você vai me jurar que vai estar lá, Rodrigo!
- Sim, então estarei lá, prometo!
Tratava-se de um campeonato estadual de times amadores, mas para o Pedro era como se fosse a final de uma Copa do Mundo. Ele andava elétrico, tinha abandonado os estudos nas duas últimas duas semanas e deixado de ir a algumas aulas só por conta desse campeonato. O curso dele de engenharia jamais chegou a despertar tanta paixão quanto aquelas partidas de futebol e, a cada prova ele se via obrigado a resgatar todo o relapso que se dera por conta desses jogos. Ficava então agoniado, me pedia ajuda com os trabalhos, queria que eu estivesse o tempo todo ao lado dele enquanto estudava, preferencialmente com os livros e apostilas sendo devorados com sua cabeça repousada no meu colo. Assim que ficava sabendo das notas e de que tinha sido aprovado na disciplina, vinha me abraçar e me cobria de beijos, como forma de agradecer pelo apoio recebido.
- Não sei o que faria sem você na minha vida! – exclamou ele uma vez num desses rompantes. Foi o bastante para meu coração se encher de esperanças.
Naquele mesmo dia tivemos uma briga, a mais feia que já tivemos. O pivô foi a Carol que havia nos encontrado na lanchonete da universidade durante o almoço após o treino. O Pedro se sentia incomodado em ter que dividir a minha atenção com ela, e suspeito que ela era astuta o bastante para perceber esse incomodo e saber usá-lo a seu favor. Ela se sentou ao meu lado interrompendo a nossa conversa, passou o braço pelo meu pescoço, me beijou e começou a tirar as batatas fritas do meu prato intercalando uma que colocava na minha boca outra na dela. O Pedro ficou com a sensação de que estava sobrando ali, e foi ficando calado e desconcertado. Meu meio de campo entre os dois pareceu nunca ter trazido o resultado que eu esperava, que eles também se tornassem amigos, e assim pudéssemos conviver em harmonia. Antes mesmo de terminar a refeição, o Pedro se levantou e foi embora, enquanto ela fingia não ter notado o aborrecimento dele, rindo ao se despedirem.
- O que você tem com aquela garota? Esse namoro é mesmo sério? Você a ama? – questionou ele quando cheguei ao apartamento no final daquela tarde e ele se encontrava estirado sobre a cama de seu quarto com ambas as mãos apoiando a cabeça enquanto seu olhar perdido focava o teto, uma música melancólica tocando baixinho completava o cenário.
- Sim, acho que sim! – respondi, me sentindo hediondo por lhe mentir tão descaradamente. Mas, ele precisava continuar acreditando naquele namoro para não suspeitar dos meus sentimentos por ele.
- Você está cada dia mais distante de mim! Vai chegar um momento em que vai me abandonar de vez! – disse ele, sem me olhar e quase como se estivesse falando consigo mesmo.
- Não viaja! São duas situações distintas, uma não tem nada a ver com a outra. - devolvi
- Vai sim! Se continuar ao lado dela, vai com certeza! – afirmou.
Observei-o calado por uns instantes e depois deixei o quarto. Se continuasse ali cometeria uma loucura, me atiraria sobre ele, o cobriria de beijos e lhe juraria que jamais o abandonaria de tanto amor que sentia por ele. Era com esse tormento me avassalando que estava vivendo cada um daqueles dias, e já não o suportava mais. Eu precisava me afastar do Pedro ou, a qualquer instante, a tentação me levaria a cometer um desatino, a verdade viria à tona e eu o perderia para todo o sempre. Amargurado, decidi não ir ao jogo da final do campeonato. Ele ia ficar uma fera comigo, mas ao menos não suspeitaria que meu comportamento estava atrelado àquela paixão proibida.
Eu não fui, mas a Carol sim. Ela não me tinha dito nada que queria assistir à partida, e mesmo assim foi. Desta maneira fiquei sabendo que o Pedro me procurava desesperadamente entre a plateia na arquibancada, que estava disperso no jogo e havia perdido lances importantes que em outras circunstâncias teriam sido convertidos em gols. Os adversários eram hábeis, o jogo seguia equilibrado, a Carol torcia pelo time da universidade e talvez mais por um jogador específico. Quando a viu, o Pedro se animou achando que eu devia estar por perto, embora não conseguisse me localizar enquanto driblava os adversários e se tornava mais uma vez o artilheiro do time, que acabou vencendo o campeonato por uma margem expressiva de gols.
- O que faz aqui, onde está o Rodrigo? – perguntou-lhe o Pedro ao final da partida quando os jogadores comemoravam a vitória.
- Ele não veio! Ficamos de nos encontrar aqui, mas ele não apareceu! – mentiu ela, parabenizando-o festivamente.
- Por que ele não veio? Ele sabia que era importante para mim que estivesse aqui. – devolveu o Pedro.
- Não sei! Ele anda muito esquisito ultimamente, não sei o que se passa com ele. – retrucou ela. – É tudo culpa sua! – exclamou exasperada e encenando um choro.
- Culpa minha? O que você quer dizer com isso? – indagou o Pedro, sem entender o que se passava.
- Nada! Deixa para lá! Você não ia entender nunca! – continuou ela chorando vitimizada, e sabendo o quanto os homens ficavam sensibilizados com o choro de uma mulher frágil.
- Vocês brigaram? – questionou o Pedro. Dessa vez a pergunta não esperava pela mesma resposta que quando havia sido a mim.
- Me desculpe pelas palavras duras, não quis ser rude com você! É que fui rejeitada recentemente. – lançou ela, como se estivesse lançando o anzol para fisgar o peixe pelo qual começara a se interessar ao ter a certeza de que comigo nunca teria aquilo que queria.
Para machos alfa como o Pedro que gostam de ser seduzidos e idolatrados, aquela suposta fragilidade soava como um chamado por sua virilidade. Nessa hora esses machos não hesitam, vão à escolhida sem lhes dar chance de recusar e escapar, cientes de que as mulheres imediatamente se apaixonam por eles, e se apaixonam fortemente. Isso era tudo que a Carol almejava depois de ter se frustrado comigo. Por algumas semanas ela se fez de difícil com o Pedro, o bastante para deixá-lo comendo em suas mãos, e então desferiu o golpe final, propondo-lhe namoro. Espontaneamente ele não se interessaria por ela, mas como a viu fragilizada e desamparada, caiu na armadilha. Afinal, ele era macho e machos não dispensam uma mulher, sob a suspeita de não serem tão machos assim.
O Pedro continuava com um desempenho sofrível nas disciplinas e à véspera das provas me pedia ajuda.
- Como é que posso estudar com você se não entendo nada dessas disciplinas? – questionava eu.
- Ficando aqui comigo, lendo esses livros para mim, conferindo as soluções dessas questões de exercícios. – suplicava ele, com aquela cara de desamparo que ressoava em meu peito sem que eu lhe negasse nada.
Com isso eu deixava de lado os meus estudos, chegava às provas sem ter estudado o suficiente, o que se refletia no meu desempenho e nas minhas notas, me afundando num lodaçal de complicações, até quase me ver perdendo o ano por conta das notas baixíssimas.
Usei esse pretexto para me afastar da Carol, o que lhe facilitou imenso a vida e a consciência, ficando livre para se encontrar com o Pedro sem eu saber. Enquanto ele me acusava de estar me comportando estranhamente, eu também o notei diferente, estava muito cheio de si, mal parava em casa, suas saídas noturnas não raro só terminavam com ele regressando ao amanhecer. Como eu tinha problemas maiores a resolver, não o questionei. Às vezes, o flagrava me encarando, como se estivesse prestes a me fazer uma revelação, mas depois parecia desistir do intento, por pura e simples falta de coragem.
Segredos costumam ter vida curta, especialmente quando não se tem muito compromisso em escondê-los. Foi através de um dos colegas do time de futebol que eu descobri que o Pedro e a Carol estavam namorando. Isso explicava tudo, a mudança no comportamento de ambos, aquela maneira desconfortável de se portar diante de mim.
- Você não detestava o Pedro, por que o seduziu e começou a namorá-lo? – perguntei à Carol, após tê-los flagrado se beijando aos amassos num dos corredores da faculdade de engenharia.
- Nós íamos te contar, juro! Só não sabíamos como o fazer sem te magoar! Aconteceu de repente, sem que o percebêssemos, sem segundas intenções. – aquilo me soou como uma mentira deslavada, e tinha todos os indícios de uma vingança por eu não ter conseguido enfiar meu pau na buceta dela. – Nós íamos te contar, só estávamos esperando a ocasião certa!
- Existe uma ocasião certa para se trair um amigo, Carol? Você é a única que sabe do meu amor pelo Pedro – outro segredo apenas nosso – lembra-se de quando me disse essas palavras? Era essa a vulnerabilidade que queria que sentisse para não reagir ao que está fazendo comigo?
- Não, Rodrigo! Eu gosto de você, posso ter ficado um pouco frustrada por nosso namoro não ter dado certo, mas você é um amigo muito querido, eu juro! – respondeu ela
- Quer que eu acredite mesmo nisso? Você podia ter procurando outro homem para te satisfazer, mas escolheu exatamente o Pedro, o cara pelo qual sou apaixonado há anos, e quer me convencer que isso aconteceu ao acaso. Eu sei que sou muito mais ingênuo do que a maioria dos rapazes, mas não sou idiota. O fato de ser virgem não faz de mim um néscio, apenas um cara que não pode professar publicamente seus sentimentos por outro homem sem ser discriminado por isso. Foi dessa fragilidade que você se valeu para conseguir o Pedro.
- Eu estou arrependida do que fiz, juro! Lamento ter sido tão inescrupulosa e ter te magoado. – retrucou ela
- O Pedro sabe o que sinto por ele, você contou?
- Não, não contei nada! Eu mantive meu silêncio quanto ao nosso segredo como te prometi e nunca vou falar nada, juro!
- Você jura com muita facilidade, Carol! Eu não preciso jurar tanto para ser fiel às minhas amizades. – declarei.
Pelo restante daquela semana o Pedro me procurou feito um louco, depois que a Carol lhe contou que eu havia descoberto tudo. Fui procurar asilo na casa de um colega de classe não só para não ter que encará-lo, como para poder me preparar sossegadamente para umas provas importantes que definiriam meu futuro para aquele ano. Como não me encontrava, acabou invadindo uma das minhas aulas e me arrastando para fora da sala quando me recusei a acompanhá-lo.
- O que pensa que está fazendo? Ficou doido?
- Eu preciso te explicar o que aconteceu! Não quero perder a sua amizade! – disse ele, quando conseguiu me controlar.
- Não preciso de explicações, faça da sua vida o que bem entender, não tenho nada a ver com isso! – afirmei
- Tem sim e você sabe como é importante para mim! Eu te devo desculpas e explicações e você vai me ouvir até eu ter terminado. – impôs ele. Deixei-o falar o quanto quis.
- Vou deixar o apartamento no final do mês! Já conversei com meu pai e consegui outro lugar para morar. – comuniquei, assim que o discurso de desculpas dele terminou. Ele deu uns passos a esmo ao ouvir minha decisão, me prensou contra a parede e me proibiu de tomar tal decisão.
- Você não pode fazer isso! Eu não vou permitir! Ouça bem, Rodrigo, eu não vou deixar! – exclamava ele erguendo o tom de voz a cada frase, com o rosto colado ao meu.
- Não é você quem decide o que eu posso ou não fazer da minha vida!
- Você jurou que nunca me abandonaria! Não faz isso com a gente, Rodrigo! – de tão transtornado ele se valia de cada artimanha para evitar que eu deixasse o apartamento.
- Preciso voltar para a minha aula!
- Você volta para casa hoje após as aulas?
- Não, Pedro! Não volto! Um dia qualquer passo por lá para pegar as minhas coisas. – ao me sentar para assistir o restante da aula, as lágrimas gotejavam sobre o caderno no qual fazia minhas anotações.
Sabendo que eu não estaria no apartamento, a Carol foi até lá esperar pelo Pedro para passar a noite com ele, com uma chave que eu lhe havia dado certa vez para que pudesse entrar quando nos reuníamos para estudar ou fazer trabalhos. No início da madrugada ela continuava esperando por ele quando o telefone tocou. Do outro lado da linha um policial dava conta de que o Pedro havia se envolvido num acidente com a motocicleta e fora transferido para um hospital. Não querendo se envolver na situação, ela ligou para a casa do colega de classe onde eu estava asilado provisoriamente, pois nos tinha visto juntos nos últimos dias.
Saí feito um desesperado rumo ao hospital quando meu colega me deu a notícia, prontificando-se a me levar até lá. Durante o trajeto que me pareceu interminável, eu cerrava os punhos com tanta força que meus dedos ficaram isquêmicos, só imaginando em que estado iria encontrar o Pedro. Um nó sufocava a minha garganta. Felizmente o estado dele não era tão grave. Radiografias e tomografias mostravam que não houve fraturas nem trauma craniano. As lesões se limitavam a duas lacerações, uma na perna esquerda outra no ombro do mesmo lado que estavam sendo suturadas, e escoriações nas costas que foram desinfetadas e receberam a cobertura de um emplasto. Enquanto cuidavam dele, eu permanecia parado e calado observando a equipe médica trabalhar. O Pedro tinha me visto chegar e manteve o rosto inexpressivo. Quando o liberaram, pedi ao colega que nos esperava do lado de fora para que nos levasse até o apartamento. Após algumas perguntas que ele fez ao Pedro querendo saber o que tinha acontecido, e às quais ele não respondeu, ele nos deixou em casa. Ajudei o Pedro a se livrar das roupas sujas e ensanguentadas, limpei-o superficialmente com uma toalha úmida e o levei para a cama dele. O cheiro de álcool podia ser sentido de longe escapando com seu hálito, e a expressão anuviada indicava que ainda havia muito dele circulando em suas veias. Devido as escoriações nas costas ele ficou largado de bruços sobre a cama, murmurando palavras indecifráveis de quando em quando. Deitei-me ao lado dele para velar seu sono, arriscando-me a tocá-lo suavemente com as pontas dos dedos, pois sabia que ele dificilmente se recordaria desses toques ao amanhecer. Por fim, exausto, também adormeci.
Voltei a acordar com um peso deslizando para cima de mim. Primeiro foi o braço musculoso do Pedro procurando me envolver e me trazer para junto dele, notando que aquilo lhe era insuficiente, foi inclinando seu tórax sobre o meu, seus olhos não estavam bem abertos, o que me levou a suspeitar que estivesse apenas se acomodando à cama. Como ambos usavam apenas a cueca, as peles se tocando pediam por mais contato. Seus olhos se abriram e me encarou. Sem dizer nada, aproximou seu rosto do meu e me beijou, um beijo desengonçado que parecia não conseguir um encaixe perfeito. Veio o segundo, com ele fixando meu rosto entre as suas mãos e colando com firmeza sua boca à minha.
- O que está fazendo, Pedro? Para com isso! – exclamei quando consegui desvencilhar meus lábios dos dele. Ele apenas continuou me encarando.
Ao mesmo tempo em que consuma o terceiro beijo, com sua língua instigando a minha, ele subiu em mim. Meus esforços para tirá-lo de cima de mim não foram bem-sucedidos, eu o empurrava para longe mas pesado como era não consegui afastá-lo, teria que me debater com mais força correndo o risco de atingir um de seus ferimentos, o que eu não queria. Seus beijos se tornaram vorazes, vinham carregados de tesão que também se manifestava no caralhão duro que me roçava as pernas.
- O que você prende com isso, Pedro? Por que está fazendo isso comigo? Eu não quero! – asseverei, embora já não tivesse mais certeza de nada. Ele continuou calado, investindo sobre mim tomado pela cobiça.
Como eu não parava de me debater, ele começou a usar a força, empurrou-me com firmeza contra o colchão, prendendo meus braços na altura da minha cabeça, seu olhar me penetrava, resoluto e impaciente, tal qual minha resolução de escapulir. Ele então me virou de bruços, montou em mim, puxou minha cueca até quase os joelhos. Com o cacetão completamente livre ele o fazia deslizar ao longo do meu rego estreito, emparedado pelas nádegas firmes e quentes. Meus pedidos para que me soltasse não surtiram efeito. Minha rosquinha anal já sentia a glande úmida que pressionava seu orifício diminuto. Completamente subjugado, senti meu cuzinho se rasgando para dar passagem ao caralhão que mergulhava dentro dele. Gritei, agarrei-me a cabeceira da cama procurando algum suporte; uma dor fina, mas lancinante, como se uma faca estivesse me cortando a carne me fazia perder a coordenação da respiração. Gritos e ganidos se sucediam como única forma de eu aguentar aquela dor do cu sendo dilacerado pelo cacetão fogoso dele. Seus beijos molhados percorriam minha nuca e meus ombros, seus braços envolviam fortemente meu tronco e um dos meus mamilos era esmagado entre os dedos de sua mão. Fui ficando imóvel, deixando de resistir, permitindo que ele fosse entrando em mim cada vez mais fundo. Senti toda enormidade dele atolada em mim, latejando tal qual um animal convulsionando nas minhas entranhas. Junto com o vaivém cadenciado vinham as estocadas brutas que visavam me manter submisso, a despeito de eu não ter a menor intenção de abdicar delas. Eu finalmente tinha o Pedro em mim, fazendo parte do meu corpo, seus frêmitos em perfeita sintonia com meus espasmos. À medida em que a dor se diluía, florescia o prazer, o mais sublime que eu já havia sentido. Meus esfíncteres se contraíam quase involuntariamente, apertando aquela tora grossa e intrépida que latejava no meio deles. Os rugidos e a sanha com que o Pedro me devorava só aumentava, com ele sentindo meu cuzinho apertando seu falo. Ele foi me estocando, bombando energicamente meu cu, esfolando minha mucosa virgem e sensível, destroçando minhas exíguas pregas anais, eu podia sentir o caralhão inchando, até sobrevir o gozo urrado feito o de um animal selvagem, despejando-se inteiramente no casulo que o acolhia, após seu corpo todo estremecer. Os jatos de porra densa eclodiam feito a lava de vulcão, inundando meu cuzinho e aplacando a ardência que queimava dentro dele, enquanto escorriam pegajosas lentamente sobre a mucosa esfolada. O Pedro arfava junto ao meu rosto, virou-o em sua direção e cobriu minha boca com seu beijo dominador, mesclando sua saliva inebriada com a doçura amorosa da minha. Naquela mesma posição em que me fodeu, ele adormeceu, sem tirar o cacetão do meu cuzinho. Eu não me mexia, estava em dúvida se tudo aquilo não passava de um sonho e, para ter certeza, eu precisava do peso de ele, de seu suor colando os pelos do tórax dele nas minhas costas, de sua respiração ficando serena e profunda. Ele já dormia há algum tempo quando se virou para o lado e com isso sua pica cabeçuda saiu do meu cu, causando uma ligeira dor antes de deixar uma última esporrada no meu reguinho.
Relutei muito antes de sair da cama, temendo que ao fazê-lo fosse perder o sumo viril do Pedro que formigava no meu rabo, e aquilo era tudo o que eu tinha dele, um tesouro inestimável que era só meu. Contudo, ele não podia me encontrar quando acordasse, porque ele, ao contrário de seu sêmen, já não me pertencia. Era a Carol quem o tinha, e não precisava se esconder ao professar essa posse. Deixei o apartamento quando as derradeiras estrelas ainda faiscavam no céu começando a ganhar tons alaranjados na linha do horizonte. Perambulei pelas ruas sem coragem de ir à casa do colega onde estava hospedado àquele horário temporão. Cada passo me era custoso e dolorido, assinalando que meu cu estava detonado. As entranhas se contorciam em cólicas, me fazendo perder a coragem de ir ter a qualquer lugar. Eu só queria uma cama para repousar o esqueleto e a alma atribulada com o que tinha acontecido. Agora sim eu tinha um segredo a ser mantido a sete chaves, não era nada tão banal quando meu pinto haver me deixado na mão na hora H, nem tão simples quanto uma testemunha poder revelar minha sexualidade precisando para isso ser isenta de qualquer interesse. Um macho havia acabado de me desvirginar, minha sexualidade não estava mais sob suspeita, ela era franca e assumidamente homossexual. Se desde que a Carol presenciou meu fracasso sexual e minha paixão pelo Pedro eu já me sentia coagido por ter meus segredos em mãos alheias, agora eu estava definitivamente perdido se soubessem que um macho havia fodido meu cu. Com esse turbilhão de pensamentos vagando em meu cérebro eu fui ter à porta da casa do meu colega de turma. Felizmente ele já havia saído para a faculdade e os pais para o trabalho, a empregada que me franqueou o acesso, encarou incrédula aquele farrapo humano que passou por ela. Arranquei as roupas que cobriam meu corpo, meti-me debaixo da ducha e deixei a água morna lavar o sangue do meu reguinho e o sofrimento da minha alma. Quando me estirei sobre a cama, adormeci com o rosto banhado em lágrimas. No apartamento, o Pedro acordou e não encontrou ninguém, apenas uma mancha rubra tingia o lençol onde eu estivera deitado recebendo sua dominância sendo introduzida e despejada em mim.
Por três dias não fui às aulas, perdendo inclusive uma prova decisiva. Eu estava tão machucado que mal podia me sentar no âmbito físico, no âmbito psicológico a devastação ainda não podia ser mensurada.
- O que aconteceu depois que deixei você e seu amigo no apartamento após o acidente? Por que você voltou nesse estado, Rodrigo? Você não tem ido às aulas, perdeu a prova que pode te fazer perder o ano, o que se passa com você? Está doente, precisa que eu avise sua família? – questionou meu colega preocupado com meu desânimo.
- Eu vou ficar bem, não se preocupe! Me desculpe estar dando todo esse trabalho.
- Não é trabalho algum, Rodrigo! Você sempre foi um bom amigo, todos na turma estão preocupados com seu sumiço. – revelou meu colega.
Nesses dias todos nem o Pedro nem a Carol se atreveram a entrar em contato, eles sabiam que as coisas haviam desandado depois que descobri que estavam juntos, me escondendo o fato. Quando voltei à faculdade o Pedro veio ter comigo.
- Como você está? – ele quis me tocar, mas me esquivei de sua mão.
- Bem, e você? Como estão os machucados? – ele não respondeu.
- Me perdoa Rodrigo! Você é meu melhor amigo, eu não podia ter feito isso com você! Me perdoa! – suplicava ele, sem que eu atinasse se estava a me pedir perdão por ter se deitado com a Carol, ou se por ter me tirado a virgindade.
- Eu preciso ir, perdi uma prova e o professor foi generoso me dando a oportunidade de fazê-la essa tarde em seu gabinete. – disse me afastando dele.
- Precisamos conversar! Não estou aguentando ficar longe de você! Vamos para casa, lá teremos a privacidade necessária para essa conversa. – sugeriu ele.
- Não, Pedro! Será que você não pode me deixar em paz? Eu posso perder o ano por sua causa! O mundo não gira em torno dos teus interesses! Me solte! Você não me ouviu dizer que tenho um compromisso importante? – devolvi zangado.
- Então depois das aulas, nos encontramos lá em casa. E traga suas coisas de volta, seu lugar é lá, junto comigo, Rodrigo! – dei-lhe as costas e me dirigi apressado para a aula que já devia ter começado.
Como não fiz nada do que ele havia pedido, no dia seguinte foi a Carol quem veio ter comigo. Ela começou com aquela ladainha de que estava arrependida de ter se infiltrado na minha amizade com o Pedro, que lamentava as coisas terem acontecido como aconteceram, queria meu perdão e que eu voltasse a morar com ele no apartamento pondo um fim naquela desavença sem sentido.
- Eu não posso, Carol! Simplesmente não posso! O que você me pede é mais do que sou capaz de oferecer. Me pedir que a perdoe é impossível, ainda estou magoado demais, quem sabe algum dia eu o possa fazer, mas no momento não. Você sabia dos meus sentimentos para com o Pedro, era a única pessoa que sabia disso e, apesar disso, deu em cima dele para conquistá-lo, terminando com as poucas chances que eu tinha de ele um dia perceber o quanto eu o amo. Por sua vez, o Pedro só me dá importância quando precisa de alguma coisa, é um egoísta egocêntrico que pensa que o mundo gira só em torno dele. Eu cansei de ser usado, fiz isso a vida toda desde que éramos crianças. – justifiquei, pouco me importando com o arrependimento dela.
O Pedro e eu conversávamos sobre tudo, a vida de cada um era um livro aberto para o outro, mas desde que meus sentimentos por ele começaram a me sufocar por não poderem ser expressos, e da Carol ter entrado nesse nosso mundinho privado, eu já não lhe contava mais nada do que se passava comigo. Com a minha saída do apartamento isso se acentuou e, além de se ver privado da minha companhia, não tinha mais notícias a meu respeito. Nessa questão é que residia a bronca dele, que me cobrava por não lhe dizer mais nada, que ficava sabendo do que se passava comigo ou pela Carol ou por outros colegas, que eu já não me importava mais com ele, e que não estava entendendo porque eu fazia essas coisas com a nossa amizade. Ao passo que eu questionava a mim mesmo, se você notou tudo isso, por que também não notou o quanto eu te amo, sua toupeira?
Quando estava aborrecido por demais, ele vinha atrás de mim, me procurava pelos corredores do prédio da faculdade de arquitetura, onde eu geralmente estava cercado pelos colegas de turma, exigindo explicações e notícias. Se eu lhe respondesse que estava ocupado e que não podia conversar naquele momento, ele armava uma cena diante dos meus colegas, me envergonhando e constrangendo, só para que o acompanhasse até um lugar mais discreto onde podia despejar suas frustrações sobre e mim e me fazer cobranças.
- Juro que não entendendo por que está tão zangado comigo! É por causa da Carol? Você acha que eu deixei de gostar de você por causa dela? Isso não é verdade, acredite! Minha amizade por você é a mesma, e eu queria que a sua por mim também continuasse como sempre foi, Rodrigo. – afirmou.
- Eu não tenho nada com a Carol, como você bem sabe, nunca tive. Aquilo que rolou entre a gente era tão somente um coleguismo, uma vez que, depois do que ela fez, eu não teria como chamar aquilo de amizade. Amigos não mentem, não traem. Quanto a você, me fartei do seu egocentrismo, você se acha irresistível, aquele a quem todos devem bajular. O melhor que temos a fazer é nos afastar, assim ninguém se machuca. – retruquei
- Não! Eu não quero ficar longe de você! Nem adianta me pedir um absurdo desses. Eu não vou me afastar e nem vou permitir que você o faça! – asseverou impositivo.
As semanas iam passando e ele notava que eu estava cada vez mais distante apesar das inúmeras tentativas que fazia para me convencer a voltar a morar com ele. Chegou mesmo a apelar aos meus pais, numa ligação que lhes fez contando que eu havia deixado o apartamento. O resultado disso, foi que meu pai me ligou cobrando explicações.
- O que está acontecendo por aí, Rodrigo? Por que você não nos comunicou que saiu do apartamento? Você e o Pedro brigaram? Ele nos contou que você está tendo atitudes estranhas. Posso saber que atitudes são essas? O que se passa, Rodrigo? – perguntas, perguntas e mais perguntas, todos me cobrando justificativas pelos meus atos.
- Não está acontecendo nada! Eu só resolvi me mudar para um lugar mais próximo da faculdade, agora posso ir a pé sem depender da carona do Pedro. – respondi
- E seu desempenho escolar, o Pedro me disse que você tem notas baixíssimas, que até corre o risco de reprovar, isso é verdade, Rodrigo?
- Mais ou menos, pai! Não é bem assim! Não sabia que o Pedro anda fazendo fofoca com vocês.
- Essa sua resposta não me convence, Rodrigo. Se estiver acontecendo alguma coisa por aí eu e sua mãe queremos saber, e preferencialmente pela sua boca, está me entendendo? – pronto, meu sossego tinha acabado, com essas suspeitas todas meus pais não iam me deixar em paz.
Por acaso, encontrei o Pedro alguns dias depois numa festa que as turmas dos últimos anos da universidade haviam promovido. Tão logo me viu ele veio conversar comigo, aproveitei a chance para dar uma bronca nele por ter ligado para os meus pais fazendo fofoca. Obviamente acabamos discutindo outra vez. Passei o restante da noite com outros colegas, ignorando o Pedro e Carol. Em dado momento, de longe, vi que os dois também estavam tendo uma discussão. Me pareceu que o Pedro estava mais marrento do que nunca.
- Venha conosco, estamos indo para o litoral, numa festa de uma amiga da Carol! – vieram os dois me convidar, um com a cara pior que outro, confirmando minhas suspeitas de uma briga entre eles.
- Não! Não vou a festa alguma a essa hora, muito menos com vocês! – respondi
- Vai você começar também, Rodrigo? Faz tempo que não saímos juntos, e você está intimado a vir conosco. – retrucou o Pedro irritado
- Eu não vou, Pedro! Não insista! Não tenho nenhuma disposição para sair com você.
- Então me explica o que está acontecendo, Rodrigo! Eu te disse alguma coisa que o deixou chateado? Eu fiz alguma coisa que te aborreceu? Fale, Rodrigo! Fala comigo, caralho! Por que você não fala mais comigo? – indagou zangado.
- Por favor, Rodrigo, não me deixe sozinha com o Pedro, ele está insuportável e briga por qualquer besteira. Venha conosco, eu te suplico. – a Carol estava assustada, e isso me preocupou.
- Deixe-o ir sozinho, fique comigo, mais tarde te deixo em casa. – respondi
Você não está entendendo, é a sua companhia que ele quer. Por favor, Rodrigo, ceda, eu te peço.
- Como assim é a minha companhia que ele quer?
- Não dá para te explicar isso aqui e agora. Apenas venha conosco.
- Não, Carol! O Pedro precisa aprender que não é o centro do mundo. – devolvi com firmeza.
- Ele esteve conversando comigo esses dias, por estar aborrecido com você. Me contou que você sempre o ajudou, sempre esteve ao lado dele, e que ele não saberia viver sem você. Eu não precisei que ele dissesse mais nada para compreender que é com você que ele quer ficar e não comigo. Por mais que me doa ouvir isso da boca do meu namorado, tenho que admitir que estou sobrando nesse trio. Eu devo estar sendo castigada por ter me metido entre vocês dois, gerando toda essa situação. Se não por mim, venha conosco pela sua amizade com o Pedro, por tudo aquilo que vocês já tiveram e tem juntos. – implorou ela.
Eu precisava aprender a dizer não para as pessoas, a me recusar a fazer o que me pediam quando não queria fazer essa coisa. Se, quando garoto, naquele primeiro ano do colégio eu tivesse dito para a diretora com todas as letras que não ia fazer o que ela estava me pedindo, talvez eu não estivesse nessa situação hoje, talvez meu não de hoje fosse respeitado, mas eu nunca aprendi a dizer não, pois invariavelmente acabava me sentido culpado depois.
Não sei de quem o Pedro tinha emprestado aquele carro, um Ford Corcel, com o qual descemos a serra. Chegados à Baixada Santista, notei que ele não tomou o rumo da cidade, que enveredou por uma estrada que levava a praias mais desertas ao sul.
- Para onde está indo? Onde é essa festa? – perguntei irritado, pois começava a pressentir que havia caído numa cilada.
- Em breve você vai ver! – respondeu o Pedro, enquanto a Carol, no banco traseiro, baixava o olhar sem coragem de me encarar.
- Se vocês estiverem aprontando alguma comigo, hão de se haver, estão entendendo. Eu não estou gostando dessa palhaçada! – ameacei.
Saindo da estrada asfaltada, ele percorreu mais uns 500 metros por uma estradinha de areia até chegar à praia, totalmente deserta àquela hora da madrugada, passava das duas da manhã quando conferi o relógio. Ele desceu e caminhou até um banco de areia, sentando-se e observando o horizonte. Eu não quis descer do carro, mas a Carol me pediu para nos juntarmos a ele.
- O que significa isso? Por que estamos aqui no meio do nada? – perguntei, furioso àquela altura, por me sentir enganado por ambos.
- Eu te trouxe aqui para você me dizer o que se passa com você, por que está agindo assim comigo, por que não me conta mais nada, sempre fui seu amigo, você me contava tudo, e agora está se comportando assim. Fale, Rodrigo! Estou esperando. – impôs o Pedro.
- Não tenho nada para te falar! Vamos embora, quero sair daqui!
- Você só sai daqui depois de falar comigo! – afirmou, me retendo pelo braço, que esmagou com sua mão forte, quando comecei a andar em direção ao carro. Eu o empurrei e ele voltou a me agarrar não me deixando caminhar.
- Me solte, Rodrigo! O que você pretende, quer arrumar uma briga aqui em plena madrugada? – revidei, enquanto ele me dava empurrões que quase me derrubaram.
Também comecei a responder com empurrões, não permitindo que ele segurasse meus braços. Após três ou quatro desses agride e revida, começamos a fechar os punhos e a nos socar mutuamente numa briga que ia se brutalizando. Os pedidos da Carol para que parássemos de brigar foram ignorados. O Pedro era mais forte do que eu, seus socos mais dolorosos, minha raiva crescia dentro de mim e eu batia nele com as forças de que dispunha. Estava levando a pior, ele já havia me derrubado, tanto na areia molhada quanto dentro da água algumas vezes, mas eu continuava a me defender e a socá-lo com todas as minhas energias.
- Parem com isso! Parem! Solta ele Pedro, você o está afogando! Solta Pedro! – gritava a Carol, quando ele forçava meu rosto dentro da água e eu me debatia sufocando.
Ela precisou montar nas costas dele antes de ele me soltar. Assim que consegui tirar a cara da água, comecei a tossir, pois havia me engasgado com a água salgada que entrou pelas narinas e pela boca. Cambaleei alguns metros me afastando dele, só então ele se deu conta do que tinha feito comigo.
- Você está bem, Rodrigo? – perguntou aflito
- Me solta! Larga, Pedro! – exclamei quase sem fôlego.
Foi a primeira vez que agredimos um ao outro em todos aqueles anos, nossas discussões nunca tomaram aquele vulto, e eu achei por bem colocar um ponto final em nossa história.
- É melhor não nos vermos nunca mais, Pedro! Cada um segue seu caminho e vai ser melhor! – ponderei.
- Como assim, nunca mais nos vermos? Nós somos amigos, eu não posso ficar longe de você! Eu só quero entender por que não está mais falando comigo! – retrucou
- Se eu te contar você nunca mais vai querer olhar na minha cara, a nossa amizade vai acabar de qualquer maneira! – respondi.
- O que você não quer me contar?
- Eu tenho um segredo, Pedro! Um segredo que já não estou mais suportando carregar comigo.
- Então me conte! Eu vou entender, sou seu amigo!
- Eu não consigo mais ser só seu amigo. Eu estou apaixonado por você, Pedro! Eu te amo! Não podemos mais ser amigos, por isso é melhor não nos vermos mais. – confessei.
Ele estava a uns dois metros de distância, olhou para mim, olhou para o horizonte negro onde não se distinguia o que era mar e o que era céu. A Carol segurava o choro em silêncio. Me virei e comecei a caminhar em direção ao carro. Ele me chamou.
- Rodrigo! Eu sei que você foi obrigado a cuidar de mim quando ainda éramos duas crianças, sei que você tentou se livrar dessa missão e, no começo, eu quis fazer você sofrer por ter me rejeitado, mas à medida que o tempo foi passando, eu comecei a gostar de você. Você era o único garoto que falava comigo, que interagia comigo quando todos me renegavam. Eu tinha medo de ficar sozinho, de ser isolado de todos, e você cuidou de mim sem reclamar e fui notando que já não o fazia apenas por imposição, você gostava de cuidar de mim. Quando entrei na puberdade esse meu gostar de você se modificou, eu te desejava, sentia tesão por você. E, desse tesão foi nascendo o que sinto até agora, eu amo você, Rodrigo! Você é a única pessoa que não é da minha família que eu já amei. – confessou ele.
O vento soprando do mar batia no meu rosto, eu não sabia o que dizer. A Carol chorava de soluçar, era o segundo homem que a trocava por outro homem. Não havia espaço para ela naquela história, e o peso disso ela sentiu naquele momento.
- Não vai me dizer nada? – perguntou o Pedro.
- O que você quer que eu diga?
- Que quer ficar comigo! Que vai voltar para casa! Que vai me amar como seu namorado! Qualquer opção dessas está valendo. – asseverou ele.
- E você acha que isso vai dar certo, dois homens se amarem? Ninguém vai aceitar isso! – argumentei
- Nós vamos fazer dar certo! Quando se deseja muito alguma coisa, a gente faz dar certo! E, eu sei que quero você e vou fazer de tudo para te fazer feliz! – devolveu ele, aproximando-se passo a passo, até seus braços me puxarem para junto dele e sua boca cobrir a minha.
Estava amanhecendo quando deixamos a Carol na casa dela. O caminho todo ela chorava no banco de trás do carro. Talvez eu estivesse me tornando um cara frio e insensível, mas o choro e as lágrimas dela me eram indiferentes. Essa garota fez o que pode para tentar acabar com o meu relacionamento com o Pedro, tudo de caso pensado, tudo bem ardiloso, mas acabou que não teve o resultado que ela esperava.
Era dia claro quando chegamos ao apartamento. Assim que adentrei à porta senti o cheiro de Pedro, aquele cheiro que me era tão familiar e que me fazia ter a certeza de que estava no lugar certo.
- O que foi, está muito bagunçado? Era você quem deixava sempre tudo arrumado! – disse ele quando me viu examinando o ambiente, parado no meio da sala.
- Não era isso que eu estava olhando!
- O que era então?
- Que eu sempre fui feliz aqui, tendo você comigo! – revelei. Ele sorriu e veio me abraçar, me deu um beijo demorado e apaixonado, antes de me puxar para o quarto.
Deixei que me despisse lentamente, beijando e lambendo cada parte que ia desnudando. Antes de arriar minha calça ele passou lasciva e possessivamente as mãos na minha bunda, enquanto sua língua vasculhava minha garganta. Havia uma ereção enorme dentro da calça dele que já formava uma rodela úmida no tecido. Quando conseguiu me deixar completamente nu, me trouxe para junto dele com as mãos espalmadas e amassando as minhas nádegas. Meu corpo ficou quente, tremia de desejo. Puxei a camiseta dele pela cabeça e espalmei minhas mãos sobre o tronco maciço dele, sentindo o quanto seu coração batia acelerado. Ele levou uma das minhas mãos sobre a ereção, e ela pulsava no mesmo ritmo acelerado e forte que seu coração. Abri a braguilha dele e a tirei para fora, envolvendo-a delicadamente na palma da mão.
- Cuida do seu macho, Rodrigo, cuida! – ronronou ele, com a voz libidinosa. E eu aceitei essa missão transbordando de felicidade, e nunca mais parei.
Enquanto isso, ele fazia a sua parte, cumprindo o que havia prometido na praia naquela noite, sendo o companheiro e amante mais atencioso e amoroso que alguém podia querer, fazendo a nossa felicidade dar certo, até hoje.