CAPÍTULO XIV
*** EDUARDO ***
EU ESTAVA ERRADO. O restaurante de semanas atrás não era o mais luxuoso em que eu estaria em toda a minha vida, este é. Restaurantes ganham estrelas como os hotéis? Porque, se sim, esse aqui deve estar perto das vinte. Dentro de um hotel que me deixou com o queixo aberto, o restaurante é diferente de qualquer lugar que eu já tenha visto ou imaginado. Não há luxo sendo ostentado a cada centímetro e, ainda assim, é o lugar mais luxuoso em que já pus meus olhos. As paredes claras e o chão de madeira escura criam um ambiente aconchegante, convidativo, muito diferente da ostensividade do lugar em que estive dias atrás.
O espaço não é grande, provavelmente, atende poucas pessoas. As mesas são pequenas e intimistas, redondas e quadradas, sem muitas cadeiras ao seu redor, mas o que realmente torna o lugar estonteante, é o fato de que, apesar de coberto, ele parece estar situado em uma varanda suspensa sobre a mata, porque suas paredes de fundo são todas completamente cobertas por folhagens. Há colunas, grossas e brancas, sustentando o teto altíssimo, fazendo parecer que as folhas estão emolduradas por imensas janelas. É inacreditável. Não consigo parar de repetir em minha mente o pensamento de que nunca vi nada tão bonito em toda a minha vida.
− Você gostou? -João Pedro me pergunta assim que somos acomodados em uma mesa próxima a uma das imensas falsas janelas. A mesa quadrada, para duas pessoas, entre nós, está coberta por uma toalha branca e tem um pequeno arranjo de flores corais como centro de mesa.
− É diferente do outro. -murmuro, ainda muito impressionado para conseguir impedir meus olhos de vagarem por cada centímetro que alcançam do espaço, e ele sorri.
− Essa era a intenção. Aquele é um restaurante para jantares de negócios, o objetivo é ostentar e demonstrar poder. Esse é um restaurante para lazer, e meu objetivo foi fazer você se sentir confortável.
Inclino minha cabeça, finalmente parando de olhar o ambiente e focando meus olhos no homem à minha frente. Lindo. Perigosamente lindo. Escolheu não vestir um dos seus ternos absolutamente perfeitos. Mas uma calça jeans escura, agora, sob a mesa, e uma camisa branca com as mangas dobradas até a altura dos cotovelos. Apenas olhar para ele me faz imaginar todas as coisas que faremos mais tarde, e isso arrepia meu corpo, esquenta a minha pele. João Pedro devolve meu escrutínio e, por vários minutos, permanecemos em uma intensa troca de olhares, até sermos interrompidos pelo garçom que traz os cardápios.
− Posso escolher pra você? -Franzo as sobrancelhas, porque esse não é seu comportamento habitual.
− O que você está fazendo? -Ele devolve o meu cenho franzido ao me responder.
− Escolhendo o jantar?
− Não, João Pedro. -Suas narinas se alargam ao ouvir-me chamá-lo por seu nome completo. Isso o deixa irritado. Semanas atrás, quando adotei o novo vocativo, achei que isso o tivesse incomodado, pois ele não só notou, como fez questão de perguntar o porquê, mas, desde então, percebi que isso faz mais do que incomodá-lo. O deixa verdadeiramente possesso, e só por isso, tenho me divertido bastante aproveitando cada oportunidade que tenho de usar os dois nomes com que ele foi batizado: − Eu quero dizer, o que você está fazendo com tudo isso? Me convidando pra jantar, perguntando se pode escolher para mim... Isso não soa muito como você... Geralmente, você prefere pedir perdão a pedir permissão, ou, nem isso... -Começo com a intenção de explicar, mas não consigo evitar a alfinetada no final.
− Bom, realmente, não é como eu costumo fazer, mas o que eu costumo fazer não parece estar dando muito certo com você, então... -Diz, soando tão honesto que eu inclino a cabeça, analisando, buscando qualquer traço de que ele esteja apenas me dizendo o que sabe que eu quero ouvir.
− Eu sinto sua falta, Eduardo... -Suas palavras me fazem sorrir sem humor.
− Você mal me conhece, João Pedro!
− Isso não é verdade... Eu sei muito do que há para saber sobre você, e o que ainda não sei, é porque você se fechou...
− Me investigar não significa me conhecer.
− Eu não estou falando do que descobri sobre você quando o investiguei, estou falando do que descobri depois. Como, por exemplo, que você adora sexo tanto quanto eu, e que, curiosamente, estar nu diante dos meus olhos não te constrange, mas falar sobre isso, sim, como agora, que você está ficando vermelho. -Ele abaixa a voz antes de dizer suas próximas palavras: − Eu sei que você gosta quando eu masturbo seu pau, e perde completamente o controle quando eu te chupo e te lambo.
Meu rosto pega fogo com suas palavras, mas ele ainda não está satisfeito, faz uma pausa para observar minha reação, e, logo depois, continua:
− Você adora sentir meus braços sob seus dedos, mas não tanto quanto gosta de sentir meu pau neles, eu sei que você prende a respiração antes de gozar, e que bebe minha porra como se ela fosse a bebida mais gostosa que já provou na vida... Sei que você morde o lábio antes de abrir os olhos depois que goza, e que adora sentir seu próprio gosto na minha boca...
− Isso... Isso é só – só sexo... Gaguejo e ele ri. O infeliz ri!
− Só sexo? -Levanta uma sobrancelha: − Isso é muito mais do que sexo, muito mais! É a porra do céu! Mas se não te convence, que tal isso? Eu sei que você gosta de usar roupas surradas quando acha que ninguém está vendo, mas que tem vergonha disso. Sei que sua cor preferida é lilás, e que você tem pequenas objetos dessa cor e os espalha por todos os lugares que ocupa, ou você pensa que eu não percebi que, de repente, minha casa tem pequenos objetos que eu nunca tinha visto antes, e todos da mesma cor?
Pisco, verdadeiramente surpreso que ele tenha notado.
− Eu sei que você pisca três vezes quando não entende alguma coisa, e que adora cheiros cítricos, mas odeia os doces. Sei que você não tem paciência pra cozinhar, mas adora fazer doces, porque desde que você chegou à minha casa, sempre tem um bolo, biscoitos, ou qualquer outra coisa do tipo na cozinha, e eu tenho certeza que eles não são obra da dona Laura. Eu sei que você detesta não ter o que fazer e que, por isso, tem organizado o depósito da casa, só para se sentir ativo, porque, mesmo tendo uma piscina e uma academia à sua disposição, você prefere fazer tarefas domésticas a exercícios físicos. Eu sei que você prefere chá à café, e que seu sabor favorito de sorvete é morango. Sei também que você não suporta dividir a sobremesa e que é viciado em refrigerante... Eu sei muitas outras coisas, mas essas são as minhas favoritas.
Pisco meus olhos três vezes antes de falar, e ele sorri.
− Co-como?
− Porque eu tenho observado você, e estou enlouquecendo com a distância que você tem imposto entre nós...
− Não faz isso... -peço, sentindo-me subitamente amedrontado.
− Isso o quê? -Coloca os cotovelos sobre a mesa e se aproxima de mim tanto quanto ela permite.
− Isso... Me fazer acreditar que se importa só pra depois me dizer com as coisas que você faz que eu não sou nada...
− Eduardo, nada não chega nem remotamente perto do que você é!
− E o que eu sou, então? -pergunto, e meu coração acelera no peito com a expectativa da resposta, porque, por mais que eu não quisesse, as últimas semanas foram difíceis para mim. Deus, como eu senti falta dele! Falta do calor do seu corpo, dos carinhos, dos beijos e toques suaves, das conversas e das risadas na cama. Falta do seu cheiro... Nem mesmo o retorno de Joana, e nossas conversas quase diárias ao telefone, ainda que eu não tenha contado para ela tudo o que aconteceu, e ainda vem acontecendo, foram capazes de suprir a falta que a companhia de João me faz. Não houve um dia que eu não tenha precisado lembrar a mim mesmo que eu precisava me colocar em primeiro lugar, e que estar sozinho era ruim, mas que fingir não estar, só para depois, me ver abandonado, seria muito pior. Foram essas as certezas que me deram forças para me manter distante. Para ver essa relação exatamente pelo que ela é, sexo e nada mais, ainda que sexo seja muito.
Transamos todos os dias, várias vezes, de muitas formas diferentes. Foi gostoso, foi delicioso, e eu não posso dizer que tenha estado imune à intimidade desses momentos, mas assim que acabava, eu me enfiava no banheiro até ouvi-lo cansar de me esperar e sair pela porta. Era isso, ou eu cederia, ou discutiríamos, e eu não tinha energia para nenhuma das duas coisas, porque as duas me magoariam.
A primeira, porque eu sabia que seria apenas uma ilusão, a simulação de um afeto e cuidado que eu desejo tanto e há tanto tempo, que facilmente me teriam entregue. E, a segunda, porque seria só mais um momento da vida esfregando na minha cara que eu não vou ter o que quero, não importa o tamanho do meu desejo.
Por isso, agora, as palavras que eu espero saírem de sua boca são tão importantes. Porque, de repente, ele começou a me dar sinais confusos e o meu coração estúpido foi rapidamente atingido. Mas eu não quero dúvidas, eu não quero a chance de me enganar, eu posso ter aberto mão do controle do meu presente, mas, com todas as minhas forças, eu vou segurar as rédeas do meu futuro, ou, ao final desse contrato, não sobrará nada de mim para vivê-lo.
− Você é... -começa, mas pausa, e, por um milésimo de segundo, me permito ter esperança de que ele vai dizer qualquer coisa que me faça sorrir, qualquer coisa. Sei que é patético, mas eu aceito qualquer coisa. Aceito, até mesmo, que ele diga que sou seu amigo, porque isso significaria que em dois meses e uma semana, eu não teria que deixá-lo para trás. E, a essa altura, eu consideraria isso um grande ganho.
João Pedro não é o único que tem observado, eu também tenho, e tudo o que descobri sobre ele parece aumentar o magnetismo que sempre existiu entre nós, torna-o tão forte, que, constantemente, preciso lembrar a mim mesmo que tudo o que sei sobre ele são pedaços roubados, porque ele nunca me entregou nada de livre e espontânea vontade: − É você! -conclui.
Estilhaçando toda e qualquer esperança tola que cultivei, como uma pedra que atinge um teto de vidro. Eu sou eu. O que isso deveria significar? O que quer que seja, não é o suficiente. Porque eu sempre fui eu, e isso nunca bastou.
Balanço a cabeça, concordando, mas permaneço em silêncio.
− Não era o que você esperava ouvir... -Murmura e eu dou de ombros.
− Eu só não sei o que significa... Eu sempre fui eu, João. Sempre... Mesmo nos piores momentos, ainda era eu, então eu não sei o que você espera que eu entenda quando diz algo assim...
Seus olhos azuis piscam, agora, escuros como o mar noturno.
− Eduardo... Eu... Eu não sei o que te dizer...
− Então por que nós estamos aqui, João Pedro?
Seus olhos se fecham e ele expira com força, mas, pela primeira vez, vejo algo além de determinação ou cansaço em sua postura, vejo desconhecimento e isso me assusta, porque tenho medo de estar inventando coisas, apenas para me sentir melhor.
− Eu sinto sua falta... Eu só queria melhorar as coisas.
− Um jantar não vai fazer isso, João Pedro. Nem trinta vão...
− Eu não vou magoar você. Me deixa entrar. -Quase suplica e pega minha mão sobre a mesa.
− Você não pode me prometer isso...
− Eu posso prometer tentar... -Seus olhos estão sérios, fixos nos meus, a sinceridade está estampada em seu rosto, mas ele não sabe. Não sabe que para me magoar não precisa fazer nada errado, basta fazer tudo certo e depois me abandonar, e isso é inevitável.
− Ainda não é o suficiente...
− Eu não sei o que você quer de mim, Eduardo. Tentar é mais do que eu jamais fiz antes... -Suas palavras soam tão doces, que eu pisco e mantenho os olhos fechados por longos segundos, porque elas deixam claro o que eu preciso fazer. Mas eu não quero. Deus, eu não quero. É por você, Eduardo, só você cuida de você mesmo...
− Talvez nós devêssemos... -As palavras entalam em minha garganta e paro de falar. Não quero dizê-las, mas preciso, não preciso? Não era a minha intenção quando escolhi uma roupa bonita, penteei os cabelos. Mas essa conversa... Ele nunca vai ser meu, e isso, por si só, vai me quebrar, eu sei que vai... Os olhos de João se arregalam quando percebe que eu estou demorando demais, provavelmente, se dando conta de onde minhas palavras vão chegar.
− Tentar algo diferente! Eu concordo. -diz, de repente, mudando de postura, e eu franzo o cenho, perdida com a mudança repentina.
− O quê? -Preciso perguntar.
− Eu quero que você vá trabalhar comigo, na Govêa.
− O quê? -Agora, eu exclamo. Completamente chocado com a sugestão. Pisco os olhos três vezes e abro a boca, mas as letras fugiram, todas elas, simplesmente, saíram correndo e me abandonaram aqui, completamente desprovido da capacidade de externar meus próprios pensamentos, não consigo formular frases: − O quê?
− A Norma quer se aposentar, então, você seria treinado pra ser meu secretário.
− Estar perto de você o dia inteiro não vai melhorar as coisas, João Pedro...
− Talvez não, mas eu tenho certeza de que você ter uma ocupação além de ficar em casa esperando por mim pode.
− Eu não quero que você faça isso só pra manter nosso acordo. -Franzo as sobrancelhas, olhando para ele sério, sentindo muitas coisas a respeito das suas últimas atitudes. E todas tão, tão contraditórias. Sinto irritação e satisfação; felicidade e frustração; vontade de dizer sim, necessidade de gritar que não.
− Não é por isso. -afirma, sem jamais soltar minhas mãos sobre a mesa, ajeitando a postura das costas, já há algum tempo curvadas, na mesma posição, para que ele fique perto de mim: − Na verdade, a ideia foi da Norma. Eu só concordei e decidi falar com você eu mesmo, ao invés de deixar o departamento pessoal te contatar.
− Da Norma? -pergunto, desconfiado.
− Sim. Ela foi até a minha sala hoje me dizer que seu marido se aposentou e que ela gostaria de fazer o mesmo. Quando perguntei por que agora, ela me disse que não achava que alguém poderia substituí-la, até conhecer você.
Arregalo meus olhos e passo a língua sobre os lábios.
− O quê? -repito as duas palavras que se tornaram minhas companheiras fiéis desde que essa conversa começou.
João Pedro sorri e confirma com a cabeça.
− Exatamente isso. E, quando eu perguntei o porquê, ela teve a audácia de me dizer que eu não entenderia. Acredita? -Ao terminar de falar, ele ri de verdade, contido, porém sonoro: − Eu me irritei e questionei... Argumentei, mas ela defendeu a ideia com unhas e dentes, até que eu concordasse.
Meu coração salta no peito e meus olhos ardem, porque, se isso for verdade, meu Deus! Se isso for verdade...
− Mas por que ela faria algo assim? Preciso de mais detalhes, preciso saber que ele não está mentindo para mim.
− Eu não faço ideia, como eu disse, tudo o que ela me falou é que eu não entenderia, então, se no futuro, você descobrir, por favor, me conte, porque eu realmente adoraria saber.
− João Pedro, eu não sei...
− Você não quer o emprego? A experiência? -pergunta, sério.
− Quero, claro que eu quero! Meu Deus! Eu quero muito!
− Então o que você não sabe?
− Eu... -Fecho os olhos e inspiro e expiro profundamente antes de abri-los novamente: − E quando o contrato acabar?
− Vamos atravessar essa ponte quanto chegarmos a ela. -Passeio meus olhos ao nosso redor. Fugindo da sua expectativa por uma resposta. Eu quero tanto isso, mas, ao mesmo tempo, me apavora que essa seja só mais uma manipulação de João Pedro.
− Você não está inventando tudo isso agora só pra me manipular, está? Mesmo sabendo que ele pode mentir, preciso perguntar. João Pedro ergue uma sobrancelha e inclina a cabeça para o lado. Enfia a mão que não segura a minha no bolso e puxa o celular dele, dá alguns toques na tela, e o som de uma chamada ecoa entre nós. Um toque, dois toques, três toques.
− Menino? Tudo bem? -A voz de Norma soa alta no aparelho de última geração sobre a mesa.
− Oi, Norma! Boa noite. Não se preocupe, está tudo bem. Estou com o Eduardo, você está no viva voz.
− Oi, meu filho! Boa noite! Como você está? Espero que tenha aceitado minha proposta, estou animada para trabalharmos juntos. -A voz doce de vó atropela as frases, falando todas de uma vez e minha boca se abre. Lenta demais, não consigo impedir que duas lágrimas rolem pelo meu rosto. É verdade. É realmente verdade. Ele não disse nada que pudesse induzi-la a mentir. Só falou que estava comigo. Oh, Deus! É verdade! Expiro pela boca, buscando retomar o controle de mim mesmo, enquanto os olhos analíticos de João Pedro me escrutinam, tempo demais de silêncio depois, finalmente consigo falar.
− Olá, dona Norma. Boa noite, tudo bem sim! E com a senhora? Eu aceito a proposta, e eu estou muito, muito grato por ela, eu mal posso acreditar. -Tento soar animado, mas as últimas palavras soam exatamente como meu estado de espírito, emocionadas.
− Ah menino! Não me agradeça antes de começar a trabalhar, ou você pode se arrepender. Eu sou a única de nós dois que realmente deve ficar agradecida, afinal, você é minha carta de alforria!
− Norma! -A voz surpresa e levemente indignada de João Pedro soa alta, e eu gargalho. Logo depois, o riso de Norma nos alcança também.
− Tudo bem! Eu acho que essa conversa acabou. A partir de segunda-feira vocês terão todo tempo do mundo pra falarem o que quiserem... Resmunga: − Boa noite, Norma.
− Boa noite, menino! Boa noite, criança. -diz, e é possível sentir o sorriso em sua voz.
− Boa noite, chefa! -brinco e ela gargalha ao desligar o telefone.
Assim que a ligação é encerrada, o sorriso permanece no meu rosto e quando encaro João Pedro, seus lábios espelham os meus, sorridentes.
− Eu senti saudade de te ver sorrir... Você é lindo, mas, quando sorri... -Abaixo os olhos diante do comentário e ouço sua risada. Não preciso perguntar o motivo, ele está rindo pelo meu constrangimento com algo tão simples quanto um elogio.
− Obrigado. -Ele apenas acena com a cabeça, concordando.
− Eu gostaria que, da próxima vez, você pudesse acreditar em mim... sussurra, e o sorriso morre em meus lábios. Expiro com força e olho para cima por algum tempo, antes de decidir ser sincera.
− Eu estou com medo de confiar em você...
− Por quê? Você não teve medo antes...
− Por que até aquele jantar eu ainda não tinha me dado conta do quão perigoso seria você quebrar minha confiança...
− Eu não vou fazer isso!
− Nós já falamos sobre isso, essa é uma promessa que você não pode fazer!
− Então o que eu posso fazer? O que eu posso fazer pra você se sentir confortável?
− Eu não sei nada sobre você... -digo as palavras, mas me arrependo logo em seguida, porque essa é uma barreira que seria saudável manter. É a mais pura verdade. Tudo o que eu sei sobre o João Pedro é o que o google me disse, ou o que descobri nas últimas semanas, nada mais.
− Não é verdade. Nós estamos morando debaixo do mesmo teto há semanas, você sabe bastante sobre mim...
− Eu sei o que o google me disse, sei que você é viciado em trabalho e que nunca descansa o suficiente. Sei que você não tem amigos, que gosta muito de Whisky, e de se alimentar bem, porque, em três semanas, não entrou nem sequer uma fatia de pizza naquela casa. Eu sei algumas coisas, mas não o que importa... -Continuo dizendo, implorando para que ele quebre o muro, mesmo apavorado com os estragos que serão provocados por sua queda. Ele sorri.
− Eu não tenho amigos? -pergunta, com a testa franzida.
− Não, ou eles não deixariam você trabalhar tanto e estar sempre sozinho...
− Amigos não atrapalhariam meu trabalho.
− Amigos fariam você entender que isso não é atrapalhar... -Ele inclina a cabeça, pensativo, antes de dobrar o lábio inferior e erguer as sobrancelhas.
− É isso que você quer? Que eu fale sobre mim?
− Seria um bom começo... -A parte centrada de mim quer me estapear, porque eu não deveria estar querendo começar nada.
− Tudo bem então. O que você quer saber?
− Tudo. -Sorri.
− Tudo é muita coisa.
− Tudo o que couber nesse jantar.
− E podemos ter outros pra eu te contar o que faltar? -Olho para ele, surpreso.
− Você faria isso? Me contaria mais sobre você só pra eu aceitar sair pra jantar? -É a vez de o rosto dele assumir um ar surpreso, como se só agora que eu coloquei em palavras, ele se desse conta do que acabou de sugerir. João Pedro passa algum tempo pensando sobre isso antes de me olhar com uma intensidade sufocante e me responder.
− Eu estou descobrindo, Eduardo, que há poucas coisas que eu não faria para deixar de sentir sua falta.
******
*** JOÃO PEDRO ***
A GARGALHADA DE EDUARDO preenche o carro enquanto dirijo pela avenida paulista e a sensação é quase a mesma de quando fecho um grande contrato, mas é melhor, muito melhor. Eu senti falta disso, puta que pariu! Como senti! Depois da ligação para Norma, Eduardo foi se soltando cada vez mais, e, a cada história sobre mim mesmo que contava, ele se tornava mais aberto a realmente estar ali, jantando comigo. Não de corpo presente e alma ausente, como vinha fazendo nas últimas semanas, mas inteiro. Absolutamente inteiro.
Me encantei por Eduardo muito antes de transar com ele, então é claro que seu corpo não é tudo o que me importa. A verdade é que sua personalidade, seu espírito livre e seu bom humor são tão importantes para mim quanto tê-lo em minha cama, e eu precisei perder isso temporariamente, para me dar conta de que simplesmente não existe a possibilidade de eu ficar sem. Puta que pariu! E se para tê-lo assim eu precisar mostrar meus álbuns de família com todas as fotos constrangedoras que já tirei na vida, eu vou buscá-los amanhã mesmo.
Decido que ainda não estou pronto para encerrar a noite ao passar em frente a um hotel cujo o bar na cobertura tem uma das melhores vistas de São Paulo.
− Em uma escala de um 1 a 10, o quanto você quer ir pra casa agora? Pergunto e ele volta seus olhos para mim, me encarando, ainda com o sorriso enorme estampado no rosto.
− Huuuum... zero!
− Ótimo! Eu quero te mostrar um lugar!
Em alguns minutos, estamos no topo do prédio, com a Paulista e uma São Paulo completamente acesa abaixo e diante de nós. Como uma criança vendo um brinquedo novo, Eduardo quase corre até o guarda-corpo, debruçando-se sobre ele e deixando que seus olhos se percam nos pontos brilhantes.
− Nosso Deus! É tão bonito!
− Nós não temos estrelas, mas, quando sinto falta delas, gosto de vir aqui... – Comento, parado atrás dele, enquanto passo os braços ao redor da sua cintura e afundo meu nariz em seu cabelo. Ficamos em silêncio por um bom tempo, admirando à vista. Eduardo admira a paisagem. Eu, a ele. Seus cabelos caindo em ondas sobre os ombros, o nariz delicado, os lábios desenhados,
Enquanto meus olhos passeiam por ele, percebo que as sensações que tomam conta de mim são completamente novas, novas e inesperadas, mas eu não consigo decidir se são bem-vindas, porque não sei quanto tempo vão durar.
Ele se vira em meus braços e me observa com seus olhos brilhantes. Deixo que minha mão suba pela lateral do seu corpo até alcançar às maçãs do seu rosto. Meu polegar brinca ali, acariciando a pele macia e lisa.
− Você é tão bonito... -Envergonhado, ele sorri e eu aproximo meus lábios dos seus. O encontro entre eles é explosivo. Esperei por isso a noite inteira, e finalmente deixo que meu desejo me consuma. A boca gostosa de dele se abre para mim com vontade, sua língua encontra a minha e as duas se entrelaçam como duas velhas parceiras de dança, que não só conhecem os movimentos uma das outras, como os completam. Entre muitos beijos, a vista fica esquecida e nós dois permanecemos ali, juntos, aproveitando a presença um do outro de um jeito nunca antes experimentado, mas tudo o que consigo pensar, é que é impossivelmente gostoso tê-lo assim.
*************
Puxo o ar com força com a boca aberta sobre a de Edu. Tendo seus braços presos pelos meus acima de sua cabeça, o corpo pequeno respira tão ofegante quanto eu. Suas curvas se encaixam perfeitamente em mim na posição em que estamos, agarrados um ao outro, encostados na parede do corredor dos nossos quartos. O tempo parece ter parado ao nosso redor só para nos observar enquanto o ar que expiramos se mistura, antes de inspirarmos outra vez, transformando nossa troca em algo muito maior do que calor, suor e sabor.
Não consegui me controlar, assim que descemos do carro, o imprensei nele, devorando seus lábios e língua da mesma maneira que eu vinha me sentindo ser devorado pela necessidade de estar com ele. E, depois de minutos nos embolando ainda na garagem, entramos em casa aos tropeços, sem jamais soltarmos um ao outro, completamente envolvidos em beijos, toques, gemidos e cheiros, até chegarmos aqui, tão perto do nosso destino final, e, ao mesmo tempo, tão distantes de qualquer consciência que possa fazer com que nos afastemos nem que seja por apenas um instante.
Afrouxo o aperto em suas mãos até soltá-las por completo e ele as abaixa lentamente, escorregando pela parede, até alcançar a altura do meu rosto e me tocar. Enfio meus dedos entre seus fios de cabelo, eles se embolam pelas minhas falanges, acariciam a pele das minhas mãos. O peito ofegante de Edu sobe e desce, se pressionando contra mim a cada inspiração e eu me recuso a fechar os olhos, a perder um segundo que seja da sua expressão embriagada, entregue, meu, todo e completamente meu. Me recuso a sair desse lugar que criamos nos últimos minutos, um lugar em que só nós dois existimos.
Seus dedos alcançam minha barba, infiltrando-se nela e acariciando meu maxilar enquanto sua boca expulsa um ar morno com cada vez mais força. Deixo que minha mão passeie pelo seu corpo, alisando-o, acariciando e sentindo cada um dos seus pelos curtos, cada centímetro da sua pele quente, provocando arrepios e leves tremores nela inteira. Seus olhos se abrem para encontrar os meus e a transparência deles é a porra do paraíso. É o céu encontrando o mar num dia claro, é o vento encontrando a pele numa corrida, é o sal inundando a boca ansiosa por qualquer que seja o gosto. É uma inspiração profunda depois de segundos sem respirar.
Ah, Edu! Como eu senti falta de vê-los assim, sem estar enterrado em você. Como eu senti falta da certeza de que você é meu o tempo todo, e não só quando eu estou afundado no seu cuzinho. Seu olhar está envolto por uma intensa névoa de prazer, e eu me pergunto se ele é como o meu, que vai muito além da delícia de ter seu corpo espremido entre mim e uma parede, é ele. É simplesmente ele.
Sua presença, seu toque, seu hálito. É estar com ele e saber que cada toque meu o tira do chão, exatamente na mesma proporção em que os seus viram meu mundo de cabeça para baixo. É seu cheiro, gosto, presença, é ele inteiro, é tê-lo para mim. Com o corpo recuperado da intensa privação de oxigênio pela qual passou, enfio minha língua em sua boca, buscando aquilo de que pareço precisar tanto quanto de ar ultimamente, seus gemidos. Engulo-os enquanto o beijo, não com o carinho que trocamos por minutos a fio naquele terraço, mas com a fome que experimentamos todas as noites na cama. Uma fome insaciável. Beijo-o como se o mundo estivesse desabando e, ao invés de com as pernas no chão, eu corresse pela minha vida com a língua em sua boca. Beijo-o como se disso dependesse a minha visão, o meu existir, o meu ser.
O cheiro delicioso da sua pele se mistura com os sons arrancados de sua garganta para me enlouquecer e atordoar. O latejar do meu pau é violento, desesperado para se libertar, e, mais ainda para se afundar no cu quente, macio e apertado de Eduardo.
− Você só fica mais gostoso, porra! - Minha voz sai rouca. Aperto seu corpo contra meu e levanto uma de suas pernas, depois a outra, encaixando-me entre elas. Puta que pariu! Não importa o quanto eu já tenha estado perto dele dessa maneira, toda maldita vez a corrente elétrica percorre meu corpo inteiro exatamente do mesmo jeito.
Tiro sua roupa. Arrasto os dentes por seu queixo e pescoço, beijo sua garganta, sua cabeça pende para trás, apoiando-se na parede fria enquanto continuo minha exploração milímetro a milímetro. Desço o nariz, provocando, e seus gemidos se tornam cada vez mais altos, entregues, provocantes. Um calafrio percorre minha espinha, seus movimentos, sarrando e esfregando o pau em minha ereção fazem minhas bolas pesarem e doerem pela necessidade de possui-lo.
− Eu vou te foder bem aqui, EDUARDO! Na porra do corredor! -sussurro em seu ouvido, antes de enfiar minhas mãos pelas laterais de sua cueca e rasgá-la, porque eu simplesmente não conseguiria me impedir de tê-lo aqui, neste momento, exatamente como nós dois estamos insanos para que aconteça.
Eduardo, tão ansioso quanto eu, tira suas mãos do meu pescoço e começa a desfazer meu cinto, agarro sua bunda, enfio minhas mãos em suas bandas, aperto-as e separo-as com força antes de deixar que um dedo deslize até aquela entrada malditamente gostosa, testando e descobrindo-o piscando. Caio de boca nos seus mamilos gostosos que praticamente chamam pelo meu nome, lambo, chupo, mordisco, e sua reação é se remexer em meu colo, gemer alto e choroso quando ensaio a tocar seu buraquinho apertado, mas não vou até o final.
Com a respiração completamente descontrolada, levanto a cabeça e deixo que meus olhos o devorem, ali, a minha mercê, completamente nu, com a pele molhada de suor, excitado e arrepiado de tesão, perdido. A espera pelos meus próximos movimentos parece atormentá-lo tanto quanto a mim, e seu olhar pedinte arranca um grunhido da minha garganta. Incapaz de me manter longe por mais um segundo que seja, lambo e chupo seus lábios.
Suas mãos suaves finalmente atravessam todas as barreiras e me tocam, porra! Puta que pariu!
− Você vai me enlouquecer, caralho! - O gemido que atravessa minha garganta, e é, em parte, engolido pela de Edu, mais parece um rugido. Meu tesão é tanto que sinto ele espalhar o pré-gozo em toda a minha ereção enquanto me masturba lentamente.
Preciso interromper o beijo, ranjo os rentes e a língua dele massageia meus lábios fechados antes de ser arrastada para baixo, lambendo toda a pele que encontra, deixando um rastro de fogo por onde passa, e é o meu limite. Preciso estar dentro dele, agora! Empurro-o para cima na parede, e, com uma das mãos tiro meu pau de seu toque e o encaixo em seu cuzinho, agradecendo aos céus pela camisinha não ser mais necessária. Eduardo arfa com o contato, mas não fecha os olhos, me entregando com seu olhar e gemidos todo o prazer que sente a cada centímetro que me afundo lentamente nele.
Eu o penetro devagar, porque estou tão absurdamente excitado, que seria capaz de gozar em uma única estocada, se fizesse isso rápido. O corpo de Eduardo reage à minha invasão, apertando-me como se quisesse ordenhar a porra de dentro de mim, e era exatamente o que aconteceria, percebi, se eu continuasse a beber a visão de seu prazer ao ser completamente tomado por mim.
Me aposso de suas clavículas, lambo a pele esticada pelo osso, chupo seu pescoço em uma sucessão descoordenada e desesperada, simplesmente porque preciso tocá-lo em todos os lugares, a todo momento. Eduardo geme meu nome tão arrastadamente que trinco os dentes, completamente dominado pela sensação de estar dentro dele..
Com o rosto mergulhado em seu pescoço, tomo alguns segundos antes de sair de dentro dele e voltar a penetrá-lo, dessa vez, com força. Eduardo grita, explodindo minha sanidade e qualquer controle que eu estivesse tentando manter.
Passo a estocar rápido, gostoso para um caralho! Fodidamente delicioso! Seu cuzinho me aperta como um punho fechado, quente, completamente macio, engolindo meu pau inteiro enquanto ele desliza para dentro e para fora dele, e eu sou arrastado para fora da realidade, me perco por completo em seu corpo, em seu cheiro, nos sons do nossos corpos se chocando, nele.
− João... João... -geme, enlouquecido, pisoteando meu juízo enquanto ele jaz no chão, completamente escorraçado.
− Porra, Eduardo! -grunho, apertando seus quadris enquanto a como rápido, ele crava os dentes nos próprios lábios, desistindo das palavras, ele é inteiro gritos, gemidos e suor, ele é inteiro meu e isso é tudo o que importa quando o êxtase sobe pela minha espinha, atravessa meu corpo em uma explosão incontrolável e me faz esporrar dentro dele, grunhindo e rosnando enquanto sua garganta grita alto, agudo, e ele estremece inteiro, soltando o corpo na parede, e eu mesmo preciso me apoiar no concreto gelado para que nós dois possamos continuar de pé. Juntos, nós gozamos juntos.
Aperto os olhos, abraçando forte seu corpo, sentindo que é ele a minha única ligação com a realidade, precisando dele para encontrar meu caminho de volta para o aqui e agora. Ele que continua sendo tomado por espasmos que eu sinto inteiros enquanto Eduardo se sacode, ainda com meu pau enterrado dentro dele.
− Você é o paraíso, Eduardo! Você é a porra do paraíso! -sussurro em seu ouvido enquanto luto para estabilizar minha respiração, e a única resposta que recebo é um gemido manhoso que me faz sorrir. Me obrigo a abrir os olhos só para não perder a chance de vê-lo exatamente como está agora, abandonado em meus braços. Encaixo meu nariz no seu, puxo uma inspiração profunda sobre a pele suada de seu rosto, antes de cobri-lo de beijos. Suas bochechas, seus olhos, sua testa, tudo que meus lábios alcançam.
Envolvo seus braços em meu pescoço e espalmo as mãos em sua bunda antes de o desencostar da parede e começar a caminhar com ele na direção do meu quarto sem nem mesmo pensar sobre isso. Tudo o que quero agora é entrar na banheira com o corpo gostoso de Eduardo aninhado ao meu, e é o que faço.
Passo pela porta com ele em meus braços, preso a mim como um macaco e o pensamento me faz sorrir. No banheiro, o coloco sentado na borda da banheira, seus olhos estão abertos e atentos, mas ele não diz nada. Abro o registro e a água começa a se acumular rapidamente, procuro alguns sais que acho que ele vai gostar e a espuma de banho. Seus olhos observam meus movimentos e, em um momento ou outro, perdem-se olhando alguma outra coisa.
O corpo nu ainda respira descompassadamente e ele pisca com lentidão. Começo a me despir e isso ganha sua atenção. Ele me observa desabotoar a camisa botão a botão, escorregá-la pelos ombros e deixá-la cair no chão.
− Tá gostando do show? -Um sorriso envergonhado toma conta do seu rosto e eu sorrio também. Porque ele é delicioso demais de muitas maneiras diferentes. Arrasto a calça e cueca juntas pelas minhas pernas, saindo de dentro delas, finalmente ficando nu e estendo a mão em um convite silencioso. Ele aceita, se levanta e gruda o corpo nu ao meu. Não resisto, passo o polegar sobre um dos biquinhos rosados e ele morde o lábio enquanto meu nariz passeia pelo seu rosto, acariciando a pele excitada e vermelha.
− Tão lindo... -Murmuro mais para mim do que para ele, antes de me aproximar, cheirar seu pescoço, e plantar um beijo demorado ali.
− Você tem uma banheira... -São as primeiras palavras que diz desde que gozou e eu rio baixinho, achando muito divertido que ele ache que isso realmente valha a pena ser dito.
− Sim, eu tenho. -confirmo com os lábios em sua orelha.
− E é enorme... -Isso me faz gargalhar: − Cabem quantas pessoas ali? -questiona, ignorando completamente o ataque de risos que me causou.
− Eu sou espaçoso... -desvio da pergunta, porque tenho certeza que a resposta vai fazê-lo pensar sobre quantas pessoas já estiveram nesse quarto, e nós realmente não precisamos dessa conversa agora, mesmo que nenhuma outra pessoa tenha estado aqui... Trazer para minha casa realmente não era o meu jogo, não até Eduardo...− Vem, vamos deixar você molhado...