Censura à Carta do Descobrimento

Um conto erótico de Pero Vaz de Caminha
Categoria: Heterossexual
Contém 486 palavras
Data: 30/04/2023 22:40:13

Nesta terra, em se plantando, tudo dá! Pois digo, Vossa Alteza, e o faço pelo que há de mais sagrado, que a inocência desta gente, qual mansa e mui alegre, herdará bons frutos ao Nosso Senhor. Todavia, posto que ainda hão de abandonar os velhos costumes e aceitar a fé cristã, hei de contar também aquilo que se passou durante a noite de ontem entre alguns mareantes de Vossa frota e as moças que por boa vontade com eles se deitaram.

Estiveram elas perto enquanto mais cedo dançaram conosco eles ao som do tamboril. Ali, elas sempre mui quietas, cuidavam à distância como inocentes que pela primeira vez vissem fogo. Eram cinco, a saber novinhas e gentis, assim como nos pareceu ser a maior parte delas, pintadas de tintura vermelha em redor dos olhos e riscos pretos e pontilhados por toda a pele parda de seus corpos, ao longo dos braços e das coxas, especialmente nos quadris e nádegas. E sentavam nuas e às cócoras, de pernas abertas em frente aos nossos que as bem olhavam espantados, ainda que nem por isso elas se envergonhassem. Ora veja, Senhor, pois que nada além de cristas de penas amarelas, verdes e azuis encimavam-lhes a cabeleira mui preta e corredia, nada havia também que lhes encobrisse as vergonhas, tão aparadas quão limpinhas e convidativas. E foi de tal maneira natural que entregaram-se aos nossos homens.

Ordenara o Capitão que não houvesse escândalo, de sorte que assim continuassem mansos. Mas como que trouxeram-nas de bom grado para as conhecermos, e quanto a isso parecem fazer pouco caso, foram com elas alguns a beira-mar. E levaram-nos atrás das rochas, onde por o mar quebrar nada se ouve. Ali despiram-se eles logo, porquanto haviam tomado vinho e há semanas não sentiam o calor de uma mulher, e apanhando-as de pernas arreganhadas, deitaram-se rijos por cima na areia enquanto elas riam de tanta avidez. Se gemiam, é difícil dizer, mas decerto achavam graça, porque folgavam entre eles e sorriam umas com as outras. Então, vendo-as assim, exaltaram-se eles de tal maneira que nem mesmo o vaivém das ondas lhos arrefeceu os ânimos. E assim logo derramou o primeiro, a saber um dos grumetes que leváramos para vigiar os bateis. E tendo outra consigo também um mancebo, ora porque não quisesse emprenhar, revirou-se e tomou-o por trás sem pudor, saltitando várias vezes antes de fazê-lo corar. Depois, quiseram dois degredados fazer o mesmo e tomaram as suas por trás também, de mãos e joelhos no chão, à força. Mas desta vez elas pareceram não gostar e queixaram-se até que acabasse. O que me leva a crer que se arrependem de seus pecados e merecem a salvação.

Assim, Vossa Alteza, se hão de os clérigos lhes ensinar a santa fé católica, não parece mal que primeiro as deixemos ensinar às mulheres da nossa terra a cuidar dos homens, pois creio que melhor o sabem fazer.

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Comentários

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Sensacional Hypsoline! Muito bem contado, desafio cumprido. Legal abordar temas de história e com uma escrita bem elaborada como a sua! Sem contar o lado erótico, que bem conseguimos imaginar como possível de ter ocorrido! Parabéns! ⭐️⭐️⭐️

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Era para o conto ser um pouquinho mais longo, mas já havia chegado a 500 palavras na minha contagem e precisava publicar antes que terminasse o prazo. Acabei deixando para a última hora porque tive a ideia há poucos dias e achei que seria legal enviar no mesmo dia em que os eventos reais, descritos na carta original, ocorreram 523 anos atrás. Então, por essas razões, o final ficou um pouco abrupto e anticlimático. Mas fazer o quê? Também não espero que muitas pessoas leiam até o fim ou curtam, afinal, a linguagem é arcaica. Escrevi pela diversão e o desafio. De qualquer forma, agradeço bastante pelo comentário e elogios a este que é o meu primeiro conto!

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