Capítulo 9 – Resgate de uma amizade
Tomado por aquele enorme vazio que o Yago deixou em mim perdi o foco sobre o meu futuro, uma vez que tinha como certo que ele seria compartilhado com ele. Perdi o interesse pela vida ao perceber o quão fugaz ela podia ser, e me questionei se tudo o que fazemos para vivê-la tinha realmente alguma importância. Aquele luto parecia não ter fim, e estava me impedindo de seguir adiante. Com o diploma universitário na mão, me perguntava o que fazer com ele, se todo aquele esforço teria valido à pena, se não foi apenas uma ilusão que me moveu enquanto se parecia com um sol dourado a brilhar no horizonte. Foram meses sem dar um único sorriso, como se os músculos responsáveis por produzí-lo tivessem se esquecido de como o fazer.
- Você não pode continuar assim, filhão! Precisa reagir, a vida não acabou para você! Lembre-se do que o Yago vivia repetindo nos últimos meses antes de falecer, que era para você fazer de tudo para ser feliz por vocês dois; que estivesse onde estivesse, ele ia torcer e zelar pela tua felicidade, pois tinha sido isso que você fez por ele, o homem mais feliz sobre a face da terra quando esteve ao seu lado. Não negue isso a ele, filhote! – meu pai sabia como tocar nos meus pontos fracos para me chantagear. Mencionar o Yago ainda doía muito, ainda era um bom motivo para me fazer pensar e agir, e ele se valeu desse meu calcanhar de Aquiles.
- Ele não está mais aqui, pai! O que eu vou fazer sem ele, se tudo estava pensado e direcionado com ele participando de cada novo passo? Eu nunca mais vou ser feliz, paizão! – devolvi desolado.
- Vai sim, filhote! Pode não parecer, mas quando você menos esperar vai dobrar uma esquina qualquer e a felicidade estará lá pronta para que você a viva! – não se passava um dia sem que ele me encorajasse a prosseguir. – Eu já sei o que vamos fazer, vamos viajar! Uma viagem mais longa, mais fora do trivial, o que me diz? – sugeriu.
- Não estou no clima para uma viagem! Quero ficar por aqui, onde o Yago está mais próximo de mim, ao menos as lembranças dele. – respondi.
- Não importa onde você estiver, Theo, as lembranças dele sempre estarão com você. O legado que ele te deixou nunca vai deixar de existir, você o carregará pelo resto da vida. Mas, para isso, é preciso que você viva, o mais intensamente possível, para que a memória dele tenha o valor que merece. – argumentou.
Os pais do Yago também vieram ter comigo, por diversas vezes, com discursos muitos semelhantes aos do meu pai. Nossos primeiros encontros após a partida do Yago foram de apoio mútuo; mas, depois, percebendo que me depressão não passava, começaram a me incentivar a continuar em frente. Chegaram a me fazer a mesma proposta, uma viagem, que estavam dispostos a custear para me tirar daquela tristeza profunda. Até então, eu não tinha me dado conta do quanto eles me amavam, não só por toda dedicação que dispensei ao filho deles durante o tratamento da doença, como pelo amor imenso que devotei a ele. O filho biológico deles se foi, mas eles transferiram todos os sentimentos que tinham por ele para mim. Se tornaram meus pais, os segundos com os quais a vida me presentou.
Enquanto a questão da viagem ainda permanecia em análise, recebi uma ligação de um dos professores da faculdade me sugerindo fazer uma pós-graduação na Universidade Pompeu Fabra em Barcelona, pois tinha um colega que lecionava na universidade e que havia lhe oferecido cinco bolsas de estudo para alunos que indicasse. Como eu tinha sido o melhor aluno em sua disciplina, meu nome veio-lhe à mente como um dos a ser indicado.
- É uma chance única, Theo! Ficaria muito feliz se a aceitasse, uma pós-graduação na Pompeu Fabra vai valorizar muito o seu currículo, te trazer novas perspectivas, abrir caminhos que você nem imagina. É uma bolsa integral, inclusive com moradia e um pequeno aporte financeiro, porém suficiente para você se manter por lá sendo econômico. – a proposta me soou tentadora, pela primeira vez em meses minha cabeça começou a se ocupar com algo diferente do luto.
- O que preciso fazer, professor?
- Em primeiro lugar, venha falar comigo, tenho tudo aqui comigo para fazer o encaminhamento. Tenho dois meses para fazer as indicações, e estou te esperando, ok?
- Vá, filhão! Viu como os horizontes estão se abrindo para você outra vez? – incentivou meu pai, assim que lhe dei a notícia.
- Mas, e você, pai, não quero te deixar sozinho! – eu nunca havia me afastado dele, e essa possibilidade estava tirando metade do prazer que sentia pelo convite.
- Isso ia acontecer de qualquer forma algum dia, Theo! Nós pais criamos os filhos para o mundo, não para nós mesmos. Todo pássaro um dia cria asas e deixa o ninho, voando por si mesmo. A sua hora de alçar voo chegou, Theo, e eu estou radiante com isso. – sentenciou meu pai.
- Não sabia que estava tão louco para se livrar de mim! – exclamei, pois não me imaginava longe desse homem que significava tudo para mim.
- Não seja dramático, filhão! Nunca quis me livrar de você, só quero que viva a sua vida. – devolveu sincero. Mesmo assim, fui abraçá-lo, pois não me imaginava não podendo mais fazer esse simples gesto todos os dias.
Fui ter com o meu ex-professor, eu ainda teria um semestre pela frente antes do início da pós-graduação, o que me daria tempo suficiente para me preparar e, inclusive, fazer a tal viagem com o meu pai antes de me mudar para a Espanha por dois ou três anos. Cerca de um mês depois de ter deixado tudo acertado com meu ex-professor, meu pai e eu fomos passar cinco semanas na Nova Zelândia entre paisagens paradisíacas, muita aventura e desfrutando de cada minuto juntos. Nosso roteiro começou na ilha norte num hotel em Tauranga na região da Baía Plenty, foi onde também voltamos a manter relações sexuais, as primeiras depois daqueles meses de luto pelo Yago. Satisfazer meu pai e voltar a sentir o prazer percorrendo meu corpo quando o cacetão dele vibrava no meu cuzinho me fez sentir vivo novamente. E, aquelas semanas resgataram aquela parte do nosso relacionamento que tanto aprazia a ambos, e ficara adormecida desde que meu namoro com o Yago se oficializou, uma vez que nunca me entreguei a outro homem enquanto estávamos juntos.
Voltei bem mais animado daquela viagem, já não ficava mais horas e horas fechado no meu quarto sonhando com o impossível, afundado no pranto e na dor. Comecei a providenciar toda a documentação para a pós-graduação na Espanha, o que também ajudou a me manter ocupado. Remexendo minha caixa de documentos, à procura do histórico escolar do ensino médio, encontrei algumas fotografias com os colegas da turma, entre eles o Túlio. A última vez que o vi foi quando fizemos a inauguração da casa nova; depois, os vestibulares e o ingresso em faculdades distintas foi nos afastando pouco a pouco, arrefecendo aquela amizade que outrora fora tão intensa e constante. O saudosismo me levou a procurá-lo. O Túlio sempre foi muito presente na minha adolescência e, apesar de estar me preparando para um novo afastamento, achei que seria interessante resgatar aquele companheirismo que nos unira por tantos anos.
- Oi, Sr. Luiz! Como vai? – cumprimentei quando o pai do Túlio veio me receber à porta do apartamento no condomínio em que morei até meu pai construir a nossa casa atual.
- Olá, garoto! Há quanto tempo, Theo! Nossa, como você mudou desde a última vez que eu te vi! O que foi, quatro, cinco anos por aí? Entre, entre! Como está o Gustavo? A Hermínia e eu o encontramos há algum tempo no shopping. – retrucava ele, amistoso e com seu bom humor habitual.
- Cinco anos, Sr. Luiz, no mínimo! É, meu pai mencionou que encontrou vocês e que precisávamos combinar um churrasco, mas o tempo foi passando, e sabe como é, a gente se perde nas obrigações do dia a dia. – devolvi. – E o Túlio como está, eu vim vê-lo! Também faz cinco anos que não o vejo. – continuei, expondo a razão da minha visita.
- Está bem! Foi efetivado em março na empresa em que foi trainee durante a faculdade e parece estar gostando bastante. Andou recentemente umas semanas meio macambuzio quando terminou um casinho com uma namorada, mas já está saindo atrás de outras nas baladas que o fazem chegar em casa quando o dia está clareando. Coisas da juventude, coisas boas que vocês devem aproveitar bem, pois não voltarão jamais! – afirmou encorajador. – Hermínia, venha ver quem resolveu dar o ar da graça, o Theo! – emendou, chamando pela esposa.
- Oi, Theo! Que prazer ver você novamente! Como você está lindo, rapaz! Aposto que a mulherada não te dá sossego! Ele não está lindo, Luiz? Como vai seu pai? – senti saudade desse entusiasmo com o qual sempre fui tratado naquela casa, desde criança.
- Vai bem! Faz quinze dias que voltamos de uma viagem à Nova Zelândia, foi espetacular. – revelei.
- Seu pai é um homem de valor, a maneira como ele te criou e como se desdobrou sendo pai e mãe ao mesmo tempo depois que sua mãe faleceu, é algo digno de elogio e admiração. – senti muito orgulho de ouvir esse elogio ao meu pai.
- É sim! Eu o amo muito! Não podia querer um pai melhor do que ele. – devolvi.
- O Túlio foi jogar futebol com uns amigos, mas deve estar chegando para o almoço. Você almoça conosco, temos muita conversa para colocar em dia. Eles se encontram todos os domingos num campo que alugam num clube lá para os lados de Santo Amaro. – revelou o pai dele.
O Túlio, de fato, não tardou a chegar. Eu abri um imenso e sincero sorriso de felicidade quando adentrou à sala, e fui abraçá-lo todo entusiasmado com nosso reencontro. Para minha surpresa, e parece até dos pais dele, ele se limitou a me estender a mão, esquivando-se do meu abraço e de um contato físico mais efusivo.
- Oi! – cumprimentei, um pouco sem jeito pelo desapontamento daquela recepção fria.
- Oi! – devolveu ele, soltando minha mão.
- Há quanto tempo, não é? – subitamente me senti como se estivesse diante de um estranho.
- Pois é!
- Como você está? O que tem feito?
- Tudo bem! Nada de excepcional!
- Seu pai me disse que você está num emprego legal! Como é?
- Nada muito diferente de qualquer outro emprego! – respondeu. Eu não sabia o que o estava levando a dar respostas tão evasivas depois de tanto tempo afastados e de uma amizade que tinha sido sempre tão compartilhada.
- Vejo que continua um fã ardoroso de futebol, você sempre curtiu tanto jogar quanto torcer pelo Palmeiras. Vocês andaram ganhando alguns campeonatos por aí, pelo pouco que sei de futebol. – mencionei, tentando entabular uma conversa que parecia não estar querendo deslanchar.
- É isso aí! – respondeu seco, o que levou os próprios pais a se perguntarem o que estava acontecendo.
- Vou terminar o almoço, você me dá uma força Luiz? – perguntou a mãe dele, levando consigo o marido até a cozinha e nos deixando a sós. – O Theo almoça conosco, Túlio, veja se ele não quer um suco, uma cerveja ou outra coisa qualquer. – eu já estava me sentindo desconfortável com aquela situação e, não fosse em respeito ao carinho dos pais dele por mim, teria abdicado do almoço e ido embora.
- Está tudo bem com você? – arrisquei-me a perguntar quando ficamos sozinhos.
- Sim, por quê?
- Não sei, você me parece aborrecido com alguma coisa. Estou tão contente em te rever. – declarei sincero.
- Está tudo bem comigo! – respondeu. Em nenhum momento desde que entrou na sala, ele perguntou qualquer coisa sobre mim, o que me levou a concluir que o problema era eu.
- Está aborrecido comigo? Eu fiz ou falei alguma coisa que te deixou zangado? Se é isso, me diga, pois não me lembro de ter feito qualquer coisa que pudesse te magoar. – questionei.
- O que veio fazer aqui? – indagou friamente
- Vim ver você! Estava com saudades dos nossos papos e de tudo mais. Queria saber o que andou fazendo nesses últimos cinco anos, a gente não se falou mais, nem trocamos mensagens. – respondi
- Talvez tenha sido por que você estava ocupado dando o cu por aí. Cheguei a saber que até um namorado você arranjou para te foder. – retrucou sarcástico, me deixando sem palavras.
- Caraca, Túlio! Eu não esperava isso de você! – devolvi perplexo e magoado.
- E o que você esperava, que eu te levasse para o meu quarto e enfiasse minha pica no seu cu? Foi isso que você veio procurar? Cadê o macho que estava te fodendo? – inquiriu tão veemente e cruel que comecei a chorar. – Você virou gay, não é mais o meu amigo Theo! É um viado!
- Nem sei o que dizer! Pensei que teríamos um reencontro legal, não assim. Não te procurei para transar com você, jamais aventei essa possibilidade em todos esses anos que fomos amigos. Eu nunca me insinuei ou propus qualquer coisa nesse sentido com você. E meu namorado morreu faz alguns meses, se te interessa saber. – devolvi
- Se você tivesse vindo para o meu lado com essa viadagem eu teria arrebentado a sua cara. E, estou pouco me lixando se seu macho morreu ou não. Arranja outro, o que não deve faltar é macho querendo enrabar essa bunda. – comecei a sentir falta de ar, fazia força para engolir o choro, senti desprezo pelo Túlio usar de um vocabulário tão chulo e preconceituoso menosprezando o Yago e o amor que tínhamos um pelo outro, sendo expresso com tamanha vulgaridade.
- Sabe o que é irônico nisso tudo, Túlio? Você sempre se referiu ao seu irmão, o Thiago, como um cara grosseiro, mal-educado, desrespeitoso e sem-vergonha que só pensa em foder quem encontra pela frente. Um troglodita, um garanhão inescrupuloso se bem me lembro dos adjetivos com os quais o classificava, enquanto você era o ajuizado, o cara de bom senso, o certinho. Pois bem, Túlio, para seu governo, seu irmão é mil vezes melhor do que você, tem muito mais caráter, é muito mais sensível e verdadeiro que você. Ele ao menos não se esconde atrás de uma máscara preconceituosa, vê nas pessoas aquilo que elas têm de bom, o que as deixa temerosas e as aceita como são. – declarei
- Você chegou a essa conclusão toda tendo visto ele uma meia dúzia de vezes, chega até a ser engraçado. O que você é, psicólogo? Ou está apenas dando seu palpite sobre alguém que não conhece? – retrucou petulante.
- Você está certo, vi seu irmão apenas algumas poucas vezes, mas conheço-o certamente muito mais do que você que conviveu anos ao lado dele. Conheço seu irmão profundamente, pois foi ele quem me desvirginou, aqui mesmo, nesse apartamento, no dia em você ficou de me ensinar como se faz uma pipa. – revelei, deixando-o boquiaberto e sem palavras. – Seu irmão foi tão sensível que mesmo naquele breve contato, soube que eu era gay e, ao contrário do que você acabou de afirmar, eu não virei gay, eu nasci gay, e foi seu irmão quem me fez aceitar a mim mesmo nessa condição. Para sua informação, ninguém acorda um belo dia e diz – a partir de hoje vou ser gay – a gente se descobre gay mesmo não sabendo como lidar com essa situação. E o seu irmão me mostrou da maneira mais sublime e carinhosa o gay que estava escondido em mim. – afirmei
- Isso só vem a confirmar a bicha safada que você é! Dar em cima do irmão do seu melhor amigo dentro da própria casa dele só para levar uma rola no cu. Puta escroto! – revidou. Eu fui atrás dos pais dele na cozinha, sem conseguir disfarçar o choro e me despedi deles.
- Sr. Luiz, dona Hermínia, obrigado pelo convite para o almoço, mas não vou poder ficar. Obrigado também pela recepção calorosa e pelo carinho com que sempre me trataram. Me perdoem por ter vindo aqui, foi um erro. Eu nunca imaginei que o Túlio tivesse tanta raiva de mim. – sentenciei confuso e atropelando as palavras para poder sair o quanto antes dali.
- Espera, Theo! O que foi que aconteceu, garoto? Por que você e o Túlio brigaram? Você não pode sair daqui nesse estado, sente-se e acalme-se, nos conte o que aconteceu. – pediu o pai dele
- Vamos lá, Theo! Conta para os meus pais que é gay e que veio dar o cu para o meu irmão aqui dentro da nossa casa. Fala, Theo! – interveio o Túlio, me desmascarando diante dos pais.
- Cala a boca, Túlio! – berrou a mãe dele.
- Me perdoe, Sr. Luiz, dona Hermínia! Mas o que o Túlio está falando é verdade, eu e o Thiago .... – fiquei sem jeito de continuar, tamanha vergonha estava sentindo.
- Não, não está falando a verdade! – exclamou o pai dele. – Faz muito tempo que o Thiago nos contou o que fez com você, como te desvirginou e, sentindo-se culpado abriu o jogo conosco, pedindo nossa opinião sobre o que fazer para consertar o que tinha feito. Ninguém aqui está condenando vocês por isso. Aconteceu, ninguém pode ser culpado de nada, as circunstâncias que levaram você e o Thiago a transarem e se descobrirem é de razão exclusiva de vocês dois. – ele me dizia isso, passando o braço sobre meus ombros na cadeira em que me fez sentar, ao mesmo tempo em que mãe do Túlio colocava um copo d’água nas minhas mãos tremulas.
- Você sempre será bem-vindo em nossa casa, Theo! Da mesma forma que não condenamos a conduta do Thiago, apesar das recomendações que lhe fizemos, ninguém vai julgar a sua. Vimos você praticamente crescer junto com o Túlio, e sabemos o garoto maravilhoso que você sempre foi.
- Caralho! Vocês só podem estar de brincadeira! O depravado do Thiago fode meu amigo debaixo do teto de vocês e ainda posa de bom moço! Esse viado vem aqui para ser enrabado e é chamado de maravilhoso, só pode ser piada! O que deu em vocês, estão ficando gagás? – questionou sarcástico o Túlio.
- Você devia ter vergonha nessa cara de falar assim do seu irmão e do seu amigo! Não merece nenhum dos dois! – sentenciou o pai dele.
- Vão à merda, todos vocês! Fodam-se! – revidou, saindo novamente para a rua.
Como os pais dele não me deixaram ir embora, e continuaram insistindo naquele almoço, eu fiquei, e acabamos falando demoradamente sobre o Thiago.
Há coisas que se perde para sempre, a amizade do Túlio foi uma delas. O que teria acontecido com aquele menino de seis anos que pegou na minha mão para me encorajar a enfrentar meu primeiro dia na escola maternal, ao longo dos anos, para transformá-lo naquele ser irreconhecível? Talvez eu jamais fosse encontrar a resposta. Dias após aquele nosso reencontro desastrado, eu me lembrei da teoria de Charles Darwin que postula que os seres vivos se adaptam ao meio ambiente em sua trajetória evolutiva. Não dava para descartar essa hipótese no caso do Túlio; o meio o transformou, mas, certamente, não para uma posição mais evoluída, e sim, para um campo fechado de conceitos obsoletos e uma moral decadente.