O carro se deslocava com uma vagarosidade incomum até mesmo para um bairro residencial. Aquela série de casinhas de dois andares, sempre tão parecidas, confundia sua motorista, mal-acostumada com a localização da própria casa. Com o caminho ainda não decorado, era comum dar voltas na mesma rua até encontrar a casa e a noite dificultava tudo. Levou algum tempo até Vanessa encontrar sua residência.
Fazia poucas semanas do divórcio e a casa nova foi alugadas às pressas. Os filhos já não moravam com os pais, então uma casa pequena lhe parecia adequada. O terreno comprido permitia espaço para estacionar o carro logo atrás do muro e o espaço dos fundos lhe fornecia o luxo de uma piscina.
Havia escolhido um bairro de classe média, próximo ao centro e longe do condomínio fechado onde morava. A separação lhe causara dor não apenas pelo longo relacionamento interrompido, mas pelas demais relações no entorno. Pouco tempo após decidirem o divórcio, Vanessa ouviu comentários maliciosos de vizinhas relatando virem outra mulher frequentar sua casa quando ela não estava. Ouvir aquilo apenas depois do rompimento a fez pensar até onde as amizades ali construídas eram reais. Com o passar dos dias chegavam a ela todo o tipo de história, como o de outras vizinhas falando dela, sobre ela não ter sido uma boa esposa ou especulando uma traição por parte dela. Sempre saída de conversas com vizinhas e chorava em casa. O que ela mais queria era ficar longe daquelas pessoas.
Se sentia feliz com a aquisição de uma casa confortável, mas chegar da rua ainda era perturbador. Não havia se acostumado à ideia de não haver mais ninguém lhe esperando ou a esperar. Aquele momento de silêncio seria eterno por toda a noite. Pensou em gatos ou cães para lhe fazer companhia, mas achava um absurdo a ideia de demonstrar carência, além de não estar disposta a cuidar de animal nenhum.
Do carro carregou sua bolsa e uma caixa recém comprada. Subiu as escadas com as pernas pesadas de um dia longo de trabalho. Engenheira formada, ganha a vida gerenciando obras naquela pequena cidade. Geralmente casas. Naquele momento havia pegado uma casa enorme de um dos comerciantes mais ricos da região, demandando muito tempo em obra. Não tinha um escritório, realizando toda a parte burocrática em um escritório improvisado no quarto de solteiro.
Caminhou até o quarto, colocou a caixa no criado mudo. Abriu e tirou de lá o seu presente. Levou-o ao banheiro e o limpou. De volta ao quarto, plugou o objeto na tomada. Desabotoou sua blusa enquanto olhava para a grande cama de casal, se perguntando motivo de ter comprado uma cama tão grande quando dormiria sozinha. Tirou a calça e se olhou de calcinha e sutiã em frente ao espelho. O cabelo preto, longo e ondulado escorriam até o meio das costas. O rosto já possuía algumas marcas da idade. Tinha olhos pretos e lábios carnudos. Se virou, buscando olhar as costas, analisando seu corpo. Se sentiu feia. Seu rosto era a expressão da derrota e ao olhar o seu corpo só percebia defeitos. Gordurinhas aqui e ali ganhavam importância frente aos seus olhos. Mesmo o quadril, seu orgulho pelo tamanho e forma, parecia desagradável.
Tinha quarenta e seis anos e a maioria de sua vida dedicada ao casamento, filhos e trabalho. Olhar para si mesma a faz pensar se valeu à pena se dedicar a tantas coisas e não cuidar de si mesma. Lembrou da Jéssica e do fato dela viver em academias e fazendo cirurgias para se manter ainda mais bonita apesar da idade. Dessa forma ela tirou o marido de Vanessa. Ao pensar nisso sentiu inveja, depois raiva. Dela, dele e depois de si mesma ao se perceber em uma espiral de autocompaixão.
Foi ao banheiro. Deixou a água quente amaciar o seu corpo e tirar o peso de um dia de trabalho. As águas percorrendo seu rosto camuflaram suas lágrimas, nesse momento com hora e locar certo para serem derramadas. Além de limpar seu corpo, Vanessa limpava a alma.
A água quente fez seu efeito e Vanessa saiu um pouco mais relaxada do box. Enrolou-se em uma toalha e voltou ao quarto. Com o corpo seco, vestiu uma calcinha e uma blusa velha. Se olhou no espelho mais uma vez e riu de si mesma ao pensar ter encontrado um benefício em estar solteira: podia se voltar a se vestir à vontade daquela forma.
Desceu, foi até a cozinha e esquentou a janta, mas, ao comer, ignorou a mesa. Foi para a sala e jantou assistindo alguma série qualquer. Sua forma de lidar com a nova situação envolvia pequenos prazeres e rebeldias, como se separação a fizesse regredir uns vinte anos nos próprios hábitos. Ela merecia.
O prato de comida ficou sobre o sofá até o episódio terminar. Se obrigou a lavar a louça, enquanto fazia as contas sobre contratar alguém para fazer os serviços domésticos em sua casa, pois não queria ter de fazer tudo á noite quando se sentia tão cansada. Seu trabalho acompanhando obras começava cedo e pouco tempo e disposição sobravam.
Apesar da hora, ainda havia tempo para algum entretenimento, mas Vanessa desligou a TV e desligou todas as luzes do andar térreo. Voltou ao quarto, mantendo apenas a luz do abajur acesa. Seguiu até a sacada de seu quarto e abriu as cortinas e a porta. Debruçou-se no guarda corpo, sentindo-se travessa pelo gesto de estar de calcinha no lado de fora da casa. Foram anos morando em apartamentos, com medo de ser flagrada sem roupa por vizinhos tão próximos e então podia aproveitar essa liberdade. Não havia casas próximas com vista para ela. Na frente, apenas um terreno vazio com uma árvore no centro.
Vanessa olhava aquela copa enorme e se perguntava se ninguém construía nada naquele lugar com medo da secretaria de meio ambiente. Se lembrou das crianças subindo nela durante o dia e se perguntou se haveria alguém ali, a espiando naquelas roupas. Se sentiu culpada por essa ideia. Era uma mulher de uma certa idade, conhecida naquela cidade pequena, uma mãe. Pensou o que os filhos, ou os amigos, pensariam dela se soubessem que ela se exibe para um hipotético estranho. Concluiu ser uma ideia ridícula, mas não saía da sua cabeça. Suas coxas se esfregavam para acomodar o formigamento entre elas. Havia algo diferente ali, uma sensação oriunda desse pensamento exótico em sua mente. Ela sabia o que era, e se culpava. A culpa, porém, não fazia aquela sensação prazerosa passar e suas coxas continuavam seus movimentos. Gradualmente a sensação de culpa foi substituída por um sentimento de revolta. Por sentir seus desejos sempre controlados e, apesar disso, estar sozinha. A culpa cedeu espaço a revolta, e esta abriu caminho para o tesão.
Engatinhou sobre a cama, com o quadril virada para a janela e seguiu até o criado mudo. Pegou seu presente, um objeto fálico, rosa e o tirou da tomada. Abaixou a calcinha olhando para trás, em direção a árvore, com um sorriso malicioso no rosto, fingindo ser observada. Ao ligar o objeto e sentir sua vibração, levou um susto. Mexeu nele aprendendo a regular a intensidade até achar uma mais adequada. O clitóris já estava rígido com toda aquela travessura quando vibrado pela primeira vez. Vanessa gemia, descontrolada, pois nunca havia sido estimulada daquela forma.
Deixou o grelo de lado e se penetrou com o brinquedo. Ficou de joelhos, segurando-o embaixo de si. Moveu-se subindo e descendo, balançando o quadril para explorar todo o seu interior com as incessantes vibrações. Vanessa gritava com o ritmo constante e ininterrupto do brinquedo. Seus movimentos para cima e para baixo se intensificaram, assim como os gemidos, anunciando o orgasmo. Vanessa jogou o vibrador para fora de si, enquanto fechava seu corpo em posição fetal. Gemeu por um longo período até seu corpo parar de tremer.
Recuperada, foi até o brinquedo e o pegou, com o sorriso de quem sabia ter realizado uma ótima compra. Foi ao banheiro limpá-lo para garantir ele pronto na próxima vez, provavelmente na noite seguinte. Após colocá-lo de volta na caixa, olhou mais uma vez para a árvore, e a percebeu balançando. Observando com mais atenção, viu um vulto descer da árvore e sair correndo pela rua. Por alguns segundo seus rosto queimou de vergonha, mas quando se deitou para dormir, voltou a pensar naquilo que havia feito e exibiu um sorriso discreto no rosto, cheio de malícia.