Contratados: O Prazer - Capítulo XIX: Eduardo

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 12470 palavras
Data: 28/04/2023 12:38:45

CAPÍTULO XIX

*** EDUARDO ***

− VOCÊ ESTÁ com os olhos fechados?

− João, você me vendou e suas mãos estão em cima dos meus olhos cobertos, nem que eu quisesse muito, conseguiria mantê-los abertos! - respondo, divertido, enquanto mantenho os braços esticados à minha frente e as mãos espalmadas, tentando evitar bater em alguma coisa conforme ando completamente cego pela casa, saindo do nosso quarto. – É muito longe? João, pelo amor de Deus! Eu acho que não sou capaz de descer as escadas sem

conseguir enxergar... -aviso, porque, se eu tentar, provavelmente vou rolar escada abaixo.

João ri.

− Então vamos resolver isso...

− Resolver co... -Minha fala é cortada por um arfar surpreso quando sinto meus pés sendo retirados do chão, gargalho.

Deus, esse homem... São quase três meses agora. E eu mal posso acreditar que saímos de onde começamos e chegamos até aqui. João Pedro está na minha vida há oitenta e dois dias, se contarmos desde a entrevista, e eu não mudaria absolutamente nada na nossa história, nem uma vírgula, porque apesar de toda a turbulência do começo e, de, frequentemente, eu ter vontade de esmagar sua cabeça na parede, nunca fui tão feliz como durante esse tempo.

Ele caminha a passos lentos, me carregando, e o sorriso em meu rosto cresce. Meu coração bate acelerado no peito, porque não importa quanto tempo passe, ou, quantas vezes ele me toque, minha reação é sempre a mesma. Se ainda estivéssemos levando o contrato a sério, em duas semanas, ele se encerraria. Se antes eu achava que iria sofrer quando esse momento chegasse e nosso acordo simplesmente acabasse, hoje eu sei que seria muito mais complicado do que isso.

João Pedro não é um príncipe, pelo contrário, está muito longe disso. É mandão, controlador, odeia ser contrariado, e, na cama, nossa senhora! Se há algo que não se pode dizer sobre ele, é que João é principesco. Não é como se eu soubesse como príncipes transam, mas, eu realmente não acredito que eles chamem de puto, putinho, e algumas outras coisas... Porém, eu não preciso de um príncipe, e, definitivamente, seu palavreado baixo quando estamos na cama é uma das melhores partes de algo que é inteiramente incrível.

Procuro o rosto de João com minhas mãos, apalpando-o, acariciando, e inclino a cabeça na direção do meu toque para beijá-lo. Sua risada soa alta quando eu erro, e, ao invés de beijar sua bochecha, beijo seu olho. Ouço o som suave de uma porta sendo aberta e, alguns instantes depois, sinto meus pés tocarem o chão. Foi rápido... Será que descemos as escadas? Estava tão perdido em meus próprios pensamentos que não prestei atenção, poderíamos estar no primeiro andar agora, e eu simplesmente não teria sentido o impacto da descida dos degraus.

João para atrás de mim e começa a desamarrar o tecido preto que cobre minha visão.

− Continua com os olhos fechados! -pede, e eu balanço a cabeça, mas reviro meus olhos, ainda que eles estejam fechados. A venda deixa meu rosto e eu mordo o lábio, ansioso, querendo saber que surpresa é essa...

− Tudo bem! Pode abrir!

Não preciso ouvir duas vezes, abro imediatamente os olhos para deixar que meu queixo vá ao chão em surpresa.

− Ah meu Deus! -Pisco, atordoado. Olho para todos os lados sem conseguir acreditar.

− Pelo amor de Deus, João Pedro! Eu não acredito que você realmente fez isso! -Minha voz soa baixa, sussurrado, sem força e meus olhos ardem. As lágrimas não derramadas se acumulam sem que eu possa impedi-las. Quero andar pela sala escura, quero tocar as poltronas que parecem absurdamente macias, quero ir até a pipoqueira imensa em um canto da sala, quero descobrir cada centímetro desse lugar dos sonhos, mas não consigo me mover. Continuo parado, estático.

Uma sala de cinema. João Pedro montou uma sala de cinema, e eu não consigo acreditar que ele realmente tenha feito isso só para mim.

− Você disse que queria acrescentar uma exatamente igual àquela a lista, não disse? -pergunta, atrás de mim, envolvendo os braços envolta do meu corpo, abraçando-me, segundos antes de afundar o nariz em meu cabelo e apoiar o queixo em meu ombro. Eu deixo que meus olhos varram a sala de novo e de novo, e de novo, antes de me sentir pronto para virar as costas para ela e olhar para o rosto do homem que realmente fez isso.

− Foi uma piada, João! Uma piada! Porque você me fez escrever meus desejos mais absurdos naquela lista, e ter uma sala, exatamente igual a de um cinema púbico, é um absurdo! Olho para os lados e balanço as mãos, indicando a sala ao nosso redor, João Pedro sorri.

− Você queria?

− De um jeito absurdo? Sim! Mas...

− Mas nada! Você querer é tudo o que importa... -sussurra em minha boca, com os dedos passeando pelas maçãs do meu rosto.

− Você não pode, simplesmente, realizar todos os meus desejos... - respondo, emocionado, porque ele não pode, mas o simples fato de querer, faz meu coração bater tão rápido que eu nem mesmo posso contar suas batidas.

− Eu já te disse várias vezes, meu bem... Existem pouquíssimas coisas que eu não posso fazer, e realizar seus desejos não é uma delas. Eu posso, e vou! Cada um dos trezentos e setenta. Agora, restam duzentos e oitenta e três...

− E se eu quiser uma estrela? brinco.

− Eu dou uma pra você! -afirma, como se estivéssemos falando de um pedaço de pizza.

− João, você não pode me dar uma estrela! -protesto, e ele levanta uma sobrancelha.

− Você quer uma estrela, Edu? - Sua voz soa baixa, desafiadora.

− Não! -Me apresso em responder: − Eu não quero uma estrela!

− Que pena, porque eu adoraria comprar uma pra você... E, pedidos como esse -Imita o gesto que fiz com os braços para indicar a sala: − São pedidos de verdade, os outros, como, se hospedar em um hotel, fazer uma viagem de carro, ou experimentar lagosta, esses são brincadeira de criança, e a maioria do que você colocou na lista é algo do tipo...

− Brincadeira de criança? Eu nem sei quando conseguiria realizar essas coisas, João! Se eu conseguisse! Sorri e desliza os dedos pela minha bochecha, me inclino para o toque, plenamente consciente de estar me comportando exatamente como um gato, mas sem dar a mínima.

Beija a ponta do meu nariz e para a boca sobre a minha: − Isso foi antes de me conhecer... Não há nada nesse mundo que eu não faça pra te ver feliz.

E aqui, exatamente, agora, a sensação me atinge pela milésima vez nos últimos dias, é quase física, e não é. É quente, fria, lenta e rápida. É devastadora e acalentadora, é sufocante. Não é vontade, é uma necessidade. As palavras sobem pela minha garganta e eu preciso fechar a boca para impedi-las de saírem por ela sem a minha permissão, sem que eu esteja pronto. Meu coração arrebenta meu peito com pancadas fortes e aceleradas, desesperado, implorando para que eu deixe de lado meus últimos medos e admita em voz alta, admita para João que eu o amo.

Eu o amo apesar e por causa de todas as coisas. Eu o amo pela sua personalidade torta, pela maneira absurda e arrogante com que entrou na minha casa há meses atrás, me dizendo que eu já era sua, porque, foi a primeira vez, em muito tempo, que alguém se importou comigo o suficiente para me dizer uma verdade inaceitável. Eu o amo pelos seus defeitos e manias, pelas suas virtudes e cuidado, eu o amo. Eu o amo porque ele olhou para mim de verdade quando ninguém se importava. Eu o amo, porque ele me enxergou, porque foram seus olhos que fizeram eu me lembrar de mim mesmo. Eu o amo, porque foi o seu toque que me fez ansiar por não precisar do seu amor para me amar, porque ser visto por ele, fez com que eu desejasse ser visto por mim.

Eu o amo pelas suas palavras doces, e pelas azedas também, pelos seus gestos carinhosos e pelos rudes. Eu o amo, porque como ele, só há ele. Eu simplesmente o amo. Com tudo o que há em mim, com absolutamente todo o meu coração, cada centímetro do meu corpo, cada fibra dos meus músculos, cada fôlego que alimenta meus pulmões, com a minha pele, corpo e alma, eu o amo. Amo tanto que chega a doer, mas não posso dizer, ainda não, e, negar isso a mim mesmo parece esticar-me em duas direções opostas, quase me partindo ao meio.

João sempre disse que conseguia me ler inteiro em meus olhos. Isso me alivia e me apavora na mesma medida, porque, ao mesmo tempo em que imaginar que ele já saiba me deixa feliz, também me deixa apavorado, porque, mesmo sabendo, ele nunca disse nada, nunca deu nem mesmo indícios de querer declarar reciprocidade com palavras.

Eu sei que os gestos são importantes, e eu os reconheço, cada um deles, desde os mais simples, como sair para tomar sorvete na sorveteria mais cara de São Paulo, o item número três da minha lista, até os mais extravagantes, como me construir uma sala de cinema particular, só porque eu disse que queria uma como piada. Eu os vejo. Eu os valorizo, e, muitas vezes, até gosto de pensar que vejo amor neles, mas tenho medo, absoluto pavor de estar enganado, de estar me enganando, de estar, apenas, desesperado para me sentir correspondido, então eu me calo.

E, mais uma vez, escolho aquilo que acho que diz tudo, sem que eu precise dizer absolutamente nada. Eu o beijo, prometendo a mim mesmo que vou passar por isso, vou superar esse medo, e, que não vamos começar nosso próximo trimestre juntos sem que eu tenha dito. É isso! É disso que eu preciso! De um prazo, e, a contar de hoje, tenho duas semanas.

− Não é justo você me dar isso justamente hoje, quando não podemos aproveitar por causa da bendita festa... resmungo, ainda com a boca colada à sua, e ele ri.

− Você sabe que nós vamos voltar pra casa, né?

− Mas eu nem queria sair de casa... -Expiro com força, sabendo que argumentar não vai fazê-lo mudar de ideia. João quer porque quer que eu vá à essa festa. Já ofereci todas as alternativas possíveis: que eu não vá, então ele disse que não queria ir sozinho. Sugeri que ele convidasse outra pessoa, alguém que não quisesse pular em sua cama, obviamente, mas ele disse que não queria estar com ninguém além de mim e, nesse momento, amaldiçoei seu romantismo recém descoberto. Sugeri que nenhum de nós fosse e que enviássemos um belo presente, se são seus pais, eles não devem se importar com algo assim, tudo o que consegui com essa sugestão foi uma sobrancelha arqueada, ele nem mesmo se dignou a me responder com palavras.

− Vai ficar tudo bem... Edu.... Do que você tem tanto medo?

− Dos seus pais? Dos seus amigos? De não saber me portar? De te envergonhar por não saber o que dizer em conversas, ou que talheres usar?

− Há semanas você está assistindo vídeos de aulas de etiqueta no youtube, provavelmente, você tem um conhecimento muito mais vasto sobre garfos, facas, taças e copos que eu à essa altura. E não seja condescendente, Eduardo. Nós dois sabemos que você sabe conversar sobre absolutamente qualquer coisa, o único assunto que poderia te alienar é a Govêa, mas isso, há meses atrás, porque trabalhando lá, você sabe tanto sobre ela quanto os convidados que são funcionários, e mais do que os que não são.

− E se a sua mãe me odiar? E se o seu pai não gostar que o filho dele esteja saindo com o secretário?

− Primeiro, eu não estou saindo

com o secretário, meu homem está trabalhando como meu secretário, é diferente... -Afirma, e, como sempre, sua declaração de que eu sou seu homem, arrepia todo o meu corpo.

− Você gosta de me ouvir dizer, não gosta? -pergunta, notando minha reação e eu mordo o lábio e balanço a cabeça, confirmando. Ele cola a testa na minha, deixando seus olhos impossivelmente próximos dos meus.

− Você é meu homem, Eduardo! E eu não vou esconder você do mundo... Não vou... -Suspiro, derrotado, porque sei que ele está certo, e detesto. Detesto que ele esteja certo, detesto ter que admitir que ele está certo.

− Tudo bem! Mas sua mãe ainda pode me odiar, e você vai ter que conviver com isso. -Beija meu nariz e sorri.

− Minha mãe vai amar você, eu tenho certeza... E eu te dei a sala antes porque queria te deixar feliz... Mesmo que não possamos aproveitar agora...

− Eu sou feliz. -digo em um sussurro, porque dizer isso faz uma rachadura na minha parede de medo, e embora eu queira quebrá-la e tenha, até mesmo, estabelecido um prazo, isso não torna nada mais fácil: − Eu sou muito feliz, João. Você, você me mostrou que eu merecia isso, e, todo dia, eu aprendo um pouco mais sobre o que me faz feliz, assim, eu posso estar sempre em busca dessas coisas... -Ele sorri e acaricia meu rosto com o seu. Levo minhas mãos até suas bochechas, seguro seu rosto, para que ele não possa desviar os olhos dos meus.

− Mas você, João. Ter você é

grande parte do que me faz feliz. -E eu te amo, completo, silenciosamente, e desejo, com todo o meu coração, que ele seja capaz de lê-los, como sempre foi. Por vários segundos, nossos olhos permanecem travados, e, quando penso que ele não dirá mais nada, duas palavras saltam para fora de sua boca, depois, meu nome, e mais duas, e, depois, a frase que faz meu coração parar de bater por um milésimo de segundo, só para recomeçar em uma dança frenética e descontrolada.

− Eu também, Eduardo. Eu também. E, quando você estiver pronto, eu vou amar dizer as duas palavras que faltam nessa frase. -Encaro-o, sem ter certeza se entendi direito, querendo acreditar e, ao mesmo tempo, não querendo, implorando com os olhos que ele não espere por mim, eu preciso ouvir, preciso... O tempo parece parar, congelando os segundos que se arrastam e transformando-os na eternidade. Os olhos azuis de João consomem os meus, e, pela primeira vez, desejo essa invasão, sem temê-la, nem que seja só um pouquinho. Um, dois, quatro, sete, doze, vinte, quarenta oito segundos.

− Eu te amo... -diz enquanto meu olhar está completamente dissolvido no seu, e a primeira lágrima desliza pelo meu rosto antes mesmo que eu possa me dar conta de sua existência, fecho meus olhos com força, precisando do contraste escuridão e luz para poder acreditar que isso realmente está acontecendo, que ele disse, que ouvi a sua voz, e não um sussurro da minha imaginação.

− Eu te amo... -repete, beijando o rastro das minhas lágrimas de um lado do meu rosto, e, depois, do outro.

− Eu te amo... -diz, uma terceira

vez, beijando a ponta do meu nariz.

− Eu te amo... -diz com a boca colada na minha, e eu abro os olhos, para encontrar os seus. É verdade. É verdade. E ele me beija.

O mundo se apaga, mas meus olhos não. Beijo-o com os olhos abertos e com o olhar preso ao seu, sem querer perder nada deste momento, nem um segundo, uma cor, ou luz. Beijo-o querendo transformar isso aqui no meu para sempre e sempre e sempre. Beijo-o desejando que a felicidade desse momento dure eternamente. Beijo-o buscando em sua língua, gosto e saliva, a prova concreta de que não enlouqueci, porque, não importa quão real a situação se mostre diante de mim, eu ainda vou duvidar de que, depois de tanta tristeza e dificuldade, eu possa, realmente, ter tudo o que eu sempre quis. Ser o que eu sempre quis. Amado, por mim mesmo, e por uma outra pessoa.

Sua língua dança dentro da minha boca, me acariciando, degustando, me entregando e roubando na mesma medida. Seus olhos fazem o mesmo, jamais se fecham, jamais me abandonam, quase como uma promessa, e eu aceito. Acreditando nela, esqueço o prazo, o medo, esqueço tudo que não somos nós aqui, nesse momento. Abro os braços, dou o último passo e pulo, pulo desse penhasco chamado amor, acreditando que a queda será eterna, e que eu nunca vou sentir o impacto de tocar o chão.

− E eeu amo você... -Interrompo o beijo e declaro, mas minha voz sai tão baixa, que não me soa justo e eu repito, agora, alto e pausadamente: − Eu. Amo. Você! -João sorri imenso, largo, de verdade. Seus braços me apertam, me envolvendo dentro deles, e nós ficamos ali, por vários minutos, parados, abraçados, envoltos no cheiro um do outro e na dormência que só uma certeza no mundo inteiro é capaz de provocar, a do amor. Eu idealizei esse momento tantas e tantas vezes... Pensei em dizer em um dos nossos passeios, pensei em dizer na cama, pensei em escrever, pensei em mandar uma mensagem, mas isso... nisso eu nunca pensei, e o pensamento me faz sorrir.

A minha vida inteira foi assim, não foi? Diferente dos meus desejos e planos quando se tratava de coisas que eu achava que tinha controle sobre, então, porque é que eu tive a ilusão de que sairiam conforme eu imaginei justamente no amor, em que eu nunca tive dúvidas de não ter controle algum?

*************

− Você vai fazer um buraco no chão do carro... - João comenta, divertido, e eu desvio meus olhos da janela para levá-los até ele.

− Eu estou ansioso! -protesto.

− Eu sei, o Luiz sabe, o carro sabe, até o ar que você respira sabe. Mas vai ficar tudo bem, meu amor. Eles vão adorar você, todos eles! -Por aquele instante todas as minhas dúvidas e preocupações somem e eu apenas sorrio. Grande, honesta e espontaneamente.

− O que foi isso? -Curva a cabeça, interrogativo.

− Diz outra vez?

− O quê? Que todos vão adorar

você? Eles vão, Edu...

− Não! A outra coisa! -o interrompo.

− Que coisa? -Parece realmente não saber do que estou falando, e meu sorriso ganha proporções muito maiores.

− Você nem percebeu... murmuro, olhando para ele e sentindo meu coração vibrar dentro do peito. É uma sensação tão gostosa, como se eu estivesse recebendo um abraço por dentro: − Você me chamou de meu amor... -Minha voz é baixa... É estranho, ainda parece tudo tão inacreditável, como se, a qualquer momento, eu fosse acordar, caindo da cama. João Pedro inclina a cabeça e arqueia uma sobrancelha. Ele estende um braço para mim e eu mordo o lábio, dividido entre aceitar, ou preservar minh roupa intacta. Dane-se a roupa! Aceito a mão estendida e me arrasto no banco até me sentar em seu colo, deixando-o entre as minhas coxas.

− E não é isso o que você é?

− Diz que eu sou? -Peço, com a

testa colada à sua.

− Meu amor... -Beija a ponta do meu nariz, fazendo-me sorrir outra vez: −Meu amor... -Beija uma bochecha: −Meu amor... -Beija a outra: −Meu amor... -Beija meus lábios: − Eu estava louco pra te dizer isso há algum tempo...

− E por que não disse? -acaricio seu rosto com meus polegares, seus braços envolvem minha cintura e suas mãos deslizam lentamente pelas minhas costas.

− Eu não sabia como você

reagiria... Não queria te assustar...

− Me assustar? -Não entendo como ele chegou à conclusão de que isso era uma possibilidade, inclino a cabeça e fito seus olhos com atenção.

− No dia em que você conheceu Marcos, nós estávamos na cama, e quando eu cheguei perto de dizer que estava apaixonado, você ficou gelado, arregalou os olhos e seu coração disparou no peito... -Murmura, trazendo a boca para a minha, mas eu preciso me afastar um pouco, preciso olhá-lo inteiro. Pisco algumas vezes, processando a informação.

− Não era medo... Quer dizer, era..., mas, não disso... Era medo de você dizer que nunca aconteceria... -Sua expressão confusa me obriga a explicar: − Eu tinha acabado de me dar conta que amava você... -admito: − Quando você começou a falar, eu fiquei apavorado com a possibilidade de que você estivesse prestes a dizer algo que fosse fazer eu me sentir tolo por ter me permitido amar você...

− Eu entendi tudo errado... murmura, sorrindo: − Mas, no fim, deu tudo certo, meu amor... -Dá ênfase às duas últimas palavras, obrigando meu rosto a reagir da única forma que ele parece ser capaz desde hoje mais cedo, sorrindo.

Será que vai ser assim todas as vezes que ele me chamar desse jeito? Isso parece tão bobo... Mas quem se importa? Que eu seja bobo!

− Você não é o que eu esperava... -repito as palavras ditas por ele sobre mim há tanto tempo atrás e é a vez dele de sorrir largo. João gargalha e encosta a cabeça no banco atrás de si. Com os olhos fechados e o rosto tomado por diversão, me responde.

− Você se lembra...

− De cada palavra daquela entrevista... -Chego a olhar para cima, como se as cenas que se desenrolam diante dos meus olhos estivessem sendo exibidas no teto do carro, e não dentro da minha cabeça.

− Você se lembra de como me deixou louco, Edu? -Volta a colar o corpo no meu e a boca na minha.

− Eu não fiz nada! -Me defendo: − Eu estava tão desesperado pra você gostar de mim, pra você me contratar! Deus, eu não tinha ideia do que estava acontecendo!

João ri.

− E isso me deixou maluco... Cada resposta que você me dava me tirava um pouco mais de mim... Você nunca chegou nem perto de ser o que eu esperava, Eduardo. -Suas mãos seguram meu pescoço e seus olhos tragam os meus, exatamente como fizeram naquela noite, há meses atrás: − Você é mais... muito mais até do que eu mereço, mas eu prometo ser minha melhor versão pra você, sempre!

− Eu te amo... -Sussurro, antes de beijar sua boca.

***************

− Seus pais moram aqui? pergunto, sem poder acreditar: − Você não estava brincando quando disse que sua casa era pequena comparada à deles, né? -Pisco os olhos, me perguntando se seria possível que aquilo fosse ilusão de ótica, um holograma ou qualquer coisa que justificasse o quão absurdo parecia uma casa daquele tamanho.

Diante de uma escadaria e de imensos vãos de vidro ricamente iluminados por uma luz amarela, consigo ver tudo o que há para ser visto do lado de dentro da casa. Há tanto, mas tanto espaço. E as pessoas estão tão bem vestidas, que me olho, para ter certeza de que estou adequado.

− Você está lindo! E para de se preocupar à toa! -João, vestindo um dos seus muitos ternos maravilhosos, sussurra em meu ouvido e passa o braço ao redor da minha cintura, me incentivando a dar os passos necessários até entrarmos na casa. Sem opções, dou os primeiros, depois os segundos e, muito mais cedo do que eu gostaria, passamos pelas portas abertas. É imediato, nos tornamos o centro das atenções por onde passamos, fazendo com que minhas pernas, já não muito firmes, se tornem ainda mais instáveis.

Muitos sorriem, todos cumprimentam João Pedro, e a entrada na casa se torna uma verdadeira Via Crucis, porque sou apresentado a todas as pessoas que nos param. Nos primeiros, ainda tento guardar os nomes, mas, quando percebo que isso não vai ter fim, apenas desisto. Não é uma reuniãozinha íntima. É uma festa, há, pelo menos, duzentas pessoas aqui, e, de acordo com João, o evento está acontecendo nos jardins, nos fundos da mansão, onde nós ainda nem chegamos.

Parar, sorrir, falar. Parar, sorrir, falar. Parar, sorrir, falar.

Se torna meu mantra enquanto me esforço para controlar meu nervosismo e minha respiração. Algumas pessoas são muito simpáticas, outras, nem tanto, e muitas não tem a menor vergonha em demonstrar curiosidade a meu respeito.

A primeira pergunta que ouço em quase todas as conversas é sobre meu sobrenome, e, repetidamente, preciso dizer que não, não tenho relação alguma com um tal de Lúcio Porto, da empresa Porto Seguro, sou apenas um anônimo com um nome interessante.

E, assim, entre beijinhos no rosto, apertos de mão, sorrisos ensaiados e concordâncias com coisas das quais eu não me lembro sequer de metade, se passam os primeiros trinta minutos de festa. Quando acho que não vou aguentar mais, João Pedro dá o período de apresentações por encerrado e começa a dispensar educadamente as pessoas que tentam barrar nosso caminho até a área gramada atrás da casa. Graças a Deus!

− Puta merda! -Não consigo evitar dizer ao chegar lá. Diferente do que imaginei, não é um pequeno espaço gramado, é algo semelhante a um campo de futebol. Onde nós estamos? Onde, em São Paulo, há tanto espaço assim disponível para uma única casa?

Imensas tendas brancas estão montadas, abrigando mesas longas e retangulares com muitos lugares. Umas seis ou sete. Sobre elas, cordões com lâmpadas penduras estão esticados, dando o efeito de mil luzes no céu apagado da selva de pedra. É tão bonito quanto é surreal. Sinto o toque suave dos dedos de João em meu queixo e, só então, me dou conta de que estive boquiaberto.

− Desculpe. -peço, envergonhado e ele sorri, aproximando-se de mim e beijando meus lábios com ternura.

− Eu te amo... -diz, baixinho, e meu coração, que ainda não está acostumado com a declaração, se é que um dia vai se acostumar, pula no peito. Eu sorrio.

− Eu também te amo. -Inspiro com força, e o cheiro gostoso do meu amor, Deus! Meu amor! Sim, do meu amor! Seu cheiro inunda meu corpo, mente e alma, me acalmando. Envolvo os braços em seu pescoço, fecho os olhos, e ele junta nossas testas.

− Vai ficar tudo bem... É só uma festa... -repete o que vem dizendo desde de antes de sairmos de casa e eu aceno com a cabeça.

− Pronto pra conhecer seus sogros? -Sua boca tem um sorriso de canto e eu arregalo meus olhos, sentindo toda a calma recém adquirida se esvair por entre meus dedos e João gargalha: − Você sabe que são as mesmas pessoas que você estava bem em conhecer cinco segundos atrás, certo?

− Ma- mas e-eles eram seu-us

pais... e-e... já era difícil assim... Agora você diz que-que são meus sogros... Tento explicar, mas gaguejo, me enrolo, e desisto, decidindo apenas choramingar. Sinto os lábios de João por todo meu rosto quando ele me beija inteiro.

− Vamos, Edu, quanto mais cedo começar, mais cedo acaba... -Sua voz calma e lenta contradiz o pedido, deixando claro que eu tenho todo o tempo do mundo.

− Promete?

− Se você ainda quiser ir embora em uma hora, nós vamos. Eu prometo.

− Eu te amo mais agora... Expiro: −Mas não seria justo... É o aniversário de casamento dos seus pais... Eu só estou sendo bobo. -Admito, ainda que isso não mude a forma como me sinto, mas decido enfrentar isso menos passiva às sensações que insistem em me cercar. Me desvencilho de seus braços, inspiro com força, fecho os olhos, e, depois, expiro, expulsando o ar dos pulmões. Enchendo-os com uma falsa coragem, estendo a mão para João. − Vamos? -Ele sorri.

− Não sei qual das suas versões me deixa mais enlouquecido... Se a frágil, a corajosa, a irritada...

− Não seja besta! Você me ama inteiro! -Brinco, e seus olhos se demoram nos meus.

− Amo... -Morde o lábio e me lança um olhar tão lascivo, que minha pele esquenta: − E vou amar te deixar completamente nu, mais tarde, também... -Pega minha mão estendida. O comentário deliciosamente indecente me faz balançar a cabeça em negativa, mas também me faz sorrir e eu sei exatamente o que ele está fazendo, mudando o foco da minha atenção. Em um agradecimento silencioso, deito minha cabeça em seu ombro enquanto andamos. Olho para cima, para o azul imenso e vazio e repito o gesto com os olhos. Agradeço.

Não precisamos andar muito, os pais de João nos encontram alguns passos depois das largas portas de vidro que dão acesso ao gramado, meu coração acelera e passa bater em um ritmo enlouquecido. Prendo a respiração e lambo os lábios, repentinamente secos.

Sinto minha mão ser suavemente apertada e procuro os olhos de João, que se esforçam para me passar confiança. Ao voltar a olhar para frente, encontro sua mãe, que, fazendo justiça ao filho que pôs no mundo, é simplesmente estonteante.

Júlia Govêa passaria, facilmente, por minha irmã, quando, certamente, tem idade para ser minha mãe. Os cabelos loiros são cortados em um estilo channel e a pele de porcelana é lisa e brilhante. Seus olhos são azuis.

Não pálidos como os meus, ou profundos como os de João, mas acolhedores. Mesmo que ela ainda esteja alguns passos distante de mim, só de olhar para eles, sinto-me querido. E o seu sorriso, o que ela dá no instante em que seus olhos encontram o filho, eu conheço cada milímetro, centímetro e polegada daquele sorriso, porque é o mesmo que me saúda todas as manhãs e noites nos últimos quase três meses, e eu amo cada pedacinho dele.

Me pego espelhando-o. Seus olhos finalmente me encontram, fazendo meu coração parar, mas contra todas as minhas expectativas, receios e medos, de repente, seu sorriso parece crescer inacreditavelmente. Eu até olho para trás, procurando o motivo de tamanha felicidade. Franzo as sobrancelhas, confuso, porque não encontro nada atrás de nós que justifique o sorriso de um megajoule dado pela minha... Deus! Pela minha sogra! Pronto, pensei!

− Ela está olhando para baixo de nós, não para trás... -João sussurra em meu ouvido quando percebe o que estou procurando, e eu mudo a direção dos meus olhos... Não encontro nada, exceto, por nossas mãos unidas, e inclino a cabeça, pensativo. Não foi isso que a fez sorrir tão escancaradamente, não é? Minha resposta chega no segundo em que ela e seu marido se aproximam e, ao invés de cumprimentar o filho, o primeira a ser abraçado sou eu. Ela envolve os braços ao meu redor, me pegando completamente desprevenido, e eu levo alguns segundos até mover os meus em sua direção, retribuindo ao cumprimento efusivo e inesperado.

− Eu não acredito! Você existe! Ai, meu Deus! Maurício! Maurício! Repete o nome do marido com tanta euforia quanto diz todas as outras palavras e me aperta em seu abraço, quase me desmontando, mas eu não me importo. Porque o alívio que me invade é tamanho, que eu nem mesmo sou capaz de calcular. Rio baixinho do entusiasmo da mulher.

− Eu sou sogra! Sogra! -Quase grita, me mostrando que me colocar em uma montanha russa emocional é algo de sua família, e não apenas de seu filho. Olho para João, em busca de socorro, mas o encontro gargalhando. Não rindo baixinho, ou controladamente. O infeliz faz um escândalo, transformando minha preocupação em um acontecimento real, porque quando as pessoas olham para o show que ele está dando, acabam aproveitando o de sua mãe também e ouvindo, com todas as letras, enquanto seus braços estão ao meu redor. A percepção finalmente acende em minha mente: João Pedro sabia exatamente qual seria a reação de sua mãe e não me contou. O infeliz não me contou!

Ele viu todo o meu nervosismo e ansiedade e simplesmente decidiu não me preparar para isso. Eu vou afundar a cabeça dele na piscina! Eu nem sei onde ela fica, mas tenho certeza de que há uma por aqui, em algum lugar. Uma casa desse tamanho tem que ter uma! Maldito! Homem Maldito. Engulo em seco, ainda apertado no abraço de... Deus! Qual é o nome dela? Eu até esqueci! J! Começa com J! Joelma... Não! É claro que não, Edu! Pensa! Jamile! Putz, qual é o meu problema? Juliana! Não! É Júlia! Isso! Júlia! Continuo abraçado a ela, embora esteja desesperado para me soltar, mas sem saber se isso seria educado. Não houve nem um segundo sequer dedicado à duração ideal de um abraço nos vídeos de etiqueta que eu assisti.

Ela finalmente me solta e eu tenho tempo o suficiente apenas para me recuperar antes de ser abraçado por Maurício, de forma muito mais contida, mas, ainda surpreendente. Deus, o que essas pessoas tem contra apertos de mão? Júlia abraça o filho agora, e diz para ele absurdos ainda maiores do que disse para mim.

Quando estamos, finalmente, os quatro eretos e desgrudados, sinto a necessidade de dizer.

− Eu espero que saia logo o casamento, certo? -Júlia pergunta, demonstrando uma preocupação genuína com a questão. Seu vestido preto e longo parece ainda mais bonito quando ela para em uma pose propositalmente dramática, com as mãos na cintura. Ela pisca os olhos, aguardando uma resposta, minha boca se abre, mas nada sai dela, e João voltar a rir. Eu não sei quem é mais inacreditável, se ela, por simplesmente dizer coisas como essas com tamanha naturalidade, ou João, por não fazer absolutamente nada por mim, apenas rir.

− Não se preocupe com Júlia, ela quer um genro há muito tempo, e, até hoje, João Pedro não tinha nem mesmo nos dado esperanças de que isso poderia acontecer... Por isso ela está tão... Animada... -Maurício justifica, porém, embora mais contido do que os outros dois, ele parece estar se divertindo às minhas custas tanto quanto eles.

− Entendo... Mas casamento realmente não estão nos nossos planos agora... -Me preocupo com a comoção que a negativa pode gerar, mas acho que é melhor deixar isso tão claro quanto for possível.

− Fale por você, amor... -João rebate minha afirmativa, e eu o fuzilo com os olhos. Mentiroso! Nós nunca nem falamos sobre isso! Pelo amor de Deus, eu só tenho vinte e dois anos. E acabamos de nos conhecer. Não quero casar agora agora.

− Ai meu Deus, Maurício! -A mulher grita, e sua voz sai mais aguda do que seria recomendado para quaisquer tímpanos: − Maurício! Ele o chamou de amor! Você ouviu, Maurício? Amor!

Perdido. Sinto-me completamente perdido no meio dessas três pessoas. Será que isso é sério? Será que João Pedro contratou atores para se passarem por seus pais? Me pergunto e, subitamente, Júlia parece ter a mesma dúvida que eu.

− Espera! Isso não é como naqueles filmes em que o filho contrata um namorado de mentira para enganar os pais. É? -Sua expressão séria, considerando que algo assim realmente poderia estar acontecendo é o suficiente. João é tomado por uma nova crise de risos enquanto Maurício ri discretamente da loucura de sua esposa, porque não importa o quanto eu queria ser gentil, não existe outra palavra para defini-la. Louca. A mãe de João Pedro é completamente louca.

− Não, mãe. Eduardo é real... Nosso relacionamento é de verdade, meu amor por esse homem é de verdade! -João diz, assim que consegue parar de se contorcer, enxugando o canto dos olhos, por onde escorrem lágrimas.

− Ótimo. -Ela parece aliviada, e eu me sinto um verdadeiro expectador. Júlia se vira para mim, e, voltando a vestir o enorme sorriso de antes, agora que a preocupação sobre eu ser um ator ou qualquer outra coisa foi tirada do seu caminho, me avisa.

− E nada disso de dona, senhora ou Júlia! Pra você é sogra! Esperei muito por você, Eduardo! Não ouse me dar menos do que mereço! E amanhã nós vamos sair pra almoçar.

Abro a boca para responder, mas João é mais rápido.

− Infelizmente, almoço é impossível, mãe. Todos os do Eduardo já estão comprometidos essa semana... Quando me dou conta do que ele está fazendo, quero socar sua cara, cavar um buraco no chão, e me enfiar nele, já que esperar um cair do céu não está funcionando para mim. Exatamente nesta ordem. Deus, ele está dizendo para a mãe que não posso almoçar, porque temos que transar, mesmo que ela não faça ideia de que é esse o compromisso em questão, é tão constrangedor...

− Tudo bem! Melhor ainda! Um jantar! Amanhã nós vamos jantar!

− Eh... Hum... -Pigarreio, limpando a garganta e passo a mão pelos cabelos, colocando-os todos em um único ombro: − Na verdade, eu não sei como está a agenda de amanhã, preciso checar com a Norma. -Ela faz um barulho com os lábios.

− Não se preocupe! Tenho certeza de que ela não vai se importar, eu mesma falo com ela daqui a pouco.

− Daqui a pouco? -pergunto, alarmado com a possibilidade de ela incomodar Norma numa noite de domingo apenas para pedir minha liberação.

− Sim! Ela e o marido estão aqui! Vamos encontrá-la depois, mas, agora! Eu quero ouvir a história! Me conta, Eduardo! O que foi que você fez pro meu filho finalmente cair em si e perceber que não está ficando mais jovem?

Abro a boca para responder sabe Deus o quê, porque essa é uma pergunta tão capiciosa... Mas, novamente, não tenho chance, porque sou interrompido por João, outra vez.

− Ele me mandou um e-mail. - Viro meu rosto em sua direção tão rápido, que poderia tê-lo deslocado e arremessado minha própria cabeça pelo gramado. João, como vem fazendo desde que encontrei seus pais, sorri largamente, Deus, eu vou matá-lo! Eu juro que vou!

− Um e-mail? -Júlia, ou melhor, minha sogra, pergunta, curiosa.

− Sim! Ele me mandou um e-mail por acidente... Era um currículo. -Eu estava errado. Não queria ter gastado minha morte com a conversa constrangedora que tive com Norma. Aquilo não foi nada comparado a isso. Eu a quero agora. Morrer, eu quero morrer. Preciso!

− Um currículo? E desde quando você faz entrevistas, João Pedro?

− Exatamente, mãe. Eu não faço, mas o currículo de Eduardo veio parar no e-mail por um grande acaso, era o destino... -Beija meu rosto, antes de cheirá-lo levemente. Sua mãe parece prestes a vomitar um arco-íris.

− E como foi? -questiona, ansiosa.

− Primeiro, eu o entrevistei... E ele foi tão bem na entrevista... -diz, como que se estivesse falando sobre a cor do céu e me olha de canto de olho. Matá-lo! Eu juro! Eu juro que no momento em que estivermos fora daqui, sua vida acabará. Qual será a melhor forma de fazer isso sem ser descoberto?

− Não tive opção, se não o

contratar. -Conclui.

− E para que cargo? -Júlia pergunta, com as mãos juntas na frente do corpo, como se tivesse acabado de ouvir o mais belo dos contos de fadas.

− Assistente pessoal.

− Uau! Eu nem sabia que você estava procurando por um! Norma estava sobrecarregada?

− Eu não estava, mas o currículo do Eduardo foi tão... -Pausa, colocando minha respiração em espera junto com suas palavras: − Inesperado... e sua entrevista foi tão... brilhante... que eu não pude evitar. E, não, isso não tinha nada a ver com as funções de Norma, sua ideia de aposentadoria veio bem depois... Eu só não conseguir parar de pensar em quão eficiente Eduardo parecia ser... Tê-lo trabalhando pra mim se tornouinevitável...

− Bem, eu fico feliz que você não tenha evitado! Porque esse rapaz aqui vai me dar alegrias! -Sorri, segurando meu queixo entre seus dedos polegar e indicador e eu desisto. O quer que eu diga, não fará a menor diferença para essa mulher. Minha nossa senhora! Eu fui capaz de imaginar todos os cenários possíveis de interação entre nós duas, exceto por esse.

Imaginei que ela pudesse me achar inapropriado, que pudesse me odiar por achar que eu estava roubando seu filho, imaginei que ela pudesse me achar um golpista, imaginei que todo tipo de coisa, menos que ela enlouqueceria pela minha existência. Deus. Onde foi que eu me meti?

João Pedro aperta minha mão, indicando com a cabeça seus pais, já andando a nossa frente, e eu me movo, seguindo-os, sem fazer ideia do porquê, enquanto divagava, perdi o restante da conversa. Nos sentamos à mesa e percebo que os outros convidados começam a fazer o mesmo, aparentemente, o jantar será servido.

− Eu disse que ela amaria você... -A voz de João soa divertida e leve em meu ouvido e eu o fuzilo com o olhar, deixando claro que conversaremos sobre isso: – Eu amo você, não esquece tá? -pede, sorrindo, e eu quero estapeá-lo bem aqui, na frente de todos. Expiro com força e me concentro no ambiente ao meu redor. Deixo que meus olhos viagem pelas louças dispostas nas mesas, pelos arranjos de flores, pelas toalhas e pelas pessoas. Reparo nos pequenos cartões diante de cada uma das cadeiras e me dou conta de que os lugares são marcados.

A música suave e baixa chama minha atenção e eu busco sua origem, para, só então, me dar conta da existência de um palco, onde, agora, há um dj. Júlia parece se recuperar do choque da constatação de que sou real e começa a realmente conversar comigo. Em seu tom de voz normal e agindo sem toda aquela euforia, eu acho que posso gostar muito dela. Embarcamos em uma conversa sobre meu trabalho na Govêa, o que me faz pensar em Norma, e no quanto gostaria de encontrá-la para conhecer o marido sobre quem ela tanto fala.

Quando Julia se vira para cumprimentar convidados que a abordam na mesa, deixo que meus olhos voltem a passear pelo salão, procurando por Norma, e percebo algo óbvio, mas, que, até então, ainda não havia me ocorrido. Norma e eu não somos os únicos funcionários da Govêa presentes. Há outros, muitos outros, e eu engulo em seco, porque, agora, todos eles sabem que João Pedro e eu estamos juntos. É com esse pensamento flutuando sobre a minha cabeça que sou cumprimentado por uma voz masculina excessivamente alegre.

− Eduardo! Que bom rever você! Levanto meus olhos e encontro Bruno pairando, de pé, do outro lado da mesa. Sorrio, educadamente, e aceno com a cabeça, porque de jeito nenhum vou dizer que é um prazer revê-lo também, não é. Não depois do nível de agonia em que vê-lo me colocou da última vez em que nos encontramos. Ele se senta do outro lado da mesa, apenas uma cadeira à esquerda da que está de frente para mim e eu lamento os lugares marcados. Procuro Júlia, mas ela está envolvida em uma conversa animada com uma outra mulher, então deixo que meus olhos vaguem sem destino. Quando o “Boa noite” seco chega aos meus ouvidos, não me preocupo em

responder, porque não acho que seja comigo, não até sentir a mão de João apertar a minha.

Olho para ele e o descubro já de

pé, abraçando alguém que está de costas para mim. Me levanto também, imaginando que é o que se espera, mas quando o abraço se desfaz e meus olhos veem de quem se trata, meu estômago aperta. Marcos.

− Boa noite. -Sorrio, esperando parecer gentil quando ele me olha, mas sua expressão fechada deixa claro que ele não se importa. Marcos não faz nenhum movimento em minha direção, nem um abraço, ou mesmo um aperto de mão.

− Jonas, esses são João Pedro e Eduardo. -Apresenta seu acompanhante, que parece sorrir demais para João e me dá um beijinho no rosto. E, para meu desespero, eles dão a volta na mesa e sentam-se exatamente de frente para nós. Deixando-me com um Bruno sorridente demais, como em todas as vezes que nos encontramos, aliás, e um Marcos carrancudo sentados diante de mim, além, é claro, de um Jonas dirigindo olhares incômodos à João Pedro, sentado exatamente de frente para ele.

O jantar é servido e, embora eu consiga sentir que a comida está deliciosa, não aproveito nada. Remexo-a até me dar conta do que estou fazendo e de que isso é mal educado, então como. Júlia fala comigo vez ou outra, e a mão de João nunca deixa a minha sozinha. Embaixo da mesa, me agarro a ela como se fosse minha tábua de salvação em meio a um mar tempestuoso. Quando os pratos de sobremesa são retirados, eu seria capaz de ajoelhar e agradecer por finalmente poder me levantar.

Peço licença e procuro por um banheiro. Ando devagar, sem a menor pressa de voltar à mesa. Encontro o lavabo vazio, e, ainda assim, fico tempo o suficiente por lá para justificar a existência de uma fila enorme. Me olho no espelho e minha expressão incomodada me irrita. Por que é que eu estou me escondendo, afinal? Inferno! Eu não fiz nada errado! Me apaixonar por João Pedro não foi um erro, não quando ele me ama em igual medida. Levanto meus ombros e ergo a cabeça. Quer saber de uma coisa? Eles que se explodam! Bruno com sua falta de bom senso e Marcos com seja lá o que for que ele tenha contra mim.

Saio do banheiro com uma

postura completamente diferente e, para brindá-la, encontro Norma.

− Norma! -Digo em seu ouvido ao abraçar suas costas. Ela segura meus braços sobre a frente do seu corpo, e deita a cabeça em meu ombro, o que só consegue fazer porque somos, os dois, igualmente pequenos. Ela sorri largo.

− Meu filho! Eu estava ansiosa pra encontrar você aqui! -A solto, ela se vira, e voltamos a nos abraçar, dessa vez, do jeito certo.

− Eu também! Não sabia que você viria! Você não comentou nada... Teria tornado minha vida bem mais fácil saber que você estaria aqui, Norma!

− Ah, você disse que não queria conversar sobre o João Pedro... -Faz uma careta de “a culpa não é minha...” e eu gargalho.

− Você é rancorosa, é?

− Só um pouquinho! -Declara, fazendo um bico divertido: − Como está sua noite?

− Exaustiva! Eu tinha acabado de decidir levantar a cabeça. -Ela arqueia uma única sobrancelha para mim.

− E eu posso saber por que é que o senhorito a abaixou?

Rio.

− Não sei, Norma! Não sei! Me senti sufocado pelos olhares, pelos comentários, pela quantidade de pessoas. Por tudo, sabe?

− Não seja besta, Edu! Nada disso, nenhuma dessas pessoas importa... Só uma delas...

− Tinha acabado de me lembrar disso... -Sorrio.

− Ótimo, porque ela está vindo pra cá agora...-Olho por cima do ombro e vejo João caminhando em nossa direção. Ele nos alcança e cumprimenta o marido de Norma com um aperto de mão, a quem também sou apresentado, me dando conta de que havia ignorado completamente o pobre homem.

− Me desculpe! Eu juro que sou mais educado do que isso! -Brinco.

− Eu já estou acostumado... Ela sempre rouba todos os holofotes... Todos rimos e João me envolve em seus braços.

− Com licença, gente. Mas eu vou roubar meu homem um pouquinho. Norma, você já tem mais dele do que eu de segunda a sexta... Me dê, pelo menos, os fins de semana... -Um arrepio intenso percorre cada célula do meu corpo com essas palavras, e Norma ergue as mãos em sinal de rendição. João solta meu corpo e pega minha mão. Caminho ao seu lado, sem saber para onde, até perceber que estamos indo para a pista de dança.

− Eu espero que seus sapatos

sejam macios... -aviso.

− Eles são, por que? -pergunta, assim que entramos na pista e ele circula minha cintura e eu seu pescoço. A música lenta é gostosa e, ao nosso redor, vários casais dançam também.

− Porque eu não sei dançar, e, provavelmente, vou pis...

− Ai! -exclama, me assustando, e fazendo com que eu arregale meus olhos e pare meus passos.

− Eu ia avisar! Vou pisar no seu pé! Ai, meu Deus! Me desculpa! Doeu? Está doendo? Você quer sentar? pergunto, aflito, olhando para o chão, como se, de fato, pudesse enxergar através do couro preto e descobrir o tamanho do estrago feito pelos meus pequenos pés. João estremece, e eu acho que é de dor, demoro a me dar conta de que, na verdade, ele está, mais uma vez esta noite, rindo as minhas custas. Longe dos olhos da sua mãe, dessa vez, estapeio seu ombro.

− Não tem graça! Eu achei que tivesse te machucado, droga!

− Eduardo, você pesa o que? Um quarto do meu peso? Seriam necessárias uns dois e meio de você pra gente começar a se preocupar...

− Dois e meio?

− Sim, meu bem!

Definitivamente, pelo menos, dois e meio. -Uma de suas mãos desliza pelo meu corpo até alcançar meu rosto e seu polegar acaricia ali, fecho os olhos, aproveitando o gesto, seu cheiro, sua presença, tudo dele.

− Está tudo bem? -Abro os olhos e encontro seu rosto a poucos milímetros do meu.

− Está...

− Você fugiu...

− Eu precisava de ar...

− O Marcos estava sendo um babaca!

− Estava... -concordo, mas sem dar muita atenção ao fato.

− Eu disse pra ele que se for pra se comportar assim, é melhor ficar longe da gente essa noite, e lá de casa também, porque eu não vou aceitar que ele te destrate na sua casa...

Rio, desgostoso.

− É sua casa, João...

− É nossa casa!

− Isso não vai me fazer ganhar muitos pontos.

− Eu não me importo, Eduardo. Ele precisa entender que as coisas mudaram e que não cabe a ele gostar ou não disso. Não é uma escolha dele! -Aceno em concordância, e João beija meus lábios, suave, porém, demoradamente, sinto-me envergonhado.

− João... -murmuro: − As pessoas vão olhar... -Ele sorri.

− Pois que olhem! -Se apossa da minha boca. Resisto por exatos dois segundos, luto bravamente com minha própria mente, mas sua língua vem suave, pedindo passagem, lambendo, molhando, tão gostosa, que eu me entrego, abro a boca para ela, que assim que se vê livre, me invade, dominando todo o espaço que toca, saboreando, chupando, sentindo meu sabor e me entregando o seu.

Beijo-o com a mesma entrega com que sou beijado, sem me importar com o fato de que estamos dando um show. Beijo-o com desejo, carinho e amor. Tanto amor que não cabe dentro de mim e transborda, sinto a lágrima deslizar pelo canto de um dos meus olhos, mas não me importo, porque eu quis tanto essa felicidade toda, por tanto tempo, que pareço estar sentindo-a duas vezes ao invés de uma só.

− Porra, Eduardo! Eu vou casar com você! -murmura em minha boca e eu gargalho: − Você está duvidando, futuro senhor Govêa? -Mesmo em meio ao meu riso, sinto meu coração parar de bater, porque, não, não foi uma piada. Pisco os olhos e mordo meu lábio enquanto me permito ser completamente inundado por aqueles olhos azuis.

− Como é que você fala? Hum... Vamos... Vamos andar... Não! Vamos atravessar! Vamos atravessar essa ponte quando chegarmos a ela. O que acha? peço, porque eu simplesmente não sei o que dizer sobre essa declaração, nem meu coração sabe como voltar a bater depois dela. Ele sorri e encaixa a cabeça em meu pescoço, inspira meu cheiro profundamente e arrasta no nariz devagar pela minha pele até que sua boca chegue ao meu ouvido.

− Desde que você saiba que chegaremos lá... Pra mim, está tudo bem... Meu Edu. -Sussurra e eu sou soprado pelo vento como areia no deserto. Me desfaço, desintegro, deixo de existir e me torno apenas emoção e sentimento. Ficamos ali, rodando pelo salão música atrás de música, beijo atrás de beijo, toque atrás de toque, e eu amo cada segundo.

Mas a sede vem e nós saímos da pista de dança para beber alguma coisa. Conversamos, parados ao lado de uma mesa de coquetel quando dois casais se aproximam de nós. Passamos por eles mais cedo, eles foram alguns dos educadamente dispensados e, agora, descubro que os homens são amigos de infância de João, assim como Marcos, só não tão próximos quanto ele, principalmente depois que João assumiu o controle da Govêa, pois eles passam alguns minutos reclamando de sua ausência constante desde então. Marina e Leonardo, e Joyce e Gabriel me são apresentados e engatamos em uma conversa animada sobre tudo e sobre nada.

Essa é a segunda vez esta noite que me sinto tolo por ter criado monstros sobre como seria conhecer essas pessoas. Primeiro a facilidade de lidar com Maurício e Júlia e, agora, os amigos de João Pedro são apenas pessoas, como quaisquer outras, eu, sinceramente, não sei o que estava imaginando.

No meio desse pensamento, sou lembrado do que foi que me fez temer essas apresentações quando Marcos e Jonas se juntam à roda. Seu olhar em minha direção continua exatamente o mesmo, mas o meu na sua, muda. Enfrento-o, mantenho minha cabeça erguida e sustento seu olhar, dessa vez, é ele quem desvia, e, logo depois, balança a cabeça, negando algo em sua própria mente, antes de soltar um chiado quase inaudível, mas que percebo, por estar prestando atenção.

A conversa continua animada e mais um integrante chega ao grupo, Bruno, que, aparentemente, exceto por João Pedro, é amigo de todos os homens da roda, porque também cresceu junto com eles. A sensação de sufocamento que senti na mesa de jantar volta a me afetar com força, apesar da minha nova postura.

Me pergunto se a promessa que João me fez sobre irmos embora ainda está de pé, mesmo depois de eu tê-la recusado imediatamente. Agora que conheço seus pais, sei que ficaria tudo bem. No entanto, não tenho a chance de fazer a sugestão.

− Então, Eduardo! Conta pra gente! Como é que você fez pra enlaçar esse aí? A gente achou que ele seria o último dos guerreiros a cair! Se caísse, e ele foi logo o primeiro? -Leonardo pergunta, e eu olho, imediatamente, para sua acompanhante, que sorri sem graça. Meu Deus! Eu não acredito que ele disse uma coisa dessas com ela aqui.

− Bem... Todos vocês estão muitíssimo bem acompanhados... - comento, como quem não quer nada, mas para bom entendedor, meia palavra basta. João ri baixinho e deixa um beijo em meu rosto, entendendo exatamente o que eu quis dizer.

− Sim, mas caído igual a esse aí? Nenhum de nós está... -É Gabriel quem fala dessa vez.

− E eu não estou acompanhado, inclusive, se você tiver um amigo pra me apresentar, tô aberto a sugestões. - Bruno completa, e Marcos faz um som de desdém ao ouvir a sugestão de que eu apresente um amigo. Eu jamais faria isso, não conheço Bruno, mas confio no julgamento de João Pedro, se ele não gosta do homem, é porque algo errado tem. Porém, não entendo a reação de Marcos e franzo as sobrancelhas, apesar disso, rapidamente sou distraído dos meus próprios pensamentos quando meu nome é dito uma segunda vez.

− Vai, Eduardo! Conta! Como foi que você colocou logo o João Pedro de quatro? -Passo a língua sobre os lábios, pensando em como responder a essa pergunta inconveniente.

− Ele enviou um currículo! - Marcos fala pela primeira vez desde que chegou ao grupo, olhando para mim. Endureço, imediatamente, surpreso que ele realmente tenha dito isso. É a segunda vez que esse currículo é mencionado esta noite, mas, diferente da primeira, em que fiquei constrangido pelo que estava escrito no e-mail, dessa vez, o tom usado faz com que eu sinta vergonha de tudo. Olho, assustado, para João, e ele fuzila Marcos com os olhos.

Sinto minhas mãos começarem a tremer. Deus, porque ele diria isso aqui? Para essas pessoas? Por quê? Ele pode não gostar de mim, mas por que fazer algo assim? Meu coração acelera e minha respiração vacila, ansiosa para se descontrolar. Ao meu redor, todos riem, achando que é uma piada, o que alivia um pouco a situação, mas não a torna aceitável, nem de longe. Agora, sou eu quem não gosta de Marcos. E, no minuto seguinte a esse pensamento, ele deixa claro que é recíproco. João estava errado, ele não precisa apenas se acostumar com a ideia, ele simplesmente não está disposto a isso.

− Conta pra gente, João Pedro! O que é que tinha escrito no currículo do Eduardo que te deixou de quatro? -Meu corpo inteiro estremece e João Pedro aperta o abraço ao meu redor. Sinto o sangue parar de circular pelo meu rosto e o ar faltar aos meus pulmões. Passo a língua pelos lábios, subitamente secos, mas ela não faz nada por eles, porque também está tão seca, que mais parece uma lixa. Procuro a taça em minhas mãos, desesperado por qualquer gota de líquido que me ajude a respirar outra vez, mas ela está vazia, completamente vazia.

− O quanto você já bebeu,

Marcos? Talvez esteja na hora de ir pra casa... -João sugere, com o maxilar tenso, as mãos fechadas em punho e o olhar mortal focado no amigo. Mas ele sorri.

− Não o suficiente... -Leva seu copo de Whisky até a boca e vira o que ainda havia do líquido nele, de uma só vez: − Na verdade... -comenta, despretensioso: − Eu acho que ainda tenho uma cópia dele aqui! Do currículo... -Enfia a mão no bolso e tira de lá o celular. O chão some de debaixo dos meus pés e eu vacilo, minhas pernas trêmulas param de sustentar meu peso e eu só não caio porque João Pedro está me segurando. Minha cabeça explode em uma súbita dor lancinante, meus olhos ardem e o desespero quase me afoga. Engulo, mas a secura é tamanha, que dói, as paredes da minha boca e garganta parecem se colar a cada movimento.

É instantâneo. Sou

completamente dominado por tantas sensações, que não sei como administrálas. Quero gritar com esse homem, quem ele pensa que é? Ao mesmo tempo, quero correr, fugir, sumir, e não precisar passar por isso, quero que João Pedro cumpra a promessa que me fez, de que ninguém nunca mais faria algo assim comigo. Quero fechar meus olhos, apertá-los, e, ao abri-los, descobrir que era apenas um sonho ruim e nada disso realmente aconteceu. Eu já disse à João que não me arrependo da nossa trajetória, sempre que reflito sobre ela, concluo que não mudaria uma vírgula sequer da nossa jornada, nem mesmo aquele e-mail ou nosso primeiro encontro, eu faria tudo de novo, exatamente igual, mas as palavras de Marcos, seu tom, seu desdém, transportam-me para um momento que eu gostaria de jamais ter vivido.

De repente, sou o menino perdido e sozinho na porta de uma quitinete minúscula em Paraisópolis, outra vez. Um menino que olha para o seu senhorio com os olhos arregalados e o coração pisoteado por suas falsas acusações, pela declaração do quanto a própria mãe se envergonharia dele, sentindo-se pequeno, sujo, indigno. Sentindo-se como ninguém jamais deveria se sentir em qualquer momento da vida, e como eu jurei nunca mais voltar a me sentir. Como jurei para mim mesmo que nunca mais deixaria que alguém fizesse com que eu me sentisse.

Eu jurei. Eu jurei, me lembro. E meu compromisso comigo mesmo deveria ser maior do que o de qualquer outra pessoa, não deveria? Mesmo o de João, independente do quanto ele me ame? Sim deveria... Eu sei que deveria, mas é tão difícil! Deus, eu só quero não precisar passar por isso... Minha mente se transforma num verdadeiro campo de batalha. Respiro pela boca, com os lábios entreabertos, o coração acelerado, e os olhos completamente cegos a tudo o que se passa ao meu redor naqueles segundos em que minha mente flutua para longe dali.

Uma parte de mim quer reagir, gritar, quer enfrentar a situação e mostrar que meu passado, minhas atitudes inocentes, apesar de como possam parecer, jamais poderão voltar a ser usadas contra mim, porque eu sei quem fui, quem não serei mais, e quem quero ser. Mas também quero correr, quero fugir. Todos os sentimentos aos quais me reduzi por tanto tempo, voltam à minha mente, e giram, se torcem e retorcem, ocupando-me, forçando sua passagem para dentro de onde eu os expulsei há meses, meu eu.

O que fazer, o que fazer? Quero correr, quero ficar, quero brigar e me calar, quero ser salvo. Quero ser quem já fui e correr na direção oposta das meias verdades que estão sendo gritadas aos quatro ventos ao meu respeito, quero ser quem eu sou e abraçá-las, completando-as e transformando-as em verdades inteiras, quero me salvar. Como um sinal divino, um brilho no céu chama a minha atenção. Não é uma estrela, mas me faz lembrar delas, e essa é toda a força que preciso para decidir o que fazer em meio à verdadeira confusão que me tornei.

Essa noite não será um retrato do passado. Não vou agir como o garoto assustado, perdido e sozinho que eu me cansei de ser, ainda que eu tenha quase certeza de que o processo vai me machucar. Se Marcos quer expor quem pensa que eu sou, farei melhor, deixarei mais do que claro quem Eduardo Porto é. Não vou correr, ou esperar por salvação.

Apesar dos anos-luz que se passaram em minha cabeça, quando meus olhos voltam a se focar, a situação ainda é exatamente a mesma de quando se desfocaram. Marcos tem um ar de superioridade e uma expressão vitoriosa no rosto, como se no aparelho na palma de suas mãos, houvesse um verdadeiro tesouro, aquele que provará ao mundo inteiro que ele é o dono da verdade, mas ele não sabe que, neste livro, o príncipe salva a si mesmo.

− Não se atreva, porra! -João Pedro rosna, mas Marcos continua sorrindo e meu nervosismo cresce, ansioso para se transformar em absoluto pavor de que ele realmente faça o que está sugerindo, querendo se render ao poder que sabe que Marcos tem. Meu corpo inteiro ameaça desabar quando me dou conta de qual é a única saída. Tirar o poder de suas mãos. O problema é que existe apenas uma maneira de fazer isso, e, apenas pensar nela, provoca em mim a sensação de estar sendo rasgada em duas. Expiro e foco meus olhos no homem que acredita ter minha dignidade nas mãos... Ele nem sequer me desafia mais, Marcos tem uma certeza tão grande em suas convicções ao meu respeito, que nem mesmo cogita a hipótese que suas ações podem estar me magoando.

Eu não darei isso a ele. Definitivamente, não darei. Eu posso não conseguir me impedir de sentir, mas, com certeza, posso escolher não ser expectador de tudo isso.

Discretamente, respiro fundo, fecho os olhos brevemente e, quando volto a abri-los, visto uma máscara de coragem que eu não sinto. Sorrio, esperando que não pareça tão falso quanto é.

− Na verdade, não precisa ler não... Eu posso recitar de cor o que estava escrito no e-mail. -Expulso as palavras de minha boca, querendo, imediatamente, pegá-las de volta, mesmo sabendo que não posso, e que não as pegaria, mesmo que pudesse. As sobrancelhas de Marcos se levantam, surpresas pela minha reação, e eu o enfrento. João me olha, também surpreendido pelas minhas palavras, pelo fato, de, repentinamente, eu ter me lembrado de como se faz algo além de tremer e temer, como, por exemplo, falar.

Viro meu rosto, e deixo um beijo suave em seus lábios, dizendo que está tudo bem, mesmo que não esteja. Seus olhos sondam os meus por tempo o suficiente para entender cada palavra não dita e seu braço, ao meu redor, aperta meu corpo. É um momento. Mas é tudo o que eu preciso para saber que fiz a escolha certa. É esse o homem que quero ser, o homem que luta suas próprias batalhas, posso sangrar, sofrer, e até desistir pela exaustão, ou para ser capaz de lutar melhor no futuro, mas enfrentar meus próprios medos, mesmo que só por um segundo, já é muito mais perto de quem eu quero ser do que correr.

− Que foi, João Pedro? Tá com medo de que alguém faça uma proposta melhor que a sua? Tá com medo de ser trocado? Na verdade, eu acho que é justo que todo mundo tenha a sua chance de dar um lance...-Ignora meu comentário e se dirige diretamente a João, confrontando-o. O clima descontraído que estava na roda morreu.

Todos acompanham o embate entre João, Marcos e eu, atentos, e, ao mesmo tempo, confusos, sem saber o que está acontecendo.

− Marcos, eu não sei o que exatamente te deu a impressão de que eu estava aberto à “novas propostas”, Reviro os olhos e faço um sinal de aspas com os dedos ao dizer as últimas duas palavras: − Mas, definitivamente, não é o caso, então você pode decidir se quer ler o maldito e-mail, se quer que eu o recite, porque, como eu disse, me lembro de cada palavra que escrevi, ou, se quer acabar com esse assunto tosco... E então? O que vai ser? -pergunto, e o homem me fuzila com os olhos.

Batalhamos em silêncio por um tempo que parece interminável, mas ele recua, e volta a guardar o celular no bolso. Internamente, respiro aliviado, porque, embora eu realmente estivesse disposto a recitar cada linha que escrevi, não precisar fazê-lo, é realmente um alívio. Deus sabe que é.

Em meio ao silêncio, Júlia e Maurício chegam até nosso grupo, subitamente silencioso, e os olhos de Marcos brilham, como se ele tivesse feito a grande descoberta científica do século. Inclino a cabeça, incrédulo. Não, ele não seria capaz, seria? Seu olhar me responde. Marcos me olha e, se achei que o sorriso em seu rosto minutos atrás era vitorioso, o que ele ostenta agora é o de um campeão há anos invicto.

Eu não senti desespero antes, eu não fazia ideia do que era me sentir desesperado, não até agora. Eu estava errado ao pensar que ele tinha o poder nas mãos, porque tudo o que ele tinha era um pequeno bastão de madeira que insistia em bater contra a água, mas, agora, Marcos tem uma bazuca em suas mãos e a está mirando diretamente na minha dignidade.

− Não precisam parar de falar só porque nós chegamos não... -Minha sogra brinca, mas ninguém sorri, todos ainda parecem imersos nas palavras ditas momentos antes, e, provavelmente, ainda tentam compreendê-las.

− Nós estávamos falando de como foi que Eduardo conseguiu enlaçar João Pedro, tia! Mas eles estão escondendo o jogo... -debocha, e Júlia estala a língua, completamente alheia à imensa quantidade de veneno contida nas palavras de Marcos.

− Pois eu sei de tudo! Ele enviou um currículo! Ele enviou um currículo, e João Pedro ficou tão impressionado com ele, que decidiu criar um cargo só pra que ele pudesse ocupar! -Entrega com tanta inocência as informações que João Pedro lhe deu, que não consigo não fechar os olhos. Deus, isso não pode estar acontecendo. O que eu faço? O que eu faço?

Marcos sorri imenso quando fala, olhando para mim.

− Sabe, Eduardo! Eu mudei de ideia! Por que você não recita pra gente exatamente o que estava escrito nesse currículo tão fabuloso, que deixou o nosso amigo João tão impressionado? Depois do que a tia Júlia falou, acho que todo mundo ficou ainda mais curioso... - Engulo em seco e pisco, pensando, pensando em uma saída, em como escapar disso, porque eu estava disposto a realmente recitar cada palavra escrita naquela porcaria de e-mail, mas isso foi antes dos pais de João Pedro se tornarem ouvidos atentos.

Deus, eu não posso fazer isso! Simplesmente, não posso! Olho para Marcos, quase suplicando que ele pare, que recue, mas é tarde demais. Minha visão periférica capta o momento exato em que o entendimento atinge Bruno, porque seu sorriso em minha direção se torna indecente, obrigando-me a olhar para ele. Bruno meneia a cabeça e estreita os olhos levemente, como se não pudesse acreditar que tenha entendido certo.

− Pera aí? Currículo? Lance? Não me diga que... Porra! - Explode, elevando o tom de voz, fazendo parecer que finalmente entendeu algo que o vinha intrigando há tempos: − João Pedro! Eu te perguntei onde você o tinha encontrado... -diz em tom de cobrança, como se tivesse algum direito de fazê-lo, como se eu fosse uma camiseta que ele perguntou onde João Pedro havia comprado, e deixa o restante no ar. João se mexe ao meu redor. Aperto minha mão na sua, impedindo-o de dar o passo que queria na direção do babaca que decidiu não deixar o assunto morrer. O ar se torna leve demais, insuficiente para me fazer respirar, e minha língua pesa em minha boca, completamente seca.

Deus, não! Por favor, agora não! Não com Júlia e Maurício aqui, imploro aos céus, sentindo que o gigante a minha frente está se tornando muito maior do que o meu estilingue é capaz de dar conta. Mordo o lábio e pisco. Mais corajosos do que o meu coração, meus olhos investigam ao nosso redor, procurando reações à fala absurda que acabamos de ouvir. Exceto por meus sogros, os outros, depois do comentário explícito de Bruno, parecem começar a entender o que está sendo dito nas entrelinhas desde que Marcos decidiu fazer parte da conversa. A mudança em suas atitudes é imediata. Seus olhares em minha direção deixam se ser curiosos e passam a desconfiados, mas ninguém pergunta, e eu não sei se por causa da presença dos pais de João, ou, se apesar dela.

− Bruno, eu juro por Deus que se você não calar a porra da boca, eu não respondo por mim! -João ameaça, e, imediatamente, sua mãe o repreende.

− João Pedro! Você não ouse! avisa, mas o homem, ainda mais inconveniente que Marcos, está decidido a não deixar para lá, com um sorriso imenso no rosto e, tenho certeza, que sentindo-se protegido pela presença de Júlia e Maurício, o infeliz volta a abrir a boca.

− Ah não! Qual é, Marcos! Eu quero ver esse currículo, e se for bom, como eu acho que é, quero saber quando é que o contrato dele com você acaba, João Pedro, porque quero entrar na agenda! -Não tenho tempo sequer para acreditar no que foi dito, ou de ver a reação das demais pessoas ao nosso redor.

Um segundo.

Um segundo é o tempo que leva para o punho de João Pedro encontrar o rosto de Bruno. João parte para cima do homem, tão alto quanto ele, com uma fúria descontrolada e eu passo alguns instantes em choque, estático, piscando os olhos sem poder acreditar. A batalha interna dentro de mim recomeça, quero gritar por João Pedro, segurá-lo, acabar com isso, mas também quero ver a cara de Bruno arrebentada, quero vê-lo desmaiado e completamente incapaz de dizer qualquer outra coisa que me envergonhe, e, ao mesmo tempo, não quero ver nada, não quero precisar dar explicações para ninguém, não quero pensar no quanto do que foi dito Maurício e Júlia podem ter entendido, virão a entender, ou exigir explicações, quero, apenas, sair daqui.

As pessoas começam a se acumular ao nosso redor e eu pisco meus olhos, vendo um João Pedro cada vez mais enraivecido, avançando contra Bruno como um bicho. Dou alguns passos para trás, e, mais alguns, sentindo-me sufocado pelo número cada vez maior de curiosos que observam tudo, sentindo-me ser dominado pela ansiedade, até ser quase consumido por ela. Maurício tenta segurar João, mas ele se sacode e volta a avançar contra Bruno que mal tem tempo de se defender entre um soco e outro. A necessidade de sumir me sufoca e eu decido que ter vencido apenas uma das muitas batalhas travadas essa noite, pode sim, ser considerado uma vitória. Ando mais passos para trás, até que não consigo mais ver o que acontece atrás do muro de pessoas que se fechou ao redor da confusão.

Meu peito sobe e desce em uma respiração acelerada e eu pisco meus olhos, precisando, urgentemente, entender o que fazer e, ao mesmo tempo, sem ter ideia de como. Começa com um aperto, esmagando meu peito, depois, vem a náusea e tenho a sensação de que estou engasgando, forço a garganta, mas o bolo acumulado nela se recusa descer, não sei se porquê ou, apesar de minha boca estar mais seca que um deserto. Dou mais passos para trás, agora, completamente descoordenados, minhas costas encontram uma superfície fria e eu largo meu corpo nela. Arrepios tomam conta da mim, sinto-me tonta, meu corpo inteiro formiga, minha pele sua, apesar de eu me sentir completamente gelado. Deus, o que é isso? O que é isso? Não consigo respirar, não consigo!

Ao meu redor, tudo sumiu, não vejo, não ouço, só há eu e eu, e nada, e ninguém, e tudo e qualquer coisa. Deus, o que é isso... vou morrer, acho que vou morrer... puxo o ar, ele não vem, estreito e arregalo os olhos, mas tudo está embaçado, ofego, ofego e ofego, e nada, nada, nada... Deus! Eu vou morrer!

− Eduardo!! Eduardo!!! -ouço meu nome ser chamado em voz alta, mas isso é tudo, continuo sem ver nada a minha frente.

− Respira, Eduardo! Respira! -ouço o pedido, não consigo, não consigo, o desespero me envolve, eu vou morrer, eu sei que vou. Pisco, eu quero chorar, quero chorar antes de morrer, mas não consigo, não consigo, não sinto nada além de terror. Palavras continuam sendo ditas para mim, mas não consigo me concentrar, não consigo entender. O que, o que está acontecendo? Deus, eu estou morrendo, não tem ar, não tem ar, eu não consigo respirar.

− Eduardo olha pra mim, olha pra mim! -Alguém me pede, mas eu não consigo... Não consigo ver, muito mal, continuo ouvindo algumas palavras soltas, alguém me diz para respirar, pânico, crise, ataque, boca, mas nada faz sentido, as palavras continuam soltas no mundo, girando ao meu redor. Mãos tocam meu rosto, firmando-o no lugar e eu encontro olhos, fixo os meus neles, precisando de qualquer coisa que me segure, que me ancore, que faça a sensação de afogamento passar. Uma boca, uma boca aparece, movendo-se, mas eu ainda não consigo entender o que diz, Deus! Eu vou morrer, ar! Eu preciso de ar. Me concentro nos lábios, eles se movem devagar enquanto sinto meu corpo se mover e suar e tremer rápido, muito rápido.

“Pela boca”, os lábios dizem, “inspira pela boca”, leio os movimentos e me concentrar neles me ajuda, abro meus próprios lábios e puxo uma quantidade absurda de ar, recebo muito menos do que gostaria, mas mais do que vinha conseguindo, repito, de novo, outra vez, mais uma e, agora, os olhos e os lábios ganharam um rosto. Norma. É Norma diante de mim.

− Isso... -Ouço sua voz e continuo focada no movimento dos seus lábios: − Quatro gostos, Eduardo. Eu preciso que você me diga quatro gostos que está sentindo... -Sua voz, ainda distante, pede, eu pisco, mas me concentro, procurando em minha mente essas informações, tentando abandonar todo o resto que me engole e buscando as palavras para responder ao pedido, gostos, quatro gostos...

− Cham-champagne, chocolate...

queijo... e... e... whisky!

− Isso, meu filho! Isso! Agora, quatro cheiros, Edu! Quatro cheiros que você está sentindo. -Foco toda a minha energia em meu olfato, busco por ele, fecho meus olhos.

− Perfume... Grama... comida e...

álcool...

− Quatro sensações, Edu...

quatro sensações que você está sentindo... -Sobre essa eu não preciso pensar.

−Medo, frio, náusea e calor.

− Isso, meu filho... Isso! Agora, abre os olhos e me diz quatro coisas que você está vendo. -Faço o que ela pede e ainda com a respiração descompassada, encontro o mundo ao meu redor voltando ao foco. Puxo o ar com força pelo nariz e o expulso pela boca.

− Grama..., você..., mesas..., pessoas.

− Isso! Agora respira... Respira! Você consegue andar? Você precisa sentar...

− Não, Norma... Não... -Sacudo a cabeça rápido, sentindo, outra vez, a sensação de tontura, mas eu não quero sentar, não quero, fecho os olhos, me concentro nos sons, nos cheiros, inspiro e expiro pela boca e, só então, volto a abri-los: − Eu só preciso... Só preciso... Me tira daqui, Norma! Me tira daqui... por favor, me tira daqui...

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Comentários

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Completamente feliz até Marcos e Bruno aparecerem. Que merda. Ainda não entendi o que aconteceu com Edu, caiu na piscina? Será que João não poderia simplesmente ter mandado eles calarem a boca e ter tirado Edu daquela roda até mesmo antes dos pais terem chegado? Puta merda isso não poderia ter acontecido. Acho que talvez isso ainda aconteça outras vezes, sempre que aparecer alguém com quem João fudeu e não passou disso. Inveja, ciúme e outros sentimentos pequenos. E vamos nós, ao contrário do que prometi, ficar ansioso pelo próximo capítulo.

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Sempre tem um bando de cafajeste que não suportam ninguém feliz...é por isto que talvez algumas relações sejam tão superficiais. Episódio lamentável, esperado pela inveja de Marcos e Bruno, mas JP e Eduardo com certeza vão superar mais este obstáculo.

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