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Dona Lucida Casual, bem cedo, logo procura Levi Matos e o Smart Moles, dois rapazes residentes de medicina e bioquímica, respectivamente, que vivem em um dos apartamentos no segundo andar do prédio da rua Barata Ribeiro 221B, ao lado da padaria “Travessa do Padeiro”. O número da fachada, recentemente foi alterado pela proprietária do edifício, quando o pintou de verde, para facilitar as entregas em domicílio que aumentaram exponencialmente após a pandemia. Ela, ao chegar ao apartamento deles, aparentando preocupação e ansiedade, quer saber se os dois rapazes ouviram alguma coisa diferente naquele andar do prédio, na noite da véspera.
Levi Matos e Smart Moles, negam, estiveram fora toda a noite, Moles em trabalho num laboratório da indústria de cosméticos e Matos em um plantão de 24 horas na faculdade de medicina, até pela manhã. Eles haviam retornado há poucos minutos vindos da padaria e já estavam recebendo a visita da síndica.
Dona Lucida, angustiada, se benze, persigna e mastiga sem ter nada na boca. Seu estado de tensão parece ser bem grande.
Moles, sempre muito perspicaz, deduz que aconteceu algo grave, pois, a Dona Lucida não é de se preocupar com o que acontece ou deixa de acontecer nos apartamentos. O interesse dela, geralmente, está reduzido apenas em receber os aluguéis. Como proprietária da maioria dos apartamentos, ela atua como se fosse uma síndica permanente. Mas nunca fez questão de interferir na vida dos seus inquilinos, a menos que estejam em atraso nos aluguéis.
Smart Moles nota que ela está bem nervosa. E pergunta:
— Foi grave:
Ela assente:
— Parece.
Ele insiste:
— Faz tempo?
Ela nega, primeiro abanando a cabeça:
— Soube agorinha e vim de imediato aqui.
Dona Lucida pede sigilo e revela:
— O Sr. Gordon está muito intrigado pois encontrou a sua esposa, Marlene Ardent, em situação muito estranha e pouco usual.
— Como assim? — Quis saber o Dr. Matos.
— Com comportamento muito diferente do habitual, com um perfume desconhecido no ambiente e manchas no corpo.
Dona Lucida acrescenta que não teve ainda coragem de chamar o Inspetor Lousada, pois quer poupar o Sr. Gordon de passar vexame.
Levi Matos curioso questiona:
— Passar vexame por quê?
Naquele momento o Moles exclama:
— Elementar meu caro Matos. Comportamento muito diferente do habitual, sugere que ela fazia ou dizia coisas que soavam estranhas ao marido. E o perfume desconhecido e manchas no corpo sugerem que ela teve contato com substâncias que deixam cheiro característico e diferente do que ele, o marido, está acostumado. E pode ser que ela provavelmente estivesse nua, o que não é habitual.
Dona Lucida, admirada com as colocações do jovem Moles, pergunta:
— Como soube tudo isso? Ou melhor, o que o levou a saber se eu não contei? Por acaso já lá esteve?
Moles continuava a baforar seu inseparável cachimbo. Sua tranquilidade deixava dona Lucida mais admirada ainda. Ele sorria para ela enigmático por trás de seus olhos escuros como duas jabuticabas e respondeu:
— Não estive, mas sei, como também sei que estarei lá em poucos minutos, pois é exatamente isso o que a senhora veio fazer, me levar ao local, para verificar se consigo desvendar o enigma sem a necessidade de chamar o inspetor Louzada.
Dona Lucida, mais surpresa do que antes, concorda de imediato:
— Pois, é isto mesmo. Tu é um bruxo por acaso? Vamos? Mas antes, devo recomendar, por favor, tudo fica em sigilo.
Mole e Matos se levantaram de suas cadeiras e seguiram a senhora para fora do pequeno apartamento. Moles ainda usava seu jaleco branco de trabalho no laboratório. Ela, de corpo magro e esbelto, trajava um vestido preto, até no meio das canelas, decote alto, gola bordada e com mangas compridas. Mesmo no calor da cidade maravilhosa, ela sempre estava daquele jeito, discreta e sóbria, muito respeitosa e respeitadora. Ao vê-la caminhando à sua frente pelo estreito corredor, com suas ancas redondas e bumbum firme, fazendo toc, toc com o sapado social fechado, o Moles pensou nas informações que tinha sobre a zeladora e síndica do prédio. Uma senhora de seus 45 anos, viúva, perdera o marido muito cedo, numa das primeiras balas perdidas do Morro Dona Marta, em Botafogo, numa morte muito estúpida.
O falecido era técnico em instalações telefônicas, estava no alto de uma escada, trocando uns disjuntores de uma caixa de derivações, num dos postes, no início da subida do morro, quando de repente ele despenca lá de cima sem nem um ai, uma bala atravessara seu olho esquerdo, e entrando pelo orifício espedaçou seu cérebro. Já caiu falecido.
Ela nunca mais retirou o luto, mesmo sendo meio assediada pelos solteiros da vizinhança, depois que comprou vários dos apartamentos antigos do prédio com o dinheiro que recebeu da indenização e do seguro de vida do marido. E parecia ser incansável no exercício de sua atividade, esforçada por fazer com que o prédio tivesse a menor quantidade de problemas possível, e seus moradores não entrassem em conflito, visto que eram muitos, de todo tipo, atividade e feitio. Moles simpatizava com ela.
Chegaram na porta do apartamento ao lado, cinco metros adiante do deles. Eram vizinhos do casal. Dona Lucida deu três batidas rápidas na porta, seguida de uma quarta batida mais espaçada no ritmo: Toc, toc, toc.... toc. Indicativa de um código, um padrão. Na mesma hora houve um girar de tranca na fechadura e a porta se abriu um pouco, para a seguir se abrir mais, permitindo a entrada dos três na sala que era exatamente do mesmo tamanho da que os dois jovens profissionais tinham em seu apartamento ali ao lado. Uma sala de cinco metros por sete. Só que a decoração era completamente distinta. Um sofá ao lado da parede da porta e na parede em frente uma estante de madeira até no teto. Do Lado direito do sofá uma janela que dava para a rua, e em baixo uma mesinha pequena com um uma toalha de mesa cobrindo uma peça que Moles deduziu ser um computador de mesa. Na parede do lado esquerdo, uma mesa de jantar de madeira escura, antiga, com quatro cadeiras. E a porta do corredor que levava aos demais aposentos. Na estante da sala, além da televisão, um aparelho toca-discos ainda dos anos 80. Mas o olhar arguto de Moles tratou rapidamente de guardar a imagem mental de tudo e se concentrar na figura angustiada e tensa que estava à sua frente. O Sr. Gordon Horn Tag.
Moles e Matos já o conheciam pois cruzavam sempre com ele, ou pelo corredor, ou na padaria ao lado do prédio. Gordon, 45 anos, é um homem baixo, no máximo 1,65 m., cabelos castanho avermelhados, curtos e penteados com uma divisão ao meio, sempre cuidadosamente barbeado, olhos claros, boca de lábios finos, corpo normal, nem gordo e nem magro, sempre vestido de forma bem discreta, calça social de brim cinzento, camisa branca de tergal de mangas curtas, como um uniforme, deixando expostos os braços com pelos arruivados, e mãos pequeninas de unhas bem-feitas. Sempre calçado com um sapato Passo doble, com sola de borracha, modelo dos anos 60. É filho de imigrantes ingleses, criado e educado em Petrópolis.
Ele trabalha de noite como gerente de caixa de uma boate ali de Copacabana. É casado com a deliciosa Marlene Ardent, 29, uma prendada professora de língua inglesa, do conceituado colégio Mallet Soares, localizado ali perto, na rua Bolívar 121, esposa, dedicada ao marido, sempre muito educada com todos, sorridente e discreta, e que tinha sua reputação ilibada até começar a investigação.
Dr. Matos perguntou:
— Sr. Gordon, por favor, nos diga, o que houve?
O pobre homem aperta uma mão na outra, nervoso, olhava para os três ali à sua frente, e as palavras não saíam. Moles resolveu ajudar:
— O senhor, certamente, como todos os dias faz, fechou o caixa da boate ao amanhecer, e veio para sua casa caminhando, logo nas primeiras horas de sol. Comprou pães na padaria por volta das seis horas e trinta. Depois de dez minutos, aqui chegando, abriu a porta e então, se deparou com a tal situação anômala.
O Sr. Gordon, suspirou, passou a língua nos lábios para umedecê-los, com olhar bem assustado, e ficou ali diante do rapaz como se tivesse visto o próprio demônio. Dona Lucida e o Dr. Levi Matos também pareciam intrigados. Depois de alguns segundos o Sr. Gordon exclamou:
— Mas como o senhor pode saber disso? Exatamente…
Moles o interrompeu simpático:
— Não é difícil de deduzir. Sua rotina nós conhecemos, pois somos vizinhos há um bom tempo. Todas as manhãs o vejo chegar do trabalho, passar na padaria, comprar pão e trazer para o vosso café da manhã. Algumas vezes subimos as escadas quase ao mesmo tempo. Costumo sentir o delicioso aroma do café da sua esposa, a Sra. Marlene. E reparei ao entrar, que a fechadura da sua porta está em perfeito estado, o que me leva a crer que o senhor a abriu naturalmente com sua chave ao chegar.
O pobre homem acenava com a cabeça concordando, admirado com o poder de observação, análise, e dedução do jovem Smart. Olhava as iniciais S H M bordadas em linha verde sobre o bolso superior direito do jaleco branco do rapaz, onde se via uma caneta dourada espetada.
Moles pediu:
— Então, conte-me o que eu não sei.
Sr. Gordon gaguejou:
— Não sei se posso confiar. Poderá guardar sigilo?
Moles não respondeu. Dr. Levi Matos é que se adiantou:
— Se não confiar, nem devemos continuar aqui.
O Sr. Gordon fez um gesto com as mãos, pedindo calma:
— Desculpe, vou explicar. É muito delicado e constrangedor. Quando cheguei, entrei e não senti o cheiro de café, como todos os dias. Ao contrário, senti um cheiro muito diferente, um tipo de perfume estranho, que às vezes também sinto na boate, mas que minha esposa nunca usou.
Moles o interrompeu:
— É Patchouli, muito usado pelas garotas de boate e rapazes solteiros. Dizem que desperta a libido. Ainda sinto um pouco desse cheiro no ar. O Patchouli é um arbusto da família da menta, de nome botânico "pogostemon cablin", com caules que alcançam até um metro de altura e pequenas flores brancas e cor-de-rosa. O óleo essencial é extraído por destilação a vapor das folhas secas. Foi muito difundido entre a juventude hippie nos anos setenta. Mas, por favor, continue.
O Sr. Gordon parecia ainda mais admirado. Retomou:
— A sala estava como está, normal, sem nada que me chamasse a atenção. Então, fui à cozinha, deixei o saco de pães sobre a mesa, e fui ao quarto. Lá encontrei minha esposa totalmente nua deitada sobre a cama, vendada com uma peça íntima. Meio em estado de transe, como se estivesse delirando, falando coisas sem nexo, que repetia, após cantar um refrão de uma música, e apresentava sinais de ter sido abusada sexualmente.
Smart Moles acenou com a cabeça como se concordasse com o relato, e perguntou:
— Por favor, o senhor pode sair, fechar a porta, e com a sua chave entrar, novamente como fez de manhã?
O Sr. Gordon um pouco intrigado obedeceu. Abriu a porta, saiu, fechou, e depois de uns segundos, enfiou a chave na fechadura, e girou, abrindo a porta.
Moles, Matos e Dona Lucida observavam sem saber onde o jovem químico pretendia chegar. Moles fez sinal para que o Sr. Gordon entrasse e perguntou:
— Por acaso o senhor mexeu em alguma coisa aqui na sala depois que chegou?
O Sr. Gordon negou com a cabeça, mas repentinamente, se lembrou de algo e disse:
— Não mexi em nada, apenas peguei a capa de um disco que estava caída ali no chão, e recoloquei na estante.
Moles comentou:
— Certamente que fez isso, depois de ter descoberto sua esposa no quarto, ter tentado reanimá-la por alguns minutos, e depois de não conseguir, ter vindo à cozinha para ligar pelo interfone para a Dona Lucida. Não é assim?
O pobre homem se mostrava cada vez mais assustado com aquele jovem que parecia ter assistido tudo o que havia se passado. Em vez de responder à pergunta ele questionou:
— Mas como pode saber tantos detalhes? Estava por acaso nos espionando? Será que não pode ser tu o responsável pelo que aconteceu? Como vou saber?
Moles sorriu calmamente, ao contrário do Dr. Matos que já se sentia indignado e bufava prestes a explodir. Moles respondeu:
— Isso, o senhor só saberá quando eu terminar de desvendar este caso. Por hora, ou o senhor confia, e conta com a minha ajuda, nossa ajuda, melhor dizendo, ou deve recorrer ao Inspetor Lousada. A decisão é vossa.
O Sr. Gordon empalideceu. Esfregou novamente uma das mãos na outra, e abanando a cabeça em assentimento concordou:
— Está bem, me desculpe. Mas como explica saber exatamente o que eu fiz?
— O que o senhor fez é meio óbvio, e eu sou bom de deduções. Mas, diga exatamente o que fez e como fez.
O Sr. Gordon deu uma tossida seca, nervosa, e começou a contar:
— Como eu disse, quando fui ao quarto encontrei minha esposa totalmente nua deitada sobre a cama, vendada. Meio em estado de transe, como se estivesse delirando, falando coisas sem nexo, que repetia, após cantar um refrão de uma música, e apresentava sinais de ter sido abusada sexualmente.
— Posso ver a senhora Marlene? Ela está no quarto?
— Sim, está. Tenha a bondade. Venha comigo. Mas, por favor, me desculpe o estado dela… Peço que guardem sigilo. Eu a encontrei assim e não sei o que fazer.
Ele seguiu para o pequeno corredor de onde derivavam três portas, uma para a cozinha, outra para o quarto e a outra para o banheiro. Era exatamente como no apartamento dos dois rapazes, com a diferença que no deles o quarto era fracionado em dois com uma divisória de gesso imitando uma parede.
Chegando ao quarto, Moles, que seguia logo atrás do senhor Gordon, pode ver a senhora Marlene, deitada na cama, coberta com um lençol branco. Parecia estar adormecida, mas quando sentiu que havia movimento de pessoas no ambiente ela logo emitiu um som de murmúrio e Moles se aproximou para ouvir na voz abafada a frase: “Really don't mind if you sit this one out” – “Realmente não me importo se você ficar de fora dessa” traduziu imediatamente e mentalmente o jovem que observava tudo com muita atenção. Ele olhou para o Sr. Gordon e perguntou discretamente:
— Pode descobri-la por favor?
O marido titubeava e olhou para trás vendo a Sra. Lucida e o Dr. Levi Matos parados observando. Moles na mesma hora esclareceu:
— O Dr. Matos é médico. Está habituado a examinar pacientes nus, e eu preciso ver a vítima e examinar o corpo em delito. Como deve saber sempre investigamos o conjunto de elementos materiais ou vestígios que indicam a existência de um crime. O exame de corpo de delito é uma importante prova pericial, sua ausência em caso de crimes que deixam vestígios, gera a nulidade do processo. O exame de corpo de delito pode ser direto, quando o perito o realiza diretamente sobre a pessoa ou objeto da ação delituosa, como pretendo fazer, ou indireto, quando não é propriamente um exame, uma vez que os peritos se baseiam nos depoimentos das testemunhas em razão do desaparecimento dos vestígios. A Lei determina que seja dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: violência doméstica e familiar contra mulher, violência contra criança ou adolescente, violência contra idoso ou violência contra pessoa com deficiência. Acha que o ocorrido se enquadra neste caso?
O marido, mesmo ainda meio constrangido, puxou o lençol que cobria o corpo da esposa, e puderam ver completamente a beleza daquela mulher, de formas esculturais, com sua pele branca ligeiramente bronzeada de sol, onde se destacavam algumas marcas vermelhas, típicas de chupadas intensas. Os seios de tamanho médio do tipo redondo, simétricos e perfeitos, com marcas mais claras e pequenas do sutiã de um biquíni que não deveria ser dos mais comportados, onde os mamilos de aréolas rosadas e bicos salientes estavam intumescidos indicando que a Marlene ali deitada ainda ardia em estado de excitação, mesmo depois de quase uma hora que fora encontrada pelo marido. No vértice do V de seu púbis, a boceta estava completamente depilada, lisa.
Notava-se o inchaço avermelhado dos grandes lábios vaginais que juntos fechavam completamente a passagem para dentro daquela vagina pequena. Ela estava com as pernas ligeiramente separadas, e sofria pequenos tremores, como se ainda estivesse em orgasmo. Ela permanecia de olhos fechados, a cabeça sobre uma almofada e os cabelos soltos. Era uma visão muito excitante de uma bela mulher, para qualquer macho.
Os dois rapazes tiveram que se esforçar para que uma ereção involuntária não quebrasse o clima profissional daquele exame. Até a Sra. Lucida, de olhos arregalados de espanto e com a boca entreaberta, admirava a cena. Do lado da cabeça de Marlene, havia uma pequena calcinha de renda negra, uma peça de lingerie de luxo, que o Smart Moles capturou com a ponta de sua caneta e suspendeu. O Sr. Gordon exclamou:
— Ela estava vendada com isso. Mas não é dela, nunca teve uma peça de roupa como essa.
Moles pegou a calcinha, cheirou, e logo a colocou novamente onde a havia encontrado. A seguir, retirou do bolso de seu jaleco uma lupa redonda, com um cabo preto, e passou a observar de perto cada detalhe do corpo desnudo da bela mulher sobre a cama. Ao de aproximar da boceta, tocou de leve sobre a pele do púbis, repuxando-a, provocando uma ligeira abertura entre os lábios vaginais. Na mesma hora uma pequena golfada de esperma apareceu e escorreu para fora. Ouviu-se a Sra. Lucida exclamar:
— Ah, meu pai…
O marido, e o Dr. Matos observavam admirados, boquiabertos com a cena.
Moles prosseguia em seu exame, e às vezes aproximava o nariz daquela pele impecável, completamente lisa e sem pelos, nem penugem havia, indicando que ela costumava se depilar regularmente, e aspirava, tentando reconhecer algum cheiro. Podia-se notar que em alguns locais, como sobre e entre os seios, na barriga, próximo do umbigo, na virilha e nas coxas, havia sinal de um líquido leitoso que já havia secado deixando sua presença como uma ligeira pele ressecada, o que ele identificou como esperma. Marlene Ardent, ainda de olhos fechados, respirava ofegante, e ao sentir seu corpo tocado, começou a cantarolar, com sua voz afinada, ligeiramente grave e sedutora, uma canção. Moles prestou atenção aos versos:
“There's a feeling I get”
“When I look to the west”
“And my spirit is crying for leaving”
“In my thoughts I have seen”
“Rings of smoke through the trees”
“And the voices of those who stand looking”
“Ooh, it makes me wonder”
A mente ágil do médico imediatamente traduziu:
“Há um cartaz na parede, mas ela quer ter certeza”
“Porque você sabe às vezes as palavras têm duplo sentido”.
“Em uma árvore à beira do riacho há um pássaro que canta.”
“Às vezes todos os nossos pensamentos são inquietantes.”
“Oh isto me faz pensar”
Na mesma hora o jovem Smart olhou para o marido e perguntou:
— A capa do disco que estava no chão, é do Led Zeppelin por caso? Pode verificar.
Na mesma hora o Sr. Gordon saiu disparado do quarto e foi até à sala para voltar segundos depois com a capa vazia do disco na mão. Exatamente, lá estava o inigualável álbum da lendária banda de Rock inglesa.
Vendo a capa vazia Moles exclamou:
— Provavelmente o disco ainda está na pick-up.
Novamente o marido se movimentou para voltar à sala, mas o Moles alertou:
— Não toque em nada, apenas verifique se o disco está no aparelho.
Segundos depois o marido retornou ao quarto, e acenava afirmativamente com a cabeça.
Naquele ponto o Dr. Matos curioso perguntou:
— Que deduções você fez? Como chegou a isso?
O sorriso tranquilo do jovem Smart Moles dispensava a sua costumeira e já famosa resposta. Apenas informou:
— Ela estava ouvindo a canção título do álbum de 1971, Starway to Heaven, do Led Zeppelin, quando aconteceu o fato que a deixou neste estado, e ainda repete a canção. Ficou marcada na sua mente. É comum isso acontecer em instantes de grande emoção. Fica o registro sendo repetido.
Nesse momento o Sr. Gordon explicou:
— Como professora de inglês, no colégio Mallet Soares, ela costuma usar letras de canções das bandas famosas de Rock para ajudar nas aulas.
Como se não tivesse ouvido o marido, o Moles pediu:
— Por acaso ela tem algum material de anotação de aulas, lista de provas, ou algo que tenha a relação completa de seus alunos?
O senhor Gordon parecia mais animado:
— Marlene é muito organizada. Tem uma agenda com a lista de todos os alunos de cada série, e anotações das notas e aproveitamento de cada um.
Moles pensava muito rápido:
— Por favor, pode ver se consegue encontrar?
O marido concordou afirmando:
— Sim, claro, vou buscar, fica na estante.
Logo que ele saiu do quarto o Moles solicitou à dona Lucida:
— Veja se a senhora me consegue uma relação dos moradores do prédio. Só quero ler os nomes para confirmar uma suspeita. Manterei segredo.
Dona Lucida estava tão impressionada com aquela sequência de acontecimentos em tão pouco tempo que nem sequer questionou o pedido e saiu do quarto para ir até seu apartamento.
Ao ficarem sozinhos no quarto, Moles pediu ao Dr. Levi Matos:
— Fique na porta e dê uma tossida caso perceba que o Sr. Gordon retornará.
O amigo também admirado com a performance do parceiro ficou encostado ao umbral da porta do quarto e viu quando Moles se debruçava mais sobre a deliciosa Marlene Ardent que permanecia meio inconsciente sobre a cama, e sussurrou algo em seu ouvido. Imediatamente, a bela mulher estremeceu, suspirou profundamente, gemeu, abriu um pouco as pernas, acariciou a xoxota e exclamou com ênfase:
— I'm on the highway to hell, I'm on the highway to hell!
Moles saltou na mesma hora como uma mola, assustando até o amigo Matos que tossia.
Ele se afastou da cama na mesma hora em que o Sr. Gordon voltava com a agenda da esposa, de capa dura, um grande caderno de anotações diárias. Logo que ele entrou o Moles lhe perguntou:
— Por acaso a sua esposa foi recentemente ao médico, e tomou alguma medicação?
O Sr. Gordon parecia cada vez mais admirado com a velocidade em que o rapaz fazia associações e tirava conclusões. Ele confirmou:
— Caramba! Sim, esta semana passada. Ela só se trata com medicamento manipulado, e foi à farmácia pedir que preparassem uma receita.
Moles ficou olhando para ele e esperando. O amigo Matos curioso perguntou:
— Você quer que ele pegue a receita?
Moles sorriu simpático para o parceiro e confirmou:
— Elementar, my dear...
Enquanto o Dr. Matos ria de sua própria demonstração de obviedade, o Sr. Gordon foi até à mesinha de cabeceira do lado da cama e abrindo a gaveta retirou uma folha de receituário de cor cinza, entregando ao investigador que com a sua lupa examinou o papel com um sorriso no rosto. Ele exclamou:
— Bingo!
Levi Matos e o Sr. Gordon olhavam com expressão patética. Moles viu então o frasco de remédio sobre a mesa de cabeceira, foi até lá e o examinou.
No rótulo estava escrito o nome da cliente, Sra. Marlene Ardent Horn Tag, e também a composição do medicamento. Foi quando ouviram que batiam na porta.
Na mesma hora o Moles informou:
— A nossa síndica, dona Lucida Casual está de volta.
O Senhor Gordon foi prontamente abrir a porta e voltou acompanhado de Dona Lucida que trazia na mão um livro de atas de reunião de condôminos, preto, com capa dura.
Naquele instante, a Marlene Ardent, que estivera a maior parte do tempo quase inerte e nua sobre a cama, ouvindo vozes e alguma movimentação no quarto, acusava uma certa recuperação, e começou a se agitar. Todos olharam para ela deitada que gemia, abria as pernas de forma bem lasciva e provocante, acariciava sua xoxota com uma das mãos, e com a outra apertava um dos seios, suspirava, ofegante. Exclamava:
— Ooh, it makes me wonder! Ooh, it makes me wonder!
(Ooh, isso me faz pensar! Ooh, isso me faz pensar!)
O Sr. Gordon, vermelho como um tomate, se desculpou:
—Ah, céus, por favor, perdoem, ela está fora de si. Não sabe o que faz.
Moles fez sinal com um dos dedos sobre os lábios, pedindo silêncio. Todos obedeceram de imediato, e logo, dez segundos depois a Marlene foi se acalmando novamente e relaxou, voltando a ficar inerte como adormecida.
Moles fez sinal para que todos saíssem do quarto e seguiram para a sala. Lá ele apontou a mesa que havia próxima do corredor e indicou que todos se sentassem à volta. Ele perguntou ao Sr. Gordon se ele poderia ligar o computador antigo ainda, um desktop, com monitor retangular, que estava na mesinha ao lado da janela da sala. Enquanto o aparelho era ligado e carregava o sistema operacional, ele consultou a agenda da Sra. Marlene, e o livro de atas do condomínio. A seguir, perguntou se a esposa do Gordon utilizava algum perfume. O marido na hora confirmou:
— Sim, usa, muito bom, eu vou buscar.
Ele saiu e logo voltou do quarto com um frasco pequeno de perfume, onde se pode ler o nome Hibiscus.
Moles pega o frasco, dá uma ligeira cheirada por fora, e confirma:
— Exatamente, como eu esperava.
Os outros ficam olhando para ele meio sem entender, e então o rapaz calmamente retira o seu cachimbo do bolso do jaleco, pega uma bolsinha de fumo da famosa marca Peterson, com uma antiga mistura do século 19 da Orange & Red, fabricada por Scandinavian Tobacco Group, numa mistura Base de Virgínia, com Burley, e aromatizante Fruit/Citrus, e corte Ribbon.
Vai enchendo o cachimbo, percebendo um marcante traço de ansiedade nos seus observadores. Apenas o Dr. Levi Matos tem um certo sorriso irônico e sabe que tendo já desvendado o mistério, seu amigo de investigação se deleitava em exibir sua genial capacidade de deduções. Moles finalmente apanha o isqueiro predileto, da famosa marca Ronson, um modelo apropriado e desenhado especialmente para acender cachimbos, acende sua pipa, dá algumas chupadas para que a chama pegue no tabaco, e solta duas baforadas. O aroma ligeiramente adocicado de tabaco queimado vai se espalhando pelo ambiente, criando o clima ideal para a exposição que ele fará. E ele alerta:
— Meus caros, é fundamental que todos entendam que quando eu começar a falar, muitas revelações da vida do casal envolvido estarão sendo expostas. Portanto, eu pergunto se o Sr. Gordon aceita que estas pessoas aqui presentes possam ouvir o que eu tenho a dizer. Sabemos serem todos pessoas de confiança e confiáveis, e de certa forma ligados afetivamente ao casal, motivo pelo qual devem naturalmente ter interesse em guardar segredo do que ouvirem. Mas é o Sr. Gordon que tem que se pronunciar:
Todos esperavam uma posição, e o Sr. Gordon, meio sem jeito, confirmou:
— Todos se mostraram interessados em nos ajudar. Sou muito grato. Não tenho motivos para não aceitar. Acho que posso confinar em todos. Estou ansioso para saber o que se passa, o que se passou e o que o Sr. Moles tem a nos desvendar.
Moles deu mais umas baforadas e começou:
— A primeira constatação é de que a pessoa que aqui esteve, junto com a Sra. Marlene Ardent, por muitas horas, praticando sexo consensual com ela, antes de que o Sr. Gordon chegasse, entrou e saiu pela porta da frente do apartamento. Para entrar a porta foi aberta para ele. Para sair ele simplesmente fechou a porta e saiu. Reparem que a fechadura que o Sr. Gordon possui, é daquelas que ao se bater a porta se fecha sozinha, automaticamente, só necessitando da chave para ser aberta por fora. Isso podemos ter certeza, já que vimos o próprio Sr. Gordon fazer isso quando lhe pedi.
Os três concordaram admirados com tais detalhes. Moles deu outra pausa e outra baforada no cachimbo. Depois retomou:
— A segunda constatação, é de que tudo que aconteceu com a Sra. Marlene, não foi feito de forma forçada. Não houve abuso de nenhuma espécie. Não quero tecer nenhum julgamento sobre o comportamento dela, mas afirmo que não constatei nenhum sinal de violência em seu corpo, embora ela tenha várias marcas de prática intensa de sexo, por vária horas, e muito sêmen jorrado sobre seu corpo, que com o tempo ressecou.
Naquele ponto, quando ele parou de falar, o Sr. Gordon deu uma suspirada forte. Acusava já intuir o grau impactante das revelações que viriam. Mas o nosso investigador não parou, estava interessado em avançar com a sua explanação:
— Acredito que a Senhora Marlene, num determinado momento da noite, depois de muito tempo em orgasmos seguidos, tenha entrado num estado de êxtase tão intenso, por muito tempo, coisa a que não deve estar habituada, que a levou a transpor a barreira do seu controle lógico, e por ter orgasmos tão fortes e seguidos, durante bastante tempo, saiu de seu equilíbrio normal, ficando nessa semiconsciência em que foi encontrada e que a examinamos. Será um efeito que se reduzirá em algumas horas. É como se ela ainda estivesse desfrutando o prazer que lhe foi provocado. Aposto que aos poucos, logo que os efeitos do remédio que ela tomou se dissipem, ela voltará ao normal.
O Sr. Gordon, preocupado exclamou:
— Mas então ela foi drogada?
Moles abanava a cabeça negativamente. Ele alertou:
— Não foi drogada. Ela tomou um remédio voluntariamente, prescrito pelo médico. E posso lhe afirmar que foi inclusive a pedido dela que foi feita essa formulação.
— Como assim? Aquela receita do médico?
— Exatamente. Ela foi se consultar, e a seu pedido o médico prescreveu a formulação. Até ela, provavelmente, depois, ao saber, terá uma enorme surpresa, pois boa parte do que aconteceu aqui, entre ela e seu amante, ela estava, como dizemos, operando no automático, movida por uma libido exacerbada.
Curiosa, como toda mulher, Sra. Lucida não se conteve:
— Mas que remédio ou droga poderosa é essa?
Moles fez suspense, deu outras baforadas no cachimbo, criando mais ansiedade. Ele gostava de valorizar cada revelação, então respondeu:
— Vou explicar. Ela tomou um medicamento, que costumam chamar popularmente de “Tesão de Vaca”. Ou Tribulus Terrestris - É obtido do extrato de uma planta, que contém, esteroides, flavonoides, alcaloides e saponinas.
Exceto o Dr. Matos, os outros dois ficaram na mesma. Ele foi mais didático:
— Nessa fórmula, tem extratos da Cantárida, por vezes referida como Spanish fly ou mosca-espanhola. É um preparado a partir de elementos obtidos de coleópteros da família “Meloidae”, em especial da espécie “Lytta vesicatoria’, que são recolhidos, secos ao ar e depois transformados em pó. E que tem como princípio ativo a cantaridina.
Pausou para uma nova baforada no cachimbo e continuou:
— O produto é manufaturado como medicamento, foi frequentemente utilizado na medicina tradicional europeia como vesicatório e em beberagens para fins diuréticos e principalmente afrodisíacos, havendo notícia de uso dele desde os tempos da Grécia Antiga. Na atualidade, apesar do elevado risco de intoxicação, é utilizado como afrodisíaco, em homeopatia. E, também, para remover verrugas graças ao seu poder vesicatório.
A expressão de espanto dos três ouvintes, não era apenas pela capacidade de dedução do jovem Smart Moles, mas principalmente pela sua capacidade de conhecimento aprofundado de sua área de atuação. Moles então ia prosseguir, quando o Sr. Gordon interrompeu:
— Mas, como tu deduziu a questão do disco e o que isso tem a ver?
Moles esclareceu:
— Eu já expliquei, a Sra. Marlene está num processo de hiper êxtase, muito provavelmente estimulado e ajudado pelo medicamento “Tesão de Vaca” que ela tomou em excesso e depois tendo praticado sexo de maneira desenfreada. Ao entrar nesse estado de gozo exacerbado, ela estava ouvindo justamente uma música, aquela canção do Led Zeppelin, que deve ter associado ao seu estado de prazer intenso, ficou ali registrada em seu cérebro, e enquanto ela ainda estiver nesse estado poderá ficar repetindo a canção, que eu a ouvi cantar e identifiquei. O disco ficou esquecido na pick-up e a capa caiu ao chão quando ela se deixou dominar pelo prazer e foi levada ao quarto pelo amante.
Curiosa, Sra. Lucida Casual tinha mais dúvidas:
— E como o tu desconfiou que havia um medicamento, e a receita do médico?
Moles estava tranquilo e disse:
— Primeiro, eu sei que só se consegue entrar num estágio de êxtase tão elevado e prolongado, mediante uma droga desse tipo, e em dosagem elevada. E me restava a dúvida, se ela tomara voluntariamente, ou lhe deram sem que soubesse. Com a receita eu tirei essa dúvida, e olhando o frasco de remédio eu entendi perfeitamente o que aconteceu.
— Como assim? – Até o Dr. Matos estava intrigado.
— Elementar my dear Matos. A moça que digitou o rótulo para ser colado no frasco, na farmácia de manipulação, não leu bem a letra confusa e garatujada do médico, Dr. Schnitzler, que eu até conheço, e é muito respeitado. Ela escreveu “tomar 3 x ao dia, 30 gotas”. Em vez de “1vez ao dia 10 gotas”. Reparei na receita que o algarismo 1 da caligrafia execrável do médico pode ser visto como 3. Facilita essa confusão. A moça não tem culpa.
Moles parou uns segundos para dar ênfase do que ia dizer:
— Na receita está certo, mas no rótulo, ficou indicação de prescrição exagerada, o que levou a Sr. Marlene a ingerir uma quantidade absurda desse princípio ativo. Foi tomada de um furor uterino tremendo, provavelmente seus seios e seu clitóris, assim como boa parte de suas mucosas, devem estar fervendo, causando uma volúpia incontrolável, e no desespero para satisfazer sua necessidade premente de sexo, na ausência do marido, na sede de ser fodida, deve ter agarrado o primeiro macho que estava ao seu alcance.
O espanto era geral, ninguém falava nada. Olhavam admirados para o investigador com semblantes perplexos. Mas o Dr. Matos ainda tinha dúvidas:
— Me diga, então, como explica a questão de a Sra. Marlene estar vendada com a calcinha preta.
O amigo investigador já esperava por isso. Então, com seu cachimbo mais do que fumegando, soltando fumaça aromatizada do blend Virgínia no ar, Smart Moles, revelou mais dados, na ordem que lhe interessava:
— Tecnicamente, a Sra. Marlene não traiu voluntariamente o marido, ela estava fora de controle pelo medicamento, mas, aí vem a melhor parte da história. Examinei a lista de alunos da professora Marlene Ardent, e verifiquei que ela tinha um aluno do terceiro ano do ensino médio, com notas fracas na sua matéria, o Inglês, nos dois últimos meses. Achei o nome dele na relação e vi que ela havia agendado aulas particulares de recuperação para o rapaz. Ele já é repetente e precisava ser aprovado. Aconteceu ontem. Está na agenda da professora. Conferi a relação de moradores, com nomes das famílias que a dona Lucida trouxe, e as minhas suposições se fecharam. O jovem Bernardo, da Família Bostolocco, é o aluno em recuperação que veio tomar aula particular com a Sra. Marlene.
— Não entendi nada - disse a Sra. Lucida. No que foi seguida pelo Sr. Gordon.
Moles pigarreou e preparou para revelar sua última prova de capacidade dedutiva:
— Quando entramos no quarto a Sra. Marlene pronunciou uma frase em inglês, que eu sabia ter ouvido antes: “Really don't mind if you sit this one out”. Ou seja: “Realmente não me importo se você ficar de fora dessa”. É uma resposta inconsciente a um reflexo condicionado da esposa, um recado ao Sr. Gordon, que ela não queria nem pretendia trair o marido, mas catapultada pela onda de volúpia exacerbada percebeu que ia fazer uma loucura, mas não tinha mais como se controlar. Essa frase é a primeira, da letra quilométrica da primeira peça de Rock totalmente conceitual da banda britânica Jethro Tull, com o álbum "The Thick as a Brick". Como eu sabia ser ela uma professora de inglês, me ocorreu que era um recado, uma pista que ela me dava.
Moles se deleitava com os olhares admirados dos ouvintes:
— E quando tive oportunidade de examinar a Sra. Marlene de pertinho sussurrei em seu ouvido o nome da banda, e do Álbum e que dá nome à canção. Ela me respondeu murmurando:
“Really don't mind if you sit this one out (Realmente não me importo se você ficar de fora dessa), My words but a whisper, your deafness, a shout (Minhas palavras, um sussurro, sua surdez, um grito), I may make you feel but I can't make you think (Eu posso fazer você sentir, mas não posso fazê-lo pensar), Your sperm's in the gutter, your love's in the sink (Seu esperma está na sarjeta, seu amor está no ralo)”.
Dona Lucida não havia entendido nada:
— Mas estou perdida, como você chegou no nome do aluno?
Naquele momento o jovem Smart Moles, estava exultante, mas disfarçava sua satisfação e com toda a calma do mundo disse:
— Thick as a Brick é o quinto álbum da banda britânica Jethro Tull. Sua letra é baseada em um poema escrito por um garoto fictício, inventando pelo compositor Ian Anderson, cujo nome seria Gerald Bostock. (ou "Little Milton"). A Sra. Marlene, conhecedora da música e da história do Rock britânico, sempre associou o nome do seu aluno, Geraldo Bostolocco, ao garoto que pretensamente escreveu a letra que ela já deve ter escutado muitas vezes com os seus alunos. Portanto, senhores e senhora, quando ela me disse a frase da canção, ela inconscientemente no seu delírio, estava apenas repetindo informações desconexas de sinapses que a mente dela fazia. Mas que eu pude entender e vasculhando na minha própria base dedados mentais, decifrar. Era o Geraldo Bostolocco, o aluno que estava aqui na hora do desvario da Sra. Marlene. E que provavelmente teve muitas horas de sexo alucinante com ela.
Nesse momento o Sr. Gordon exclamou:
— Mesmo assim esse jovem deve ser um psicopata, para fazer o que fez com a minha esposa.
Imediatamente, Smart Moles fez sinal para que o Sr. Gordon se acalmasse. Ele baforou seu cachimbo novamente, respirou fundo, e começou a explicar:
— Na verdade, eu tenho mais coisas a dizer. Espero que o Sr. Gordon Horn Tag, me entenda. O caso agora deve ser completamente elucidado. Então, vamos lá: Vi anotado na agenda da Sra. Marlene, na frente do nome do aluno em questão, entre parêntesis – 18 anos, 23cm. Aí me reportei aos meus próprios conhecimentos. Nos últimos tempos a vida sexual do casal Horn Tag, não estava sendo mais como antes.
Moles olhou firme para os seus ouvintes e prosseguiu:
— O Sr. Gordon, já não estava satisfazendo sua linda e vibrante esposa como deveria. Somos vizinhos e eu sei disso pois sou um grande observador. Uma linda e bela esposa como a Sra. Marlene Ardent, desejada e cobiçada por toda Copacabana, não passaria despercebida aos meus olhos. Com todo o respeito. Com o tempo, além do senhor não ter um desempenho sexual à altura das necessidades da sua fogosa mulher, com um pênis de tamanho apenas mediano, de 15 cm, e com ereções que não duravam muito, fruto da queda sistemática da produção de testosterona, já que o seu trabalho noturno por muito tempo continuado, provoca tais alterações, ela estava ficando carente. E ao contrário da sua curva descendente de hormônios, a curva dela estava subindo, estimulada por tomar sol na praia, praticar corridas, caminhadas, e ouvir galanteios de toda sorte de homens atraentes e sedutores.
— Como pode dizer isso? Onde retirou essas informações?
O Sr. Gordon olhava indignado para o jovem Moles. A resposta o deixou boquiaberto:
— Sua esposa mesma me disse. Ela me abordou um dia destes quando eu estava chegando em casa, discreta e com muita delicadeza, sabendo ser eu um bioquímico, perguntou se eu saberia indicar algum tipo de produto que ajudasse a que ela pudesse ser melhor resolvida na relação conjugal. Do jeito que expôs, ela colocou como se a falta de interesse fosse dela.
Moles fez uma outra pausa e verificando que a postura do Sr. Gordon havia mudado, e se sentia até meio intimidado diante das revelações, continuou:
— Na hora da conversa, por ser no corredor, na frente da sua porta, eu não quis prolongar, achei que ela deveria consultar um especialista, e indiquei que fosse falar com o Dr. Schnitzler, um mestre nessa área. Mas ela não foi logo, disse-me dias depois, num outro momento que nos cruzamos subindo a escada do prédio, que ela andou pesquisando o assunto, e que terapeutas que ela ouviu recomendavam ao casal tentar apimentar a relação. Ela queria ajudar o marido e eu entendi novamente que ela que precisava de mais estímulo. Agora vou dizer mais do que verifiquei. Foi quando vocês dois passaram a assistir vídeos eróticos juntos. Ajudou um pouco no início, mas conversando, isso despertou em vocês outros tipos de fantasias. O Sr. Gordon, se excitava de ouvir a esposa contar os galanteios e cantadas que levava, e mais tarado ficava quando ela confessava o desejo que tinha de experimentar tais fantasias. Não foi assim mesmo?
O Sr. Gordon estava meio encabulado diante da Sra. Lucida, mas não tinha mais como interromper. Ele fez que sim com a cabeça sem coragem de concordar.
Moles retomou a narrativa:
— Sua esposa, num momento muito preocupada, me relatou isso, há poucos dias, dizendo que os vídeos e as fantasias não estavam resolvendo. Eu pensei que ela estivesse me testando, talvez abrindo campo para uma aproximação minha, tudo pode acontecer, então recuei, dei menos atenção, fui mais frio e distante, e ela falou que ia mesmo procurar o médico. Agora, eu faço minhas deduções. Muito excitados, o Sr. Gordon descobriu que estava despertando na esposa vontades cada vez mais tórridas, e do seu lado, crescia a uma fantasia, a vontade de vê-la realmente satisfeita sexualmente, como ela fantasiava, com outro macho, como nos filmes eróticos que assistiam. Ambos se excitavam com aquilo. Muito bem. Mas como a potência do marido era cada vez menor, ela resolveu mesmo ir ao médico que eu indiquei, dizendo que sentia pouco estímulo sexual, para trazer um remédio que pudesse lhe ajudar. O médico fez receita como se fosse o medicamento para ela, e ela trouxe o remédio para o marido. Acontece que o marido não teve coragem de tomar quando soube o nome, “Tesão de Vaca”. Ficou desconfiado. Confirma essa minha análise?
O Sr. Gordon já tinha sido desvendado, e não pensou mais em esconder ou ocultar mais nada, queria saber o final da história. Ele apenas disse que sim. Com olhar baixo e tímido. Moles então fechou o resto de suas análises:
— Quando eu estava examinando a Sra. Marlene, eu perguntei no ouvido dela se havia encontrado com o médico e se ele dera o remédio. Ela, mesmo meio fora do ar, exclamou:
“I'm on the highway to hell, I'm on the highway to hell!”
— Entendi que ela me contava que havia resolvido derrubar as barreiras, e quebrar os limites. Por isso perguntei se havia um medicamento e a receita do médico. Ao ver o “afrodisíaco feminino” entendi que ela estava mergulhada numa onda de volúpia e alucinada, deve ter encontrado uma forma de se envolver com um dos jovens, que eu ainda teria que descobrir. E agora já sabemos quem é. O bem-dotado do Geraldo. Ela estava fascinada pelo pênis do rapaz.
Quando o Moles parou de falar, um silêncio enorme se abateu sobre todos ali, cada um perdido nas suas conjeturas. A situação havia sido elucidada, mas ainda não se sabia o que aconteceria a seguir. Ninguém esperava que o Smart Moles ainda tivesse coisas a revelar. Ele sugou o cachimbo por uns cinco segundos, e depois de soltar a fumaça dos pulmões explicou:
— A frase que a Sra. Marlene disse, em desvario, eu demorei um pouco para me lembrar, mas depois descobri que é a letra da uma canção do AC/DC, banda australiana de rock muito famosa mundialmente a parit dos anos 70, e 80, quando fez sucesso música “highway to hell”. Eu na hora pensei que era algo que a Sra. Marlene queria me dizer de imediato, mas agora tive outra ideia. Separei as letras de nome da banda. A, C, D, C, e me lembrei que ligado a sexo, erotismo, desejos, fantasias e traições, existe um site de contos eróticos muito conhecido e conceituado, chamado Casa dos Contos, e abreviado, costuma usualmente ser chamado de CDC. Talvez ela estivesse me guiando para lá. A CDC, e foi quando entendi que deveria consultar o histórico de navegação do computador da nossa professora.
Dito isso, Smart Moles se levantou e foi se colocar no banquinho na frente do Desktop que já estava ligado e com os aplicativos de navegação ativados. Bastou o Moles abrir o navegador padrão, e procurar o histórico, lá estava registrado o link para o site Casa dos Contos. Ele foi clicando nos links de acesso, registrados no histórico e logo estava diante de um perfil intitulado “ISIS”. Havia apenas um conto publicado. Moles olhou para todos e explicou:
— Achei. Aqui está ela. O perfume que a Sra. Madalena utiliza, chama-se Hibiscus. Hibiscus significa "Ísis" (deusa egípcia) em grego. E a Sra. Marlene estudiosa e culta sabia disso. Ísis foi inicialmente uma deusa das trevas que não tinha templos dedicados a si, mas cresceu em importância com o tempo até que ela se tornou uma das divindades mais importantes do antigo Egito. Sua adoração mais tarde se espalhou por todo o Império Romano, e Ísis foi adorada da Inglaterra ao Afeganistão. Até hoje, ela é bastante reverenciada pelos pagãos. Portanto, ela era uma divindade importante em rituais e foi um modelo para todas as mulheres do Egito Antigo.
A expressão estupidificada dos ouvintes comprovava o quanto eles estavam admirados. Moles satisfeito com sua própria capacidade de dedução, deu um clique sobre o perfil selecionado e apareceu uma explicação imediata.
“Sou a Isis, plena do amor e desejo que se desabrochou tarde, cheia da exuberância da Flor vermelha de Hibisco”
O primeiro conto publicado começava com um texto muito interessante:
VAI ACONTECER OU JÁ ACONTECEU
“Eu já o tinha visto pela manhã, contou a esposa ao seu diário, como se falasse com seu marido. Estava subindo apressado as escadas do prédio, com sua mochila amarela.
Ele parou na escada para me dar espaço e me examinou de passagem, mas se deteve somente alguns degraus adiante, voltando-se para mim. Eu também o observava. Nossos olhares tinham de se encontrar. Não sorriu. Antes, pareceu-me que seu semblante se ensombreceu, envergonhado, tímido, e o mesmo deve ter acontecido comigo, que me senti tocada ali, naquele instante como nunca. Meu corpo ferveu em um átimo, e me senti vibrante. Meu coração acelerado, meus seios latejando. Na praia, passei o tempo todo perdida em devaneios. Se ele me chamasse - julguei então - com o desejo que senti, não teria podido resistir. Acreditava-me capaz de tudo, pronta a abrir mão do marido, do matrimônio, de meu futuro na escola, acreditava estar já decidida. Mas, ao mesmo tempo, você, meu amado esposo, me era e é mais valioso e querido do que nunca, meu amor. A sua coragem e determinação de me deixar ser feliz e realizada me faz amá-lo ainda mais. Será que você, meu caro e dócil corninho, poderá me entender? Eu queria desesperadamente provar aquilo que tinha aquele aroma almiscarado e irresistível da flor vermelha do hibisco. As aulas particulares foram a maneira que eu encontrei de nos aproximarmos, sem despertar suspeitas. Afinal, sou a professora dele. E ele se dedicou, compareceu, estudou, se esforçou. tirou dez, tirou tudo enfim, e me mostrou. Então mereceu. Fiquei encantada, tentada. Nunca vi um membro masculino tão bonito, potente, grande, grosso, e viril, num rapazinho jovem. Decidi hoje. De olhos bem vendados, para aumentar minhas percepções, vou tomar o tal remédio. Preciso provar de tudo isso que me faz vibrar. O que vai acontecer depois não sei. Espero voltar aqui para contar.”
Moles olhava finalmente satisfeito para os outros, e viu lágrimas nos olhos dos três. Inclusive do Dr. Matos. Sra. Lucida tinha as mãos trêmulas e os lábios também. A emoção densa como nuvem pairava no ar. Mas havia também em todos, sinais de uma excitação contida, latente, quase tão forte como a provocada pela Cantarida.
Aquele caso tinha sido resolvido.
Muito tempo depois, num final de tarde ao sol poente na praia de Copacabana, o próprio Dr. Matos, tomando um delicioso chopp da Antárctica, contou o caso que ficou conhecido como o DOSSIÊ VERMELHO, que ele acompanhou em detalhes e relatou para o escritor Leon Medrado, que se tornou seu amigo.
Ele mostrou inclusive umas anotações feitas pelo próprio Smart Moles, num papel avulso no dia da investigação:
*- “Lucida is a registered trademark of Bigelow & Holmes, Inc.”
[Extratos da pesquisa feita no site Instituto Ling: (Texto por Camila Salvá e Andressa Diedrich)
*- A novela “Breve Romance de Sonho” saiu das páginas de Arthur “Schnitzler” para ganhar as telas no controverso e premiado “De Olhos Bem Fechados”, dirigido por Stanley Kubrick.
*- Assim como seu contemporâneo Sigmund Freud, Arthur Schnitzler abalou a sociedade vienense ao explorar as raízes sombrias do desejo humano. Numa atmosfera onírica, cheia de fantasias sexuais, que se mescla com a realidade agonizante - de uma cidade cheia de cafés, vilas, prostíbulos decadentes, hospitais e até necrotério; Schnitzler nos mostra a violência e a depravação que a sociedade burguesa civilizada insiste em varrer para debaixo do tapete.
*- Arthur Schnitzler foi um médico e escritor austríaco nascido na Viena de 1862. Viveu em meio às mudanças culturais e políticas da virada do século XIX para o XX e o surgimento da psicanálise na Áustria. De família burguesa e filho de um renomado médico, ele foi pressionado pelo pai a seguir a mesma profissão e formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1885. No período em que atuou como médico, ele aproximou-se do estudo da psiquiatria, que acabou sendo fonte de inspiração para sua escrita. A partir de 1894, deixa a carreira como médico para trabalhar exclusivamente com a literatura. Sua obra como dramaturgo e romancista é dedicada a tratar sobre os dramas psicológicos vividos pela burguesia e aristocracia vienense.]
Um fato muito curioso de toda essa associação de ideias. O autor Leon Medrado é filho de um médico cirurgião, e tinha vocação para estudar medicina, mas abandonou essa via para se dedicar a ser escritor.
Muito provavelmente o que aconteceu depois na vida do casal Horn Tag será contado em outros contos do mesmo autor.
FIM
Meu e—mail: leonmedrado@gmail.com
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