Ainda sem dizer uma só palavra, pois não tinha o que responder para ele, o que deveria fazer com meu caso, continuei olhando para o nada, e fui novamente levado pelas lembranças daquele tempo em que tudo era bom, antes de tudo piorar drasticamenteLogo que ela foi embora, senti que tudo estava vazio. A casa que eu me acostumei a morar só depois da morte dos meus pais, era vazia. A oficina, o porão, o jardim, a garagem, o pomar, tudo era vazio, apesar de estar tudo sempre em seu devido lugar. Na semana em que ela foi embora, Maria Clara foi com ela pra cidade para aproveitar a viagem e buscar mais uma leva de coisas que havia deixado na casa delas, e lá passou a semana, então Elton e eu aproveitamos para passar as noites bebendo e confraternizando. Ele tava sem a esposa em casa, eu sem a namorada, ele se adequando à nova realidade na delegacia e se inteirando de tudo, e eu fazendo os móveis que me foram encomendados. Nós nos encontrávamos na casa de sua mãe, jantávamos, e depois ficávamos bebendo na varanda e trocando ideia até a hora de eu ir embora. Em algumas vezes, eu dormia em sua casa, por estar bêbado demais para pegar a estradinha pra minha casa, e como minha propriedade era mais rural, ficava afastada, não seria uma boa ideia dirigir nestes dias.
Na sexta de noite Clarinha retornou pra nossa cidade cheia de caixas e sacolas, e me contou como Joana estava triste e sentindo minha falta, que ela estava indo dar seus plantões no hospital de cara fechada, ficava só falando em como era ruim ficar longe de mim. Fiquei muito feliz em saber que não estava sentindo falta dela só, mas triste pela distância que nos fazia tão mal. Nesse dia bebemos os três juntos. Como eu normalmente não trabalho aos Sábados, decidi esticar aquela noite, e ficar na casa deles, afinal, poderia beber mais e aproveitar mais da companhia, pra não ficar só. Entre conversas, bebidas e petiscos, esvaziamos nós 3, 1 garrafas de vinho, e 1 de cachaça! Percebi pelo rumo da conversa que eles estavam querendo ir se deitar, afinal estavam longe há uma semana, e resolvi me retirar para o quarto de visitas, dando um abraço em ambos, e desejando boa noite.
No outro dia, me acordei bem cedo, e percebi que meus anfitriões ainda estavam dormindo. Com uma puta ressaca, e cheio de vontade de pegar o rumo de casa, me levantei, lavei o meu rosto, e fui até a cozinha preparar o café forte e sem açúcar para nós. Enquanto estava lá passando um cafezinho, a primeira a se levantar é Clara, que me dá bom dia e se senta à mesa esperando que o café fresquinho saia. Após servir-nos uma xícara, vejo Elton saindo do quarto em trajes ridículos pra um delegado, e o aconselhei a comprar novas roupas, no que fui prontamente mandado tomar naquele lugar, pois estávamos em sua casa e aquela era sua roupa favorita de fazer nada. Rimos bastante, me despedi dos amigos, e fui para minha casa.
No caminho de casa, fiquei pensando em como minha vida tinha mudado drasticamente nos últimos tempos, agora eu não tinha mais apenas a minha pequena marcenaria e a tia Ana pra cuidar. Meu amigo estava de volta, trouxe consigo uma esposa muito gente boa, e de quebra a coisa mais perfeita que existia nesse mundo, minha namorada. Chegando em casa, estava tudo um saco, e resolvi trabalhar um pouco. Minha oficina, tem algumas madeiras separadas, boas e ruins, e apesar de não ter nenhuma encomenda que estivesse fora do prazo, resolvi fazer alguns móveis à pronta entrega apenas para passar o tempo. Escolhi a pilha de madeira de baixa qualidade, pois queria vender rápido e barato para juntar uma graninha logo.
Passaram-se os dias, e a cada vez mais apertava a saudade. Eu e Joana nos falávamos sempre que dava, pois eu morava na área rural, e ela dava plantões no hospital, então eu tinha que ir até a casa de Elton para usar seu telefone quando queria falar com minha namorada. Entramos numa rotina, as vezes eu ia até BH para visitá-la, as vezes ela conseguia trocar folgas com uma colega para vir nos visitar. Nosso namoro ia de vento em polpa, e o sexo era sempre excelente, ela era uma menina bem desinibida na cama, não tinha nenhum tipo de amarras, na verdade eu e ela parecíamos ser feitos perfeitamente um para o outro.
Passado todo este tempo, e com tamanha intimidade, eu já tinha a chave da casa dos meus amigos. Era comum que eles não estivessem em casa, e como minhas ligações para Joana tinham horário marcado, precisava ter acesso à casa deles livremente. Em uma das vezes em que fui fazer a ligação, entrei achando que eles não estavam lá, mas me deparei com uma cena que eu jamais iria esquecer dali pra frente, e ouvi coisas que mesmo mais tarde esclarecidas iriam mudar muito minha percepção do mundo.
Julgando que não estivessem em casa, fui logo entrando pela porta dos fundos, e ao abrir a porta da cozinha, (eu sempre entrava por lá, era mais perto do telefone) ouço vozes e risos vindos da sala. Achando que poderia ser algum invasor, vou pé-ante-pé chegando até a porta para ver quem poderia ser o audacioso invasor da casa do delegado da cidade, mas o que vi me surpreendeu. Estava na sala, Um dos novos amigos de Elton, que conheci na festa de sua volta, um dos que não me deram atenção, e provavelmente nem o meu nome deveria saber. O problema, é que ele não estava sozinho. Ele estava aos risos e beijos com a esposa do meu amigo, eu não estava acreditando que a Maria Clara estava chifrando meu amigo dentro da sua própria casa, e com uma pessoa que se dizia “amigo”. Fiquei paralisado. Ela estava alisando o cacete daquele cara estranho por cima da calça, e olhando pra ele com uma cara de safada. Eu estava pronto para interromper, sair dali, procurar meu amigo e contar tudo pra ele... mas minhas pernas não se moviam. Não sei o porquê não consegui sair daquela casa, eu estava com raiva dela, e ao mesmo tempo com um frio na barriga, quando ela abriu os botões da camisa daquele cara, e foi beijando sua barriga, já com seu pinto em mãos e fora da calça, até de uma vez abocanhar aquela rola, e começar um boquete feito com maestria de profissional. Não sabia se eu estava com nojo ou com tesão.
Quando finalmente eu resolvo me mover e sair dali, ouço passos descendo a escada, e não pude acreditar no que meus olhos viam. Era Elton, saindo de dentro do quarto, de banho tomado, enrolado numa toalha. Ela ria e dizia.
- Vejo que resolveram começar sem mim! Como são ansiosos, hahaha
- Ai amor, você demorou muito no banho, não resisti, fiquei aqui conversando com o Rodolfo e ai acabou rolando – respondia Clara, com a piroca ainda em mãos e olhando de lado para o marido. Ela rapidamente volta a chupar.
Nessa hora, quando estava me virando para ir embora, escuto o tal Rodolfo dizer a frase que me faria ter vontade de sumir do mapa:
- Porra Elton, você fala isso mas como se daquela vez você e a Joana não tivessem começado bem antes da gente, hahahha.
Todos riram. Eu não. Saí o mais rápido que pude, mas fiz barulho na porta. Enquanto corria, vejo um assustado Elton gritando meu nome pela janela de casa. Entro no meu carro, e saio em alta velocidade no rumo de casa. Não teve ligação, não teve nada. Não me lembro nem quando cheguei em casa, nem como cheguei. Bebi todo o meu estoque de pinga, e praguejei aqueles desgraçados. Como poderiam mentir pra mim? Porque tudo aquilo? As coisas começaram a girar, e apaguei.
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Minhas lembranças foram interrompidas por Elton, que me apontando sua arma me ordena que troque as roupas sujas de sangue por outras limpas que me trouxe, e que colocasse as sujas dentro do saco preto que estava sobre a mesa. Ele me diz que se eu não sei o que fazer, terá que ser ele a tomar a decisão. E que em hipótese alguma, ninguém mais iria me ver novamente.