Contratados: O Prazer - Capítulo XIII

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 4691 palavras
Data: 25/04/2023 11:50:58
Última revisão: 27/04/2023 23:26:10

CAPÍTULO XIII

*** EDUARDO ***

CINCO DIAS DESDE O

FATÍDICO JANTAR.

Cinco dias desde que fui fodido dentro de um banheiro, e gostei.

Cinco dias desde que João Pedro me fez andar sem cueca e me sentar à mesa com um grupo de homens, e odiei.

Cinco dias em que ele não se arrependeu.

Cinco dias desde que todos os meus sonhos tolos foram espatifados no chão de um banheiro luxuoso e eu fui obrigado a pisoteá-los enquanto gozava loucamentena mão de um homem que fazia isso não para o meu prazer ou seu próprio, mas apenas para provar que podia.

Cinco dias desde que entendi que eu realmente estou sozinho e isso não vai mudar. Não foi uma percepção fácil. Na verdade, ainda não é. Mas quem pode me culpar, certo? Se um cara lindo, gostoso e rico bate na sua porta te oferecendo tudo o que você precisa quando se está vivendo em uma situação de miséria, o que você faz? Fantasia que ele é um príncipe encantado! Eu não posso ser julgado por ter me sentido salvo. Acho que essa seria a reação normal de qualquer pessoa, de qualquer cara que não sabia o que era ser cuidado havia muito tempo.

Então, no fim das contas, acho que eu deveria agradecer à João Pedro. Porque, dessa vez, ele realmente me salvou. Me salvou de deixar que sentimentos tolos e completamente sem futuro continuassem crescendo livremente dentro de mim. Me salvou de continuar fantasiando que essa brincadeira de casinha vai chegar a algum lugar, porque mesmo que eu nunca tivesse dito as palavras em voz alta, ou deixado que elas subissem à superfície dos meus pensamentos, elas sempre estiveram lá, no meu íntimo, no escuro, guardadas, mas, ainda assim, lá.

João Pedro me salvou de ser estúpido e acreditar que o que quer que seja isso, vá me levar a um felizes para sempre, me salvou de continuar deixando-o me tratar como um boneco de pano, e continuar submisso, sem fazer absolutamente nada a respeito. Isso acaba aqui. Ele pode ter meu tempo, meu corpo, e, até mesmo, o controle sobre as minhas decisões, mas ele não terá meu coração. Não se eu sei que ele fará com meu pobre e já traumatizado órgão exatamente o mesmo que fez com as minhas expectativas. Eu não sobreviveria a isso. Definitivamente, não.

A verdade é que, depois de sua afirmação categórica de que não se desculparia, porque não se arrependia, eu finalmente pude pensar com clareza pela primeira vez desde que seus olhos atravessaram meu caminho. João Pedro me vê como uma propriedade, proprietários não se importam com os sentimentos de suas coisas. Eles simplesmente as usam e manipulam de acordo com aquilo que é melhor para eles. Ele nunca me enganou sobre isso, eu, apenas, escolhi enxergar tudo por lentes cor de rosa. Mas, felizmente, suas atitudes naquela noite estilhaçaram os óculos sem nenhum tipo de piedade.

Eu sou dele, mas ele não é, nem nunca será meu. Não importa que ele grunha meu nome enquanto se perde no meu corpo. Não importa quantas vezes diga que ama meu gosto em sua língua, não importa quantas vezes seus olhos pareçam mais livres quando ele está dentro de mim, do que jamais pareceram no curto espaço de tempo em que nos conhecemos. Nada disso importa.

Importa, apenas, que não é de verdade.

Eu tomei uma decisão. Decidi, que se for para transformar minha vida em um livro, não será em um romance bobo e clichê. Sentado, no chão do closet, o pequeno exemplar de capa preta em minhas mãos quase sorri para mim quando as primeiras lágrimas silenciosas deslizam pelo meu rosto.

O poema curto, de apenas quatro versos, me definiu tão bem que foi impossível impedi-las. “eu gostaria de me olhar no espelho sem imediatamente desviar os olhos.” -a cura está a caminho II.

Se minha vida tiver que ser um livro, será esse em minhas mãos. Um que comprei há muito tempo, mas, que, até hoje, ainda não havia tido a coragem de abrir, porque seu título me apavorava. Até hoje, nunca tinha achado que seria capaz de torná-lo verdade para mim. Até hoje.

O celular ao meu lado começa a tocar, e eu sorrio, porque a paz dessa ligação, nada mais vai me tirar.

− Oi, mãe. -atendo à ligação.

**********

Ofegante, João desaba ao lado do meu corpo na cama enquanto luto para desacelerar minha própria respiração. Meu corpo inteiro ainda sofre os impactos do êxtase recém alcançado, da sensação deliciosa que é tê-lo dentro de mim. Minha pele suada agarra os lençóis sob ela como se fossem papel e cola, e meu coração bate acelerado no peito, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona. Mas, decidido a fazer exatamente o que planejei durante a tarde, me obrigo a levantar, apesar da lerdeza pós-orgástica, e vou para o banheiro.

Passo todo o tempo que acho necessário lá, esperando que, ao sair, minha cama já esteja vazia. Depois de um longo banho de chuveiro, volto ao quarto não mais nu, ou enrolado em uma toalha, mas vestido por um robe, e descubro que foi uma boa ideia, porque encontro João Pedro exatamente onde deixei, exceto pela posição. Agora, ele está sentado com as pernas esticadas à frente do corpo e as costas encostadas na cabeceira da cama, gloriosamente nu. Cada pedacinho dele, e eu não consigo evitar, mesmo depois de quatro rodadas de sexo e sabe-se lá quantos orgasmos, vê-lo assim me excita. É uma merda...

− Não me olha assim, não é possível que você queira mais... -diz, divertido.

− Na verdade, não. E se você também não, eu gostaria de dormir agora, João Pedro. -Sua cabeça se inclina para o lado e seus olhos se estreitam levemente para mim.

− Tá me expulsando?

− Não, estou dizendo que, eu estou bem, e, se você também estiver, eu gostaria de dormir.

Ele expira com força e cruza os braços diante do peito. O movimento faz os músculos dos seus bíceps e tríceps saltarem e a visão é absurdamente sexy... Se ele fosse feio, ou, pelo menos, não tivesse tanto desse sexy apeal as coisas seriam tão mais fáceis...

− Você quer conversar sobre isso?

− João Pedro, eu realmente não acho que exista qualquer coisa pra conversarmos, eu estou cansado e só quero dormir..., pode ser?

Suas mãos alisam seus cabelos para trás e ele dá uma risada seca, completamente desprovida de humor.

− Pois eu acho que há muitas coisas pra gente conversar, começando pelo fato de você ter passado os últimos dias aéreo, ou, então, o fato de que, de repente, eu passei a ser o João Pedro...

− Não é o seu nome? -questiono, arqueando as sobrancelhas.

− Pra você nunca foi. Você me chama de João desde a primeira vez que falou meu nome. Então o que mudou?

É a minha vez de inclinar a cabeça e olhar para ele com cansaço.

− Você não pode fazer o que fez, dizer que não se arrepende, que, possivelmente, vai fazer de novo, e esperar que isso não tenha consequências, João Pedro. -Seu cenho se franze.

− Nós ainda estamos falando sobre isso? -Eu sorrio, não porque acho engraçado, mas porque esse é exatamente o tipo de coisa que ele diria.

Eu posso conhecê-lo há semanas apenas, mas seu desdenho sobre o assunto não me surpreende em nada.

− Não, nós não estamos falando de nada. E, se você já tiver acabado, eu realmente quero dormir agora.

− Então é isso? Você vai me punir por algo que eu já disse que não tive a intenção de fazer? Eu não sou criança, porra! Você não pode me colocar de castigo, Eduardo! Nós só vamos perder tempo! -Balanço a cabeça em negação e franzo meu cenho.

− Nem tudo é sobre você, João Pedro! A porra do mundo não gira ao seu redor!

− Então isso é sobre quem? Porque, até aonde eu vejo, é a mim que você está afastando! -Arfo, indignado com a audácia desse homem.

− É sobre mim! -Meu tom de voz sai completamente alterado, sinto meu rosto se contrair pela raiva que toma conta de mim, minhas bochechas queimarem e minha respiração descompassar. Minhas narinas se dilatam e meu corpo fica tenso. Com os braços grudados ao corpo, sinto as veias do meu pescoço saltarem: − Sobre mim! Porque, intencionalmente ou não, João Pedro, o fato é que você fez, e eu não vou te dar a chance de fazer de novo. Se você quer tanto que eu coloque em palavras, o que acha dessas? Você pode ter tanto do meu corpo quanto quiser, pode me foder em banheiros, carros, em praias, helicópteros, onde você achar que vai ser mais gostoso, por qualquer propósito que você achar bom o suficiente. Meu prazer, seu prazer, marcação de território, falta de coisa melhor pra fazer, tanto faz! Mas você nunca mais vai ter a chance de me magoar por isso.

− Eduardo...

− Não. Não mesmo! Eu não quero ter essa conversa, e eu não vou ter essa conversa. -digo, firme: -Eu tôcansadao, e se você não sair do quarto, saio eu.

Ele esfrega o rosto com as mãos e expira com força. Levanta da cama, recolhe suas roupas, espalhadas pelo chão na bagunça habitual em que o chão do meu quarto fica todas as noites, e sai do quarto sem olhar para trás.

*** JOÃO PEDRO ***

TRÊS SEMANAS. Vinte e um dias. Quinhentas e quatro horas desde que EDUARDO assinou o contrato. E, se antes eu

achava que ele ocupava cada pensamento meu, eu não fazia ideia do que aquela porra de bruxo ainda seria capaz de fazer... Em cada minuto do meu dia, a cada respiração que eu dou, em cada abrir e fechar de olhos, não importa, ele sempre está lá. O desejo por ele é a porra de um vício que parece não querer apenas me dominar, mas consumir.

E essa merda só piorou desde aquele caralho de jantar. Eu nunca o teria levado se soubesse que causaria todo esse drama. Desde aquela semana, Eduardo mudou. Simples assim, como se tivesse girado uma chave. Continua gostoso como o caralho do paraíso, mas o resto? Nada mais está lá, à minha disposição. Todas as noites, quando chego em casa, ele está me esperando. Disposto, ansioso até, eu diria.

Eduardo é um furacão na cama e eu não faço ideia de como pôde permanecer intocado por tanto tempo. Quer dizer, onde caralhos esse homem vivia que nenhum homem o reivindicou antes? A pele macia, os lábios fodidamente quentes que aprenderam a chupar com louvor mais rápido do que deveria ser permitido. Os olhos, lindos em seu estado normal, e que entregam cada sensação que atravessa o seu corpo quando ele está com tesão.

Ele adora aprender e testar coisas novas. Não tem medo de nada e é sempre disposto a tudo. Mas desde aquela primeira noite em que me expulsou de seu quarto, isso é tudo o que eu tenho. Seu corpo. Não é como se eu quisesse dormir de conchinha, mas sinto falta de conversar com ele, dos seus sorrisos, de sua disposição para me ouvir e para falar e, num passe de mágica, tudo isso sumiu. Bastou a porra de uma cueca, e ele passou a agir como se tudo o que me importasse sobre ele fosse o sexo. Ele me usa e se deixa ser usado, como se tivesse feito isso a vida inteira, e isso tem me consumido, pedaço por pedaço, desde então.

Na maldita noite, eu saí do seu quarto puto da vida. Eu não queria sair, mas estava irritado e me preocupei que pudesse dizer algo que não devesse, então decidi que conversaríamos depois. Seria o melhor a se fazer. No dia seguinte, concluí que não. Que isso ia passar. O melhor a se fazer era deixar quieto e, em alguns dias, Eduardo voltaria ao normal. Eu não poderia estar mais errado, porque ele fez exatamente o contrário. Se tornou mais distante e definitivo sobre as próprias resoluções a cada dia que passou. Porra de homem teimoso do caralho!

Eu não esperava por esses sentimentos. Não esperava que toda vez que o ouvisse me chamando de João Pedro meu coração fosse se apertar. Não esperava que a ausência das nossas conversas fosse me causar insônia, não esperava que a porra de uma atitude idiota, como fazê-lo passar o final de um jantar sem cueca, fosse explodir na minha cara. E, definitivamente, eu não esperava me arrepender, porque eu não sou um homem de arrependimentos, ou, pelo menos, não costumava ser.

Quando eu disse para Eduardo que não me desculparia porque não me arrependia do que tinha feito, eu não menti. Naquele momento, a última coisa em minha mente era arrependimento, eu estava muito satisfeito comigo mesmo, agindo exatamente como sempre agi. O problema é que Eduardo não é como os caras com quem eu sempre estive. Nem um fio de cabelo daquela cabeça castanho dourada chega nem perto de ser comum.

Por isso, sua reação à minha ação não poderia ter sido diferente, ainda que eu tenha sido pego completamente desprevenido. Ele retribuiu à minha atitude banal, derramando o inferno sobre a minha cabeça! E a porra do bruxo não fez nada do que eu teria considerado necessário para me sentir queimar há algumas semanas atrás. Ele apenas me afastou. Não me negou sua boca, corpo ou sexo. Negou-se apenas a se entregar por inteiro e isso tem sido muito pior do que ter que me virar com a minha mão teria sido. Porque o sexo eu posso remediar, mas sua ausência não. Ficou impossível não me arrepender, porque, como eu disse, ele não agiu, apenas reagiu e eu sou perfeitamente capaz de reconhecer isso.

Expiro com força e passo as mãos nos cabelos pela milésima vez no dia, e ainda não são nem onze da manhã. A verdade é que me concentrar tem sido um desafio diário, afinal, tudo em que minha mente quer pensar é em Eduardo e em uma forma de resolver toda essa merda, de fazer as coisas voltarem ao normal, mas, seja por falta de hábito, ou por incapacidade mesmo, nada me vem à cabeça. Eduardo é teimoso demais para o seu próprio bem, e determinado também. Presenteá-lo não faria qualquer diferença, dizer que me arrependi, tampouco, ele precisa de um gesto, precisa da porra de um gesto significativo que eu não faço ideia de qual possa ser!

− Senhor Govêa? -Norma entra em minha sala e aguarda na porta, me arrancando dos meus pensamentos com o som de sua voz. Giro a cadeira, desviando o olhar das janelas gigantes de vidro transparente, por onde eu passei quase a última hora inteira, observando os carros atravessarem a avenida paulista, ao invés de trabalhar, incapaz de me concentrar em qualquer outra coisa que não fosse a maldita mulher de olhos azuis claros em minha casa.

− Sim, Norma?

− O senhor não tem nenhuma reunião nas próximas horas. Será que podemos conversar?

− Claro! Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem? -questiono, alarmado. E, porra! Eu não preciso de mais um problema agora, mas ela sorri.

− Está tudo bem, menino! Acontecer, aconteceu, mas é algo bom. -Senta-se na cadeira diante de mim: − Meu Newton se aposentou, e eu acho que chegou a hora de eu fazer o mesmo.

Pisco os olhos, atônito.

− O quê?

− Eu sou uma mulher velha. -diz, sorridente: − Minha hora chegou. Preciso viver o que me resta da vida fazendo algo além de trabalhar, menino. -Sua expressão é tão calma e pacífica, que é impossível não acreditar no que ela diz, mas porra! Eu não estava pronto para isso...

− Norma... -É tudo o que consigo dizer enquanto largo meu corpo sobre minha cadeira, fazendo-a girar levemente, e levo às mãos ao rosto, esfregando-o rapidamente antes de deixá-las deslizarem pelos meus cabelos.

− Calma, menino! Eu não vou te deixar na mão... É sobre isso que eu quero falar. -Aceno com a cabeça, para que ela prossiga, sem saber o que dizer, mas a pergunta acende em minha mente junto com uma preocupação, porque isso é inesperado demais para ser tão simples.

− Por que agora, Norma? Quer dizer... você poderia ter se aposentado antes, eu entendo que a aposentadoria do seu marido seja um fator... Mas isso é realmente tudo?

Norma sorri, largamente.

− Não. Não é. Na verdade, até pouco tempo atrás eu não achava que alguém pudesse me substituir.

Um som irônico deixa minha garganta.

− Isso é porque ninguém pode, Norma. Você tem mais de trinta anos de Govêa... Vai ser impossível te substituir.

-declaro o óbvio, e ela dá uma gargalhada.

− Eu fico lisonjeada, menino. Mas ninguém é insubstituível! Era só uma questão de encontrar a pessoa certa.

Ainda incrédulo, faço a pergunta necessária, olhando para ela com a descrença estampada em meu rosto e um cotovelo apoiado sobre a mesa diante de mim.

− E quem é esse santo, Norma?

− O rapazinho que veio para uma entrevista com você algumas semanas atrás. Eduardo Porto.

− O quê?! -Minha pergunta sai mais exclamação do que interrogação e eu arregalo meus olhos, sem poder acreditar no que acabei de ouvir: −Norma, eu acho que não ouvi direito.

Ela inclina a cabeça, condescendente.

− Ouviu sim. Eu gostaria de treinar o senhor Eduardo para assumir meu lugar. Eu não tenho pressa. Não tenho um prazo para deixar a Govêa, então terei todo o tempo que ele precisar até eu achar que ele está pronto.

− Norma... -Passo as mãos pelos cabelos novamente, nervoso, sem fazer ideia do porque, afinal, ter Eduardo por perto o tempo inteiro não seria algo ruim, na verdade, essa parece uma solução caída do céu para os meus problemas. Um emprego real é exatamente o tipo de gesto que Eduardo veria como uma bandeira branca estendida. Mas o problema é, e quando isso acabar? E quando eu me cansar dele? Não posso tê-lo como o substituto da Norma, porra!

− João Pedro, eu não estou pedindo nada definitivo. É só um treinamento, se você não ficar satisfeito quando eu achar que ele está pronto, podemos adiar minha aposentadoria até que eu encontre e treine um outro candidato. Acrescenta, quase como se estivesse lendo minhas preocupações em meus olhos, embora eu tenha certeza de que Norma não faz ideia de que me preocupa a possibilidade de ficar sem uma secretária capaz quando eu cansar de foder o que ela pretende treinar.

Com uma das mãos no queixo e o dedo indicador apoiado sobre os lábios, ouço o que Norma diz, refletindo sobre. Isso me parece melhor. Serve aos meus propósitos e, quando nosso contrato pessoal acabar, o dele com a empresa pode acabar também. Penso sobre isso por alguns minutos. Definitivamente, é exatamente o tipo de coisa que ele vai amar. Eduardo é inteligente, mesmo que não tenha formação, é apaixonado por livros e literatura, lê jornais e é bem informado, aprende rápido, e, quando tudo isso acabar, ele terá uma experiência real para colocar no currículo, posso, até mesmo, dar a ele uma carta de recomendação.

A ideia vai tomando forma em minha mente e eu começo a gostar cada vez mais dela. Mas não posso deixar que Norma ache que foi fácil demais.

− Por que ele, Norma?

− Honestamente? -pergunta, e eu confirmo com a cabeça: −Você não entenderia. -É a resposta que recebo, minha expressão demonstra meu choque imediatamente, e minha reação óbvia é confrontá-la.

− Norma, eu sou seu chefe, e serei o dele também se você estiver certa. O menino não tem formação acadêmica nenhuma para ocupar este cargo. Se você tem um motivo, eu quero saber qual é.

− Eu também não tenho formação acadêmica para estar onde estou, e, há menos de cinco minutos, você estava dizendo o quão insubstituível eu sou. -

Argumenta com as sobrancelhas arqueadas: − Mas eu tenho experiência e vontade de aprender, por isso, adquiri conhecimento. A primeira é só o tempo que vai poder dar para o menino, a segunda, só precisei olhar para ele para descobrir que ele também tem. Com a minha ajuda, ele vai conseguir todo o conhecimento de que precisa. É motivo o suficiente pra você? -Questiona, quase dobrando os lábios em uma expressão de “Eu sei que estou certa, e nada que você diga vai mudar isso!”.

− Odeio quando você está certa... murmuro baixo.

− Não importa o que vistam, como cheiram, ou o que comam, crianças são apenas crianças, e sempre serão crianças... -responde com um sorriso e, eu, contra o meu próprio bom senso, reviro os olhos.

− Tudo bem, Norma. Mas deixe que eu falo com ele, acabei contratando-o para um trabalho pessoal. O verei hoje e apresentarei a proposta.

− Como o senhor quiser. -Volta ao tom formal: − Podemos começar na segunda-feira se ele aceitar e o RH conseguir efetivar a contratação dele até lá.

− Tudo bem. Eu te aviso amanhã. Norma, sorridente, acena, concordando com a cabeça e se levanta, saindo da sala e me deixando com a cabeça cheia de ideias sobre como oferecer isso ao Eduardo sem parecer que quero comprá-lo, quando isso é exatamente o que quero fazer.

**************

− Você parece surpreso... -digo para um Eduardo que me olha desconfiado.

− Porque eu estou surpreso... Quer dizer, você chega em casa às cinco da tarde de uma terça-feira, quando você não faz isso nem aos domingos, e, então, me convida pra jantar. Não me avisa, nem me intima. Me convida. Isso não se parece muito com seu modus operandi... -justifica, e eu sorrio.

− Eu saí cedo do trabalho no dia em que te trouxe pra cá...

− E desde então, nunca mais...

− Você está sentindo minha falta, Eduardo? -questiono, divertido, e ele fica vermelho para, logo em seguida, expirar com força, irritado. Suas narinas se alargam e seus olhos se arregalam antes de ele me responder.

− Bem, não é como se eu tivesse muito o que fazer por aqui além de esperar você, é?

− É exatamente por isso que quero te levar pra jantar. Percebi que não estou sendo justo com você. Você não é meu prisioneiro, Eduardo. E nas últimas semanas você tem ficado preso nessa casa sem ter muito o que fazer além de, como você disse, esperar por mim... Você estava certo... -reconheço, e Eduardo vira a cabeça de lado, estudando-me com os olhos estreitados: − Eu estou tratando você como o que eu disse que você não seria. Eu errei, Edu. O que fiz na noite daquele jantar não foi certo com você, e eu sei que disse que não me arrependia, e era verdade na época, mas não é mais agora. Me desculpe.

Ele ri um som que mais parece um arranhado em sua garganta, antes de sua boca se abrir e sua cabeça começar a balançar negativamente.

− Você é inacreditável! Você disse que não desrespeitaria dessa forma! brada para mim, irritado.

− Inacreditável por me desculpar? -

Me faço de desentendido, exatamente como ensaiei o dia inteiro. Depois que Norma saiu da minha sala, quebrei a cabeça e cheguei à três conclusões diferentes: o emprego não seria o suficiente, Eduardo não aceitaria minhas desculpas com facilidade, eu precisaria dar algo mais para ele, algo com que ele realmente se importasse.

− Por me manipular, você quer dizer? -Expiro com força, fingindo um cansaço que não sinto.

− Não. Eu não estou tentando manipular você...

− Então o que mudou, João Pedro? O que mudou? Porque você me garantiu que não se arrependeria, e, agora, algumas semanas depois, aqui está você!

Me dizendo exatamente o contrário! -E aí está! A porra do João Pedro que me tira do sério! O meu maldito nome me tira do sério quando dito completo por ele, porque só deixa claro o tamanho da distância que ele está colocando entre nós dois.

− Você, porra! -Perco o controle tão duramente ensaiado, e preciso de uns segundos para recuperá-lo. Eduardo me encara com olhos arregalados e atentos, mas não diz uma palavra sequer: − Você mudou! Você se afastou de mim, Eduardo, e tem tornado essa distância maior a cada dia... Isso fez eu perceber que, não importa se o que eu acho que estou fazendo é certo ou não, se magoa você desse jeito, então não vale a pena... Um jantar, Eduardo... Eu não estou te pedindo nada além disso... Se, depois do jantar, você quiser continuar me tratando com um gigolô, eu não direi nada a respeito. Eu só quero tentar melhorar as coisas..., e se tudo deu errado em um jantar, me parece justo tentar acertar tudo em um outro. Dessa vez, do jeito certo... como deveria ter sido desde o começo. Só nós dois...

− Um gigolô? -pergunta com uma sobrancelha arqueada.

− É sério? De tudo o que eu disse, foi só nisso que você prestou atenção?

− Você se chamou de gigolô! É claro que eu pararia de prestar atenção!

Dou dois passos para frente, acabando com a distância entre nós e imprenso Eduardo no balcão da cozinha, atrás dele. Sua respiração muda imediatamente e eu enfio os dedos nas raízes dos cabelos que cobrem sua nuca. Aproximo meu rosto do seu tanto quanto é possível sem beijá-lo. Ele estremece e pisca os olhos demoradamente, travando uma imensa batalha consigo mesmo para não os fechar por alguns segundos.

− Isso aqui é tudo o que eu tenho tido de você nas últimas duas semanas! Seu corpo, seu tesão! Você não conversa comigo e mal olha pra mim se eu não estiver te fodendo, enterrado dentro de você, então sim, é exatamente como a porra de um gigolô que você tem me tratado, e essas são palavras pelas quais eu não vou me desculpar! -Seus olhos azuis encaram os meus, sua pele já quente implora pelos meus lábios, aquela sensação, ao mesmo tempo, maldita e deliciosa de ser atraído por e para ele, toma conta do espaço ao nosso redor e eu deixo que minha testa cole na sua. Fecho meus olhos, aproveitando a sensação de tê-lo tão perto, de tê-lo em meus braços, mas que porra!

− Não era a minha intenção, sabe...? Sua voz soa baixa, lenta, fazendo-me esperar por palavras doces: − Mas eu não vou negar que é muito bom perceber que, agora, você sabe exatamente como eu me sinto...

− Porra, Eduardo... Porra! -O solto, afastando os dois passos andados antes e passando as mãos pelos cabelos. Expulso o ar dos pulmões e volto a fechar os olhos por alguns segundos, tentando me controlar, porque ele acabou de jogar fora todo o caralho do meu planejamento mental. Uma única frase, uma porra de uma frase e pronto! Tudo para a casa do caralho! Palavras doces um cu!

− Eu não sei mais o que dizer pra te convencer de que não te vejo desse jeito!

− Não é o que você diz, João Pedro!

É o que você faz... -De novo, o filho da puta do João Pedro!

− Então me deixa agir, porra! Explodo e, dessa vez, levo mais do que apenas alguns segundos para me controlar. Apoio uma mão no quadril e a outra, levo à ponte do Nariz, apertando ali. Quando volto meus olhos para Eduardo, ele tem os braços cruzados na frente do peito.

− Um jantar. Tudo o que eu estou pedindo, é o caralho de um jantar. -Tenho que engolir a afirmação de que, pelo menos, uma dezena de homens estaria ansioso para me dizer sim se eu simplesmente fizesse uma ligação, porque tenho certeza de que isso não seria visto como argumento, mas como afronta, o que não ajudaria em nada a minha causa, mas porra! Esse cara me tira do sério! Custava só dizer o caralho do sim?! Ele me olha por vários minutos, deixa que o silêncio se estenda entre nós, parecendo ter prazer em me torturar na espera por sua resposta, e, no fim, tudo o que diz são duas palavras.

− Tudo bem.

− Tudo bem? -Repito em tom de pergunta, querendo reclamar do fato de que isso é tudo o que ele está me dando, mas o bom senso vence minha indignação, e eu lambo os lábios antes de chupar e morder o inferior, balançando a cabeça afirmativamente para ela: − Saímos em uma hora e meia, pode ser?

− Pode. -Confirma com a cabeça antes de desencostar o corpo do balcão e sair andando na direção das escadas, balançando a porra daqueles quadris fodidamente deliciosos.

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Comentários

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Mais um capítulo excepcional, muito interessante cada sequência uma nova perspectiva de evolução deste conto. Seu sucesso está em não demorar a postaras sequências. Gosto demais de JPG e Eduardo.

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Será que jo está deixando dela sua prepotência e sendo mais gentil???

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To tão perdido que nem sei mais o que comentar. Tudo poderia ser tão diferente e muito mais saudável e prazeroso. Amar e ser amado simples assim. Mas parece que para João Pedro isso é muito difícil ou talvez impossível.

PS. Obrigado por postar com frequência, ameniza a ansiedade e a dor.

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