Contratados: O Prazer - Capítulo XIX: João Pedro

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 4060 palavras
Data: 28/04/2023 21:59:10

CAPÍTULO XIX

*** JOÃO PEDRO ***

VERMELHO É TUDO o que vejo quando avanço contra o filho da puta. O primeiro soco fez meu braço vibrar e meu corpo inteiro retesar, mas ainda esteve muito longe de ser o suficiente. Expiro com força, porque, de repente, meus pulmões passaram a só precisar expulsar ar. Empurro-o e soco seu abdômen, o filho da puta cambaleia e leva a mão ao estômago, antes de estender as duas mãos na minha direção, mas foda-se, eu não vou parar. Empurro seus braços, tirando-os do meu caminho e mais um soco, mais um passo. Ele bambeia de novo, eu o soco outra vez, agora, com o outro braço e ele cai. Era só o que eu queria.

Filho da puta! Soco a cara de Bruno com a vontade que venho reunindo há dias, meses! Desde aquele maldito jantar. Sinto braços me agarrando, de novo, mas me sacudo, me desvencilho, e um soco me atinge, finalmente! O desgraçado começou a reagir, achei que seria covarde demais até para isso! A porrada vem, mas a dor não. Tudo o que tenho na minha cabeça são os olhos aterrorizados de Eduardo, seu rosto pálido, seu corpo trêmulo, porra! Filho da puta do caralho!

Eu não enxergo nada além dele, não ouço nada além da minha própria respiração, não sinto nada além da vontade incontrolável de acabar com raça desse fodido do caralho. Rolamos no chão e eu enfio meu joelho entre suas pernas com força, ele grita de dor e eu não sinto nada, só vontade de bater mais. Um soco, dois socos, três socos, enquanto ele se retorce sob mim, com os olhos fechados, agonizando de dor. Mais braços me puxam para trás, mas não eu não paro, agora, montado em seus quadris, esmurro seu rosto com um ódio cada vez maior.

− Você vai aprender a nunca mais desrespeitar meu homem, porra! - Grunho, e é só ao ouvir o nome dele que o ambiente ao me redor volta a entrar em foco.

− O EDUARDO FOI EMBORA,

JOÃO! O EDUARDO FOI EMBORA! JOÃO!

JOÃO! JOÃO PEDRO, O EDUARDO FOI EMBORA! -Os gritos de minha mãe começam a fazer sentido, largo o desgraçado no chão e me deixo ser arrancado de cima dele.

− Me solta, porra! Me solta! - Grito, me movimentando, querendo me desvencilhar dos braços que me seguram: − Me solta, caralho! Cadê meu homem? Cadê, porra!

− Fica calmo, João. -Ouço a voz de Marcos e me sacudo inteiro até me soltar e avanço contra ele. Parando com o rosto a milímetros do seu, aponto o dedo em seu peito.

− Você não abre a porra da boca

pra falar comigo, caralho! Você não olha pra mim! Filho da puta! -Sinto as veias do meu pescoço saltarem e meu coração esmurrar o peito em batidas violentas. Porque se eu queria comer Bruno na porrada, eu quero matar Marcos!

− João...

− JOÃO É O CARALHO! QUAL

É O SEU PROBLEMA, PORRA?! - Grito, passando a mão pelo cabelo e balançando a cabeça, ainda sem acreditar que ele realmente tenha feito isso. Me afasto dois passos: − Você só não é o próximo porque meu homem é muito mais importante do que te quebrar na porrada! Filho da puta!

Dou as costas para ele e caminho

para dentro da casa, esbarrando nas pessoas que, em algum momento, se reuniram todas ao redor da confusão e, agora, me encaram como se eu fosse o demônio. Deixo Bruno choramingando no chão e Marcos para trás quando consigo passar pela multidão e finalmente entro pelas portas de vidro. Subo as escadas, na direção do segundo andar, já sacando o celular do bolso e discando número de Eduardo.

− PORRA! - Entro na primeira porta que encontro, ando de um lado para o outro no quarto enquanto a ligação chama várias e várias vezes, mas vai direto para a caixa postal. Ouço mais passos ecoando pelo chão, mas não me preocupo em olhar quem é, a ligação cai e eu tento outra vez, e outra vez, mas porra nenhuma! Nem sinal de ele atender o caralho do telefone.

− PORRA! PORRA! PORRA! - Passo a mão no objeto mais perto de mim, um vaso de vidro, e arremesso-o contra a parede, depois, arrasto as mãos pelos cabelos.

− PUTA QUE PARIU! CARALHO! - Grito, sentindo as mãos tremerem e o ar me faltar, sem saber onde ele está, como está, como saiu daqui, puta que pariu! Sento na cama e volto a arrastar as mãos pelas laterais dos cabelos, puxando-os, inspiro com força, mas o ar não vem, não o suficiente, nem perto de ser o suficiente.

− Calma, filho! Calma! -É minha mãe quem pede, ajoelhando-se a minha frente e só então me torno consciente da sua presença e da do meu pai.

− Ele não tinha como sair daqui, mãe! Ele não pode ter saído daqui, porra! Se ele saiu, eu não sei onde ele está, como ele saiu, pra onde ele foi! Suas mãos pegam as minhas, fazendo-me parar de puxar meus cabelos.

− Nós já estamos olhando as câmeras, e já pedi pra procurarem pela casa também, meu filho. Se ele saiu, vamos descobrir como, e, se não saiu, vamos encontrá-lo.

− As câmeras! Porra! As câmeras! - A notícia de que pode haver alguma pista sobre para onde ele foi, e com quem, faz o ar voltar a circular em meus pulmões, eu me levanto da cama, imediatamente: − Onde? Onde estão vendo as câmeras?

− Calma, João! Você precisa se acalmar, meu filho, nós nem sabemos se ele realmente saiu...

− Mãe, não me pede pra ficar calmo, porra! Mãe, só..., só me diz onde estão sendo vistas as filmagens, por favor. -peço, com os dentes apertados, controlando-me para não explodir com a minha própria mãe. Implorando para que ela só me dê a informação de que eu preciso, porque, nem que seja observar gravações, eu preciso fazer alguma coisa além de ficar parado, esperando. Ela desiste de tentar qualquer coisa de mim.

− Na guarita de segurança. -Não espero para ouvir mais nada, saio do quarto a passos apressados, arrancando paletó e gravata e largando-os pelo caminho. Desço as escadas correndo e é assim que parto na direção da guarita, correndo. Encontro dois dos seguranças da casa analisando as filmagens, eles olham para trás assim que eu entro, mas não digo nada, fico congelado no lugar com as imagens que se desenrolam na tela.

Passo minutos observando o

nada, nenhum movimento na entrada e saída da casa, depois, alguns carros entrando, mas nem sinal de Eduardo, a dúvida sobre ele ter ido, ou não, embora, cresce e rodopia, deixando-me enjoado. Tudo aconteceu tão rápido, será que ele não foi ao banheiro ou se escondeu em algum outro lugar? Vejo o horário no canto da filmagem, mas não tenho ideia de que horas a confusão começou. Apesar das minhas dúvidas, continuo firme, olhando, esperando, porém, nada acontece. Por quase dez minutos, as câmeras não mostram nenhum movimento.

A ansiedade me devora de fora para dentro, embrulhando meu estômago e fazendo com que eu me sinta inútil, porque não há nada que eu possa fazer. Passo as mãos pelos cabelos, puxando-os, e expiro com força. Esfrego as mãos pelo rosto, e saco o telefone do bolso, tentando, de novo, ligar para Eduardo, mas a ligação faz o mesmo caminho de todas as anteriores, chama até ir para a caixa postal. Cristo! Eu só quero saber se ele está bem! É tudo o que eu preciso! Com a cabeça abaixada e os olhos voltados para o chão, continuo tentando ligar, já que as câmeras parecem determinadas a não mostrarem o que quero ver.

− Senhor. -Um dos seguranças me chama e eu levanto a cabeça. Na tela, a imagem congelada de um carro me faz franzir o cenho.

− Esse foi o único carro que saiu daqui. Tem uns vinte minutos...

Ainda que eu nunca tivesse visto aquele carro antes, o modelo chamaria a minha atenção de uma forma ou de outra, porque poucos convidados da festa de hoje teriam um tão barato. Mas, esse, especificamente, eu conheço, porque muitas vezes já o vi no estacionamento da Govêa sendo manobrado por Norma. Porra, é o carro dela! O único que saiu daqui desde que Eduardo sumiu, isso precisa significar alguma coisa! O alívio é imediato, porque mesmo sem saber onde ele está, reduzir um mundo de possibilidades a apenas duas opções, faz meu coração redescobrir como se bate. Ou Eduardo ainda está na casa, ou está com Norma.

Me levanto para sair da sala, caminho para fora, indo na direção da casa dos meus pais, já buscando o contato de Norma em meu celular, inicio a chamada e levo o telefone ao ouvido. A ligação chama até cair na caixa postal e eu tento mais três vezes antes de desistir. Atravesso os jardins com passos apressados, porque, se Eduardo realmente não for encontrado em nenhum canto da casa, minha próxima parada é a casa de Norma, ele vai estar lá, tenho certeza, preciso acreditar nisso, preciso me agarrar a isso.

Encontro meus pais na sala de casa. Minha mãe, aflita, anda de um lado para o outro, quase fazendo um buraco no chão que seus olhos tão atentamente observam, e, meu pai, sentado no sofá atrás dela, se levanta imediatamente assim que passo pela porta. O cômodo, agora, está vazio de convidados, todos continuam concentrados no gramado, provavelmente, comentando o grande acontecimento da noite. Que se foda. Minha mãe levanta e, só agora que uma perspectiva me permitiu voltar a respirar e a pensar, noto seu rosto verdadeiramente angustiado.

− E então?

− Ele não aparece nas filmagens... Mas um carro passou pelos portões, e era o da Norma... Ou Eduardo ainda está aqui, ou está com ela. -Minha mãe balança a cabeça, concordando.

− Foi tudo tão rápido. Em um momento ele estava lá, no outro, tudo era confusão, os convidados estavam se aglomerando, querendo saber o que estava acontecendo, e, quando olhei outra vez, ele já não estava mais. E a maioria das pessoas estava concentrada demais no espetáculo pra reparar pra onde ele foi... Pedi pra revirarem cada quarto e banheiro dessa casa... Ele não está em nenhum deles... Vou pedir pra continuarem olhando pelas câmeras, tem uma em cada canto dessa área externa, uma delas tem que ter visto pra onde Eduardo foi.

Inclino a cabeça, refletindo. Isso demoraria muito, até que descobrissem qual câmera o viu...

− Eu tenho quase certeza de que, se Eduardo não está aqui, Norma o levou. Não tem outra resposta, Edu não teria como ter saído daqui a pé, muito menos, sem ser visto. Ele precisaria ter saído de carro e o único que saiu da casa foi o da Norma. É isso, tem que ser! -digo, mas quero convencer apenas a mim, porque se ele estiver com Norma, sei que ela estará bem, estará sendo cuidado, e isso é tudo o que eu preciso. Minha mãe abaixa a cabeça e prende os cabelos atrás de uma das orelhas, respirando aliviada e, logo depois, ergue o rosto, estreita os olhos para mim, e apoia as mãos na cintura.

− João Pedro Govêa! Que merda foi essa? -Arqueio minhas sobrancelhas, porque não ouço esse tom há muito tempo, desde a adolescência, talvez.

− O quê? -São as únicas palavras que consigo dizer.

− O quê? -sibila: − O quê? pergunta e, agora, a aflição em seus olhos foi completamente substituída por exasperação. Ela balança as mãos no ar e me envia lanças com o olhar: −Você decide se engalfinhar com Bruno e rolar na grama como um verdadeiro neandertal, grunhindo e bradando “meu homem, meu homem”, -agita os braços no ar, tornando seu discurso ainda mais dramático: − Como se fosse um homem das cavernas?! Eu te criei melhor do que isso, João Pedro! Eu gastei milhares de reais na sua educação pra que você fosse capaz de se comunicar com palavras, não com socos, pontapés, e eu nem vou mencionar a joelhada desonrosa que você deu no pobre menino! Ele mal conseguiu levantar!

− Tá com pena, mãe? Então adota aquele filho da puta! Mas saiba que ele entra, e eu saio, porra!

− JOÃO PEDRO! -Meu pai

alerta e eu passo as mãos pelos cabelos, dou as costas a eles, expiro com força, antes de inspirar com a mesma intensidade e voltar a encará-los.

− Ele mereceu cada soco, e o Marcos teve sorte de Eduardo ter ido embora, ou eu juro que o estrago na cara dele seria muito pior do que o na do Bruno!

− Marcos? -Minha mãe questiona e sua voz falha, tamanha á a sua surpresa: − Eu vi você discutir com ele, mas nunca imaginei que vocês chegariam às vias de fato, não fizeram quando eram moleques, vão fazer agora? Depois de velhos?!

− Sim, aquele filho da puta! Toda

essa merda é culpa dele! Essa porra toda! -Dizer essas palavras me afeta tanto, que não consigo ficar parado, abro e fecho as mãos e dou passos para um lado, depois, para o outro.

− Olha o linguajar, João Pedro! -

Minha mãe repreende, e eu olho enviesado para ela, é sério, que no meio desse caos, ela realmente está preocupada com a quantidade de palavrões que estou falando?!

− O que foi que aconteceu, João? -Meu pai pergunta, e considero dizer-lhe que, com todo respeito, não é da conta deles. Mas de que isso adiantaria se Gabriel, Leonardo e quem quer que estivesse perto ouviu o que aconteceu e, provavelmente, vai comentar? Olho para o teto e apoio as mãos na cintura, tomando uma decisão. Estendo a mão para os sofás da sala de estar.

− É melhor vocês se sentarem.

*************

O carro desliza pelo asfalto comigo sentado ao lado de Luiz. Ansioso demais para ficar no banco de trás, eu precisava de alguma sensação de controle, qualquer uma, nem que fosse olhar para o velocímetro a cada segundo que se passa e nós ainda não chegamos. Tempo demais, demorei tempo demais. Entre contar toda a história para meus pais, limpar e fazer curativos no meu rosto, que eu nem tinha notado ter alguns cortes, e nos nós dos meus dedos, completamente esfolados, perdi duas horas antes de conseguir correr para o apartamento onde Norma vive na Zona Leste.

Desvio os olhos de um lado para o outro, bato o pé no assoalho do carro e a palma da mão sobre a minha própria coxa, Eduardo está lá, tem que estar! Ele, realmente, não estava mais na casa dos meus pais, então essa é a única alternativa. Norma, Norma, Norma, custava atender a porra do telefone?! Expiro com força, passo as mãos pelos cabelos e jogo a cabeça contra o encosto do banco, pressionando-a ali.

− Porra!

− Calma, seu João! Seu Eduardo vai estar lá, estamos quase chegando...

Aperto os olhos e levo uma de minhas mãos à ponte do nariz. Faço pressão ali, tentando, de alguma maneira, aliviar a ansiedade que me corrói. Que porra de noite! Começou perfeita, perfeita para caralho, e terminou esse caos. Finalmente ter Eduardo livre do medo, livre pra dizer as palavras, finalmente ser livre para dizer aquilo que eu queria dizer há semanas... Porra, Marcos, seu filho da puta! A mera lembrança da sua postura, das suas palavras, me faz ver vermelho e querer quebrar sua cara, ainda que ele não esteja aqui. Nesse momento, eu poderia matá-lo de tanta porrada.

A bebida não é desculpa para essa porra, ele nunca foi de ficar bêbado, então estou pouco me fodendo para o que quer que o tenha deixado naquele estado. Filho.de.uma.puta! Se, algum dia, Eduardo perdoá-lo, e eu tiver a chance de fazer o mesmo, posso esquecer tudo, menos o fato de que ele roubou a felicidade que deveria estar estampada no rosto de Eduardo essa noite. Eu sabia que suas preocupações em conhecer meus pais eram infundadas. Eles o amariam, é impossível não amar. Eu sabia, exatamente, como minha mãe reagiria à sua presença e existência, e poucas coisas me divertiram mais do que a ver completamente sem reação à euforia de Júlia Govêa.

Era para ser a noite perfeita, porra, a essa hora, eu deveria estar enterrado nele até o talo enquanto o ouvia gritar que me ama, então, como caralhos, vim parar nessa situação absurda de, nem mesmo ter certeza de onde ele está? Marcos, filho de uma puta! Qual é o maldito problema dele, caralho?! Quanto mais penso nisso, maior a minha vontade de comê-lo na porrada se torna.

Finalmente, o carro para.

Corro porta a fora, hall a dentro e elevador à cima. O porteiro já me conhece, então não me impede de subir, apesar da hora, e do meu desespero. Ele me olha intrigado e até tenta me dizer alguma coisa, mas as portas do elevador se abrem e eu corro para alcançá-lo, antes que o homem tenha a chance de concluir o pensamento. Prendo o dedo à campainha sem me importar com o horário. Norma não atendeu a nenhuma das minhas dezenas de ligações. Olho impaciente para a porta e bato o pé no chão em uma velocidade frenética, e a porta de madeira escura, a maldita porta, me afastando do que eu quero, de quem preciso, continua fechada.

Aperto o dedo sobre o botão e esqueço-o lá, o som da campainha, ininterrupto, soa do lado de fora do apartamento, e a agonia volta a espiralar pela minha coluna e a se espalhar pelo meu estômago, não, porra! Não! Ouço a chegada do elevador, mas não olho para trás, continuo com o dedo pressionado contra o maldito botão que se recusa a cumprir seu papel de fazer alguém abrir a porta.

− Seu João! -Luiz me chama, obrigando-me a olhar para ele, a expressão em seu rosto deixa claro que não gostarei do que ele tem a me dizer. Pisco os olhos e balanço a cabeça, negando, sabendo exatamente quais serão suas próximas palavras.

− Norma não está em casa, seu João. O porteiro disse que ela e seu Newton saíram ainda cedo e não voltaram.

− PUTA QUE PARIU!!! -O grito me escapa sem que eu queira ou possa controlar. Foda-se que os vizinhos de Norma estão dormindo, foda-se o mundo, porra! Aonde está o meu EDUARDO? Deixo meu corpo desabar sobre a porta do apartamento em que, segundos atrás, eu queria tão desesperadamente entrar, pendo a cabeça para trás, fecho os olhos e respiro fundo. Onde, porra?! Onde?! E por que caralhos atender o telefone virou o desafio do milênio?

Uma porta se abre no corredor e uma mulher, jovem e assustada, coloca a cabeça para fora. Ela franze o cenho para a situação que se desenrola diante dos seus olhos, e eu imagino, que, realmente, encontrar um homem, às duas da manhã, escorado na porta do apartamento vizinho ao seu, parecendo, claramente desnorteado, não seja exatamente algo esperado, ou o que possa ser chamado de acontecimento cotidiano. Foda-se, sequer dirijo o olhar a ela, ainda que a mulher pareça esperar por isso, porque permanece na porta da própria casa por vários minutos, como se esperasse por uma explicação.

E, como se o universo não estivesse satisfeito com a minha situação miserável, uma segunda porta se abre, dessa vez, é um velho quem sai por ela. O idoso olha entre mim e a mulher, ainda parada na porta do próprio apartamento, meneia a cabeça, resmunga algo incompreensível, mas que se parece muito com “esses garotos de hoje em dia vivem perdendo a mulher...” e, depois, volta para a própria casa.

Derrotado e conformado, volto para o carro e, dessa vez, me jogo no banco de trás, com o corpo totalmente largado, a cabeça girando, e os pensamentos se esticando em mil direções diferentes. Onde, onde Eduardo poderia estar? A essa hora da noite, Deus! Onde? Onde ele está, porra?! Sem opções, aceito a única alternativa. Saco o celular do bolso e com alguns toques na tela, o levo à orelha.

A chamada se estende por alguns

toques, até finalmente ser atendida.

− Alguém morreu? -Ruan pergunta, com a voz sonolenta, não há dúvidas de que eu o acordei.

− Não, mas eu estou disposto a te pagar o suficiente pra você se aposentar amanhã, se você encontrar uma pessoa pra mim. -O silêncio toma conta da chamada por alguns segundos. Trabalho com Ruan há algum tempo, sempre que preciso investigar alguém, ou, alguma coisa, ele é o cara para quem eu ligo, foi ele, inclusive, quem investigou a vida de Eduardo quando o conheci, mas, nunca antes, eu havia lhe feito uma proposta como essa. Quando ele volta a falar, sua voz é desperta, muito diferente da que atendeu ao telefone, e um grama de alívio, ínfimo e leve, se comparado aos quilos de agonia que me inundam, circula meu corpo.

− Do que você precisa? Tem o nome e o CPF?

− Eduardo, Ruan. O mesma Eduardo que você investigou meses atrás. Não vou entrar em detalhes, mas nós moramos juntos e, essa noite, algo aconteceu e ele fugiu. Não faço ideia de onde ele esteja, possivelmente ele está com Norma, minha secretária, mas nenhum dos dois atende a porra do telefone.

− É só isso? Quer dizer, quanto tempo isso faz? -questiona e não gosto do seu tom de voz, porque ele parece prestes a me contrariar.

− Como assim só isso?! Porra! Eu não sei onde ele está, Ruan! Eu não sei, caralho! -Algo como um riso soa em meus ouvidos e eu não posso acreditar.

− João Pedro...

− Não se atreva, porra! Você pode pegar o trabalho, ou outro vai! Aperto o telefone na palma das minhas mãos com força, o ar é expulso pelas minhas narinas com urgência, e meu coração bate acelerado, porque, apesar da ameaça, eu não vou encontrar outra pessoa para procurar por Eduardo antes do amanhecer, Ruan é minha única esperança quanto a fazer alguma coisa agora.

− Tudo bem, João Pedro... Eu te

ligo assim que eu tiver notícias...

− Nem fodendo! Você vai me dar um relatório a cada hora!

− João Pedro...

− O caralho, Juan! Não é negociável, porra! Um relatório a cada hora, nem que seja a porra de uma mensagem, eu quero um relatório a cada hora.

− Tudo bem.

Desligo o telefone e esfrego as mãos pelo rosto, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, mantenho minhas palmas sobre meus olhos, bochechas e boca. Inútil. Eu sou a porra de um inútil, porque tudo o que posso fazer é esperar. Joana.

O nome brilha nos meus pensamentos e eu me amaldiçoo por não ter o número de telefone da melhor amiga de Eduardo. Talvez tenha sido para lá que ele tenha ido. Estou prestes a pegar o telefone e voltar para a ligar para Ruan quando o carro para. Olho pela janela com o cenho franzido, não percebi que já estávamos chegando, mas o que vejo na frente da minha casa, faz

meu coração bater acelerado, explodindo meu peito e eu abro a porta do carro e corro para dentro de casa, largando-a aberta, sem me importar com porra nenhuma além de entrar.

Eu só preciso entrar. Entretanto, o leitor de digital tem outros planos, se recusa a ler a minha e eu esfrego na calça, limpo a porra do sensor, e, ainda assim, ele não lê o caralho do dedo. Luiz para atrás de mim e coloca a mão sobre o meu ombro, em um pedido silencioso para que eu me afaste, depois, coloca o próprio dedo sobre o sensor, e a porta se abre. Entro com verdadeiro desespero, e, como o carro de Norma parado na calçada do lado de fora denunciava, Eduardo está aqui! Porra! Em casa! Todo esse tempo, ele esteve aqui! Em casa

Avanço em sua direção e, sem me importar com a plateia, envolvo seu rosto em minhas mãos e a beijo. Sem lentidão ou delicadeza, porque preciso que ele saiba. Deixo que minha língua conte toda a história enquanto varre sua boca. Deixo que meus lábios falem do meu desespero, agonia e angústia sem dizer nem mesmo uma palavra, deixo que meu beijo peça perdão por tê-lo deixado sozinho quando ele sentiu necessidade de fugir. Porque ainda que eu tenha tido um excelente motivo para isso, nada, nunca vai ser motivo o suficiente para justificar que Eduardo não seja minha prioridade, nem mesmo arrebentar a cara de um babaca como Bruno. Eu amei cada segundo daquela briga, mas se soubesse do desespero que seria perder Eduardo de vista por causa dela, faria tudo diferente sem nem mesmo pensar duas vezes.

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Comentários

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JPG amando Eduardo e o melhor impôs se amor acima de tudo e a defesa do seu homem foi notável...não sou adepto da violência mas o Bruno mereceu e o Marco se safou por pouco, noite tensa mas o amor deles irá superar tudo.

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