Contratados: O Prazer - Capitulo IX

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 7310 palavras
Data: 23/04/2023 23:35:17

CAPÍTULO IX

*** EDUARDO ***

TÃO MACIO...TÃO

CONFORTÁVEL... não quero acordar ainda..., volte a dormir, cérebro! Volte a dormir!

− Huuum...

Uma risadinha... quem está rindo? Deve ser meu corpo, feliz por estar em um lugar tão macio... Mas essa risadinha... Eu já ouvi essa risadinha...João... Eu tô sonhando com você de novo, não tô?

− Cadê você, João? Para de rir e vem aqui fazer o que a gente faz tão bem nos sonhos...huuum...

Sinto o toque suave em meus lábios

e, feito mágica, desperto. Abro os olhos assustado para encontrar um par de pedras azuis me encarando de volta. Empurro meu corpo para trás, me afastando da boca rosada e quase me fundindo à cabeceira da cama. Levo as mãos à boca, cobrindo-a, Deus! Eu acabei de acordar! Não escovei os dentes. Mas João parece não se importar, porque está rindo um sorriso enorme.

Oh, não! Eu falei em voz alta, não falei?! Fecho os olhos e respiro ofegante, com o coração batendo acelerado no peito e a vergonha colorindo minha pele. Cristo, que jeito horrível de acordar!

− Bom dia, belo adormecido!

Depois de várias respirações profundas, volto a abrir os olhos e João está sentado na cama, ao meu lado. Pisco os olhos, ainda me acostumando com a sensação de tê-lo tão perto assim, de acordar com sua boca na minha, mesmo que no susto.

− O pijama ficou perfeito... comenta como quem fala sobre o tempo, e só então me dou conta de que em minha agitação para me afastar de seu beijo, o edredom que me cobria caiu para a cintura e, peito e barriga ficaram expostos pois estava sem camiseta.

Ainda com as mãos sobre os lábios, olho para o edredom, indecisa, e João capta meu olhar.

− Huum... É uma escolha difícil, a boca ou o corpo? -pergunta, com uma sobrancelha levantada, fingindo uma dúvida inexistente, debochando do meu estado de constrangimento. Estreito meus olhos para ele, mantenho uma mão na boca, a outra, uso para puxar o edredom até a altura do meu peito e João faz uma cara de desapontado.

− Droga, eu esperava que você não se lembrasse que tem duas mãos! reclama, fazendo-me balançar a cabeça em negação, incrédulo de sua cara de pau.

− Você pretende falar?

Respondo sua pergunta com um bufo por trás da minha própria mão, mas, depois, decido usar palavras.

− Eu ainda não escovei os dentes. -O som sai abafado e João levanta uma única sobrancelha, como quem diz: “Sério?!”, antes de segurar minhas duas mãos nas suas.

− Fale... -Ordena, e eu balanço a cabeça, negando.

− Eduardo, se você não falar, eu vou te beijar. Aqui, agora, sem que você tenha feito sua preciosa escovação dentária. Arregalo os olhos com a possibilidade e balanço a cabeça freneticamente. Não, por favor, não!

−Dormiu bem? -Balanço a cabeça para cima e para baixo como resposta.

− Eduardo, estou avisando... -Alerta e eu balanço a cabeça novamente, agora de um lado para o outro, e ele sorri.

− Ah, Eduardo! Você tem muito o que aprender... -Diz, antes de se lançar contra mim e lamber meus lábios, deixando-me desesperado, apavorado com a possibilidade de ele sentir meu mau-hálito matinal. Senhor, por que ele não pode respeitar isso? Não é possível que não entenda a possibilidade, todo mundo acorda com mau-hálito, ou esse também não é um problema que ele tenha. Será que só pobre acorda com bafo?

Movo meu corpo, tentando me afastar, mas João segura com firmeza meus braços e minhas mãos e pressiona seu corpo contra o meu, mantendo-me praticamente presa no lugar. Eu choramingo, ainda sonolento e me vendo sem opções.

− Eu vou beijar você. Pode ser fácil ou difícil, você escolhe... -sussurra em minha boca e eu imploro com os olhos para que ele não faça isso, mas sou completamente ignorado, porque, um segundo depois, ele morde meu lábio inferior e o chupa, depois, passa a língua sobre o superior, antes de chupá-lo também. A sensação é tão gostosa que, involuntariamente, paro de forçar os lábios, e sua língua invade minha boca.

Sem pedir permissão, procura pela minha, a lambe, chupa, e eu me rendo, completamente derrotado em uma batalha que eu nem consigo mais me lembrar o porquê de ter começado a lutar. Suas mãos soltam as minhas, espalhando-se pelo meu pescoço e cintura quando seus braços me envolvem. A combinação de toque, beijo e cheiro, sim, ele tem um cheiro delicioso que me atordoa e foca ao mesmo tempo, me faz esquecer de tudo ao redor, e senti-lo tão intensamente presente, que meu corpo se dissolve em seus braços, amolece.

Definitivamente, esse é um jeito muito bom de acordar. Me esfrego nele, ansioso por mais, sinto-me piscar e endurecer entre as pernas apenas com o beijo que domina uma parte cada vez maior de mim a cada instante e, quando um gemido baixo me escapa, é impossível ignorar o sorriso de João em minha boca antes de ele dar uma última lambida em meus lábios e se afastar.

− Nunca mais me negue sua boca... -Mantém a testa grudada na minha e, por mais que o comentário pareça absurdo, ele faz soar como uma ordem incontestável. Permaneço em silêncio, sem a menor intenção de falar até que ele ameaça.

− Se você não falar, eu vou beijar você de novo. -Mas, ainda perdido na névoa de desejo, a ideia não parece tão ruim. Na verdade, parece boa, excelente, e João, como sempre, me lê e sorri grande.

−Você ia gostar disso, não ia? Pergunta enquanto seu dedo passeia pelo meu maxilar e bochechas. Ele balança a cabeça para os lados, negando, mas parecendo se divertir com a descoberta.

− Fala comigo, Eduardo... -Expiro com força, e torço os lábios em desgosto.

− Eu queria escovar meus dentes primeiro. -resmungo baixo, me esforçando para abrir a boca o menos possível, principalmente com ele tão perto.

− Eu já senti seu gosto! E eu não me importo... -Levanto os olhos para encontrar os seus.

− Isso é nojento! Só acontece nos filmes e novelas, porque ali não é de verdade. -Sua expressão se transforma quando ele veste sua máscara de ironia.

− Não era bem nojo que você pareceu estar sentindo... -Reviro os olhos antes de estreitá-los para ele.

− Você entendeu o que eu quis dizer...

− Não, eu não entendi, do ponto de vista higiênico, pessoas que se relacionam fazem coisas muito mais questionáveis do que um beijo sem escovar os dentes... Isso é besteira... -Arregalo os olhos, me perguntando que coisas questionáveis são essas. Percebendo minha reação, João gargalha antes de me responder.

− Nada peculiar... Nada peculiar... -Respiro aliviado. Ele deixa que uma de suas mãos deslize pela curva de minha cintura, fazendo-me perceber que, mais uma vez, me desvencilhei do edredom e fiquei exposto. Depois, abaixa os olhos, analisando cada detalhe de seda e, imediatamente, sinto a vermelhidão tomar conta do meu pescoço e rosto. Ele dá uma risadinha abafada.

− Eu não entendo a facilidade contraditória com que você fica vermelho. Se esfregar em mim tudo bem, mas eu olhar pra você não pode... comenta, despreocupadamente, me deixando ainda mais constrangido, lembrando-me de que eu realmente me esfreguei nele. João ri um pouco mais, antes de encaixar os dedos em meus cabelos e massagear meu couro cabeludo. Não consigo evitar, meus olhos se fecham e um gemido de satisfação escapa de mim, arrancando mais risinhos sínicos dele.

−Gostou do pijama? -A pergunta me faz abrir os olhos e o que vejo nos seus me esquenta. Balanço a cabeça, afirmativamente, e ele sorri.

− Eu também, mal posso esperar pra tirá-lo. -Arregalo meus olhos e abro a boca, em choque. Incapaz de responder a isso, mas sentindo o efeito das palavras se unirem ao estrago que o beijo fez no meu ponto mais sensível, mesmo sabendo que não deveria.

− Eu preciso ir trabalhar. Você dormiu por quase vinte horas. Eu não queria te acordar, vim só ver se você ainda estava vivo, sabe? -Com o comentário, seus olhos sorriem tanto quanto seus lábios. João é bonito, mas quando sorri... Nossa mãe! Ele é... é... eu não sei uma palavra que o defina, glorioso?! É talvez essa sirva, glorioso! E, mesmo que na maioria das vezes seja as minhas custas, ele tem sorrido bastante quando está comigo.

− Não é minha culpa, a sua cama é realmente muito boa... Eu tentava acordar, mas ela me abraçava e, quando eu percebia, já tinha dormido outra vez... eu nem sonhei! -Me defendo, e só me dou conta de que escolhi más palavras quando ele fala.

− Mas sentiu falta, não sentiu? Eu já estava saindo do quarto, mas você me chamou pra gente fazer, como é que foi? Huum..., o que a gente faz tão bem nos sonhos..., foi isso..., eu não podia sair daqui em silêncio depois de um convite desses...

− Eu tava dormindo, as coisas que a gente fala dormindo não se escrevem!

− Ah se escrevem! Se escrevem sim! Principalmente quando é um pedido tão manhoso e gostoso... -Leva a boca até o meu ouvido e sussurra, depois, volta a me olhar.

− Mas, infelizmente, pra nós dois, eu vou ter que recusar. Preciso ir trabalhar. Explore a casa, se precisar de alguma coisa, Laura está na cozinha e vai ficar aqui até eu voltar...

− Mas, João... -começo, pronto para falar sobre o fato de que o combinado era que conversaríamos depois que eu tivesse comido e descansado.

− Não é minha culpa se você dormiu mais que a cama. Preciso ir ao escritório. Ontem eu saí muito mais cedo do que deveria. Vou tentar não sair tão tarde, mas não garanto.

− Mas, João...

− Sem mas. Quando eu voltar, conversamos. Não ouse tentar ir embora antes disso. -Bufo e faço uma careta, o que o faz sorrir.

− Ah, Eduardo! Eu adoro ver você bravinho, mas eu gosto ainda mais de te ver de um outro jeito! -Se levanta, e a curiosidade vence minha indignação, porque me vejo perguntando.

− Que jeito?

− Gozando. -Pisca um olho para mim, antes de virar as costas e caminhar para fora do quarto, deixando-me vermelho e atônito, sentado sobre a cama. Eu o observo fechar a porta do quarto, o som suave me desperta do estado em que ele me colocou. Deslizo o corpo para a cama e me cubro até a cabeça com o edredom para que ele abafe o som do meu gemido de frustração.

********

Deitado na beira da piscina com as pernas dentro dela, olho para o céu vazio de estrelas. Talvez esta seja a única coisa, além da minha mãe, de que eu sinto falta em São Roque, o céu. É impossível ver as estrelas aqui, e elas sempre me trouxeram esperança. Há muito tempo, descobri que, na verdade, as estrelas são um retrato do passado. A luz que vemos brilhar no céu não é um reflexo instantâneo, o que vemos, é apenas parte da passagem que ela já fez, porque mesmo viajando na velocidade da luz, a distância entre elas e nós é tão grande, que não conseguimos acompanhá-la enquanto passa, nossos olhos só captam o que já aconteceu. E o fato de, apesar de toda essa distância e velocidade, seu brilho ainda poder iluminar o céu sobre nossas cabeças, sempre me permitiu acreditar no futuro, em dias melhores. As estrelas, tão distantes, e, ao mesmo tempo, tão presentes, sempre me deram esperanças de alcançar meus objetivos. Sinto falta de acreditar nisso.

Sinto falta de fazer planos, faz tanto tempo que parei. No fim das contas, hoje foi um bom dia. Depois de dormir por mais algumas horas, acordei e me dei conta de como eu estava exausto e, livre da sensação, percebi que havia muito tempo que eu vinha me sentindo assim. Passeei pela casa, descobri todos os cômodos, menos o quarto dele, embora eu tenha me roído de curiosidade. Mas descobri “meu” próprio quarto. Ele não é apenas bonito, é lindo, provavelmente, eu nunca estarei em um lugar tão ou mais bonito que essa casa.

Pensar nisso me fez sorrir, porque, pela primeira vez, eu não precisei fingir que estava no lar dos meus sonhos, porque mesmo que fosse só um quarto, ele se parecia mais com aquilo que sempre habitou meus sonhos mais secretos, do que qualquer outro lugar em que eu já tenha estado. As paredes claras, o papel de parede, os móveis luxuosos, o closet. Deus! Eu tenho um closet, e nunca perdoarei João Pedro por me dar essa sensação, mesmo que por algumas horas. Como eu deveria viver sem ela daqui para frente?

Descobri cada pedacinho dele. Havia não só roupas, como acessórios, sapatos, perfumes e algumas bijuterias. E sim! São bijuterias e eu me recuso a pensar sobre isso! Gargalhei ao me lembrar dele dizendo que isso era pouca coisa. O homem é insano, não faz ideia do que está falando. Fiquei no quarto por horas, explorando, olhando cada peça de roupa pendurada ou dobrada, me horrorizando com as etiquetas, pesquisando as marcas no google e ficando chocado com os preços, ou, com uma foto ou outra de uma celebridade vestindo algo exatamente igual ao que eu tinha diante dos meus olhos, ao alcance das minhas mãos. Não parecia real... Não podia ser real... me belisquei, mas tudo continuou exatamente igual.

Descobri que ali era meu lugar preferido. No closet, que era maior que minha antiga casa, e não por causa das roupas, mas porque, de alguma forma, me senti conectado com o espaço, uma sensação de pertencimento me abraçou em cada metro quadrado que pisei dessa casa, contudo, me recuso a senti-la sempre, então, decidi que posso conviver com ela se acreditar que está limitada a um espaço menor. Senti saudades da minha mãe, uma saudade imensa e incontrolável, fiz algo extremamente atípico nos últimos meses, liguei para ela durante a semana.

A verdade é que, ultimamente, nossos telefonemas eram bons e terríveis na mesma medida. Bons porque ela é minha mãe, e eu sinto tanto a sua falta, que falar com ela por alguns minutos uma vez na semana é como encher um balde com um conta-gotas, é quase nada no mar de saudades que sinto, mas é tudo o que tenho. Entretanto, a cada ligação, eu meu sentia pior pelas mentiras contadas, cada vez mais distantes da realidade que eu vinha vivendo. Às vezes, a necessidade de colo superava a vergonha, outras não. Mas hoje, hoje eu não menti quando disse que estava bem, não menti quando falei que tinha tido uma noite de sono incrível numa cama nova, ou quando contei para ela do café da manhã sensacional que havia tomado, ainda que tivesse levantado da cama às onze da manhã.

Desliguei o telefone sem culpa alguma, sorrindo, com um grão a menos na imensa quantidade de areia que é saudade que sinto de minha mãe. A leveza me deu coragem para resgatar das minhas caixas um dos meus velhos livros. Reli um conto que eu amo, mas que há muito tempo não lia, porque ele fala sobre ser dono do seu próprio destino, e há tanto tempo quanto eu não pegava naquela história, eu tinha deixado de acreditar que poderia ser o dono do meu.

Dona Laura, que, aliás, é um amor, passou o dia inteiro me perguntando se eu precisava de alguma coisa, e quando provei sua comida na hora do almoço, eu quis chorar por motivos óbvios. Assisti televisão, dormi mais, comi mais, li mais, comi mais um pouco e, agora, aqui estou, olhando um céu vazio e me dando conta de que há anos minha vida vinha sendo como ele, finalmente, enfrentando verdade de que eu não consegui. Deixei mina cidade natal com mil e um planos e todos eles continuam comigo. Nenhum foi realizado, nem unzinho para contar história. E, há muito mais tempo do que eu gostaria, deixei de ter tempo para realizá-los, repensá-los ou criar novos.

A verdade é que a vida adulta me engoliu. Sozinho, nessa selva de pedra que é a cidade São Paulo, precisei correr e lutar pela minha própria existência. Casa, comida, roupas, dinheiro, tempo, tudo era urgente, tudo era para ontem, mas os meus sonhos não. Eles podiam esperar. E esperaram. Esperaram até que fossem esquecidos. Eu queria tanta coisa..., queria ter minha própria casa, ter um trabalho em que eu fizesse a diferença, queria descobrir no que sou bom, queria estudar.

Eu nunca quis mudar o mundo, só queria me sentir parte dele, mas ao invés de me abraçar, como eu sempre achei que ele faria, o mundo me derrubou e, todas vezes que tentei me levantar, ele me jogou no chão outra vez. Até que eu entendesse que era ali que ele acreditava ser o meu lugar. Anos atrás, esse pensamento teria servido de combustível para que eu lutasse com ainda mais força e determinação. Hoje, é apenas triste. Porque quando se passa muito tempo lutando as mesmas batalhas, com as mesmas armas quebradas, eventualmente, você se cansa, e desiste, mas quando essa batalha se chama felicidade, desistir é ainda pior do que ser continuamente derrotado, o dia de hoje me fez perceber isso. Porque, aqui, cercado de conforto e cuidado, eu me senti feliz, e Deus! Que saudade dessa sensação. Que saudade de ser mais do que tristeza e solidão.

Todos esses pensamentos me levaram a um fim inevitável. Eu escolhi ficar. E, ao mesmo tempo em que a ideia me apavora, faz eu me sentir extremamente poderoso, porque, pela primeira vez, em muito, muito tempo, estou escolhendo que caminho seguir, e não apenas sendo empurrada em qualquer direção que a vida, ou que a derrota e a exaustão queiram.

Não acho que vá ser fácil, não sei o que João quer de mim, sei que ele quer meu corpo. Mas isso é tudo? E se for, será que isso não se tornará um problema? Não sou tolo. Sei que um homem como ele, com a vida que leva, acostumado a ter tudo o quer em suas mãos sempre, como ele já deixou muito claro, não será alguém fácil de me relacionar. Ainda mais assim, morando debaixo do mesmo teto.

Como é aquele ditado? “Quer conhecer alguém? Vá morar com ele...”

Não sei se estou pronto para conhecer João Pedro. Mas sei que eu quero, não por ele, mas por mim. Porque já passei tempo demais sem me dar o direito de desejar alguma coisa, qualquer coisa. E não vou me negar isso agora. Mesmo que todas as partes de mim concordem, unanimemente, que ceder justamente a esse desejo é perigoso.

Ouço passos se aproximando, mas não me movo. Permaneço deitado encarando o céu, me despedindo do reconhecimento que vejo nele. É a última vez, céu. É a última vez que me sinto vazio. Porque não importa para onde toda essa coisa com João me leve, de uma coisa eu tenho certeza, eu não volto mais para a posição frágil em que eu estava onde ele me encontrou.

− Você sabe que tem espreguiçadeiras e cadeiras aqui, certo? -João me pergunta com um tom de voz divertido, enquanto vejo seu rosto de cabeça para baixo.

− Sim, eu sei, mas eu não poderia molhar meus pés se estivesse sentado em uma delas.

− E por que você não se molhou inteiro? Eu teria adorado chegar em casa e encontrar essa visão...

− Eu tive vontade, mas não tenho um sunga.

− É verdade, não pedi por isso. Por que não usou uma das suas?

− Porque eu não tenho um... -João franze as sobrancelhas e, da maneira como estou olhando para ele, sua expressão fica engraçada.

− Você não tem uma sunga?

− Não, a que eu tinha rasgou faz tempo e, depois, eu não ia à praia mesmo, então não fazia sentido gastar dinheiro com um novo. E sungas não são peças que se possa comprar em lojas de roupas usadas. Precisa ser novo...

− Entendi... -Sua voz é baixa e sua expressão dura. Não é a primeira vez que percebo que minha situação financeira mexe com seu humor, e, para ser sincero, esse é mais um dos motivos que me fazem querer ficar. Mesmo que ele diga que só quer sexo de mim, João se importa, e eu anseio por qualquer mínima importância que eu possa receber. É triste me contentar com pouco, mas para quem passou tanto tempo sem nada, o pouco parece um tesouro. E isso vale não só para comida e dinheiro, para afeto também. Isso não significa que eu esteja disposto a passar o resto da vida sobrevivendo de migalhas, é só que, eu tenho que começar por algum lugar, certo? João se move e o som de seus sapatos, arrastando no chão, tão próximo dos meus ouvidos, me desperta dos meus devaneios.

− Você parece cansado... Ou é só porque eu estou te vendo de cabeça pra baixo?

− Não, você tem razão... eu to cansado... de cabeça pra cima também...

O comentário me faz sorrir.

− Você sempre chega tarde assim?

− Na verdade, hoje eu cheguei cedo... -Ergo a sobrancelha, porque já passam das nove da noite, definitivamente, para alguém que saiu para trabalhar tão cedo quanto ele, e, principalmente, pra alguém que já é rico, isso não me parece cedo.

− Sabe, Eduardo. Eu estou louco pra beijar você. Então será que você pode levantar pra gente conversar, eu te convencer que você quer trabalhar pra mim, e, então, finalmente, você começar seu expediente de assistência pessoal? As palavras me fazem ficar vermelho, mas também me fazem rir sonoramente, porque ele é tão convencido... Céus! É muito mesmo.

Levanto do chão, me sentando e, com cuidado para não molhar tudo, tiro as pernas de dentro d’água para, só então, ficar de pé. Finalmente, vendo João Pedro do jeito certo. E, o fato é que, independentemente do ângulo ou do seu nível de cansaço, ele continua sendo o homem mais bonito que eu já vi na vida. Me aproximo dele e enlaço seu pescoço com meus braços, ele faz uma expressão engraçada, desconfiada, e eu sorrio mais.

− Eu já fui convencido. -digo baixo e ele afasta o rosto de mim, como se quisesse ter certeza de que está enxergando certo. Sua desconfiança não vai embora, ele meneia a cabeça, mas, lentamente, enlaça minha cintura com os braços. Quando fala, suas sobrancelhas ainda estão arqueadas em dúvida.

− A quem eu devo agradecer?

− Ao céu. -Inclino minha cabeça, olhando para a imensidão azul escura acima de nós.

− Deus? Santos? -Foco meu olhar no seu.

− Ao vazio. Agradeça ao vazio, João, porque olhando pra ele, percebi que estou cansado de sentir que ele e eu somos iguais. -Sua expressão se torna séria e uma de suas mãos sobe até meu rosto, acariciando-o.

− Você não é vazio...

− Eu não fui sempre, e não serei mais, mas eu estive, e cansei...

− Eu não vou te completar, Eduardo. Eu preciso que você saiba que não é isso que eu tenho pra te oferecer...

O comentário faz minha mente projetar imagens que deixam minha pele quente, e não consigo me impedir de gargalhar. A confusão se estampa no rosto de João Pedro, provavelmente, achando que sou maluco, porque, teoricamente, o que ele disse não tem nada de engraçado.

− Sério? Eu achei que a dinâmica fosse como um quebra-cabeças... Eu nunca fiz, mas já ví uns vídeos... comento, divertido, e João leva alguns segundos para entender do que eu estou falando, quando o faz, gargalha alto, jogando a cabeça para trás e sacudindo os ombros.

− Você viu filmes pornôs? -pergunta, ainda com lábios e olhos sorridentes.

− Eu estava curioso, ué... -Balança a cabeça, negando: − Eu não espero que você me complete, João. Essa é uma responsabilidade só minha, mas fazia muito tempo que eu tinha aberto mão dela. Você disse que me quer, e, bem, eu também quero você. E decidi que se eu quero, eu vou ter...

− Você é surpreendente... -João me observa com olhos analíticos. Seus dedos traçam círculos em minha bochecha e traços em meu queixo: − Cada pedacinho de você é uma peça completamente diferente da outra... -Seu olhar, focado em meus olhos, muda. Passa a me atrair, consumir. Sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo e faço aquilo que vai consumar minha decisão. Eu o beijo.

O beijo começa lento, suave, mas cresce, como uma onda que se forma em mar aberto e vem crescendo até quebrar na areia. Nossas línguas de envolvem e se deliciam uma com a outra, entrando e saindo de nossas bocas. Seu gosto é delicioso, seu toque é quente e sua pele acende a minha. O cheiro de João se infiltra pelo meu nariz, atingindo todo meu corpo e a combinação de tudo me transforma em uma massinha, que ele modela habilmente.

Sua boca desencaixa da minha e ele morde meu queixo, suas mãos pressionam minha coluna e eu subo as minhas, agarrando seus cabelos e impulsionando meu corpo para frente, esfregando meu tórax no seu, buscando mais e mais contato, desejando mais, muito mais. Ele lambe minha pele, e eu gemo manhoso, sentindo meu corpo se render completamente. Quando seus lábios voltam aos meus, beijando, lambendo e chupando, eu respiro ofegante.

− Vamos. Você tem um contrato pra assinar... -sussurra em minha boca, e a promessa contida nessas palavras é como uma flecha de fogo atingindo o alvo bem no meio das minhas pernas.

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*** JOÃO PEDRO ***

− AI MEU DEUS! Isso é o que eu te enviei por e-mail! -Eduardo exclama com os olhos arregalados, ao ler o contrato sobre a mesa diante dela e eu sorrio: − Era uma piada, João! Uma piada! Você não pode realmente querer assinar isso, né? -Olha para mim, de pé, ao seu lado, e eu ergo minhas sobrancelhas.

− É claro que eu quero! E não é exatamente igual ao que você me mandou. O advogado fez algumas alterações, você leu tudo?

− Não! Parei na parte que diz que o objetivo da coisa é acordar que o contratado desempenhe seu papel, garantindo assim a satisfação do contratante, porque fui eu quem escreveu essas besteiras!

− Então leia tudo. Sem pressa, e pergunte, não assine nada sem tirar todas as suas dúvidas...A base é o seu contrato sim, mas, na verdade, esse é um contrato, legalmente válido, de prestação de serviços entre pessoas físicas. Depois que assinar isso, você será oficialmente meu assistente pessoal. Todas as informações sobre o seu horário de trabalho, residência, salário, tudo está descrito ao longo dessas páginas, e o anexo um é um termo de confidencialidade. -oriento enquanto Eduardo olha para os papéis sobre a mesa redonda do seu quarto como se eles fossem dragões austríacos, ao ouvir minhas últimas palavras, uma expressão apavorada toma conta de seu rosto.

− Confidencialidade? -Seus olhos estão arregalados, me fazendo franzir as sobrancelhas.

− Sim, Eduardo... Confidencialidade, eu sou uma figura pública... Não acho que você queira sair por aí espalhando as particularidades do que estamos fazendo, mas é algo exigido pelo meu departamento jurídico. -minto, porque não quero dizer para ele que minha preocupação não é que ele venda a história, mas sim o que as pessoas próximas dele podem fazer com a informação se a receberem... Eduardo morde o lábio e passa alguns segundos alternando seu olhar entre mim e os documentos diante de si. Inclino minha cabeça, analisando o óbvio desconforto em seus olhos.

− Fala, Eduardo ...

− É que... é que... -gagueja, antes de levar as mãos ao rosto, escondendo-o de mim. Puxo a cadeira ao seu lado e me sento. Depois, levo minhas mãos às suas, impedindo-a de continuar a esconder o rosto.

− É que o quê?

− É que pode ser tarde demais pra isso! -fala rápido, fazendo com que as palavras saiam atropeladas de sua boca e meu cenho se franze em preocupação.

− Como assim, tarde demais?

− Eu contei pra Joana. -Eduardo fecha os olhos com uma expressão de culpa que quase me faz sorrir. É exatamente por esse tipo de atitude que eu tenho certeza de que, não importa o que aconteça, ele nunca vai contar essa história para alguém com a intenção de me prejudicar. Já a tal Joana...

− Entendi. O que exatamente você contou pra ela? -questiono, cauteloso.

− Tudo!

− Tudo? -A revelação me deixa surpreso, não achei que Eduardo fosse do tipo que compartilha detalhes sórdidos.

Ele percebe minha surpresa.

− Eu precisava contar pra alguém, ou

ia explodir, João! Eu tava enlouquecendo! Queria te ligar desde o minuto em que você saiu da minha casa, mas, ao mesmo tempo, não queria... Começa a falar rápido e, conforme vai chegando às últimas palavras, o tom da sua voz muda, ficando baixo e espaçado.

− Desde que eu saí? -Me divirto com sua admissão e seus ombros abaixam quando Ele faz uma expressão de cansaço.

− Sério? Sério que, de tudo o que eu disse, foi só nisso que você prestou atenção? -Sorrio e aproximo meu rosto do dele. Deslizo meu nariz por sua pele e ele fecha os olhos.

−Eu prestei atenção em cada palavra, Eduardo. E tá tudo bem. O que passou, passou. Esse termo só vale pro que vai acontecer daqui pra frente. -Seus olhos se abrem e ele inclina a cabeça para trás, afastando o rosto de mim.

− Então eu vou ter que mentir pra minha amiga?

− Não. Você vai precisar escolher com cuidado o que dizer. Você pode contar que é minha assistente pessoal, que mora aqui porque eu preciso de você em um horário não convencional, e o que mais você quiser, desde que não mencione a duplicidade do nosso contrato.

− Desde que eu não diga que estamos transando... -corrige minhas palavras, me fazendo gargalhar.

− Isso...

− Isso não me parece muito justo. Argumenta e eu o observo, atento.

− Explique...

− Eu não vou ter ninguém pra conversar. Eu... eu posso ter dúvidas, eu posso querer simplesmente desabafar, não é justo que eu não possa falar com ninguém. -Movo os lábios em um

movimento involuntário, pensativo sobre suas palavras.

− Tudo bem. Se ela assinar um

desses, você pode contar pra ela. -cedo, mas Eduardo não se dá por satisfeito.

− Você não pode esperar que eu peça à minha amiga pra assinar um termo de confidencialidade, João Pedro! Não seria justo também.

− É o que eu posso fazer. Não vou confiar detalhes sobre a minha vida a uma pessoa que eu não conheço. Se você quiser conversar com ela sobre isso, convença-a a assinar. Não vai mudar a vida dela em absolutamente nada, a menos que ela abra a boca sobre o que não deveria. Se isso acontecer, ela vai me dever muito dinheiro.

− Muito quanto? -pergunta, e eu desvio meu olhar para os papéis, indicando que ela precisa ler com atenção. Eduardo revira os olhos e bufa, mas volta sua atenção para a leitura, procurando a informação que quer.

− Puta merda! Cinco milhões de reais? O quê? -grita, ao encontrar o valor que procurava.

− Uma fofoca dessa me custaria muito mais do que isso! Você nem faz ideia... -Me observa com um olhar chocado e permanece em silêncio, até que não mais.

− Cinco milhões é muito, muito, muito dinheiro! Eu não sei nem o quanto...

− E se ela não quebrar o termo, nunca vai precisar saber também... Mas a escolha é sua. Só me avise o que decidir. - Eduardo balança a cabeça, confirmando, antes de voltar seus olhos para o papel, morder o lábio, inclinar a cabeça para o lado e, depois, finalmente assiná-lo. Ele coloca a folha embaixo das outras e passa a ler o contrato. Ficamos em silêncio por vários minutos, até seu grito quebrá-lo.

− VINTE E CINCO MIL REAIS?! -

Sorrio, porque eu já esperava por isso...

− O que eu posso dizer?! Meus funcionários são bem pagos... -Conto uma meia verdade, porque eles realmente são. Mas nenhum secretário em todo o grupo Govêa ganha sequer metade disso. Mas, se considerarmos que eles trabalham 8 horas por dia, e

Eduardo estará a minha disposição por vinte e quatro horas, o valor me parece justo.

− João, isso é um absurdo!

− Uau! Eu to impressionado com o valor que você dá a si mesmo... - Eduardo abre a boca para responder, mas fecha, pensa por alguns segundos e, só então, fala.

− Eu me dou valor. -Levanto uma sobrancelha para ele. Eduardo revira os olhos, mas admite: − Tudo bem, não tanto quanto eu deveria, mas mesmo que eu desse, eu não tenho formação pra um salário tão alto, João...

− Eu já te disse isso, eu estou pagando pelo seu tempo. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Eu estou, literalmente, comprando a sua vida pelo tempo que o nosso contrato durar. Você não tem folga, e, acredite, eu vou exigir isso de você!

− E o que você vai fazer comigo durante essas vinte e quatro horas? Porque, João, isso é muito tempo..., é impossível que você realmente use todo ele..., você pode dizer que vai, mas não dá! Você trabalha!

− Eduardo, eu acho que você não está entendendo... A questão aqui não é o quanto eu vou requisitar seu tempo, mas o fato de que eu vou ser dono de todo ele. Pelo tempo que esse contrato durar, você não vai poder atravessar a rua sem o meu conhecimento ou permissão. Eu vou ser dono de cada um dos seus passos, minutos e vontades. Estar a minha disposição significa abrir mão completamente do seu controle sobre a sua própria vida. Você entende isso?

Eduardo pisca os olhos várias vezes. Finalmente se dando conta do que eu quero dizer. Depois, me encara, atEduardo, por algum tempo. Por fim, move a cabeça, confirmando. Seu lábio inferior é capturado pelos seus dentes, sendo mordido por eles e causando em mim uma vontade imensa de lambê-lo. Com o polegar, puxo seu lábio, liberando-o e acariciando levemente.

− Isso é... intenso... João... Quer dizer... eu, eu... eu não imaginei que seria assim...

− Quer desistir? -pergunto, sabendo qual vai ser a resposta.

− Não! -responde rapidamente: − Só é muita coisa pra processar...

− Eu não estava brincando. Pelo tempo que esse contrato durar, você vai ser meu, todo e só meu!

Ele inclina a cabeça, como se considerasse ou não fazer uma pergunta.

− Fala, Eduardo! -exijo.

− E você? Vai ser só meu? -A vermelhidão imediatamente toma conta de seu pescoço e rosto, me fazendo sorrir. É o tipo óbvio de pergunta que ele faria, mas ainda assim, me surpreende que ele realmente tenha feito.

Levo algum tempo o observando e considerando. Eu serei? Não acho que não, mas também não posso prometer que sim. Escolho a saída mais fácil, contornando as palavras até que elas me sirvam...

− Enquanto nosso contrato estiver sendo cumprido, não vejo motivos pra não ser.

Ele balança a cabeça, concordando, satisfeito, e volta a ler o contrato, até a próxima dúvida surgir.

− Três meses?

− Sim, um contrato padrão de experiência, se der certo, conversamos sobre renová-lo.

− Se der certo... -Murmura para si mesmo, mas eu ouço ainda assim. Escolho ficar em silêncio, deixando-o com seus pensamentos.

− Aqui diz que roupas, viagens, todos os gastos necessários para que eu desempenhe minha função e a decoração do meu quarto serão providenciados por você...

− Sim! Dentro do envelope você vai encontrar um cartão de débito, de uma conta que foi aberta em seu nome para depósito do seu salário, e um de crédito. -Aceno para a pasta de papel em que trouxe o contrato e o termo e Eduardo a abre, encontrando lá os dois cartões em seu nome: − Use o de crédito para qualquer despesa que você tenha, seja um café, uma roupa, ou uma passagem aérea, embora nossa agenda vá ser coordenada pela Norma. Você não vai precisar se preocupar com coisas grandes. Tudo o que você quiser, quando você quiser, nada está fora dos limites. Apenas use o cartão. Não gaste seu salário com nada que for usar ou consumir enquanto estiver a meu serviço.

− Tudo o que eu quiser? Qual é o limite dessa coisa? -Pergunta com uma risada incrédula e eu gargalho.

− Não tem limite... -Seus olhos se arregalam em surpresa.

− Como... como assim não tem limite?

− Não tendo... Você pode comprar o que quiser com ele. Até uma casa... comento, divertido.

− Por que você faria algo assim? Por que me daria um cartão desses? -soa alarmado, e inclino minha cabeça em um “Sério?!” silencioso.

− Você pretende comprar uma casa com esse cartão?

− Claro que não! -responde rápido e alto!

− Exatamente... Arrisco dizer que essa fatura vai ser tão insignificante, que meu contador nem vai mencioná-la no meu imposto de renda..., mas não me custa reforçar, mesmo achando que você não vai fazer, use o cartão! Seus gastos, necessários e supérfluos, fazem parte do nosso contrato.

Ele balança a cabeça em negação. Como se as palavras não fizessem sentido para ele.

− Tudo bem... -Concorda, por fim: − Mas sobre a decoração do quarto, ele é perfeito... por que eu iria querer mudar alguma coisa? -Passa os olhos ao redor, como se estivesse confirmando com os olhos as próprias palavras.

− Não sei... Você gosta de ler, não gosta? Não seria bom ter um lugar específico pra isso nele? Uma estante, um divã, talvez? -Seus olhos brilham com a sugestão, mas logo depois, ele nega com a cabeça.

− Não precisa! Essa casa é tão grande, e tem a piscina, as espreguiçadeiras... -Bufo, impaciente.

− Você gostaria de ter uma estante e um lugar apropriado pra leitura no seu quarto?

− Não precisa...

− Não foi isso que eu perguntei! -É a vez dele de bufar, logo depois, murmura algo que se parece muito com “mandão”, me fazendo sorrir.

− Eu gostaria, mas é desnecessário.

− Eu já falei isso antes, mas talvez eu não tenha sido claro o suficiente. Nada que você precise, ou queira, é desnecessário! Absolutamente nada. Se você quer, terá!

− Mas eu nem queria nada, foi você que teve a ideia!

− É por isso que você precisa da arquiteta, conhecendo você, ela vai te dar várias opções de melhorias no seu espaço...

− Mas... -Começa a falar, para logo em seguida parar.

− Diga...

− Por que eu preciso de um quarto? Quer dizer, não é como se nós não fôssemos dormir juntos...

− Nós não vamos dormir juntos, Eduardo. -Esclareço e suas sobrancelhas se franzem.

− Não?

− Não.

− Mas você disse que...

− Que queria transar com você. Sim, eu quero. Mas dormir não faz parte disso. -Ele acena, em concordância, demonstrando entender o que eu digo, e, em uma mudança súbita, seu rosto é iluminado por um sorrisinho sutil, como se ele tivesse se lembrado de alguma coisa engraçada.

− E, se fizermos isso, eu vou querer ter seu próprio quarto? -É a minha vez de franzir o cenho, sem entender o que, exatamente, ele quis dizer com o comentário. Eduardo agora sorri abertamente.

− Você não faz ideia do que eu quero dizer, né? -Nego com a cabeça, concordando.

− É um trecho de cinquenta tons de cinza, quando o Grey diz pra Anastásia que se ela aceitar ter uma relação BDSM, ela vai querer ter o próprio quarto.

Cinquenta tons de cinza? É esse o tipo de livro que Eduardo lê? Agora, é no meu rosto que um sorriso se espalha.

− Você quer que eu te amarre e te bata, Eduardo? -Pergunto com uma sobrancelha levantada, aproximando meu corpo do seu e encaixando minhas pernas entre as suas. Levo uma de minhas mãos à sua cintura e a outra, ao seu pescoço, obrigando-o a olhar para mim. Deslizo meus dedos pela lateral do seu corpo, apertando-a. Ele morde o lábio e eu enfio meus dedos entre as raízes de seus cabelos, antes de levar minha boca a milímetros da sua: −

Porque se você quiser, eu posso fazer...

Ele fica vermelho imediatamente, e, sem conseguir me controlar, lambo seus lábios. Um gemido baixo escapa deles e eu me torno impaciente para que ela termine de ler o maldito contrato.

− Mais alguma dúvida? -questiono, ainda com a boca colada à sua e ele gagueja suas próximas palavras.

− E-eu... a-ain-da... nã-não... acabei de ler... -Solta as últimas em um sopro.

− Então termina. Só... termina... -peço, derrotado, passando a língua sobre os seus lábios mais uma vez antes de soltá-lo e afastar meu tronco do seu. Ele leva alguns segundos me observando com olhos atentos e sua pele avermelhada me atiça e provoca, porque eu estou cada vez mais louco para saber se ele vai ficar vermelho quando eu enfiar minha cabeça entre as suas nádegas.

− Termina de ler essa porra, Eduardo! sibilo, e ele balança a cabeça, como se quisesse clarear os próprios pensamentos, antes de voltar seus olhos para os papéis diante de si. Eduardo passa alguns minutos passeando os olhos de um lado para o outro na folha de papel, até que suas sobrancelhas se franzem e ele fixa seus olhos por uma quantidade desnecessária de tempo em um único trecho.

− Pergunte, Eduardo!

− Aqui diz que eu não posso rescindir o contrato, só você. -Traz seu olhar para o meu rosto.

− Exatamente.

− Mas isso não faz sentido, e se eu não quiser mais? -A preocupação fica estampada em seus olhos enquanto ele olha para mim com a testa franzida e o corpo ereto.

− Você conversa comigo, e nós vamos tentar encontrar uma maneira de contornar a situação. Se não houver, eu termino nosso acordo. Eu jamais te obrigaria a fazer nada que você não queira.

− Não é o que essa cláusula faz parecer. -Rebate, imediatamente, com uma expressão de desagrado.

− Eduardo, esse é um contrato de prestação de serviços com prazo limitado, eu já disse, e repito, nossa vida sexual não tem nada a ver com ele. Você não poder quebrá-lo, não quer dizer que você só vai poder parar de transar comigo quando eu quiser. Só que eu sou muito mais experiente que você, e, pode ser que aconteça algo que faça você querer acabar com o contrato, eu só quero garantir que não seja algo que poderia ser resolvido com uma conversa... É simples assim.

− Então, por que aqui diz que eu vou ter que te pagar uma multa de trezentos mil reais se quebrar o contrato de alguma maneira? Seja trabalhando para outra pessoa, o que nós dois sabemos muito bem o que significa, ou, simplesmente, me recusando a cumpri-lo até o fim?

− Porque passivos são muito emotivos? – Ele abre a boca e os olhos, ultrajado com a minha resposta, me fazendo sorrir.

− Você não pode realmente ter dito isso!

− É brincadeira, Eduardo. É brincadeira. Essa cláusula está aí pra garantir que, não importa o que aconteça, nós vamos conversar antes de isso acabar, eu prometo a você que não há nenhuma intenção escondida, e quanto a não trabalhar para nenhuma outra pessoa, que bom que você entendeu o que significa, porque é exatamente isso! Eu não compartilho Eduardo! -Ele revira os olhos para mim.

− Quem é que está ficando repetitivo agora? -Estreito meus olhos para ele.

Coisinha atrevida da porra!

− Terminou?

− Eu não sei se gosto disso... Da coisa de você ser o único a poder acabar com isso, eu quero dizer. -Estala a língua e torce os lábios enquanto alterna o seu olhar entre mim e os papéis.

− Essa cláusula não é negociável.

− Alguma é?

− Não.

− Foi o que pensei. -Afirma, ironicamente, me deixando louco para dar alguma outra coisa para essa boca gostosa do caralho fazer além de me provocar.

− Você tem mais alguma dúvida? pergunto, impaciente, e ele balança a cabeça, respondendo silenciosamente que não.

− Então assina essa porra, porque eu quero que você comece seu expediente...

Ele estremece levemente na cadeira e volta o corpo na direção dos papéis, pega a caneta sobre a mesa e deixa sua assinatura na linha pontilhada. Eu faço o mesmo e fico de pé, puxando-o junto comigo e colando seu corpo ao meu. Sua respiração descompassa quando minha barba arranha seu rosto e eu aspiro seu cheiro com força.

Passeio minhas mãos pelo seu corpo. Toco suas coxas nuas, vestidas apenas com uma bermuda curta e infiltro meus dedos sob a sua camiseta. Deixo beijos suaves em seu pescoço, queixo, no seu maxilar, e lambo o caminho dele até sua orelha, mordendo-a, antes de sussurrar.

− É oficial, Eduardo. Agora você é todo meu pra eu fazer o que quiser.

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Comentários

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Como já mencionei, conto maravilhoso, excitante, intrigante e ao mesmo tempo tão bom sem noção alguma de senso entre eles. Espero logo os próximos capítulos e sexo também, faça algo notável, quente, sensual e ao mesmo tempo forte e fugaz como ambos estao sendo até descobrir que se amam de verdade.

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Tão chocado que nem sei o que comentar. Eduardo tá tão fudido que não tem muito o que escolher. João ainda não sei se é um crápula safado ou está tentando se precaver antes de admitir que gosta de alguém. Que história louca acho que minha cabeça vai dar um nó. Será que João quer só fazer uma compra mesmo? Que merda estou me sentindo refém dessa história.

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