Meu pai me encarou e tentou ficar sério, mas não durou mais que dois ou três segundos. Logo, ele acompanhava minha mãe numa das gargalhadas mais gostosas que eu já o ouvira dar. Após um tempo, ele falou:
- Gegê, se à distância ela faz nosso filho se acabar assim, pessoalmente ela vai matar ele. Acho melhor eles se separarem mesmo.
- Ai, Marcos… Não acredito nisso! - Minha mãe repetia, gemia e gargalhava: - Ai, ai, eu não vou aguentar. Não vou…
- Bom, vamos lá “Zé Punhetinha”, vamos trabalhar para pagar sua internet de banda larga. Vai que sua namorada resolve te ligar outra vez, né!? - Meu pai falou e minha mãe voltou a gargalhar alto, até batendo a mão na mesa.
Depois de um tempo e de meu pai até abaná-la com um jornal, ela se controlou e me disse:
- Pode ir trabalhar, filho, eu dou um jeito no seu quarto. Aliás, eu não, quem vai pôr a mão lá é a Aline. - Disse e sorriu para mim: - Vou falar para ela por uma luva de braço inteiro. Eu, colocar a minha mão lá, nem a pau!
- Pau!? É bem por aí… - Respondeu meu pai, caçoando de mim novamente.
Capítulo 47 - Arapuca pronta e desarmada.
Saímos para o trabalho e eu estava inquieto. Tivemos uma importantíssima reunião naquela manhã em que meu pai convidou o presidente e os dois diretores que haviam me atacado na recepção do seu Julian. Aliás, ele, surpreendendo a todos, inclusive a mim, fez questão de esculachá-los abertamente, de uma forma que eu nunca havia visto antes, despejando toda sua ira sobre eles para, no final, anunciar suas imediatas demissões:
- Mas Balthazar, você não pode fazer isso. A empresa não é sua! - Disse o doutor Antonino, presidente da empresa, após dar uma simpática risada de quem possuía amizade há tempo suficiente para tanto.
- Não era, Antonino. Hoje de manhã fiz questão de comprar o controle acionário da Imantec. Eu mando agora, aliás, eu não, o Marcos é quem será nomeado presidente na próxima assembleia que já pedi para ser convocada. Esteja preparado.
- Balthazar! - Ele disse, atônito com aquela novidade e, depois de encarar seus diretores por um segundo, deixando claro o tamanho da merda que haviam feito, insistiu: - Poxa, meu amigo, não precisamos chegar a tanto. Eu me comprometo a apurar a falta deles, mas não creio que a demissão seja a melhor forma de resolvermos isso.
- Gosto de você, Antonino, e acredito que possa reaproveitá-lo em algum cargo relevante na empresa, mas eles eu quero na rua. - Meu pai insistiu, batendo na mesa, irado, antes de continuar: - Foram imaturos, pouco profissionais e se deixaram levar por boatos para tomar uma decisão empresarial importante para ambas as empresas. Não quero gente desse tipo trabalhando para mim.
Eles estavam brancos e não abriram a boca senão para cochichar alguma coisa entre si. Antonino eu também conhecia de tempos e acho que realmente poderia aproveitá-lo no novo organograma da empresa e, sabendo que meu pai não blefava, decidi tomar a dianteira para mostrar liderança proativa:
- Pai, por favor… - Pedi a palavra e eles me encararam, curiosos: - Não quero alterar nenhum cargo da alta diretoria por enquanto. Seria imprudente e eu não teria tempo para treinar alguém em uma empresa que ainda não domino todo o “know-how”.
- Marcos!? Você vai mantê-los? - Meu pai me perguntou, enquanto se recostava em sua cadeira, olhando-me sério.
- Por enquanto, vou. - Insisti e me voltei para o doutor Antonino: - Como é o organograma da empresa hoje? Só da alta diretoria.
- Sou o presidente, Augusto o vice, Antônio é o diretor de risco e Alfazema é o diretor executivo. - Disse apontando para os dois: - Cíntia é a diretora financeira, Aline é a diretora de logística e Carlão é o diretor de marketing e publicidade.
- Quais as atribuições desse Augusto? Acho que não o conheço ele. - Falei.
- Também acho que não... - Ele concordou e continuou: - Ele tem todas as minhas atribuições na minha falta. Na minha presença, ele é o elo de comunicação entre mim e todas as diretorias.
Parei por um momento, absorvendo todas as informações enquanto meu pai pedia um café para todos. Os dois diretores aceitaram timidamente a gentileza, pois qualquer movimento em falso, até mesmo dizer um simples “não” para o meu pai naquele momento, poderia significar uma sentença de morte:
- Vou adiantar minha visão para vocês: entrarei como presidente, o senhor será transferido para a vice-presidência institucional, de relações e projetos, ficando incumbido dos novos projetos e das relações entre interempresariais. Augusto ficará na vice-presidência executiva e continuará fazendo o que já faz, e mantemos os diretores onde estão, pelo menos por enquanto.
Meu pai me olhava curioso e até surpreso com a forma que agi enquanto me passava uma xícara de café. Não tive como não lembrar da Annemarye naquele momento e sorrir de saudade, pois o cheiro de café me fez recordar imediatamente de como ela sorria feliz com um bom e simples cafezinho:
- Acho a decisão do Marcos bastante prudente, Balthazar. - Antonino opinou.
- Faremos da forma como ele anunciou, Antonino, e vamos ver se ele conseguiu enxergar algo que eu ainda não consegui. - Disse meu pai, ainda não tão satisfeito com a minha decisão.
- Ah, só uma coisa, senhores… - Disse e encarei os dois diretores que quase engasgaram com o café que estavam tomando naquele momento: - Nunca mais, estou dizendo nunca, quero ouvir qualquer tom jocoso ou pejorativo relacionado a minha namorada, ok? Se tivessem tido a chance de conhecê-la o mínimo possível, teriam visto que a doutora Annemarye Costa Brasil Bravo é uma das advogadas mais capacitadas deste país e não uma reles, como disseram mesmo… “Outra”!?
Eles baixaram as cabeças e pediram desculpas pela forma como haviam falado, reconhecendo que foram precipitados, além de se disporem a se desculpar com ela na primeira oportunidade que tivessem:
- Falarei com ela sim! Não sabem o transtorno que indiretamente causaram por causa de suas insinuações naquela noite, mas isso agora já não faz mais diferença… - Tomei uma golada forte do café e queimei a língua, mas, sem perder a pose, continuei: - E voltem a trabalhar no projeto entre as empresas. Independentemente do que ocorreu, é um negócio que pode ser muito lucrativo para ambas e não podemos encerrá-lo por um preconceito qualquer. Estamos entendidos?
Todos concordaram e assim, após combinarmos mais alguns detalhes, a reunião foi encerrada. Assim que eles saíram da sala de reunião, interpelei meu pai:
- O senhor está louco!? Por que fez isso?
- Por vocês! Vai me desculpar, mas fiquei fodido de raiva quando vi o que essa merda toda causou com vocês dois.
- Pai, eles foram precipitados, mas não estavam totalmente errados. Meu nome está na boca do povo mesmo.
- Fodam-se! Você é meu filho e fiquei mordido.
- Porra, quanto o senhor gastou para comprar o controle acionário da Imantec?
Quando ele me mostrou o valor da operação, fiquei ainda mais revoltado e bufei alto contra ele:
- O que é isso, pai? O senhor praticamente esvaziou o caixa da SaP. Porra, porra, porra… Como eu vou fazer para compensar isso nas operações que já estavam sendo executadas? Caralho, meu! Cê tá louco?
- Não seja bobo, Quinho. - Ele começou a rir da minha cara de preocupação: - Confie um pouco mais no seu velho pai, pode ser? Óbvio que eu já sabia disso e não daria um passo desse sem saber que podia alcançar o outro lado. Fiz um empréstimo com o Julian e está tudo controlado. O dinheiro que usei para fazer a opção de compra das ações saiu de lá, não do caixa.
- Tá, mas ainda assim é um empréstimo. Vamos ter que pagar alguma hora, né? E os juros?...
- Homem de pouca fé… - Disse e tomou um gole de seu café: - Só esse projeto entre as empresas pagará com sobras a compra. Além disso, tem aquele negócio de exploração mineral da Fazenda Ecoflora 1, do Rubens.
- Então, pai, queria falar com o senhor sobre isso. O senhor passou esse negócio para o Lelinho cuidar, mas não sei se é bem a área dele…
- Passei porque você estava com a cabeça virada naquela época, lembra? - Ele me interrompeu: - Posso “despassar” a qualquer momento, mas não acho que seria prudente fazer isso agora, porque você também está enfrentando uns problemas bem pesados.
- É mas, olha só…
- Não tem mais nem menos, Marcos. - Interrompeu-me novamente: - E outra coisa: você sabe que eu quero me aposentar em breve. Sabe que estou escolhendo quem irá presidir a SaP e, hoje, o Lelinho, está mais bem cotado que você na diretoria e no conselho. Põe o pé no chão e mete a cara na empresa, filho!
Senti o baque. A cobrança foi explícita demais e chegou numa péssima hora. Acho que me deixei abater mais do que pensei, pois o meu próprio pai notou o excesso que havia cometido:
- Não vou dizer que ele será o presidente, mas hoje, ele está mais bem cotado.
- Eu sei, pai. Vocês não têm culpa de nada. As situações é que se amontoaram contra mim. Eu vou dar um jeito, pode deixar.
Ele me olhou por um momento e depois pegou seu celular, cutucando-o por breves segundos em silêncio. Achei que a reunião tivesse terminado e me levantei, despedindo-me:
- Senta aí! - Ele me pediu: - Vou te enviar um negócio daqui. Só estou procurando… procurando… Merda de maquininha! A gente não acha nada quando quer… Ah! Aqui. Já te encaminhei.
- O que é isso?
- O relatório de análise da fazenda do Rubens. Só eu e o Lelinho tivemos acesso, agora você também. Analisa e me diz se não é uma boa fazermos negócio com ele.
- Quer resumir?
- Não. Quero que você analise e tire suas próprias conclusões. - Ele insistiu e mudou drasticamente de assunto: - Ah, mudando de pato pra ganso… Eu preciso que você busque um relatório em São Paulo para mim e agora. Pega meu helicóptero, mas tem que ser pra hoje, vai e volta. Faz isso pra mim?
Eu o encarei, curioso e até inconformado, pois sabia que eu não precisa ir buscar relatório algum. Tudo se faz e transmite pela internet nos dias de hoje. Além disso, em casos raríssimos em que a presença física se fez necessária, o “office boy” era o Juma, não eu:
- Pai!?
- Vai, vai, vai… - Ele insistiu, balançando a mão como se me empurrasse para longe de si: - E dá um abraço na Annemarye por mim. Fala que final de semana vou fazer churrasco e quero ela aqui.
[...]
- Anne!? O que é isso? Claro que não… - Erick me respondeu, branco.
- Então como um vídeo nosso foi cair na mão da Renata? Explica isso pra mim. Vai. - Insisti sem desviar meu olhar dele: - E o pior, é que aparece parte do meu rosto e se eu me lembro bem, em nenhum deles aparecia. Você mandou manipular os vídeos, Erick?
Ele de branco começou a avermelhar e fiquei com medo que tivesse um “treco” ali na minha frente. Pedi duas águas para a gente que nos foi trazida rapidinho. Depois dele ter tomado uma boa golada, vi que minha impressão estava errada, bem errada. Era raiva o que ele sentia, não medo:
- Pô! Você queria o quê? Pensei que a gente tivesse numa boa, eu cheguei a fazer planos para a gente e, de repente, você surge namorando outro cara. Puta traição essa, não acha?
- Não, não acho. A gente não tinha nada sério e ninguém manda no coração, Erick. Gosto muito de você, de verdade, mas, sei lá, faltava alguma coisa, química, eu acho… Não sei, mas alguma coisa, nunca encaixou direito entre a gente. - Respondi, sendo o mais carinhosa e clara possível: - Agora, daí você querer me prejudicar, principalmente dizendo gostar tanto de mim, eu não entendi, aliás, eu não entendo até agora.
- Você deve achar que eu sou um canalha, não é?
- Eu nunca pensei isso de você, aliás, eu tenho certeza que você não é assim. Eu nunca me enganaria tanto assim a respeito de uma pessoa. Pelo menos eu espero que não. - Fiz questão de frisar essa última parte: - Você vai apagar os vídeos, não vai?
Ele me encarava chateado, ainda inconformado em ter sido colocado em segundo plano, mas aparentemente entendia a seriedade de seus atos e do que significaria continuar com aquela chantagenzinha barata:
- Nunca manipulei os vídeos. Acontece que em um deles, você aparece de relance. Só isso. - Disse e pegou seu celular, mostrando uma pasta secreta e com senha onde estavam armazenados, apagando-os na minha presença: - Ó.
Mostrou-me o vídeo em questão e realmente, assistindo-o ali com um pouco mais de calma, tive a mesma impressão:
- Eu vou apagar na sua frente. - Disse e o fez.
- Na lixeira também. - Pedi e ele acessou a lixeira, apagando-os definitivamente.
Depois disso, ele acessou uma pasta na nuvem e me mostrou os mesmos vídeos, apagando-os em seguida e fazendo o mesmo na lixeira:
- Você tem mais alguma cópia?
- Eu acho que o Guto pode ter aquele no celular dele, apesar de que eu não enviei nada. - Respondeu e eu fiz uma cara de contrariada, mordendo os lábios com força para não xingá-lo, mas ele se adiantou: - Se ele tiver, vou fazê-lo apagar. Fica tranquila.
- Mais alguém?
- Talvez a Renata, já que ela te enviou, né? Mas eu resolvo, pode deixar.
- Seu pai?
- Não.
- Erick, seu pai chegou a me ver daquele jeito?
- Não, não viu. Eu não mostrei, mas não sei o Guto. Pelo menos, meu pai não comentou nada comigo.
Eu o encarei em silêncio por um tempo, analisando sua expressão corporal e, ou ele era um baita dum dissimulado, ou estava falando a verdade. Isso me trouxe um pouco de paz. Por ainda considerá-lo um amigo, contei como meu relacionamento com o Marcos começou e as idas e vindas que tivemos até conseguirmos nos encontrar e assumir tudo finalmente. Ele me ouvia atentamente e até riu de algumas passagens mais pitorescas. Por ter me sentido mais aliviada e feliz por sua postura, acabei confidenciando inclusive nosso mal entendido do final de semana na recepção do seu Julian e ele se sentiu no direito de se declarar novamente:
- Poxa, Anne, eu te amo pra caramba! Tenho certeza que até muito mais que ele. Você poderia me dar uma chance de te provar isso, não é? Olha só a filhadaputice que ele fez com você! Isso é coisa de canalha, no mínimo de um moleque…
- E o que você fez, não é também? Me expor como um objeto para seu irmão, Renata e sei lá mais quem, foi legal, “de boa” como dizem os jovens de hoje em dia… - Retruquei, zombando.
- Desculpa, eu nunca deveria ter feito isso. Nunca!
- Concordo! E, por mim, já está desculpado, mas eu queria que você confirmasse com seu irmão e a Renata o quanto antes e me avisasse.
- Eu vou. Faço isso ainda hoje e te aviso.
- Obrigada.
- Mas e a gente? - Perguntou uma vez mais.
- Erick, eu ainda estou com o Marcos. Ele me pediu dez mil desculpas e disse que não vai tornar noutra. Eu gosto dele pra caramba, mas também não vou negar que fiquei decepcionada. Ele nunca poderia ter me tratado daquele jeito, mas meu coração… Você sabe como são essas coisas, né? - Fui sincera e ele me olhou triste: - Talvez se não der certo entre eu e ele, quem sabe…
- Então, eu tenho chance?
- Depois dele, você é o primeiro da lista. Te garanto isso. - Falei, sorrindo, brincando.
Quase esquecemos que havíamos ido almoçar naquele local. Pedimos nossos combinados preferidos e o clima já estava bastante ameno entre a gente, a ponto de nos permitirmos maiores intimidades, como toques corporais, algumas cócegas e brincadeiras mais íntimas:
- E ele transa melhor que eu? - Chegou a me perguntar.
- Uai… - Sorri com as boas lembranças: - Cês dois são muito bom de serviço. Acho que ocê não perde em nada para ele não!
- Tá vendo? Você tá apostando no cavalo errado, Anne, e olha que de cavalo eu entendo.
Cai numa gostosa gargalhada e continuamos conversando bastante e sobre diversos assuntos. Tentei saber mais dele e de pretendentes, mas ele me disse que, fora umas ficantes, não havia tido nada sério com mais ninguém depois de mim, mesmo eu o lembrando que nós não tivemos nada sério também:
- Mas poderíamos, né? - Insistiu novamente.
- Ara, Erick!
Terminamos nossa refeição e saímos do restaurante. Ele me convidou para dar uma volta com ele pelo shopping e acabei aceitando. Quando meu olhar cruzou com o do Marcos, vi fogo e enxofre em seu olhar. Ele fez menção de se levantar, mas eu neguei com a cabeça, fazendo um discreto sinal de “joinha” para ele. Erick tinha visto ele uma única vez e acredito que não tenha notado sua presença. Passeei um pouco com ele pelos corredores do shopping e depois de um tempo nos despedimos em definitivo, indo ele para um lado e eu para outro, pois havíamos deixado nossos carros em partes distintas do estacionamento. Assim que ele sumiu da minha vista, fui agarrada pelo Marcos:
- Safada! Saindo com outro em plena luz do dia.
- O que é isso, Marcos!? - Falei por ter considerado a brincadeira inoportuna.
Entretanto, não pude deixar de sentir seu pau duro encaixado no meio da minha bunda e isso me intrigou. Virei-me para ele e o encarei séria. Sua expressão transitava entre a excitação e o alívio de ter-me em seus braços novamente. Como seu pau não abaixava, resolvi brincar:
- Marcos, você ficou excitado de me ver com outro?
- Ah, Anne, claro que não, né!
- Mas e esse pau duro aqui embaixo? - Falei sem tirar meus olhos dos dele: - O que é isso então?
- Sei lá! Acho que é saudade de você, só isso.
- Tá. Sei não, hein!?
Ele desviou o olhar, mas pouco depois me propôs:
- Você não tem um tempinho pra ficar comigo? Acabou que não tivemos nem tempo de namorar um pouquinho, né!?
Certifiquei-me da hora em meu celular e eu só teria um compromisso dali a duas horas. Achei-me no direito de abusar um pouco e concordei com ele, decidindo passear um pouco mais pelo shopping, o que fizemos até encontrar uma cafeteria bonita num canto mais isolado, onde nos sentamos mais retirados para namorar. A certa altura, ele tomou coragem para me confidenciar:
- Eu procurei uma psicóloga. Também não achei certo o que eu fiz com você e quero me certificar de que nunca mais vou fazer aquilo.
- Está tudo bem, Marcos, esquece daquilo, mas se você acha que isso te fará bem, dou todo o meu apoio, meu menino maluquinho. - Brinquei e ri, fazendo-o corar: - Brincadeira! Acho que será bom você se abrir com alguém que possa te ajudar a entender e enfrentar esse momento. Gostei demais da sua iniciativa.
- Pois é, mas ainda assim não foi correto.
- Não, não foi. Você deveria ter me contado o que aconteceu e eu teria te dado todo o apoio para você superar aquela barra naquele momento. Você deveria ter confiado mais em mim.
- Eu sei. Desculpa.
- Tá tudo bem. Só não repete, ok? Senão não caso mais com você!
Ele me encarou sério, surpreso e deu um lindo sorrisão, seguido de um abraço mais que apertado. Acabei me distraindo vendo um sapato na vitrine em frente de onde estávamos e ele voltou a falar:
- Eu acho que sim…
- Acha que sim o quê, Marcos?
Ele fez um breve silêncio e quando eu o encarei, sem que ele me olhasse nos olhos, continuou:
- Acho que me excitei vendo você com ele.
[...]
Saí do shopping com uma ponta de esperança de conseguir ter a Annemarye para mim. Pela primeira vez, acreditei que o plano da Renata de envolvê-la aos poucos, me tornando mais amigo que amante e depois demonstrando todo o meu sentimento por ela, poderia dar certo. Mas para eu ter alguma chance, eu teria que fazer meu pai abortar o plano de chantageá-la. Decidi seguir direto para seu apartamento, pois eu precisava convencê-lo com urgência.
Cheguei em questão de minutos e ele não estava. Todos haviam saído sem previsão de retorno. Como eu tinha uma cópia das chaves e autorização, entrei e os fiquei aguardando. Coisa de uma hora depois, eles chegaram com várias sacolas de compras:
- Erick!? Mas que surpresa boa. - Disse meu pai, recebendo-me com um abraço apertado: - Chegou quando?
- Há uma hora, mais ou menos, pai.
Guto também me recebeu com um abraço e o famoso soquinho entre irmãos, sendo seguido por um abraço apertado da Renata, somado a um olhar cúmplice. Aproveitei a oportunidade e cochichei em seu ouvido que havia conversado com a Annemarye, mas que falaria com ela mais tarde, o que a fez sorrir para mim:
- Senta, filho. Quer um whisky?
- Agora não, pai, almocei agora há pouco com a Annemarye.
- Ah é? Não brinca. E aí? Conta tudo pra mim.
Expliquei das cobranças quanto aos vídeos e da ameaça velada feita por ela a mim e a quem abusasse dos vídeos. Enfim, resumi a parte que não me comprometia romanticamente e pedi que eles apagassem os vídeos dela. Eles me olharam surpresos e claramente incomodados com meu pedido, mas eu frisei novamente que queria aquilo e não negociaria a respeito:
- Apaga os vídeos, Guto. - Meu pai pediu.
- Porra! Mas pra que isso, pai?
- Seu irmão está pedindo. Os vídeos são dele. É um direito dele.
- Ah, qualé!? Não vou apagar porra nenhuma!
Meu pai o encarou sério e ele, num olhar, entendeu que não poderia bater de frente, não contra ele, não contra o poderoso Rubens Severo Silva da Cunha Barreto. Muito a contragosto, Guto acessou seu celular e nos mostrou os vídeos sendo deletados:
- Da lixeira também, Guto. - Pedi.
Ele bufou, resmungou, xingou, mas no final fez:
- E os da nuvem?
- Quê?
- Da nuvem, Guto. Você não armazena nada na nuvem?
- Sei o que é isso não!
- Deixa eu ver seu celular? - Pedi.
Ele não parecia disposto, mas um novo olhar mais incisivo do meu pai, fez que ele mudasse de ideia. Olhei seu celular e fiquei pasmo ao descobrir que aquele agroboy era burro feito uma porta para as questões tecnológicas, realmente não usando nada na nuvem, não pelo menos daquele celular. Perguntei para a Renata se ela ainda tinha cópia do vídeo e ela me deu seu celular no mesmo ato, sorrindo, para que eu verificasse. Achei o vídeo e o deletei, confirmando o mesmo na lixeira do aparelho. Restava agora convencer meu pai a desistir do plano:
- Pai, a respeito do plano…
- O que foi, Erick? Vai desistir da sua amada Annemarye? - Ele me retrucou antes mesmo que eu tivesse tempo de falar.
- Não vou desistir dela, mas vamos dar um tempo no seu plano. Vou tentar conquistá-la na raça mesmo, sem usar chantagem. - Enfrentei-o com um olhar sério e compenetrado.
- Tá bom.
- Tá bom? - Perguntei, surpreso.
- Claro! Eu estava tentando te ajudar. Se você não quer, ou pior, se você acha que tem bala pra conquistar ela no braço, vai em frente. Paciência… - Ele me retrucou.
- Pai!? - Guto o interpelou, mais surpreso ainda.
- O que foi, Guto? Nós somos família. Não vou perder a amizade do meu filho por conta de uma biscate qualquer, mesmo sendo ela a doutorzinha Annemarye. - Falou de uma forma zombeteira me olhando.
Eu e Guto nos surpreendemos com sua postura, porém a Renata continuou olhando para ele como se não acreditasse em suas palavras. Preferi acreditar nele e acabamos mudando de assunto. À certa altura da noite, Guto nos disse que iria sair para beber com os amigos e meu pai se auto convidou para acompanhá-lo. Assim que saíram, Renata pulou em meu pescoço:
- Eu sabia que você não era como eles. Eu sabia!
- Senta. Quero te contar tudo.
Resumi minha conversa com a Annemarye e ela ouvia tudo com muita atenção e interesse redobrado depois que eu falei que o relacionamento dela estava um pouco estremecido:
- Mas que cara burro, Erick! Cê já pensou em convidar ela para sair ou, sei lá, oferecer seu ombro amigo para ela?
- Eu estava pensando nisso. Acho que vou ligar hoje ainda.
- Mas é lógico que vai ligar! Tem que aproveitar a oportunidade. - Ela insistiu, mas logo mudou seu semblante e me alertou: - Só vou te falar uma coisa: não confie tanto no seu pai. Eu acho que ele desistiu fácil demais, viu?
- Fica tranquila, Renatinha. Tenho certeza que ele não faria nada contra ela sabendo que eu não vou mais aprovar.
- Erick, não confia nele!
[...]
OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.
FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.