"Clair de Lune" - Capítulo 44 - “Mea culpa, mea culpa. Mea maxima culpa!”

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 4149 palavras
Data: 25/03/2023 09:47:35

À certa altura, um trenzinho surgiu do nada e moças, mulheres e homens começaram a brincar, pulando pelo salão. Eu a procurava com os olhos e a vi, feliz, sorridente, e foi num desses momentos em que nossos olhos se cruzaram e um imenso sorriso brotou em seu rosto para mim, que me fez sentir ainda mais triste e culpado por ter lhe imposta uma culpa que não era dela. Triste, me fechei em mim mesmo e desviei o olhar. Foi o meu terceiro erro da noite.

Não a vi mais. Por um bom tempo, eu a procurei com os olhos pelo salão e nada. Depois, fui perambular pelo salão a sua procura, mas nada de encontrá-la ainda. Fui então até a mesa da minha mãe e tomei um esporro homérico por ter discutido com a Annemarye sem qualquer razão. Minha mãe me xingou e depois meu pai completou o couro. Sim, couro e não coro, pois foi quase uma surra de cinta de língua a que tomei deles. Nana e Duda já corriam o salão há um tempo à procura dela e logo minha irmã caçula voltou desolada, contando que um garçom havia visto a morena alta de vestido cor de sangue sair triste pelo elevador de acesso ao salão. Meu coração quase saiu pela boca.

Capítulo 44 - “Mea culpa, mea culpa. Mea maxima culpa!”

Imediatamente liguei para ela. Ela atendia as ligações e desligava no mesmo instante. Minha mãe não dava trégua para mim:

- Você queria o quê, Quinho? Ela deve estar irada com você.

Passei a explicar para eles tudo o que eu havia passado, desde minha chegada, até o negócio naufragado por conta das acusações que recaiam contra mim, além da forma como tanto eu como a própria Annemarye havíamos sido achincalhados. Tentei explicar meus sentimentos e tive uma vontade imensa de chorar, porque foi só ali, falando com eles, confessando tudo, que consegui ter a dimensão do tamanho do erro que eu tinha cometido com ela:

- Mas ela não tem culpa de na…

- Eu sei, mãe. Pelo amor de Deus… - A interrompi, claramente constrangido e a ponto de chorar: - Eu errei! O erro foi todo meu. Ofendi a única pessoa, além de vocês, que nunca saiu do meu lado e sempre me manteve de pé. Daí enfiei o pé no balde e bebi demais. Daí… Daí… Poxa, gente, olha a merda que eu fiz.

Só nesse momento, meus pais notaram o peso que recaía nas minhas costas e o quanto isso tinha me desequilibrado, abraçando-me, comovidos. Minha mãe teve a ideia de ligar de seu aparelho, mas também não foi atendida. Entretanto, pouco depois a própria Annemarye ligou para ela. Num ímpeto, tomei seu celular de suas mãos, porque eu precisava falar, eu precisava me desculpar, eu precisava tentar salvar nosso relacionamento:

- Anne, onde você está? - Perguntei, emocionado e com medo de ser rejeitado.

Acertei em cheio! Ela me rejeitou, batendo o telefone na minha cara, como diriam os antigos. Olhei abismado, mas não surpreso, para minha mãe e tentei ligar novamente, dessa vez em vão. Minha ansiedade e medo só aumentaram com aquilo. Ficamos conversando, tentando imaginar uma forma de consertar tudo quando, pouco tempo depois, o celular da minha mãe tocou novamente. Era ela e minha mãe não perdeu a chance, conversando brevemente com ela e deixando bem claro que estava preocupada com ela.

Elas conversavam sem parar e eu pedi o aparelho. Ela me negou, fazendo sinal para eu me acalmar e esperar sentado. “Acalmar!? De que maneira?”, pensei comigo enquanto a via ouvindo a Annemarye despejar um monte em seu ouvido, mas com toda a razão. Foram minutos de agonia em que minha ansiedade só aumentava. Depois de um tempo, minha mãe voltou a falar:

- Ele sabe que errou, querida. Está tão desesperado ou mais que a gente com o seu sumiço. Sei que não deveria justificar, mas aconteceu algo muito chato com ele essa noite e infelizmente ele acabou descontando justamente em você. Mas ele vai te explicar tudo, só precisa de uma chance.

Mais um breve silêncio e minha mãe deixou bem claro, inclusive me encarando, de quem era o erro pela tragédia daquela noite:

- Eu sei, querida, você estava linda realmente. Eu não tenho o que justificar por ele. Ele errou, não você. Estou do seu lado até o fim nessa história e já dei uma bronca daquelas nele, na frente do pai e das irmãs, acho que se não foi a maior, foi uma das maiores que ele já tomou na vida.

Elas voltaram a conversar e dessa vez parecia que minha mãe tentava convencê-la a ir para casa, mas minha caipirinha brava não arredava o pé. Cansei de esperar aquela indecisão e pedi o celular para falar pessoalmente com ela. Eu precisava ouvi-la, nem que fossem xingamentos para aliviar seu coração e ela precisava ouvir de mim todo o arrependimento que me massacrava o peito:

- Quero falar com ela, mãe. - Pedi.

- Ela não quer falar com você agora, Marcos, não insista. - Minha mãe retrucou.

- Mas eu tenho o direito de me explicar. Pedir desculpas…

- Eu sei, mas não agora. Amanhã você fala com ela.

Chateado, bem bêbado ainda e inconformado comigo mesmo, decidi partir para as vias de fato com minha pobre genitora, tentando tomar-lhe o celular:

- Mãe, me dá esse celular.

- Marcos, para agora! Respeita sua mãe. - Meu pai interveio.

Um breve silêncio se abateu sobre nós, afinal, meu pai nunca, que eu me lembre nunca, havia levantado a voz para mim ou qualquer um dos meus irmãos. Ele pediu o aparelho para minha mãe que, vendo sua seriedade, não hesitou em entregá-lo:

- Annemarye?

Houve novo breve silêncio e meu pai soltou a pérola da noite:

- O que é isso, filha!? Claro que não! Só estamos preocupados com você. Se alguém pensou mal da gente ou da minha futura nora, quero mais é que se foda bem no olho do cu!

Todos nós na mesa nos entreolhamos e começamos a rir baixinho de sua tirada e pela forma como ele começou a rir logo depois, acho que a própria Annemarye fora pega de surpresa e também ria. Nesse instante meu celular começou a vibrar e vi que o Jonas tentava me ligar. Ignorei por duas vezes, mas já de saco cheio atendi na terceira:

- Jonas, desculpa, mas eu estou ocupado agora. Estou com um problemão para resolver aqui.

- Teu problema se chama Annemarye?

- Tá, tá bom. Você conseguiu minha atenção.

Ele passou a me falar de como a encontrou, nervosa, quase chorando e explicou que deu carona para ela até um hotel não muito longe, passando-me o nome e o endereço. Agradeci sua ajuda e desliguei, saindo de lá imediatamente para encontrá-la e fazendo uma nota mental para confirmar que ele seria meu padrinho de casamento. Coisa de dez, quinze minutos e dois semáforos fechados que eu cruzei sem a menor prudência, eu chegava ao saguão do hotel e pedia para a recepcionista informar da minha chegada. Dado o horário recebi um grande e belo não. Mas no meu Brasil brasileiro, um não pode se transformar em um sim com o poder que existe em cinco lobos guarás passeando pelo balcão de atendimento. Uma ligação foi feita e ela informou que já estava descendo. Ainda assim demorou alguns minutos que me machucavam ainda mais o peito. Quando me viu, sua reação não foi das melhores:

- Marcos!? O que você está fazendo aqui?

- Por favor, só me escuta. - Pedi, implorando de mãos juntas: - Estou te pedindo de coração, fico de joelhos se você quiser.

Ela não queria e ficou irada:

- Não acredito que seu pai te passou o endereço daqui! Eu pedi pra ele, eu falei que não queria te ver. Porra, que canalhice do cara… Caramba!

- Calma! Não foi o meu pai. O Jonas me ligou e disse que te trouxe para cá.

- Mas que filho da puta!? É outro que não vale nenhum centavo.

- Calma! Por favor, só quero que você saiba que eu errei, não foi você. Fui eu, somente eu. Por favor, me desculpa.

- Sai da minha frente! Eu quero que você vá para a puta que te…

- Annemarye não completa a frase! - Ouvi uma voz chamando sua atenção pouco atrás da gente: - Ou quem vai ficar ofendida sou eu.

Voltamo-nos naquela direção e vimos meus pais se aproximando a passos largos para tentar evitar que aquela discussão descambasse em algo pior:

- Sai daqui! - Ela falou novamente e eu tentei segurar sua mão, em vão: - Sai, sai, sai! Não… me… toca!

- Anne, por favor…

- Parem os dois! - Bradou firme e forte meu pai, na condição de patriarca daquela família: - Daqui a pouco serão os dois expulsos do hotel. Fiquem calmos e vamos conversar.

- Não vou conversar com ele! Vou voltar para o meu quarto e ficar em paz. É só isso que eu quero. - Disse ela já dando um passo para trás.

- Mas… - Voltei a tentar a falar.

- Sem mais nem menos para os dois. - Meu pai insistiu: - Gegê, você fica com o Marcos aqui e a senhorita vem comigo.

- Não vou. - Ela resmungou.

- Vai, nem que eu tenha que te levar no colo.

- Mas pai… - Tentei falar novamente.

Ele apenas levantou um dedo para mim, me encarando sério e bravo. Calei-me! Havia mais que um respeito entre a gente. Pelo menos da minha parte, era quase uma devoção para com ele. A recepcionista, agora acompanhada por dois seguranças, assistiam a tudo calados próximo dali. Meu pai foi até eles e disse algumas palavras, colhendo uma concordância de todos com suas cabeças. Depois voltou até a Anne e lhe indicou a porta do hotel:

- Não vou para sua casa. - Ela falou.

- “Não vou para sua casa.” Credo, Annemarye, já tá parecendo coisa de criança birrenta! - Ele repetiu zombando dela e ainda riu alto, o que a deixou surpresa e sem ação, mas fez brotar um sorriso em seu rosto e ele a abraçou: - Agora sim, isso é o que eu gosto de ver no seu rosto, um lindo sorrisão.

- Mas eu… - Ela tentou falar.

- Nós não vamos para casa, ainda, minha querida. - Ele a interrompeu e frisou bem o “ainda”: - Vamos apenas dar um passeio na praia.

- De salto alto, seu Balthazar!? Na primeira pisada, vou me afundar igual um pau de guarda-sol. - Ela brincou e agora ele é que sorriu alto, aliás, todos nós rimos.

- Vamos pra calçada, então.

Ela negou novamente com a cabeça e colocou a mão pouco abaixo do pescoço, indicando que tinha medo pelas joias que usava. Meu pai a encarou e sem lhe tirar a razão, pediu que aguardasse, voltando até à recepcionista, com quem conversou brevemente. Ela indicou a direção de uma porta lateral e os acompanhou até lá, fazendo com que saíssem do alcance de nossa visão. Só me cabia esperar e confiar.

[...]

Assim que Annemarye terminou de me falar o nome do hotel e seu endereço, despedimo-nos e desligamos. Voltei-me então para a Gegê:

- Cadê o Quinho? - Perguntei.

- Ele recebeu uma ligação e praticamente saiu daqui correndo, pai. - Nana me respondeu.

- Ele já deve saber onde ela está. Vamos logo, Gegê, ou aqueles dois vão acabar se pegando porque ela está muito brava.

Saímos quase correndo e, seguidos de perto por meus seguranças, meu motorista nos levou até o hotel mais rápido do que eu esperava. Criado no Rio, seu Tiãozinho era fera e sabia todo atalho existente e isso fez toda a diferença. Nem bem entramos e eu havia acertado em cheio, pois os dois já discutiam no saguão, aliás, somente ela e com o dedo em riste, porque o Marcos tentava acalmá-la, mas sem muito êxito. Aproximamo-nos para evitar o pior e fui obrigado a me impor ou aquela discussão não teria mais fim ou poderia por fim a uma história que mal havia começado. Ela, aliás, já estava tentando voltar para o seu quarto, comprovando que não estava para papo.

Após um tempo, consegui convencê-la a conversar comigo enquanto Gegê ficaria com o Marcos. Perguntei por um local reservado a recepcionista e ela me indicou o bar do hotel que funcionava vinte e quatro horas e, naquele horário, deveria estar quase vazio. Fiz questão de abraçar minha futura nora, mesmo que ela ainda não fosse, porque, naquele momento, eu sabia o que uma mulher precisava e ela certamente precisava disso, um simples mas honesto abraço carinhoso. Fomos até o bar e realmente havia mais dois casais espalhados pelo espaço. Sentamo-nos em uma mesa e logo um garçom veio nos atender:

- Whisky para mim, por favor. - Falei.

- Pra mim uma pinga e pode deixar a garrafa. - Falou a Annemarye, surpreendendo o jovem garçom que olhou para mim como que esperando uma confirmação: - Ará, sô! Estou brincando, né, meu amigo. Me vê uma, sei lá, pode ser água. Se tivesse café seria melhor.

- Posso providenciar um expresso se for do seu agrado, senhorita, ou um café gelado, ou um talvez um café irlandês. - Ele falou.

- Ah! Um expresso então, eu quero sim. - Ela respondeu e depois me encarou: - Bem, o que o senhor quer me falar que irá me convencer a não dizer um grande não para o Marcos hoje, seu Balthazar?

- Eu já te amo como uma filha, sabia? - Falei e ela arregalou os olhos, surpresa.

- Covarde… - Ela me respondeu e sorriu, abaixando os olhos: - Começou bem.

Coloquei minha mão sobre a dela e voltei a falar. Agora eu iria com carga total:

- Quantos anos você tem, Annemarye?

- Xiiiii… Não se pergunta a idade de uma mulher, seu Balthazar. Que coisa feia! Menos um ponto para o senhor.

Pigarreei pela invertida e vi que ela não seria dobrada tão facilmente, mas eu não podia desistir e usaria toda a bagagem de minha experiência de vida:

- Verdade, mas entre pai e filha não existem essas formalidades, não é? Além disso, eu preciso saber do dia, mês e ano do seu aniversário para preparar sua próxima festa, não concorda? E o seu presente, então? Como comprá-lo, se não sei para quando?

Ela riu gostoso do meu comentário e me falou sua idade, dia, mês e ano. Fora sua idade, não guardei as demais informações. Sempre fui péssimo com isso e não mudaria agora, até o aniversário de meus filhos eu esqueceria se não fosse a Gegê:

- Então, você não é mais uma menina, apesar de ter esse rostinho, nem sequer uma moça, apesar de toda a sua jovialidade. Você já é uma mulher adulta e como tal sabe que a vida nem sempre é o que desejamos dela, não é!?

- É, e como sei. Vi bem isso hoje. - Ela resmungou, bem no momento em que era servida de seu café e eu de meu whisky.

- Então, hoje o Marcos sentiu a maldade do homem em sua forma mais vil durante a recepção. Infelizmente, ele não soube lidar bem com isso e ao invés de se socorrer em você ou na gente, que sempre estivemos ao seu lado, acabou descontando sua frustração, infelizmente e de forma totalmente reprovável, bem em cima de você.

- Eu não sei o que aconteceu, mas eu não merecia, não merecia... Eu não fiz nada, seu Balthazar. Poxa, eu estava toda feliz, me produzi pra caramba, quis ser alguém que eu nunca fui para ele, só para ele… - Parou para conter uma lágrima que começou a descer, tomando um gole do café para disfarçar e continuando, mas agora cabisbaixa: - Poxa, tomei pedrada dele hoje. Dele, logo dele. Ah, poxa…

Ela virou seu rosto para o outro lado e eu sabia que ela não queria demonstrar seus sentimentos para mim. Talvez ela tivesse chorado se a conversa fosse com a Gegê, mas para mim ela não queria ceder. Esperei pacientemente o tempo dela e pouco depois, aliás, após uns bons goles no seu café, ela se voltou para mim:

- Eu não quero falar com ele hoje. Só não quero...

- Você mesma disse que não sabe o que aconteceu e pelo pouco que eu te conheço, suponho que não terá paz, nem mesmo para descansar, enquanto não souber todos os fatos para chegar a uma conclusão.

Ela me olhava e a decepção estava estampada em seu rosto. Até o brilho em seus olhos estava diferente. Pela primeira vez, temi que o Marcos tivesse cometido um erro sem volta porque a decepção tinha sido maior do que eu pensava:

- Eu poderia te contar, mas correria o risco de omitir algo e a informação chegaria incompleta para você. Ouça o que ele tem para te falar. Se depois disso, você ainda quiser dormir aqui para pensar melhor, ninguém te obrigará a nada, mas eu adoraria te levar de volta comigo para casa. Acho que o Marcos, mais ainda.

Ela ficou me olhando e parecia meio perdida. Lutava contra si mesma em ceder e saber ou negar e correr o risco de perder. Depois de um tempo, que não sei quantificar, ela falou:

- Se ele tocar em mim, eu bato nele, na frente do senhor. - Pelo seu tom de voz, não consegui entender se era brincadeira ou de verdade.

- Filha, se ele te tocar sem tua permissão, quem bate nele sou eu, e na tua frente. - Brinquei e a vi sorrir ainda que timidamente: - Posso chamá-lo, então?

Ela apenas balançou afirmativamente sua cabeça e pediu:

- O senhor pode ficar sentado aqui no bar com a dona Gegê?

- Claro que sim. Vou chamá-los e já volto.

A deixei sentada contemplando ora sua xícara, ora um quadro colocado bem de frente a nossa mesa e fui ligeiro até a Gegê e o Marcos, a quem resumi nossa conversa:

- Agora, entra lá e dá o seu melhor e reza para o seu melhor ser suficiente. - Falei e dei três tapinhas em seu ombro.

[...]

Quando meu pai se afastou com a Annemarye, eu me senti o maior canalha da face da Terra. Fiz a mulher que amava sofrer sem ter culpa de nada. Eu estava um trapo e minha mãe notou:

- Fica calmo, Quinho, teu pai é mestre em negociação.

Sorri conformado, mas, conhecendo a Annemarye, sabia que a tarefa não seria tão fácil assim:

- Ela é justa, mãe, mas nunca a vi tão brava assim.

- Você pisou na bola com ela, né, filho! Ela estava com medo de falhar com você hoje, de te fazer passar alguma vergonha na recepção, mas depois que viu como tudo funcionava ficou radiante. Talvez só a Luíza a superasse na recepção. Daí você vem e me faz essa cagada.

- Ah, mãe, eu sei. Poxa, como eu queria resetar essa noite.

- Pois é, não dá! Não hoje, mas vai ter o aniversário da Duda. Quem sabe você não acha um jeito de compensá-la.

- Eu tenho que continuar namorando ela até lá, né, mãe.

- Se você entrar no jogo já pensando na derrota, nunca será vitorioso!

Conversamos mais algumas poucas coisas, mas o silêncio parecia ser mais forte naquele momento e me furava o coração como agulhas. Não sei quanto tempo se passou, mas depois de minutos vimos meu pai se aproximar, andando ligeirinho de uma forma desengonçada. Instintivamente me levantei, seguido pela minha mãe e ele foi direto:

- Ela vai te ouvir.

- Deve estar brava, né?

- Brava!? Ela disse que se você encostar nela, ela te bate.

- Acho que eu mereço.

- Acho que ela não tá brincando! Não encosta nela sem que ela deixe ou isso vai parar na delegacia.

- Credo, Balthazar! - Minha mãe falou, assustada.

- É melhor não arriscar, né, Gegê!? - Meu pai insistiu e colocou as mãos no meu ombro, dando uns tapinhas: - Agora, entra lá e dá o seu melhor e reza para o seu melhor ser suficiente.

Aquelas palavras me fizeram suar frio. Segui para aquela porta lateral acompanhado por meus pais e os olhei curioso com aquilo. Ele me explicou:

- Ela pediu para a gente ficar no bar. Vamos ficar num cantinho.

Segui e logo a vi sentada numa mesinha de canto, com uma xícara de café a sua frente, olhando para um quadro na parede. Ela não parecia estar brava, mas também não parecia estar bem: era a legítima personificação de uma onça acuada. Eu me aproximei em silêncio e assim me sentei numa cadeira à sua frente, atrapalhando sua visão do quadro. Ela baixou os olhos para não me encarar. Eu tinha que começar bem e, como num jogo de Truco, baixei o ZAP para garantir a primeira rodada:

- Quero te pedir perdão, Annemarye, de coração… Eu errei! Eu e somente eu errei nesta noite. Você não tem culpa de nada que me aconteceu e ainda assim eu acabei descontando justamente em você que poderia ser a única pessoa a me levantar hoje. Desculpa.

Ela me olhou com uma frieza no olhar que me assustou num primeiro momento, mas logo vi que não era isso e sim uma tristeza que a tomou de uma forma que me doeu no fundo do coração:

- Tá bom. - Ela respondeu e voltou a olhar para baixo.

- Tá bom!? Só isso? Não vai me xingar, me perguntar o que de tão horrível me aconteceu a ponto de pisar na mulher que eu amo?

- Queria que eu fizesse ou falasse o quê? Te abraçasse, te beijasse, dissesse que te amo depois de você pisar na mulher que você disse amar? - Respondeu, usando meu próprio argumento e voltou a olhar o quadro, fingindo não me enxergar.

- O que você quer saber? Eu conto tudo.

- Fale o que quiser. É você que busca o perdão, não eu. Como você mesmo disse, eu não tenho culpa de nada.

- Poxa, Annemarye, ajuda um pouco, vai!

- Vou te ajudar, então. - Ela me encarou com um olhar bravo, determinado e bradou sem piedade: - Eu sou a mulher que um homem lutou tanto para conquistar, que peitou delegado para não vê-lo preso, que pela primeira vez na vida se vestiu igual uma princesa só para me sentir a sua altura e lhe dar orgulho por estar ao seu lado, que estava sonhando e fazendo planos com ele e que foi pisada justamente por esse mesmo cara. Está bom assim? Acha que ajudei o suficiente?

Respirei fundo porque aquilo não poderia se transformar numa discussão. Então, fiz um resumo de tudo o que me aconteceu desde o início daquela noite na recepção e de tudo o que tive que ouvir calado. Ela me ouviu atentamente, mas não parecia ser suficiente para aplacar sua ira:

- Você poderia ter me falado. A gente podia ter saído de lá, ido embora comer uma pizza, sei lá… O que passou pela sua cabeça em me culpar pelo que te disseram? Você, por acaso, acha que eu penso igual a eles? Eu estava lá para você, por você! Sou sua namorada, ou era, não sei. Você não tinha o direito de me tratar daquele jeito. Não tinha!

- Não! Claro que não. Nunca. Por favor, só me perdoa.

- Então, por que, “cargas d’água”, você me tratou daquele jeito, Marcos?

- Eu não sei. Acho que por medo, Anne.

Ela se surpreendeu, se calou e arregalou os olhos, tentando entender a resposta, mas não conseguiu e perguntou:

- Medo de quê?

- Medo de ser condenado pela sociedade e não poder ser o homem que você merece ter ao seu lado. Você merece o melhor e hoje eu senti que não sou o melhor para estar com você. Eu me senti um lixo!

Ela se recostou em sua cadeira, cruzou os braços e encarou o quadro novamente, dando indicativo de que não queria continuar aquela conversa, mas, desafiando sua própria postura, ela mesma continuou a conversa:

- E me culpou?

- Eu sei que errei e não tenho justificativa para isso. Eu só posso te pedir perdão e prometer que vou me policiar para isso nunca acontecer novamente.

Ela, ainda de braços cruzados, me encarou novamente e já não havia ódio em seu olhar, apenas dúvida em como proceder e com uma dúvida eu já poderia trabalhar um pouco mais desenvolto. Decidi ousar:

- Você disse que estava sonhando e fazendo planos. Já os cancelou ou ainda dá tempo de eu participar?

Ela respirou fundo, balançou suavemente sua cabeça, negando algo não sei se para mim ou para ela própria, e se levantou, assustando a mim e aos meus pais. Minha mãe já se preparava para se levantar, sendo contida por meu pai. Vimos a Annemarye se dirigir ao balcão do bar e se encostar em silêncio. O barman foi até ela e lhe perguntou algo, mas ela negou com a cabeça, olhando para o nada apenas. Após algum tempo calada, falou algo para ele que balançou afirmativamente a cabeça. Ela então veio em minha direção e disse:

- Levanta! Eu não me produzi toda para não dançar pelo menos uma música com o meu homem.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 265Seguidores: 629Seguindo: 21Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Não se desconta nossa frustração na mulher que se diz amar,e que de deseja um futuro, Marco errou feio,mas foi homem suficiente para reconhecer e pedir o perdão,o que Anne falou foi pouco era preciso mais,mais está tem um bom coração e perdoou, mulher que ama sempre perdoa,agora seu Baltazar ele devia ser picigologo, acho que ganhou a nora no papo como todo carioca ganha só na conversa,por isto e um grande empresário,agora que tudo que aconteceu sirva de lição p o Marco,bjs

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A cada Episódio mais cativado e curioso!!! kkkk!!! Eh meu amigo Mark e minha amiga Nanda!! Vcs são show! O único casal liberal que posso conversar, aconselhar e dar opiniões! Claire de lune está ótimo! Melhor coisa ler todo dia um conto escrito por vocês dois!! Mark da Nanda e Nanda do Mark!!

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Duas seguidas Mark? Assim a Nanda vai ficar com ciúmes heim...😁😁😁😁😁

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Ela perdoou mais rápido do que eu esperava ou não perdoou?

Empolgou com os capítulos Sr ou melhor Dr Mark.

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Mark você pra mim não só um escritor mais uma pessoa que enxerga a vida de uma forma diferente, sabe amigo estou passando uma fase muito difícil nesta vida, meus erros do passado me cobram caro agora na minha velhice, embora tenha um casamento legal mais não perfeito como sonhei minha vida quase que inteira mais infelizmente meus me cobram e a vida, e nessa parte da saga me identifiquei com acontecidos Anne, parabéns Mark tu é o cara continua firme e forte valeu amigo.

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Caralho! Que maravilha é acordar no sábado e ler esse conto. Mais ainda, ver que o Marcos mesmo errando feio, conseguiu explicar e teve o perdão da Anne. Ansioso para os próximos capítulos.

A dúvida que eu sempre fico, Anne e Marcos, serão um casal liberal? A Anne é maravilhosa demais!

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Já falei e digo novamente, esse é o melhor conto da CDC da atualidade!!! Como em vários comentários do capítulo anterior alguns acho com uns julgamentos acalorados e como até o próprio personagem admite não tem justificativa para a forma como ágil. Mais é a questão explica mais não justifica. Cabendo a outra parte aceitar ou não o pedido de perdão. Mais vou dizer, quem não fez algo semelhante descarregar uma frustração em outra pessoa. Ele finalmente viu o tamanho do problema que está passado. Até então ele só estava no mundinho da família onde todos acreditam em sua inocência que tudo iria se resolver facilmente. Mais agora diante do julgamento da sociedade e em seu próprio trabalho sentiu o peso que está em suas costas não sabendo como absorver isso. Desabou como ele mesmo disse se achou um lixo não merecendo assim aquela mulher que a todos encantava. E no final “só para variar” Annemarye mostra mais uma vez que grande mulher ela é. Parabéns Mark esse conto merece ao final virar um e-book e vender na Amazon.👏🏻👏🏻👏🏻

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Penso da mesma forma. Ele nunca foi confrontado por ninguém. Se sentiu fragilizado. Como cresceu em berço de ouro porém bem educado pra não subir à cabeça se viu numa situação bem adversa. Não quero passar pano, porque o mesmo reconheceu rapidamente a merda que fez. Ainda bem que tem os pais que tem. Seu pai foi muito importante nesse capítulo.

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Penso da mesma forma. Todos os casais passam por momentos difíceis, reconhecer os erros e pedir desculpas é fundamental para evoluir. A situação do Marcos é muito pesada, ele não soube lidar, mas errou, se arrependeu e parece ter aprendido.

Anne como uma grande mulher, o perdoou.

Outros momentos difíceis virão e a lição que fica é que o amor é mais forte que tudo

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O problema, meu amigo, é que aos olhos de uma mulher o Marcos não está sendo homem, mas sim um moleque mimado que precisa o tempo todo da ajuda dos pais. Ele não dá um passo por conta própria. Em qual momento ele tomou qualquer tipo de atitude por conta própria? É sempre a dona Gegê ou o Balthazar. Se Marcos não amadurecer, não "virar homem", senhor da sua própria vida, até quando a admiração e o amor da Anne vai durar?

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Minha queria autora( no momento não sei qual das três que se pronuncia, espero ansioso a continuação de seu maravilhoso conto)concordo plenamente com você que isso é um problema, só não acho que na estória nos dado até aqui, isso seja um problema que não tenha perdão e que o personagem tenha que ser apedrejado. Estou com quase 50 e continuo me deparando com situações novas que tenho dificuldade de lidar com elas e são através dessas situações adversas que continuo aprendendo e crescendo como pessoa, profissional, marido e pai. Será que Sheila(sua personagem que também foi tão atacada ao meu ver exageradamente) acharia isso um problema para acabar seu casamento. Sera com o que eles passaram e estão passando até o momento em sua estória não estão evoluindo como pessoa e espero casal? Essa é a minha questão, as pessoas estão tão em pé de guerra nos dias de hoje, se a outra pessoa não é perfeita então não presta, nem o JC agradou a todos.um forte abraço! Espero a continuação de seu conto!! 😉

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Conhecendo um pouco do Mark como autor, acho que é justamente esse o caminho, a evolução do Marcos. Mas é importante que ele entenda o problema. ( Ele, o personagem. Não o autor. 😂😂😂)

Temos aqui uma mulher forte, decidida, mas também, uma pessoa que já sofreu e que provavelmente será vítima de grandes armações. Minha torcida é para que o Marcos evolua, se transformando em um parceiro a altura dela.

Você tem razão sobre sermos todos imperfeitos, e nesse ponto, o conto é uma aula, pois abre o espaço necessário para que o personagem possa crescer. 😘

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Acredito que você esteja correta. Marcos esteja passando por essas adversidades para evoluir e saber encarar o resultado das armações que virão sobre sua amada. Imagino que essas armações além de todo o mau que Anne passará ( pelo sadismo do autor 🙊 não deve ser pouco) testará fortemente o vínculo entre o casal. E você fugiu da questão: posso ter esperança que em breve saíra um no capítulo de seu conto? 🤨😜

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Eu se fosse o Marcos voltava pra a festa, caso ela ainda estivesse acontecendo, e aí sim faria tudo certo para mostrar que aquilo não iria abalar ele mais que já abalou!

Show Mark!!!

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Porra Mark!

Esse final me quebrou. Caralho como gosto desse romance. Puta que pario.

Vc é sensacional.

Vai ter outro capítulo nesse final de semana?

Caralho de novo!!!

Tô realmente muito carente kkkkk

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