"Clair de Lune" - Capítulo 48 - Revelações

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 3860 palavras
Data: 28/04/2023 06:00:45

Resumi minha conversa com a Annemarye e ela ouvia tudo com muita atenção e interesse redobrado depois que eu falei que o relacionamento dela estava um pouco estremecido:

- Mas que cara burro, Erick! Cê já pensou em convidar ela para sair ou, sei lá, oferecer seu ombro amigo para ela?

- Eu estava pensando nisso. Acho que vou ligar hoje ainda.

- Mas é lógico que vai ligar! Tem que aproveitar a oportunidade. - Ela insistiu, mas logo mudou seu semblante e me alertou: - Só vou te falar uma coisa: não confie tanto no seu pai. Eu acho que ele desistiu fácil demais, viu?

- Fica tranquila, Renatinha. Tenho certeza que ele não faria nada contra ela sabendo que eu não vou mais aprovar.

- Erick, não confia nele!

[...]

Capítulo 48 - Revelações

- Filhos de uma puta! - Esbravejei enquanto Guto dirigia sei lá para onde: - Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo, Guto, eu sabia.

- Calma aí, véio! Cê vai infartar assim.

- Calma aí, o caralho! Vamos ter que dar um perdido no Erick e partir para o plano solo. Vou precisar de uma moça para simular ser a Renata para atrair a potranca para o apartamento. Daí, meu caro, depois que ela tiver tomado uma bebidinha com a gente, vamos domar aquela potranca na base da vara.

Passamos a beber porque minha raiva não baixava. Eu estava bravo e decepcionado com o Erick. Eu não conseguia entender como um filho meu tinha saído tão fraco assim, só podia ter puxado à mãe. A certa hora, depois de um punhado de chope, Guto teve uma ideia:

- E se o senhor fizesse o papel de bom moço e pedisse para a Renata marcar um jantar com a danada?

- A Renata tá no outro time, Guto, ela não vai ajudar.

- Não conscientemente… - Disse e tomou um grande gole de seu chope.

- Como assim?

- Pede para a Renata convidar ela e o Erick. Diz que quer fazer as pazes, sei lá, ou inventa outra desculpa. Daí quando todos estiverem reunidos, o senhor propõe um brinde.

Eu o escutava em silêncio e ele falava com uma certeza do que dizia, que preferi não interrompê-lo:

- Só que no copo deles, da Renata, do Erick e da Annemarye, o senhor coloca as gotinhas mágicas.

- Cê tá querendo dopar o seu irmão também?

- Aquele negócio lá não serve para deixar a pessoa mansinha e obediente? Então, dá pra ele também! Porra, põe as gotinhas no copo dele e delas. Quando eles estiverem entregues, a gente assume: eu, o senhor e o Guimba.

Não pude evitar um sorriso de orgulho pelo plano do Guto:

- Porra, Guto, tu é sangue do meu sangue mesmo, né, seu filho da puta! A resposta tava na minha cara e eu não tinha me tocado. - Disse, sorrindo: - E a gente ainda pode foder um pouco mais com a história…

- Como assim?

- Quando o Erick ficar mansinho, a gente põe ele pra trepar com a potranca também, lógico fazendo fotos e vídeos de tudo. Daí ele ficará confuso, sem entender como fez parte do esquema e não ficará contra a gente.

Ficamos no boteco até altas horas e depois voltamos para o apartamento. Renata assistia um filme qualquer na televisão e eu fiz sinal para o Guto se retirar. Assim que ele se foi, sentei-me ao seu lado, simulando interesse no vídeo. Ela me fez um rápido resumo e passei a assistir com ela, comendo uma pipoca que ela própria havia feito:

- Filminho fraco, hein, Renata?

- É o que tem pra hoje, Rubens… - Ela respondeu sem me encarar, mas não resistindo a sua própria curiosidade, me perguntou em seguida: - Aquela história de que você vai desistir da Annemarye é de verdade?

- Claro que sim!

- Rubeeeeenns!?

- Tô falando, mulher!

- Homem, você tá mentindo, eu tô vendo na tua cara... O que você tá pensando em aprontar, Rubens?

- Eu!? Nada! Se o Erick não quer minha ajuda, não terá. Simples assim.

- Sei, sei… - Ela respondeu, encarando-me como se quisesse enxergar através dos meus olhos.

Ficamos em silêncio assistindo mais um pouco daquele filme, mas eu não podia perder mais tempo:

- Deixa eu te pedir uma coisa, Renatinha?

- Peça.

- Você não prepararia um jantar para a Annemarye aqui em casa para amanhã?

Ela ainda me olhava desconfiada e eu continuei antes que ela pudesse dizer alguma coisa:

- Faça o que você quiser, do jeito que você quiser. Só quero que você ligue para convidá-la e eu ligarei para o Erick.

- Rubeeeeeens!

- É só um jantar família, Renata. Cê tá achando que eu vou fazer o quê, estuprá-la aqui na frente de todo mundo? - Falei caprichando na minha melhor cara de velhinho bondoso: - Cê me conhece, Renatinha, gosto de uma sacanagem, mas não sou nenhum bandido, né.

Ela ainda me encarava e a desconfiança estava estampada em seu rosto. Insisti:

- Mas eu não quero nada rebuscado. Acho que a Annemarye também não iria querer. Faça ou encomende um jantar gostoso, bem servido, mas com comida que a gente gosta. Só exijo fartura, gosto de comer bem, você sabe, né?

- E por que a gente não vai num restaurante? - Ela me perguntou.

- Justamente porque quero algo mais caseiro, mais… mais… mais família.

- Pra quantas pessoas?

- Só a gente! Eu, você, Erick, Guto e a Annemarye. É uma pena a Isabel ter voltado para a fazenda. Ela iria adorar…

- Ué, marca para outro dia e liga para ela. Fala para ela vir de avião. Também acho que ela iria gostar.

- Eu sei que sim e faremos isso numa outra oportunidade, mas agora eu gostaria de desfazer todo e qualquer mal-entendido entre nós e a Anne. Talvez isso ajude ela a se reaproximar do Erick, entende?

- Tá… - Ela falou já dando o braço a torcer: - Eu não vou cozinhar, porque acabei de fazer minhas unhas. Posso encomendar tudo naquele buffet que pedimos na festa de fim de ano?

- Claro que sim, aliás, ótima ideia!

- Comida pra cinco, então?

- Não. Pede pra dez! O que sobrar fica pra gente comer no outro dia.

- Então tá. Dinheiro ou cartão?

- Cartão, querida. - Disse e peguei um dos meus da minha carteira: - Use-o com sabedoria.

Ela sorriu e eu já sabia que compraria algo para ela própria, como sempre fazia, mas isso não me incomodava, era um prejuízo calculado.

[...]

Mudamos de assunto porque a Márcia ainda estava bastante abatida, como era de se esperar em situações como a que ela passou. Aliás, pouco depois que nos pediu para ligarmos para o Marcos ou para o Balthazar, ela apagou:

- O que será que ela quer falar com o Balthazar, amor? - Perguntou-me Ana.

- Não sei, mas deve ser algo bem sério. Ela sempre teve vergonha de conversar com ele.

Um médico entrou no quarto e após certificar-se que ela apenas dormia, perguntou qual dos dois ficaria ao seu lado à noite, enxotando educadamente o outro. Ana ficaria e eu iria para casa, o que fiz em seguida.

Dormi muito mal à noite. Pesadelos rondavam minha consciência sempre que eu fechava os olhos e acho que só descansei quando o dia amanhecia. Eu poderia ligar para o Marcos, mas teria que enfrentar minha esposa, então decidi ligar para o Balthazar após meu café da manhã. Coincidência ou não, enquanto estava na mesa da cozinha ele próprio me ligou:

- Bom dia, Jairo. É Balthazar quem fala.

- Como vai, Balthazar? Bom dia.

- Vou bem, obrigado. E Márcia, como tem passado?

- Ela está bem, se recuperando.

- Ótimo, ótimo. Vocês estão precisando de alguma coisa, qualquer coisa?

- Olha, Balthazar, até estamos, mas não tem a ver com necessidades exatamente.

- Não estou entendendo?

- A Márcia está acordada e pediu para falar com o Marcos, mas a Ana não quer vê-lo de forma alguma. Ela está assustada com tudo o que está acontecendo e não quer que ele se aproxime da nossa filha.

- É, eu entendo. Uma pena que ela pense que ele tem alguma culpa.

- Eu sei e, por favor, não o estou acusando, mas a situação… é complicado.

- Por favor, Jairo, não se culpe. Nós entendemos que não deva ser fácil para vocês.

- E não é! Mas a questão é que ela disse que, se não pudesse falar com o Marcos, gostaria de falar com você. Será que você não poderia ir até o hospital conversar com ela?

- Mas é claro que sim, meu amigo! Óbvio que vou visitá-la. Que dia e que hora?

- Seria possível hoje, depois do almoço?

- Poderia ser por volta das duas?

- Sim.

- Então, diga a ela que estarei lá.

[...]

Eugênia me encarava curiosa com o rumo da nossa conversa e assim que desligamos, ela não perdeu tempo:

- A Márcia quer te ver?

- Pois é... Estranho, não é?

- Não tô entendendo, Balthazar. Tudo bem que vocês se davam bem, mas ela nunca foi de conversar com você.

- Também estou curioso Gegê, mas não me custa nada lhe fazer uma visita.

- Eu vou com você…

- Acho melhor não! - A interrompi e expliquei: - Pelo tom da conversa, ela parece querer conversar algo muito sério comigo. Então, vou sozinho e te explico tudo depois.

- E se eu for apenas para visitá-la e depois ficar na recepção?

Concordei, mas ponderei que ainda assim, ela poderia se sentir constrangida. Combinamos dela me acompanhar e lá, no hospital, decidiríamos se ela entraria antes ou depois da minha conversa com a Márcia. Fui para o escritório e, para minha sorte, não tinha nenhuma reunião ou compromisso deveras importante, pois não consegui me concentrar praticamente em nada. Cancelei minha agenda da tarde e voltei para minha casa, onde almoçaria com a Eugênia e de onde iríamos para o hospital, juntos.

O almoço transcorreu sem maiores novidades e após uma soneca, pedi que seu Sebastião, nosso motorista, nos levasse até o hospital. Chegamos faltando cinco para a duas e Jairo já nos aguardava na recepção. Ficou bastante surpreso ao ver que Eugênia me acompanhava, mas eu o tranquilizei, dizendo que ela queria visitar a Márcia, dar um apoio da mesma forma que ela lhe apoiou quando quase infartou, e depois conversamos. Ele concordou e pediu para uma enfermeira informar que sua filha tinha visitas:

- Sabe do que se trata, Jairo? - Perguntei.

- Não, Balthazar, ela não nos adiantou nada, nada mesmo. Ela queria conversar, num primeiro momento, com o Marcos, mas a Ana não concordou de forma alguma.

- A Ana ainda acha que o Marcos tem alguma coisa a ver com esse assalto, atentado, sei lá? - Perguntou Eugênia.

- Minha esposa está confusa, dona Eugênia, ela só quer garantir a segurança da filha. Eu, no fundo, não acredito que o Marcos tenha alguma coisa a ver, mas é nossa filha, entenda! É difícil confiar em alguém…

- Calma, Balthazar, a gente te entende. Logo, logo, tudo se esclarecerá e vocês verão que o Marcos é inocente. É questão de tempo.

- Eu espero que sim, amigo, aliás, eu acho… Não! Eu sei que ele é inocente.

Pouco depois, fomos escoltados até seu quarto, agora fortemente vigiado pela polícia e entramos. Márcia estava abatida, mas com um semblante bom, tanto que nos recebeu calorosamente, com um sorriso autêntico, genuíno e verdadeiro. Eugênia foi até ela e a abraçou. Os olhos de ambas se encheram de lágrimas, mas minha esposa sabia que deveria ser forte para apoiá-la no que fosse necessário. Trocaram afagos, carinhos, conversaram amenidades brevemente, e minha esposa me deu o lugar. Fiz o mesmo, cumprimentei-a com um beijo na testa e passei a conversar amenidades para tranquilizá-la, depositando meus melhores votos e oferecendo minha ajuda para o que ela precisasse. Depois de um tempo, com os assuntos se esgotando, ela se calou e respirou fundo. Era chegada a hora de nossa tão misteriosa conversa:

- Gegê, pode nos deixar a sós? - Pedi para Eugênia que concordou com a cabeça e um sorriso tímido.

- Claro que sim! Ficarei na sala de espera e... - Respondeu-me ainda.

- Não! Não precisa. O que eu quero contar, prefiro que seja para os dois e de uma vez. - Márcia a interrompeu e Eugênia se aproximou da cama.

- Eu vou esperar lá fora. Vamos Ana? - Disse Jairo para a esposa.

- Não! Podem ficar. É bom que assim só falo uma vez. - Márcia pediu para eles que também se aproximaram, agora ainda mais curiosos da cama.

Márcia, naturalmente, ainda não estava bem. Respirava com certa dificuldade, mas estava determinada a contar alguma coisa. Fiz questão de acalmá-la e dizer que ficaríamos o tempo que fosse necessário e que ela falasse o que quisesse falar em seu tempo, sem se esforçar demais. Ela sorriu e depois de respirar com dificuldade algumas vezes, não por falta de ar, mas como se buscasse coragem, disse:

- Foi o Aurélio que tentou me matar, não o Marcos.

[...]

Naturalmente eu não confiava nada na palavra do Rubens, deixei isso bem claro, mas ainda assim se ele queria tentar ajudar o Erick a conquistar a Annemarye de uma forma convencional, eu deveria primeiro informar ao maior interessado, ou seja, ao próprio Erick e foi o que fiz, ligando para ele de manhã bem cedo. Depois de seu celular chamar quatro vezes, ele me atendeu:

- Acordou, belo adormecido? - Perguntei, brincando.

- Renatinha!? Porra, que horas são? Aconteceu alguma coisa?

- Erick, é o seguinte, teu pai me pediu para preparar um jantar aqui e disse que iria convidar a Annemarye. Ele disse que quer te ajudar da melhor forma, mesmo que seja para contar a verdade. - Disse e resmunguei em seguida: - Sei lá que verdade é essa…

- Pra quando?

- Hoje.

- Hoje!? Mas assim, em cima da hora?

- Então, também estranhei a pressa, mas seu pai é seu pai, né? Você conhece ele melhor do que eu.

- Estranho, né?

- Eu sei lá, Erick, mas de qualquer forma, ele disse que seria uma coisa caseira, só eu, você, ele, Guto e a Anne. Só vou fazer esse jantar se você vier: eu não confio neles com ela, mesmo comigo junto, não confio.

- A Anne já topou, Renatinha?

- Não liguei ainda. Só vou ligar se você puder vir.

- Liga e veja se ela topa. Se ela topar, eu dou um jeito e vou. Só me avisa depois, ok?

- Ok. Vou ligar daqui a pouco e te aviso. Beijo.

- Beijo, Renatinha.

Rubens acordou pouco depois, trazendo o dorminhoco do Guto a tiracolo. Disseram que tinham alguma coisa para resolver e que iriam sair, voltando só no meio da tarde. Insistiu que eu preparasse o jantar e também quis saber se eu já havia convidado a Annemarye. Dei a mesma resposta que havia dado ao Erick e ele pediu para eu agilizar tudo. Nem tomaram café e saíram porta afora. Por volta das oito e meia liguei para a Anne:

- Bom dia, Anne. Tudo bem?

- Quem é? Renata?

- Isso!

- Oi, bom dia. Vou bem e você?

- Estou bem também. Cê tá podendo falar agora ou prefere que eu ligue depois?

- Não, posso sim. - Disse e ouvi sons de um teclado, ela retornou: - Desculpa, só estava salvando um arquivo. Diga, Renata, em que posso te ajudar?

- Anne, o Rubens pediu para eu ligar e te convidar para um jantar. Você tem algum compromisso para hoje?

- Olha, Renata, ele até tinha me convidado também. Pessoalmente, eu preferia num local público, um restaurante, sei lá, não gosto de dar trabalho e o Rubens, sei lá… - Disse e suspirou: - Meu santo não bate muito com o dele não!

- Então… Entendo você perfeitamente. O Rubens é, no mínimo, excêntrico, mas seria só um jantarzinho praticamente em família: eu, você, Erick, Rubens e Guto, infelizmente a dona Isabel voltou para a fazenda e não participará.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, como se pensasse a respeito e voltou objetiva:

- Renata, o que está acontecendo? Conversa comigo.

Foi a minha vez de ficar em silêncio, pois eu não sabia o que dizer. Apesar de acreditar que o Rubens não seria louco de tentar algo contra ela na frente do Erick, principalmente depois dele ter exigido que ele abortasse aquela plano horrível, todo cuidado era pouco:

- Anne, o Rubens quer tentar se aproximar de você, explicar algumas coisas, talvez ser mais amigo. Acho que ele pensa que, com isso, conseguirá ajudar o Erick a te conquistar.

- Renata, eu estou namorando? O Erick sabe disso, eu expliquei para ele.

- Então, mas é o Rubens. Ele é teimoso quando quer uma coisa.

- Até quando quis você? Ele insistiu até te conseguir?

- Ai, Anne, não faz isso…

- Renata, se você não me contar o que está acontecendo, eu não vou aceitar o convite. Desculpa, entenda meu lado, eu não confio no Rubens, nem no Guto e quase nada no Erick depois daquela história dos vídeos, mas se eu não puder confiar em você, para que eu vou aí? Não, assim eu não vou!

Depois de pensar um pouco em silêncio, decidi que seria melhor abrir o jogo, mas não poderia ser por telefone. Deixei isso claro e ela concordou:

- Certo! Onde quer almoçar?

- Eu não conheço muitos lugares aqui, Anne…

- Passa aqui no escritório então que a gente sai juntas. Onze horas, pode ser?

- Pode. Estarei aí. Beijo.

- Beijo, Renata.

[...]

Até que enfim parecia que eu conseguia descobrir algo de relevante daquela família. A Renata só não abriu o jogo por não estar frente a frente comigo, mas eu senti que, dessa vez, ela iria falar. Pouco antes das onze, a secretária me chamou pelo interfone e disse que uma moça, chamada Renata, me aguardava na recepção e eu disse que já iria. Terminei o que estava fazendo, peguei minha bolsa e saí. A encontrei sentada e ela não parecia nada confortável, mas me recebeu com um sorriso e saímos para o estacionamento, onde entramos em meu carro. Fomos conversando amenidades para deixar a situação mais leve enquanto eu dirigia para um restaurante familiar, tranquilo e pouco frequentado durante a semana, local onde poderíamos conversar à vontade.

Chegamos e realmente havia poucas pessoas. Sentamos num canto mais afastado e fizemos nossos pedidos. Não fiz rodeios:

- Fala, Renata, conta pra mim o que está acontecendo?

Ela olhava para baixo, constrangida e respirou fundo umas duas, três vezes. Depois me encarou:

- Por favor, não me julgue. - Disse e eu concordei com um aceno de cabeça, ela continuou: - Eu sou amante do Rubens.

Calou-se pouco após dizer isso e seus olhos se encheram de lágrimas, talvez por ter entendido a vergonha que essas palavras significavam. Deixei que ela se acalmasse um pouco e foi providencial, porque um garçom se aproximou com nossas bebidas. Após sermos servidas e ele se afastar, tomei a palavra:

- Fica calma. Eu já imaginava isso.

- Já!?

- Não sou nenhuma boba, Renata. Eu senti algo estranho entre vocês já naquele jantar que o Erick fez e me apresentou como sua namorada para os pais. Lembra?

- Lembro.

- O Rubens e o Guto me olharam estranho, me cobiçando, e ali eu já vi que alguma coisa não estava certa naquela família.

- Mas não é só isso?

- Tá, eu imagino que ele te pague alguma coisa, te dê uma ajuda de custo. É normal nesses casos, afinal você é amante dele.

- E do filho dele também…

- Oi!? - Perguntei, agora ficando surpresa.

- Eu fico com o Guto, às vezes também. Já fiquei até com o Erick.

Agora eu estava realmente surpresa, aliás, acho que essa não é a palavra exata: eu estava estupefata. Devo ter ficado boquiaberta para ajudar e de olhos arregalados. Até sem palavras fiquei. Ela vendo que sua imagem já tinha ido para o lixo, continuou:

- Eu… Eu… Eu sou uma desgraçada, Anne. Eu sou uma vagabunda, uma puta, isso sim. - Disse e começou a chorar.

Assim que secou umas lágrimas e vendo que eu a encarava surpresa, mas sem criticá-la, passou a contar um resumo de sua vida. Começou contando como conheceu o Rubens, quando ainda trabalhava numa empresa de eventos e de como ele a havia ajudado com boas indicações para bons trabalhos em troca de uns momentos mais íntimos. Depois passou a explicar como ele havia ajudado ela a alugar um imóvel, praticamente pagando o aluguel, até que ela conheceu o marido, Paulo, cessando aos poucos com as investidas dele. Disse que vivia um relacionamento feliz com o marido, com quem havia descoberto a plenitude de um relacionamento cúmplice e liberal, inclusive que ele havia se tornado sócio dela e da mãe numa loja. Entretanto, num momento de fraqueza e de dificuldades financeiras, se deixou ser envolvida novamente pelos galanteios e pelas promessas de ajuda do Rubens:

- Pior é que tenho certeza que foi aquele filho da puta que me denunciou para o fisco. Eu tenho certeza disso.

- E ainda assim você ficou com ele?

- Ele tem dinheiro, Anne, e a minha lojinha era um sonho antigo que eu havia realizado com a minha mãe. Não era justo a gente perder tudo, não era. - Disse, enxugando algumas lágrimas: - Poxa, eu batalhei tanto. Eu só queria ser feliz, ter uma vidinha feliz com meu marido.

- Nossa, Renata, eu não sei o que dizer…

- O Paulo é uma ótima pessoa, Anne, eu gostaria que você o conhecesse. Ele é gentil, trabalhador, honesto, bondoso, me satisfaz na cama e nunca me limitou em nada. A gente tem uma cumplicidade única, já realizamos cada fantasia que se eu te contasse, você ficaria com o cabelo em pé. - Disse e sorriu pela primeira vez, se divertindo com alguma lembrança: - Eu é que não o mereço.

- Poxa, Renata, para com essa vida. Vai viver com o teu marido e esquece o Rubens. A vida é tão curta pra gente desperdiçar com alguém que não presta.

- Eu sei! Eu já tentei isso, mas sempre que eu falo para o Rubens, ele me ameaça, dizendo que irá contar tudo para o Paulo, além de enviar uns vídeos que eu tenho certeza que ele já fez da gente, eu e ele, e eles, e… Ah, melhor nem contar.

- Olha, eu não sei se o que ele faz com você chega a configurar o crime de ameaça, mas que é uma puta canalhice, eu não tenho dúvidas. - Falei e tomei um longo gole de meu suco antes de continuar: - Ainda assim, você está presa a uma mentira que está te fazendo um mal imenso. Eu, no seu lugar, contaria para o Paulo e pediria o seu perdao. O arrependimento honesto é a única coisa que te resta. Eu… Eu sei lá. É difícil. Não gostaria de estar na sua pele…

- O pior é que agora ele está me pressionando para abandonar o Paulo, porque ele quer ter exclusividade sobre mim para ele, o Guto e os amigos.

- Amigos! Que amigos!?

Ela colocou as duas mãos no rosto, escondendo sua vergonha nelas e apoiou os cotovelos na mesa. Começou, então, a chorar e, dessa vez, não dava mostras de que iria parar tão cedo. Sem ter muito o que fazer, a abracei e daí ela desmoronou de vez, chorando tudo o que estava represado em seu coração. Suas lágrimas eram sinceras e não uma tentativa de me enganar, eu senti isso na alma e, apesar de não saber ainda como, eu precisava ajudá-la.

[...]

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 270Seguidores: 630Seguindo: 24Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Mark/Nanda, acompanho seus contos com profundo interesse, pois viajo nas inquietudes, acertos, erros, etc, de seus personagens. Estamos sentindo falta de um encerramento/continuação da historia da Annemarye. Vcs estão com alguma idéia disto ocorrer? Obrigado

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Mark amigo quando essa história vai ter continuação estou louco pela saga completa se puder me responda fico no aguardo ok 👍 amigão.

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Caro Mark, quando vai retomar esse maravilhoso conto.

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Ola Mark espero que esteja tudo bem com vcs e que não tenha desistido de continuar os seus conto

abraços

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O que houve com o autor, já faz um tempo que não posta nada, sei que o processo de criação é demorado, torço para ver logo a parte 49 dessa história.

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Todo o dia entro na página de contos do Mark da Nanda para ver se o capitulo 49 já está postado, será que vou ter que esperar 1 mês para ler as novidades?

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E então esse conto vai continuar ou não, estou esperando pelo desenvolvimento da trama.

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O último capítulo desse conto que li o vigésimo sétimo, hoje resolvi colocar a leitura em dia e li todos os capítulos restantes, o "conto" é excelente e merece todos os elogios e estrelas, "conto" porque é quase um romance, daria um ótimo livro. Do capítulo 27 ao 48 se passou praticamente cinco meses rsrs, agora só volto a ler quando o conto for finalizado, contos longos e bons me matam de ansiedade, se fosse ruim eu já abandonava a leitura rsrs, só que esse é muito bom e a cada capítulo fica o gostinho de quero mais, vou deixar ativada as notificações desse conto e veio quando cada capítulo for publicado, vou segurar minha ansiedade e esperar o final, parabéns ao autor pela obra.

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Acho sacanagem, sabendo de tudo o que pode rolar no jantar, a Anne ir, a não ser que combine algo para acabar com essa corja de bandidos.

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Renata ganhou uns pontinhos ai agora...

E o Mark deixou explícito uma coisa que tava implícito no conto do Neto, a Renata não ia largar do Paulo.

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Por um momento tinha me esquecido da Márcia e Lelinho, agora se a Anne for nesse jantar ainda mais depois da Renata ter contado tudo pra ela não vai fazer sentido toda a esperteza dela das ruas a não ser que ela tire uma carta da manga.

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Para mim, a única surpresa seria a Annemarye ir nesse jantar sozinha, na verdade ela não deveria nem ir, mas se fosse seria com a condição de levar o amor de sua vida, o Marcos pois nem entendo porque ela está dando tanta trela para esse Erick, pois ele além da família ruim, ainda provou ser ruim também, de mais a mais ela não deva nada a esse Erick! E afinal de contas ela ama ou não o Marcos?

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Agora a história está tomando rumo, Renata dizendo tudo, avisando para Anne ficar prevenida,o estrupo está a caminho , basta agora Erick e Anne tomar cuidado, Márcia revelando quem e o autor do atentado, coitados dos pais do Marco vão ficar chocados, Renata deveria reunir provas contra Rubens e guto

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Mark do Céu!!! Você ainda vai me causar um infarto com tanto suspense !!!

Pode ser só uma coincidência aqui ter uma Márcia e no crossover da Marmita também. Acho que as faixas etárias não batem.

PS pelo amor de Deus, não deixe nada de ruim acontecer com a Anne !!!

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Eu torço por isso desde que o Rubens pôs os olhos nela!

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A coincidência das "Márcias" será explicada no Marmita, Ida.

Quanto ao suspense: "guenta" coração! Já estamos chegando na reta final. Agora, as emoções serão fortes.

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Que capítulo top!!! Fazendo a curiosidade aumentar mais ainda. Me pergunto se Mark vai fazer um final para encaixar com a estória original de Renata. Parabéns Mark!!!

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Maravilha.

Com a denúncia da Marcia e a confissão da Renata espero que o Marcus e a Anne não se deixem cair nas mazelas da família Rubens, e consigam enquadrar todos pelos vários crimes que já cometeram

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Muito bom. Mark já estava sentindo falta da Anne. Parabéns pelo capítulo, vc consegue nos deixar morrendo de aflição em saber o que virar pela frente. Eu e minha esposa adoramos seu contos e a história de vcs. Um abraço para vc, Nanda e as meninas.

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Muito bom como sempre. Muito tenso!!!

Agora só não nos deixe muito tempo na expectativa.

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Caramba Mark, que capítulo top! Adorei a atitude da Renata, merece até que o marido perdoe ela depois que ela contar tudo e aínda ajude a ferrar com o Rubens e os outros, se bem que tendo dinheiro vão se safar rapidinho.

O Aurélio agora tá com a frente ocupada!

Sei não, esses amigos me deu até um arrepio de quem possam ser!

Show demais Mark!

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Militar não sei se você conhece, mais a estória de “Renata” já foi contada. É do autor neto_batista.

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R_R, sei sim e li, mas o Mark poderia querer redimir a Renata e mostrar que ela não era uma pessoa ruim.

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