Eliza, 18 anos.
Eu moro em uma cidade onde tudo é pacífico. Aqui é pequeno, tem uma vibe interiorana e poucas famílias, mas todo mundo se conhece e se ajuda e o índice de criminalidade é praticamente zero. Todos andam nas ruas a noite sem temer e dormem de porta aberta. É realmente seguro, e há muitos anos não temos nada além de uma vida tranquila.
Meu pai é o pastor da cidade. É um homem rigoroso quanto a religião, mas bondoso. Ele cuida de todos e sempre oferece ajuda a quem mais precisa. A minha mãe e eu somos encorajadas a viver com o mínimo e ser feliz assim. E eu gosto. Apesar de vivermos uma vida confortável, meu pai não nos deixa esbanjar, ou sermos mal agradecidas com o que temos na mesa.
O problema é que há uns dias as coisas tem estado meio... estranhas. Em meus passeios noturnos pela cidade, tenho notado as pessoas mais apressadas e um pouco cabreiras quando me vêem. O que é muito estranho, pois sempre fui querida e bem vinda aonde quer que fui. Conversei com a minha mãe sobre isso, mas ela disse que devia ser coisa da minha cabeça e que provavelmente o povo da cidade só estava muito ocupado com os preparativos para a festa anual.
Todos os anos, a igreja dava uma grande festa para comemorar o aniversário da cidade. Meu pai estava muito ocupado com os preparativos e nós quase não o víamos mais em casa, apenas na igreja, e visitando as casas. Eu estava animada, pois, pela primeira vez, iria poder participar da festa. A minha mãe disse que só mulheres acima de 18 anos participavam da festa e como eu tinha feito 18 há alguns meses...
A única coisa que me entristecia bastante era que a minha melhor amiga, Maria, não estaria lá. Depois da festa do ano passado, a primeira que ela participou, ela fez as malas e foi embora sem nem se despedir. O que me magoou muito pois éramos bem próximas, mas papai disse que eu não deveria pensar nela, que era uma moça infame e que havia fugido com um de seus fiéis – um homem casado – aproveitando-se da festa, onde todos estavam ocupados celebrando. Ele me proibiu de manter contato com ela por cartas.
Bom, então, logo que terminei de ajudar a minha mãe na cozinha, corri para o meu quarto para me arrumar. Mamãe disse que minha roupa havia sido escolhida por ela e estava em cima da cama, e eu logo a vi. Um lindo vestido branco, que ia até os tornozelos e tinha um lindo detalhe em renda cobrindo meus ombros.
Animada, ajeitei meus cabelos loiros em cachinhos, passei um pouco de maquiagem — só um gloss e um blush nas bochechas pálidas — e vesti minha roupa. Mamãe apareceu na porta alguns minutos depois, de braço dado com meu irmão mais velho, Elias, de 23 anos. Eles também estavam impecáveis. Minha mãe com seu vestido verde escuro e meu irmão com seu terno marrom-caqui.
— O papai não vai com a gente? — perguntei, quando seguimos para a entrada da casa.
— Ele já está lá.
Foi a resposta da minha mãe. Eu dei de ombros e fui. Estava muito animada para ver como tudo seria.
Nas primeiras horas, tudo correu perfeitamente bem. E eu me perguntei porque as mulheres só podiam ir se fossem maiores de idade. Afinal, as pessoas não estavam fazendo nada demais, apenas comendo do banquete, dançando e bebendo. Talvez, fosse a hora, já que a festa iria até o amanhecer.
Não tive oportunidade para perguntar pois assim que o relógio da cidade marcou dez para meia noite, toda a cidade se reuniu para ouvir o discurso do papai.
— Estamos aqui, todos reunidos, para a Grande Festa Anual da Cidade. Agradeço a presença de todos, que vieram para desejar mais um ano de paz e fertilidade para todos nós.
Meu pai começou seu discurso, sendo estritamente ouvido e venerado por todos. Ele era mesmo amado por todos da cidade. Uma parte de mim sentiu muito orgulho em ser filha dele.
— ... Hoje eu tenho a honra de conceder à aquele que nos protege e abençoa, um de meus mais preciosos bens. Que eu cuidei e preparei até o dia de hoje...
Um pouco distraída, me assustei quando minha mãe me segurou pelo pulso me chamando. Tentei negar ir com ela, pois queria ficar ali ouvindo, mas ela insistiu e não me soltou até que eu a segui.
Ela me levou até a igreja, e eu não entendi o porquê. Ela queria falar algo em particular comigo, certo. Só que... não podia ser depois?
— Mamãe, o que houve?
Ela estava agindo estranho. Não falou, apenas ficou rígida enquanto me arrastava até o altar. Seu aperto estava começando a me machucar.
Mamãe era uma mulher de constituição fraca. Magra e de ossoa fracos, assim como eu. Na verdade todos diziam o quanto éramos parecidas: o mesmo cabelo loiro ondulado comprido na altura da cintura, mesmo olhar castanhos-mel, com um par de olhos redondos e até um pouco grandes demais. E ambas tínhamos 1.60m de altura, ela não passando dos 60kg e eu nos meus 55kg. A maior diferença entre nós era o fato de seus seios serem robustos e pesados depois dela ter amamentado dois, enquanto tudo meu era pouco: os peitos eram pequenininhos como dois limões, minha bunda pequena e quase nada de gordura corporal.
O fato é que eu consegui me livrar do aperto dela em meu pulso com facilidade, mas antes que tentasse ir embora ou perguntar novamente o que é que estava acontecendo, percebi que haviam mais três mulheres no escuro da igreja. Elas vieram e me cercaram, e eu não consegui lutar contra quando me puxaram e me prenderam no altar. Eu estava gritando e pedindo que mamãe me ajudasse, mas ela somente ficou parada, me olhando sombriamente. Meu rosto manchado de lágrimas estava sendo iluminado apenas pela luz da lua cheia, que invadia o templo pelos vidros do vitral. Meus braços foram presos à cordas que terminavam um em cada lado presos à uma coluna de pedra.
Foi então que elas se afastaram e todos ouvimos os badalares do sino da meia noite.
As portas da igreja se abriram. Meus olhos tremeram quando vi o rosto do meu pai. Isso! Ele me achou e ia me salvar do que quer que o demônio que possuira a minha mãe pensara em fazer comigo. Estava a salvo e tudo ficaria bem.
Exceto que não, não estava.
Papai também tinha aquele olhar sombrio no rosto e estava segurando algo enquanto entrava na igreja. O séquito de fiéis vinha atrás, todos em silêncio, como se estivessem possuídos. Eu imediatamente soube o perigo que corria; sabia que aconteceria algo comigo naquela noite.
— Papai, por favor...
Ele não ouviu as minhas preces. E se ouviu, ignorou.
Todos entraram na igreja e se sentaram nos bancos, me olhando em silêncio, e as portas foram fechadas novamente. Papai caminhou em minha direção junto com os homens da nossa família: meu tio, seu filho e meu irmão, Elias. Eu o encarei e implorei, mas ele, assim como todos, apenas ficou me observando.
— Eis aqui, o sacrifício — começou meu pai, a dizer em voz alta, olhando para o altar atrás de mim. — A pureza, a virgem, o branco... que será manchada em Seu nome para sempre, em sangue.
O sangue sumiu do meu rosto quando eu empalideci diante de suas palavras. O sacrifício... eu?
— Ó, Todo Poderoso do Submundo, aceite os nossos votos e nossas preces e nos conceda suas bençãos, em troca da corrupção dessa alma pura.
— Amém.
Encarei, com os olhos ardendo pelas lágrimas, toda a cidade atrás dele, que ecoaram para suas palavras.
— Pa-... papai... por favor... que tipo de brincadeira é essa? Eu não estou gostando nada disso...
Um olhar de seus olhos nos meus e eu tive certeza de que não era uma brincadeira. Só pude rezar para que tudo não passasse de um sonho horrível, de um pesadelo, de uma provação. Tinha me esforçado tanto para ser uma boa menina a minha vida inteira...
Mas talvez fosse esse o motivo, afinal.
Os rumores... os desaparecimentos estranhos todos os anos... o cuidado em não permitir novas pessoas na cidade... eles diziam que era para preservar nosso povo, nossos costumes. Mas e se não fosse isso, no final das contas?
Acho que eu não viveria muito para descobrir.
Meu coração começou a acelerar com o desespero, mas minha garganta fechou e eu não consegui falar uma única palavra quando o meu pai deu um passo para três e quem se aproximou foi meu irmão, Elias.
— Elias...
Meu irmão tão querido e carinhoso, que me segurava no colo e me fazia rir quando éramos crianças... era esse mesmo homem que me encarava com tamanho desprezo e repúdio?
Quase sufoquei com o soluço preso na garganta ao vislumbrar em seus olhos pretos o meu fim.
Fechei os olhos, com medo do que viria, esperando o golpe. Talvez uma facada em meu coração, ou talvez algo menos dramático.. ele me sufocaria? Iria acabar me axificiando com aquelas mãos que sempre vinha me acalentar?
Fiquei confusa quando senti seus dedos apressados puxando meu vestido em minhas coxas e abri meus olhos novamente. Olhei para baixo e vi que ele tinha tirado minha calcinha por entre minhas pernas e pôs ela no bolso. Não tive tempo de reclamar ou de falar qualquer coisa, pois ele simplesmente mexeu na sua calça, puxou as minhas pernas para enrolarem o seu quadril e... a dor encheu a minha visão de pontinhos vermelhos.
Sangue.
A palavra encheu meus ouvidos e a minha mente.
Sangue. Corrupção do sangue.
Meu próprio sangue. Literal e figurativamente. O meu irmão, meu ente masculino mais próximo, sangue do meu sangue... estava agora enfiado entre as minhas pernas, arrancando sangue do meu ventre.
Atrás de nós, ao longe, ouvi os burburinhos de rezas e orações. Quando abri os meus olhos, manchados e nublados pelas lágrimas secas vi toda a cidade atrás dos meus pais orando de olhos abertos, com as suas palmas das mãos viradas, como se esperassem uma chuva de bençãos.
Talvez fosse por isso que nossa cidade era próspera e tão fértil, mesmo com tão poucos recursos.
Quando senti o primeiro golpe em minha vagina, não mais pura agora, precisei morder com força o lábio e me esforçar para não gemer. Inexplicavelmente, não sentia mais tanta dor. Ao contrário do pouco que eu sabia, a dor pareceu ter ido embora em maior parte com os primeiros movimentos.
— Porra... — profanou meu irmão, sussurrando muito baixinho no meu ouvido, como se para ninguém além de nós dois ouvirmos. — Você tem uma buceta mais deliciosa do que eu esperava, irmãzinha...
A voz de Elias nublou o restante dos meus sentidos e por instinto, eu apertei minhas pernas ao redor dele.
Olhei para baixo e vi, manchas vermelhas sujando o meu vestido branco, que no início daquela noite tinha sido o mais imaculado e lindo tecido da minha vida.
Enterrei o rosto em seu ombro, mastigando os meus lábios que já sangravam. Deus. Eu não entendia, mas todo aquele pavor que se enrolara em meu estômago estava fazendo meu corpo hiperventilar. Eu me senti quente... tudo em mim estava sensível e meu sangue parecia correr todo para baixo. Meu coração batia no meio das minhas pernas e... não era de todo ruim.
Talvez eles estivessem certos em me condenar. Pois eu não estava realmente odiando tudo isso.
Temi abri a boca e gemer. Temi que meus gemidos não fossem totalmente de dor afinal de contas.
Eu estava... por Cristo, eu estava gostando disso?
Ouvi uma risadinha em meu ouvido e me arrepiei. Era como se o próprio Sete Peles estivesse ali comigo.
— Você está se contorcendo por dentro, irmãzinha — murmurou Elias só para mim. Todos estavam a pelo menos um metro de distância de nós — Não me diga que está gostando disso, sua vadiazinha?
Eu não estava! Eu não estava!
Mas eu acho que... realmente estava.
Quando um líquido quente jorrou para dentro do meu corpo, eu deixei escapar um gemido, prendendo meu tornozelo em sua bunda. O tecido áspero da calça de terno finalmente começou a incomodar a minha pele sensível, arranhando a parte interna de minhas coxas e tornando tudo aquilo ainda mais intenso. Eu senti o meu corpo inteiro tremer, e uma onda de eletricidade varrer do meu dedo do pé até meus fios de cabelo.
Forçando minhas pernas a se abrirem, Elias se soltou de mim e se afastou um passo. Abri os olhos turvos a tempo de vê-lo limpar seu pênis com um lenço, que de branco passou a rosa-vermelho manchado com o meu sangue. De costas para todos os outros, ele riu e olhou para cima, antes de voltar os seus olhos para mim e mexer os lábios sem fazer nenhum som:
“Te vejo no inferno, maninha.”
Eu não tive tempo de interpretar suas palavras, pois no próximo segundo, meu pai e meu tio vieram para cima de mim. Meu pai segurava uma bíblia aberta e meu tio um frasco de alguma coisa que eu não podia imaginar ser algo bom.
Mesmo com minha relutância, ele apertou as minhas bochechas e forçou minha boca a abrir, empurrando pela minha garganta uma bebida quente e doce que desceu rasgando. Eu não sabia o que era, mas meu corpo ficou dormente meio minuto depois. E tudo o que eu sabia era que, encanto eu encarava os olhos frios e escarniosos do meu irmão perdendo o foco, o sono invadiu as minhas entranhas e tudo ficou preto.
Eu tinha a impressão, porém, de que esse não era o fim da minha história.