Amor em alguns atos - Bem que se quis

Um conto erótico de João Fayol
Categoria: Homossexual
Contém 2220 palavras
Data: 25/03/2023 01:26:57

Estávamos na cama, enrolados, emaranhados, loucos, côncavos e convexos entre beijos e toques. Seu beijo, toque, sabor e cheiro me enlouqueciam. Nós não paramos de nos beijar, mas em algum instante, estávamos ambos sem camisa, e seu corpo quente, agora suava sobre o meu. Lá fora, a chuva e os raios não davam sinal que iriam parar, e dentro do quarto, também não havia sinal que nós iríamos parar.

Embora tivesse desejado loucamente aquele momento ao longo dos últimos anos, eu nunca havia pensado como ele seria, e acho que, mesmo morrendo de tesão naquele homem, eu também nunca havia pensado em como seria o seu corpo desnudo ou o som do seu gemido. Vergonhoso constatar, mas era como se eu estivesse prestes a transar pela primeira vez, insciente de tudo.

Mas, não. Eu não estava prestes a transar pela primeira vez, eu sabia perfeitamente o que deveria ser feito, eu estava sentindo a sua ereção. Tudo estava escuro, mas encontrá-la não foi difícil, eu a segurei firmemente entre minha mão, e então nossos lábios se separaram e ele gemeu arrastado e loucamente no meu ouvido. Logo em seguida, pude sentir sua língua quente deslizar pelo meu pescoço, arrancando de mim um forte arrepio, que fez com que eu arqueasse um pouco minha coluna - que não se elevou mais em função do seu peso sobre o meu - e soltasse um gemido alto.

Após isso, era claro que nós iríamos transar. Era claro que eu iria transar com o meu melhor amigo, que iria se casar com a minha grande amiga e confidente, Carol. É óbvio que, mesmo atrasado, eu pensei nela e, recebendo uma força hercúlea, eu o empurrei para longe de mim e saí daquele quarto, sem rumo certo, ouvindo somente sua voz ao fundo. Só me dei conta de onde estava, quando senti os pingos de chuva encharcando o meu corpo; eu estava na rua, no meio da chuva, tentando entender como seguir a vida a partir daquilo.

Isso é o que eu gostaria que tivesse acontecido, mas não foi o que aconteceu. Era realmente óbvio que nós iríamos transar. Nós não paramos quando eu o empurrei para o outro lado da cama e eu subi em cima dele. Não paramos quando ele gemeu rouco enquanto meus lábios deslizavam pelo seu pau. Não paramos quando ele fez o mesmo em mim, me fazendo delirar. Não paramos quando ele me pediu para avisar a ele se doesse e me deu um beijo na testa. Não havia ponto de retorno, nós apenas continuamos, e continuamos e continuamos. Seguimos após o primeiro orgasmo, e após o segundo, e eu gostaria que tivéssemos parado quando atingimos o êxtase pela terceira vez. A realidade é que mais do que o prazer físico que não se esgotava, havia em nós um receio tácito sobre o que o amanhecer do dia seguinte nos traria. Uma espécie de Feitiço de Áquila nos aguardava, e não importasse o que fizéssemos para tentar retardá-lo, ele chegaria.

-

Ouvi ao longe o despertador tocar. 7 da manhã em ponto, olhei para o lado, mas ele não estava lá. Não havia como estar, porque era eu quem já estava desperto e fora da cama há horas. Eu estava pronto para sair de casa quando a porta do quarto se abriu e ele saiu de lá, usando apenas uma samba-canção. Em seu corpo pude observar as marcas da noite passada - definitivamente não era para haver marcas ali, mas there is.

- João - ele me chamou enquanto eu puxava a maçaneta.

- Eu preciso correr, Ben. Por favor. Não vamos conversar agora. - ele não desviou o olhar por um só segundo, diferente de mim.

- Você sabe que a gente precisa conversar… sobre tudo. - conforme falava, ele veio se aproximando.

- A gente conversa quando eu voltar - enquanto falava, fui instintivamente me aproximando ainda mais da saída, mas minha mão estava somente na maçaneta, meu esforço de saída me fez dar quase de cara com a porta. Quando retornei meu olhar, ele estava atrás de mim. Eu estava oficialmente vivendo o clichê de estar encurralado entre a porta e o cara que eu gostava. Quando não se tem mais 16 anos de idade, certos clichês deixam de ser cômicos e se tornam ridículos.

- Não foge de mim - ele fez um movimento rápido, em que me puxou para próximo do seu corpo e em seguida me empurrou em direção à porta. Suas mãos encontraram a minha cintura, que ele rapidamente apertou, enquanto seu rosto ia de encontro ao meu pescoço.

- Benjamin… por favor… para. - era óbvio que eu estava gostando, e era óbvio que aquele pedido foi feito quase que como um gemido. Ele me encarou e nossos lábios quase se tocaram, mas antes que isso ocorresse, ele se afastou de mim, abrindo brecha pra que eu saísse do apartamento.

Bati a porta e me afastei daquele apartamento tanto quanto pude. Eu estava com medo, e agora, medo de voltar para lá e repetir tudo o que fizemos na noite passada, porque esse era o meu desejo. Se eu me sentia culpado pelo que fizemos com a Carol? Com toda certeza. Foi por isso que me levantei antes dele, porque a culpa já estava me vilipendiado. Mas, diferentemente do que imaginei, a culpa não diminuía em nada o meu tesão pelo Ben. Não importasse o que eu fizesse, ele ainda estava lá, porque no final das contas, se tratava do meu desejo por aquele homem, e desejo é algo que definitivamente não podemos controlar.

Naquela manhã, literalmente, eu corri sem rumo. No fone tocava qualquer coisa, enquanto minhas pernas se movimentavam completamente no modo automático. Enquanto eu corria, me esforçava para pensar em qualquer outra coisa, mas tudo o que eu vislumbrava, era eclipsado pelas lembranças da noite anterior e de como eu facilmente repetiria tudo aquilo. Quando enfim senti a exaustão, me dei conta que eu estava quase no final da Enseada de Botafogo, no limiar com o Aterro do Flamengo. Olhei para frente e vislumbrei a Baía de Guanabara, lá do outro lado estava a Urca. Do ponto onde eu estava, conseguia ver perfeitamente nosso prédio.

Eu não acreditava - e ainda não acredito - no acaso, foi somente ao identificar o prédio na Urca, que me dei conta de que eu havia corrido até minha antiga casa no Flamengo - daquelas velhas histórias do Rio: diz-se ser Flamengo, mas as contas vêm no CEP de Botafogo. Não era acaso, era o meu inconsciente falando. Eu entendi o que deveria ser feito, só não sabia como deveria ser feito ou dito. Me sentei na areia da praia. As praias no interior da Baía de Guanabara tendem a ser mais calmas, com ondas mais leves. Talvez as ondinhas que se formavam ali, me ajudassem a entender como acalmar tudo o que queimava dentro de mim.

-

Não voltei para casa correndo ou andando, achei melhor pedir um carro de aplicativo. A distância de carro era ridícula, e em menos de 10 minutos eu já estava no corredor do meu apartamento. Enquanto eu me preparava para girar a maçaneta, eu pensava em como contar ao Ben sobre a manutenção da minha ideia de ir embora, como fazer ele entender que era a melhor decisão e como fazer tudo isso da maneira mais pacífica possível.

Minhas mãos deslizaram pela maçaneta e quando a porta se abriu, no sofá, estavam ele e Carol. Ela, carinhosamente acariciando seu cabelo, enquanto ele estava deitado em seu colo. Toda a minha coragem morreu ali.

- Oi, meu amor. - ela sorriu ao meu ver, me deixando extremamente constrangido.

- O-oi, Carol. - caminhei até ela e dei um beijo em sua testa. Eu não cruzei meu olhar com o Ben em momento algum, mas sabia que ele estava pálido. Eu o conhecia.

- Ninguém respondeu minhas mensagens ontem a noite, aí quando a chuva parou de manhã, eu vim ver como que tava o meu namorado e o namorado do meu namorado - era como ela me chamava: “o namorado do meu namorado”. Que momento inoportuno pra esse apelido.

- Cê sabe - eu sorri - choveu demais, eu tenho medo de raios, aí fui dormir mais cedo e longe do meu celular.

- Eu sei, meu amor, mas como eu tinha algumas coisas pra resolver na ECO - Escola de Comunicação da UFRJ, na Urca - eu decidi dar uma passadinha aqui antes. Inclusive - ela olhou no relógio de pulso - já tá na minha hora. - ela deslizou seu rosto até o Ben e lhe beijou mais de uma vez, o que me deixou extremamente incomodado, em seguida, tirou a cabeça dele do seu colo, mas ainda o deixou deitado. Passou por mim, me deu um abraço e saiu apressada.

Ficamos somente nós dois no apartamento, novamente. Ele ainda estava deitado, a tensão - ou o tesão - era possível de ser cortado com uma faca.

- Eu vou tomar banho. - falei quebrando o silêncio e tentando sair daquela situação.

- João. - ele se sentou no sofá e segurou meu pulso.

- Senta. Por favor. - ele fez aquela maldita carinha de cachorro que caiu do caminhão. Sempre me quebrava. Ele sempre ganhava.

- Tudo bem - me sentei no sofá, mas um pouco mais distante dele. Queria evitar impulsos e atitudes indesejadas.

- Cara, eu não sei nem por onde começar… - ele passou as mãos no cabelo, os jogando para trás.

- Mas eu sei, a gente bebeu um pouco além da conta, fizemos uma coisa errada, e agora a gente coloca uma pedra em cima disso.

- Sério, João? - ele me olhou incrédulo - Você vai realmente adotar esse discurso de homem hétero arrependido? Logo você. - a exemplificação me incomodou muito mais do que as palavras que eu usei.

- Eu não disse que me arrependo, eu disse que a gente cometeu um erro devemos esquecer. - ele não desviava o olhar, ao passo que eu fugia tanto quanto podia do seu olhar.

- Então tudo foi um erro? - ele se aproximou de mim mais rápido do que eu poderia prever.

- Sim. - ele se encaixou no vão entre as minhas pernas e deslizou sua mão sobre as minhas coxas. Meus olhos se fecharam e minha respiração rapidamente se ofegou.

- Se foi tão errado, por que você tá tão fraco agora como na noite passada, já que eu tô fazendo a mesma coisa? - seu rosto afundou no meu pescoço, ele não o beijava, mas o cheirava, o que é estranhíssimo se levarmos em consideração que eu havia acabado de correr quase 5 km entre Urca e Botafogo, mas seguimos.

- Para, Ben. - ele pressionou minha cintura e eu gemi.

- Para por que? - ele mordeu meu pescoço, me arrancando outro gemido.

- Porque você tem a Carol. - consegui falar em um lampejo inesperado de racionalidade.

Lembrá-lo da Carol foi o que bastou para que ele cessasse todos os movimentos. Enquanto eu respirava de olhos fechados, sentia a sua respiração ficar pesada. Até o momento em que ele se afastou de mim e retornou ao seu lugar de origem. Permanecemos em silêncio por alguns segundos, tentando nos recompor, até que eu enfim consegui romper novamente o silêncio sepulcral.

- Por que você tá fazendo isso? Você quer me ganhar pelo sexo. Você não quer conversar comigo. - ele me olhou com uma seriedade que eu jamais vi em seu rosto.

- Porque eu não quero te perder. - ele puxou uma almofada para o seu colo.

- E por isso você transou comigo? Pra me manter por perto?

- Não, João. Porra! - ele alterou o tom - Eu transei com você porque eu quis. Eu tô atrás de você desde ontem, alucinado pelo teu cheiro, teu toque, teu gosto, porque eu nunca tinha sentido isso antes com ninguém, mas isso veio com você. Veio e é bom.

- Eu acho que você já me perdeu, Ben. Acho que a gente já se perdeu da gente. Porque mesmo que não houvesse a Carol, mesmo que você não fosse se casar, não teria como a gente fazer essa relação de amizade funcionar. Eu te disse ontem que te amava, depois de você me perguntar o que eu sentia por você. Eu sei que você não corresponde ao que eu sinto, mas eu não posso assumir esse papel de ser seu mais novo objeto de desejo sexual. Eu te amo, mas eu também me amo. - uma lágrima insistente, que não deveria escorrer, fugiu ao meu controle e desceu pelos meus olhos.

- Você vai embora, não é? - ele mordeu o lábio contrariado.

- Sim. - respirei fundo.

Ele não disse mais nada. Se levantou, pegou a chave do carro e saiu batendo a porta. Eu sabia que ele não queria me ver arrumando as malas; ele sabia que não iria mais me ver quando voltasse.

1h30 depois, eu bati a porta daquela que foi a minha casa pelos últimos 4 anos e retornei ao outro lado da Baía. O apartamento era limpo quinzenalmente, mas ainda precisaria de uma geral; Contudo, não naquela hora.

O dia ainda estava pela metade e tanta coisa já havia acontecido. Me acheguei na varanda e, vendo a Baía por um outro ângulo, enfim, chorei de soluçar, quando reconheci do outro lado o apartamento que eu havia acabado de deixar. Tudo iria se ajeitar, mas naquele momento, eu só queria chorar.

“Bem que se quis depois de tudo ainda ser feliz, mas já não há caminho pra voltar. E o quê que a vida fez da nossa vida? O quê que a gente não faz por amor?”

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Comentários

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Eu nem sei o que dizer... Estou sentindo a dor de João e o turbilhão (que imagino) está a cabeça de Benjamin. Que loucura!!!! o mais interessante é que isto existe na vida real e, nunca sabemos qual será o desfecho...

Sensacional!!!!!

Continua rapidinho, por favor!!!!!!

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Que conto sensacional. Bem escrito, bem desenvolvido. Estou completamente envolvido nessa história, por favor não demora a postar o próximo capítulo. Já estou ansioso!!!

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Dramas e dores de se adulto e suas responsabilidades. Continue assim nessa forma maravilhosa de postar

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Sensacional 👏

Aguardando ansiosamente pelos próximos!

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