Não pude evitar uma gargalhada que o interrompeu no ato, uma gargalhada nervosa por saber que ele até poderia imaginar que dormiria ali, mas a Denise nunca deixaria isso acontecer:
- O que foi? - Ele me perguntou, contrariado.
- Você dormir na sala, com a Denise no cio!? - Falei e dei uma gargalhada ainda mais nervosa: - Há, há, há… Ouviu, Mark? HÁ, prá você! Me engana que eu gosto.
- Uai! Mas eu vou, sim senhora! - Respondeu, mas sem esconder um sorrisinho malicioso: - Diacho de mulher desconfiada, sô.
- Ah, Mark, juízo!
- Relaxa, Nanda, tá tudo sob controle.
- Tá, né? Sei…
Como que para confirmar minhas suspeitas, Denise passou por trás dele e se sentou ao seu lado, pegando uma taça que voltou a servir de uma bebida que parecia ser vinho e lhe entregando em seguida. Eu o encarei pelo aparelho, aliás, ele e ela, então decidi me despedir para que eles pudessem dormir, apesar de imaginar que naquela noite, ninguém dormiria, nem lá, nem cá…
[...]
Minhas filhas não são bobas e, apesar da Denise disfarçar maravilhosamente bem, até a Miriam já a olhava de uma forma diferente. Maryeva então a encarava em silêncio, parecendo uma onça prestes a dar o bote em sua presa ao menor vacilo:
- A gente não vai embora, pai? - Perguntou-me a certa altura, no meio da tarde para ser mais exato.
- Claro, amorzinho. Só estou dando uma descansada, mas vamos sim.
- Ah, por que? - Perguntou Denise, a encarando: - Não estou te tratando bem?
- Tá, tá sim, mas eu já perdi dois dias de aula e não quero acumular matéria. - Ela explicou, brilhantemente ocultando sua própria desconfiança.
- Eu entendo você, querida. Também era uma CDF na minha época. - Denise insistiu.
- CDF? - Disse Maryeva após ficar um tempo em silêncio sem entender a expressão.
- Acho que é nerd que se fala hoje, né, Mark? - Denise insistiu e eu balancei afirmativamente a cabeça, fazendo com que ela se voltasse novamente para a Maryeva: - Você tem cara de que gosta de um bom livro, não gosta?
- Gosto.
- Eu também. - Miriam também falou, ainda brincando com o Ben.
- Então, venham cá… - Disse Denise se levantando e indo em direção a uma estante, abrindo suas portas e mostrando uma imensa coleção de livros: - Sempre adorei ler! Podem ficar à vontade.
Maryeva arregalou os olhos e foi dar uma verificada nos títulos, sendo seguida pouco depois pela irmã. Pegou uma edição de Don Quixote, ricamente ilustrada e com algumas imagens em 3D que lhe encheram os olhos, sentando-se em seguida no sofá para lê-la. Miriam também deu uma analisada em alguns livros, mas decidiu voltar e brincar com o Ben. Estando elas distraídas, poderíamos conversar mais tranquilamente:
- Que história é essa de você ligar para a Nanda?
- Liguei mesmo! Ela é minha amiga, está longe e alguém tem que cuidar do que é dela. - Disse brincando e maliciosamente continuou, encarando-me no fundo dos olhos: - Mesmo que eu queira tomar o que é dela para mim.
Começou a sorri, rir e depois gargalhar de sua própria indireta claramente direta e, por fim, completou:
- Estou brincando. Você sabe, né, Mark?
- Ahamm! Sei…
- Mas tô falando a verdade, uai! - Insistiu e voltou a sorrir: - Tá vendo? Tô até tentando aprender a falar bem o mineirês para te seduzir melhor.
Rimos de sua brincadeira e ficamos conversando diversos assuntos. Foram tantos e variados que realmente, se eu não tivesse a Nanda na minha vida, ter a Denise não seria nada incômodo. Quando demos por nós, as horas haviam passado, a noite já começava a cair e eu precisava decidir se voltaríamos ou não para casa. Comentei com ela minha dúvida que ela rechaçou de imediato:
- Ah, mas não vai mesmo!
- Denise, as meninas têm aula amanhã.
- Tiveram hoje e faltaram. Outro dia não fará diferença. Por favor, Mark, fica!? A Nanda deixou…
Eu, ainda em dúvida, olhei para minhas filhas e Denise se adiantou:
- Eu convenço elas. Quero que você fique para descansar e amanhã vocês vão com toda a tranquilidade.
Para ajudar em seus argumentos, uma chuva começou a cair. Não era tão forte, nem muito fraca, mas o suficiente para me deixar incomodado em fazer uma viagem de quase quatro horas, à noite, colocando em risco as duas pessoinhas mais importantes da minha vida. Denise foi até sua empregada e lhe deu algumas indicações, seguindo após até a Maryeva:
- Querida, eu sei que você está querendo ir embora, mas eu queria te pedir para dormirem aqui hoje. Está chovendo bastante e, conhecendo São Paulo, deve piorar ainda mais daqui a pouco. Acho que vocês não precisam correr esse risco. Além disso, seu pai está cansado da viagem e fazer outra, dirigindo até sua cidade à noite, pode ser bem perigoso, não acha?
Mary a encarou por um segundo e depois a mim. Então, se levantou e foi até a porta da sacada do apartamento e, certificando-se que o clima não estava bom, ainda com uma chuva caindo sem sinal de cessar, pareceu ter se convencido. Ainda assim ela voltou até onde eu estava e perguntou:
- Tem algum perigo irmos embora hoje?
- Perigo sempre tem, né, amorzinho. Até mesmo de dia, com sol, ele existe. Só que à noite, com chuva, ele é bem maior. - Respondi.
- Mas amanhã a gente vai embora, não vai?
- Claro. Ainda estou esperando para ver se a chuva para, mas acho que talvez seja prudente dormirmos aqui hoje e sairmos amanhã bem cedo se a chuva já tiver parado.
- Então tá, né! Fazer o quê? - Disse e voltou a se sentar no sofá, cruzando com a Denise no caminho quando falou: - Acho que vai dar tempo até de terminar de ler o livro.
- Se não der, você pode levá-lo e me entregar depois, querida. - Ela respondeu.
Maryeva sorriu e voltou a se sentar, agora recostada no sofá da sala, mergulhando em sua leitura. Denise foi até a Miriam e se sentou ao seu lado, tendo a mesma conversa, explicando tudo o que já havia falado com a Maryeva e acrescentando ainda que assim ela poderia brincar bastante com o Ben e ainda ajudá-la a cuidar dele, talvez até na hora do banho:
- Banho?
- É!
- Mas nele, pelado!?
- Ora, é! Tem que ser, né! - Denise se surpreendeu e começou a rir da pergunta.
- Mas ele tem pipi!
- Tem... - Denise se controlava para não gargalhar e continuou: - Ele é um menino. Tem que ter, né?
Miriam a encarou em dúvida por uns segundos e depois se virou para mim, praticamente gritando enquanto perguntava:
- Pai, eu posso ver o pipi do Ben quando ele for tomar banho?
Denise se virou para mim, segurando para não explodir uma gargalhada. De seus olhos já marejava uma lágrima contida para não constranger minha caçula. De relance, vi que até Maryeva me encarava, curiosa com a resposta que eu daria. Confesso que até eu tive vontade de gargalhar e conclui que aquela era uma das famosas perguntas constrangedoras que todo pai ou mãe passa na vida. Respirei fundo, controlando-me para também não rir da situação e fui o mais didático possível:
- Amorzico, ele é um bebê, nem sabe que tem um pipi ainda, muito menos para o que serve. - Disse e dei o “check mate”: - Só cuidado para não ficar muito perto e ele acabar fazendo um xixi em você.
- Ah, eca, pai! - Respondeu Miriam, retraindo seus braços e fazendo uma cara de nojo da hipotética situação, falando para a Denise em seguida: - Eu vou ver de longe!
Mary começou a rir de onde estava, Denise não se aguentou, nem eu! Aliás, todos começamos a rir da minha caçula e ela, sarrista como ninguém na minha família, começou a rir de si mesma e de toda a situação. Pouco depois, ainda rindo, Denise se levantou e veio se sentar ao meu lado:
- Situação resolvida. Vocês ficam!
- Tá e onde vamos dormir? - Perguntei já imaginando a resposta.
Entretanto, a Denise me surpreendeu, falando alto para que todas ouvissem:
- As meninas poderão ficar no quarto de hóspedes, Mark, e você, infelizmente, terá que ficar na sala, porque o Ben ocupa um outro quarto e o outro está cheio uma bagunça só.
- Sala? - Perguntei baixinho e ela me deu uma cutucada por baixo da mesa, encarando-me com um olhar malicioso.
- Aham! - Ele confirmou, mas me falou logo após baixinho: - Pelo menos até elas pegarem no sono pesado.
Disse isso e, por ter sido chamada por sua empregada, se levantou para resolver alguma questão doméstica. Antes que fosse, pedi se poderíamos tomar um banho e ela se prontificou a me ajudar assim que atendesse sua empregada. Foi e voltou rapidinho, chamando-me para sua suíte. A acompanhei inocentemente, apenas imaginando que fosse me dar alguma orientação sobre qual banheiro usar, mas assim que entramos ela encostou a porta e se jogou sobre mim, buscando a minha boca:
- Denise, calma! As meninas estão aí! - Pedi.
- Só um beijinho, só um! - Pediu, por sua vez.
Acabei lhe dando um beijo caprichado, emparedando-a num amasso gostoso enquanto minhas mãos percorriam seu corpo, em especial sua bunda. Quando nos afastamos, seus olhos faiscavam e vi que não escaparia ileso daquele apartamento naquela noite:
- Vou pegar toalhas para vocês. - Disse sem tirar os olhos de mim e perguntou: - Quer tomar banho no meu banheiro enquanto suas filhas usam o social?
- Melhor não dar sorte para o azar, né!?
- Ah… - Lamentou, fazendo um biquinho, mas sem tirar os olhos dos meus: - Mas, mas, mas… Eu posso esfregar suas costas. Deixa, vai!?
- Aham! Tá bom que é só isso que você quer.
- Ah, mas uma rapidinha dá, né? - Falou agora mordendo o lábio inferior.
Já que eu era praticamente voto vencido e seria abusado naquela noite se houvesse condições, decidi apimentar um pouco mais:
- Não curto rapidinhas. Adoro fazer com calma, por um tempão, para ter chance de fazer minhas parceiras gozarem bastante. - Ela chegou a suspirar ouvindo aquilo e ainda completei: - Ah, e se for rolar, prepara seu bumbum, porque vou comer seu cuzinho outra vez.
- Sabia que nenhum outro me comeu o cu além de você? Foi só seu e, se depender de mim, vou guardá-lo só para você.
- Ah, Denise, para com isso! - Pedi já sentindo meu pau dar pulos dentro da minha calça: - Isso aí já é covardia.
- Mas é a mais pura verdade, “mon amour”! - Falou e virou sua bunda de lado, dando um tapinha: - Só você abusou daqui e se você quiser hoje, vou deixar abusar mais uma vez.
- Porra, Denise! - Falei me afastando dela e dando um vislumbre do meu pau estufando a calça: - Olha o que você me faz!
- Aiiiii, Mark! Covardia, mostrar isso pra mim, cara! - Falou, fazendo uma falsa cara de sofrimento: - Deixa eu esfregar suas costas, deixa! Só um pouquinho…
- Não! Agora não. Com elas ali fora acordadas, de forma alguma! - Recusei e pedi: - Só as toalhas. Me arruma as toalhas, por favor.
Ela ainda olhou por um tempo para meu pau estufado, mordendo os lábios e se virou, entrando em seu closet. Pouco depois me chamou:
- Mark! Pega pra mim. Não estou alcançando…
Entrei e ela realmente parecia não alcançar, embora fosse alta, algumas toalhas guardadas na parte superior de um armário. Aproximei-me e tendo ela à frente, eu também não alcançaria:
- Dá licença, Denise. - Pedi.
- Ah, dou! - Disse e encostou sua bunda em meu pau, dando uma leve rebolada: - Aaaa… Ai, meu Deus! Tenho mesmo que sair?
- Denise!
- Tá, tá, eu saio.
Estiquei-me no máximo e consegui puxar um pacote com várias toalhas. Quando me virei, ela estava com a mão por dentro de sua calça, mordendo o lábio. Vendo que eu a observava com as toalhas na mão, tirou sua mão de lá e veio me mostrar de perto:
- Olha, olha isso! Tô ensopada…
Não resisti aquele cheiro próximo ao meu rosto e enfiei seus dedos úmidos em minha boca, chupando um a um sob o olhar atônito, eu diria até inconformado, dela:
- Humm… Delícia! - Falei sorrindo, entregando-lhe o pacote de toalhas e saindo ligeiro do closet.
Só tive tempo de ouvir um palavrão dela contra mim e a frase:
- Isso é covardia, viu!
Pouco depois, ela saiu, com três toalhas na mão. Meu pau ainda estava duro, mas um pouco mais controlado. Ela me pegou pela mão e me indicou o banheiro social, explicando o funcionamento da ducha, depois me indicou o quarto em que elas ficariam e, por fim, foi para a cozinha, coordenar o jantar. Chamei minhas filhas e lhes expliquei tudo. Desci até a garagem do estacionamento e trouxe nossas malas para cima. Elas foram tomar banho, enquanto eu e Ben aguardávamos as mulheres cuidarem de seus afazeres.
Aproveitei a chance e novamente liguei para minha digníssima onça pintada. Nada! A ligação chamou até ser encerrada pelo sistema, por três vezes! Já passava das seis horas da tarde. “Mas onde essa filha da mãe se meteu?”, pensei comigo e ainda me questionei novamente: “Será que ela e o Rick… Não! Ela não iria ficar com ele novamente. Não é possível!”:
- Algum problema, Mark? - Denise me perguntou, retirando-me de meus pensamentos, e só então notei que estava sentada ao meu lado.
- Ah, não! Eu acho que não…
- O que foi?
- Só não estou conseguindo falar com a Nanda. Pelo horário, ela já deveria ter voltado para o hotel, mas já tentei várias vezes e nada.
- Relaxa! Não é tão tarde assim. Talvez ela esteja presa no trânsito, ou em alguma reunião de última hora. Afinal, se ela está fazendo o curso para ser promovida é normal que queiram testá-la até fora de hora, não acha?
- É. Talvez…
- Para com isso e relaxa, só relaxa… - Dizia e passava as mãos em minhas costas: - Já, já, eu vou te dar toda a atenção que você precisa para ficar calminho, calminho…
- Deniseeee!!
- Tô com uma vontade de te pegar que você não imagina! - Falou maliciosamente, novamente mordendo os lábios.
- Para! Minhas filhas vão voltar a qualquer momento.
- Afff! - Resmungou e disse: - Acho que eu vou tomar um banho também. Tem certeza que não quer vir comigo?
- Querer não é poder, minha cara…
- Ahhhh!!! - Deu um gritinho bobo e me encarou, sorrindo: - Olha o Ben para mim? Vou tomar um banho rapidinho.
- Claro que sim. Pode ir tranquila.
- Tranquila é a única coisa que não vou ficar enquanto eu não te pegar de jeito! - Disse, levantando-se e saindo em direção a sua suíte.
Fiquei entretendo o Ben e alguns minutos depois minhas filhas voltaram, brincando entre si e falando que o chuveiro dali era melhor que o do hotel. Sentaram-se ao meu lado e ficamos brincando com o bebê até o retorno da Denise. Ela acabou demorando mais do que eu imaginaria normal para um banho, mas quando retornou, foi difícil evitar encará-la. Vestia apenas um robe de seda vermelho que havia me emprestado no passado e aparentemente nada mais, ou talvez uma lingerie mínima para a ocasião:
- Que cheiro é esse? - Miriam perguntou.
- Cheiro? Que cheiro? Da comida? - Perguntei em seguida.
- Não! É docinho, gostoso… - Respondeu virando seu nariz em direção à Denise: - Ah, é dela! Que trem cheiroso, sô!
- Ora… - Denise começou a sorrir com o elogio: - Obrigada, meu anjo. Quer passar também para cheirosa, aliás, ficar ainda mais cheirosa do que você já é?
- Uai, eu quero!
- E você, minha querida? - Perguntou para a Maryeva.
- Eu não!
Foram-se as duas para a suíte, voltando em questão de minutos:
- Ó pai! - Disse Miriam praticamente enfiando o pescoço no meu nariz.
- Muito bom, amorzinho.
- E o meu? Não vai cheirar também? - Denise perguntou, se insinuando em minha direção.
Cheirei de leve e confirmei que também estava muito cheirosa. Mary olhou para mim, depois para ela, retornando para mim novamente e enxerguei ali uma jaguatirica prestes a atacar uma vítima. “Deus, tá cada vez mais a cara da mãe.”, pensei, sorrindo para mim mesmo:
- O que!? - Ela perguntou.
- O que, o quê? - Perguntei, sem entender o óbvio.
- Esse sorrisinho bobo aí, uai. Sei não, hein!
- Deixa de ser boba, Mary. Tô rindo que você tá ficando a cada dia que passa mais a cara da sua mãe.
- Ah, vá! - Resmungou, mas não conseguiu evitar um sorriso.
Lado outro, Denise pareceu ter murchado um pouco com aquela constatação, afinal, mesmo quando a Nanda não estava comigo, ela estava nas minhas lembranças. Ela deu então uma desculpa qualquer e foi novamente para a cozinha cuidar do jantar. Aproveitei para mandar algumas mensagens para a Nanda:
Eu - “Ô caramba! Onde você está?”
Eu - “Por que não me atende?”
Eu - “Você não tá fazendo besteira aí não, né, Nanda!?”
Eu - “Eu não vou mais tentar te ligar.”
Eu - “Quando quiser falar comigo ou com as meninas, você me liga.”
Eu - “Eu cansei!”
Nesse ínterim, um aroma de carne assada invadiu onde estávamos, aliás, tomou conta de todo o ambiente. Pouco depois, Denise nos chamou para sentarmos à mesa, onde ela havia colocado o assado, arroz branco, macarronada e salada. Quando nos aproximamos, a salivação foi imediata, bem como impossível não ouvir minha caçula falar um alto e comprido “Hummmm!”. Denise segurava uma garrafa de vinho tinto suave e um abridor nas mãos:
- Por favor, doutor. - Disse, entregando-me ambos: - Não levo jeito para isso.
Peguei de suas mãos e só então identifiquei ser um tinto italiano, chamado Barolo, de 2015. Abri a garrafa, servindo duas taças que ela fez questão de pegar rapidinho. Brindamos e tomamos um gole só para eu confirmar o que já imaginava, era delicioso, encorpado e forte. Ajudei então minhas filhas a se acomodarem a esquerda da mesa, a pedido da Denise e novamente ela me incumbiu de cortar o assado. Fiz as vezes e servi minhas filhas, ajudando-as ainda a se servirem dos demais pratos. Também servi Denise e a mim mesmo. Quando me preparava para me sentar à direita da cabeceira, à frente de minhas filhas, Denise me puxou e me colocou na cabeceira, sentando-se ela à direita com o Ben a seu lado. Eu a encarei e brinquei:
- Quem senta na cabeceira, paga a conta. Tô a fim não, hein!?
Ela sorriu e retrucou à altura:
- Meu pai me ensinou que a cabeceira é o lugar do chefe da casa.
- Tá certo ele, uai! Só que você é a dona da casa e o chefe daqui também.
- Hoje não. - Disse e me encarou sorrindo.
Olhei para minhas filhas porque a declaração fora quase explícita, mas, para minha sorte, elas estavam famintas e distraídas com toda aquela comida. Olhei para a Denise e balancei negativamente a cabeça, porém sorrindo, deixando claro que eu havia entendido bem a “indireta” recebida. Jantamos, conversando, brincando, sorrindo e parecia que as meninas estavam aceitando cada vez mais e muitíssimo bem sua presença, o que, de certa forma, me incomodou.
Após o jantar, ela serviu um “Petit Gateau” de chocolate com sorvete de creme. As meninas se esbaldaram em ambos. Vez ou outra eu olhava para o celular, mas nada da Nanda me responder e aquilo foi me transformando de incomodado para bravo. Satisfeito, fui para a sala com as crianças, enquanto Denise dava as últimas orientações para sua empregada. Acho que meu mau humor estava estampado no rosto, pois minhas filhas me olhavam curiosas, mas nada falavam, aliás, elas e o próprio Ben. Denise voltou com outra garrafa de vinho nas mãos e deve ter notado também:
- Abre pra gente, Mark?
- Abro para você, Denise. Não sei se vou beber mais.
- Ah, só pra me acompanhar, vai. Só um pouquinho.
Concordei e abri a garrafa, mas minha cara não melhorava por nada. Partiu dela a iniciativa de tentar entender aquilo, aliás, confirmar, porque ela já sabia, o que fez assim que teve uma brecha criada por minhas próprias filhas que foram escovar os dentes:
- É a Nanda, né?
- Ela sumiu! Ela não me atende, não me responde, porra! Simplesmente sumiu! Não tô entendendo. - Falei, chateado: - Até hoje de manhã, estava toda amorosa, carinhosa, queria até voltar com a gente, mas foi a gente sair de lá que ela parece ter mudado da água para o vinho.
- Calma, Mark! Ela só deve estar ocupada…
- Ocupada às nove e tanto da noite, Denise!? - A interrompi e ainda continuei: - Porra! Só se estiver dando para aquele filho da puta do Rick…
Ela arregalou os olhos, colocou sua mão sobre a minha e aí notei que tinha extrapolado:
- Desculpa! Você não tem nada a ver com isso. É um problema nosso.
- Quer conversar?
- Não, não quero. Desculpa.
Minhas filhas voltaram e se sentaram conosco. Ela pediu licença para dar um banho no Ben e perguntou se a Miriam não queria ajudá-la:
- Acho que não. Tô com sono. - Ela respondeu.
- E você, Mary? Me ajuda?
Maryeva olhou para mim para ela, para o Ben, para a irmã e sem ter para onde escapar, respondeu:
- Eu não sei fazer isso não!
- Só me ajuda com a toalha e… - Disse e respondeu: - É fácil, fácil. Vem comigo que vou te explicando.
Elas se foram para o banheiro da suíte e Miriam, curiosa, não aguentou e as seguiu também. Fiquei só e ainda irado, mandei outra mensagem para a Nanda:
Eu - “Não sei o que está acontecendo, mas não estou gostando nada!”
Eu - “A gente vai ter uma conversa séria, Nanda.”
Eu - “Ah, se vai!”
Já passava das dez quando Denise retornou com toda a patota. Maryeva voltava com o Ben no colo e Miriam, indignada:
- Pai, ele tem pipi!
- Mas tem que ter, Miriam, ele é um menino, não é?
- É, mas ainda assim ele tem e não é pequeno não.
- Uai, mas qual o problema?
- Problema é que ele mijou pra cima numa hora lá e quase acertou a Mary. Bem que o senhor avisou.
- Verdade! - Mary confirmou, rindo, e falou: - Por sorte, eu não estava de frente, senão tinha me pegado em cheio.
Aliás, o Ben já estava entregando os pontos e, colocado no carrinho, embalou em minutos. Minhas filhas também davam sinais de cansaço e perguntei se já queriam se deitar, com o que concordaram praticamente juntas. Fui com elas até o quarto e as coloquei nas camas, dizendo que dormiria na sala e qualquer coisa poderiam me chamar:
- Ou você pode dormir na minha cama. - Denise completou, assustando-nos com a presença inesperada: - Minha cama é grande. A gente coloca uns travesseiros no meio e você dorme num lado e eu no outro, o que acha?
- Não sei, Denise, e…
- Como amigos que somos, Mark. - Ela me interrompeu, mas, embora dissesse algo, seu olhar confessa justamente o contrário: - Naturalmente a Nanda não recusaria. Além disso, é muito mais confortável que o sofá! Garanto que você irá descansar muito melhor.