CAPÍTULO XVII
*** JOÃO PEDRO ***
FECHO OS OLHOS e abro de novo, só para ter certeza de que não estou alucinando, mas a porra da imagem continua a mesma! Muito diferente da que eu visualizei encontrar o caminho inteiro, Eduardo nadando nu. Ao invés disso, o que encontro é Eduardo, seminu, coberto pelo caralho de um short curto que deixa seu corpo inteiro a mostra, e Bruno! O filho da puta do Bruno, há três passos dele, sem camisa, sorrindo para ele, comendo-o inteir9 com um olhar lascivo do caralho, na porra da minha casa.
O som da porta se abrindo faz com que ele vire a cabeça na minha direção, seu rosto está pálido, como se todo o sangue tivesse sumido dele, seus olhos estão arregalados e ele pisca várias vezes antes de lamber os próprios lábios, claramente preocupado com a minha reação. Ah, Eduardo! Você deveria mesmo estar preocupado... Respiro fundo, puto para um caralho, querendo gritar e rugir, mas buscando controle de onde não tenho. Me viro de costas para cena da porra e fecho os olhos por alguns segundos, agarrando com força a maçaneta da porta antes de fechá-la lentamente, fingindo uma calma inexistente.
Em minha mente, um verdadeiro quadro de expectativa versus realidade se desenrola. O que eu quero? Matar primeiro, perguntar depois. O que eu faço? Caminho devagar até a varanda, ao chegar, envolvo Eduardo com um dos meus braços e beijo sua testa. Ele é pego de surpresa pela minha atitude, eu sou pego de surpresa pela minha atitude. Mas, assim que cheguei perto dele, o vi ali, e senti seu verdadeiro pânico de como eu agiria, seus olhos me disseram tudo o que eu precisava saber naquele momento, todo o resto poderia ficar para depois, quando estivéssemos sozinhos.
Eu soube, simplesmente soube que não havia nada ali para me fazer surtar, além do filho da puta na minha frente que estragou meus planos de foder um Eduardo molhado e quente, de tesão e de calor, assim que eu chegasse em casa. Me assusto comigo mesmo ao me dar conta do que acabou de acontecer. Eu confiei em Eduardo. Confiei sem pensar duas vezes, seus olhos me disseram, e eu acredito. Acredito de verdade. Puta que pariu!
− Tudo bem? -sussurro em sua boca, olhando em seus olhos, tentando tranquilizá-lo, mas ele só balança a cabeça que sim, silencioso. Beijo seus lábios suavemente antes de voltar minha atenção à Bruno, a quem não dedico a mesma gentileza.
− Eu posso saber que caralhos você tá fazendo sem camisa na minha casa? - Ele ergue uma sobrancelha, aparentemente, formando com Eduardo e eu um trio de surpresos por eu não estar socando sua cara até a morte, e então sorri.
− Eu estou realmente surpreso... Achei que você partiria pra cima de mim primeiro, e perguntaria depois. -É a minha vez de sorrir.
− Eu conheço meu homem, Bruno. O que quer que tenha feito você achar que seria uma boa ideia tirar a roupa, não tem nada a ver com ele. -As palavras saltam da minha boca tão naturalmente, que assustam até a mim mesmo, meu homem, puta que pariu! Eu disse isso, não disse? Mas, talvez, esteja na hora de assumir essa porra, Eduardo não irá a lugar algum, nem hoje, nem daqui a dois meses, então enquanto essa porra durar, é isso o que ele é, meu homem, e é bom que saibam disso!
Não olho para Edu, mas o leve estremecimento de seu corpo ao ouvir minhas palavras não me passa despercebido.
− Puta que pariu! Eu vivi pra ver isso... João Pedro Govêa foi encoleirado.
− Bruno, eu realmente estou começando a reconsiderar minha abordagem com você, não porque eu tenho dúvidas sobre que caralhos aconteceu, mas porque socar sua cara está me parecendo algo cada vez mais atraente!
Ele ergue as mãos em rendição e aponta para uma camiseta pendurada no encosto de uma das cadeiras da varanda. Expiro com força enquanto ele a pega e veste, e eu noto uma enorme mancha molhada. O quebra-cabeças começa a se encaixar na minha mente, mesmo que ainda faltem muitas peças.
− Eu precisava falar com você, Eduardo disse que você estava voltando pra casa, ele me ofereceu água, mas eu me molhei, o resto é história...
− História? Você acha que decidir tirar a porra da camisa na frente do meu homem é história?
− Caso você não tenha percebido, João Pedro, ali, do outro lado da rua, tem uma praia onde as pessoas estão muito mais despidas do que eu estava. Não seja dramático. -desdenha e eu expiro com força. Eduardo aperta o corpo no meu e eu quase rogo aos céus por controle, porque me sinto próximo do limite.
− E o que é que você precisava tanto falar comigo?
− Hum... Com licença... -Eduardo interrompe, antes que Bruno possa responder e eu desvio meu olhar para ele.
− Eu vou para o quarto... -Penso em dizer que não, mas ver seu estado seminu na frente de Bruno, não vai me ajudar em nada a não socar a cara do filho da puta provocador. Então concordo com a cabeça antes de dizer que não vou demorar e soltá-lo. Ele se despede de Bruno a distância e sai da varanda.
Passo meus dedos pelos cabelos e o encaro.
− É sério, João Pedro... Onde foi que você o encontrou? Porque, porra, eu quero um! -comenta, assim que Eduardo some de vista e eu inclino a cabeça, olhando para ele, incrédulo. Dou alguns passos na sua direção antes de parar perto o suficiente para que ele olhe nos meus olhos antes de dar a ele a chance de repetir o absurdo que disse.
− O que você disse? E eu acho bom que você pense nas suas próximas palavras, porra! Você está na minha casa, falando do meu homem! E, puta que pariu! Deus é testemunha do quão controlado eu estou sendo, mas é melhor você não me forçar, caralho! -Questiono sério e ele sorri.
− Nada demais, só estava curioso...
− Enfia a curiosidade no cu! O que você quer? -sibilo, e ele bufa.
− Preciso conversar sobre a Amplik.
− E isso não podia esperar? Tinha que me seguir até o Rio de Janeiro? Tinha que vir à minha casa?
− Eu não te segui até o Rio de Janeiro. Aconteceu de nós dois estarmos aqui quando recebi a notícia de que outro grupo está sondando a empresa, querendo comprá-la também. Como era um assunto urgente, liguei pra Norma, ela me disse onde você estava, mas quando liguei pro Jordan, descobri que você tinha encerrado a reunião mais cedo e vindo pra casa... Então aqui estou eu. Aliás, por que você encerrou a reunião mais cedo?
− Não confunda minha paciência com qualquer outra coisa, Bruno. Não é da porra da sua conta! Quer falar sobre a Amplik, vamos falar dela. Não espere mais do que isso, e seja rápido.
***************
Encontro Eduardo Eduardo. Ele anda de um lado para o outro no quarto, sem se dar conta de que abri a porta. É só quando entro que ganho sua atenção. Seus olhos arregalados deixam claro que ele ainda está preocupado com o que farei.
− João, eu posso explicar, ele apareceu aqui, do nada, eu não...
− Eu sei, Eduardo. Eu sei... Eu entendi. - corto suas explicações atropeladas, e seus olhos se abrem ainda mais.
− Entendeu? -questiona, ansioso, antes de passar a língua sobre os lábios.
− Entendi. -Ando em sua direção, alcançando-o e envolvendo sua cintura em meus braços: − Se eu gostei de chegar em casa explodindo de tesão, louco pra te foder na varanda, e encontrar o Bruno, seminu, a três passos de você? Não! Eu odiei! Quis socar a cara dele na parede e depois arremessá-lo lá embaixo... Eu poderia dizer que foi um acidente, que ele simplesmente caiu... -divago: − Mas eu entendi que você não teve culpa nenhuma. O filho da puta realmente tinha um motivo legítimo pra estar aqui, mesmo que eu não tenha gostado de encontrá-lo na minha casa. Eu só tenho uma pergunta, Eduardo. Por que caralhos você não trocou de roupa?
− Não deu tempo! Tudo aconteceu muito rápido! Você me disse que estava vindo pra casa e, uns minutos depois, a campainha tocou. Eu não achei que fosse alguma coisa importante, você não me falou de nenhuma visita... Então, só peguei o short de praia e vesti no corpo, antes de atender a porta. Mas era ele, e quando eu disse que você não estava e que ele precisaria voltar outra hora, ele pareceu tão preocupado, que eu não pude mandá-lo embora sabendo que você estaria em casa em alguns minutos... Daí ele me pediu água, o copo caiu, quebrou, e eu fui procurar uma vassoura, mas eu não achava, e demorei, e quando finalmente consegui limpar tudo, fui levar outro copo de água e encontrei ele daquele jeito, sem camisa, na varanda. Eu tinha acabado de pedir pra ele se vestir quando você abriu a porta... Foi isso... Não deu tempo... Atropela as frases, dizendo uma depois da outra, como se estivesse desesperado para colocá-las para fora.
− Você sabe que eu só perguntei sobre a roupa né? -Sorrio com o canto da boca e ele balança a cabeça, ansiosa.
− Mas eu queria ter certeza de que você soubesse de tudo, só por desencargo... É melhor!
− Eduardo, está tudo bem! -Olho em seus olhos e seguro suas bochechas.
− Por que? Da última vez em que o Bruno esteve perto da gente a situação era muito menos pior do que hoje e você surtou! Ficou todo possessivo e praticamente fez xixi em mim! Como você pode estar tão tranquilo? Quer dizer, eu não estou reclamando, por favor, não surte outra vez, é só que, meu Deus! João, eu fiquei tão nervoso... - Fala rápido a ponto de ficar sem ar quando acaba, e encosta a testa em meu peito. Cheiro seus cabelos ainda molhados e beijo o alto de sua cabeça.
− As coisas mudaram... Eu conheço você o suficiente agora pra saber como não reagir em determinadas situações, mesmo que meus punhos estejam implorando por isso... -Ele ri baixinho.
− Obrigado...
− Pelo quê? -pergunto, unindo minhas sobrancelhas.
− Por confiar em mim...
− Eu te disse antes. Eu posso ver tudo o que você é pelos seus olhos, eu só fui tolo em não dar importância o suficiente a isso antes, não vai acontecer de novo.
Ele morde o lábio e desvia o olhar do meu. Franzo as sobrancelhas novamente e trago seu olhar para mim.
− Fala, Eduardo...
− Você... Você disse uma coisa lá na varanda...
− Que coisa? -questiono, mesmo sabendo o que é, e sorrio, porque quero ouvi-lo dizendo. Eduardo morde os lábios antes de movê-los de um lado para o outro em uma atitude nervosa.
− Que eu... que eu sou seu homem, João Pedro! -começa hesitante, mas, depois, solta todas as palavras de uma vez, como se fossem uma bomba prestes a explodir, e da qual ela quer se livrar.
− E você não é? -Minha voz é calma, divertida até.
− Não sei! -anuncia como se a resposta que me deu fosse óbvia, fazendo-me erguer as sobrancelhas: − Você disse que não sabia o que tínhamos. Que não sabia o que eu era... E, agora, e, agora, isso? Você quer me enlouquecer, João Pedro? -Parece
bravo, e eu sorrio, incapaz de evitar
− Você é uma coisinha brava, não é? Ele estreita os olhos para mim e inclina a cabeça: − Eduardo, eu te disse, o que temos, eu nunca tive antes. Me desculpe se eu ainda não sabia que nome dar, mas agora eu sei, e, a menos que você tenha algo contra isso, é esse. Meu homem.
− Você me confunde! -Se lamenta: − E você, João Pedro? Você é meu? Só meu? -Sua expressão séria deixa claro o quanto a resposta para essa pergunta é importante. Colo minha testa na sua, porque, se da primeira vez que ele me fez essa pergunta, busquei subterfúgios para respondê-la, dessa vez, eu não preciso.
− Completamente. -sussurro em sua boca e ele fecha os olhos.
− Eu tô com medo... -diz, também em um tom de voz sussurrante.
− Eu sei...
− É muito cedo, foi tudo muito rápido, e nós temos um contrato, eu estou apavorado que você possa estar fazendo isso só pra que eu não me afaste mais, e que vá se cansar de mim, João. Que quando o tempo acabar você vá me dizer que tudo foi uma mentira e que acabou... Eu tô apavorado...
− Eu não vou fazer isso, Edu... Eu não vou te magoar... Me deixa entrar... Por favor... -repito o pedido feito dias atrás, mas, agora, com um significado muito mais profundo: −Não vou mentir pra você e dizer que sei o que estou fazendo, não sei. Não tenho ideia, nunca fiz, nunca quis fazer e neguei, neguei o quanto pude que você me fez querer. Mas pra quê? O que nós dois temos em tão poucas semanas é mais verdadeiro do que qualquer outra coisa que eu tive minha vida inteira, e eu não acho que isso vá diminuir ou acabar, insisti que sim, porque não queria reconhecer que você tinha mudado tudo, porque porra! Eu gostava de como as coisas eram.
Gostava mesmo, mas não gosto mais. Não sem você... -Beijo seus lábios suavemente e respiro com força, inspirando o ar que ele expira. Mas que porra, voltei para casa para uma foda, e olha no que caralhos eu acabei me metendo... A vida é porra de uma brincante: − Eu vou fazer merda, Edu! Eu tenho certeza de que eu vou, mas nunca, nunca de propósito. E eu tenho defeitos, muitos mais do que aqueles que você já conhece e Deus! Eles vão te tirar do sério, e eu quero mesmo que tirem, cada um deles, porque eu adoro te ver irritado, porque eu adoro brigar com você, e porque eu adoro fazer as pazes com você!
− João... eu... Eu não sei... Eu já tinha aceitado dar mais passos do que achava que minhas pernas aguentariam quando concordei em viver “isso”, mas o que você está dizendo agora? Que quer me namorar, João Pedro? Eu não sei se poderia ser seu namorado, Meu Deus, eu realmente não sei!
− Não Eduardo, eu não quero que você seja meu namorado... -Seus olhos se abrem e encaram os meus. Suas sobrancelhas se franzem em confusão, mas antes que ela possa dizer alguma coisa, eu mesmo explico: − É a mesma coisa da amizade, Edu. Isso que temos não cabe num namoro, eu não preciso de outros rótulos. A única coisa que preciso saber e que preciso que os outros saibam, é que você é meu homem. O que isso significa, só interessa a nós dois... Esquece a porra do contrato, podemos rasgá-lo se você quiser. Que se foda! Eu não quero mais só o seu tempo. Eu quero você, inteiro! Pelo tempo que nós dois quisermos, e eu espero que seja muito tempo... -Seus olhos piscam e a cor invade suas bochechas, ele entreabre os lábios e expira com força, então, beija a minha boca.
É um beijo intenso, gostoso, entregue. É um sim. Pra seja lá que porra eu estava propondo, Eduardo está dizendo sim, e a felicidade que toma conta de mim, preenche cantos da minha alma que nunca tinham visto a luz antes. Eu sei agora, eu o quero, inteiro, não só por mais dois, seis ou doze meses, eu o quero enquanto ele estiver disposto a ser meu, por isso, devoro sua boca com uma fome insaciável, mas que, agora, sei que não preciso saciar, porque ele não vai a lugar algum.