Olá, pessoas, como vai a vida por aí? A não-vida continua um tédio. Como estava sem nada mais importante para fazer, afinal do lado de cá não temos muitas obrigações, decidir contar mais um pedaço de tudo que aconteceu para vocês.
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Bem, não foram dias fáceis. Eu ainda tinha algum sentimento por meu marido, e provavelmente se não tivesse engravidado do Diego, eu não toparia toda a loucura que estava por vir. Eu precisava tomar uma rápida decisão, pensei em fugir junto com Diego, o que ele prontamente descartou, já que ele era um renomado médico, e que não perderia seu status atual no hospital. Em desespero não sabia o que fazer, e tinha medo da barriga começar a aparecer.
Em uma noite durante meu “plantão” ele me disse que tinha a solução para os nossos problemas. Já que não poderíamos sumir nós, deveríamos dar um jeito de sumir com o Carlos. Obviamente eu relutei em vários momentos, sabia que aquilo não funcionaria e que daria merda, além de não querer machucar uma pessoa que até então só havia me apoiado. Tentei dissuadi-lo da situação, e ele naquele momento, fingiu que aceitava.
Cheguei a pensar em tirar aquela criança, mas sabia que não suportaria, pois eu sempre tive o sonho de gerar um filho, e não iria suportar a dor de gerar, e com minhas próprias decisões equivocadas, acabar com isso. Além disso, Diego demonstrava ser uma pessoa que cuidaria muito bem do nosso filho, eu não iria jogar essa oportunidade que recebi pela janela. Durante este período de angústia, procurei minha prima para conversar, e contei para ela toda a verdade. Ou quase toda, não disse quem era o pai da criança e nem como aquilo havia acontecido, apenas que não era o meu marido, uma vez que eles também sabiam que Carlos não podia ter filhos. Maria Clara ficou com muita, MUITA raiva de mim. Não, vocês não estão entendendo, ela ficou com BASTANTE raiva, a ponto de quase me agredir. Ainda nem sei por que ela não me dedurou pro Carlos, por conta da consideração que ainda tinha por mim, medo da reação dele, se ela tava querendo dar pra ele, eu sei lá! Mas sei que ela me pressionou a tomar logo uma atitude, antes que acontecesse o pior. Com isso, perdi também um dos últimos refúgios que eu tinha, que era a casa dos nossos amigos.
Agora era do hospital pra casa, eu chegava, e tudo havia voltado à frieza anterior, desta vez por minha culpa. Se antes meu marido deixou de ser um homem para mim por conta da sua infertilidade, desta vez eu não conseguia nem olhar pra ele direito por conta da minha infidelidade, e pior, da gravidez, algo que eu já quis muito dividir com ele. Ainda havia a apreensão de que tudo acabasse mal, pois Diego se mostrara disposto a levar tudo às consequências trágicas, o que eu não queria de forma alguma. Enquanto dormíamos, eu pensava se teria alguma forma do quadro de infertilidade dele ser reversível, e eu tentar de alguma forma ter aquela criança com ele. Estava desesperada.
Numa das noites, ele me esperou chegar do trabalho, e estava com uma papelada sobre a mesa, e eu tive até um frio na barriga pensando se tratar de um divórcio ou algo do gênero, porém a notícia me causou um baque muito maior, algo que me fez pensar coisas que eu jamais pensei ser capaz. Carlos tirou uma pasta debaixo de todos os papeis, e me disse que aquilo era apólices de seguro de vida que ele havia feito em meu nome quando começamos a tentar ter filhos, e que já que não seria possível, ele estava me mostrando aquilo para que eu me tornasse ciente de que caso ele faltasse algum dia, não ficaria sem recursos.
Quando tomei em minhas mãos o pedaço de papel quase caí pra trás, notei que era muita grana! Questionei a ele pra quê tudo aquilo, e ele disse que era pra garantir um futuro pra mim e pro nosso filho. Confesso que tive um misto de sentimentos, entre pena, arrependimento, amor... mas é isso. Eu precisava manter o futuro garantido do meu filho, e decidi que iria aderir ao plano do Diego.
Chegando ao hospital, contei ao meu amante minha decisão e ele ficou radiante! Disse que faria tudo, e eu não precisava me preocupar com nada, que faria de uma maneira rápida, e digna, se é que se pode assim dizer. A única coisa que ele me pediu foi para que eu arrumasse um jantar para que ele fosse à minha casa, e lá ele usaria suas habilidades para finalizar com aquilo.
Fiz como combinado, inventei uma desculpa qualquer para meu marido, de que teríamos um jantar de trabalho com o chefe do hospital, e de que ele estava conhecendo as famílias de todos os funcionários chave de lá, para estreitar os laços e dar algumas promoções.
Meu marido apenas me respondeu com um “OK”, como se não tivesse muito interesse naquilo tudo. Ele apenas continuou a cortar as estupidas toras de madeira que estavam na bancada e nem sequer olhou para mim.
E chega o dia do jantar.
Fiz tudo da forma como combinado, preparei um bom prato que meu marido gostava, mandei ele abrir uma boa garrafa de vinho, e esperar nosso convidado chegar. Toca a campainha. Meu marido vai até lá atender, e cumprimenta o convidado, que está muito bem-vestido, um verdadeiro cavalheiro.
- Olá, boa noite, sou o Diego, o diretor geral do hospital.
- Prazer dr. Diego, sou o Carlos, o Marido da Joana, entre por favor.
- Por favor meu amigo, sem essa de doutor! Aqui somos apenas amigos confraternizando.
Confesso, que da cozinha, ao ver aquela cena meu coração disparou. Eu estava prestes a deixar o homem que eu amei, ser assassinado a sangue frio pelo meu amante, tive vontade de impedir aquilo e simplesmente me separar, mas eu não podia renunciar ao dinheiro que garantiria o futuro do MEU filho! Desculpe Carlos, mas entre você, e meu bebê, eu não iria te escolher.
Vou até ambos com um falso sorriso de simpatia, e cumprimento o Diego com uma formalidade que há muuuuito tempo eu não tinha com ele. Encaminho ambos até a mesa de jantar, que já está posta, e recebo elogios de ambos. Fazemos uma breve oração, e começamos a comer, enquanto conversávamos frivolidades.
- Sabe Carlos, a Joana aqui é uma das funcionárias mais exemplares que temos no hospital. Sempre disposta a dar plantões que ninguém mais está, um exemplo de profissional. – Puxa assunto Diego.
- Claro, ela é excelente em tudo que está disposta a fazer, de fato.
Esse papo de estendeu durante um agradável jantar, até que começando a colocar o plano em ação, disse a meu marido que iria à cozinha buscar a sobremesa.
- Vou te ajudar a trazer! – disse um empolgado Diego, como havíamos combinado.
- Não precisa, eu consigo sozinha 0 menti.
- Eu insisto.
E fomos para a cozinha. Lá chegando, Diego apressou-se em tirar do bolso um tubo de coleta de sangue, contendo um líquido transparente.
- O que é isto? – perguntei.
- Uma toxina que vai dar cabo dele rapidamente. Sem dor, sem sangue. Vai parecer apenas um mal súbito. – Disse, enquanto despejava o frasco no recheio da torta que deveria ser destinado ao meu marido.
Voltamos para a mesa, e servi os três pratinhos de sobremesa com a ajuda de Diego. Enquanto comíamos, comecei a prestar atenção em todas as reações de Carlos, que ficava com os olhos sonolentos, até que BAM! Bateu com a cabeça sobre a mesa, em cima do prato em que comia. Seu corpo ficou mole, e ele caiu no chão, pálido.
- Temos que ser rápidos, vamos, me ajude a pegar aquele tapete. Confere a respiração, anda, vamos agir! – bradava agitadamente Diego.
Fui conferir e... não respirava. Meu marido estava morto.
...
Bom, esta foi minha pequena contribuição sobre meu ponto de vista de todo este caos. Ainda não entendo muito bem o que aconteceu depois disso, estava tudo certo, tudo perfeito. Mas no fim, estou eu aqui, e ele lá. Mas que pode explicar essa parte, não sou eu, é ele.