— Mark, querido, muito obrigado por nos deixar ficar aqui. — agradeceu a Sra. Harris, enquanto servia uma xícara de chá para si.
— Tudo bem. Eu falei com os meus pais. Eles acham até melhor, pois terei supervisão de adultos. — digo, mas logo me arrependo, pois falei merda. — Não é melhor pelo sentido de vocês ficarem sem casa, mas...
— Ei, Mark. Relaxa, querido. Eu entendi. Por causa da tempestade de neve, a equipe do gás vem só em janeiro. A sua mãe foi uma querida e nos deixou usar o quarto de hóspede. — ela disse, tomando um pouco de chá e olhando para o relógio. — Olha só, eu preciso ir para o hospital. — levantando e pegando a bolsa. — Eu volto à noite. O Jake está descansando, ele não vai dar trabalho, juro. — me abraçando e saindo.
Ok, Mark. Relaxa. Essa é a palavra certa. Relaxa. Vou até a janela e vejo a Sra. Harris entrar no carro. Ela demora um pouco para sair, pois a entrada do estacionamento de casa estava congelada. Dou um tchau tímido e a vejo seguir pela rua.
Tudo bem. Tenho oito horas para ficar sozinho com o Jake. Aparentemente, o garoto está traumatizado por quase morrer eletrocutado/explodido. Ligo a televisão e adivinha? Ciclone bomba em todos os canais possíveis. O jeito é assistir alguma série no streaming.
Como todo castigo é pouco, os meus pais me mandam uma foto do Caribe. Eu não sou muito fã de sol, porém, um calorzinho faria bem para mim. A mamãe está deslumbrante com um chapéu de palha enorme, enquanto o meu pai faz uma pose de tiozão. Eu amo esses dois patetas.
Dou um like por piedade e comento 'LOL'. A mamãe curte o meu comentário na mesma hora, porque ensinei o básico das redes sociais para a dona Kate. Ela acabou se tornando uma ótima aluna e não precisa mais de mim para navegar na internet. #filhoorgulhoso.
— Cof cof. — uma tosse chama a minha atenção. Eu me assusto porque esqueço que estou sozinho em casa.
— Jesus! — exclamo com a mão no peito e me surpreendo com o Jake parado atrás de mim. — Jake. — digo o seu nome para me acalmar. — O que você está fazendo aqui? Quer dizer, eu sei o que você está fazendo aqui, mas a sua mãe disse que você estava descansando, enfim. — levanto e não sei o que fazer com as mãos, então, as coloco na cintura.
— Dormi bastante. — ele diz, mas não se mexe e ficamos em um silêncio constrangedor até eu tomar uma atitude. — Fora que a Tempestade e a Nevasca estavam agitados no quarto ao lado.
— Tornado e Avalanche. — o corrijo e levanto. — Vem. — o pego pela mão e o levo para a cozinha. — Você deve estar faminto. A sua mãe deixou várias comidas. Eu esquento para você.
O Jake está usando um pijama simples, mas continua mais lindo do que nunca. O seu cabelo desgrenhado o deixa com um charme ímpar. Sirvo algumas panquecas e faço chocolate quente. A chaleira avisa que a água está aquecida e escolho o copo mais natalino da casa.
Em silêncio, o Jake toma o café da manhã e me ajuda a lavar a louça. A água quente aquece minhas mãos e o meu vizinho enxuga os pratos. O assunto fica nas aulas, faculdade e expectativas para o futuro. Antigamente, o Jake era um garoto mais alegre e comunicativo. Eu não sei o que aconteceu.
— E como é a vida de gênio no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)?
— Puxado. Muita gente boa.
— Então, é o seu lugar. Afinal, você se formou antes de todo mundo. Fiquei muito orgulhoso de você. — disse, mas fiquei receoso por ter deixado a conversa estranha.
— Obrigado. Muitas pessoas ficaram orgulhosas de mim. Só espero manter as expectativas. — Jake sentou ao meu lado no sofá. — Alguma coisa boa? — apontando para a televisão.
— Bem, se você quiser informações sobre a tempestade Elliot é o lugar ideal. — brinco e tiro uma risada abafada de Jake.
— Quer ver um filme? — sugiro, pegando o controle remoto e ligando o serviço de streaming. Vou passando algumas opções e uma chama a minha atenção. — Lembra de Toy Story?
— Sim. Você chorou como uma criança quando os brinquedos caíram na fornalha. — ele diz em um tom de julgamento.
— Ei! — exclamo fingindo me ofender. — É uma cena triste e profunda. Desculpa, se é pouco rebuscada para o carinha da MIT. — bagunçou os cabelos de Jake.
— Era tudo mais fácil, não é? A nossa infância. Eu tenho saudades. Pode colocar 'Toy Story 3', eu deixo.
E a sessão terminou do jeito que previ, os meus olhos cheios de lágrimas e o Jake dizendo que tudo ia ficar bem. De repente, eu tive um flash da nossa infância. O Jake me consolando por causa do fim de 'Toy Story 3'.
Depois do filme, eu segui para o meu quarto. Eu tinha um trabalho da escola para finalizar. Como eu disse anteriormente, eu não sou um aluno genial como o Jake, o meu melhor nunca é o suficiente. Graças aos céus, alguns professores foram bonzinhos comigo e deixaram eu entregar artigos.
O Jake continuou assistindo filmes, na verdade, um documentário sobre o aquecimento global. Eu me esforço para tirar o meu vizinho de pensamento, entretanto, é uma tarefa difícil e cansativa. Com um impulso, levanto da cadeira e desço para a sala.
A voz do apresentador ecoa pela sala. O Jake adormeceu, mas parece desconfortável. Eu tiro os seus óculos e os coloco sobre a mesa. Pego a manta e o cubro, pois o clima está começando a esfriar. Como alguém pode ser lindo até dormindo?
Na Grécia Antiga, Aristóteles dizia que a beleza existe em si mesma, no mundo das ideias, separado do mundo sensível, no caso, o mundo concreto em qual vivemos. Essa frase ficou na minha cabeça por muitos dias e semanas, assim que descobri a minha paixão por Jake Harris. Ele é belo. Ele é tudo o que eu sempre sonhei.
Porém, nada saiu como o planejado. A gente ficou afastado por muitos meses e agora o que me resta é admirá-lo enquanto dorme. Jesus, eu sou patético.
Um celular começa a tocar e caiu no chão assustado. O Jake se espreguiça e estranha a minha situação. Ele levanta, atende o celular e vai para a cozinha.
Eu não sou fofoqueiro. Longe de mim. Só que escuto a conversa de Luke. É sobre um encontro antes da tempestade. O meu coração parece se despedaçar. Ele tem um encontro? Encontro? Quem se encontra em plena tempestade de inverno?! Quem????!!!!!!!!
Respiro fundo e volto para o meu quarto. O frio que castiga a cidade parece um verão se comparado ao que se instaurou no meu coração. Eu sou um gay muito emocionado, não é? Eu sei. Vou para o lugar que me sinto seguro para explanar as minhas angústias adolescentes, o Twitter.
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@OreoFan
O coração é um saco! #malhumor #medeixaempaz #voumorrersozinho
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Não demora nem um minuto e recebo a ligação da Pam. A minha amiga é um dos meus sete seguidores no Twitter. Tenho que contar todo o meu drama adolescente. Algo que faz o dia da minha melhor amiga. Envio uma foto do Jake e recebo milhares de emojis de berinjela.
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MARK:
Pervertida!!!!! Eu não estou pensando nisso!!!!
PAM:
Vai impedir o seu homem de se encontrar com o outro?
MARK:
Eu nem sei se o Jake é gay, Pam! Tenho o pior gaydar do universo.
PAM:
Pergunta. Odeio pessoas enroladas. Vai lá e pergunta.
MARK:
Ok. Pam, então, vou colocar o Phil no grupo.
PAM:
Pegou pesado. Bem, tenho quatro crianças para cuidar. Beijos. #sedeclara
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O tempo passa de uma maneira estranha quando estamos agoniados. Olho para o relógio é o mesmo marca 20h. E o Jake? Desço e o encontro na sala, ainda insistindo em algum documentário. Como estou na minha casa, eu me lanço no sofá e o Jake abre espaço.
— Você estava em casa? — ele questiona, sem tirar os olhos da televisão.
— Sim. Na masmorra, quer dizer, no meu quarto. Infelizmente, continuo preso ao ensino médio. Você é sortudo. — falo, suspirando e rindo sem graça.
— Eu sinto falta. Sinto falta do ensino médio. Sinto falta de nós. De vir aqui com você e assistir filmes tristes. — Jake garantiu e a informação me deixou surpreso.
— Sente? — me viro de maneira rápida e os nossos rostos se encontram.
— Sinto. Eu, eu sinto falta. Eu sei que parte é culpa minha. Somos um cliche americano, Mark. Na infância, amigos. Porém, seguimos caminhos diferentes. Você no teatro...
— Você nos arrasando com sua inteligência acima da média. — eu diminui mais a distância entre nossos rostos. — Eu lamento, eu não sabia que você sentia falta de mim. Achei que...
Falta pouco. Falta pouco. Eu vou perder o meu BV. O Jake está de olhos fechados. De onde surgiu esse clima de romance? Eu devo continuar? Eu devo continuar? Acho que vou infartar. Imagina que ridículo quando sair nos jornais. "EXTRA: ADOLESCENTE VIRGEM MORRE AO DAR O PRIMEIRO BEIJO". Eu consigo sentir a respiração do Jake. Sério, eu vou beijá-lo.
— Cheguei, crianças. — Sra. Harris abre a porta e nos afastamos assustados. — Eu trouxe pizza.
— Sra. Harris. — me levanto e a ajudo com as sacolas. — Vamos para a cozinha.
— Boa noite, mãe. — o Jake a cumprimenta e nos ajuda com as caixas de pizza.
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"O Serviço Nacional de Meteorologia avisou que a previsão é que os termômetros em Nova York cheguem aos - 10ºC. Dessa forma, essa será a véspera de Natal mais fria já registrada em várias cidades da Pensilvânia à Flórida.
De acordo com o serviço de rastreamento de voos FlightAware, mais de cinco mil voos nos Estados Unidos foram cancelados devido ao clima", disse a jornalista, que estava usando mais casacos que o permitido.
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— Ele está chegando. — ressalto, enquanto devoro um pedaço de pizza.
— Mãe, amanhã preciso ir ao centro da cidade. Tenho um compromisso pendente e quero ir antes da cidade congelar. — o Jake avisa e quase cuspo a pizza da minha boca.
— Tudo bem, filho. Só que você não vai sozinho...
— Mas, mãe...
— Nada disso. — ela deixa a fatia de pizza de lado. — Mark, você pode acompanhar o Jake?
— Claro, se não tiver problema. — digo, sem saber como reagir.
— Tudo bem. — o Jake se rende, pois ele é desse jeito. Ele sempre acata as ordens.
Vou para o meu quarto e coloco 'All by Myself' para tocar com força total nos meus fones de ouvido. Imagino o Jake beijando uma garota linda e delicada, a mulher ideal para qualquer cara. Porque estou com ciúmes? Eu nem tenho nada com o Jake. Só que isso não evita algumas lágrimas de caírem.
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@OreoFan
O chão do poço desmoronou. Consegui chegar perto do núcleo da terra. #desistodoamor
