Capítulo 6 – Primeira paixão
Não foi difícil compreender que aquele olhar absorto não se devia a alguma reflexão que estivesse passando por sua mente; e sim, que estava focado na minha bunda, com quais propósitos, era a questão. Fazia algum tempo que os novos calouros iam se agrupando no auditório da universidade para onde tínhamos sido encaminhados à medida que chegávamos. Falava-se pouco, uma vez que ninguém se conhecia. Aos poucos, os mais extrovertidos começavam a puxar conversa com quem estivesse ao lado. Eram assuntos banais, de quem acabara de se conhecer, se identificara com o primeiro nome e discursava a respeito de como tinham passado pelos vestibulares, sobre as incertezas e desafios do curso que teriam que enfrentar nos próximos anos. Como eu estava conversando com uma garota que se identificara como Luiza, acreditei que os olhares que procurava disfarçar a cada vez que eu o encarava, eram destinados à garota que era bem bonita. Contudo, tão logo ela se afastou para atender a uma ligação no celular, ele continuava olhando. Era um cara alto, corpão musculoso, rosto másculo, bonito. Bonito só, não, lindo. Fiquei tão impressionado com ele que já não tinha mais dúvida de que as palpitações inquietantes que estava sentindo se deviam aquele par de olhos que, de longe, me pareciam castanhos. Quando nossos olhares voltaram a se cruzar, abri um sorriso tímido e discreto. Ele retribuiu justamente quando um carinha recém-chegado ao auditório se dirigiu a ele fazendo alguma pergunta. Mesmo entretido na resposta, ele continuava olhando na minha direção por cima do ombro do sujeito. Lembrei-me de que tinha prometido ao meu pai enviar-lhe uma mensagem assim que chegasse a universidade, e me pus formulá-la caminhando até a fileira de janelas que dava para um pátio ajardinado entre os edifícios.
- Oi! – a voz grossa me distraiu e desconcertou, pois não havia notado a aproximação dele.
- Hein? Ah! Oi! – respondi, para o rosto que àquela distância menor me pareceu ainda mais bonito e viril.
- Yago! Ao que parece o reitor e os veteranos se esqueceram de nós, o discurso de boas-vindas aos calouros estava marcado para às 08:00hs e já passa das 09:00 hs.
- É o primeiro dia, tudo ainda deve estar meio confuso. – respondi, lhe devolvendo o sorriso. – Theo!
- Sem dúvida! – respondeu. Achei curioso ele estar esfregando as mãos quando se instalou um silêncio incomodo, pois nenhum dos dois parecia saber como continuar aquela conversa.
- Mora perto da universidade? – perguntou, para quebrar aquele clima incerto.
- Nem tanto, uns quarenta minutos, com o trânsito dessa manhã. E você?
- Na zona sul, também levei mais ou menos o mesmo tempo para chegar aqui. – respondeu, ainda esfregando aquelas mãos grandes e de dedos grossos.
Seria eu o motivo de ele estar tenso, esfregando as mãos sem saber o que fazer com elas? Segura a tua onda Theo, você está empolgadíssimo com esses olhos e esse corpão atlético, mas ele pode ter vindo puxar conversa apenas por se sentir entediado com aquela demora em alguém aparecer para nos recepcionar. Houve mais algumas perguntas de ambos os lados, até o papo começar a se desenrolar mais solto e constante. Porém, durou pouco, o reitor e o diretor da faculdade subiram no tablado e os calouros começaram a tomar assento das cadeiras, assim que os ruídos do microfone ligado começaram a sair pelas caixas de som. O Yago se sentou ao meu lado, dando-me preferência na hora de entrar na fileira de cadeiras. Lindo, um tesão e cavalheiro, passou pela minha mente. Cabia um obrigado, que dei em voz baixa sorrindo.
Os discursos não duraram nem meia hora, foi nos feito um breve relato sobre o histórico da universidade, indicados o edifício e as salas onde se desenvolveriam as aulas teóricas e práticas, feitas algumas recomendações quanto a conduta da vida acadêmica e, posteriormente, fomos lançados aos veteranos predadores que nos aguardavam ávidos pela desforra que haviam sofrido no ano anterior, quando eles estavam na nossa posição de calouros. O ataque começou logo à saída do auditório, assim que o reitor e o diretor estavam numa distância que já não os permitia assistir à carnificina que estava prestes a acontecer, e pouco diferia do que acontecia na vida selvagem, na savana africana, nas extensas planícies desoladas dos países de clima temperado, ou na imensidão escura dos oceanos. Eles caíram sobre nós feito predadores, com uma diferença da vida selvagem, havia mais machos alfa direcionando o ataque, o que acabou por gerar um tumulto entre eles mesmos, cada um querendo que suas ideias fossem executadas sobre aquelas vítimas largadas à própria sorte.
Fui cercado por três sujeitos que não perderam tempo, me obrigando a sentar numa cadeira enquanto picotavam meus cabelos com uma tesoura romba que puxava os fios como se fosse arrancá-los do couro cabeludo. Duas garotas me vendo rendido, se aproximaram e começaram a pintar meu rosto, escrevendo palavrões na testa e bochechas.
- Você é gatinho demais! – disse uma delas enquanto me borrava a cara.
- Gatinho é o caralho, sua pilantra! Na minha cara, é sério? – esbravejou revoltado um dos carinhas.
- Ai, amor, ciúmes outra vez, me poupe! Ele é tesudinho, o que eu posso fazer? – revidou ousada a garota.
- Vou te mostrar o que é tesudinho por aqui! – apregoou o namorado, pegando na própria rola.
- Maquila a carinha dele, até se parecer com uma drag queen! Vai fazer sucesso no pedágio, com esse torso nu. – disse a outra.
Minha camiseta foi arrancada por um dos carinhas e, com um pincel marcador desenharam um sutiã ao redor das minhas tetas. Depois de um quarto de hora pintando e bordando comigo, eu devia estar parecido com um alienígena. Cerca de uma hora depois, todos os calouros pareciam criaturas saídas de um teatro de horrores, aqueles rostinhos angelicais das garotas se transformaram em monstros, os corpos dos rapazes remetiam a seres de filmes de horror. Estávamos cercados pelos veteranos numa algazarra desenfreada no pátio da universidade, quando algum inescrupuloso liberando todo seu sadismo, resolveu pegar uma mangueira do hidrante que estava próximo a entrada de um dos edifícios, abrir a válvula e direcionar o jato para o alto fazendo cair uma chuva grossa sobre a galera ensandecida. Em minutos eu estava ensopado até a cueca que colara ao meu corpo junto com a calça, realçando ainda mais o contorno curvilíneo e avantajado das minhas nádegas. No meio do tumulto, vi que o Yago olhava para minhas roupas coladas ao corpo molhado com indisfarçável interesse, apesar de tentar disfarçar. Ele também me pareceu ainda mais gostoso, quando o jeans dele aderiu as suas coxas grossas e salientou o volumão que tinha entre as pernas, me levando a fixar o olhar naquela maravilha. Como eu o fazia sem dissimular, ele percebeu no que eu estava focando.
- Está olhando o quê? – questionou incisivo.
- Nada! E você, por que está secando a minha bunda? – devolvi, ciente que assim que me molharam ele mal conseguia desviar o olhos da minha bunda.
- Não estou secando a sua bunda! Eu não sou gay! – afirmou obstinado.
- Sei, entendi! – retruquei com um sorriso, ao qual ele retribuiu.
Nessas condições deploráveis, fomos sendo distribuídos pelos semáforos das avenidas que cercavam a universidade para pedir aos motoristas donativos para uma ONG do bairro; donativos esses que eu suspeitava jamais chegariam à tal ONG, mas aos bolsos dos veteranos.
Os mesmos três carinhas que cortaram meu cabelo me levaram junto com o Yago para um semáforo. Aquele que menos conseguisse arrecadar, ainda teria que passar por outro castigo, sobre o qual os três sujeitos não chegavam a um acordo.
- Vai moleque! Bota essa bundona para render! – disse um deles, dando um tapa nas minhas nádegas quando o semáforo fechou.
No carro esportivo estavam dois homens na faixa dos trinta anos, camisas abertas exibindo o peito e alguns pelos, óculos de sol, caras de garanhão.
- Vai lá em casa! Prometo fazer uma generosa doação se você me deixar chupar esses peitinhos e botar a minha pica nesse teu rabão. – disse o motorista, gozando com a minha cara. Minha vontade foi mandá-lo à merda.
- Você bem que podia me adiantar a grana do táxi até a sua casa, e me dizer a que horas devo estar lá. – respondi, lambendo os lábios e focando na pica dele. Ele riu e colocou uma cédula generosa na minha mão. – Tchau, tesão, até outro dia! – exclamei quando o semáforo abriu e ele, para se exibir, pisou forte no acelerador fazendo os pneus chiarem no asfalto.
Depois de mais de três horas debaixo do sol forte, eu tinha arrecadado mais que o dobro do Yago, deixando os veteranos eufóricos. Dando-se por satisfeitos, nos liberaram do trote com os bolsos recheados com o dinheiro arrecadado.
- Bando de filhos da puta! Zoaram com a gente e ainda saem cheios de grana. Arrecadação para uma ONG, o caralho! Aposto que vão encher a cara de cerveja esta noite, às nossas custas. – esbravejou o Yago.
- Tenho a mesma sensação! Fazer o quê, todo calouro passa pelo trote, fomos as vítimas da vez. – devolvi, para consolá-lo. – Bem, amanhã nos vemos na universidade, espero que as aulas comecem de verdade. – emendei, despedindo-me dele para ir para casa.
- Para onde está indo?
- Para casa! Não vejo a hora de tirar essa nhaca toda do meu corpo! – respondi.
- Não está a fim de comer alguma coisa numa lanchonete? Estou varado de fome e conheço uma bem legal que fica aqui perto. Tem uns lanches ótimos!
- Valeu, obrigado, mas prefiro ir para casa. – devolvi. Tive a impressão que ele se desapontou com a minha resposta, mas eu não o conhecia, seria prematuro tirar conclusões a respeito do modo de agir e pensar dele.
Dois dias depois, após as atividades esportivas, eu estava tomando uma ducha no vestiário do ginásio de esportes. A maioria da galera já havia terminado e o vestiário começava a esvaziar, depois de dezenas de garotões desfilarem seus corpos nus pelos corredores separados pelos armários das roupas. Ao longo da parede azulejada havia quinze duchas, eu ocupava uma num dos cantos. Sempre que precisava ficar nu em público, eu procurava os lugares mais discretos, pois sabia que ficavam observando e comentando sobre a minha bunda, que ainda era uma parte do meu corpo com a qual eu não sabia lidar direito; ou melhor, uma parte do meu corpo que seduzia os homens e me levava a temer o assédio deles.
Ao terminar de tirar a espuma do xampu dos meus cabelos, me deparei com o Yago na ducha ao lado, completa e sedutoramente nu, com um baita membro pendurado entre as pernas, e flertando com as minhas nádegas. Qual é a desse cara, afirma que não é gay e dentre as catorze duchas livres vem tomar banho exatamente naquela ao lado de onde estou? Ele sorriu quando abri os olhos e me deparei com ele. Subitamente me vi constrangido por estar pelado diante dele, especialmente quando olhei para aquele cacetão descomunal. Porém, ele sentiu prazer no meu constrangimento, era o que me dizia aquela cara desavergonhada, quando me encolhi vexado.
- O que foi? – indagou, começando a ensaboar o pauzão e o saco.
- Nada! – respondi de pronto, dando como encerrado o banho e começando a me cobrir com a toalha.
- Eu não sou gay! – repetiu com ênfase.
- Eu já entendi! Você já me disse que não é gay. Quantas vezes vai me afirmar isso? – perguntei, retribuindo com um sorriso tímido e cativante, numa tentativa de seduzi-lo apesar da afirmação que acabara de fazer, e na qual eu não estava acreditando nem um pouco.
- Você estava olhando para o meu pau! – exclamou, no que entendi ser uma censura.
- É que eu sou! Algum problema com isso? – confessei, pois me pareceu que ele estava esperando por essa confirmação. – E esse negócio aí pendurado no meio das tuas pernas não é propriamente algo que não chame a atenção. – emendei, o que o fez enfunar o peitoral se pavoneando.
- Nenhum! Só quero deixar claro que sou heterossexual, meu negócio é mulher! – exclamou.
- Bom para você! – devolvi
- O que você quer dizer com isso? – questionou
- Que é bom que você goste de mulher, o que mais poderia ser?
- Sei lá, do jeito que você falou soou meio estranho.
- Só pode ter soado sincero, pois foi essa a minha intenção. – esclareci. – Eu só me pergunto, se você faz tanta questão de dizer que é heterossexual e que gosta de mulher, por que finge que não estar sarando a minha bunda? – questionei caçoando.
- De onde você tirou isso? Eu sou lá cara de ficar olhando para bunda de homem? – eu ri, ele também.
Ao mesmo tempo em que o Yago ficava repetindo que gostava de mulher e não sentia nenhuma atração por homens, fazia de tudo para que nossos encontros se tornassem mais frequentes. Para os trabalhos em dupla ou em grupo, ele dava um jeito de fazer parceria comigo, no baile promovido pelo Centro Acadêmico para recepcionar os calouros, um mês após o início do ano letivo, ele se juntou a mim tão logo cheguei ao local do baile. Eu fui acompanhado de uma colega da turma, Suzana, e um dos veteranos que havia me dado o trote, Ricardo. A Suzana estava me colocando numa saia justa, seu interesse por mim tinha um objetivo definido, se tornar minha namorada. Eu achei cedo me confessar gay, mal conhecia os colegas de turma e não fazia sentido eu sair espalhando que era homossexual. Com isso, ela ia tentando me conquistar de todas as maneiras que lhe vinham à cabeça, enquanto eu me via encurralado e protelando soltar a verdade bombástica. Já o Ricardo tinha ficado impressionado comigo durante o trote, segundo me segredou.
- Também curto mulher, mas sou mais pelos rapazes. Sou estritamente ativo, tarado por um cu, e fissurado por carinhas bonitos como você. – disse-me ele, durante uma aula prática de uma disciplina na qual ele era monitor. – Queria marcar um encontro com você, para a gente se conhecer melhor. – revelou, me surpreendendo com sua extroversão e objetividade.
- Acho você um cara legal, Ricardo, mas no momento não estou procurando por um parceiro, quero me focar apenas nos estudos. – respondi.
- Entendi, não faço o seu tipo!
- Não, não e isso! Sou eu quem não está preparado para um envolvimento. – asseverei. Ele não se deu por vencido.
- Podemos pelo menos ir ao baile juntos? Vai ser legal, eu adoraria dançar com você. – insistiu.
- Já combinei com uma colega de turma.
- Qual o problema, vamos os três! Não sou ciumento! – retrucou rindo. Acabei concordando, meu traquejo social para dizer um – Não – para as pessoas era bem deficitário nesse aspecto. Eu não conseguia negar nada às pessoas, e isso me deixava muitas vezes numa situação desconfortável.
Bastou o Yago me ver para me cobrar explicações.
- Não sabia que você tinha se enturmado com esse sujeito. Depois de tudo que ele e os dois comparsas fizeram conosco, não o quero ver nem pintado de outro na minha frente! Babaca, do caralho! Pelo visto você ficou bem amiguinho dele. Recusou meu convite para vir acompanhado dele. – sentenciou o Yago, num tom de voz um tanto quanto impositivo demais para o curto tempo em que nos conhecíamos.
- Eu tinha combinado com a Suzana, mas ele insistiu e acabou vindo com a gente. Eu não o convidei, se te interessa saber. – respondi
- Folgado, da porra! E você aceitou, numa boa! Deve ter visto algo de interessante nele, para não o ter dispensado. – devolveu. – Ele também vai ficar a noite toda grudado em você, ou será que também preciso ficar insistindo para ter um tempinho a sós com você para conversarmos. – emendou
- Se você já não me tivesse dito mais de meia dúzia de vezes nesse último mês que não é gay e que seu negócio é mulher, eu suspeitaria que você está com ciúmes dele. – afirmei.
- Eu, ciúmes? Está para nascer a pessoa por quem vou ficar enciumado! Ciúmes, bela piada! Só estou estranhando essa sua amizade com esse sujeito que tem cara de come cu. – retrucou amuado. – Ao menos dançar comigo você permite, ou também vai dar preferência para o sujeitinho?
- Acho que consigo encaixar você numa música ou outra! – respondi, sorrindo para zombar da impertinência dele.
- Viado! – devolveu ofendido.
- A espécie que você não curte! Mas, também não precisa ficar espalhando isso aos quatro ventos, não faço propaganda da minha condição! – retruquei.
- Falei baixinho, só para você! Não estou espalhando informações suas. Costumo respeitar os segredos dos outros! – exclamou se fazendo de ultrajado.
- Com tanta mulher bonita e gostosa desesperada para conhecer caras como você, por que ficar perdendo tempo comigo? Vá dançar com elas, tenho certeza que quando sentirem esse monte de músculos e o bagulhão enorme resvalando duro nas coxas delas, não vai sobrar tempo livre na sua agenda para levá-las para cama. – tripudiei.
- Engraçadinho! Virou comediante? Ou é só uma maneira de me dispensar e não me conceder umas danças? – indagou, fazendo cara de bravo.
O que me surpreendeu durante aquele baile, foi a quantidade de casais homossexuais agarradinhos pelos cantos, se beijando livremente sem pudores, dançando coladinhos e se acariciando e, tenho certeza, transando nos banheiros. O ambiente universitário era bem mais livre e ousado do que aquele de onde eu vinha, talvez pela galera ser um pouco mais velha e estar experimentando de tudo. Durante a primeira seleção de músicas mais lentas, a Suzana voou no meu pescoço e me tascou um beijo inesperado na boca. Seus lábios mais pareciam uma ventosa sugando os meus, enquanto ela, pendurada no meu pescoço, enfiava uma de suas coxas entre as minhas pernas, efeito dos três gins-tônicas que havia ingerido para dar coragem. Afastei-a com sutileza e carinho, não queria que se sentisse rejeitada, e sugeri que fossemos para um canto mais isolado do salão para ela tomar um ar. Ela ficou embaraçada e começou a chorar, jurando de boa-fé, com a voz embolada pela bebida, que não era uma vadia, que me achava lindo e que estava gostando de mim. Estava na hora de eu me abrir com ela, antes que as coisas tomassem um rumo mais concreto, e sem volta. Não seria agora, que ela estava com o cérebro obnubilado pelo álcool, nem nos próximos dias, mas não podia passar do próximo mês, concluí. Deixei-a aos cuidados de outra colega da turma quando ela quis ir ao banheiro alegando que estava enjoada e precisava vomitar.
- Vem, vamos dançar! Você me prometeu, lembra? – chamou o Ricardo, assim que me afastei da Suzana. De soslaio, vi que o Yago me observava sendo abraçado pelo Ricardo quando chegamos à pista de dança. Enquanto tocava Play by Play de Claude Fontaine e, ele e eu gingávamos nos roçando de leve, o Ricardo resolveu tirar a camiseta e apoiar seus braços sobre meus ombros, imitando outros casais. Nessa audácia acabou me beijando e apertando minhas nádegas em suas mãos; precisei empregar a força para afastá-lo.
- O que pensa que está fazendo? – perguntei indignado, quando nossas bocas se afastaram e a língua dele que estava rodopiando a procura da minha, saiu da minha garganta.
- Te conquistando! – respondeu de pronto.
- Pois você acabou de dar o primeiro passo para isso não acontecer! – revidei. – Não faça mais isso, se quiser que continuemos a nos falar. Não gosto que me forcem a fazer o que não quero! – retruquei exasperado.
- Tudo bem, me desculpe! Eu pensei que você fosse gostar. – devolveu
- Não sei o que te fez chegar a essa conclusão! Um tronco pelado e um beijo roubado não são o bastante para me seduzir. Fica na sua Ricardo! – revidei, deixando-o sozinho na pista.
Eu nunca tinha sido assediado tão descaradamente sem ter dado abertura para tanto, bem como me senti ultrajado e vilipendiado quando ele usou a força para me subjugar à sua vontade. Eu havia adentrado a um universo desconhecido, ainda era muito ingênuo para certas coisas, conhecia pouco da vida e do que as pessoas eram capazes de fazer para conseguir uma transa, isso estava claro.
- E aí, o sujeitinho avançou o sinal sem permissão? – perguntou o Yago, que subitamente estava ao meu lado, próximo ao balcão do bar.
- Me deixa em paz, Yago! Não venha você também com suas gracinhas! – revidei zangado.
- Ele abusa e eu que levo a culpa? O que foi que eu fiz? – questionou
- Me desculpe! Estou bravo e achei que você só estava tirando uma com a minha cara. Desculpe!
- Só se voltar para a pista comigo! – aproveitou-se o safado. Mas, ele tinha um sorriso tão lindo e estava me encarando de um jeito que me deixou mole. O Yago sabia que eu tinha uma quedinha por ele, que me sentia atraído por sua sensualidade e virilidade.
Na sequência o DJ iniciou uma seleção de músicas lentas, os casais se abraçavam mais lascivamente e os rostos colados trocavam beijos tórridos. O Yago me segurou pela cintura e ficou me encarando a centímetros do meu rosto, eu me deixei conduzir pelos acordes de I should Live in the Salt, abri um sorriso doce para ele, sentindo suas mãos vigorosas e quentes guiando meu embalo. Ele também sorria, mais contido, porém não menos entusiasmado com aquela proximidade. Eu sentia palpitações, uma quentura percorrendo meu corpo, uma vontade insana de beijar aqueles lábios que estavam diante de mim. Por que esse cara está mexendo tanto comigo? Eu nunca senti algo parecido antes. Por que ele não me beija, me diz que me deseja, me pede para eu deixar ele me foder? Ele sim eu queria que fosse ousado, até atrevido e safado. Que merda é essa que está acontecendo comigo, e por que justamente com esse cara que vive me esfregando na cara que é heterossexual e que só curte mulher?
Estava acontecendo, todos aqueles minutos com os rostos tão próximos, a música, o gingado dos corpos, o calor que não vinha do ambiente, uma vez que este estava sendo eficazmente controlado pelo sistema de ar-condicionado, estavam aproximando nossas bocas como que atraídas por imantação; até dava para sentir o roçar do hálito nos lábios, cheguei a me segurar nos bíceps musculosos dele para quando minhas pernas começassem a bambear, eu ter onde me escorar durante o beijo pelo qual ambos pareciam ansiar.
- Theo, a Suzana está lá no banheiro passando mal e chamando por você! – veio avisar uma colega de turma quando estávamos prestes a unir nossas bocas.
- O que aconteceu com ela? Me acompanhe! – indaguei, soltando o Yago e a seguindo a passos largos até onde a Suzana estava, não só bêbada, mas chapada por alguma droga que misturou à bebida.
- Quero perder minha virgindade com você, Theo. Agora! Me fode, Theo! Me fode por que eu te amo, Theo! Diz que me ama, diz! E, me fode! – balbuciava ela, completamente chapada.
- Vem, eu te levo para casa! A festa para você acaba aqui. – devolvi, praticamente carregando-a no colo até o carro.
- Você vai me levar para a sua casa para me foder? Eu quero trepar com você a noite toda, Theo! – continuou ela, sem a menor noção de onde estava e o que dizia em seu delírio.
- Não, Suzana, eu não vou te foder porque sou gay! E você acabou com a minha chance de transar com o cara por quem estou apaixonado. Você me deve um favorzão depois dessa, sua maluca. Eu devia deixar você colocando os bofes para fora, tão bravo estou com você. – revidei. Ela tinha um sorriso parvo na cara embotada.
- Quem é gay? Você finalmente admitiu que está apaixonado por mim, eu te amo, Theo! – retrucou a doida, para quem não adiantava falar nada, pois ela só compreendia aquilo que as drogas a faziam acreditar.
Dias depois, na faculdade, eu a chamei a um canto e revelei minha condição sexual, com todas as letras e enfaticamente, para que não restassem dúvidas na cabecinha da maluca que alimentassem esperanças para comigo. Ela me encarou aparvalhada quando me retrucou – Você não tem cara de gay – ainda impactada pela revelação.
As primeiras provas bimestrais estavam à porta, a turma toda estava desassossegada, pois ninguém conhecia o estilo de provas de cada professor, além de haver um bocado de matéria em cada uma das disciplinas para ser dominado. O Yago veio me propor de estudarmos juntos, o que aceitei com prazer, uma vez que não escondia dele meu interesse por sua companhia. Aliás, desde o baile, ele arranjava uma série de pretextos para ficar perto de mim, e não foi diferente naquela tarde de domingo quando nos preparávamos para a prova de segunda-feira. Ele estava sozinho em casa, o que me fez concluir que tinha armado a situação.
O quarto amplo refletia bem a personalidade dele, o gosto por carros esportivos, o rugby, esporte que praticava, sua preferência por grupos e artistas de música eletrônica como David Guetta, Blutengel, Armin van Buuren, Don Diablo e por aí vai; tinha um ar viril com o cheiro da androsterona dele, que eu já parecia conseguir sentir a léguas de distância, e que tinha o poder de me deixar excitado. Olhando aquilo tudo, me senti dentro de um covil, e estava ridiculamente feliz por estar ali.
- Então é aqui que você abate a mulherada que corre atrás de você feito moscas. – sentenciei, o pilantra deu uma risadinha conivente.
- É essa a sua opinião sobre mim?
- Que outra opinião eu poderia ter a seu respeito? Um cara que nem disfarça para não deixar de se parecer com um garanhão, e que vive dessa fama. Por que me trouxe para cá?
- Para estudarmos! Para o que mais poderia ser? – devolveu cínico.
- Ah, claro! Quase ia me esquecendo que você é hetero e que seu negócio é mulher, um gay no seu quarto só em último caso e só para estudar para as provas. – retruquei sarcástico, quando estávamos deitados lado a lado de bruços sobre a cama com os livros e anotações abertos a nossa frente.
- Cala essa boca, Theo! Cacete, Theo! Por que você tinha que ter esses olhos tão azuis e claros, esse narizinho empinado e petulante, esse corpão tesudo e essa bunda de parar o trânsito, caralho? – questionou, partindo para cima de mim e me beijando com voracidade.
Eu passei meus braços ao redor do tronco dele, retribuía os beijos lascivos com carinho e receptividade, deixava-o tatear com as mãos ávidas por todo meu corpo. Nossas línguas entrelaçadas consumavam uma dança erótica, enquanto o tesão incendiava nossos corpos e nos deixava de pau duro.
- Como você pode ser tão gostoso, caralho? Nunca senti tanto tesão por um cara como sinto por você! Você me deixou maluco desde o primeiro instante em que coloquei meus olhos em você. – continuou, sem parar de me bolinar e beijar.
Ele tirou a camiseta, me atraindo para seu torso bem formado e másculo, onde minhas mãos deslizavam suaves e ternas sentindo sua solidez. Enfiei a mão no short dele e peguei seu pau. Empurrei-o para que se deitasse de costas, e puxei o short pelas pernas fazendo saltar o cacetão melado. Lambi e mordisquei o pescoço dele, fui descendo lenta e sedutoramente até que minhas lambidas e beijos chegassem até a pica. A tora maciça e pesada de carne latejava na minha mão quando fechei meus lábios ao redor da cabeçorra melada de pré-gozo e comecei a chupar. O Yago grunhia e se contorcia, abrindo as pernas para me entregar seu dote cavalar. Com o cuzinho piscando mais do que um vagalume, eu trabalhava a verga dele, cobrindo cada centímetro dela com beijos, lambidas, mordiscadas e chupadas até ela ficar tão rija que mal se conseguia movê-la.
- Porra, Theo! Você vai me fazer gozar, cara! Onde foi que aprendeu a chupar uma caceta desse jeito? Está me deixando maluco! – rosnava ele, socando o caralhão na minha garganta até me faltar o ar.
Chupei até ele gozar, enchendo minha boca com sua porra cremosa e abundante. Encarando-o tomado pela volúpia, eu engolia jato após jato daquele néctar, deliciando-me com seu sabor amendoado. O olhar do Yago brilhava de satisfação e deleite, o que para mim não tinha preço. Tudo o que eu desejava era a felicidade dele, pois ela também era a minha.
Assim que terminei de lamber e limpar o pau dele, ele me despiu, beijou demorada e repetidamente minha boca, bolinando minhas nádegas. Deitei-me ligeiramente de lado, afaguei o rosto hirsuto dele, encarando-o cheio de paixão. Ele foi atraído pelos biquinhos rijos das minhas tetinhas. Eu as tinha salientes com uma aparência marcadamente andrógina que se assemelhava as de uma menina moça quando os seios estavam em formação. Sempre tinham sido a parte do meu corpo que eu menos gostava, pois costumavam ser o alvo de gozação da garotada na escola. Porém, desde o dia em que o Thiago se mostrou fascinado por elas, brincando, lambendo e chupando, eu reconheci seu valor na sedução de um macho. A boca quente e úmida do Yago as devorava sem pressa, quando prendia os biquinhos entre os dentes e tracionava meus suspiros se transformavam em gemidos agudos, e meu tesão subia às alturas.
O Yago enfiou uma de suas pernas grossas e peludas no meio das minhas coxas, o caralhão em riste denunciava o tesão que estava sentindo e o desejo de me foder estava implícito em seu olhar cobiçoso. Ele me posicionou de bruços, deitou-se sobre mim, movimentando a pelve para esfregar o cacetão no meu rego, enquanto chupava minha nuca, beijava meu pescoço e mordiscava meus ombros. Aos poucos, ele descia pela minha coluna, lambendo e beijando a pele arrepiada até chegar ao cóccix. Com ambas as mãos apartou as nádegas após tê-las submetido a uma breve sessão de massoterapia amadora, na qual não predominava a técnica e sim o tesão voraz de que estava possuído. Soltei um gritinho e me agarrei a um travesseiro quando a ponta da língua dele lambeu minha rosquinha anal, o que o fez intensificar os movimentos, lamber e morder com voracidade, tanto as preguinhas do meu cu quanto nas nádegas que iam se cobrindo das marcas que seus dentes deixavam na pele alva. O anelzinho rosado piscava no fundo do meu rego estreito e ele encarava esses espasmos como um convite para enfiar seu falo dentro dele. Lancei um olhar para trás, ele segurava o caralhão com uma das mãos e o pressionava contra a minha fendinha. Veio o primeiro impulso, abrupto e potente, que não logrou êxito; veio o segundo, mais obstinado, bruto e que atravessou meus esfíncteres desencadeando uma dor pungente que me levou a gritar. A cabeçorra do cacetão estava atolada no meu cuzinho. Eu havia segurando a respiração para receber o impacto e agora liberava o ar arfando ligeiramente. O Yago, sentindo-se agasalhado pela carne macia e úmida que envolvia seu membro sedento, soltava o ar por entre os dentes num sibilo longo e gutural. Enquanto eu gania, ele ia me preenchendo com sua carne grossa e quente que pulsava indômita nas minhas entranhas numa devassidão compartilhada. Quando a primeira estocada atingiu minha próstata, junto com o gritinho fino, meu pinto liberou os jatos do gozo num prazer sem fim. Fiquei à mercê dele naquela posição por mais alguns minutos, depois ele me virou, colocou minhas pernas sobre seus ombros e enfiou o caralhão novamente no meu cuzinho, deslizando para dentro de mim até que apenas o sacão ficasse de fora. Para suportar o ímpeto das estocadas do vaivém cadenciado, meus dedos em garra cravavam nas costas largas dele, encontrando um alento para a dor que elas desencadeavam, e que se espalhava por todo meu baixo ventre.
- Amo você! – gemi, segurando seu rosto entre as mãos e beijando carinhosamente sua boca, na qual soltei o ganido que o fez se despejar todo dentro de mim.
- Você agora é meu, Theo! Só meu, está entendendo? Caralho como você me fez gozar, nunca gozei tanto! – afirmou.
- É isso que você tem a me dizer, que é meu dono depois de uma foda? Ah, é mesmo, você é hetero, só curte mulher! – devolvi, pois esperava palavras carinhosas dele depois de ter me entregue de corpo e alma.
- Fecha essa boca, Theo! Cacete, moleque, eu devia te dar umas porradas, sabia. Mas, não consigo, não consigo te machucar, não consigo nem imaginar você nos braços de outro cara. Eu te amo, seu putinho! Meu negócio ainda é mulher, e você, só você, que me tira do prumo quando chega perto de mim.
Eu afaguei a nuca dele, e o cobri de beijos aos quais ele retribuía com tanto tesão que sua jeba não amolecia atolada no meu cuzinho encharcado de sêmen.
Depois daquela tarde começamos a namorar. Apresentei-o ao meu pai nessa condição. Os dois até se deram bem, mas não escondiam o ciúme que sentiam um do outro quando conversavam a sós comigo. Passados alguns meses eu tive certeza de que o que eu sentia pelo Yago era amor e não apenas uma atração física, uma vontade de transar. Ele vivia nos meus pensamentos 24 horas por dia, sete dias por semana, a cada despedida, mesmo que curta, eu já sentia falta dele. Com ele parecia estar acontecendo o mesmo, o que não deixava de ser hilário depois de ele ter relutado tanto afirmando que não era gay e que o negócio dele era mulher. Bastou transarmos pela primeira vez para ele decretar sua posse sobre mim, para ficar ao meu lado o maior tempo possível, para se valer de qualquer brechinha para meter aquele caralhão dele no meu cuzinho.
- Teu pai parece um cão de guarda protegendo você! – afirmou certa vez o Yago, ao perceber como meu pai e eu éramos carinhosos um com o outro. Uma vez até cheguei a cogitar de lhe contar que mantínhamos relações sexuais, mas desisti com receio de perdê-lo para sempre, dada sua possessividade que talvez não entenderia essa relação incestuosa sem o crivo moralista determinado pela sociedade.
- O Yago é bastante controlador, não o deixe passar dos limites! Vá lá que goste de sua submissão no sexo, mas isso não deve reger todos os outros aspectos de relação de vocês. – aconselhou meu pai, também enciumado, pois era a primeira vez que outro homem disputava com ele o meu amor e minha atenção.
Assim, ambos vigiavam e controlavam um ao outro, e me faziam sentir que estava num dos períodos mais felizes da minha vida. Eu tinha carinho e amor de sobra para os dois, e os recompensava para que aquela disputa velada não nos impedisse de ter uma convivência harmoniosa.
Quando tive certeza que estava amando e sendo correspondido, me sentia culpado toda vez que transava com meu pai. Eu sentia que estava traindo o Yago e isso me atormentava.
- Então converse francamente com ele, filhão! Diga a verdade, diga que não vive em concubinato comigo, mas que rolam algumas transas de vez em quando, não é assim que vocês dizem “rolam”? – aconselhou meu pai quando lhe contei da minha aflição.
- Tenho medo que ele não entenda e termine a relação! Ele tem a cabeça bem aberta quando se trata de manter relações sexuais com garotas, mesmo as mais safadas e ousadas, ou com mulheres, até as mais velhas do que ele ou casadas. Mas, não sei se vai ter essa mente aberta quando eu lhe contar que transo com você. Possessivo como ele é, sei que vai ficar muito bravo comigo e não vai nem se dar ao trabalho de entender a minha relação especial com você. Por outro lado, não quero continuar guardando esse segredo, não acho justo com ele. – argumentei.
- Se ele te ama de verdade, vai entender! Até porque o relacionamento que você tem comigo não vai durar para sempre. Eu sei que um dia você vai se apaixonar de verdade por alguém e, se eu perceber que essa pessoa também te ama sincera e plenamente, vou te entregar nas mãos dessa pessoa, sem remorsos ou sentimentos de posse. Eu só quero a sua felicidade, e que essa pessoa cuide de você como eu faço. – devolveu ele.
- Eu queria ter toda essa confiança! Eu já notei que o Yago é bem conservador e careta em certas coisas, especialmente naquelas relacionadas aos interesses maiores e diretos dele. Eu estou apaixonado por ele, pai. Não quero perdê-lo!
- Um relacionamento só progride na base da sinceridade. Conte a ele como se sente em relação a mim, diga-lhe que você não está dividido entre os dois, que o ama e que comigo, além da relação pai/filho que é a mais importante e onde existem sentimentos reais, há o sexo, apenas sexo; carnal, mas tão somente sexo.
Passei semanas tentando encontrar uma maneira de revelar a verdade ao Yago sem o chocar, sem despertar nele alguma rejeição. De tão preocupado e pesaroso que me sentia, ele acabou percebendo que eu estava diferente e, daquele jeitão meio troglodita dele, me deu um ultimato.
- Me ouça até o fim antes de ficar furioso e não prestar mais atenção no que vou dizer, promete?
- Como vou prometer alguma coisa sem saber do que se trata e, pelo visto, coisa boa não é para você estar desse jeito. Anda, desembucha de uma vez! – ordenou
- Você sabe que eu te amo, não sabe? Amo muito, Yago! Você é o meu primeiro .... – ele me interrompeu; sujeito sem a menor paciência era ele.
- Para de embromar, Theo! Fala de uma vez, está me pondo nervoso! Alguém está se engraçando com você? Você andou fazendo o que não devia com outro cara? Fala, Theo!
- Assim não dá! Você já está zangado comigo, antes mesmo de eu abrir minha boca! Não vai nem me ouvir direito. – devolvi.
- Vou ouvir, sim, prometo! Vem cá, e me conta o que está acontecendo. – disse, me puxando para seu colo e me abraçando.
- Você sabe que eu perdi a minha mãe há alguns anos, ficando apenas meu pai e eu, um segurando as pontas do outro nos piores momentos. Isso nos tornou muito unidos, como você já deve ter notado. Então, faz mais ou menos um ano que ele e eu ... – subitamente a coragem que eu havia juntado tinha desaparecido, olhar diretamente nos olhos do Yago me deu medo de continuar.
- Você e ele, o quê? Ele não quer que você continue comigo, é isso? – indagou, feito um galo de briga.
- Não é nada disso, Yago! Muito pelo contrário, ele gosta de me ver feliz ao seu lado, está sempre me incentivando a ficar numa boa com você. – afirmei
- Então qual é o problema? Se bem que eu não sei se ele está tão entusiasmado com o nosso namoro. Tem horas que ele fica me analisando demais e eu acho que ele fica pensando que talvez eu não seja o cara certo para o filhinho mimado dele. – retrucou.
- Não sou mimado! E, ele não pensa nada disso, isso são fantasias da sua cabeça! – asseverei.
- Se não é isso, o que é então? Fala, Theo!
- Então, como eu estava dizendo .... – ele bufou, impaciente. – Eu transo com um pai de vez em quando! É isso, pronto, falei! – despejei de supetão.
- Como é? Você o quê? Você dá o cu para o seu pai, eu ouvi direito? – ele ficou transtornado, não ia ouvir mais nada do que eu dissesse dali em diante, só me julgaria.
- Dá para falar mais baixo, não é para o mundo todo ficar sabendo da minha vida íntima! – exclamei. – Não é bem assim, do jeito que você fala até parece uma coisa abominável e nojenta, e eu te garanto que não é. Esse sentimento se desenvolveu entre nós e acabou que isso nos levou a .... bem, você sabe, nos levou a comungar momentos de intimidade mais intensos. – continuei
- Caralho, Theo! Você me conta com essa cara de pau que teu pai fode o seu cu! Como é mesmo o nome dessa porra, incesto? Cara, você e seu pai são uns puta de uns depravados! Cara, eu estou com vontade de arrebentar a tua cara, seu puto do caralho! Você é um viado que não poupa nem o seu pai, cara! Que merda, merda, caralho! – berrava ele descontrolado, me empurrando para longe.
- Dá para você fazer um esforço e me ouvir? Eu posso te explicar o que rola entre o meu pai e eu, você vai ver que não tem nada de ignóbil no que fazemos. – pedi, mas ele já não me ouvia.
- Eu sou uma besta, uma puta de uma besta! O primeiro carinha por quem me interesso é um viado escroto que me trai com o próprio pai! Puta merda, como pude ser tão imbecil! – esbravejava ele.
- Yago, se acalme, para podermos conversar. Eu não estou te traindo, nunca te traí, eu te amo! Por isso resolvi me abrir e te contar como é a minha relação com meu pai. – insisti, tentando tocar no braço dele, mas ele me rejeitou com violência.
- Me acalmar? O que você quer, que eu seja um corno calmo? Teu pai fode teu cu e você quer que eu não me sinta traído? Que tipo de homem você acha que eu sou? – berrava ele.
- Você não vai me ouvir, não é? Só te interessam os teus sentimentos, o que você acha, o que você quer, o que você manda. O que se passa comigo pouco te interessa, afinal sou gay e meu papel é me submeter às tuas vontades, mandos e desmandos, apenas obedecendo e sendo carinhoso quando você me concede a honra de me foder para satisfazer suas necessidades de macho, não é assim? – questionei, com um nó na garganta. Eu o perdi para sempre, como suspeitava que ia acontecer.
- Então é assim, você me trai e a culpa é minha? Caralho, é preciso muita cara de pau para falar uma coisa dessas! – devolveu irado.
- Eu nunca disse que você tem culpa! Eu só quero ser sincero com você, não quero segredos nem mentiras entre nós. O que sinto por você jamais senti por outra pessoa! Tudo é novo para mim, esse sentimento, você e eu como um casal, as nossas transas, tudo Yago, tudo o que eu sempre quis está acontecendo com você. – asseverei.
- Comigo e com seu pai, você esqueceu de mencionar esse pequeno detalhe! – exclamou irônico.
- Meu pai e eu sempre soubemos que quando eu encontrasse um amor verdadeiro, voltaríamos a ser apenas pai e filho. Eu jamais ia trair o homem que amo! – afirmei categórico.
- Não sei como pude ser tão imbecil e me deixar enredar por um gay, quando todo mundo sabe que vocês são uma raça de depravados, que não podem ver a pica de um macho e já vão abrindo o cu, que não são fieis nem confiáveis. E o idiota aqui achando que você era uma exceção! Puta que o pariu, Theo! Minha vontade é te cobrir de porradas. – sentenciou colérico.
- Se isso servir para aliviar a sua raiva, me bate! Se depois você se acalmar e prestar atenção no que tenho para te dizer, me cobre de porrada! – desafiei. Ele esmurrou a porta com força e me deixou sozinho. Desabei no choro.
Não sei por onde ele andou nos dois dias seguintes, pois não apareceu na faculdade. Também não respondeu minhas ligações e mensagens até o final de semana. Fui me refugiar no colo do meu pai, nenhum outro homem ia me compreender como ele me compreendia, nem outro homem jamais ia me amar como ele me amava. Outros caras se interessavam por mim, sim, para usufruir do meu corpo, para lhes proporcionar prazer sexual, para lhes servir como machos, mas não para compartilharem amor. Eu não sabia nada sobre homens, só que eu os deixava de pau duro, e que queriam me foder. Talvez todos os gays passam por isso, pensei comigo mesmo. Por que eu haveria de ser a exceção?
- Oi! – meu coração quase saiu pela boca quando vi o nome do Yago na tela do celular, no domingo já tarde da noite. A voz era seca e impessoal.
- Oi! – respondi, com a voz trêmula, e as palpitações se espalhando pelo peito.
- Como foi seu dia? – dava para perceber que ele estava dando voltas para chegar a um assunto.
- Quase bom, faltou você! – devolvi sincero. Ouvi ele inspirando fundo do outro lado.
- Fez mais alguma coisa do trabalho para terça-feira?
- Terminei todo ele. Vou te levar amanhã para você fazer suas observações e complementar com o que achar necessário.
- Ah, legal! Deve estar ótimo como sempre. – respondeu, antes de formar um longo silêncio no qual apenas pude ouvir sua respiração e uma música de fundo tocando baixinho, me pareceu ser Out of Touch da banda CUT, mas eu não tinha certeza. - O que está fazendo agora? – perguntou, quando cheguei a pensar que ele havia encerrado a ligação.
- Estava navegando no site da revista Rugby World. – respondi. Outro silêncio longo.
- Desde quando deu para se interessar por assuntos relacionados ao rugby? – perguntou, com a voz mais descontraída e menos áspera.
- Desde quando meu namorado me levou para assistir uma partida que ele estava disputando. – respondi. Notei que ele sorria do outro lado.
- Será que está tarde demais para esse seu namorado ir aí dormir com você? – indagou. Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, e eu mal conseguia engolir a própria saliva, tão apertado estava aquele nó na minha garganta. – Theo! Você ainda está aí? – ouvi-o perguntar.
- Sim, estou! – respondi no meio do choro.
- E então, é muito tarde para seu namorado chegar aí? – voltou a perguntar.
- Não, não é! Meu coração e minha cama sempre vão ter um lugar para ele, a qualquer hora que ele quiser e precisar. – respondi.
Pouco menos de uma hora depois, ele estava todo dentro de mim, derramando sua virilidade no meu cuzinho, enquanto sua boca não se desgrudava da minha. Ele me amava, e não era pouco, para superar o que eu lhe havia revelado e voltar a me procurar, esse amor tinha que ser tão intenso quanto o que eu sentia por ele.
Cerca de duas semanas depois, tivemos a oportunidade de conversarmos os três; meu pai, ele e eu, pondo todas as cartas na mesa, deixando tudo bem transparente, para seguirmos adiante, mais apaixonados do que nunca.