Jornada de um Casal ao Liberal - Capítulo 15 - Alvorecer - Parte 21

Um conto erótico de Nanda
Categoria: Heterossexual
Contém 6538 palavras
Data: 09/04/2023 17:15:11

Comecei a me movimentar lentamente, mas, como ela reagia bem, aumentei a velocidade sem medo de nos fazer feliz. Bombava forte, profundo e rápido, fazendo com que nossos corpos se chocassem, fazendo aquele barulho característico de “plaft-plaft-plaft” que tive que controlar para não despertar nossas filhas. Infelizmente não pude também lhe dar uns merecidos tapas, algo que aquela deliciosa bunda pedia, aliás, gritava por. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas logo dávamos sinais de que iríamos gozar, ela mais ainda porque se tocava incessantemente desde que iniciei a penetração. E foi isso que aconteceu. Ela começou a se contorcer e tremer, escorregando pela cama e me levando junto dela, onde bombei mais algumas vezes até explodir definitivamente numa deliciosa gozada:

- Cê tá pesado… - Ela resmungou enquanto eu ainda me recuperava, em cima dela.

Rolei para o seu lado e da forma que estávamos, adormecemos, sem trocar mais nenhuma palavra. Aliás, se não me engano, ainda falarmos que nos amávamos um para o outro, mas não tenho bem certeza.

Na manhã seguinte, fomos acordados pelo despertador do meu celular, lembrando que nossa viagem estava chegando ao fim. Nanda já estava acordada e me fitava com um olhar carente, saudoso, triste até. Era chegada a hora de nos despedirmos.

[...]

Quando entramos em nosso quarto, eu já estava acesa e tomada por um tesão fora do comum. Colocamos nossas filhas para dormir e já nos pegamos. Foi uma das transas mais gostosas que já tivemos. Eu queria, ele queria, nós nos queríamos e tudo conspirava a favor, menos nossas filhas no quarto ao lado que limitavam um pouco nossa “liberdade de atuar”. Ainda assim aproveitamos deliciosamente bem e gozamos várias vezes. Eu me esbaldei e acho que ele também. Aliás, ele eu tenho certeza e nisso nós mulheres temos vantagem de goleada: porque sabemos quando um homem goza, enquanto eles podem apenas supor que a gente goza; e, porque podemos gozar várias vezes numa única transa, enquanto eles precisam de um tempo entre uma e outra. Terminamos com um anal gostoso, mas mais delicioso que isso, foi ouvi-lo dizer que me amava quando já apagava sem forças. Saber de seus sentimentos por mim fazia toda a diferença e eu quis que ele soubesse também, declarando-me para ele duas vezes, sem resposta, ele já havia partido para os domínios de Morfeu.

Dormi como um anjo, acabada, satisfeita, gozada, mas extremamente feliz. Ainda assim na manhã seguinte, bem cedinho, o sol não havia sequer se levantado e eu já estava acordada. Sentei-me junto à cabeceira da cama e fiquei olhando aquele homem que tanto me realizava, apoiava, ajudava, perdoava e eu não conseguia entender porque ele havia me escolhido, e permanecido! Afinal, eu já havia aprontado cada cagada com ele que nada justificaria ele estar ainda ao meu lado. Talvez eu não fosse a melhor para ele, talvez a Denise ou a Iara, quem sabe, mas fato é que ele me queria e eu só poderia fazer de tudo para merecê-lo cada vez mais.

Pensando, buscando motivos, razões, meu coração, o único de quem eu não esperava nada mais que sentimentos, foi o único que me deu uma resposta racional: “porque ele te ama, sua boba, porque você é a Nanda, a mulher que o completa”. Nesse momento, eu comecei a refletir e, realmente, eu era o que ele queria que eu quisesse ser. Ele nunca me obrigou a nada, mas sempre deixou uma porta aberta e sempre que eu quis, ele me apoiou. Talvez eu fosse muito mais do que eu própria imaginava e esse seria o motivo para ele estar ao meu lado, ele me via além do que eu mesma conseguia enxergar em mim.

Eu nunca fui “a mais, mais” em nada, mas sempre fui acima da média em tudo: no carinho, no zelo, nos cuidados, no amor, no sexo. Ah, no sexo… Este é um capítulo à parte que continuo desenvolvendo dia a dia, com ele, sem ele, com outro, mas sempre para ele, aliás, para nós. Talvez fosse isso que o prendia a mim, eu ser eu e sempre tentar ser ainda melhor do que eu já era.

Ali imersa em meus pensamentos, acabei chorando, grata, feliz e já saudosa da minha família que teria que ir embora. Eu não queria que fossem, queria eles ali comigo, do meu lado, para sempre, mas isso não seria possível, não agora, pois eles tinham suas obrigações. Só essa viagem, esse estar junto comigo, havia lhes custado bastante, mas também lhes propiciado muito. Acabei nem me dando conta de que o despertador do celular do Mark já tocara e que ele, após desligá-lo, já me fitava em silêncio por um tempo:

- Bom dia, oh luz que ilumina a minha vida. - Ele brincou: - Porque essa carinha triste?

- Eu quero ir embora com vocês. - Falei no impulso, sem sequer pensar nas consequências.

Ele se levantou, coçou os olhos e me encarou, surpreso. Pediu para eu repetir o que falara há pouco e eu o fiz. Ele agora não parava de me olhar, calado, mas pouco depois falou:

- Se quiser, é seu direito estar conosco e será um prazer. Só não sei como ficará sua imagem na empresa, afinal você está aqui em treinamento para assumir provavelmente um cargo de chefia.

- Se você me aceitar, eu queria ir embora. Eu aceito trabalhar em cargo inferior, senão arrumo outro emprego, sei lá. Só não quero ficar longe de vocês.

- Aceitar!? Você tá louca? É claro que eu quero que você volte para casa. A questão é que falta só uma semana, Nanda…

- Eu sei! - O interrompi, já com lágrimas nos olhos: - Mas, poxa…

Não aguentei mais e o abracei, chorando, saudosa da minha família que ainda estava ali. Ele não disse mais nada, mas me acolheu num abraço que eu necessitava tanto. E sem falar nada, só me abraçando, só de sentir seu coração junto do meu, ele me aconselhou bem demais, me deu forças novamente para eu tomar uma decisão que seria a correta naquele momento:

- Eu vou ficar. Já está acabando mesmo…

- A decisão é sua.

- Eu sei. Eu fico.

O abracei novamente e o beijei com todo o amor que eu tinha guardado no meu peito. Não queria sexo naquele momento, queria que ele soubesse que, acima de qualquer coisa, o meu amor era só dele, único e exclusivamente dele! Ele entendeu bem, porque o beijo foi magnífico:

- Nossa, hein!? - Ele falou quando nossos lábios se separaram, enfim: - O que foi isso?

- É o amoooorrrrr! - Cantarolei, puxando naturalmente o “erre”, fingindo um sorriso alegre, enquanto ainda enxugava uma lágrima.

Levantamo-nos então e fomos acordar as meninas. Todos eles precisavam se arrumar, tomar um café reforçado e ir para o aeroporto. Nos vestimos, peguei minha bolsa e fomos até o restaurante do hotel. Enquanto comíamos, dei uma olhada na ordem do dia de meu treinamento e vi uma mensagem do Paulo, liberando a minha manhã para poder acompanhá-los ao aeroporto. Mostrei para o Mark que me olhou com uma cara e disse:

- Que chefinho bonzinho, hein? - Disse e me deu uma olhada com indicação de um “algo a mais” contido na gentileza do Paulo.

- Ah, tem nada disso não! Cê acha mesmo que é para eu ficar devendo um favor? - Perguntei.

- Não sei, mas que parece, parece.

Fiquei encucada com aquilo, mas não acreditava que fosse para tanto. Pessoalmente, eu imaginava que fosse apenas uma gentileza do Paulo, ciente de que minha família estaria indo embora na manhã do dia seguinte ao nosso jantar. Ainda assim era algo para se cogitar e eu, de qualquer forma, não gostava de não cumprir minhas obrigações. Decidi então que os acompanharia até o aeroporto e ficaria o suficiente para ter tempo de chegar ao meu treinamento.

Tomado nosso café, subimos e os ajudei a se organizarem para a viagem de volta. Cada roupinha dobrada, cada mala fechada, cada abraço dado, era uma facada nova no meu peito. Teve uma hora que não aguentei e me tranquei no banheiro para chorar sozinha, pois minhas filhas não precisavam sentir a dor que eu estava sentindo. Elas sofriam, cada uma a seu jeito, Mary fechada e calada num canto do quarto me olhando e fingindo ser forte, e Miriam andando do meu lado, grudada a mim, abraçada à minha perna para tudo o que estávamos fazendo. Mark era o esteio que as mantinha firmes, de pé, interagindo, conversando, brincando, explicando que o treinamento estava terminando. Ainda assim a dor era insuportável, sufocante, necrosante…

Ele ligou para a portaria e solicitou o “check out”. Depois descemos com as malas e, terminados os procedimentos de praxe, pegamos um táxi até o aeroporto. Fomos eu e as meninas no banco de trás, comigo ao centro abraçada as duas, enquanto Mark se sentou na frente ao lado do motorista:

- Vou ficar com vocês um pouquinho e depois vou para o treinamento. - Falei para eles.

- Quando você vai embora, mãe? - Mary me perguntou e a irmã me encarou também.

- Semana que vem já estou em casa. - Respondi, apertando o abraço em ambas e lhes dando vários beijos na tentativa de sufocar minhas lágrimas que já faziam brotar.

Mark mantinha-se calado e olhava o trânsito. Pela primeira vez em tempos, tive a impressão de vê-lo com os olhos marejados. Acho que o muro que ele havia construído a sua volta, cujas colunas usava para sustentar suas filhas e a mim, começava a fraquejar. Meu marido, enfim, dava sinais de sentir nossa separação. Não me aguentei e o abracei por trás, chamando inclusive a atenção do motorista:

- Semana que vem estarei em casa, para nunca mais sair do lado de vocês. - Cochichei em seu ouvido, terminando por lhe beijar a face: - Não precisa ficar assim.

Ele apenas balançou afirmativamente a cabeça quando o soltei, sem sequer me olhar, mas eu sabia bem o que ele estava sentindo, porque eu sentia o mesmo, e doía demais. Chegamos ao aeroporto e ele foi até o balcão da empresa fazer o “check in” dele e das meninas. Com os cartões de embarque, retornou e ficamos aguardando o voo. Infelizmente, o meu tempo ali terminaria antes do embarque deles e comecei a me despedir de minhas filhas para ter um tempo suficiente para nós. Resumo, juntas conjugamos o verbo chorar em sua plenitude: eu chorei, elas choraram, nós choramos e ainda conjugaríamos as formas no futuro também. Mark fingiu não chorar, mas chorou, principalmente quando eu o abracei e vi seus olhos cheios de lágrimas e o rosto úmido de algumas secadas recentemente sem que nós víssemos. Eu era uma cascata incessante e ainda ousei ser forte por ele, beijando-o, acariciando-o, conversando, explicando, me declarando…

Dei um último abraço em todos e fui me afastando de costas até ter que retornar para devolver a Miriam que havia corrido para me abraçar uma última vez, desafiando o restante das minhas forças. Mark a pegou no colo e consegui sair. Afastada e disfarçadamente dei uma última olhada neles, somente para ver que Mark já havia se virado e tentava distrair as filhas com alguma conversa. Fui para o ponto de táxi e de lá, chorei horrores até chegar no local do treinamento. Passei pelo banheiro para tentar amenizar meu estado, mas as olheiras eram indisfarçáveis. Entrei na sala, onde os procedimentos já haviam se iniciado e me sentei no meu local de costume:

- Nanda, que cara é essa, mulher!? Aconteceu alguma coisa? - Cíntia me perguntou: - Não vai me dizer que brigou com o marido?

Eu balancei minha cabeça negativamente, querendo não conversar para não desabar novamente, mas minha língua grande me traiu:

- Acabei de deixar minha família no aeroporto…

Ela não disse mais nada. Apenas me deu um abraço apertado e um beijo na face, colocando-se à minha disposição para o que eu precisasse. Respirei fundo e consegui não chorar para fora, mas minha alma estava inconsolável. Só então notei um lugar vago na sala que antes era ocupado pela Verônica. Realmente, parece que ela havia colhido os frutos de sua discórdia.

[...]

Assim que a Nanda saiu de nosso campo de visão, consegui controlar um pouco a ansiedade das meninas. Miriam ainda choramingava um pouco, mas a Mary, espelhada até demais em mim, fingia-se de forte e já tentava distrair a irmã. Nosso voo não demorou mais que trinta minutos para ser anunciado. Embarcamos e voltamos para São Paulo. Maryeva novamente cedeu o lugar à janela para a irmã, enchendo-me de orgulho pela maturidade que demonstrava estar adquirindo.

Não houve nenhuma novidade relevante. Maryeva trouxe consigo um baralho de Uno e um outro, convencional, e elas vieram jogando praticamente toda a viagem. Miriam, com uma esperteza fora do normal para jogos, venceu a maioria das partidas, mas isso não importava, pois o que queriam era se divertir, se amparar e souberam fazer isso magistralmente. Antes de decolarmos, avisei Denise de nossa saída e o horário provável de nossa chegada para, caso possível, ela nos pegasse no aeroporto. Recebi uma mensagem mais que insinuante de resposta:

Ela - “Vocês vão dormir na minha casa e não aceito um não!”

Ela - “A Nanda deixou, não deixou?”

Preferi responder apenas o básico para não me delongar muito:

Eu - “A gente conversa na volta, mas a resposta é nem sim, nem não.”

Ela - “Ah, não! Vou ligar pra ela!”

Eu - “🤣🤣🤣”

Eu - “Não precisa. Eu te explico tudo quando chegarmos.”

Ela - “Ok. Beijos, muitos pelo seu corpo todo e nessa bunda gostosa também.”

Ela - “Adoro sua bunda…”

Como nosso voo foi sem escalas, chegamos em São Paulo em quase quatro horas de viagem, pouco após ao meio dia. Logo vi Denise nos aguardando no saguão do aeroporto com o Ben no colo. Nos aproximamos e o menino começou a fazer festa para minhas filhas, parecendo que as aguardava. Denise me encarava como se quisesse me engolir inteiro, o que me fez até temer que Maryeva pudesse notar um certo “clima” entre a gente. Naturalmente, ela mudou sua postura e passou a ser discreta, recebendo-nos com beijos em todos. Enquanto minhas filhas se divertiam com o Ben, agora no carrinho, levei dois belos apertões na bunda e quando olhei para ela, vi uma cara de tarada, típica da Nanda:

- Não resisti. - Ela falou, rindo de sua própria peraltice.

- Xiiiiu! - Foi a única coisa que pensei em falar, indicando a direção de minhas filhas.

Ela riu alto e depois me perguntou:

- Bom, vamos pra casa? Quero preparar um jantar delicioso para vocês.

- Jantar!? Nós precisamos almoçar, Denise, eu nem estou pensando em pernoitar aqui hoje…

- Mas vai! Ah, se vai… - Ela me interrompeu: - Inclusive, com permissão superior.

- Deus baixou na Terra e eu não fiquei sabendo? - Perguntei, rindo.

- Não que eu saiba, mas a santa Fernanda Mariana, depois de uma reza caprichada minha, me deu toda a permissão para cuidar de vocês hoje.

- Putz! Deixa eu ligar para a Nanda. - Falei ao, somente naquele momento, me lembrar da minha digníssima.

Tentei ligar três vezes, mas tocaram até a chamada “cair”. Já imaginei o óbvio, ela devia ter colocado no silencioso por conta de seu treinamento. Então, decidi deixar uma mensagem em seu WhatsApp:

Eu - “Chegamos bem em São Paulo.”

Eu - “Estamos saindo para almoçar agora.”

Eu - “Que história é essa de você conspirar com a Denise contra mim?”

Eu - “Eu te amo, morena, me liga quando puder.”

Voltei-me então para a Denise e fui direto:

- Tá de brincadeira, né!? Você ligou para ela?

- Liguei… Liguei mesmo! Choraminguei bastante, disse que seria perigoso você pegar a estrada cansado e ela concordou que seria melhor você descansar no meu apartamento.

- Descansar, sei…

- Claro! Se necessário faço até uma massagem para te relaxar inteirinho. - Disse e me deu uma piscada.

- O pai, tô com fome! - Maryeva veio reclamar comigo, dando suporte a necessidade de um almoço.

- Tem um restaurante não muito longe daqui que é ótimo, meu amorzinho! Vou levar vocês lá. O que acha, Mark? - Denise respondeu.

- Com a fome que estou, como até um boi. - Respondi e ela me sorriu maliciosamente, dando a entender que eu comeria muito bem naquela noite e não seria um boi.

Saímos do aeroporto e uns quinze, não mais que vinte minutos depois, chegamos ao tal restaurante. Parecia um lugar chique, mas sem extravagâncias ou ostentações exageradas. Sentamo-nos e fizemos nossos pedidos que não tardaram a chegar e comemos maravilhosamente bem. Dali iríamos para o apartamento dela, mas um imprevisto a obrigou a ir até o escritório de seu pai, onde estava trabalhando ativamente. Aliás, um belo e ostensivo escritório na Avenida Paulista, ocupando quase todo o andar de um prédio comercial, dividido em várias salas particulares, de reuniões, atendimento, de espera, copa, cozinha e banheiros, enfim, realmente de encher o olho.

Ela nos deixou com o Ben na sala de espera, pedindo que eu olhasse seu filho, e pediu para uma atendente nos servir o que quiséssemos, indo para o interior do escritório. As meninas nada quiseram, eu, pra variar, aceitei um cafezinho expresso, já que não tinha o bom e velho “pé de meia”. Ela não demorou mais que vinte minutos e voltou de braços dados com um senhor que de imediato reconheci como sendo o seu pai. Então, nos apresentou formal e pessoalmente, e foi impossível não notar que ele me analisou de baixo a cima, da mesma forma como eu próprio fiz com ele. Ainda segurando em minha mão, ele falou:

- Não é qualquer um que me corresponde dessa maneira, doutor Mark.

- Que maneira, exatamente?

- À minha altura! Encarando-me de igual para igual, sem medo de ser rebaixado ou menosprezado.

- E eu deveria me preocupar?

- De maneira alguma, homem! Gostei demais da sua atitude, mostra firmeza e maturidade. Venha, quero te mostrar meu humilde escritório.

Olhei para minhas filhas e para a Denise:

- Pode ir, Mark, fico de olho nas meninas. - Ela me respondeu de imediato, já se sentando ao lado delas.

Acompanhei o doutor Demerval, então. Seu escritório “de humilde” não tinha nada, nada mesmo! Imenso, bem estruturado e dividido, certamente planejado por um arquiteto de interiores. Aliás, cada espaço era muitíssimo bem aproveitado com móveis planejados e de outros multi-uso. Andamos por ele todo, terminando por seu escritório particular, ricamente decorado com detalhes em madeiras nobres, estátuas de mármore e diversos diplomas que demonstravam ser ele um homem viciado em conhecimento. Convidou-me para sentar e tomar um drink, o que acabei aceitando.

Passou então a falar sobre como começou, onde estava e aonde ainda gostaria de chegar, especificando seus planos para o futuro. Logo, voltou a me falar da expansão que pretendia e que ainda não havia encontrado o parceiro ideal para cuidar da regional de Minas Gerais, me encarando com profundidade:

- Logo o senhor encontrará alguém capaz, doutor. - Respondi.

- Eu já encontrei! O problema é que ele ainda não concordou.

- Pois é, nem sempre conseguimos os melhores, não é?

- Eu ainda não desisti. Creio que seja questão de tempo.

Conversamos mais algumas amenidades e o lembrei que minhas filhas me aguardavam. Saímos de sua sala e voltamos até a sala de espera, onde nem minhas filhas, nem a Denise estavam. A secretária me disse que elas tinham ido para o escritório da Denise e o doutor Demerval me acompanhou até lá. Seu escritório também era muito bem organizado e decorado, mas já com um toque feminino. Minhas filhas estavam ao seu lado, olhando alguma coisa no monitor de seu computador quando cheguei e vieram correndo para mim quando me viram. Denise também se aproximou e depois de conversar algumas questões profissionais rápidas com seu pai, se dirigiu para mim:

- Vamos? - Perguntou.

- Sim. Podemos. - Respondi para ela e me voltei ao doutor Demerval, despedindo-me dele.

Saímos e, pouco tempo depois, chegamos ao seu apartamento. Assim que entramos, coincidentemente, recebi algumas mensagens da Nanda:

Ela - “Está muito corrido aqui hoje.”

Ela - “Depois eu te ligo e explico.”

Ela - “Juízo, suas filhas estão aí.”

Vi que Denise já me olhava, curiosa, mas sendo bastante discreta. Pediu, então, para sua empregada que nos fizesse um café enquanto ela própria iria trocar a fralda do Ben. Ficamos eu e as meninas na sala por um breve período, conversando diversos assuntos relacionados às nossas vidas. Uma coisa ficou certa: ambas estavam com saudades da mãe e deixaram isso bem claro para mim:

- Eu também estou, gente. - Confessei e continuei em seguida: - Mas ela já está voltando. É rapidinho…

[...]

- Cadê a Verônica, Cíntia? - Perguntei mesmo já desconfiando saber a resposta.

- Não sei, Nanda. Ela apenas não apareceu aqui hoje. Aliás, eu não a vejo desde ontem de manhã. Será que ela está doente?

- Talvez… Quem sabe, né!?

Voltei minha atenção ao treinamento e meu rendimento foi pífio nesse dia de manhã. Eu mal podia esperar para chegar a hora do almoço para sair dali e ligar para o Mark. Chegado o horário, fomos todos para o restaurante de costume e eu tentei ligar para o Mark duas vezes, mas seu celular só retornava como “desligado ou fora de área”. “Devem estar no avião ainda”, pensei comigo. Pouco antes de sairmos para o almoço, Denise me ligou e saí da sala para atendê-la:

- Nanda, tudo bem com você?

- Oi, Denise, tudo joia. E você?

- Bem também. - Respondeu e ficou em silêncio para emendar na sequência: - Olha, não vou enrolar, o Mark pediu para eu não ligar, mas não resisti.

- Não ligar por quê?

- Você não deixaria eles dormirem na minha casa hoje? Eu cuido bem deles. Prometo.

- Deles, né!? - Falei constatando o óbvio.

- Então… - Ela deu uma gostosa risada e prosseguiu: - Dele eu vou judiar um pouquinho, mas vou cuidar das suas filhas como se fossem minhas.

“Como se fossem minhas”!? Essa eu senti na alma. Inconscientemente a Denise me deu a maior facada que alguém poderia me dar, pois senti naquelas palavras que ela poderia estar querendo tomar o meu lugar. “Calma, Nanda! Não é isso e você sabe”, falei baixinho para mim mesma na sequência e ela ouviu:

- Oi, Nanda!?

- Não, nada, Denise. - Respirei fundo e continuei: - Olha só. Ele está com minhas filhas. Não quero envolvê-las em você sabe o quê. É complicado…

- Fica tranquila, Nanda. Só faremos alguma coisa se você permitir e se houver condição, é claro. Se não der, terá valido pela noite agradável que teremos. - Ela insistia sem esconder sua ansiedade: - Por favor, deixa, vai?

- Denise, olha só… Eu não sei. Eu não vou negar, mas eu vou ter que falar com ele antes de decidir isso, tá bom?

- Tá. Só pensa em uma coisa, eles vão chegar de uma viagem cansativa e colocar o Mark para dirigir outro trecho longo de carro até sua cidade me parece perigoso. Eu não queria que eles corressem risco…

“Errada ela não tá, Nanda!”, pensei comigo mesma e falei:

- Tá. Então, tudo bem. Eu deixo, mas não abusa dele, senão ele vai ficar mais cansado com que já deve estar e a viagem de amanhã ficaria ainda mais perigosa.

- Aí eu peço para ele descansar mais um dia…

- Pra você cansá-lo de novo?

- Aí ele fica para descansar no outro também.

- Denise!

- Tô brincando, Nanda! - Disse e riu gostoso: - Vou cuidar bem deles. Pode confiar.

- Então tá. Depois eu ligo para falar com eles. Acredito que ainda estejam no voo, eu já tentei e não consegui.

- Jóia! Beijo então, amiga. - Ela se despediu e pediu: - Ah, e me liga quando estiver voltando que faço questão de te buscar no aeroporto.

- Tá bom, Denise, ligo sim. Obrigada. Beijo.

Desligamos praticamente no mesmo instante em que meus colegas saíam da sala. Fomos dali para o restaurante. Estávamos almoçando quando o Paulo chegou para cumprimentar a todos os presentes e, ao me ver, veio conversar comigo, intrigado:

- O que você está fazendo aqui, dona Fernanda?

- Uai, eu faço um treinamento aqui, seu Paulo. - Respondi num tom brincalhão.

- Sim, eu sei, né! - Riu um pouco e continuou: - Mas pensei que fosse tirar a manhã para acompanhar sua família.

- Eles já se foram, seu Paulo. - Respondi, meio abatida: - Preferi vir para cá ocupar a cabeça.

- Entendi. Também penso assim. Afinal não diz o ditado que “cabeça vazia, oficina do diabo”.

- Pois é…

- Bem, se precisar de alguma coisa, qualquer coisa, mesmo que seja só uma conversa amiga, para desabafar mesmo, pode me procurar. - Disse dando um leve carinho sobre meu ombro.

- Obrigado, seu Paulo.

Discretamente, ele se afastou e foi se servir, indo se sentar na mesa dos supervisores. O almoço transcorreu tranquilamente, mas, naquele dia, eu era a menos animada ou disposta a conversar. Ainda assim, após comermos e partimos para o famoso cafezinho que, pelo menos eu adorava, fui chamada à mesa do seu Paulo pelo Gonzaga, para uma conversa mais reservada:

- Sente-se, dona Fernanda, precisamos conversar com a senhora. - Ele me disse.

O tom frio com que me recebeu, me acendeu uma luz de alerta. Sentei-me preparando-me para o pior e já imaginando que o Paulo pudesse ter compartilhado com os demais minha vida dupla, mas ao mesmo tempo eu não acreditava ter me enganado tanto a seu respeito, pois eu via nele um homem bom, acima de tudo:

- Pois não!? - Falei timidamente após me sentar.

- Fernanda, por que você não quer ir para os Estados Unidos? - Perguntou-me o Gonzaga de imediato: - O patrão me disse que já comentou com você sobre sua possível indicação, mas que você teria negado por questões familiares.

- Então, não é simples… - Comecei a falar.

- Não é simples!? - Ele me interrompeu novamente: - Eu estou defendendo sua indicação desde o início porque vejo um grande potencial em você. Aliás, eu e o patrão, e você vem me falar que não quer ir por questões familiares!? Que raio de questões são essas que não podem esperar um ou dois meses?

Eu não sabia bem o que dizer. Aliás, eu sabia bem, mas entendia também que ser sincera poderia prejudicar meu futuro profissional dentro da empresa. Ainda assim a verdade seria a melhor saída e decidi ser o mais honesta possível:

- Minhas filhas estão sentindo muito a minha falta e eu também estou sentindo a delas. Felizmente, meu marido veio me visitar neste final de semana, mas… - Engoli a seco a vontade de chorar e respirei fundo: - Gente, eu não posso abandonar minhas filhas. Por melhor que o pai delas seja, e ele é ótimo, realmente espetacular, único, eu sou a mãe! Elas precisam de mim.

- A senhora tem noção de que essa é uma oferta única, não tem? Recusar essa oportunidade poderá comprometer sua ascensão dentro dos quadros da empresa. - Gonzaga insistiu.

- Eu sei, seu Gonzaga, mas vocês tem outras boas opções para analisar. Se eu recusar, e ainda não recusei mesmo porque vocês também não se decidiram, haverá outro ou outra para me substituir à altura.

Eles se recostaram em suas cadeiras e se entreolharam por um momento, quando o outro supervisor, que não me lembro o nome, tomou a palavra:

- Se ela não está disposta, não adianta insistir. Fazer um treinamento desse sem foco ou real vontade de obter o máximo para dar o máximo depois pela empresa, seria um prejuízo certo no futuro. Talvez devamos analisar outras opções.

- Não vamos tomar nenhuma decisão apressada. - Disse o seu Paulo na sequência e concluiu: - O treinamento ainda não terminou e depois ainda teremos que considerar a avaliação de todos, colocando em votação junto aos demais da alta direção.

Conversamos ainda diversas questões, sempre com o Gonzaga e o Paulo tentando convencer-me a aceitar a possibilidade de ser enviada para o treinamento na matriz. Como o Mark me ensinou, possibilidade é uma chance futura, portanto eu não tinha porque negá-la. Eles pareceram ter ficado satisfeitos, mas ainda assim frisei que a decisão final seria minha e depois que eles tomassem a deles. Conversamos depois diversos assuntos relacionados à empresa e ao treinamento, só me dando conta de que a conversa havia se extendido ao olhar para trás e ver que meus colegas já haviam partido sem mim:

- Uai, eles foram e me deixaram. - Falei, rindo para os demais da mesa e ainda brinquei comigo mesma e com eles, por tabela: - Atrasada, dona Fernanda, menos um ponto para a senhora. Assim, sua indicação ficará cada vez mais distante…

- Fica tranquila, dona Fernanda, nós te damos uma carona. É bom para a senhora já ir se acostumando na diretoria. - Gonzaga falou após rir de minha brincadeira.

Antes de sairmos do restaurante, dei uma olhada em meu celular e vi três chamadas do Mark. “Não acredito que deixei no silencioso. Burra, burra, burra!”, xinguei-me em silêncio. Acessei então meu WhatsApp e vi algumas mensagens dele dizendo que haviam chegado bem em São Paulo e me perguntando sobre o meu conchavo com a Denise. Ri em silêncio e mandei três mensagens rápidas para ele, afinal eu estava com a diretoria da empresa:

Eu - “Está muito corrido aqui hoje.”

Eu - “Depois eu te ligo e explico.”

Eu - "Juízo, suas filhas estão aí.”

Ele visualizou quase que imediatamente, mas não me respondeu, talvez imaginando que eu estivesse ocupada, trabalhando, o que não era totalmente errado. Decidi que conversaríamos mais tarde e guardei meu aparelho. Entramos os quatro no carro do Gonzaga e fomos direto para o local do treinamento, onde me deixaram e foram cuidar de suas próprias obrigações.

Assim que entrei na sala, um silêncio estranho tomou conta do ambiente. Até mesmo o “coach” se silenciou por um momento enquanto eu, ariscamente mineira, voltava para o meu lugar. O dia seguiu sem maiores novidades ou acontecimentos relevantes. Na saída, Cíntia veio me cumprimentar:

- Pra que isso, Cíntia?

- Ora, todos estão comentando que você foi a escolhida para o treinamento na matriz.

- Eu!? Ninguém decidiu nada ainda.

- Não é esse o comentário…

- Quem começou com isso?

- Não sei. Só sei que todos na mesa comentaram e ainda mais depois que você foi chamada na mesa do seu Paulo. Tá um bá-fá-fá só…

- Olha, não tem nada decidido mesmo. Eu pessoalmente não sei se vou caso eu seja a escolhida, porque tenho minha família, minhas filhas e não posso deixá-las por um período tão grande assim.

- Tá de brincadeira, né, Nanda!? Olha a chance que você estaria perdendo. - Disse Aline, sorrateiramente chegando de trás de mim, assustando nós duas.

- Ai, Aline! - Não pude evitar um gritinho: - Não faz isso, mulher!

Começamos a rir da situação e logo nos avisaram que a van já havia chegado para nos levar ao hotel. Fomos conversando diversos assuntos, mas logo um se tornou o principal, a minha indicação. Precisei cortar o assunto:

- Gente, eu não fui escolhida. Não há decisão alguma tomada ainda. Parem com isso, por favor, ou vão acabar me queimando com a diretoria. - Pedi.

Chegamos ao hotel e combinei com a Cíntia e Aline de jantarmos juntas. Eu precisava de companhia e a delas seria a melhor naquele momento. Fui até meu quarto e tomei um delicioso e relaxante banho, vestindo-me com uma roupa bastante casual: um vestido floral soltinho, acima do joelho e com decote discreto. Além disso, fiz um rabo de cavalo, passei apenas um batom pouco mais escuro que meus lábios e desci para o saguão. Não mais que cinco minutos depois de mim, Aline chegou, praticamente seguida pela Cíntia:

- Eu sei que a gente tinha combinado de só jantar aqui, mas que tal se saíssemos para comer um lanche? - Disse a Aline: - Tem uma lanchonete bonita que parece ser bem legal no final do quarteirão. Podemos ir a pé mesmo.

Eu estava a fim de jantar por ali mesmo e passar o resto da noite no meu quarto, Cíntia parecia querer o mesmo, mas mesmo assim decidimos não contrariá-la. Quando estávamos saindo, demos de cara com seu Paulo e o Gonzaga:

- Mas onde as meninas pensam que vão a uma hora dessas? - Disse seu Paulo, brincando enquanto olhava seu relógio de pulso.

- Obrigada pelo “meninas”. - Respondeu Cíntia.

- Vamos só comer um lanche na lanchonete da esquina. - Respondeu Cíntia, justificando-se como se fosse para seu próprio pai.

- Ora, então, por que não saímos todos juntos? Podemos jantar fora. - Disse seu Paulo, encarando agora o Gonzaga: - Vamos, Gonzaga, comer faz bem.

Gonzaga titubeou e eu fui categórica em recusar:

- Gente, olha só, eu agradeço, mas só quero jantar. A idéia da Aline eu até topo porque a lanchonete é logo ali, mas sair para jantar fora, eu não tô afim não.

- Eita, mineirinha brava, sô! - Brincou seu Paulo, com um sotaque caipira falso e cheio de exageros, arrancando risadas dos demais.

- Ara! Sou mesmo. - Retruquei, simulando estar brava: - E manga só de mim procê ver, manga?

Minha intenção foi coroada de êxito e as risadas aumentaram ainda mais. Assim que elas começaram a cessar, eu insisti:

- Gente, só quero comer algo, voltar para o meu quarto, ligar para minha família e tentar descansar, porque essa semana será difícil de suportar sem eles.

- Tá, tá… Tudo bem! Então, a gente pode, pelo menos, acompanhar vocês na lanchonete, não pode? - Perguntou seu Paulo.

- Uai, pode, não pode, meninas? - Perguntei e elas naturalmente permitiram.

Fomos andando a pé até a tal lanchonete, chegando em questão de minutos. Eu realmente não queria demorar, pois havia descido até mesmo sem meu celular, só intencionada em jantar no restaurante do hotel para retornar ao meu quarto. Sentamo-nos e pedimos uma porção de batatinha frita e “nuggets” de frango. Eles pediram chopes, mas eu preferi ficar só no refrigerante, gerando até olhares surpresos das minhas colegas que sabiam que eu adorava tomar uma “talagada” de leve.

Conversamos diversos assuntos e acabei relaxando, inclusive partindo para um chopinho que virou dois, depois três. Perdi a noção da hora, a qual só recuperei quando entramos no saguão do hotel e vi no grande relógio da recepção que já já passava das onze da noite. Seu Paulo convidou-nos a todos para um último drink, mas eu já me considerava em falta com minha família:

- Obrigada, seu Paulo, mas já demorei demais. Tentei falar com minha família, mas acabamos nos desencontrando e não consegui. Daí para ajudar, esqueci meu celular no apartamento. Eu realmente vou deixar essa passar. Acho que nem vou conseguir pegar minhas filhas acordadas…

- Poxa… - Ele resmungou e sem tirar os olhos de mim perguntou: - Bom, alguém me acompanha?

Ninguém se dispôs e ele acabou desistindo. Despedimo-nos e retornamos cada qual para seu quarto. Pelo menos esse era o plano…

Subimos no elevador e as pessoas foram descendo em seus respectivos andares. Restando apenas eu, seu Paulo e o Gonzaga. Um clima estranho, acentuado por um silêncio incômodo, surgiu no elevador que piorou ainda mais quando Gonzaga apertou um botão para ficar em um andar que não era o dele, se justificando:

- Esqueci minha carteira no meu carro. Vou descer aqui e pegar o próximo para baixo. - Disse enquanto descia naquele andar.

Mal a porta do elevador se fechou com ele voltando a subir e seu Paulo não perdeu a oportunidade:

- Minha proposta continua de pé, Fernanda…

- Proposta?

- Sim. Se quiser conversar, papear, sei lá, só se distrair da solidão, eu estou completamente à sua disposição.

Bingo! Mark estava certo. O chefinho tinha terceiras intenções para comigo. Preferi ser cortês e cortar o mal pela raiz:

- Agradeço, Paulo, mas vou realmente ligar para minha família. Talvez outro dia, tudo bem?

Ele concordou e nos despedimos no meu andar, não sem ele segurar a porta do elevador e ficar me olhando enquanto eu me dirigia até meu quarto, chegando até a me dar um tchauzinho bem na hora em que eu entrava. Entrei e peguei meu celular só para ver que havia várias tentativas de chamada do Mark, além de várias mensagens enviadas por ele ao meu WhatsApp. Retornei imediatamente uma chamada de vídeo para ele que me atendeu na hora:

- Poxa, Nanda! Você não atende essa bosta de celular mesmo, né? - Falou bravo sem sequer me cumprimentar: - Pra que você tem ele se não atende?

- Oi pra você também, zangadinho. - Brinquei, mas ele não correspondeu, então passei a justificar: - Desculpa, mor. Eu desci para jantar rapidinho no restaurante do hotel, mas acabamos decidindo ir numa lanchonete aqui perto e perdi a hora.

Ele só me encarava, chateado e com razão. Continuei:

- As meninas já foram dormir?

- O que você acha? Olha pro relógio que a resposta é óbvia! - Deu-me uma merecida patada.

- Ah, mor, para, por favor. Eu errei, eu sei. Desculpa! É que eu não queria ficar sozinha, daí combinei com as meninas de jantarmos juntas e depois encontramos com o Paulo e o Gonzaga, daí…

- Daí vocês meteram o pé na jaca e você esqueceu da gente. - Interrompeu-me ainda inconformado: - E pelo jeito, andou bebendo, né?

- Uns chopinhos só! - Respondi e emendei: - Mas não fiz nada de errado. Só comemos, bebemos, conversamos e voltei correndo quando vi o horário…

- Oi, Nanda! - Denise apareceu na tela, enfiando sua cabeça entre o Mark e seu aparelho celular, vestida num robe curtinho de seda vermelho que eu já conhecia bem: - Tô cuidando direitinho deles, viu?

- Oi, Denise, obrigada… - Respondi sem muito ânimo, mas conseguindo ouvir um nítido “alivia para ela, Mark!” e um outro “para, Denise!”

Minha maior rival tentava me defender, enquanto meu sisudo e sentido marido tentava barrar suas intenções. Eles conversaram mais algumas coisas, mas não consegui entender o teor, apenas um “dá um pouco de espaço para ela, cara” e tive certeza que se tratava sobre a forma como estávamos conversando. Pouco depois, ela se despediu de mim, mas não antes de eu notar que ela aparentemente não vestia nada por baixo daquele robe, sumindo da transmissão e ele voltou a encarar o aparelho, ainda em silêncio:

- Desculpa, amorrrrrr! - Tentei brincar, sorrindo, constrangida comigo mesma.

- Tá tudo bem. Acho que só estou cansado.

- Não. Você não está errado em estar chateado, só acho que está exagerando. Eu juro que não aconteceu nada demais. Aliás, até aconteceu, esqueci de ligar para as pessoas mais importantes da minha vida. Não fica bravo comigo, por favor.

- Tá bom, Nanda, esquece. Me desculpa também. Vai passar, aliás, já passou. - Ele disse, mas não me convenceu.

Passamos a conversar sobre a viagem deles e meu dia na empresa, mas ambos estávamos cansados, talvez esgotados pela saudade e isso estava estampado em nossos rostos. Depois de um tempo, enquanto nos despedíamos, brinquei:

- Juízo, mocinho! Sei que a Denise tá toda acesinha, mas as meninas estão aí. Não vai me dar mancada, hein?

- Elas estão apagadas no quarto de hóspede. Eu vou dormir aqui na sala…

Não pude evitar uma gargalhada que o interrompeu no ato, uma gargalhada nervosa por saber que ele até poderia imaginar que dormiria ali, mas a Denise nunca deixaria isso acontecer:

- O que foi? - Ele me perguntou, contrariado.

- Você dormir na sala, com a Denise no cio!? - Falei e dei uma gargalhada ainda mais nervosa: - Há, há, há… Ouviu, Mark? HÁ, prá você! Me engana que eu gosto.

- Uai! Mas eu vou, sim senhora! - Respondeu, mas sem esconder um sorrisinho malicioso: - Diacho de mulher desconfiada, sô.

- Ah, Mark, juízo!

- Relaxa, Nanda, tá tudo sob controle.

- Tá, né? Sei…

Como que para confirmar minhas suspeitas, Denise passou por trás dele e se sentou ao seu lado, pegando uma taça que voltou a servir de uma bebida que parecia ser vinho e lhe entregando em seguida. Eu o encarei pelo aparelho, aliás, ele e ela, então decidi me despedir para que eles pudessem dormir, apesar de imaginar que naquela noite, ninguém dormiria, nem lá, nem cá…

[...]

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 265Seguidores: 629Seguindo: 21Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Olá Mark, já acompanho seus contos e já tem um bom tempinho rs, e fico maravilhado com a cumplicidade do casal, mas eu tenho uma dúvida que até hoje ainda não sei, os seus contos voltados para com a Nanda são todos reais ou tem alguma parte fictícias??

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Nunca pensei que fosse me envolver em uma história como essa.

Parabéns por escreverem tão bem.

Agora, emergindo na história, torço pela Denise. A cada passo da Nanda é uma cagada diferente, Mark merece algo mais seguro e real. Nanda as vezes se esquece que ele ama ela e só lembra quando ela sente que vai perde-lo.

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Mark e Nanda, só hoje eu pude vir aqui dar uma conferida nesta parte. Preciso me atualizar pois estou ficando para trás na história de novo. Estava mesmo com saudade de reencontrar essa história. Seu texto é muito gostoso, e natural, e a narrativa flui sem problemas, nos levando sem sentir, para dentro dos acontecimentos. Vai muito bem, lá e cá, lados distantes de um mesmo casal, cada um com seus próprios aprendizados, conflitos e descobertas, mas unidos pala cumplicidade e parceria que mais importa. Três estrelas.

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A Nanda é tão esquecida com celular, horários e etc que deve ter se esquecido em dar a luz rsrsrs, só se lembrou por causa das contrações.

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Adoro os contos de Mark e Nanda. Gostaria que não demorasse muito estão de parabéns

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Dizem p um casamento dar certo e preciso oitenta por cento de cumplicidade,mas no caso de vcs são cem por cento,pois vcs são cúmplice, amigos, infidelidades, companheiros a acima de tudo falam a verdade,aceitam-se como vcs são, verdadeiro.dificil de se encontrar, agora ir p os estudos unidos e afastar cada vez mais vc de sua família,pensei bem mesmo se amando neste novo emprego vai causar danos inrreparavel,pense bem se vai valer a pena.

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Concordo com você, Bianca. O risco é muito alto. Principalmente porque o Mark não vai estar lá para proteger a Nanda. Não vale a pena !!!

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Oi ida minha querida amiga, saudades dos seus conto, que bom que vc concordou com meu comentário,tem hora que devemos avaliar se vale a pena, família ou trabalho.bjs amiga

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Eita casal sempre aparando às arestas kkkkk nota mil parabéns

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Esse Paulo é uma raposa velha! Para a Nanda cair na armadilha dele, é muita inocência! Está tudo premeditado e nem sei se a Verônica não foi contratada apenas para obrigar a Nanda a se abrir para ele! E nessa dica que a Nanda deu de que não dormiria à noite, será por culpa do Paulo ou por culpa do famigerado Rick?!?!?! Eu odeio esses dois!

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Olá Mark e Nanda, nossa capitulo realemnte complicado heinn, a despedida é sempre dolorosa, mas troço para que tudo dê certo.

mas o Paulo esta jogando sujo heinn para conseguir o que quer, esta envolvendo os diretores para tentar persuadir ela a aceitar o treinamento fora, espero que a Nanda consiga tomar a melhor decisão.

grande abraço e uma ótima semana

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Massa Nanda/Mark, bora pro próximo capítulo que esse foi show, só um barrilzinho no final mas tranquilo.

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Nanda, aguentando mais uma semana !!! Segura a onda !!!

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Estou com saudades das histórias de vcs.um abraço a todos

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E detalhe o chefinho já divulgou o modo de vida liberal

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Nem lá nem ka já confirmou chefinho com a diferença ela sabe de anti mão

Onde o marido está com que e na companhia das filhas jamais fará nada espero está errado dona Fernanda não sair com os chefinhos

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Saudades que estava dessa história.

Muito boa a dinâmica.

A decisão difícil entre o desenvolvimento da carreira com um pouco de sacrifício do convívio familiar, mesmo concie te que é apenas temporário.

Ou abrir mão do desenvolvimento da carreira, em favor da família, apostando na possibilidade de de a diretoria investir em você assim mesmo.

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Hum hum, então a Super Nanda ainda demonstra sinais de que se sente uma "mortal" em relação aos sentimentos do Mark.

Excepcional Mark!

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Saudades de seus contos Nanda. Quando atualizei a página e vi seu relato, imediatamente parei o que estava fazendo para ler ele. Como sempre 10 💫✨✨✨✨

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Ressaltando que o Paulo pelo visto vai ganhar na loteria.🙃🤤

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