Capítulo 12 – O amor
A partir daquele dia e, pelos meses seguintes, o Thiago e eu começamos a sair juntos com muita frequência, era um cineminha aqui, uma balada acolá, um dia de sol na praia de Mar Bella, um brunch aos domingos numa mesa ao ar livre de um restaurante da La Rambla, um barzinho do bairro gótico no final de tarde com os amigos, passeios sem hora para terminar pelos jardins da colina de Montjuïc, ou um jantarzinho a dois num canto discreto de algum restaurante que entrava noite adentro e ia terminar no apartamento dele. Apesar desses encontros constantes, não se falava em compromisso, não se declaravam paixões nem se admitia que elas estavam lá. Era, isso sim, uma amizade que, aos olhos dos demais tinha cara de namoro, tamanho era o nosso entrosamento, a maneira carinhosa de nos tratarmos, aqueles abraços demorados cheios de ternura, os beijos muitas vezes disfarçados, porém não isentos de um sentimento que cada de nós carregava em segredo consigo.
O apartamento amplo e cercado de sacadas do Thiago ficava no último andar de um edifício de cinco andares da Carrer de Johann Sebastian Bach, no bairro Sant Gervasi – Galvany, uma localização nobre da cidade; foi apenas frequentando-o mais amiúde que descobri que o apartamento era dele, e não do banco que o cedera como moradia pelo cargo que ele ocupava, como eu havia imaginado inicialmente. Isso me fez ver que ele estava se saindo muito bem profissionalmente; tornando-o, aliado ao seu porte atlético e toda aquela beleza viril, um partidão muito desejado. Certamente não lhe faltavam candidatas e candidatos a futuros parceiros num relacionamento mais sólido, o que me levou a pensar quais seriam as minhas chances com um homem como ele, reconhecidamente heterossexual, talvez bissexual, se eu considerasse seu passado de garanhão pegador no condomínio onde havíamos sido vizinhos. Nossa diferença de idade não era muita, cinco anos e alguns meses, mas o Thiago parecia ser muito mais maduro do que eu, não só na aparência onde o rosto hirsuto era o maior responsável por esse aspecto, mas também na postura e no sucesso profissional. E eu, o que era, um estudante bolsista de pós-graduação num país estrangeiro, morando num acanhado apartamento cedido pela universidade me vendo obrigado a complementar minha situação financeira com bicos como modelo fotográfico. Não que estivesse me queixando disso, uma vez que era muito bem pago pelas horas que passava posando para as câmeras. Contudo, eu continuava sendo um garotão, um garotão de 24 anos que, afora se dedicar aos estudos, tinha conseguido pouco se comparado ao Thiago. O que então o levava a me querer junto dele? Uma companhia divertida para os mais diversos programas e diversões, um amigo de corpo e rosto bonito que chamava a atenção em qualquer ambiente que entrava, uma bunda carnuda em cujo reguinho estreito se encontrava um cuzinho apertado e cheio de prazer para dar ou, apenas um passatempo enquanto não aparecia alguém melhor em quem valeria mesmo à pena investir? Quando esses pensamentos me assolavam, eu me retraía melancólico, percebendo que minhas qualidades talvez não estivessem à altura das aspirações do Thiago. Nunca fui um cara com baixa autoestima, eu só me senti assim frente ao Thiago, e estava descobrindo que isso se devia por eu estar me apaixonando por ele.
- Qual é a dessa cara amuada? Está de saco cheio da minha companhia? – perguntou ele, pouco antes de entrarmos na cama em um chalé no vilarejo de Alp, próximo a cadeia de montanhas dos Pirineos que ele havia alugado para passarmos o final de semana.
- Não seja bobo, Thiago! Adoro estar com você!
- O que é então?
- Por que está comigo? Por que trouxe a mim para cá, e não alguém que esteja a sua altura? – perguntei.
- Quem está sendo bobo agora é você! Que pergunta mais descabida é essa, Theo? – retrucou
- Somos tão diferentes, você sabe. Gosto de estar com você, gosto como você me trata, mas você poderia estar com alguém muito melhor do que eu. – respondi.
- Ninguém é melhor do que você! Se estou com você é porque você é especial, é com quem quero estar, é quem me faz feliz, seu tontão! – devolveu, vindo me abraçar. Tive vontade de confessar que estava apaixonado por ele, mas não tive coragem, ia parecer ridículo querer forçar a barra para ele dizer exatamente o porquê de estar comigo, embora eu sentisse que, além da vontade de meter o cacetão dele no meu cuzinho, havia algo mais que ele providencialmente mantinha como um segredo apenas seu.
Ele riu quando me viu entrando na cama naquela noite vestindo o pijama completo e desconfiou que até uma cueca estava por baixo daquilo tudo, o que era uma espécie de sinal dizendo que o acesso a minha nudez estava fechado. Ele também não insistiu nem forçou a barra, estava claro que, apesar do cenário maravilhoso daquela região, do charmoso chalé intimista, do sugestivo clima romântico, não ia rolar sexo. Ele tentava entender o que estava acontecendo para eu me afastar apressado dele assim que os beijos começaram a ficar mais tórridos, quando o tesão se implantava em nossos corpos e a transa era iminente; uma vez que essa reação não condizia com o que o meu desejo demonstrava. Estávamos há quase um ano nessa situação que não se desatava. A princípio ele suspeitou que algum dos meus amigos já tivesse se apossado como senhorio do meu cuzinho; mas, à medida que nossos encontros se desenrolavam, ele percebeu que eu não estava me entregando para nenhum outro cara. Talvez tenha sido essa constatação que ainda o mantinha próximo a mim.
Eu mesmo demorei a entender o que se passava comigo desde que vim para Barcelona, o porquê de eu não me envolver com ninguém e, mesmo meu pai reiterando por diversas vezes que eu estava com medo de me apaixonar novamente pelo que aconteceu com o Yago, eu relutava em admitir essa possibilidade.
- Você não pode se fechar para a vida, filhote! Você é jovem demais para abdicar da sua felicidade. O que você e o Yago tiveram foi maravilhoso, forte, especial, porém, quis o destino que acabasse. Você precisa aceitar isso e seguir em frente! Haverá outro que vai te amar tanto quanto o Yago te amou, e você a ele. – argumentava meu pai, em quem sempre acreditei e, portanto, não tinha porque não seguir seu conselho. Contudo, o bloqueio permanecia.
- Eu tenho medo, paizão! Medo de perder mais uma pessoa importante da minha vida. – confessei
- Esse é um medo injustificado! Você não pode pensar assim, filhão!
- Mas foi assim com a mamãe, de repente apareceram os sintomas e em menos de dois anos estávamos sem ela. Depois foi o Yago, tudo ia bem até aquele caroço aparecer na virilha dele, dois anos depois ele morre nos meus braços. Não vou aguentar passar por isso de novo, paizão, não vou! – devolvi, sabendo que dores dessa magnitude deixavam cicatrizes profundas.
- Entendo seus medos, mas isso não quer dizer que você vá passar por tudo isso novamente. Dê uma chance a si mesmo, filhão! O Thiago gosta de você, ele te deseja, deixe-o entrar em seu coração e seja feliz. – sugeriu.
Só refleti sobre suas palavras algumas horas depois. Como ele podia ter tanta certeza que o Thiago gostava de mim e me queria? De onde ele conhecia tão bem o Thiago a ponto de fazer essa afirmação? Essa dúvida não saiu mais da minha cabeça.
Afora o lado sentimental que parecia não deslanchar, motivado pela minha resistência a qualquer homem que se aproximava de mim, o que eu já estava admitindo sem nenhum constrangimento, a minha pós-graduação ia de vento em popa. Algumas empresas estavam sondando os melhores alunos do último semestre oferecendo vagas em seus quadros de funcionários, eu fui um dos abordados por duas multinacionais, um Ministério do governo espanhol e uma ONG. Até o Thiago me fez elaborar um currículo que apresentou ao banco onde ele trabalhava, em mais uma de suas tentativas de me prender a ele a qualquer custo.
Ele andava meio estranho, quando lhe pedi para não ficar insistindo em oficializar o nosso namoro ou, seja lá no que consistia nosso relacionamento, ele me pareceu muito calmo e disposto a aceitar aquela situação, sem me questionar ou exigir que me posicionasse mais afirmativamente. No entanto, ele parecia saber de cada passo que eu dava mesmo quando não estava por perto; agia feito um cão de guarda quando qualquer um dos meus colegas ou amigos homens chegava perto de mim, especialmente após eu ter lhe contado que tinha levado algumas cantadas de alguns deles, inclusive de um vizinho do andar debaixo do meu edifício que era uma perdição de macho e tinha se mudado recentemente. Em duas ocasiões o Thiago o encontrou no meu apartamento ao vir me fazer uma de suas visitas surpresa, que estavam quase virando rotina. Desde então, além de demonstrar seu desagrado com meu contato com aquele vizinho, que ele chamou de tarado oportunista, se tomou de ciúme e raiva de sujeito. Se eu achava graça de suas cenas de ciúme ele ficava furibundo e zangado comigo, até eu lhe fazer algum agrado ou carinho como se faz com as crianças mimadas.
Fiquei pulando de alegria quando meu pai me ligou avisando que estava vindo me visitar, fazia quase três anos que não nos víamos pessoalmente e a saudade era enorme. Ele anunciou que ficaria apenas uma semana, pois estava com muito trabalho e não podia se demorar mais do que isso. Passada a euforia inicial com a notícia, me pus a refletir sobre o motivo de sua visita, uma vez que faltavam poucos meses para eu terminar a pós-graduação e, segundo meus planos iniciais, voltar para o Brasil. Não fazia muito sentido ele ter esse gasto à questão de noventa dias de eu estar pronto para voltar para casa. Comentei, en passant, com o Thiago essa rápida visita e ele não pareceu muito surpreso, apenas disse que fazia questão de oferecer um jantar ao meu pai e inclui-lo nalguma programação, uma ópera ou talvez um concerto, já que a Orquestra Sinfônica de Praga estava fazendo uma turnê na cidade.
- Desde quando você está tão chegado ao meu pai? Vocês mal se conheciam quando morávamos no mesmo condomínio, o que mudou que eu não estou sabendo? – perguntei por achar estranha aquela atitude e ter me recordado do meu pai afirmando que o Thiago me amava com uma convicção que não deixava dúvidas.
- Quando fui ao Brasil naquele final de ano e o procurei para saber do seu endereço! – respondeu. – Passei uma tarde toda conversando com ele e o achei muito simpático e preocupado com você. – acrescentou
- Uma tarde inteira? Que tanto assunto você e ele podiam ter para ficarem conversando por toda uma tarde? – inquiri curioso
- Você!
- Como assim, eu?
- A princípio ele me recebeu meio carrancudo, eu não sabia que você tinha lhe contado que fui eu quem te desvirginou aos quinze anos. Mas, quando eu assumi a minha responsabilidade no episódio e lhe disse o motivo pelo qual estava atrás do seu endereço, a conversa fluiu. – respondeu.
- O que você quer dizer com fluiu? Vocês dois tramaram alguma coisa pelas minhas costas? – aquilo tudo era mais do que suspeito, e eu queria respostas.
- Não tramamos nada, fique tranquilo. Apenas percebemos que te amamos muito e só queremos a sua felicidade, de maneiras distintas é claro, porém com o mesmo objetivo, te ver feliz.
- Sei! Sabe que estou achando tudo isso muito esquisito!
- O que tem de esquisito seu pai e eu nos darmos bem?
- Não deveria haver nada de esquisito, mas vocês dois estão agindo muito estranhamente depois dessa tal “conversa” que tiveram. – afirmei. – Especialmente você, que me parece saber mais do que deveria a meu respeito.
- Está se referindo ao relacionamento íntimo que você e seu pai tiveram? Aquele relacionamento que ia muito além de uma relação pai/filho? – fiquei pasmo quando ele mencionou isso, e corei.
- O que você sabe sobre isso?
- Tudo o que teu pai me contou. Não fique com essa cara, eu em nenhum momento julguei o que vocês tiveram um com outro. Eu com um filho gostosão feito você o tempo todo a meu lado e fazendo demonstrações de carinho e afeto, também não teria conseguido manter meu pinto longe dessa sua bunda tesuda. – não dava para acreditar que meu pai tinha contado isso a ele.
- Era para ser o nosso segredo, estou bravo por meu pai ter te contado isso.
- Ele só me contou porque eu disse que estava muito afim de você, e ele quis que eu soubesse da boca dele, e não por qualquer outra pessoa.
Naquele instante eu percebi o quão parecidos meu pai e o Thiago eram. Ambos nunca esconderam que eram garanhões ativos que não se furtavam de uma nova experiência desde que iniciaram suas vidas sexuais. Ponderando bem, toda a personalidade deles era muito parecida e, de repente, eu me vi questionando a mim mesmo, se eu não estava procurando no Thiago o homem que meu pai era. Dizem que muitas filhas procuram um marido que tenha as características do pai, será que eu também estava agindo assim? Todos os carinhas por quem eu me interessei eram parrudos, extremamente másculos, ardentemente sensuais, incontrolavelmente cobiçosos no sexo, todas características fortes da personalidade do meu pai.
- O que foi? Ficou chocado? – perguntou-me o Thiago, interrompendo aquela onda de pensamentos que varia meu cérebro.
- Não, eu só .... – calei-me, pois ia dizer que tinha chegado à conclusão que queria um homem à semelhança do meu pai, e isso ia parecer ridículo e até incestuoso.
- Você só estava me comparando a seu pai, é isso que ia dizer? – perguntou, praticamente tirando as palavras da minha boca.
- Não diga besteiras! Ora, já se viu! – exclamei indignado por ter sido pego em flagrante.
- Seu pai e eu somos muito parecidos, pelo que deduzi depois de conhecê-lo melhor, o que me torna o marido ideal para você! – o atrevido não media as palavras.
- Vou te deixar falando sozinho se tornar a repetir um absurdo desses! – protestei
- Ficou bravinho só porque descobri o que te atrai em mim? – perguntou petulante. Ergui meu dedo médio em riste e o apontei na direção dele. Ele riu satisfeito, sabia que tinha tocado no meu ponto fraco.
Aquela semana com meu pai foi maravilhosa, era bom poder abraçá-lo, sentir o calor e o aconchego do seu tórax protetor, sentir seus lábios quentes cobrindo os meus como nos nossos melhores e mais tórridos momentos juntos. Embora eu estivesse louco de vontade de transar com ele, de sentir o cacetão dele vibrando de tesão dentro de mim, ele não o fez. Fiquei um pouco desapontado, teria eu deixado de ser sexualmente atraente para ele? Também me espantei como ele e o Thiago estavam se dando bem, pareciam velhos amigos se reencontrando depois de muito tempo. No entanto, foi só na véspera do retorno dele ao Brasil que a verdadeira razão daquela visita veio à tona. Meu pai tinha conhecido uma pessoa e estava planejando viver junto dela, e queria, como em tudo que sempre fizemos até então, a minha opinião e aval para que tudo ficasse esclarecido e sem mágoas. Tratava-se de uma advogada que ele conheceu durante um dos seus processos. Ela tinha enviuvado há alguns poucos anos, estava com 40 anos e não tinha filhos, era uma mulher atraente e independente, a quem o calor e o vigor viril do meu pai não lhe foram indiferentes.
- Essa é a Marta, ela está louca para te conhecer de tanto que falo de você. – disse meu pai, me mostrando as fotografias dela no celular. Não sei por que senti uma pontada no peito, eu sempre quis que meu pai encontrasse alguém novamente e fosse feliz, mas agora, diante do fato real, esse sentimento me surpreendeu e doeu.
- É muito bonita, e me parece simpática! – exclamei, para não ficar calado.
- O que foi filhote? Não gostou dela? – minha observação tinha lhe soado um pouco fria.
- Não, paizão, não é isso! Ela parece ser legal, eu só quero a sua felicidade, paizão! Se ela se encarregar disso, vou ser o melhor enteado que ela poderia ter, prometo. – respondi, abraçando-o
- Obrigado, filhote! Não importa com quem eu esteja, você sempre será o grande amor da minha vida, nunca se esqueça disso! – asseverou
No dia seguinte, o Thiago e eu o levamos até o aeroporto e, ao me despedir dele, senti que o perdia. Segurei aquela angustia toda e o nó que havia na minha garganta até o Thiago e eu voltarmos para o carro, quando as primeiras lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. O Thiago percebeu, mas continuou dirigindo como se não estivesse notando minha dor; sua única atitude foi colocar a mão sobre a minha coxa e a apertar, como quem diz, eu estou aqui e sempre estarei. Aquela notícia inesperada me angustiou por toda uma semana, dividir o amor do meu pai com outra pessoa não estava nos meus planos; eu queria sim, a felicidade dele, mais do ninguém ele era merecedor dela, o que me levava a sentir esse ciúme descabido não encontrava uma explicação lógica.
Enquanto isso, o Thiago se fazia mais presente do que nunca, aparecia de surpresa no meu apartamento trazendo o jantar que comprara nalgum restaurante das redondezas, me ligava umas duas vezes ao dia com algum papo furado só para sondar meu ânimo, fingia estar por perto da universidade exatamente no horário da minha saída, e quando não tinha nenhuma justificativa plausível, simplesmente dizia que estava com vontade de me ver. Era, sem sombra de dúvida, um fofo que me amava, mas que, devido a sua prepotência de macho, relutava em confessar esse amor antes que eu o fizesse primeiro. A frase até já estivera diversas vezes na ponta da minha língua, pronta para ser proferida, contudo eu a segurava nem sei bem porquê.
No feriadão Del Día de la Hispanidad, ele me convenceu a ir com ele para Tarragona, uma onda de calor tardia ainda pairava sobre a costa do Mediterrâneo naquele ano e ele sugeriu que aproveitássemos a praia ensolarada antes da chegada dos meses frios. Quando veio me buscar na manhã em que uma bruma ainda cobria a cidade, usava um short de onde saíam suas pernas musculosas e peludas, e uma camiseta polo da qual emergiam seus braços estruturados em músculos avantajados que pareciam querer explodir as mangas da camiseta. Não tinha feito a barba, e isso eu atribuí aos elogios que sempre lhe fazia quando ele a negligenciava por alguns dias, afirmando que o deixava mais sexy. Inspirei fundo assim que o vi tão lindo e másculo, sentindo minha vulnerabilidade, não assumida, fazer meu coração palpitar mais forte. Quando abriu seu sorriso na minha direção não resisti e fui beijá-lo. Era para ser apenas um selinho, embora o tivesse colocado sobre seus lábios, mas ele se aproveitou e, agarrando minha nuca, consumou um beijo demorado, úmido e lascivo, ao mesmo tempo que prendia meus lábios entre seus dentes.
No primeiro dia, logo após a chegada ao hotel, saímos sem um rumo programado pela cidade. A primeira parada foi no Anfiteatro Romano e seu parque, o Petrori e o circo romano de Tarragona, fizemos uma refeição frugal apreciando o movimento de uma das mesas sob os sombreiros dos restaurantes da Plaza del Forum e, no meio da tarde quente, caminhamos ao longo da Rambla Nova até chegarmos ao Balcón del Mediterrani para curtir a vista da enseada e o pôr do sol que descia vagarosamente sobre o mar, onde os reflexos dourados do sol refletiam na superfície calma. A despeito da multidão de turistas que circulava naquele final de tarde pela região, o Thiago me puxou para junto dele ao lado da estátua de Roger de Lluria e me deu mais um de seus beijos que me deixavam com as pernas bambas, o fôlego interrompido e o peito ardendo do mais carnal dos desejos.
- Adoro te sentir em meus braços! – sussurrou ele voluptuoso, com uma indisfarçável ereção e um sorriso cativante. Encarei-o tímido lhe devolvendo o sorriso, enquanto notava as pessoas nos observando com interesse.
Na caminhada de volta ao hotel, com as luzes das ruas se acendendo aos poucos, disputamos uma mesa ao ar livre num dos barzinhos da Rambla Nova, onde tomamos um vermute de Reus com toda a tranquilidade que o horário pedia. O Thiago me lançava olhares lupinos cheios de cobiça que faziam meu cuzinho piscar, enquanto algo me dizia que ele me faria sentir a enormidade de seu falo pulsando nas minhas entranhas naquela noite.
- Que cara safada é essa, posso saber? – perguntei, ao sentir que meu corpo começava a ficar buliçoso com aquele par de olhos me encarando.
- Se você der uma olhada por baixo da mesa vai entender. – respondeu com um risinho malicioso, o que me levou a constatar uma nova ereção cavalar dentro do short. – Quero te foder, Theo! Quero colocar isso tudo dentro de você e te ouvir gemendo que me ama. – afirmou numa desfaçatez impressionante.
- Sutil e romântico você! – exclamei irônico.
- Estou há meses sendo sutil, apenas insinuando e demonstrando minhas intenções e você continua fingindo não as perceber, quanto tempo vai judiar assim de mim? – perguntou
- Não sabia que estava judiando de você, nunca foi minha intenção, juro! – devolvi
- É assim que eu encaro o que você tem feito comigo, quando me deixa com o pau tão duro que chega a doer e não me deixa aliviar a pressão dos meus colhões abarrotados. – afirmou, se vitimizando.
- É só isso que você quer comigo, aliviar o seu sacão?
- Você está cansado de saber que não. Não seja dissimulado ignorando o que sinto por você. – respondeu. Ficou evidente que teria que ser eu a confessar meu amor primeiro, ele havia sido explícito ao dizer que queria me ouvir gemendo que o amava.
De regresso ao hotel, enfiei-me sob a ducha quase fria para ver se conseguia arrefecer aquele calor que tomara conta do meu corpo desde o instante em que o Thiago disse que queria me foder, tanto que me preparei para isso acontecer, como há tempos não o fazia antes de me deitar com um homem para lhe entregar meu cu.
- Não quer vir comigo, adoraria sentir suas mãos me ensaboando? – perguntou libidinoso ao seguir para a ducha.
- Deixa de ser tarado, Thiago! – exclamei inconvicto, reprimindo o desejo de afagar todo aquele corpão que se apresentou completamente nu assim que ele tirou a toalha enrolada na cintura, expondo o caralhão pesado pendendo entre suas coxas. – Dá para você fazer o favor de cobrir essa coisa? – questionei, atordoado com aquela visão sedutora. – Déu Sant! Qui pot suportar veure un mascle cornet com aquest, sense que li parpellegi el cul? (= Santo Deus! Quem é que aguenta ver um macho tesudo desses, sem ficar com o cu piscando?) – sussurrei em catalão para mim mesmo, o que devo ter feito alto demais, pois o Thiago riu ao ouvir meu murmúrio.
- Seu catalão está cada dia melhor, como um vinho que se refina com o tempo, como você que fica mais gostoso a cada dia. – devolveu devasso. – Qualquer hora dessas você vai me obrigar a te pegar à força e te mostrar quem é que manda e domina aqui, talvez assim você aprenda a se submeter a um macho quando ele precisa sem ter que ficar implorando. – sentenciou arrogante.
- Ficou maluco! Como ousa ser tão .... tão ... tão cafajeste! – despejei enfurecido. - O que te faz pensar que eu me submeteria a um homem dominador como você? O tamanho desse seu cacetão?
- Tem sido um bom argumento, sempre encontrei quem se rendesse a ele!
- Não vai funcionar comigo! Continue procurando. Não estou disposto a me deixar subjugar por homem nenhum. Nem meu pai me tratava com dominação, meu relacionamento com ele sempre foi baseado no diálogo, em acordos mútuos, com a vontade de um não prevalecendo sobre a vontade do outro, e é isso que eu quero para a minha vida. Não quero depender de homem algum só porque ele mete a rola dele no meu cu.
- Você é muito inflexível! Duvido que encontre um macho ativo que se sujeite a não ser obedecido, a dominação faz parte da nossa personalidade. Desde que nos reencontramos sonho com você totalmente dependente de mim. Até para liberar o dinheiro para você comprar uma cueca eu te vejo me pedindo e aceitando com docilidade o pedágio que vou cobrar por isso, e que já te vejo pagando deitado debaixo de mim comigo todinho enfiado dentro de você.
- Da sua você quer dizer! Porque já conheci alguns caras ativos bem menos dominadores. Quanto aos teus sonhos, vá sonhando, viver na ilusão pode até fazer bem – retruquei caçoando.
- Não tenho por que me envergonhar de ser assim, de querer alguém submisso. Você é que é muito intransigente, nem se parece mais com aquele garoto assustado que me entregou sua virgindade anos atrás.
- Eu cresci! Levei uns tombos pelo caminho, mas continuei em frente.
- Por você eu até negociaria algumas regras. Algumas, tão somente, só para ter você! – eu ri
- Bobão! Não é à toa que continua sozinho. Acho que no final das contas esse pintão não é tão convincente quanto você afirma.
- Por que não vem experimentar minha capacidade de convencimento. Sou bom nisso, não foi à toa que me deram esse cargo no banco. – devolveu cheio de malícia. – Ademais, você está precisando de um marido!
- De onde tirou um absurdo desses? Não preciso de homem algum para tocar a minha vida, não preciso e nem quero! Era só o que me faltava, depender de um homem! Você é um sem noção! – retruquei exasperado
- Segundo me consta, dependeu de um a vida toda! Não está dependendo de um até agora? – questionou petulante.
- Você se refere ao meu pai? Nesse sentido, concordo com você, sempre dependi dele, mas isso não conta. E atualmente não dependo mais dele, meu trabalho como modelo fotográfico está me permitindo fazer um pé de meia e, quando terminar minha pós-graduação pretendo conseguir um emprego para não depender de ninguém, como qualquer outra pessoa. E, muito menos de um marido, como você diz! – afirmei
- Faz dois anos que estamos juntos, digo, namorando ou, seja lá que nome se dá a essa lengalenga que estamos vivendo. Você já deve estar certo do quanto eu te quero e, para ser bem sincero com você, não consigo mais imaginar a minha vida sem você ao meu lado. Portanto, eu estou muito afim de ser esse marido que você tanto precisa. – devolveu, confessando seus sentimentos e suas intenções. Precisei rir.
- É assim que está pedindo a minha mão? Postulando o que eu preciso e não o que você está querendo, só para manter esse orgulho de machão? – questionei, para forçá-lo a admitir que me queria.
- Você é foda, Theo! Está bem, eu admito, amo você demais e preciso de você na minha vida! Está contente agora, caralho? – retrucou, se fazendo de ofendido.
- Mais ou menos! – exclamei, deixando-o em suspense
- O que mais você quer, seu abusado? Já não falei tudo o que queria ouvir? Só falta me pedir para ajoelhar e suplicar que fique comigo. Aproveitador! – resmungou irônico.
- Não é nada disso! Na verdade, eu estava pensando que um daqueles seus beijos que me deixam sem fôlego, seria um bom acompanhante para essa sua declaração de amor. – sugeri com um sorriso doce, e colocando a ponta do meu dedo sobre o redemoinho de pelos entre seus mamilos e o deslizando ao longo do torso e abdômen até abaixo do umbigo.
- Isso é fácil de resolver! – exclamou ligeiro, me puxando num abraço apertado contra si e colando sua boca à minha, enquanto enfiava a língua na minha garganta. – Mas, vou logo avisando, também vou meter meu pau nesse cuzinho e você vai ser obrigado a me dar o seu “sim” com ele todinho dentro de você. – exigiu lascivo.
Rolamos sobre a cama com nossos corpos nus entrelaçados, trocando carícias e beijos, dando vazão ao tesão que estávamos sentindo. Há tempos eu não sentia mãos fortes e sedentas como as dele explorando e deslizando pelo meu corpo, e me entorpecendo de desejo. Quando eu estava deitado por cima dele empenhado em retribuir seus beijos, ele dedava meu cuzinho sentindo meu anelzinho cingir seu dedo intrépido. Quando eu ficava por baixo dele na posição de frango assado, com o cu totalmente vulnerável, ele chupava e mordia meus mamilos, enquanto sua verga melada pincelava meu reguinho. Foi nessa posição, comigo ardendo e gemendo de tesão, que ele me encarou obstinado.
- Você está tremendo como da primeira vez! – exclamou radiante. – Adoro sentir teu corpo se estremecendo todo em meus braços, nesse misto de medo e desejo. Isso me enlouquece, Theo! Me enlouquece! – sussurrava indômito.
Ele tinha razão, não sei explicar de onde vinham aqueles espasmos incoercíveis que agitavam toda a minha musculatura e que só aconteciam com ele, com nenhum outro homem eles haviam sido tão ostensivos, quando o corpão dele estava colado no meu e quando o caralhão rijo dele estava determinado a entrar em mim. Era algo que parecia estar na pele dele, em seu cheiro, naquele calor que ele irradiava e me punha a chamejar.
Senti minhas pregas se dilacerando quando cabeçorra entrou em mim e gritei, quando a dor aguda se espalhou pela minha pelve, cobrando todos aqueles meses de abstinência. Minhas mãos não sabiam o que fazer, empurrar aqueles ombros largos e sólidos para longe ou agarrar-se a eles para poder suportar a penetração. O Thiago me beijou fervoroso, e elas se decidiram por arrochá-los trazendo-o para mais junto de mim. Estocadas gentis, porém, potentes, faziam o cacetão deslizar cu adentro, me abrindo e me preenchendo à medida que se aprofundava na minha carne. Eu tinha a nítida impressão de que ele ia me rasgar ao meio e gania ao mesmo tempo em que meu anelzinho estreito mastigava seu mastro grosso e latejante, incitando-o a se instalar todo no meu casulo úmido e receptivo. O Thiago socava firme e fundo, o cacetão sumia no meu cuzinho deixando apenas o sacão globoso bater cadenciada e sonoramente no meu reguinho apartado no mesmo ritmo de seus grunhidos guturais. Com uma das mãos arranhando suas costas suadas e a outra afagando a nuca dele enquanto o cobria de beijos, eu gozei me esporrando todo sobre o ventre, naquele clímax sublime meu “sim” gemido foi proferido no instante em que ele estava prestes a despejar seu néctar viril no meu cuzinho.
- Me dá o teu esperma, Thiago! – pedi num sussurro alucinado.
Segurando meu rosto entre as mãos e me fitando com o olhar mais carinhoso e apaixonado que eu já tinha visto, ele se derramou todo dentro do meu cuzinho, encharcando-o com sêmen abundante e tépido que, à medida em que escorria ia aplacando o ardor da minha mucosa anal esfolada.
- Amo você! – confessei gemendo. Finalmente eu pude deixar essas palavras saírem sem culpa, sem remorsos pela memória do Yago. Senti que estava fazendo aquilo que ele havia me pedido quando se viu desenganado pela evolução da doença, ser feliz por mim e por ele, seguindo adiante.
- Não sabe como esperei por esse momento, Theo! Você finalmente está pronto para ser meu! – exclamou o Thiago em jubilo. – Prometo que nunca vou te abandonar, estarei sempre ao seu lado, te amando, te protegendo, te dando toda a segurança que seu pai sempre te deu. Serei seu homem, o homem que você reluta em admitir que precisa, o homem que vai acordar todas as manhãs com um único objetivo, fazer a sua felicidade! – ele proferia as palavras solenemente, como num juramento, e elas reverberavam no meu coração com as esperanças renovadas.
Com o fim da minha pós-graduação, tive que entregar o apartamento da Carrer Floridablanca, e me mudei para o apartamento do Thiago por insistência dele, pois meus planos iniciais previam morar sozinho por mais algum tempo, até eu conseguir me estabilizar e conquistar alguma coisa na vida por conta própria, uma vez que tinha aceitado a proposta de emprego de um dos Ministérios da Espanha.
- Tudo que você precisava conquistar já conquistou, a mim! – exclamou o convencido quando lhe expus minhas intenções.
- Eu queria ter a minha própria casa. Até agora sempre morei naquilo que meu pai conquistou, ou que me foi cedido temporariamente. Mudar para o seu apartamento é como voltar a depender da conquista dos outros, entende? – argumentei.
- Façamos assim, por hora você vem morar comigo e, juntos, vamos procurar outro apartamento ou construir uma casa só nossa, do jeitinho que você quiser cada um contribuindo com sua parte, o que particularmente acho desnecessário, uma vez que posso lhe oferecer tudo que quiser, mas vou aceitar seus argumentos para que não diga que sou dominador. – propôs ele.
- Vai fazer isso por mim? – perguntei incrédulo, pois nem parecia ele falando.
- Por você eu faço tudo, Theo! A única coisa que eu quero nessa vida é ficar ao seu lado, ser seu marido, ser seu homem! Desde que nos reencontramos e durante esses dois anos que estamos namorando, eu não penso outra coisa. É você quem eu quero! – o olhar dele brilhava enquanto me expunha sua paixão, me enternecendo todo. – Estou cansado de ir às baladas com amigos do trabalho ou outras pessoas com as quais apenas me relaciono socialmente, estou cansado de não ter alguém que me compreenda de verdade, que me ouça e reconforte. Quando te reencontrei percebi que era você quem eu procurei a vida toda. Sabe qual é o meu maior sonho, Theo? É chegar na nossa casa após um dia de trabalho, uma casa que tenha você presente em cada canto dela, e encontrar você; poder te abraçar e te beijar, me encaixar nos teus braços e receber seus afagos, me livrar das roupas de executivo e vestir algo confortável, velho, até roto, mas que aqueça minha pele; preparar o nosso jantar junto com você me contando como foi seu dia no trabalho; depois, me espreguiçar com você no sofá ou na nossa cama, assistindo um filme na televisão, ou lendo um livro, ou simplesmente conversando com a cabeça deitada no seu colo, sentindo seus dedos deslizarem nos meus cabelos ou no meu rosto; ou você deitado no meu peito, brincando com meus pelos como você tanto gosta; sentir meu pau endurecendo só por eu estar perto de você, tocando sua pele, sentindo seu perfume como se fosse um cio, e entrar no seu corpo ardoroso me recebendo com todo esse amor que sente por mim, deixando que eu despeje todo meu tesão dentro de você, enquanto ambos balbuciamos em uníssono que nos amamos. É essa a vida que eu sonho, Theo! É de você que eu preciso! – eu o ouvia calado, sentindo os olhos marejarem. Depois de tudo que passei, aquele homem estava me acenando com a felicidade, uma felicidade que jamais pensei voltar a sentir.
- Eu já te disse o quanto te amo? – indaguei quando o discurso dele terminou. – Que finalmente encontrei o homem da minha vida, e que quero passá-la até o último dos meus dias ao seu lado? – continuei, quando vi o sorriso dele se formando.
- Disse, mas não me importo de você repetir todos os dias que sou seu homem e que você me ama. Só para ter certeza, sabe! – devolveu com aquela carinha malandra dele, que me fazia derreter por dentro.
No verão daquele ano voltamos ao Brasil para informar às nossas famílias que estávamos juntos, que éramos um casal. Meu pai estava visivelmente feliz e creio até despreocupado por eu ter encontrado um homem cheio de paixão e que o substituiria à altura, me amando, cuidando da minha felicidade e me protegendo como ele sempre fizera. Me tornei o filho que a Marta nunca teve, ela correspondia a tudo que meu pai me dissera sobre ela, e dava para ver como o amava, o que me deixou mais tranquilo e com menos culpa por viver afastado dele. Os pais do Thiago jamais haviam imaginado que o filho independente, até certo ponto problemático, garanhão impetuoso que deixara a marca de suas loucuras de juventude espalhadas por todo lado, assumisse seu amor por outro homem e encontrasse nesse caminho a felicidade que eles tanto desejavam aos filhos. O Túlio não se dispôs a vir a nenhum dos encontros que lhe propusemos, alegando que não compactuaria com aquela imoralidade abjeta entre dois homens. Tanto o Thiago quanto eu nos ressentimos muito dessa atitude de alguém que nos conhecia tão bem e sabia que éramos pessoas dignas que apenas escolheram um modo de vida não convencional. Os pais do Yago nos desejaram uma vida longa e feliz para aquele amor que sabiam ser genuíno e que o filho certamente aprovaria, pelo tanto que me amou em sua curta trajetória de vida.
Fim